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Leitura e Produção

de Textos
Leitura e Produção
de Textos

1ª edição
2017
Palavras do professor
Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à disciplina de Leitura e Produção Textual!
Você já parou para refletir sobre como a comunicação é importante em
sua vida? Já percebeu que as pessoas que conseguem expressar-se bem
na escrita ou oralmente são aquelas que mais se destacam no trabalho,
nos estudos e até mesmo em uma roda de conversa com os amigos? Se
você reconhecer a importância que a leitura tem em sua vida acadêmica
e profissional, verá que a sua prática é a base para nos expressarmos bem,
principalmente nos textos escritos, seja em um trabalho da faculdade,
um e-mail encaminhado a um cliente ou um relatório solicitado pelo seu
chefe. Sem a leitura, não conseguimos escrever um texto dinâmico, claro,
objetivo e com um bom vocabulário. A leitura é um dos pilares da comu-
nicação.
Pois bem, comunicação é tudo! É por meio dela que conseguimos esta-
belecer contato com as pessoas que participam de nosso círculo de con-
vivência, contribuindo para que os vínculos pessoais ou profissionais se
efetivem. Nesta disciplina de Leitura e Produção Textual, você percorrerá
oito unidades e perceberá que escrever e falar bem não é tão difícil quanto
parece, pois, para isso, existem técnicas que podem ser empregadas para
aprimorar a forma como você comunica-se com seus amigos, professo-
res, colegas de trabalho, clientes de sua empresa etc.
Como o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e recrutando
pessoas com habilidades diversas, certamente essa disciplina lhe auxi-
liará, e muito, a desenvolver aquilo que já sabe a respeito das diversas for-
mas de expressão. Dessa forma, você conhecerá as tipologias e os gêne-
ros textuais que usa em seu dia a dia e aprenderá como eles podem ser
produzidos. Além disso, você entenderá o que é, de fato, o fenômeno da
comunicação, e como proceder para alcançar o sucesso na sua área pro-
fissional.
Está preparado para iniciar a jornada no universo da comunicação? Vamos
lá e mãos à obra!

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Unidade 1
A comunicação e
suas formas de expressão
1
Para iniciar seus estudos

Você comunica-se o tempo todo, não é mesmo? Mas você sabe o que é
comunicação? Conhece os elementos envolvidos em seu processo? Sabe
o que é competência linguística e as diferenças entre língua e linguagem?
Será que existe uma forma de linguagem que pode comunicar mais que a
outra? São essas as questões que responderemos ao longo de nossas dis-
cussões nesta primeira unidade da disciplina Leitura e Produção Textual.
Acompanhe!

Objetivos de Aprendizagem

• Conceituar comunicação, compreendendo a estrutura do ato


comunicativo.
• Fazer a distinção entre língua e linguagem.
• Acentuar a importância da competência linguística.
• Distinguir as linguagens verbal e não verbal, reconhecendo esta
última como um diferencial em várias situações.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 1 - A comunicação e suas formas de expressão

1.1 O que é comunicação


Você é um bom comunicador? Se ainda não o é, está na hora de aprimorar suas habilidades comunicativas,
entendendo, em primeiro lugar, o que é comunicação.
Segundo Pimenta (2006, p. 19), “Sem comunicação, todas as relações que se estabelecem entre as pessoas e
os diversos grupos humanos seriam impossíveis, sejam relações comerciais, de trabalho ou afetivas”. Desde o
momento em que nascemos já começamos a nos comunicar com o mundo. O choro de um bebê, por exemplo,
comunica vários sentimentos, sejam eles de dor, bem-estar, angústia, fome, sono e assim por diante. Nesse caso,
aos poucos, os pais vão aprendendo a identificar o sentido de cada choro, percebendo que existe, ali, uma men-
sagem que o bebê está querendo transmitir. E isso é comunicação! Mas ela só é efetiva quando os envolvidos no
processo se entendem. Vejamos um exemplo: Maria recebeu um e-mail de seu supervisor convocando-a para
uma reunião na próxima semana. Na oportunidade, esse profissional solicitou que a sua funcionária comunicasse
o recebimento da mensagem. Infelizmente, Maria esqueceu-se de informar que havia recebido a convocação,
bem como de comunicar que seria impossível comparecer ao evento, uma vez que já estava com uma viagem
marcada. Como consequência, o seu supervisor ficou aguardando-a em sua sala de reuniões, o que gerou um
posterior mal-estar dentro da empresa entre eles. Agora, você deve estar perguntando-se: houve comunicação?
No caso apresentado, veja que não houve uma troca de mensagens entre Maria e seu supervisor, uma vez que
este encaminhou um recado sem obter a resposta esperada. Maria, por sua vez, não deu retorno ao e-mail de seu
superior, o que caracterizou uma situação em que os envolvidos no processo comunicativo não se entenderam,
tampouco interagiram. A mensagem foi “jogada ao vento”, como diz o ditado popular. Portanto, para que haja
comunicação, é preciso que haja entendimento e resposta/retorno a essa compreensão. Ao tratar do fenômeno
comunicativo, Pimenta (2006, p. 19) esclarece o seguinte:
“A origem etimológica da palavra comunicação é tornar comum, ou seja, uma pessoa consegue
fazer com que sua ideia seja captada e compreendida por outra (s) pessoa (s), nesse momento
ocorreria o fenômeno da comunicação.”
Portanto, lembre-se que comunicação não é um mero envio de ideias ou uma troca de mensagens. Isso não
garante a efetividade da comunicação, pois consiste apenas em uma tentativa de estabelecer uma conexão entre
as pessoas envolvidas em determinada situação.
Você já percebeu que nas ruas, na sua casa e no seu trabalho existem sinais e símbolos que lhe transmitem deter-
minada mensagem? Pois bem, isso é uma das formas de comunicação, a qual pode ser verbal ou não verbal. Mas
quais seriam as diferenças entre essas duas modalidades de comunicação?
Primeiro, veja que, como o próprio nome já indica, a comunicação verbal é aquela que se dá por meio da palavra
(escrita ou falada), sem a necessidade do uso de símbolos. Um texto de jornal, um e-mail ou uma palestra são
exemplos desse tipo de comunicação. Por outro lado, a comunicação não verbal é aquela em que não há neces-
sidade do uso da palavra. Sinais de trânsito, postura corporal, gestos e a expressão de sentimentos comunicam,
pois contêm uma mensagem/informação a ser levada para alguém.
Você se lembra do famoso filme Tempos modernos (1936), de Charlie Chaplin? Esse é outro exemplo bastante
importante de comunicação não verbal, o que deu ênfase ao que conhecemos como cinema mudo, ou seja,
uma forma de narrativa em que o enredo se desenvolve sem a utilização da palavra, mas, sim, com gestos, movi-
mentos e expressões faciais. Mesmo não sendo empregadas falas, esse filme comunicou a crítica que se fazia ao
sistema capitalista. E como comunicou!
É importante reconhecer que tudo o que existe no universo comunica alguma coisa. O vento, por exemplo,
comunica que está vindo uma chuva; as plantas, quando secas, comunicam que precisam de água e até mesmo
de atenção do ser humano, pois elas também são vida. Além, disso, “Uma rocha se comunica, à medida que suas
partículas nucleares se atraem ou se repelem na intimidade de sua estrutura atômica” (TELES, 1973, p. 19).

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 1 - A comunicação e suas formas de expressão

Você convive com pessoas que têm dificuldade de se comunicar? O que elas poderiam fazer
para melhorar as suas formas de expressão?

Agora que você já sabe o que é comunicação e as suas principais formas, vamos conhecer métodos de comuni-
cação bastante comuns em nosso cotidiano. Acompanhe!

1.1.1 Métodos de comunicação

Hoje em dia, precisamos, mais do que nunca, relacionarmo-nos bem com nossa família, nossos colegas de tra-
balho e com todas as outras pessoas que fazem parte de nosso círculo de convivência. Além disso, também
precisamos refletir sobre nossas ações para tentar melhorá-las. Mas por que falamos nisso? Porque, na prática
comunicativa, existem métodos que podem ser empregados em distintas situações a fim de alcançar objetivos
esperados. Destacamos, nesse cenário, as três formas mais comuns: a comunicação interpessoal, a intrapessoal
e a interprofissional. Vejamos agora as peculiaridades de cada uma delas. Vamos adiante!
• Comunicação intrapessoal: não somos perfeitos e, muitas vezes, agimos de forma equivocada, o que
acaba por prejudicar a nós e aos outros que fazem parte de nosso convívio. Nossas emoções agem por
impulso e isso é muito natural no ser humano. Dessa forma, precisamos refletir a respeito do que pode-
mos melhorar e também sobre as nossas potencialidades, o que é possível por meio da comunicação
intrapessoal. Segundo Balestero-Alvarez (2007, p. 97-98), podemos exercitar muitas inteligências por
meio desse método de comunicação, como:
• [...] ter consciência da força das emoções, desenvolver formas e meios para expressar os sen-
timentos e opiniões, desenvolver um modelo exato do eu, ser capaz de trabalhar de forma
independente; sentir-se motivado para alcançar objetivos; ter curiosidade pelos vários
enigmas da vida: sentido, propósito e importância; envolver-se em um grande processo de
aprendizagem e crescimento profissional [...].
A comunicação intrapessoal (ou autocomunicação) é, portanto, um método de reflexão subjetivo e de diálogo
interno, o que permite, como resultados, o autoconhecimento e o conhecimento das necessidades do outro.
Assim, aprimora-se a capacidade de empatia, ou seja, colocar-se no lugar outro.
• Comunicação interpessoal: ao contrário da comunicação intrapessoal (ou autocomunicação), essa
modalidade envolve a interação com mais de uma pessoa. Pestana (2006, n/p) evidencia que “A comu-
nicação interpessoal pode ser definida como o processo pelo qual a informação é trocada e entendida
por duas ou mais pessoas, normalmente com o intuito de motivar ou influenciar o comportamento”.
Portanto, é muito importante ter cautela nesse tipo de comunicação, observando a clareza da mensagem
para que o receptor a aceite.
• Comunicação interprofissional: essa comunicação é caracterizada por ser praticada em nosso ambiente
de trabalho, no qual transita uma infinidade de informações a diferentes níveis e perfis profissionais.
Mesmo que existam rivalidades, ciúme e vaidades nesse setor, é muito importante mantermos um bom

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 1 - A comunicação e suas formas de expressão

relacionamento, uma vez que conflitos em nosso ambiente profissional refletem na qualidade da infor-
mação e, consequentemente, nos serviços que são oferecidos às pessoas.

Para que você consiga obter mais conhecimentos sobre as formas de comunicação e consiga
aprimorá-las, sugerimos a leitura do seguinte texto:
DELHAAS, Rudolf Johannes. Para uma comunicação mais efetiva. Psicologia Argumento,
Curitiba, v. 28, n. 60, p. 65-81, jan./mar. 2010. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/
pb/index.php/pa?dd1=3511&dd99=view&dd98=pb>. Boa leitura.

1.1.2 Os elementos da comunicação

Assim como o aprendizado do aluno passa por várias fases, constituindo um processo, a comunicação também
precisa seguir uma estrutura para a sua garantia. Perles (2015, p. 1) acredita que o processo de comunicação “[...]
representa um dos fenômenos mais importantes da espécie humana. Compreendê-lo, implica voltar no tempo,
buscar as origens da fala, o desenvolvimento das linguagens e verificar como e por que ele se modificou ao longo
da história”. É por isso que se torna essencial conhecermos os elementos que compõem a estrutura que estamos
a estudar neste tópico; são eles: emissor, canal, mensagem, receptor, ruído e feedback. Veja agora como se apre-
senta essa estrutura juntamente com os elementos da comunicação.

Figura 3 – Processo de comunicação.

Legenda: Para que a comunicação ocorra, é necessário que se siga o pro-


cesso de comunicação, dando atenção aos elementos dessa estrutura.
Fonte: Adaptada de Shannon e Weaver (1949 apud REDFIELD, 1967).

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A figura apresentada ilustra o processo de comunicação juntamente com os elementos que o compõem, quais
sejam:
• emissor: é quem emite a mensagem;
• canal: é o local por onde é transmitida a mensagem (TV e rádio, por exemplo);
• mensagem: é o conteúdo e o objetivo da comunicação;
• receptor: é a pessoa que recebe a mensagem;
• ruído: são possíveis interferências na comunicação (barulho, falta de atenção, ambiguidade etc.);
• feedback: é o retorno/resposta que o receptor dá ao emissor a respeito da mensagem recebida.
Todos os dias, nos comunicamos com alguém, não é mesmo? Nessa prática, sempre utilizamos o processo de
comunicação, que é dinâmico e necessita de bastante atenção para que o nosso objetivo tenha sucesso. Dessa
forma, é também importante que você entenda que o emissor pode não ser apenas uma pessoa, mas um grupo.
Ao explicar isso, Tomasi e Medeiros (2007, p. 12) reforçam o entendimento do exercício do processo comunica-
tivo ao enfatizarem que:
No comportamento proativo, o destinador provoca uma mensagem da parte do destinador. Ele
estimula o destinador a oferecer-lhe uma mensagem. Uma tosse, um franzir de cenho, uma
risada, todos podem ser estímulos provocadores da emissão de uma mensagem. Pessoas envol-
vidas em uma comunicação tanto emitem, como recebem mensagens. Assim, ora uma pessoa
desempenha a função de emissor, ora de receptor. Da mesma forma, a função de receptor ou
emissor pode não ser representada por uma única pessoa; às vezes, ela o é por um grupo, por uma
empresa, por toda a sociedade.
Vejamos agora um exemplo do que acontece na prática do processo comunicativo. Acompanhe!
Primeiramente, é importante lembrar que o responsável pelo sucesso da comunicação é sempre o emissor. Em
uma sala de aula, o professor é quem ministra o conteúdo e o intermedia ao aluno. Nesse sentido, o professor é
o emissor, a mensagem é o conteúdo, os alunos são os receptores e a voz é o canal de comunicação. O enten-
dimento ou não do conteúdo deve ser comunicado ao professor. A compreensão e a interação entre professor
e alunos é chamada de feedback, ou seja, o processo que retroalimenta a mensagem, sendo o retorno que se dá
ao emissor.
Porém, e se o professor perguntou se os alunos entenderam o conteúdo e, mesmo que não tenham compre-
endido, tenham dito que sim? Houve comunicação nesse caso? Lembre-se que a comunicação é garantida
somente se o receptor (ou receptores) assimilou a mensagem e deu o retorno a quem a enviou; caso contrário a
comunicação não é válida. Portanto, no caso apresentado, não houve a efetividade da comunicação, apenas a
tentativa de estabelecer uma conexão.
E os ruídos, como se encaixam nessa estrutura? Caso os alunos façam barulho durante a explicação do profes-
sor ou este explique o conteúdo com um vocabulário ainda desconhecido pelos alunos ou se expresse de forma
confusa, haverá a emissão de ruídos, que são tudo aquilo que atrapalha o sucesso da comunicação. Nem sempre
existirá um ruído na comunicação, sendo que ele:
[...] pode se localizar no emissor, no receptor, no veículo utilizado ou no ambiente onde o pro-
cesso de comunicação acontece. O emissor pode não formular bem sua mensagem, dificultando
a compreensão por parte do receptor. O veículo de comunicação pode ser inadequado. O receptor
pode não prestar atenção suficiente à mensagem. E, ainda, pode haver algum tipo de poluição
sonora que impeça a boa percepção do que se quer comunicar (PIMENTA, 2006, p. 26).

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 1 - A comunicação e suas formas de expressão

Além dos exemplos de ruídos apresentados, é importante que lembremos que eles podem originar-se de diver-
sos fatores de ordem: psicológica (preocupações e estresse, por exemplo); perceptual (a cultura que a pessoa
possui e a sua concepção de mundo, por exemplo); e fisiológica (dificuldade visual ou auditiva e dores de cabeça,
por exemplo) (PIMENTA, 2006). Além disso, excesso de barulho, falta de luminosidade no ambiente, vocabulário
utilizado e velocidade na emissão da mensagem também são tipos de ruídos, conforme afirmações de Pimenta
(2006).

Quer conhecer mais sobre a comunicação e como ela se desenvolveu ao longo da histó-
ria? Então, acesse o artigo Comunicação: conceitos, fundamentos e história, do autor
João Batista Perles e veja quais são os elementos indissociáveis da estrutura comunicativa.
Acesse: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/perles-joao-comunicacao-conceitos-fundamentos-
-historia.pdf>.

Tão importante quanto entender o que compromete a comunicação é selecionar o melhor canal para a transmis-
são da informação para toda e qualquer situação. Veja agora, no Quadro 1, alguns exemplos de más e boas esco-
lhas de veículos adequados para o encaminhamento da mensagem, bem como para a avaliação do processo.

Quadro 1 – Exemplos de escolha do meio de comunicação adequado.

Situação Escolha ruim Melhor escolha Análise

Uma secretária quer confirmar Telefone E-mail ou canal Uma mensagem simples não
o horário de uma reunião com de voz necessita de um meio rico.
um grupo de funcionários.

Um grupo de engenheiros Videoconferência Conferência via A ênfase deve ser em detalhes


localizados em filiais computador ou técnicos, sem interferência
diferentes de uma empresa fax de parâmetros mais pessoais,
precisa discutir detalhes de como status e a expressão
um projeto em andamento. não verbal. Feedback é rápido
o suficiente para todas as
escolhas.

Uma empreiteira quer Memorando Reuniões em O meio mais rico é necessário,


anunciar um plano de pequenos proporcionando uma
benefícios para funcionários. grupos comunicação direta e um
feedback imediato para
esclarecer as possíveis dúvidas.

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Uma empresa de serviços E-mail ou canal Face a face ou A necessidade de persuasão


quer motivar os funcionários de voz por telefone exige um meio rico de
a trabalharem em grupos de comunicação para rebater
trabalho interdepartamentais. possíveis objeções e negociar
as condições.

Legenda: Sempre que for enviar uma mensagem, principalmente no ambiente profissional, é funda-
mental refletir se o meio de comunicação empregado é viável ou não ao sucesso da mensagem.
Fonte: Adaptado de Clampitt (1991 apud PIMENTA, 2006, p. 47).

Acabamos de conhecer a estrutura do processo de comunicação, entendendo, principalmente, os cuidados a


serem tomados para que a comunicação tenha sucesso. Agora, vamos estudar outro elemento bastante impor-
tante para que você consiga comunicar-se bem tanto pela fala quanto pela escrita: a linguagem, compreen-
dendo as diferenças entre ela e a língua. Vamos lá!

1.2 Língua x linguagem


Certamente, você já deve ter ouvido alguém dizer “eu falo a linguagem portuguesa”, não é mesmo? Pois bem,
isso é muito comum, pois a maioria das pessoas acredita que língua e linguagem são a mesma coisa. Mas será
que é isso mesmo? Vamos conhecer agora as diferenças entre elas para que possamos nos expressar melhor.
A língua consiste em um sistema de códigos que expressam nosso idioma, ou seja, a Língua Portuguesa, carac-
terizando nossa nacionalidade. É, sobretudo, uma forma de comunicação e um sistema linguístico. É por isso que
existem várias línguas no mundo, como a inglesa, francesa, espanhola entre outras. Faraco e Tezza (1992, p. 47)
destacam que:
“[...] Quem aprende uma língua, aprende, de fato, um conjunto grandemente variado de lingua-
gens que se manifestam por meio de determinadas formas linguísticas [...].” Desse modo, a língua
consiste na palavra, seja ela por meio da escrita ou da fala.
Mas de onde vem o aprendizado da língua? Primeiro, somos ensinados a falar de acordo com as pessoas que
estão mais próximas a nós – nossos pais, irmãos, tios e avós, por exemplo, o que chamamos de aprendizado
da língua materna. Depois, aprendemos a desenvolver as regras do sistema da Língua Portuguesa (na fala e na
escrita) na escola. Portanto, “A língua falada por um povo é parte da imagem que esse povo tem de si mesmo,
em certos casos ainda mais significativa do que as unidades políticas em que o povo se organiza.” (PERINI, 2010,
p. 2-3).

Para conhecer mais sobre língua e linguagem e sua influência na comunicação, leia a entre-
vista feita a Mário A. Perini, acessando: <http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/revel_14_
entrevista_perini.pdf>.

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Você se lembra do que estudamos no início desta unidade a respeito das modalidades de comunicação? Pois
bem, existem duas formas de comunicação: a verbal e não verbal. Da mesma forma, existe a linguagem, que
consiste na maneira como expressamos nossos sentimentos e nos comunicamos com as pessoas que estão ao
nosso redor, sendo que:
“[...] qualquer sociedade minimamente complexa só pode funcionar, e mesmo surgir, através do
uso intensivo da linguagem. A sociedade funciona através da cooperação e/ou conflito entre os
homens, e a linguagem medeia esses processos de maneira crucial.” (PERINI, 2010, p. 2).
A linguagem também pode apresentar-se de duas formas: verbal (emprega-se a palavra) ou não verbal (sem o
uso da palavra), sendo esta última aquela que possui um forte poder de expressão em toda e qualquer situação.
Não podemos, por exemplo, disfarçar uma forte tristeza ou o entusiasmo com alguma coisa, pois nosso olhar,
nossa voz e nossa expressão facial já vão comunicar isso de imediato. Nosso jeito de vestir também é uma forma
de linguagem. Nosso trabalho exige, por exemplo, um tipo de vestimenta adequada. Em casa ou com os amigos,
podemos nos vestir de forma diferente, pois estamos em “nosso ambiente”. E isso é linguagem não verbal, ou
seja, simbologias que exprimem uma informação.

Figura 4 – A criança e suas formas de expressão.

Legenda: As crianças, em seus primeiros anos de vida, utilizam-se da linguagem não verbal para comunicar-
-se com os adultos, empregando gestos e modificando sua expressão facial para solicitar o que necessitam.
Fonte: <http://us.123rf.com/450wm/romikmk/romikmk1506/romikmk150600029/41918361-conjunto-de-
-emo%EF%BF%BD%EF%BF%BDes-crian%EF%BF%BDa-isolado-no-branco.jpg?ver=6v>.

Quando você apresenta suas ideias em uma palestra, em uma aula, em uma reunião ou em um texto, você está
utilizando-se da linguagem verbal, que é forma de expressão em que a palavra estará sempre presente. Quantas
vezes você recebeu, ou escreveu, mensagens via WhatsApp empregando palavras abreviadas como “vc” (você),
“tb” (também), “qnd” (quando), ou os conhecidos emotions (as caretinhas que expressam sentimentos)? Será que
isso é linguagem? Ora, se tudo isso comunica, é linguagem, uma vez que estão a levar determinada mensagem a
ser codificada (quando entendo o seu código, por exemplo, a língua em que está escrita) e decodificada (quando
compreendo a mensagem) pelo receptor. Veja que, no caso dos vocábulos abreviados, utilizamos a linguagem
verbal, pois são palavras; no caso dos emotions, não usamos palavras, por isso é uma linguagem não verbal.

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Figura 5 – Emotions.

Legenda: As caretinhas que expressam sentimentos são uma linguagem não ver-
bal e hoje fazem parte da comunicação estabelecida nas redes sociais.
Fonte: <http://us.123rf.com/450wm/layritten/layritten1603/layritten160300039/53424363-grande-conjunto-de-99-
-emo%EF%BF%BD%EF%BF%BDo-amarelo-isolado-no-branco.-conjunto-emoji.-raiva-e-compaix%EF%BF%BDo.-risos-
-e-l%EF%BF%BDgrima.jpg?ver=6>.

Linguagem e língua são complementares, pois uma necessita da outra em diversas formas
de expressão, sendo a linguagem repleta de intenções.

A linguagem pode ser alterada em diversas situações. Certamente, você já mudou seu jeito de falar para que o
receptor compreendesse melhor e assimilasse o que você estava querendo exprimir. Ao tentar cativar, emocionar
ou chamar a atenção de alguém, empregam-se recursos da linguagem. Isso quer dizer que ela também possui
intencionalidades, o que chamamos funções da linguagem, que podem ser as seguintes: fática, poética, referen-
cial, conativa, metalinguística e emotiva. Vamos agora conhecer as diferenças entre elas.
Função fática: Cereja e Magalhães (2009, p. 36) destacam alguns exemplos desse tipo de função, que ocorrem
“[...] nos cumprimentos diários (“Bom dia”, “Boa tarde”, “Oi”, “Tudo bem?”, “Como vai?”), nas conversas de ele-
vador (“Está quente, não?”), nas primeiras palavras de uma aula (“Sentem-se”, “Vamos começar?”, “Pronto?”,
“Atenção, gente!”)”. Observe que esses enunciados indicam que se quer chamar a atenção de alguém e testam
se o receptor está prestando atenção, por isso, dizemos que a linguagem é fática.
Função poética: a poesia é o exemplo mais comum desse tipo de função, uma vez que são empregados recursos
literários (para emocionar, para fazer refletir) nos textos poéticos.
Função referencial: são exemplos desse tipo de função os textos científicos e jornalísticos, uma vez que descre-
vem e informam sobre determinado assunto.

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Função conativa: os outdoors publicitários apresentam esse tipo de função, uma vez que buscam influenciar
o consumidor a comprar determinado produto com expressões como “Compre logo!”, “Venha conhecer nosso
produto” etc.
Função metalinguística: esse tipo de função é caracterizado pelo uso de um recurso que explica a si mesmo. O
dicionário é um bom exemplo de função metalinguística, pois cada palavra (que é um código) está ali para expli-
car ela mesma. Vejamos um exemplo dessa modalidade:
Imagino este diálogo exasperante: “O sophomore foi ao pau”. “Mas o que quer dizer ir ao pau?”
“A mesma coisa que levar bomba.” “E levar bomba?” “Levar bomba é ser reprovado no exame.”
“E o que é ‘sophomore’?”, insiste o interrogador, ignorante do vocabulário escolar em inglês. “Um
‘sophomore’ é [ou quer dizer] um estudante de segundo ano (JAKOBSON, 2010, p. 162, grifo do
autor).
Observe que os vocábulos apresentados servem para tecer explicações sobre outros, e assim por diante. A função
metalinguística caracteriza-se justamente por promover o esclarecimento por meio desse tipo de explicação.
Função emotiva: o objetivo desse tipo de função é despertar sentimentos no emissor. Frases como “Nossa, que
pena!” e “Como você está bem!” são exemplos desse recurso.
As funções da linguagem são aplicadas por nós, diariamente, e agora que você já conhece quais são elas, pode
definir e identificar aquela que melhor se encaixará em determinadas situações comunicativas, dentro de um
contexto específico. Neste sentido, Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009, p. 11) entendem que,
[...] o contexto pode envolver uma discussão em família, em ambiente doméstico, entre os mem-
bros que a compõem; uma entrevista de trabalho, no espaço profissional, com a presença do can-
didato e do representante da empresa; uma carta de amor, amostra de um diálogo afetivo; uma
reportagem para uma revista importante em que o redator, ao escrever, leva em conta o interesse
e a expectativa dos leitores.
Sendo assim, texto e contexto sempre constituirão uma unidade, e a linguagem será o veículo de transmissão das
mensagens que transmitimos seguindo determinada função.

Todos os dias, nos deparamos com propagandas, sejam elas na televisão, nos jornais ou nos
outdoors. Mas como as funções da linguagem se apresentam nesse tipo de publicidade? Leia
o texto de Santee e Santos (2010), As funções da linguagem na propaganda, e saiba mais
sobre este assunto. Acesse: <http://seer.ucg.br/ind http://seer.ucg.br/index.php/fragmen-
tos/article/download/1367/913ex.php/fragmentos/article/download/1367/913>. Boa lei-
tura!

A seguir, discutiremos um assunto bastante importante para o nosso aprendizado de língua e linguagem: a varia-
ção linguística. Vamos adiante!

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1.3 O que é variação linguística?


Você conhece alguém que vive “esgualepado”? Já viu um “rosilho”? Já ouviu alguém dizer “chujar”? Pois bem, no
Rio Grande do Sul, é muito comum utilizar a expressão “esgualepado” para dizer que alguém está maltrapilho,
desarrumado. Também chama-se “rosilho” o cavalo de cor rosada na mesma região. Por outro lado, nas regiões
interioranas de Mato Grosso, falar “chujar” ao invés de “sujar” é bastante comum. Sendo assim, você certamente
lembra-se agora de outros exemplos em que lhe disseram alguma coisa que você não foi capaz de entender por-
que não fazia parte daquela região. Estamos falando agora da variação linguística, um fenômeno muito comum
no estudo das diversas formas de linguagem e que interferem, na maioria das vezes, na compreensão de deter-
minadas mensagens, causando ruídos na comunicação.
Quando você se comunica com alguém no trabalho, é provável que empregue um tipo de linguagem mais formal;
quando se comunica com um amigo pelas redes sociais, a informalidade toma conta da situação comunicativa.
Assim ocorre em outros momentos em que modificamos o jeito de falar para atingir os propósitos comunicativos.
E isso é variação linguística também!
Mas qual é o conceito do fenômeno que estamos estudando? A variação linguística é considerada o emprego de
padrões informais da língua, ou seja, palavras e expressões criadas em determinados tempos, contextos e grupos
culturais. Sendo assim, a pronúncia e o vocabulário podem mudar para referir-se a uma mesma palavra. Faraco e
Tezza (1992) afirmam que a língua não é uniforme, admitindo muitas variações, entre elas:
A variação geográfica: diferenças de pronúncia (cariocas e gaúchos têm entonação/sotaque diferente quando
falam, por exemplo); vocabulário (tangerina, mimosa e bergamota são a mesma coisa, mas falada de formas
distintas nas regiões do Brasil); e de sintaxe (no Brasil, fala-se “Ele não me viu”; em Portugal, fala-se “Ele me não
viu”) (FARACO; TEZZA, 1992).
Níveis de formalidade: dependendo da situação (uma festa, um jogo de futebol, uma cerimônia, por exemplo)
em que estivermos inseridos, nossa linguagem vai mudar. Faraco e Tezza (1992, p. 53. grifo do autor) destacam
que “[...] é interessante observar como nós desenvolvemos “antenas” para nos sincronizar linguisticamente com
a situação – e também para vigiar a adequação da fala dos outros”.
Língua oral e língua escrita: obviamente, não falamos da mesma maneira que escrevemos e vice-versa. Dessa
forma, nossa oralidade será sempre mais propensa a modificações de pronúncia. Ao contrário, a escrita não pode
admitir essa variação, uma vez que deve estar de acordo com a norma culta padrão (FARACO; TEZZA, 1992).

Você conhece pessoas que têm a fala carregada de expressões regionalistas? Para você, elas
estão falando errado? Por quê?

A respeito da variação linguística, Faraco e Tezza (1992) salientam que existem fatos que não podem ser esque-
cidos pelo falante. Assim, os estudiosos evidenciam que as línguas não existem em si; elas variam e não são
uniformes; não são iguais em suas variedades e, por isso, elas mudam; em algumas sociedades, exige-se tanta
atenção a determinadas variações que todos acabam por concluir que essa variedade é a língua, sendo as demais
imperfeitas (FARACO; TEZZA, 1992).

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 1 - A comunicação e suas formas de expressão

Figura 6 – Caipira picando fumo.

Legenda: O fenômeno da variação linguística é resultado das variantes da língua empregadas em regiões ou
estados diferentes. Nas regiões interioranas, a fala é conhecida por ser carregada de regionalismos. A pala-
vra “acero”, por exemplo, é muito utilizada no interior de Mato Grosso, e significa “capinar ao redor do pasto”.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Caipira_picando_fumo.jpg>

Existe um grande preconceito com a fala das pessoas mais desfavorecidas ou moradoras de regiões mais des-
locadas no Brasil, longe dos grandes centros urbanos. Infelizmente, falta respeito com a forma de falar desses
indivíduos, uma vez que sua cultura, origem e localização influenciaram no seu modo de falar. Sendo assim,
[...] é comum, por exemplo, que termos como pobrema (ao invés de problema), nós fumo (ao invés
de nós fomos) e ponharam (ao invés de puseram) suscitem idéias [sic] preconcebidas a respeito da
(falta de) escolaridade de quem os pronunciou. Normalmente são alvos de comentários jocosos
e de rejeição explícita pelos membros da comunidade de fala (seja escolarizada ou não) (GORSKI;
COELHO, 2009, p. 81).
Diante disso, é muito importante reconhecermos que a variação linguística é mais comum do que se imagina. Da
mesma forma que não somos todos iguais, a nossa língua também não o é.

Conheça o artigo de Santana e Neves (2015), As variações linguísticas e suas implicações


na prática docente, e veja a importância que a diversidade da língua exerce em nossa cul-
tura. Acesse: <http://www.ipv.pt/millenium/Millenium48/6.pdf>.

Agora que você já sabe o que é variação linguística, vamos discutir a importância da competência linguística.
Acompanhe!

15
Leitura e Produção de Textos | Unidade 1 - A comunicação e suas formas de expressão

1.4 Entendendo a competência linguística


“Saí do julgamento incólume”, “Este remédio é inócuo”, “Aquele candidato gosta de tergiversar”. Mas o que essas
frases querem dizer? Não seria mais fácil dizer “Saí do julgamento ileso”, “Este remédio não é perigoso” e/ou
“Aquele candidato gosta de fugir do assunto”? Pois bem, esses primeiros exemplos são enunciados nos quais
aparecem alguns vocábulos considerados difíceis ou desconhecidos. Mas o que isso tem a ver com competência
linguística?
Primeiramente, é importante entender que não nascemos com a competência linguística, mas a desenvolvemos
ao longo do tempo com muita dedicação aos estudos. A pessoa que possui esse tipo de competência é aquela
que conhece as regras do idioma (falado e escrito), sabendo aplicá-lo em diversas situações, seja em um texto,
em uma conversa com os amigos ou em uma palestra, adotando as convenções estruturais da língua.
Hoje, mais do que nunca, o mercado de trabalho busca profissionais com diversas habilidades, e a competência
linguística destaca-se nesse cenário. Infelizmente, muitas pessoas desconhecem as diferenças entre “trás” (posi-
ção) e “traz” (do verbo trazer) ou confundem a escrita de “sessão” (reunião) e “cessão” (ceder ou interromper), o
que mostra a falta de competência linguística.
É importante salientar aqui, em nossas discussões sobre língua e competência linguística, que, infelizmente, há
uma grande preocupação com o mau uso da língua, seja nas relações convencionais, profissionais ou acadêmi-
cas. A respeito desse assunto, Bernardo (1992, p. 84) salienta que:
O acesso às conquistas da civilização passa, necessariamente, pelo acesso à linguagem escrita em
que se veiculam as informações, em sentido amplo: jornalísticas, artísticas, culturais, cientificas.
É fácil perceber que o cidadão que não domina as formas linguísticas chamadas cultas da língua
terá dificuldade para se integrar aos mecanismos mais sofisticados da sobrevivência cotidiana,
compreendendo-os e transformando-os – em outras palavras, para se tornar um agente da lin-
guagem, e não a sua vítima.

Figura 7 – O erudito Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.

Legenda: As pessoas eruditas são aquelas que se dedicam a estudar e a aprender, de forma profunda, determina-
das convenções (música, poesia e língua portuguesa, por exemplo). Uma pessoa que possui competência linguística é
considerada erudita, uma vez que possui um conhecimento vasto da língua e sabe aplicá-la em diversas situações.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/JoaquimBarbosa.jpg

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 1 - A comunicação e suas formas de expressão

Outro aspecto importante a ser tratado quando se fala no sucesso da comunicação é a cautela no uso da lingua-
gem, dependendo da situação. Não podemos, por exemplo, utilizar um vocabulário rebuscado com uma pessoa
que não teve acesso ao estudo, pois certamente ela não irá compreender. Por isso, adaptar a linguagem à situa-
ção comunicativa é fundamental e isso também é competência linguística.
Por fim, para termos competência linguística, existe uma receita muito simples: estudar as convenções grama-
ticais e ler muito! E é esta disciplina que lhe auxiliará a aprimorar essa habilidade para que você tenha êxito ao
comunicar-se com alguém.

17
Considerações finais
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final desta primeira unidade da disciplina
Leitura e Produção Textual. Vamos agora relembrar o que discutimos e
aprendemos sobre nosso foco de estudo: a comunicação.
• Estabelecemos comunicação com os outros desde o momento
de nosso nascimento. Para que haja comunicação, é necessário
que a mensagem se torne comum entre o emissor e receptor, ou
seja, que ela seja compreendida e que o retorno sobre seu enten-
dimento seja dado ao emissor.
• Vimos que existem dois tipos de comunicação, a verbal e a não
verbal. A primeira precisa do uso da palavra (escrita e falada) e a
segunda não depende dela, pois se constitui por símbolos, gestos
e expressões faciais, por exemplo. Conhecemos alguns métodos
de comunicação, sendo eles o intrapessoal, o interpessoal e o
interprofissional.
• Compreendemos também que, para que ocorra a comunicação,
é necessário seguir um processo composto pelos seguintes ele-
mentos: emissor (quem emite a mensagem), canal (local por onde
se encaminha a informação), mensagem (conteúdo da comuni-
cação), receptor (quem recebe a mensagem) e feedback (retroa-
limentação da comunicação). Além disso, existem os ruídos, que
podem aparecer dentro dessa estrutura, sendo tudo aquilo que
interfere na compreensão da mensagem (humor, ambiente, baru-
lho etc.).
• Conhecemos as diferenças entre língua e linguagem, sendo a pri-
meira o sistema de códigos de nosso idioma e a segunda toda e
qualquer forma de expressão. Vimos também que a linguagem
possui intencionalidades diversas, pautadas nas seguintes fun-
ções: poética, fática, referencial, metalinguística, emotiva e cona-
tiva. Na sequência, discutimos o fenômeno da variação linguís-
tica, tema bastante importante em nossos estudos.
• Por fim, entendemos o que é competência linguística, conside-
rada uma habilidade de utilizar de forma correta as convenções
de nosso idioma, seja de forma oral ou escrita, reconhecendo que,
para cada situação comunicativa, devemos usar a linguagem ade-
quada para que haja sucesso na comunicação.

18
Referências bibliográficas
BALESTERO-ALVAREZ, Maria Esmeralda. Exercitando as Inteligências
Múltiplas: Dinâmicas de grupo fáceis e rápidas para o ensino superior. 2.
ed. São Paulo: Papirus, 2007.

BERNARDO, Gustavo. Redação inquieta. Rio de Janeiro: Globo, 1992.

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tica reflexiva: Volume único. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009.

DELHAAS, Rudolf Johannes. Para uma comunicação mais efetiva.


Psicologia Argumento, Curitiba, v. 28, n. 60, p. 65-81, jan./mar.
2010. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/
pa?dd1=3511&dd99=view&dd98=pb>. Acesso em: 8 jan. 2017.

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de textos para estu-


dantes universitários. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1992.

GOLDSTEIN, N.; LOUZADA, M. S.; IVAMOTO, R. O texto sem mistério: lei-


tura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009.

GORSKI, Edair Maria; COELHO, Izete Lehmkuhl. Variação linguística e o


ensino de gramática. Work papers linguística, v. 10, n. 1, 73-91, Floria-
nópolis, jan/jun., 2009. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.
php/workingpapers/article/view/1984-8420.2009v10n1p73/12022>.
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JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. 22. ed. São Paulo: Cul-


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SANTANA, Jessé; NEVES, Maria. As variações linguísticas e suas implica-


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19
Referências bibliográficas
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Mário A. Perini. ReVEL. Vol. 8, n. 14, 2010. Disponível em: <http://www.
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PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação empresarial. Campinas, SP: Alínea,


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PERLES, João Batista. Comunicação: conceitos, fundamentos e história.


Biblioteca on-line de ciências da comunicação. 2015. Disponível em:
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REDFIELD, C. E. Comunicações administrativas. Rio de Janeiro: FGV,


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SANTEE, Nellie Rego; SANTOS, Goiamérico Felício Carneiro dos. As funções


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3/4, p. 169-180, mar./abr. 2010. Disponível em: <http://seer.ucg.br/ind
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TELES, Expedito. Fundamentos biológicos da comunicação. In: Adísia


Sá (Coord.) Fundamentos científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes,
1973, p. 17-71.

TOMASI, Carolina; MEDEIROS, João Bosco. Comunicação empresarial.


São Paulo: Atlas, 2007.

20
Unidade de Estudo 2
O que é um texto:
tipos e gêneros textuais
2
Para iniciar seus estudos

Você sabe exatamente o que é um texto? Para você, a escrita é um desa-


fio? Quais são os tipos e gêneros textuais mais utilizados em nosso coti-
diano acadêmico e profissional? Quais as diferenças existentes entre eles?
Nesta Unidade 2 da disciplina de Leitura e produção textual, discutiremos
esses assuntos e responderemos a essas questões para prepará-lo para o
maravilhoso universo da produção textual. Vamos lá!

Objetivos de Aprendizagem

• Compreender o que é texto.


• Reconhecer o texto como unidade de sentido.
• Enumerar os tipos de texto de forma a entender as suas peculiari-
dades e finalidades.
• Categorizar os gêneros textuais, compreendendo suas finalidades.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

2.1 O que é um texto


Sempre que pensamos em texto, lembramo-nos das redações que fazíamos na escola, não é mesmo? Muitas
vezes, escrevíamos qualquer coisa, sem ter um norte específico e uma estrutura a ser seguida; escrevíamos para
nós mesmos, sem pensar em quem faria a leitura de nossa redação, dando pouco valor ao sentido que aquele
texto transmitia. Hoje, a situação é outra. Você, que é acadêmico, precisa aprimorar sua visão sobre a produção
textual, entendendo, para isso, o que é um texto, a fim de obter sucesso nas várias redações que fará daqui por
diante.
Certamente, você já viu alguém fazer tricô ou crochê, que são atividades artesanais. Essa prática envolve o entre-
laçamento de fios para produzir uma manta ou uma toalha, por exemplo. Se um dos fios não se encaixou bem
com outro, o produto ficará torto e sem a bela estética esperada por quem o faz. Então, desmancha-se aquela
manta ou aquela toalha para corrigir o defeito e ter como resultado um lindo trabalho. Mas por que estamos
falando de tecido se nossas discussões estão voltadas ao conceito de texto nesse primeiro momento? Porque
texto também é um tecido, sendo a sua produção semelhante aos objetos mencionados anteriormente. Para que
nossa escrita seja considerada um texto, deve ter unidade de sentido. Da mesma forma que a toalha de crochê
e a manta de tricô, nosso texto precisa ter uma estrutura alinhada, com ideias também concatenadas, para que
a pessoa que o ler adquira informações claras e também conhecimentos a partir das ideias que produzimos, ou
melhor, tecemos.
Em nossa prática comunicativa, falamos, gesticulamos, expressamos sentimentos pelo nosso olhar e pela nossa
voz. Mas também precisamos escrever para nos comunicarmos com nossos colegas, chefes e amigos. Por isso,
o texto também faz parte de nossa comunicação diária, sendo ele uma construção de sentidos que “[...] com-
preende processos, operações e estratégias que têm na mente humana, e que são postos em ação em situações
concretas de interação social” (KOCH, 1997, p. 22).

Figura 8 – “Tecelãs” (1909), tela pintada pela artista Pedro Weingärtner.

Legenda: A imagem ilustra a atividade tecelã, que pode ser comparada à atividade de produção tex-
tual, pois o texto é o mesmo que um tecido, ou seja, uma unidade de sentido que se constrói a par-
tir do entrelaçamento de ideias, assim como ocorre com os fios nas práticas artesanais.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pedro_Weing%C3%A4rtner_-_Tecel%C3%A3s_-_1909.jpg>

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

Além das considerações iniciais apresentadas sobre o conceito de texto, vejamos agora como a linguista Inge-
dore Koch define essa constituição. Para ela, texto é:
[...] uma manifestação verbal, constituída de elementos linguísticos intencionalmente seleciona-
dos e ordenados em sequência, durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na
interação, não apenas a depressão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de pro-
cessos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com
práticas socioculturais (KOCH, 1992, p. 22).
Lembre-se que o texto (para ser texto) consiste em uma atividade verbal, não sendo, o que muitos acreditam ser,
um amontoado de palavras, pois isso não necessariamente terá um sentido. Vejamos agora um exemplo de uma
narrativa escrita pelo filho de Graciliano Ramos, Ricardo Ramos.
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de bar-
bear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para
cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. [...] Televisor,
poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos.
Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, traves-
seiro (RAMOS, 1978, p. 21-22).
E agora, será que temos um texto? Mas por que seria considerado assim se não existem palavras de ligação,
verbos e outras frases que expliquem o contexto? Por incrível que pareça, temos um texto pelo seguinte motivo:
há uma ideia que está sendo transmitida e está plena de sentido, ou seja, o fragmento narra a trajetória de um
homem desde que acorda. Identificamos isso por ser uma prática bastante comum em nosso dia a dia. Se tivés-
semos em discurso como “céu, espuma, caderno, chinelo, árvore”, não teríamos um texto, uma vez que esse
exemplo não contém sentido – ou, se tivesse, seria difícil de identificar.

Você já leu algo sem sentido? Se você fosse um revisor de texto profissional, o que faria para
melhorar aquilo que leu e poder repassar a outros leitores?

Se o texto constitui sentido, promove interação e expressa a capacidade linguística do redator, ele precisa ter
determinados conhecimentos. Você lembra-se de que, na Unidade 1, conhecemos o que significa ter competên-
cia linguística, e vimos que a possuímos quando temos um conhecimento amplo sobre as convenções e usos da
Língua Portuguesa? Pois bem, para que um texto possa ser construído, ele precisa, além dessa competência, de
outras, classificadas como conhecimentos: linguístico, enciclopédico, interacional, ilocucional, comunicacional,
metacomunicativo e superestrutural. Vejamos agora o que significa cada uma dessas habilidades mencionadas.
Acompanhe no quadro a seguir.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

Quadro 2 – Conhecimentos acessados durante a produção textual.

Conhecimento Definição

Linguístico Consiste no conhecimento gramatical e lexical, sendo responsável pela articulação


do som e sentido do texto. Além disso, é responsável pela organização da superfície
textual, aplicação dos elementos de coesão e sequenciação textual.

Enciclopédico Também conhecido como conhecimento de mundo, é aquele que apresenta os


conhecimentos comuns e partilhados que adquirimos ao longo da vida enquanto
interlocutores, encontrando-se armazenado na mente de cada indivíduo.

Interacional Consiste no conhecimento que temos sobre as ações verbais que se apresentam na
linguagem.

Ilocucional São conhecimentos sobre os tipos de atos da fala, que permitem reconhecer
as finalidades que o falante pretende atingir em determinadas situações
comunicativas.

Comunicacional Diz respeito às capacidades comunicativas que envolvem normas da língua,


por exemplo: definição da linguagem adequada a cada situação, quantidade de
informação necessária e adequação do tipo textual a determinado contexto.

Metacomunicativo Este conhecimento é empregado quando o autor procura evitar dúvidas do leitor,
trazendo exemplos que se articulem às suas ideias, a fim de proporcionar ao emissor
um conhecimento amplo e claro.

Superestrutural Consiste no conhecimento das diversas estruturas textuais que se aprende ao longo
do tempo, compreendendo o conhecimento sobre os vários tipos e gêneros de
texto.

Legenda: Quando desenvolvemos um texto, aplicamos conhecimen-


tos dos mais variados tipos para o alcance de seu objetivo.
Fonte: Adaptado de Koch (1992, p. 23-24).

Veja que o quadro anterior apresentou as habilidades mentais que são acionadas no momento em que pro-
duzimos uma carta, uma dissertação, um relatório ou um simples e-mail profissional. Para tanto, é importante
reconhecer que esses conhecimentos precisam ser alimentados continuamente, e isso é possível por meio da
leitura, muita prática de escrita e reescrita e estudo sobre as mais diversas áreas, sejam elas a linguística, ciência,
história ou até mesmo filosofia. Lembre-se que, quanto maior for o nosso leque de informações diárias, melhor
será nossa escrita!
Nesse mesmo contexto, Ernst-Pereira e Funck (2001) salientam que o texto é um objeto cultural, e que ele não
pode ser concebido como um material apenas informativo, mas, sobretudo, como uma prática discursiva que
conduz sentidos ao leitor. Dessa forma, as estudiosas evidenciam que cabe ao leitor:
[...] identificar sentidos e, ao produtor de textos, estabelecer sentidos através do uso de palavras,
expressões, construções sintáticas adequadas à mensagem a ser transmitida, como se nada se
interpusesse entre o sujeito e o objeto, tudo se passando como se as palavras, na sua transpa-
rência, carregassem em si as coisas do mundo a significar (ERNST-PEREIRA; FUNCK, 2001, p. 5).

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

Para que você aprimore seus conhecimentos sobre o conceito de texto e as várias formas
de discurso escrito, sugerimos a leitura do artigo de Freda Indursky, Da heterogeneidade
do discurso à heterogeneidade do texto e suas implicações no processo da leitura (p.
27-42), disponível em: <http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Livros/Leitura_e_a_
Escrita.pdf#page=27>.

Além dos sentidos que cabe ao leitor identificar, existem os significados que ampliam o conhecimento do recep-
tor sobre aquilo que lê. Sendo assim, é importante conhecermos alguns tipos de significados, conforme as afir-
mações de Pimenta (2006)
• Significado gramatical: é aquele que vai depender da relação estabelecida com outros signos no dis-
curso (a palavra, por exemplo, é um signo linguístico, uma vez que por ela fazemos associações a concei-
tos e sonoridade).
• Significado contextual: existem significados diferentes para objetos, por exemplo. As flores, nesse sen-
tido, podem significar uma coisa em uma festa; outra, em um velório.
• Significado referencial: é considerado aquele que aparece no dicionário, e vai depender somente da
relação entre o signo e seu conceito referente.
• Significado conotativo: ocorre por meio da ampliação, do enriquecimento do significado referencial dos
signos, por meio da imaginação, como ocorre na leitura da poesia.
Agora que você já aprendeu o que é um texto, vamos adiante com nossos estudos, conhecendo os fatores que
caracterizam o texto enquanto tal. Vamos lá!

2.2 Fatores de textualidade


Você já ouviu falar em fatores de textualidade? Vamos entender agora o que esse elemento significa.
É claro que não produzimos um texto à toa, pois sempre há algo que nos impulsiona a escrever determinada
mensagem. De acordo com Costa Val (1999, p. 15), textualidade é o “[...] conjunto de características que fazem
com que o texto seja texto, e não uma sequência de frases”.
Sendo assim, o texto compreende cinco fatores que compõem o contexto de sua elaboração, quais sejam: situ-
acionalidade, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade e intertextualidade. Vamos agora conhecer cada
um destes elementos, segundo os estudos de Costa Val (1999).
• Situacionalidade: este fator diz respeito à situação comunicativa e à adaptação do texto a ela. Em uma
formatura, por exemplo, não vamos produzir um discurso despojado, com um linguajar popular, mas,
sim, adotar uma linguagem rebuscada e de acordo com as convenções da língua. Da mesma forma, não
podemos escrever um requerimento para a mãe comprar frutas e deixar isso na porta da geladeira. O
mais apropriado, nesse caso, seria um bilhete ou uma lista de compras.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

• Intencionalidade: quando o redator se empenha para dar coesão e coerência (aspectos que estudare-
mos melhor na próxima unidade) ao texto, a fim de alcançar os objetivos da comunicabilidade de certa
mensagem, dizemos que o texto possui intencionalidade, que podem ser várias: persuadir, informar,
comover etc.
• Informatividade: refere-se ao grau de importância da mensagem, tendo em vista as informações que
o texto será capaz de transmitir, a fim de fazer com que o receptor adquira mais conhecimento sobre o
assunto.
• Aceitabilidade: este fator é relacionado à maneira como o receptor aceita o texto e se este está de acordo
com as suas expectativas de clareza, coesão e coerência.
• Intertextualidade: todo texto é construído a partir de outro, ou seja, tudo aquilo que escrevemos tem
base em informações já apresentadas por alguém. É por isso que dizemos que os textos dialogam. Quando
fazemos uma citação, por exemplo, estamos utilizando outro texto e, por isso, existe nele a intertextua-
lidade.

Figura 9 – Situacionalidade da comunicação.

Legenda: A situacionalidade é um dos fatores de textualidade que compreende a observação da(o) situ-
ação/contexto em que ocorre a comunicação para que se possa produzir o texto adequado ao cená-
rio. Além disso, deve-se levar em conta o que é mais importante escrever nessa situação comunicativa.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escrit%C3%B3rio_MercadoLivre_-_mesa_de_trabalho.jpg>

Portanto, sempre que você for escrever, pense (e empregue) nesses cinco fatores de textualidade que acabamos
de estudar. Assim, você verá que a produção textual não é tão difícil quanto parece. Vejamos agora quais são os
principais desafios da escrita e como ultrapassar essas barreiras.

Para aprender mais sobre os fatores de textualidade e entender como eles estão envolvidos
no processo de interpretação de texto, leia o artigo de Joaquim et al. (2012), Os fatores de
textualidade: uma análise das personagens Valéria e Janete do programa humorístico
Zorra Total da Tv Globo, acessando o texto em: <http://www.uenp.edu.br/trabalhos/cj/
anais/soLetras2012/Alex%20Ferreira%20Joaquim.pdf>. Boa leitura!

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

2.3 O desafio da escrita


Seria impossível falar em texto e sua respectiva produção sem tocar em um assunto tão importante para quem
quer escrever e comunicar-se melhor: os desafios da escrita.
Alguns têm medo de falar; outros, medo de escrever. A comunicação é sempre um desafio quando se pensa
que escrevemos não somente para nós, mas para o outro. Hoje em dia, o medo de escrever expande-se cada
vez mais, tendo em vista a exigência do mercado de trabalho no que se refere à boa comunicação, seja ela oral
ou escrita. Nos processos seletivos, a redação está sendo um dos tópicos que definem a aprovação do candidato
(até mesmo a dinâmica do ditado está retornando à seleção de recursos humanos nas empresas). Sendo assim,
é fundamental, em um primeiro momento, libertarmo-nos daquela ideia de que toda redação precisa de um
macete, técnica que resulta no conhecimento engessado do aluno. A respeito dessas barreiras, Faraco e Tezza
(1992, p. 128) evidenciam o seguinte:
O primeiro desafio para quem pretende dominar a língua padrão escrita é sair do universo viciado
da redação escolar, universo sem referências concretas, em que o eu abstrato repete opiniões
fragmentadas, edificantes sobre o Homem e o Mundo igualmente abstratos, para o universo con-
creto no qual a linguagem escrita age sobre o mundo. Porque, afinal de contas, é para isso que
se escreve – esta ação está presente tanto no bilhete semi-analfabeto [sic] de uma empregada
doméstica avisando que deixou a chave debaixo do tapete quanto no mais sofisticado texto cien-
tífico.
Com base nessas afirmações, podemos perceber que um dos principais desafios para escrever é resultado de
uma concepção bastante ultrapassada, ou seja, a ideia de que o que se aprendeu na escola enquanto técnica de
redação é válido para a vida toda. Não se pretende, aqui, criticar os métodos de ensino da escola tradicional, mas
salientar que é muito importante aprimorar o que já se sabe e pôr a escrita em prática nas mais distintas situa-
ções. A respeito desse assunto, Osakabe (1992, p. 122) salienta que:
[...] o acesso ao universo da escrita opera em dupla redução das características da escrita: em
primeiro lugar, reduz a fixidez do discurso escrito, exigência de sua persistência e durabilidade,
à condição de organização discursiva modelar e estável. Em segundo lugar, reduz a tendência
monológica a uma característica autoritária e também absoluta [...]. Tudo isso evidencia que o
acesso ao código da escrita não se resume, como já se disse, num adestramento, mas sim implica
um movimento de compromisso em que o instrumento adere o sujeito a um universo já formu-
lado.
Outro desafio bastante comum apresenta-se na seguinte questão: como dar sentido ao texto? Koch (1992)
entende que o texto não vem com um sentido pronto, sendo que essa construção se dá a partir dele. Dessa
forma, a estudiosa compara esse cenário à metáfora do iceberg, dizendo o seguinte:
Todo texto possui apenas uma pequena superfície exposta e uma imensa área imersa subjacente.
Para se chegar às profundezas do implícito e dele extrair um sentido, fazem-se necessários o
recurso aos vários sistemas de conhecimento e a ativação de estratégias cognitivas e interacio-
nais. (KOCH, 1992, p. 26)

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

Figura 10 – Iceberg.

Legenda: A imagem do iceberg ilustra a concepção de que o texto é um produto inacabado e profundo,
sendo que as suas profundeza e essência são construídas pelo próprio texto e identificadas pelo leitor.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Iceberg.jpg

Conheça o texto da professora da PUC, Sônia Kramer, Leitura e escrita como experiên-
cia: seu papel na formação de sujeitos sociais, e saiba mais sobre a importância que a
escrita exerce em nossa vida, principalmente enquanto educadores. Acesse o link: <http://
s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/37100263/Leitura_e_Escrita_como_expe-
riencia_Kramer.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAJ56TQJRTWSMTNPEA&Expires=14839046-
24&Signature=W6qo1OxuyYV0UIw1HpFB2Bp1p4I%3D&response-content-disposition=inl
ine%3B%20filename%3DLEITURA_E_ESCRITA.pdf>.

Voltemos à metáfora do iceberg, que alude à profundidade e à consistência do texto. Diante disso, as perguntas
que vêm à mente, se assimilarmos isso ao desafio da escrita, são: como dar vida e densidade ao meu texto? Como
escrever um texto que faça sentido e seja produtivo para quem o ler? Como dar êxito à escrita? Vejamos algumas
respostas a essas questões.
• Ter o que dizer: a palavra é um elemento que vai mediar minhas ideias e meus argumentos. Sendo assim,
é preciso saber o que vai ser falado, empregando as palavras necessárias para a compreensão do receptor
do texto. Ter o que dizer significa ter conteúdo a comunicar, habilidade que só vai ser aprimorada por meio
de informações obtidas via leitura e acompanhamento da mídia.

29
Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

• Contar com um bom vocabulário: na escola, uma frase muito comum dita pelos alunos é a seguinte:
“Professor, eu sei o conteúdo, mas não sei escrever!”. Quando não fazemos leituras diárias e não temos
acesso a palavras novas, certamente ficará difícil escrever com vocábulos adequados, sem repeti-los. O
aprendizado do vocabulário é fruto da prática constante da leitura.
• Saber quem é o nosso receptor: é fundamental lembrar, antes de produzir um e-mail, por exemplo, se
meu receptor entenderá a mensagem que pretendo transmitir. Esse receptor pode ser uma pessoa com
um conhecimento elevado, fruto de muito estudo; por outro lado, pode ser um indivíduo que não teve
oportunidade de obter uma instrução mais densa. Dessa forma, quando sabemos quem receberá nosso
texto, precisamos adequar a linguagem para que fique a mais clara possível, a fim de evitar desentendi-
mentos.
• Ter conhecimento dos fatos do dia a dia: isso é possível, por exemplo, pela prática da leitura de jornais,
revistas informativas e científicas, e também de obras literárias. Saber quais são os principais assuntos
discutidos na atualidade enriquece o arsenal de conteúdos que guardamos em nossa memória.
Veja que a prática da leitura se destaca enquanto responsável pelo enriquecimento daquilo que já sabemos, apri-
morando nossa forma de expressão ao colocarmos em prática novos vocabulários.
Mesmo que a escrita seja desafiante, ela sempre estará presente em nossa vida. Por isso, é muito importante que
você, aluno(a), reconheça que tem capacidade de ir muito além do que imagina, vencendo as barreiras que apa-
recem todos os dias! Lembre-se que escrever é uma arte e que somos capazes de melhorar!

Todos os dias, precisamos escrever alguma coisa, não é mesmo? Agora pense: você con-
sidera-se um bom escritor? Que instrumentos de aprendizagem estariam disponíveis para
que você pudesse melhorar a sua forma de escrever?

2.4 Os tipos de texto


Você sabia que, quando redigimos uma receita ou o médico faz a prescrição de um remédio, estão sendo escritos
tipos de textos diferentes? Pois é, sempre que produzimos um discurso escrito, precisamos estabelecer alguns
critérios, como: quem será meu receptor? Que tipo de mensagem quero transmitir? De que forma pretendo
transmitir a informação? Qual é o objetivo da mensagem? Fazendo isso, estamos formulando uma estrutura
mental de nosso texto, que vai ser de determinado tipo.
Marcuschi (2002, p. 22) entende que “A definição de tipo textual parte da identificação de suas características de
composição. O tipo textual possui aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais e relações lógicas, o que estabe-
lece a sua natureza linguística”. Sendo assim, os tipos de texto vão apresentar peculiaridades em sua estrutura,
contendo um DNA próprio, ou seja, vocabulário específico, tempos verbais diferentes, interação distinta com o
receptor, tamanho do texto etc.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

Figura 11 – Substância química: DNA.

Legenda: Cada tipo de texto é constituído de uma estrutura peculiar, que o diferencia dos demais. Assim,
o tipo textual é denominado por apresentar um DNA (conhecido como ácido desoxirribonucleico) espe-
cífico, ou seja, uma composição que o determinará enquanto narração ou descrição, por exemplo.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:DNA_methylation.jpg>

Vejamos agora quais são os tipos de texto:


• Texto narrativo: este tipo de texto é assim caracterizado por narrar determinada história, isto é, ele conta
determinados fatos sobre personagens dentro de um tempo e contexto específicos, seguindo uma estru-
tura. Segundo Travaglia (2007, p. 66), “[...] as modalidades características desse tipo de texto são a certeza
e a probabilidade, uma vez que são os textos que dão a conhecer os acontecimentos”. Contos, romances
e novelas são exemplos de texto narrativo, uma vez que apresentam o desenrolar de acontecimentos
seguindo um enredo.
• Texto descritivo: este tipo de texto tem como objetivo apresentar a descrição/especificação de pessoas,
lugares, objetos, sentimentos etc. A bula de um remédio, por exemplo, descreve a composição do medi-
camento. Da mesma forma, ocorre com as embalagens de produtos, em que se especifica a sua natureza
e também a composição. Travaglia (2007, p. 64), entende que nesse tipo de texto “[...] aparecem verbos
enunciativos ligados à visão, já que se instaura o interlocutor como “voyeur”: ver, perceber, notar, obser-
var, admirar, avistar (todos em sentido sensorial)”.
• Texto argumentativo: este tipo de texto geralmente é muito solicitado nos vestibulares. O texto argu-
mentativo é aquele que expõe opiniões e argumentos sobre determinado assunto, a fim de convencer o
leitor sobre a ideia apresentada. Além disso, em sua composição, devem estar presentes elementos que
comprovem o pensamento exposto pelo autor, ou seja, argumentos (exemplos, citações etc.) que susten-
tem o ponto de vista exposto. Artigos de opinião são exemplos dessa categoria.
• Texto dissertativo: este tipo de texto tem como finalidade desenvolver e apresentar o raciocínio sobre
determinado assunto. Assim, “[...] aparecem os verbos enunciativos de pensar, já que se instaura o inter-
locutor como ser pensante, que raciocina: pensar, achar, saber, parecer etc.” (TRAVAGLIA, 2007, p. 65).
Monografias, dissertações de mestrado e editorial são exemplos dessa categoria.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

• Texto injuntivo: esta modalidade é caracterizada pelo teor instrucional, ou seja, o texto injuntivo orienta
o leitor sobre como fazer alguma coisa ou até mesmo como pensar. Os livros de autoajuda são bons
exemplos dessa categoria, uma vez que trazem quase que receitas de como viver e pensar. Portanto,
segundo Travaglia (2007, p. 65), “[...] aparecem verbos enunciativos mais no discurso indireto, e ligados
à condição do produtor do texto de incitador e do recebedor de potencial executor das ações: mandar,
ordenar, determinar, pedir, suplicar, sugerir, recomendar etc.”.
• Texto informativo: como a própria denominação já indica, esta modalidade de texto tem como fina-
lidade apresentar informações de interesse público. Fatos e dados atuais fazem parte dessa composi-
ção. São exemplos dessa categoria jornais impressos ou virtuais, revistas comuns (como Veja, Isto é, entre
outras) ou de cunho científico.

Leia o artigo científico do linguista Luiz Carlos Travaglia, A caracterização de categorias de


texto: tipos, gêneros e espécies, e conheça o que são espécies e categorias de texto, bem
como as relações entre gêneros e tipos textuais. Acesse o conteúdo em: <http://seer.fclar.
unesp.br/alfa/article/view/1426/1127>.

Ficou claro o que é um tipo textual, certo? Para escrever uma boa redação, precisamos entender qual é a finali-
dade de nosso texto, por isso a importância de conhecer os tipos de texto mais comuns em nosso dia a dia. Agora,
vamos estudar as diferenças entre tipo e gênero textual a fim de aprimorar nossas habilidades comunicativas.
Vamos adiante!

2.5 Os gêneros textuais


A maioria das pessoas confunde tipo e gênero textual ou acredita que são a mesma coisa. No entanto, é impor-
tante entendermos que, mesmo que sejam unidades complementares, possuem muitas distinções. Mas o que
seria um gênero textual? Vamos agora esclarecer essa dúvida, iniciando com os ensinamentos de Marcuschi
(2008, p. 155):
Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêne-
ros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões socio-
comunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e
estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técni-
cas. Em contraposição aos tipos, os gêneros são entidades empíricas em situações comunicativas
e se expressam em designações diversas, constituindo um princípio de listagem aberta.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

O gênero é, portanto, reconhecido por apresentar padrões de composição que se adequam à situação comuni-
cativa, empregando linguagens específicas por meio da oralidade ou escrita. A charge, por exemplo, apresenta
uma forma de expressão bastante peculiar, seja por apresentar linguagens eruditas ou até mesmo bastante colo-
quiais para criticar determinado fato. Nesse caso, a charge é um gênero textual de tipo humorístico, uma vez que
se utiliza do humor para criticar um assunto sério da atualidade. Até mesmo um bate-papo virtual é um gênero.

Figura 12 – O gênero textual e sua capacidade sociocomunicativa.

Legenda: Empregamos determinados gêneros textuais sempre de acordo com o contexto comu-
nicativo, tendo em mente a finalidade da mensagem que queremos transmitir.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Communication#/media/File:Communication_sender-message-reciever.png

Mas quais seriam os gêneros textuais mais utilizados em nosso dia a dia profissional e acadêmico? Vamos conhe-
cer alguns deles: artigo de opinião, e-mail, artigo científico, monografia, resenha, notícia.
• Artigo de opinião: este gênero textual é muito comum em colunas de opinião, encontradas em jornais
e revistas. O artigo de opinião é um texto curto (aproximadamente uma ou duas páginas de conteúdo) e
argumentativo, “[...] que possibilita ao autor expor livremente o seu modo de pensar, o seu ponto de vista
sobre uma questão controversa, e que se destina a convencer o leitor por meio de uma argumentação
sustentada sobre essa posição” (GOLDSTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 97). Geralmente, é produzido
por alguém que possui um vasto conhecimento sobre o assunto, o que demonstra a propriedade para
opinar e fazer o leitor refletir sobre o tema apresentado. Esse gênero textual apresenta também um título
criativo e que possa chamar a atenção do leitor. O texto de Roberto Pompeu de Toledo (2007) é um bom
exemplo de crítica que se faz ao costume que os brasileiros têm em reproduzir e valorizar elementos de
outros países. Uma paixão dos brasileiro’s já indica, pelo emprego do apóstrofo mais o “s” (na língua
inglesa, indica o caso possessivo, por exemplo: “Lucy’s house” quer dizer “A casa de Lucy”), a mania que
nosso povo tem de copiar as coisas de fora. Vejamos o início desse texto para compreender que, já na
introdução, é possível perceber a crítica que o autor do texto fará.
Toda vez que se fala em antiamericanismo, no Brasil, dá vontade de contra-atacar com o após-
trofo. Muita gente não gostou da presença de George W. Bush no país, mas esse sentimento é lar-
gamente superado pelo amor que temos pelo apóstrofo. O apóstrofo em questão, para os leitores
que ainda não se deram conta, é aquele sinalzinho (‘) que na língua inglesa se põe antes do “s” (‘s).
Quanto charme num pequenino sinal gráfico! Bush se sentiria vingado das manifestações de pro-
testo se lhe fosse permitido caminhar por uma rua comercial brasileira e verificar quantos nomes
de estabelecimentos são, em primeiro lugar, em língua inglesa e, em segundo, ostentam como
rabicho o ‘s. Somos apaixonados pelo ‘s. O que é uma forma de expressar nosso amor e respeito
pelos Estados Unidos. (TOLEDO, 2007 apud GOLDSTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 97-98).
O artigo de opinião, portanto, sempre sustentará um ponto de vista, seja ele positivo ou negativo, sobre
algo que está sendo polemizado na atualidade.

33
Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

• E-mail: este gênero é considerado um dos mais utilizados na contemporaneidade. Sua finalidade é esta-
belecer uma comunicação rápida e eficaz. Por isso, os e-mails devem ser bastante objetivos, contendo
informações básicas daquilo que se quer comunicar. Gold (2005, p. 100) enfatiza que, quando o e-mail é
utilizado com o mesmo objetivo do
[...] bilhete ou do contrato telefônico, sua linguagem tem um alto grau de informalidade, aproxi-
mando-se da fala. Quando o correio funciona como memorando ou comunicação interna, veri-
ficamos um cuidado maior no planejamento textual e na gramática, com o grau de formalidade
também determinado pelo conteúdo da mensagem e pelo destinatário.

Você sabia que no e-mail devemos ter um cuidado redobrado com a linguagem utilizada?
Isso porque não sabemos se o receptor está, por exemplo, triste ou chateado com alguma
coisa ao receber nossa mensagem. Esses sentimentos são ruídos da comunicação, conforme
estudamos na Unidade 1, lembra? Para esse fim, existe um material bastante interessante,
que vai lhe ensinar como comunicar-se sendo elegante no meio virtual. Acesse o texto Para
que serve a netiqueta no seguinte link: <http://www.safernet.org.br/site/sites/default/files/
netiqueta.pdf>.

• Artigo científico: muito solicitado no universo acadêmico, este gênero textual consiste em uma pro-
dução discursiva mais extensa que o artigo de opinião, devendo seguir determinada estrutura (resumo,
introdução, objetivos geral e específicos, justificativa, hipóteses, fundamentação teórica etc.) a fim de
demonstrar o resultado de uma pesquisa inédita. Geralmente, a instituição de ensino solicita certa quan-
tidade de páginas e o enquadramento às suas normas, devendo sempre seguir o padrão da ABNT (Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas), assunto que detalharemos mais adiante.
• Monografia: este gênero textual é resultado do trabalho de conclusão de curso, contendo o relato do
desenvolvimento de determinada pesquisa sobre um tema único. Possui uma estrutura semelhante à do
artigo científico, no entanto, apresenta a possibilidade de desenvolver mais o relato da pesquisa, uma vez
que deve o texto deve ser mais extenso que o artigo.
• Resenha: também muito solicitada no ambiente acadêmico, a resenha é um gênero que tem como fina-
lidade apreciar determinado objeto cultural – livro, música, pintura, filme etc. Para fazer uma resenha,
é necessário ter bastante conhecimento sobre o objeto resenhado para que se seja capaz de realizar
uma crítica sobre ele. Segundo Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009, p. 113), “[...] os recursos linguísticos
empregados numa [sic] resenha buscam chamar a atenção do leitor, despertar-lhe o interesse e fazê-lo
sentir-se envolvido pelo assunto e pelo enfoque dado ao tema resenhado”.
• Notícia: como o próprio nome já indica, a notícia tem como objetivo noticiar, contar um fato novo que
interessa ao público em geral. As notícias estão mais presentes em jornais televisivos e impressos, não
podendo conter opiniões e avaliações de quem a comunica.

34
Leitura e Produção de Textos | Unidade de Estudo 2 - O que é um texto: tipos e gêneros textuais

Para que você possa conhecer mais sobre o assunto gênero textual e conhecer o processo
histórico envolvido neste contexto, leia o seguinte texto: MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêne-
ros textuais: definição e funcionalidade: In DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Ana Rachel;
BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002,
p. 19-36.

Acabamos de conhecer alguns dos gêneros textuais mais comuns em nosso cotidiano. É importante entender
que cada gênero possui uma finalidade. Um outdoor, por exemplo, promove a propaganda de algum produto ou
evento; um chat via Facebook estabelece um contato dinâmico entre receptor e emissor, com vistas a informar,
trocar ideias etc. de forma instantânea. Assim, além desses gêneros textuais, existem outros que também mere-
cem destaque sobre suas finalidades. Observe o quadro a seguir.

Quadro 3 – Gêneros textuais e suas funções.

Gêneros Função/objetivo

Aviso, edital, informação, informe, participação, citação. Dar conhecimento de algo a alguém.

Acordão, acordo, convênio, contrato, convenção. Estabelecer concordância.

Petição, memorial, requerimento, abaixo-assinado, requisição, Pedir, solicitar.


solicitação.

Alvará, liberação, autorização. Permitir.

Ordem de serviço, decisão, resolução. Decidir, resolver.

Convite, convocação, intimação, notificação. Solicitar a presença.

Nota promissória, termo de compromisso, voto. Prometer.

Legenda: Cada gênero textual possui uma função específica a fim de atender às finalidades sociocomunicativas.
Fonte: Adaptado de Travaglia (2007, p. 61).

Como você pôde perceber, não se pode definir qual gênero textual adotar sem pensar em sua função. Portanto,
lembremos que, em nosso dia a dia, nos deparamos com vários gêneros que possuem, em sua composição,
determinado tipo textual.

35
Considerações finais
Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade de nossa disci-
plina de Leitura e produção textual. Nesta etapa, aprendemos assuntos e
conceitos bastante importantes para que possamos nos expressar melhor
nos textos que vamos produzir.
Vimos, primeiramente, que um texto é uma unidade de sentido. Se lan-
çarmos no papel palavras soltas e composições sem sentido, não teremos
um texto.
Aprendemos também que, quando escrevemos, acessamos determina-
dos conhecimentos, a saber: superestrutural, linguístico, enciclopédico,
interacional, ilocucional, comunicacional e metalinguístico. Além disso,
vimos que o leitor é capaz de construir sentidos no texto, e que este tam-
bém pode possuir determinado significado, sendo os principais gramati-
cal, contextual, conotativo e referencial.
Conhecemos, na sequência, os elementos de textualidade (intenciona-
lidade, situacionalidade, informatividade, intertextualidade e aceitabi-
lidade), que são fatores indispensáveis a qualquer texto. Reconhecemos
os desafios da escrita e compreendemos que leitura e conhecimento de
mundo são essenciais para ultrapassar os obstáculos. Além de ter o que
falar, é importante contar com um bom vocabulário e saber quem é nosso
receptor.
Aprendemos as diferenças entre tipos e gêneros textuais, e conceituamos
o tipo como aqueles que apresentam composições estruturais peculiares,
como os textos narrativos, argumentativos, informativos, dissertativos e
injuntivos. Compreendemos que o gênero textual é aquele que é adotado
em situações comunicativas diferentes, sendo que evidenciamos alguns
dos principais: resenha, e-mail, artigo de opinião, notícia, monografia e
artigo científico.
Na próxima unidade, continuaremos nossa viagem pelo universo da lei-
tura e da escrita, aprendendo como produzir bons textos. Até lá!

36
Referências bibliográficas
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.

ERNST-PEREIRA, Aracy, FUNCK, Susana Bornéo (Org.). A leitura e a escrita


como práticas discursivas. Pelotas (RS): EDUCAT, 2001. Disponível em:
<http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Livros/Leitura_e_a_Escrita.
pdf#page=27>. Acesso em: 08 de jan. 2017.

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de textos para estu-


dantes universitários. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1992.

GOLD, Miriam. Redação empresarial. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice


Hall, 2005.

GOLDSTEIN, norma; LOUZADA, Maria Silvia; IVAMOTO, Regina. O texto


sem mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009.

INDURSKY, Freda. Da heterogeneidade do discurso à heterogeneidade do


texto e suas implicações no processo da leitura. In: ERNST-PEREIRA, Aracy,
FUNCK, Susana Bornéo (Org.). A leitura e a escrita como práticas dis-
cursivas. Pelotas (RS): EDUCAT, 2001. Disponível em: <http://www.leffa.
pro.br/tela4/Textos/Textos/Livros/Leitura_e_a_Escrita.pdf#page=27>.
Acesso em: 08 de jan. 2017.

JOAQUIM, Alex Ferreira et al. Os fatores de textualidade: uma análise


das personagens Valéria e Janete do programa humorístico Zorra Total
da Tv Globo. Anais do IX Seminário de Iniciação Científica Só Letras,
2012. Disponível em: <http://www.uenp.edu.br/trabalhos/cj/anais/soLe-
tras2012/Alex%20Ferreira%20Joaquim.pdf>. Acesso em: 08 de jan. 2017.

KOCH, Ingedore. A interação pela linguagem. São Paulo: Contexto,


1992.

37
Referências bibliográficas
KRAMER, Sônia. Leitura e escrita como experiência: seu papel na for-
mação de sujeitos sociais. Presença pedagógica, v. 6, n. 31, jan/fev.
2000. Disponível em: <http://s3.amazonaws.com/academia.edu.docu-
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ure=8HuK0MIR2mDKAEojDOi4Hat1g%2Bc%3D&response-content-dis-
position=inline%3B%20filename%3DLEITURA_E_ESCRITA.pdf>. Acesso
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MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e


compreensão. São Paulo: Cortez, 2008.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade.


In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Ana Rachel; BEZERRA, Maria Auxi-
liadora (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

OSAKABE, Haquira. Considerações em torno do acesso ao mundo da


escrita. FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de textos para
estudantes universitários. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1992.

PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação empresarial. Campinas, SP: Alínea,


2006.

RAMOS, R. Circuito fechado. Rio de Janeiro: Record, 1978.

SAFERNET.org. Para que serve a netiqueta. Disponível em: <http://www.


safernet.org.br/site/sites/default/files/netiqueta.pdf>. Acesso em: 08 de
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TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A caracterização de categorias de texto: tipos,


gêneros e espécies. Alfa – revista de linguística, v. 51, n. 1, 2007. Dis-
ponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/view/1426/1127>.
Acesso em: 08 de jan. 2017.

38
Unidade 3
Como produzir bons textos

Para iniciar seus estudos


3
Você sabe como um texto deve ser estruturado? Você sabe o que é um
argumento e os seus vários tipos? O que é um objetivo e como defini-
-lo? Quais são os elementos essências à produção textual? Por que revisar
nossos textos? Ficou curioso? São a estas questões que vamos responder
ao longo desta unidade. Vamos lá!

Objetivos de Aprendizagem

• Compreender a estrutura de um texto.


• Sublinhar a importância do conhecimento prévio para a produção
textual.
• Apontar a importância de se definir o objetivo do texto.
• Discriminar os tipos de argumentos.
• Identificar os elementos essenciais à construção de um bom texto:
clareza, coesão, coerência e objetividade.
• Ilustrar a importância da revisão textual.

40
Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1 Compreendendo a estrutura do texto


Na unidade anterior, entendemos o que é um texto e os elementos que constituem sua composição. Devemos
lembrar que todo discurso escrito precisa ter unidade de sentido para ser considerado um texto. Mas qual seria
a sua estrutura? É sobre este assunto que vamos discutir agora, dando continuidade ao nosso aprendizado da
leitura e produção textual, evidenciando a estrutura do texto dissertativo. Vamos lá!
Iniciamos nossa conversa, trazendo os esclarecimentos de Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009, p. 11) sobre o
assunto em questão, em que evidenciam ser o texto
[...] toda produção linguística, oral ou escrita, que apresenta sentido completo e unidade. Tais
produções podem ser elaboradas por um ou mais de um autor, numa [sic] determinada situação.
para garantir a compreensão, o autor deve articular bem as parte do texto [...].
Com base neste cenário, veja que a articulação do texto é construída por meio de uma estrutura bastante impor-
tante e que é empregada em toda e qualquer situação da comunicação escrita.
Você já ouviu falar em “árvore de ideias”? Pois bem, essa estratégia consiste na esquematização de nosso racio-
cínio que ganhará corpo no texto. Dessa forma, é muito indispensável pensar no que vai ser desenvolvido ao logo
da escrita, ou seja, se escreverei sobre a importância da alfabetização e letramento nos anos iniciais, devo ter em
mente o que discutirei em cada parágrafo do desenvolvimento subsequentemente, por exemplo: o que é alfabe-
tização e letramento; os benefícios da alfabetização e do letramento; a falta de bons professores alfabetizadores;
métodos eficazes de alfabetização e letramento, e assim por diante. Veja que não podemos fugir do tema que
nos propusemos a escrever.
Assim, temos um “esqueleto do texto”, em que estarão dispostos os seguintes elementos: introdução, desenvol-
vimento e conclusão.

Figura 13 – Pilares da construção da Igreja Nossa Senhora das Graças no Chile

Legenda: Da mesma forma que acontece na construção de um edifí-


cio, nosso texto também possui pilares que sustentam sua estrutura.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Iglesia_de_Nerc%C3%B3n-cornisamento.JPG>.

Vejamos agora as peculiaridades de cada um dos elementos destacados, no que se refere ao tipo dissertativo, ou
seja, aquele que se propõe a trazer reflexões, opiniões e esclarecimentos sobre determinado tema.

41
Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1.1 Introdução

Esta é a primeira parte do texto, em que elaboramos um parágrafo para apresentar ao leitor o assunto que vamos
discutir. A introdução não deve conter explicações, argumentos e opiniões antecipadas, uma vez que é o ele-
mento que vai nortear o tema. Além disso, nesta etapa, apresenta-se um problema que merecerá uma reflexão,
ou seja, um assunto que merece ser enfatizado. O leitor deve ser capaz de responder à seguinte pergunta: “Sobre
o que este texto vai tratar?”.
Existem várias formas de se apresentar um assunto, e a maioria das pessoas tem receio sobre como fazer isso,
uma prática que é mais fácil do que você imagina, conforme você poderá verificar agora. São técnicas de introdu-
ção: declaração inicial, pergunta, alusão, citação, definição e contraste. Vamos aprender agora sobre elas! Acom-
panhe!

3.1.1.1 Declaração inicial

Este tipo de abertura de texto é caracterizado por se declarar, afirmar alguma coisa, explicar, na sequência. Con-
fira agora um modelo deste tipo de introdução.

Quadro 4 – Introdução por declaração inicial.

Jamais houve cinema silencioso. A projeção das fitas mudas era acompanhada por música de piano
ou pequena orquestra. No Japão e em outras partes do mundo, popularizou-se a figura do narrador ou
comentador de imagens, que explicava a história ao público. Muitos filmes, desde os primórdios do cinema,
comportavam música e ruídos especialmente compostos.

Fonte: Rittner (1965 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 39, grifo do autor).

Como você foi capaz de perceber, neste tipo de abertura de texto existe uma frase bastante importante que
define o assunto que vai ser discutido – “jamais houve cinema silencioso” –, o que indica que o texto discorrerá
sobre cinema e suas várias formas de construção.

42
Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1.1.2 Pergunta/questionamento

Outra estratégia de introdução de texto bastante utilizada é aquela feita por meio de uma pergunta. No entanto,
um cuidado deve ser tomado ao se escolher essa modalidade que é dar uma resposta (ao final do texto) ao ques-
tionamento feito do início da redação. Vejamos agora um exemplo.

Quadro 5 – Introdução por pergunta.

Direis que o tom em que está escrita hoje esta coluna não é próprio desta folha; mas que quereis?
O momento é de terríveis responsabilidades; ninguém tem o direito de ficar calado, e muito menos de
gracejar, quando os manejos dos monarquistas estão custando ao Brasil muitas vidas, muito dinheiro e
muito crédito. [...] É preciso que todos pensem a sério e falem bem alto – porque nunca estiveram mais
assanhados e mais merecedores de severa repressão os que desejam ver estraçalhada a república.

Fonte: Bilac (1996, p. 410 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 40, grifo do autor).

O modelo apresentado já indica, logo no início do parágrafo, que o texto discorrerá sobre um período turbulento
e criticará essa fase (Proclamação da República) com bastante ênfase.

3.1.1.3 Alusão

Você sabe o que significa o vocábulo “alusão”? Aludir significa fazer menção ou referência a alguma coisa, ou
seja, dados ou acontecimentos, por exemplo. Assim, podemos, no início de nosso texto, citar algum fato que seja
relevante ao tema que vamos discutir. Observe um exemplo a seguir.

Quadro 6 – Introdução por alusão.

O índice de desperdício na construção civil é da ordem de 30 %. Isso quer dizer que para cada três
prédios construídos, no Brasil, um se perde, gerando cerca de cinco mil toneladas de entulho por
dia só na cidade de São Paulo. O desperdício do exterior é da ordem de 12%. Tal índice leva a outros
igualmente dramáticos. A cidade não conta com novos espaços para a disposição do lixo, seja orgânico
(domiciliar) ou inerte. Faltam aterros sanitários para o lixo orgânico e também áreas para os demais. “Até
o ano 2000 ou 2002 não haverá locais para disposição de resíduos, o que deveria tornar a reciclagem um
processo irreversível”, afirma o geólogo Paulino Eduardo Coelho.

Fonte: Santos (1993 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 40, grifo do autor).

Pela frase destacada na abertura do texto, você percebeu que o texto tratará da grande quantidade de lixo que
existe no mundo e a falta de espaço para comportar tudo isso. Viu como esse modelo de introdução é simples de
se trazer, tendo em vista a quantidade de informação diária que recebemos?

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1.1.4 Definição

Definir significa estabelecer o conceito ou significado de alguma coisa. Assim, podemos trazer a definição, no
início do texto, do tema sobre o qual vamos discutir na sequência. Observe, a seguir, um exemplo.

Quadro 7 – Introdução por definição.

Resenha é uma síntese seguida de comentário sobre a obra publicada, geralmente feita para
revistas especializadas das diversas áreas da ciência, arte, filosofia. As resenhas desempenham papel
fundamental para qualquer estudante ou especialista, pois é por meio delas que tomamos conhecimento
de um livro que acaba de ser publicado, e a partir dessa informação, podemos decidir pela leitura ou não da
referida obra.

Fonte: Andrade (2006, p. 11 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 41, grifo do autor).

Como você pôde verificar, o autor do texto inicia sua exposição, trazendo o conceito de resenha, o que sugere que
a dissertação vai tratar sobre a importância deste gênero textual na sequência.

3.1.1.5 Citação

Este tipo de introdução é bastante empregado em textos como artigo de opinião, resenha, monografia e artigo
científico, sendo uma técnica bastante eficaz para apresentarmos nossa ideia ao leitor. Assim, podemos citar as
ideias de alguém (não se esquecendo de mencionar a fonte) para apresentar as nossas, posteriormente. Acom-
panhe o exemplo a seguir.

Quadro 8 – Introdução por citação.

Terá razão Octávio Paz quando diz que “o romancista nem demonstra nem conta: recria o mundo”, pois,
tendo como papel narrar um acontecimento, interessa-lhe não simplesmente narrar aquilo que se passou,
mas reviver alguns instantes por ele selecionados.

Fonte: Caniato (1996, p. 14 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 41, grifo do autor).

Veja que o exemplo apresentado ilustra uma exposição de assunto iniciada com ideias de outra pessoa, como
“Octávio Paz”. Obviamente, por meio desta leitura inicial, constatamos que o texto discorrerá sobre os escritores
de romances e o papel que sua vivência desempenha nessa construção.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1.1.6 Contraste

Quando contrastamos alguma coisa, mostramos as partes opostas de alguma coisa, não é mesmo? Assim, pode-
mos escrever nossa introdução, adotando esta estratégia. Acompanhe o modelo a seguir para que você compre-
enda melhor essa técnica.

Quadro 9 – Introdução por contraste.

Ainda na faculdade de engenharia, intrigava-me o fato de que bons alunos não conseguiam aprender o
básico. A razão era óbvia: o ensino de ciências baseava na decoreba de fórmulas e axiomas. Ensinamos
no século XXI uma ciência do século XX. Parte do meu trabalho é justamente voltado a aplicar novas
tecnologias na sala de aula de modo a tornar o aprendizado mais vibrante.

Fonte: Blikstein (2008, p. 162 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 40, grifo do autor).

Veja que o autor contrastou dois fenômenos – os séculos XX e XXI – a fim de ilustrar a importância de se adotarem
dinâmicas e novas metodologias na sala de aula, esquecendo-se dos métodos ineficazes do passado.

Antes de conhecer este conteúdo inicial, como você fazia a introdução de seu texto? Qual
a importância desta etapa para o sucesso de sua dissertação? Algum texto já lhe chamou a
atenção logo em sua abertura? Por quê?

Vamos agora conhecer as especificidades de outra etapa da dissertação: o desenvolvimento.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1.2 Desenvolvimento

Depois que fizermos a apresentação do assunto, não podemos deixar o leitor sem compreendê-lo, não é mesmo?
Por isso, devemos desenvolver aquilo que foi proposto logo na introdução, a fim de esclarecermos fatos, ideias,
novos saberes, trazendo explicações ao receptor por meio do desenvolvimento. Dessa forma, esta etapa do texto
é composta por outros parágrafos em que se apresenta uma ideia – o tópico frasal – e, em seguida, explica-se
este elemento. Vejamos um exemplo de tópico frasal (ou frase núcleo).

Quadro 10 – Tópico frasal.

A nova riqueza das nações repousa atualmente sobre a informação, o conhecimento, a pesquisa, a
capacidade de inovação, as inteligências...Informação, informação, informação – essa é a necessidade
imperativa no jogo dos ambientes de trabalho, de estudo e lazer, isto é, em todas as dimensões da vida
cotidiana.. A informação muda a natureza da competição porque indivíduos e grupos interesseiros não
podem se beneficiar da ignorância do outro.

Fonte: Costalonga (2004, p. 75 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 32, grifo do autor).

Como pudemos observar, existe uma frase no início do parágrafo, cuja atenção será dada a ela ao longo do
desenvolvimento. Note que é sobre a importância de obtermos informação que este fragmento discorre, apre-
sentando, na sequência, o seu argumento (que veremos mais adiante) a fim de explicar a ideia-chave.
Mas quais seriam os requisitos da apresentação desta frase-núcleo? O parágrafo deve ter unidade, assim como
todo o texto? Entenderemos isso agora.
Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009) evidenciam que cada parágrafo deve ter unidade, coerência e clareza.
Assim, a unidade se refere a uma ideia principal que precisa estar contida em cada parágrafo, sem nos desviar-
mos dela; a coerência está relacionada à lógica do parágrafo, sendo que as ideias devem ter relação de sentido e
ficarem evidentes ao leitor; a clareza é o elemento que permite ao receptor compreender a mensagem, sem ficar
com dúvidas. A respeito da composição do parágrafo, Faraco e Tezza (1992, p. 168) explicam que
Não existe “parágrafo padrão”, isto é, uma fórmula que sirva a qualquer tipo de texto; aqui,
também, a paragrafação dependerá da intenção, do destinatário e do assunto do texto. O bom
domínio do parágrafo não é simplesmente uma questão técnica de escrita; a noção de parágrafo
depende, de certo modo, da percepção mais ou menos intuitiva que nós temos de uma hierarquia
de idéias [sic] e de fatos, de uma organização do mundo que não se reduz a um macete ou a uma
regra fixa.
Mas quando devemos elaborar um parágrafo novo? Quando trazemos um novo argumento, isto é, para cada
parágrafo, um novo argumento, uma nova ideia.
Agora que já sabemos as formas de introdução de texto e de estrutura do parágrafo, vamos entender o que é um
argumento bem como os seus tipos. Vamos adiante!

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1.3 Argumentação

Você já discutiu com alguém sobre uma ideia que não concordava, tentando convencer o outro de que estava
certo? Se fez isso, lembre-se que você estava argumentando.
A argumentação no texto argumentativo é uma prática muito importante, uma vez que é por meio dela que
explicamos melhor o assunto a fim de mostrar ao leitor que temos conhecimento sobre aquilo que escrevemos.
Dessa forma, o argumento consiste em um exemplo, uma citação, um fato e/ou qualquer informação que con-
siga explicar por que afirmamos determinada ideia. Portanto, é uma forma de convencer o leitor de que estamos
certos da mesma forma que ocorre em um julgamento em que o promotor acusa, trazendo motivos para conde-
nar, e o advogado da defesa defende o réu para inocentá-lo, expondo razões para provar sua inocência. Para que
o receptor do discurso fique convencido de que a Ditadura seria o melhor caminho para o Brasil, por exemplo,
devemos expor razões (argumentos) para explicar por que isso é uma verdade. Observe o quadro a seguir.

Quadro 11 – Exemplo de argumento.

A nova riqueza das nações repousa atualmente sobre a informação, o conhecimento, a pesquisa, a
capacidade de inovação, as inteligências...Informação, informação, informação – essa é a necessidade
imperativa no jogo dos ambientes de trabalho, de estudo e lazer, isto é, em todas as dimensões da vida
cotidiana. A informação muda a natureza da competição porque indivíduos e grupos interesseiros
não podem se beneficiar da ignorância do outro.

Fonte: Costalonga (2004, p. 75 apud GOLSDTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009, p. 32, grifo do autor).

O texto apresentado mostra que no início, temos uma ideia apresentada, mas que é explicado o motivo de se
afirmar que informação é uma necessidade diária. No entanto, ao final do parágrafo, observamos um esclare-
cimento que indica o porquê da importância de estarmos bem informados, ou seja, para evitarmos que outras
pessoas se beneficiem de nossa ignorância em determinado assunto.
E agora, quais os tipos de argumentos que posso trazer ao meu texto? Vamos aprender isso agora. Acompanhe!

Figura 14 – Julgamento no Tribunal da Boa-Hora dos acusados do incêndio da rua da Madalena em 1907-1909.

Legenda: No júri popular, a argumentação do promotor ou do advogado de


defesa é fundamental para convencer os jurados que ali estão.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Julgamento_no_Tribunal_da_Boa-Hora_dos_acusados_do_
inc%C3%AAndio_da_rua_da_Madalena_em_1907_-1909.jpg

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

• Argumento de autoridade: quando fazemos uma citação, trazendo uma ideia já concebida por uma
pessoa que tem propriedade para falar no assunto, ou seja, é uma autoridade em determinada área,
empregamos um argumento de autoridade. Evanildo Bechara, por exemplo, é uma autoridade na área
da gramática. Portanto, se escrevermos um texto sobre isso, podemos citar um trecho de sua fala para
comprovar a nossa explicação.
• Argumento por consenso: quando dizemos, por exemplo, “quem trabalha mais, ganha mais” ou “a edu-
cação é a base do desenvolvimento da nação”, estamos empregando argumento por consenso. Dessa
forma, essa modalidade argumentativa é aquela que traz uma informação sobre a qual a maioria das
pessoas concorda, sendo algo incontestável.
• Argumento de provas concretas: os noticiários, pesquisas do IBGE, por exemplo, são exemplos de fonte
de provas concretas. Sendo assim, podemos trazer dados já confirmados e publicados para comprovar a
nossa exposição.
• Argumento por analogia: fazer analogia a alguma coisa é expor semelhanças sobre determinado ele-
mento. Sendo assim, se estivermos discutindo sobre a importância do trabalho na vida do homem, pode-
mos compará-lo ao contexto da fábula da cigarra (que canta o ano inteiro e depois não tem comida) e da
formiga (que trabalha no verão para ter comida no inverno), lembra?

Você sabe o que é retórica? Leia o artigo de Paulo Serra, Retórica e argumentação, e conheça
este assunto e as relações que estabelece com o processo de argumentação. Acesse o texto
em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/jpserra_retorica.pdf>.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.1.4 Conclusão

Lembra que falamos anteriormente que todo texto dissertativo precisa apresentar um problema a fim de gerar
uma discussão? Pois bem, é na conclusão do texto que devemos dar uma resposta a uma possível resolução do
problema. Assim, propusemos uma reflexão final a respeito da ideia discutida em todo o texto, além de fazermos
uma síntese final. Vamos conhecer um exemplo? Acompanhe!
O texto de Eliana Souza Lima, A importância da mídia na conscientização ambiental (2008), ilustra o seguinte
problema no parágrafo de introdução: a inexistência de mecanismos de comunicação (em especial, o jornal)
que divulguem os problemas ambientais. Desse modo, ao final do texto, a autora indica uma solução ao leitor.
Observe o exemplo no quadro a seguir.

Quadro 12 – Conclusão do texto.

Cabe às escolas de comunicação e de jornalismo parcela significativa no processo de educar jornalistas, mas
é preciso reconhecer suas limitações operacionais. Distribuir aos alunos iniciantes nos cursos de jornalismo
a ilusão de que a simples frequências às aulas os transformará em jornalistas do mais alto nível pedido
pelo mercado é um ato que só contribui para alimentar insatisfações futuras. As escolas de comunicação
e de jornalismo só poderão cumprir dignamente sua tarefa quando estiverem materialmente equipadas e
pedagogicamente organizadas a partir de uma concepção de jornalismo ético e de serviço à população.

Fonte: Lima (2008 apud FARACO; TEZZA, 1992).

Viu que essa conclusão nos faz refletir sobre o papel das escolas de comunicação e jornalismo no contexto
ambiental? Como você foi capaz de perceber, existe uma “ordem” indicada pela autora, contextualizada a partir
do verbo “cabe”, ou seja, Lima (2008) evidencia que é de responsabilidade das escolas em questão a tarefa de
educar os jornalistas para ampliarem os seus focos de observação. Em toda conclusão, devemos proceder dessa
mesma maneira, indicando uma forma de resolver o problema por meio de verbos e expressões imperativas.
Afora isso, note que a autora ainda observa as limitações que geram o problema discutido ao longo do texto.
Lembre-se que a conclusão é uma parte muito importante de nosso texto, em que retomaremos o tema-pro-
blema e indicaremos uma ação para solucioná-lo.

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3.2 Como definir os objetivos do texto


Em algum momento de sua vida profissional, alguém lhe pediu para elaborar um projeto? Caso você tenha ela-
borado este tipo de composição, certamente você saberá do que estamos falando, ou seja, dos objetivos que o
nosso texto deve ter antes de sua produção.

Mas o que é um objetivo? Isso é o mesmo que uma meta, uma finalidade, como se fosse um lugar em
que queremos chegar. E, para isso, é necessário definir um caminho e meios para completarmos nosso
trajeto.

Da mesma forma que ocorre em um projeto de pesquisa, por exemplo, em que definimos os objetivos, a justifica-
tiva e o problema de pesquisa etc., nosso texto dissertativo também conta com a definição desta estrutura. Mas
isso não quer dizer que você tenha que separar as partes do discurso em objetivo, justificativa etc., assim como
em um projeto de qualquer natureza. Essas informações precisam estar contextualizadas, sendo um resultado de
esquemas mentais que fazemos antes de escrever. Dessa forma, os objetivos serão definidos a partir dos seguin-
tes questionamentos:
• Qual a finalidade do meu texto? Mostrar que a Pedagogia é uma área ampla e complexa, por exemplo.
• Sobre o que vou falar? Falarei a respeito da Pedagogia;
• Quais os tópicos que vou abordar? A origem da Pedagogia, importância dessa ciência, as áreas nela
envolvidas etc.;
• Quem vai ler meu texto? Leigos no assunto, adolescentes, acadêmicos de Pedagogia, Letras etc.;
• Que tipo de texto vou escrever? Uma carta, uma resenha, um artigo de opinião ou um artigo científico,
por exemplo.

Figura 15 – Os objetivos da Bíblia Sagrada.

Legenda: A Bíblia é o livro mais traduzido, distribuído, lido e pesquisado em todo o mundo.
Fonte: 123RF.

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Conforme acabamos de estudar, todo texto precisa de um planejamento, assim como acontece em nossa vida.
Planejamo-nos para estudar, para casar e ter filhos, por exemplo. A respeito dessa preparação antes de escrever,
Fernandes destaca (2006, p. 35) que
Para todo e qualquer texto que pretendamos desenvolver, precisamos, antes de tudo, fazer uma
preparação inicial, um planejamento esquemático sobre aquilo que pretendemos transmitir. Sem
esse “esqueleto”, nós perdemos qualidade, objetividade, coerência, além de corrermos o risco de
não conseguir transmitir com exatidão nossas idéias [sic] e desejos.
Veja que o planejamento é fundamental e as perguntas apresentadas como modelo são muito simples de serem
feitas a nós mesmos. Não é preciso que você as escreva; basta dar respostas a elas, em seu próprio pensamento.
Sendo assim, a comunicação escrita exige esse critério de seleção a respeito das finalidades do texto. Sem isso,
ficará bastante difícil ter um norte para iniciar, desenvolver e finalizar uma discussão.

3.3 Elementos essenciais à produção textual


Todo e qualquer tipo de texto é produzido com certa finalidade, partindo de um planejamento, conforme acaba-
mos de discutir, não é mesmo? Mas, além disso, a comunicação escrita requer fatores que deixem o texto com-
pleto para o alcance do fim proposto, quais sejam: clareza, coesão, coerência e objetividade. Acompanhe agora a
definição de cada um destes elementos. Vamos adiante!

3.3.1 Clareza

Quando nos fazemos entender, é sinal de que nossa mensagem está clara. Sendo assim, a clareza é fundamental,
seja na fala ou na escrita, uma vez que é por meio dela que não deixaremos o receptor de nosso texto com dúvi-
das. Segundo Miriam Gold (2005, p. 8),
o motivo pelo qual se considera a clareza uma das características mais difíceis de ser obtida está
no fato de, para aquele que emite a mensagem, a idéia [sic] estar clara em sua mente. [...] A con-
sequência direta é uma falta de percepção apurada do próprio enunciado, uma vez que a sua
mente está conectada com a idéia [sic].
Além destas considerações, outro fator que interfere na adoção da clareza é a sua ausência no pensamento de
quem escreve. Ora, como posso ser claro, se nem eu entendi o que quero dizer?
Observemos a seguinte frase: “Vou te mandar um porco pelo meu irmão, que está bem gordo.” (GOLD, 2005,
p. 9). Você entendeu quem está gordo? O porco ou o irmão? Veja que o enunciado expressa uma ideia sem
clareza, deixando ao leitor a percepção de um duplo sentido, o que chamamos de ambiguidade, um fator que
confere incerteza ao texto e abre portas a múltiplas interpretações. Frases como “Peguei o ônibus correndo”
(quem estava correndo? O ônibus ou quem o pegou?), “A dona aranha subiu pela parede; veio a chuva forte e a
derrubou” (quem a chuva forte derrubou? A dona aranha ou a parede?), da famosa letra de música infantil, são
exemplos de expressões ambíguas.

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3.3.2 Objetividade

Você conhece algum tergiversador? Uma pessoa que tergiversa costuma encontrar meios para não responder
àquilo que lhe foi perguntado, ou seja, ele foge do assunto para não se comprometer. O tergiversador, portanto,
é alguém que não é objetivo ao falar e/ou escrever. Sendo assim, expressar-se com objetividade é não perder
tempo explicando coisas desnecessárias e que são irrelevantes ao texto. Dessa forma, este fator também pode
ser comparado à concisão, em que o emissor deve
[...] determinar com precisão o significado das palavras e das expressões utilizadas. O texto bem
escrito e que pretende ser conciso será aquele em que todas as palavras e informações utilizadas
tenham uma função significativa. (GOLD, 2005, p. 8)
Portanto, lembre-se que ser objetivo e conciso é o mesmo que “ir direto ao ponto”, sem subterfúgios que com-
prometam a qualidade da informação.

Alguma vez, você não compreendeu um texto e fez várias outras leituras para tentar chegar
a um denominador comum, mas sem sucesso? Em sua opinião, o que teria comprometido o
seu entendimento? Por quê?

3.3.3 Coesão

Certamente, você alguma vez brincou com o jogo quebra-cabeça, em que percebeu que deve ter bastante aten-
ção às peculiaridades de cada peça que se unirá a outra de forma exata. Assim sendo, neste jogo fazemos a
mesma coisa que em nosso texto, não é mesmo? Mas seria a comunicação escrita um quebra-cabeças também?
Se o texto possui ideias que devem se encaixar às outras, ele pode ser comparado a esta brincadeira.
A coesão é um sinônimo de ligação, em que se trazem conectivos textuais para ligar uma ideia (ou parágrafo) à
outra. Segundo Gold (2005, p. 76),
As partes de um texto, para estarem em coerência, precisam estar ajustadas umas às outras e não
apresentar contradição. Então, deve-se tomar cuidado de, ao trabalhar uma ideia, ir até o seu fim
para só depois iniciar uma outra.
Dentro dessa relação de lógica, algumas expressões como “Com vistas a este cenário”, “Neste mesmo contexto”,
“Sob essa mesma ótica” estabelecem a coesão entre as orações, períodos e parágrafos, favorecendo a textuali-
dade.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

Figura 16 – O jogo quebra-cabeça.

Legenda: O famoso jogo quebra-cabeça representa a dinâmica do encaixe de peças. Da mesma forma ocorre
com nosso texto, em que devemos unir as partes e as ideias para formar uma unidade de sentido.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:ImagesCAF481FD.jpg

Uma vez que sequência de informações deve contar com elementos de coesão, existem os chamados articulado-
res (as conjunções), que você terá a oportunidade de conhecer agora no quadro a seguir.

Quadro 13 – Articuladores textuais

Articuladores Relação estabelecida

Caso, contanto que, se, a menos que, desde que Condicionalidade, por exemplo: “Se estudarem,
etc. serão aprovados.”

Porque, já que, visto que, pois, como, por etc. Causalidade, por exemplo: “As ruas ficaram
alagadas porque choveu muito.”

A fim de que, para, para que etc. Finalidade, por exemplo: “Tomou todas as
precauções para nada dar errado.”

Conforme, segundo, como, consoante etc. Conformidade, por exemplo: “Fizemos tudo
conforme nosso superior ordenou.”

Assim, que, logo que, mal, enquanto, antes, depois, Temporalidade, por exemplo: “À medida que
enquanto, desde que, à medida que etc. se aproximava da cidade, suas expectativas
aumentavam.”

Contudo, porém, todavia, entretanto, no entanto Oposição, por exemplo: “Ela estava muito cansada,
etc. mas foi à festa mesmo assim.”

Muito embora, mesmo que, embora, por mais que, Concessão, por exemplo: “Embora estivesse
apesar de que etc. cansado, fui à festa.”

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

E, também, não somente, além de, além disso, Adição, por exemplo: “Não trabalha, nem estuda.”
ainda, nem etc.

Tanto como, tal como, da mesma forma, assim Comparação, por exemplo: “Penso como você.”
como, como, mais que etc.

Portanto, por conseguinte, por fim, assim, logo, pois Conclusão, por exemplo: “Portanto, é disso que a
(depois do verbo: “pensemos, pois, nesta técnica.”) sociedade precisa: humildade.”
etc.

Ou...ou, ora...ora, quer...quer etc. Disjunção ou alternância: “Você prefere ver filmes
ou Tv?”

Legenda: Os articuladores textuais e sua relação de sentido estabelecida.


Fonte: Adaptado de Cunha et al. (1997, p. 9-12).

Lembre-se que os articuladores do texto conferem textualidade e sentido às expressões e ideias, por meio do
encaixe das informações e partes do discurso.

3.3.4 Coerência

Você sabe o que é ser coerente? Vamos partir de um exemplo bastante comum que ocorre no universo da polí-
tica. Alguns políticos, no período das eleições, fazem promessas, dizendo que irão investir pesado em determi-
nado setor. No entanto, quanto eleitos, fazem totalmente o oposto, contrariando o discurso de campanha. Dessa
forma, eles estão adotando uma postura incoerente, sem lógica em relação aquilo que propuseram à comuni-
dade. Assim, falar uma coisa e fazer outra é ser incoerente, o oposto de coerência.
Na produção textual, a coerência é outro fenômeno basilar para que o leitor observe que não há ideias que se
contradizem e que são harmônicas. Vejamos um exemplo: “Aquele curso de graduação a distância é totalmente
gratuito, bastando apenas ao aluno pagar 10% de seu valor total.” Ora, se o curso é totalmente gratuito, como
cobrar do aluno o pagamento de uma parcela? Sendo assim, coerência é lógica, harmonia e conexões comple-
mentares que damos à nossa comunicação escrita.

3.3.5 Conhecimento prévio

Você sabe o que é conhecimento prévio? Como a própria expressão já indica, significa ter um conhecimento
anterior, antecipado, preliminar. Sendo assim, como podemos escrever sobre pedagogia, se não soubermos o
que ela significa e/ou nunca ouvimos falar sobre a sua amplitude? Como podemos discutir a respeito da impor-
tância da didática no processo de ensino-aprendizagem se ainda não tivemos um contato com este cenário ou
não sabemos o que é o suficiente para isso? Seria possível escrever sobre as eleições diretas na contemporanei-
dade, se não tivermos conhecimento da história das Diretas Já de 1984?
Pois é, como podemos perceber o conhecimento prévio consiste nos saberes de mundo que temos e que vai con-
tribuir para o desenvolvimento da ideia apresentada. Quanto maior for o leque de conhecimentos que tivermos
sobre os mais variados assuntos, mais fácil ficará escrever e expor motivos, casos e exemplos ao leitor. Lembre-

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-se que a consistência de nossa produção textual depende disso para não ficarmos “andando em círculo” (ficar
falando a mesma coisa), como diz o ditado popular.

Figura 17– Movimento “Diretas Já” (1984).

Legenda: “As Diretas já” foi um movimento democrático bastante importante no Brasil, em que o povo
foi às ruas pedir eleições diretas em todos os níveis. O conhecimento sobre este fato histórico é muito
importante nas práticas de leitura e redação, pois é um exemplo de conhecimento de mundo.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Diretas_J%C3%A1.jpg

Para saber mais sobre o conhecimento prévio, conheça o artigo de Fabiana Poças Biondo
(2007), A importância dos conhecimentos prévios no processo de leitura: uma análise
de livro didático do ensino fundamental. Acesse o texto em: <http://www.uel.br/revistas/
uel/index.php/entretextos/article/view/18541/14492>.

Observe, portanto, que o conhecimento prévio confere credibilidade, conhecimento e consistência ao texto,
sendo ele indispensável em todas as nossas produções escritas.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 3 – Como produzir bons textos

3.4 Por que revisar o texto?


Você sabia que todos os objetos culturais escritos (livros) passam por um revisor textual? Este profissional é res-
ponsável por conferir se o texto está claro, coerente e sem erros ortográficos, por exemplo. Da mesma forma,
devemos incorporar a figura do revisor toda vez que escrevemos alguma coisa.
A nossa escrita revela o nosso grau de instrução ao receptor, não é mesmo? Se escrevermos “atraz” (não existe
essa palavra) ao invés de “atrás”, “viajem” ao invés de “viagem”, cometemos um deslize muito grande na ortogra-
fia. Certamente, quem receberá uma informação com estes equívocos verá o redator como alguém que não tem
conhecimento sobre a língua. Mas apesar de ser muito importante corrigir aspectos gramaticais, é fundamental
observar outros escopos, como se o gênero está com a estrutura adequada e os fatores de textualidade estão
bem localizados. A respeito deste assunto, Coelho e Antunes (2010, p. 208) esclarecem que
Por exemplo, ao revisar um artigo de opinião, cuja finalidade é opinar, argumentar, sobre um fato,
o revisor deve, em primeiro lugar, verificar se o texto com que trabalha cumpre a finalidade de
opinar sobre um fato. Para cumprir essa finalidade, algumas características referentes ao estilo e à
estrutura composicional serão idênticas nos diversos textos desse gênero, outras serão variáveis.
Faz-se importante, também, lembrar que a determinação do gênero e de sua finalidade servirá de
base para pensar também os aspectos pragmáticos da textualidade [...].
Dessa forma, como você pôde observar, revisar um texto significa conferir se todos os aspetos de clareza, coesão,
coerência, estrutura e textualidade estão de acordo com o esperado. Não adianta ter pressa, o momento que nos
dedicamos à revisão evitará muitos problemas de interpretação, credibilidade da ideia e compreensão que, por
ventura, podem aparecer ao longo da leitura do receptor.

56
Considerações finais
Caro(a) aluno(a), nesta Unidade 3, aprendemos um novo conteúdo, que
se destinou a discutir como produzir bons textos. Dessa forma, vimos que
todo texto deve possuir introdução (apresentação do assunto), desen-
volvimento (discussão do tema) e conclusão (fechamento do texto).
Além disso, compreendemos que existem várias formas de apresentar o
assunto, como as seguintes: declaração inicial, pergunta, alusão, citação,
definição e contraste.
Na sequência, entendemos que um argumento é uma forma de compro-
var a nossa ideia por meio de razões que justifiquem um ponto de vista.
Evidenciamos que só alteramos o parágrafo quando apresentamos um
novo argumento. Nesse mesmo enfoque, verificamos que o parágrafo
deve ter unidade, clareza e coerência.
Compreendemos que todo texto possui uma finalidade e, para que pos-
samos defini-la, partimos dos seguintes questionamentos, que fazemos
a nós mesmos:
• Qual a finalidade do meu texto?
• Sobre o que vou falar?
• Quem vai ler meu texto?
• Que tipo de texto vou escrever?
Observamos que existem elementos essenciais à produção textual, quais
sejam: coesão (ligação entre as ideias), coerência (lógica das ideias), cla-
reza (deixar a mensagem compreensível), objetividade (apresentar e dis-
cutir informações essenciais) e conhecimento prévio (conhecimento de
mundo).
Por fim, discutimos a importância da revisão textual, reconhecendo que
ela é a responsável por evitar problemas gramaticais, estruturais e de
compreensão do leitor.
Na próxima unidade, vamos viajar pelo universo da leitura e da interpreta-
ção de textos. Até lá!

57
Referências bibliográficas
BIONDO, Fabiana Poças. A importância dos conhecimentos prévios no
processo de leitura: uma análise de livro didático do ensino fundamental.
Entretextos, v. 7. n. 1, 2007. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/
uel/index.php/entretextos/article/view/18541/14492>. Acesso em: 10
de jan. 2017.

COELHO, Sueli Maria; ANTUNES, Leandra batista. Revisão textual: para


além da revisão linguística. Scripta, Belo Horizonte, v. 14, n. 26, p. 205-
224, 2010. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/
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CUNHA, Sérgio Fraga da. Tecendo textos. Canoas (RS): ULBRA, 1997.

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de textos para estu-


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FERNANDES, José Lauro. Escrevendo a partir do nada. 14. ed. São Paulo:
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GOLD, Miriam. Redação empresarial. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice


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GOLDSTEIN, norma; LOUZADA, Maria Silvia; IVAMOTO, Regina. O texto


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58
Unidade 4
Lendo e interpretando textos

Para iniciar seus estudos


4
Você sabe o que é leitura? Conhece os principais tipos de leitura e como
fazê-la de forma eficiente? Já ouviu falar em intertextualidade? Quais são
os critérios utilizados para a boa compreensão e interpretação do texto?
Nesta etapa de nosso estudo, vamos dar respostas a essas questões para
que você aprimore suas habilidades de leitura e interpretação textual.
Vamos adiante!

Objetivos de Aprendizagem

• Discutir o conceito de leitura.


• Enumerar os tipos de leitura.
• Identificar as etapas iniciais de uma boa leitura.
• Compreender o que é e para que serve a intertextualidade.
• Diferenciar elementos implícitos de explícitos na compreensão do
texto.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

4.1 O que é leitura?


Sempre aprendemos alguma coisa quando lemos, não é mesmo? A leitura faz parte de nosso dia; lemos bulas de
remédios, mensagens de WhatsApp, receitas, notícias de jornal, textos de outdoor etc. Enfim, a todo o momento,
estamos fazendo a leitura de alguma informação. Mas o que é leitura?
Em primeiro lugar, é importante destacar que a leitura é percepção, é fonte de conhecimentos. Podemos fazer a
leitura de uma imagem, por exemplo, mesmo que a escrita não esteja nela presente. Assim, buscaremos signifi-
cados nessa ilustração, procurando entender o que ela pretende transmitir. Marconi e Lakatos (2003, p. 19), ao
discutirem esse assunto, evidenciam que:
A leitura constitui-se em fator decisivo de estudo, pois propicia a ampliação de conhecimentos,
a obtenção de informações básicas ou específicas, a abertura de novos horizontes para a mente,
a sistematização do pensamento, o enriquecimento de vocabulário e o melhor entendimento do
conteúdo das obras.
É fato que a prática de leitura deve ser exercitada diariamente, uma vez que vivemos em uma sociedade em que a
informação chega a nós de forma muito rápida e precisamos ter conhecimentos para poder avaliar aquilo que nos é
transmitido. No Ensino Superior, por exemplo, somos instigados (e cobrados) a fazer leituras de materiais teóricos
e conceituais, uma vez que é nessa fase que vamos constituir saberes mais aprofundados e de cunho científico.
Em nosso trabalho, por outro lado, precisamos ler materiais que trazem conteúdos que envolvam conhecimentos
mais práticos para que possamos exercitá-los, e assim por diante. Assim, o fenômeno da leitura envolve também
múltiplos conhecimentos que já temos sobre as coisas (você se lembra do conhecimento prévio?), constituindo
um processo interativo, como bem ressaltam Schutz, Della Méa e Gonçalves (2009, p. 57-58), ao dizerem que:
Entende-se a leitura como um processo interativo, porque se acionam e interagem os diversos
conhecimentos do leitor a todo o momento para chegar-se à compreensão do que se lê. Além
disso, quando o leitor chega ao estágio mais elevado de compreensão leitora, a interatividade
ocorre plenamente, ou seja, a cada nova leitura o aluno consegue processar os outros textos do
mesmo assunto. Ocorrendo o diálogo entre os textos e as experiências do leitor. A interatividade
é o leitor saber associar diferentes textos, conhecimentos e imagens, e conseguir expressar sua
opinião sobre o assunto.
Infelizmente, o Brasil não é conhecido por ser um país de leitores. As pessoas não têm o costume de ler e, se o
fazem, leem textos insignificantes e até mesmo inverídicos. No Canadá, por exemplo, é muito comum as pessoas
já entrarem no metrô com um livro na mão, ao contrário do Brasil, em que a prática é vista como algo obrigató-
rio e não como lazer, como ocorre em outros países. Isso, talvez, seja resultado do Ensino Médio escolar, em que
tínhamos que ler determinadas obras para o vestibular, sem discutir, a fundo, o sentido daquela narrativa nos
dias de hoje. Assim, criava-se macetes para decorar a história para passar em concursos, perdendo-se, depois, o
estímulo para ler outros materiais.

Como você avalia a qualidade daquilo que lê diariamente?

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Ao contrário do que muitos pensam, não é somente na escola que as pessoas aprendem que a leitura é impor-
tante e deve ser hábito, pois isso deve começar em casa. Como posso estimular meu filho a ler se nunca leio
na frente dele? Como conscientizá-lo de que a leitura é um exercício prazeroso e que só traz benefícios se leio
somente aquilo que me é imposto, ou seja, por obrigação? Comentando esse cenário, Souza (2006, p. 30) escla-
rece que a escola deve ser vista como espaço de formação desse leitor, dizendo que:
É ela, espaço socialmente reconhecido como o local onde se dá o acesso ao conhecimento
produzido pelo homem, que se torna lócus privilegiado para a formação leitora, principalmente
para aqueles a quem não foram oferecidas pela família as condições necessárias para tal
formação. Para muitos, a escola (e principalmente a escola pública) é o único local onde poderão
ter acesso ao livro, compartilhar vivências de leitura, enfim, enriquecer-se pela experiência
humana da leitura. Além disso, numa sociedade empobrecida como a que vivemos, não pode a
escola prescindir de seu papel de divulgar e possibilitar o acesso aos bens simbólicos e culturais
que circulam nesse espaço social.

Figura 18 – Moça com livro, do artista plástico Almeida Junior.

Legenda: A leitura é lazer, é fonte de conhecimento e permite conhecer-


mos outros universos, estimulando a criatividade e a imaginação.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Almeida_J%C3%BAnior_-_Mo%C3%A7a_com_Livro.jpg>.

Mas quais seriam as habilidades desenvolvidas em nós por meio da leitura? Segundo Marconi e Lakatos (2003), a
leitura estimula as seguintes capacidades:
• Sistematização de pensamento: quando lemos, percebemos que o material – aqueles de qualidade –
apresenta uma sequência lógica de pensamento que, posteriormente, também vamos empregar para
falar e/ou escrever.
• Obtenção de informações básicas e específicas: a leitura é a fonte mais eficaz para ampliarmos o nosso
conhecimento conceitual sobre as coisas.
• Abertura de novos horizontes para a mente: reflexão, imaginação e criatividade são desenvolvidos por
meio da leitura.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

• Enriquecimento do vocabulário: ao ler, deparamo-nos com novas palavras, o que reflete no emprego
de novas palavras quando falamos e/ou escrevemos.
• Melhor entendimento de futuros materiais lidos: quando lemos, adquirimos um novo conhecimento
a respeito de determinado assunto. Assim, com a sua prática constante, desenvolvemos a capacidade de
compreender e interpretar com mais rapidez.
Além das habilidades cognitivas destacadas anteriormente, a leitura modifica a forma como vemos o mundo,
sendo um ato que vai envolver também interpretação, distinção de informações importantes e secundárias,
decifração de significados, comparação, assimilação e crítica, segundo Marconi e Lakatos (2003).

Glossário

Todos nós adquirimos conhecimentos ao longo da vida, seja por meio da observação, do uso
da memória e da capacidade de associação. Dessa forma, a cognição é o modo como ope-
ram esses elementos. Durante a leitura, duas estratégias cerebrais são ativadas: a cognitiva e
a metacognitiva. Segundo Brown (1980), Kato (1992) e Solé (1998) (apud VIEIRA, 2007, p. 5,
grifo do autor), “[...] estratégias cognitivas são aquelas que regem o comportamento auto-
mático e inconscientes do leitor, enquanto que as metacognitivas referem-se aos princípios
que regulam a desautomatização consciente das estratégias cognitivas”.

Viu como a leitura é mais importante do que imaginamos e que ela só traz benefícios? Nesse mesmo cenário,
vamos agora aprender como ser bons leitores.

4.1.1 Você é um bom leitor?

Você sabia que a maioria das pessoas lê sem saber ler? Pois é, essa é uma triste realidade do mundo da leitura,
uma vez que ler muito não significa que somos bons leitores.
Nossa rotina diária é uma correria, não é mesmo? Ter pressa: essa é uma das razões por que “passamos os olhos”
no jornal impresso ou no livro de conteúdo teórico que o professor nos pediu para ler. Mas, como diz o ditado
popular, “a pressa é inimiga da perfeição”. Se o ato de ler nos habilita a pensar melhor sobre as coisas e a ter novos
conhecimentos, a leitura superficial não pode ganhar espaço em nosso dia a dia. A leitura deve ser feita com inte-
resse, vontade e ter uma finalidade, e isso demanda tempo. Dessa forma, é fundamental termos em mente que:
De nada adianta devorar um livro de duzentas páginas em algumas dezenas de minutos, horas ou
dias se, ao terminar a leitura, não se pode dizer nada sobre o que se acabou de ler. O tempo gasto
em leituras assim é inteiramente desperdiçado. A quantidade de leitura é sempre significativa,
mas somente quando assimilada de maneira adequada, ou seja, quando aproveitada. Caso con-
trário, é como se ir a um concerto sinfônico e dormir. Há gente que faz exatamente isso e depois
discute o desempenho do maestro. Aqueles que só lêem [sic] com os olhos e não com a mente
enganam-se a si próprios (GALLIANO, 1979, p. 71).

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Conforme acabamos de entender, a leitura exige tempo e dedicação para que possamos nos debruçar sobre o
universo de conhecimentos apresentados pelo livro. Saber ler é saber usar a mente, ativar nossas habilidades
mentais para processar o conteúdo e conseguir assimilá-lo às nossas atividades diárias.
A memorização, nesse sentido, é um fenômeno bastante importante e que precisa ser lembrado. Durante a lei-
tura, contamos com a ativação de três tipos de memória: temporária, operacional e permanente. A memó-
ria temporária é aquela que possui um limite quantitativo pequeno de armazenagem de informações, em que
memorizaríamos de seis a sete itens de cada vez (KATO, 1986; SMITH, 1989 apud VIEIRA, 2007). A operacional,
por sua vez, é aquela em que ativamos conceitos que se encontram na memória temporária, associando-se con-
teúdos de conhecimento prévio e recodificando-se elementos já visualizados (KATO, 1986; SMITH, 1989 apud
VIEIRA, 2007). Por fim, a memória permanente é aquela em que armazenamos e organizamos o conhecimento já
adquirido, incluindo-se nesse nível, “[...] além do nosso conhecimento lingüístico [sic] (regras gramaticais, léxico
e instrução para seu uso), o conhecimento de fatos generalizados e de episódios particulares provenientes de
nossa experiência” (KATO, 1986; SMITH, 1989 apud VIEIRA, 2007, p. 6-7).

Saiba mais a respeito das nossas discussões iniciais conhecendo o artigo de Schutz, Della
Méa e Gonçalves (2009), Concepções de leitura - reflexões sobre a formação do leitor,
que elucida como se dá a formação do leitor e os fenômenos envolvidos nesse processo.
Acesse o texto em: <http://sites.unifra.br/Portals/36/artigos%20letras/artigos%20letras/
concep%E2%80%A1%C3%A4es%20de%20leitura.pdf>.

A leitura precisa ser proveitosa, de tal forma que se consiga extrair outras informações que não aquelas que se
apresentam no texto. Para tanto, algumas estratégias são necessárias, como você verá no quadro a seguir. Acom-
panhe!

Quadro 14 – Aspectos fundamentais para uma leitura proveitosa.

O QUE É PRECISO? O QUE ISSO SIGNIFICA?

Ter atenção É uma aplicação cuidadosa e profunda da mente ou do espírito em determinado


objeto, buscando o entendimento, a assimilação e a apreensão dos conteúdos
básicos do texto.

Definir a intenção da É o mesmo que ter interesse ou propósito de conseguir algum proveito
leitura intelectual por meio da leitura.

Refletir Consiste na consideração e ponderação sobre o que se lê, observando todos


os ângulos, tentando descobrir novos pontos de vista, novas perspectivas e
relações; desse modo, favorece-se a assimilação das ideias do autor, assim
como o esclarecimento e o aperfeiçoamento delas, o que ajuda a aprofundar o
conhecimento.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Ter espírito crítico Significa fazer uma avaliação do texto. Implica julgamento, comparação,
aprovação ou não, aceitação ou refutação de diferentes colocações e pontos
de vista. Ler com espírito crítico significa fazê-lo com reflexão, não admitindo
ideias sem analisar ou ponderar, proposições sem discutir, nem raciocínio sem
examinar; consiste em emitir juízo de valor, percebendo no texto o bom e o
verdadeiro, da mesma forma que o fraco, o medíocre ou o falso.

Analisar É uma divisão do tema em partes, determinação das relações existentes entre
elas, seguidas do entendimento de toda a sua organização.

Sintetizar Significa fazer a reconstituição das partes decompostas pela análise,


procedendo-se ao resumo dos aspectos essenciais, deixando de lado tudo o que
for secundário e acessório, sem perder a sequência lógica do pensamento.

Legenda: A leitura não é um processo de “leitura com os olhos”, mas que depende de con-
dições e das diversas finalidades que se estabelecem durante o seu ato.
Fonte: Adaptado de Marconi e Lakatos (2003).

Conforme acabamos de estudar, atenção, intenção, reflexão, criticidade, análise e síntese são meios que condu-
zem à leitura de qualidade e que contribuem com futuras leituras, no sentido de “habilitar” o leitor a perceber
o que é preciso para compreender, assimilar as ideias do texto e aproveitá-lo. Dessa forma, nossa comunicação
diária pode ser enriquecida se atentarmos para esses fatores e os colocarmos em prática na leitura de um jornal,
de um romance, de um capítulo de livro teórico ou de uma resenha, por exemplo.
A leitura proveitosa também contará com um ritmo de quem a faz. Galliano (1979) comenta que existem
estudos que comprovam que, no momento em que lemos, nossos olhos percorrem em movimentos “saltea-
dos”, o que ele chama de fixação e deslocamento. Segundo esse autor, quando lemos, fazemos determinadas
pausas nas quais fixamos determinadas palavras, indo direto a outras, que passam despercebidas, e assim por
diante. Dessa forma, uma vez que gravamos uma palavra, conseguimos estabelecer relações de sentido com
outras palavras do mesmo material. Por isso, a leitura rápida seria eficaz no momento em que estudamos para
fixar determinado conteúdo. Portanto, mesmo que ocorra com mais frequência, isso não é padrão para todo tipo
de leitor, pois alguns leem mais lentamente e outros fazem o contrário (GALLIANO, 1979).
Outros procedimentos importantes a serem tomados durante o ato da leitura, para que ela seja proveitosa, são
os seguintes: sempre ter em mãos um dicionário para consultar o significado de palavras desconhecidas; ler em
lugares silenciosos e calmos; frequentar bibliotecas e livrarias; e buscar ler assuntos que mais nos interessam.
Com essas ações, ficará mais fácil tornar a leitura prazerosa e de qualidade.
Mas voltemos ao uso do dicionário. De acordo com Galliano (1979), muitas pessoas dizem que não leem porque
desconhecem o significado de algumas palavras que aparecem durante a leitura. Essa é uma barreira à leitura
proveitosa, conforme esclarece Galliano (1979, p. 81), quando diz:
As pessoas de pouca instrução dominam apenas um pequeno número de palavras, confundem
o sentido de outras tantas e desconhecem praticamente a totalidade das empregadas em áreas
especializadas [...]. Esse vocabulário reduzido constitui uma barreira à leitura proveitosa.
Dessa forma, podemos perceber a importância de contar com o apoio do dicionário para que a boa leitura seja,
de fato, realizada. Além de promover o conhecimento de palavras específicas, outras aparecerão e ficaremos
curiosos sobre seu significado. Sendo assim, o dicionário é uma ferramenta que permite ampliar a busca por
novas palavras e sua respectiva denominação.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Você sabia que a língua portuguesa é conhecida como uma das mais difíceis de aprender se comparada a outras,
como o inglês e o espanhol? A acentuação e a formação de palavras são fatores que comprometem o aprendi-
zado da língua, buscado por pessoas de outras nacionalidades. Existem vocabulários específicos para cada área
de conhecimento, seja na Medicina, na Administração, no Direito ou no campo das Letras, por exemplo, o que
requer o emprego do dicionário. “Agrafia”, por exemplo, é um vocábulo bastante utilizado na área da saúde, e
significa dificuldade de escrever. Por sua vez, o termo “brainstorming”, conhecido como tempestade de ideias, é
bastante utilizado na área administrativa. Além disso, “data venia” é o mesmo que pedir licença a alguém para
falar, expressão empregada na área do Direito, e assim por diante. Por isso, existem também os dicionários espe-
cializados, os quais nos auxiliam na compreensão de palavras de campos de conhecimento específicos – essas
ferramentas devem estar presentes em nossa atividade diária de leitura.

Quais estratégias podem ser empregadas para estimular o gosto pela leitura desde os anos
iniciais da alfabetização? Leia o artigo A leitura literária, escrito por Rui Veloso, e adquira mais
conhecimentos sobre a leitura e o desenvolvimento do indivíduo leitor. Acesse: <http://www.
casadaleitura.org/portalbeta/bo/documentos/ot_leit_litera_a_C.pdf>.

Como pudemos perceber, o bom leitor é aquele que se propõe a não somente entender a mensagem do livro,
mas, sobretudo, a aplicar aquilo que leu. Com base nesse cenário, Galliano (1979) confere alguns atributos ao
bom leitor, quais sejam: aquele que define os objetivos de sua leitura, reconhece que cada gênero textual requer
uma velocidade de leitura (ler uma obra literária é diferente de ler um livro teórico, que exige mais atenção),
entende e avalia (perguntas como “O que estou aprendendo com esse texto?”, “Como o autor está demons-
trando o tema?” e “Vale a pena continuar a leitura?” são exemplos desse tipo de avaliação) o que lê e discute e
aplica o que leu.

Figura 19 – O bom leitor Mark Zuckerberg.

Legenda: Mark Zuckerberg é considerado um leitor bastante ativo. O empreendedor aplicou no Face-
book aquilo que aprendeu em seus estudos e nas várias leituras que fez enquanto universitário.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Mark_Zuckerberg#/media/File:MarkZuckerberg-photobyAnders-
Frick-794495.jpg>.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Para sermos bons leitores, é necessário, antes de tudo, reconhecer que é a leitura que nos permite olhar o mundo
de outra forma, aprimorando nossas habilidades intelectuais. Sobretudo, a boa leitura só é feita se a vontade de
fazê-la e o interesse em conhecer estiverem presentes durante a sua prática.

4.2 Os tipos de leitura


Lemos jornais para obter informações sobre fatos diários; lemos charges para nos divertir; lemos romances para
conhecer o cenário de outros séculos e também como lazer, e assim por diante. Mas o que isso quer dizer? Signi-
fica que cada leitura possui uma finalidade e que existem tipos de leitura e formas de lidar com o material. Sendo
assim, podemos destacar scanning, skimming, leitura do significado, leitura de estudo ou informativa e leitura
crítica como sendo estratégias para absorver o conteúdo que lemos. Vejamos agora as peculiaridades de cada
uma dessas técnicas. Acompanhe!

4.2.1 Scanning

Quando lemos o sumário, acabamos selecionando aquilo que nos interessa no material, não é mesmo? Dessa
forma, o scanning consiste em uma técnica de busca de uma informação específica por meio da leitura de um
parágrafo apenas, por exemplo. Sendo assim, essa estratégia visa a procurar “[...] certo tópico da obra, utilizando
o índice ou sumário, ou a leitura de algumas linhas, parágrafos, visando encontrar frases ou palavras-chave”
(MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 21).

4.2.2 Skimming

Você se lembra que a introdução do texto sempre deve apresentar o norte da discussão que vai ser iniciada?
Pois bem, quando lemos essa parte de um texto dissertativo para identificar a essência da obra, empregamos a
técnica do skimming, que consiste na “[...] captação da tendência geral, sem entrar em minúcias, valendo-se dos
títulos, subtítulos e ilustrações, se houver; deve-se também ler parágrafos, tentando encontrar a metodologia e
a essência do trabalho” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 21).

4.2.3 Leitura do significado

Quantas vezes você leu um texto uma única vez para ter uma visão geral do conteúdo? Se você fez isso, significa
que a técnica da leitura do significado foi colocada em prática. Marconi e Lakatos (2003, p. 21) esclarecem que
essa estratégia é voltada a obtenção de uma “[...] visão ampla do conteúdo, principalmente do que interessa,
deixando de lado aspectos secundários, percorrendo tudo de uma vez, sem voltar”.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

4.2.4 Leitura crítica

Durante a leitura de um artigo de opinião, avaliamos o pensamento do autor, comparando-o ao nosso a respeito
do assunto discutido. Dessa forma, interpretamos, filtramos a crítica elaborada em torno de um tema polêmico,
enfim, analisamos os argumentos que se apresentam no texto para concluirmos se estes são dignos de credibili-
dade ou não. Para tanto, fazemos uma leitura crítica, o mesmo que um
[...] estudo e formação de ponto de vista sobre o texto, comparando as declarações do autor com
todo o conhecimento anterior de quem lê; avaliação dos dados e informações no que se refere à
solidez da argumentação, sua fidedignidade, sua atualização, e também verificação de se estão
corretos e completos (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 21).
Sendo assim, fazemos uma leitura crítica quando pretendemos interagir, de uma forma mais intensa, com a dis-
cussão que nos foi apresentada.

4.2.5 Leitura de estudo ou informativa

Este tipo de leitura é mais completo, sendo utilizado em nosso momento de estudo a fim de obtermos informa-
ções amplas e conceituais sobre um tema. Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 21), consiste na “[...] absorção
mais completa do conteúdo e de todos os significados, devendo-se ler, reler, utilizar o dicionário, marcar ou subli-
nhar palavras ou frases-chave e fazer resumos”.
É importante sublinhar que essa modalidade de leitura tem as seguintes finalidades: constatar os dados e
informações apresentados pelo autor; correlacionar os dados ao problema em pauta; verificar a validade e
veracidade dessas informações (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Figura 20 – A leitura de estudo ou informativa é a mais completa.

Legenda: Diferentemente das leituras que empregam as técnicas de scanning, skimming, crítica e de significado, a leitura
de estudo ou informativa é mais complexa, uma vez que é voltada a identificar as peculiaridades de todo o conteúdo lido.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lupa.na.encyklopedii.jpg

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

E agora, qual é o melhor tipo de leitura a ser feita de acordo com sua realidade?

Na sequência de nossos estudos, vamos discutir um assunto de extrema importância e que partirá do exercício
da leitura: a interpretação de textos.

4.3 Interpretando textos


Nas provas de concursos públicos, uma das grandes dificuldades é a interpretação de textos. Um dos motivos é
porque são trazidas questões bastante complexas, cuja finalidade é selecionar os candidatos mais preparados e
atentos a interpretar um texto e com habilidades de raciocínio; outro, é porque o candidato não dá a atenção devida
ao texto, “passando os olhos” sobre as informações. Mas o que é interpretar? Vejamos a seguinte explicação:
Interpretar um texto não é dar a própria opinião nem dizer o que achamos dele, o que pensamos
dele. Interpretar é, antes de tudo, fazer uma primeira leitura para entender o assunto e, a seguir,
uma releitura mais cuidadosa, quando encontramos detalhes para os quais não havíamos aten-
tando (LIMA, 2008, p. 1).
Na área jurídica, por exemplo, as leis precisam ser interpretadas. Você se lembra da Comissão Especial do
Impeachment da ex-presidenta Dilma Roussef, em 2016, em que o condutor das sessões tinha que interpretar o
regimento para manter a ordem no local e saber quando um político deveria ter a palavra? Pois bem, a respeito
dessa área, Leffa (2012, p. 261) ressalta que
O texto jurídico, por exemplo, é apresentado como se estivesse muito além da compreensão do
cidadão comum e, por isso, precisa ser interpretado por alguém, geralmente um advogado ou
juiz, passando por anos de preparação, exames da ordem e mesmo por concursos, que finalmente
o qualificam para interpretar a lei.
Como pudemos perceber a partir dos esclarecimentos iniciais, interpretar significa mergulhar nas profundidades
do texto, uma vez que nem sempre as informações estão dadas na superfície do discurso, mas nas suas entre-
linhas. Assim, essa dinâmica não é o mesmo que compreender: se compreendi o texto, é sinal que entendi o
assunto e a sua finalidade; se interpretei o texto, construí outros sentidos e encontrei outras relações estabeleci-
das com outros assuntos.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

No processo interpretativo, codificamos e decodificamos o texto. Mas o que seriam estes dois
fenômenos? Leia o artigo Compreensão e interpretação no processo de leitura: noções
básicas ao professor, escrito por Menegassi (1995), e conheça melhor este assunto. Acesse:
<http://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/36340698/Menegassi_1995-
-Compreensao_e_interpretacao.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAJ56TQJRTWSMTNPEA&Expi
res=1484491135&Signature=m%2Fs64S%2F8dEOVTISK2qCOW6NPQfA%3D&response-
content-disposition=inline%3B%20filename%3DCompreensao_e_interpretacao_no_pro-
cesso.pdf>.

No momento em que lemos alguma coisa, trazemos uma bagagem de conhecimentos já adquiridos em casa,
ao observar o cenário histórico e social de nossa comunidade e que aprendemos na escola. São os chamados
conhecimentos prévios, conforme estudamos. Sendo assim, trazemos um universo de experiências durante o
ato de ler, colocando-as para dialogar com o texto. Assim, estabelecem-se múltiplas relações entre texto e o
conhecimento do leitor a fim de chegar ao ato interpretativo, cujo sucesso depende dos conhecimentos que
este já tem. Ou seja, “se o leitor chegar ao texto de mãos vazias, nada leva”, conforme evidencia o estudioso Leffa
(2012, p. 255).
Mas quais seriam as ações que podem ser empregadas para interpretar um texto de forma satisfatória? As melho-
res estratégias para que essa atividade seja produtiva são as seguintes, de acordo com Miguel (2012):
• ler o texto várias vezes para interagir melhor com ele;
• assinalar palavras e expressões desconhecidas, bem como parágrafos sem sentido e incompreensíveis,
em uma primeira leitura;
• encontrar o significado de palavras em sentido conotativo;
• pesquisar outras referências ao material, ou seja, quem é o autor, sua filosofia e o contexto histórico-
-social em que está envolvido;
• entender a mensagem, ou seja, o assunto discutido no texto;
• ter entusiasmo pelas ideias apresentadas;
• dividir o texto em partes, conferindo o desenvolvimento do assunto em cada fragmento.
Interpretar, portanto, requer atenção e disposição do leitor para esmiuçar o texto, como se o passássemos em
uma peneira para extrair a sua essência.
Conforme ressaltamos anteriormente, nem todas as ideias podem ser entendidas ao levar-se em conta a super-
ficialidade do texto, uma vez que sempre existem informações que estão “escondidas” dentro do discurso escrito.
Vamos esclarecer esse assunto na sequência de nosso estudo.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Glossário

Conotação e denotação são significados que se dirigem à palavra e são diferentes. O sentido
conotativo é o mesmo que o figurado, ou seja, uma palavra pode expressar outra ideia que
não aquela que está no dicionário. Por exemplo: “Márcio tem um abacaxi para resolver”. Veja
que a palavra “abacaxi” não significa, nessa composição, uma fruta, mas um problema, por
isso está em sentido conotativo. Se disséssemos que “Márcio comprou um abacaxi na feira”,
estaríamos empregando à palavra “abacaxi” o sentido denotativo.

4.3.1 Os elementos implícitos e explícitos do texto

Quantas vezes você recebeu de alguém uma “indireta”, ou seja, uma mensagem que dependia de sua interpre-
tação, sendo uma provocação? Pois bem, esse é um tipo de implícito bastante comum em nosso dia a dia. Mas o
que isso significa? Vamos entender esse assunto agora!
A interpretação de texto depende da identificação de dois tipos de informação: as implícitas e as explícitas. A
primeira é aquela que está nas entrelinhas do texto e depende do olhar apurado do leitor para verificar a que
entendimento determinada palavra ou expressão pretende levar. Geralmente, o implícito está nas indiretas (pro-
vocações) que recebemos de alguém em determinadas situações. A segunda, por sua vez, é a informação que já
está dada no texto, não cabendo interpretações outras pela parte do leitor. Vejamos como isso ocorre na prática.
O aluno diz à professora: “Hoje, sua aula está fenomenal!”. Veja que a professora pode ficar ofendida com o seu
aluno porque, segundo ela, nos outros dias, suas aulas não estavam boas. Mas o que a levou a chegar a essa
conclusão? A palavra “hoje” possui uma informação implícita, ou seja, de que só nesse dia, especificamente,
a aula está proveitosa. Veja que esse vocábulo ativa a reflexão do receptor, sendo considerado um pressuposto
(uma informação implícita). Se pensarmos que o aluno disse isso à professora porque ela está triste com a falta
de atenção de seus outros alunos, teríamos um subentendido, que são as múltiplas interpretações que o leitor
é capaz de fazer dentro do contexto do texto. Por outro lado, o enunciado “Hoje, sua aula está fenomenal!” é o
conteúdo da informação, ou seja, é a mensagem que está explícita (aparente) ao receptor.
Como tivemos oportunidade de conhecer, as informações explícitas são aquelas que já estão dadas em um pri-
meiro momento ao receptor, sendo o conteúdo da comunicação. Por outro lado, as implícitas são aquelas que
dependem do olhar apurado, ou seja, das deduções que faz o receptor do discurso escrito ou falado, sendo elas
divididas em pressuposto ou subentendido. Uma frase que contém um pressuposto é aquela que possui um ati-
vador para a interpretação, por exemplo: “Não vou mais ao cinema” (o “mais” indica que eu costumava frequentar
o cinema), “O tempo continua nublado” (quer dizer que ontem também estava nublado, dedução ativada pelo
verbo “continua”), “Maria parou de fumar” (“parou” indica que, antes, Maria fumava). Por outro lado, o subenten-
dido vai permitir múltiplas deduções – claro que não fugindo do contexto de interpretação.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Agora, vamos observar um exemplo de charge, conhecida como um gênero que estimula o receptor a refletir e a
interpretar o cenário exposto.

Figura 21 – Panelinha.

Legenda: As charges são ótimos instrumentos para treinar nossas habilidades de dedução e interpretação.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Panelinha-da-Wiki.png>.

Vemos que a charge ilustra um cenário muito comum em nosso círculo de amigos, em nosso trabalho, em nosso
ambiente de estudo e até mesmo em nossa família: a panelinha, que significa a divisão por grupos, tendo como
base as afinidades que as pessoas possuem. A panelinha é também sinônimo de grupo fechado, de pessoas que
não aceitam socializar com outras. Mas como pudemos fazer essas deduções? Primeiro, pelo nosso conheci-
mento de mundo; segundo, pela ilustração da panela e das pessoas dentro dela e de outra querendo entrar, o
que nos remete à interpretação realizada.
Viu como interpretar não é tão difícil quanto parece e que temos ferramentas para isso? Agora, estudaremos
outro fenômeno bastante importante na interpretação de textos: a intertextualidade.

4.3.2 A intertextualidade e a construção de sentidos

Você sabe o que é uma paródia? Esse gênero é uma obra destinada a utilizar uma situação anterior dentro uma
nova, ou seja, é uma imitação que se faz de determinado objeto cultural – filmes, romances, pinturas, música etc.
O seriado americano “Os Simpsons” é um ótimo exemplo de paródia, em que se constroem histórias a partir de
outras. Mas por que falamos em paródia? Porque esse gênero possui, em sua essência, a intertextualidade, uma
vez que os textos dialogam em sua composição. Comentando essa conversa entre textos, Goldstein, Louzada e
Ivamoto (2009, p. 47) chamam a atenção para o seguinte:
[...] nenhum texto “começa do zero””, uma vez que autores e leitores partem de conhecimen-
tos adquiridos em textos anteriormente lidos, compreendidos, produzidos, assimilados. Acumu-
lamos repertório ao longo da vida e isso se reflete em nossa atividade de leitores/interpretes e
produtores/redatores.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 4 – Lendo e interpretando textos

Dessa forma, note que a intertextualidade é responsável pela construção de sentidos que damos às palavras e
expressões, sejam elas verbalizadas oralmente ou pela escrita. Em qualquer texto, encontramos a reprodução
de outro, e isso pode dar-se por meio da menção que faço desse outro cenário ou pela citação de uma ideia já
estabelecida. Acompanhe o exemplo a seguir para entender melhor esse fenômeno.
Figura 22 – O grito (1893). Figura 23 – O grito (2015).

Legenda: A pintura de Edward Munch, O grito, é bas- Legenda: A vista aérea do desmata-
tante famosa no mundo inteiro, representando o mento em Pernambuco lembra o qua-
cenário de desespero e crise existencial do autor. dro de Edward Munch, O grito.
Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Munch_ Fonte: < https://commons.wikimedia.org/wiki/
The_Scream_lithography.png#/media/File:The_Scream. File:O_grito.jpg?uselang=pt-br >.
jpg>.

Analisando as duas ilustrações, que deduções podemos fazer?

Perceba que as duas imagens representam contextos históricos diferentes – um, de 1893; e outro, de 2015 –,
sendo, no entanto, muito semelhantes. Assim, existe um diálogo entre as duas, uma vez que a segunda pode ser
analisada sob a óptica da primeira, ou seja, trata-se de um cenário triste e de desespero. Isso é intertextualidade.
No entanto, devemos ter em mente o seguinte: se não tivéssemos conhecimento da tela de Munch, seria impos-
sível identificar a intertextualidade na ilustração da área desmatada em Pernambuco, não é mesmo? É por esse
motivo que o conhecimento prévio se faz fundamental na interpretação de textos, pois, sem ele, não identifica-
mos outros sentidos que são trazidos por determinado objeto cultural.

73
Considerações finais
Olá, aluno(a)! Nesta unidade, debruçamo-nos sobre uma prática funda-
mental em nossa vida diária: a leitura. Assim, compreendemos que ler sig-
nifica conhecer e compreender o que está exposto em um texto, a fim de
aprimorar nossas habilidades comunicativas. Além disso, a percepção é
fonte de conhecimentos. Aprendemos que saber ler é saber usar a mente,
ativar nossas habilidades mentais para processarmos o conteúdo e con-
seguir assimilá-lo às nossas atividades diárias.
Na sequência, vimos que os fatores atenção, intenção, reflexão, critici-
dade, análise e síntese são meios que conduzem à leitura de qualidade e
que contribuem para futuras leituras. Você também conheceu os cinco
tipos de leitura, que servem como estratégias para finalidades especifi-
cas: scanning, skimming, leitura crítica, leitora de estudos ou informativa e
leitora do significado.
A respeito da interpretação de textos, compreendemos que essa dinâmica
é diferente da compreensão, uma vez que interpretar significa identificar
outros sentidos que não estão aparentes em uma leitura. Por isso, para
interpretar, é necessário realizar quantas leituras forem necessárias a fim
de que se possa absorver a essência do conteúdo. Nesse contexto, preci-
samos identificar os elementos implícitos (pressuposto e subentendido) e
explícitos para o sucesso da interpretação; para isso, existem estratégias,
conforme tivemos a oportunidade de estudar.
Por fim, discutimos o fenômeno da intertextualidade, o qual está presente
em todos os textos, que nunca são neutros. Esse fenômeno é conhecido
por ser o diálogo que existe entre textos de diversos gêneros e outros pro-
dutos culturais.
Até a próxima unidade!

74
Referências bibliográficas
GALLIANO, Guilherme. O método científico: teoria e prática. São Paulo:
mosaico, 1979.

GOLDSTEIN, norma; LOUZADA, Maria Silvia; IVAMOTO, Regina. O texto


sem mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009.

LEFFA, Vilson. Interpretar não é compreender: um estudo preliminar sobre


a interpretação de texto. In: LEFFA, Vilson; ERNST, Aracy (Org.). Lingua-
gens: metodologias de ensino e pesquisa. Pelotas (RS): Educat, 2012.

LIMA, Antonio de Oliveira. Interpretação de textos: aprenda, fazendo.


Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de


metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MENEGASSI, Remildo José. Compreensão e interpretação no processo


de leitura: noções básicas ao professor. Revista Unimar, v. 17, n. 1,
1995. Disponível em: <http://s3.amazonaws.com/academia.edu.docu-
ments/36340698/Menegassi_1995-Compreensao_e_interpretacao.
pdf?AWSAccessKeyId=AKIAJ56TQJRTWSMTNPEA&Expires=14844911-
35&Signature=m%2Fs64S%2F8dEOVTISK2qCOW6NPQfA%3D&respon
se-content-disposition=inline%3B%20filename%3DCompreensao_e_
interpretacao_no_processo.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2017.

SCHUTZ, Marta Dinarte; DELLA MÉA, Célia Helena de Pelegrini; GON-


ÇALVES, Luana Iensen Gonçalves. Concepções de leitura - reflexões
sobre a formação do leitor. Scientia. Série: Artes, Letras e Comunica-
ção, Santa Maria, v. 10, n. 1, p. 55-76, 2009. Disponível em: <http://
sites.unifra.br/Portals/36/artigos%20letras/artigos%20letras/
concep%E2%80%A1%C3%A4es%20de%20leitura.pdf>. Acesso em:
12 jan. 2017.

75
Referências bibliográficas
SOUZA, A. C. de. A formação de professores-leitores: as marcas de um
caminho e suas relações com uma educação para a leitura. 2006. 108f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, Campus de
Presidente Prudente/ SP. UNESP, Presidente Prudente, 2006.

VIEIRA, Maria Celina Teixeira. Leitura significativa: prazer, dever ou rele-


vância social no ensino superior? In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRA-
SIL, 16º, 2007, Campinas, Anais... Campinas: ALB, 2007. Disponível em:
<http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem-
12pdf/sm12ss06_07.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2017.

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Unidade 5
Nova ortografia e
tópicos gramaticais
5
Para iniciar seus estudos

O que é a nova ortografia? Você conhece as novas regras ortográficas?


Quais as diferenças entre concordâncias verbal e nominal? Quando
devemos empregar a crase? Como utilizar as regências verbal e nominal
de forma correta? Como empregar bem os sinais de pontuação? Ficou
curioso? São essas perguntas que vamos responder ao longo desta uni-
dade.

Objetivos de Aprendizagem

• Compreender o porquê de termos uma nova ortografia.


• Utilizar as novas regras ortográficas.
• Acentuar as regras de concordância nominal e verbal.
• Compreender o uso da crase, empregando-a adequadamente.
• Utilizar as regras de regência verbal e nominal.
• Aplicar os sinais de pontuação no texto.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

5.1 O Novo Acordo Ortográfico


Escrever de acordo com a nova ortografia é uma tarefa, para muitos, muito árdua, não é mesmo? No entanto,
basta estudar as normas estabelecidas pelo Novo Acordo Ortográfico e colocar isso em prática, lendo e treinando
bastante a nova escrita de nossa língua. Mas, antes de começar a discutir esse assunto, vamos entender a origem
e o porquê de termos uma nova ortografia. Vamos lá!
Você sabia que não é de agora o empenho para modificar a língua portuguesa? Pois é, ao longo da história, con-
tamos com três ciclos pelos quais o nosso sistema ortográfico passou,que foram:
• o da ortografia fonética ou período arcaico: neste ciclo (séculos XIII a XVI), a escrita procurava ter a pro-
núncia como sua base, não sendo grafadas as letras que não fossem pronunciadas, como o h (AZEREDO,
2009);
• o pseudoetimológico: a escrita greco-latina influenciou, e muito, o sistema de escrita anterior, tendo
o latim tornado-se o modelo de escrita da língua portuguesa. Foi o tempo das palavras escritas com th
(theatro), ph (pharmácia) e ch (chrisma), o que dificultou a grafia de outras palavras, gerando erros como
em egreja e eschola (AZEREDO, 2009);
• a fase simplificada: neste ciclo, estudou-se as tendências da língua, eliminando os símbolos da etimo-
logia grega, como th, ph, ch /k/, rh e y; excluindo as consoantes mudas, por exemplo: sancto – santo,
septe – sete; e regularizando a acentuação gráfica (AZEREDO, 2009).

Figura 5.1 – Capa da primeira edição em latim do livro de René Descartes, Meditationes de prima philosophiphy.

Legenda: Antes do Acordo Ortográfico de 1943 (da fase simplificada), o latim era a base da grafia de nossa lín-
gua. Podemos citar como exemplo o que ocorria aqui no Brasil com a escrita da palavra Philosophia (Filosofia).
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Meditationes_de_prima_philosophia_1641.jpg

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Como acabamos de perceber, a língua portuguesa está em uma constante reforma. A respeito da importância da
língua e sua padronização, Azeredo (2009, p. 11) reconhece que “Qualquer língua expressa a cultura da comu-
nidade que a fala, transmitindo-a através de gerações e fazendo-a circular no seio dessa comunidade”. Além de
comentar o peso e valor que uma língua possui dentro de uma cultura, Azeredo (2009, p. 13-15) entende que
A ortografia de uma língua consiste na padronização da forma gráfica de suas palavras para o
fim de uma intercomunicação social universalista. [...] Uma língua é muito mais que um meio de
comunicação; ela é, sobretudo, um patrimônio historicamente construído pelas sociedades que
a falam e, em muitos casos, também escrevem.
Mas, e quanto ao Novo Acordo Ortográfico? Vamos compreender agora o contexto desse importante aconteci-
mento em nosso idioma.
A Nova Ortografia parte de um consenso entre os países falantes da língua portuguesa – Portugal, São Tomé,
Angola, São Tomé e Príncipe e Brasil –, cujo objetivo foi defender nosso idioma de possíveis degradações, atri-
buindo a ele uma unidade a fim de atender às necessidades da língua portuguesa (AZEREDO, 2009). Foi em 1990
que o pacto do Novo Acordo foi homologado. No entanto, sua implementação obrigatória no Brasil foi apenas a
partir do ano de 2013, sendo os dois objetivos principais desse acordo os seguintes:
[...] o primeiro é fixar e restringir as diferenças de escrita atualmente existentes entre os falantes da
língua; o segundo é ensejar uma comunidade que se constitua num [sic] grupo linguístico expres-
sivo, capaz de ampliar seu prestígio junto aos organismos internacionais (AZEREDO, 2009, p. 24).
Como fomos capazes de entender, o Novo Acordo Ortográfico não existe para “complicar” a nossa escrita, como
muitos dizem. Ele foi proposto para que nossa língua obtivesse mais prestígio, tendo igualdade na grafia dos
países falantes de nosso idioma. Por isso, é muito importante entender que esse pacto conferiu unidade e mais
prestígio à nossa ortografia. E mais: ele já está em vigência obrigatória nas escolas, nas instituições de Ensino
Superior e nos concursos públicos. Desse modo, é fundamental conhecer as novas regras e adaptar-se a elas!

Não foi de uma hora para outra que o Novo Acordo Ortográfico virou objeto de aceitação
consensual pelos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial. Para saber mais
sobre esse assunto, acesse o texto Novo Acordo Ortográfico, de Carlos Alberto Faraco (2013),
no seguinte link: <https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/187/
novoacordo2.pdf>. Boa leitura!

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

5.2 Aprendendo a usar a nova ortografia: principais mudanças


e regras ortográficas
Você sabia que, com o Novo Acordo Ortográfico, temos, hoje, 26 letras e não mais 23? Pois bem, esse é um dos
resultados do pacto por uma nova ortografia do nosso idioma. Vamos ver agora as principais mudanças que
devem ser adotadas em nossa escrita. Acompanhe!

5.2.1 Trema e acentuação

A mudança na acentuação de algumas palavras foi uma das principais alterações sofridas pelo nosso idioma
escrito, bem como a exclusão do uso do trema. O curioso é que, em certas grafias, é permitida a sua duplicidade,
sem que isso seja percebido como um erro. Escrever fêmur ou fémur, tênis ou ténis, bebé e bebê, por exemplo, é
aceitável, e isso é fruto do Novo Acordo que estamos a estudar nesta unidade! Nesses casos, são aceitas as duas
formas de acentuação, sendo o acento agudo utilizado, nessas palavras, mais comumente no Português euro-
peu. Veja o que mudou na acentuação:
• o trema foi abolido, não sendo mais usado para acentuar palavras como “arguição” (antes, escrevíamos
argüição), “bilíngue” (antes, escrevíamos bilíngüe), “eloquência” (antes, o correto era escrever eloqüên-
cia) etc.;
• as palavras terminadas em “oo” não recebem mais o acento circunflexo. Se, antes, escrevíamos “vôo”,
hoje, escrevemos “voo”, e assim por diante. Veja alguns exemplos da grafia atual: enjoo, abençoo, leiloo
etc.
• verbos terminados em “eem” também perderam o acento circunflexo. Veja alguns exemplos: creem,
veem, leem, deem etc.

Cuidado para não confundir as formas verbais “veem” (do verbo “ver”) e vêm (do verbo “vir”).
Este último continuará recebendo o acento circunflexo quando estiver referindo-se à ter-
ceira pessoa do plural, por exemplo: “Eles vêm cedo à escola” (veja que utilizamos o verbo
“vir”). Por outro lado, podemos dizer que “Eles veem de longe a escola”, empregando a forma
verbal “veem”, do verbo “ver”. Além disso, não se esqueça de que a forma verbal “pôde”
(verbo “poder’, no pretérito perfeito) continua recebendo o acento circunflexo.

• Os ditongos abertos “éi”, “éu” e “ói” de palavras paroxítonas não são mais acentuados. Veja alguns
exemplos: ideia, alcateia, assembleia, heroico, paranoico etc.
• Atente-se para a permanência do acento nesses mesmos ditongos quando se tratar de monossílabos e
oxítonos, como: céu, papéis. Nesses casos, a regra anterior ao acordo ortográfico não sofreu modifica-
ções. Não se usa mais acento agudo em “i” e “u” de palavras paroxítonas quando eles forem precedidos

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

de ditongo. Antes, escrevíamos feiúra, baiúca e bocaiúva; agora, a grafia correta deve ser a seguinte:
feiura, baiuca e bocaiuva.
• Não se acentua palavras paroxítonas que tenham a mesma pronúncia para diferenciá-las; observe o qua-
dro a seguir:

Quadro 5.1 – Acentuação em palavras paroxítonas homógrafas.

Antes do Novo Acordo Depois do Novo Acordo

Pára (do verbo parar); Para (preposição) Para (do verbo parar); Para (preposição)

Pélo (do verbo pelar); Pêlo (substantivo); Pelo (do verbo pelar); Pelo (substantivo);
Pelo (preposição) Pelo (preposição)

Pólo(s) (substantivo); Polo(s) [combinação antiga e Polo(s) (substantivo); Polo(s) [combinação antiga e
popular de por e lo(s)] popular de por e lo(s)]

Legenda: As palavras homógrafas não recebem mais acento para serem diferenciadas na escrita.
Fonte: Adaptado de Faraco (2013).

Glossário

Ditongo: consiste no encontro de uma vogal e uma semivogal em uma mesma sílaba, por
exemplo: “história” (i é a semivogal; a é a vogal).
Homógrafa: palavras homógrafas são aquelas que possuem grafia idêntica, mas pronúncia
diferente, por exemplo: sede (“Tenho sede de água”) e sede (“A sede da comissão fica no
outro bairro”).

Agora que aprendemos quais foram as alterações na acentuação de nosso idioma, vamos compreender as
mudanças quanto ao uso do hífen.

Conheça mais exemplos das alterações na acentuação de palavras em língua portuguesa.


Confira o Guia prático da nova ortografia, de Douglas Tufano, e saiba mais sobre a Nova
Ortografia! Acesse: <https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arqui-
vos/188/Guia_Reforma_Ortografica_CP.pdf>.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

5.2.2 Sobre o uso do hífen

Você acha estranho a escrita de “minissaia”, “ideia”, “joia” (sem acento) e “macrorregião”? Pois é, esses são
alguns exemplos de palavras que sofreram modificações em razão do Novo Acordo Ortográfico. No item anterior,
conhecemos as mudanças ocorridas na acentuação; agora, vamos nos deter nas regras do uso do hífen. Observe
o quadro a seguir e veja as alterações ocorridas em palavras compostas:

Quadro 5.2 – Mudanças no uso do hífen.

O que foi alterado Exemplos

Em palavras formadas por prefixação, só se emprega o Pré-história, super-homem, pan-helenismo, semi-


hífen quando o segundo elemento começar por h. hospitalar.

Não se usa o hífen em certos compostos nos quais se Mandachuva e paraquedas.


perdeu a noção de composição.

Não se usa o hífen nas palavras formadas com os prefixos Desumano, inábil, inumano.
des e in e nas quais o segundo elemento perdeu o h
inicial.

Quando o prefixo terminar na mesma vogal com que se Contra-almirante, anti-idade, auto-observação,
inicia o segundo elemento, usa-se o hífen. micro-ondas, infra-axilar.

Não se usa o hífen quando o segundo elemento começa Antirreligioso, antissemita, contrarregra, infrassom.
com s ou r, devendo essas consoantes serem duplicadas.

Quando os prefixos terminarem com r, ou seja, hiper, Hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.


inter e super, empregamos o hífen.

Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e Extraescolar, aeroespacial, autoestrada,
o segundo elemento começa com uma vogal diferente. autoaprendizagem, antiaéreo, agroindustrial,
hidroelétrica.

Não se usa o hífen em composições em que haja o Coadministrador, coautor, coeditor, coeducador,
prefixo co. coexistência, coigual, coindicação etc.

Quando houver o prefixo co ligado ao segundo Coabitar e coerdeiro.


elemento iniciado por h, excluímos essa consoante e não
empregamos o hífen.

Legenda: As mudanças no uso do hífen envolvem os casos de palavras compostas.


Fonte: Adaptado de Faraco (2013).

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Se você fosse um professor do Ensino Fundamental e seus alunos tivessem sido alfabetiza-
dos de acordo com a antiga ortografia, que ferramentas e estratégias você utilizaria para
ensinar a eles a Nova Ortografia?

Como você percebeu, as novas regras ortográficas não são tão difíceis quanto parecem. Mas, para que você con-
siga aprender a utilizá-las de forma correta, é muito importante exercitar as novas grafias e sempre ter ao lado a
famosa gramática ou um manual da Nova Ortografia!

Como inserir nossos alunos no maravilhoso universo da Nova Ortografia? Existem alguns
métodos tecnológicos que auxiliam e muito no processo de ensino-aprendizagem das novas
regras ortográficas. Confira o artigo de Marques e Silva (2012), OrtograFixe - Um jogo para
apoiar o ensino-aprendizagem das regras da nova reforma ortográfica, e veja que o
ensino atual conta com muitos recursos para a melhor aprendizagem de nossos alunos! Boa
leitura! Acesse: <http://br-ie.org/pub/index.php/wcbie/article/view/1880/1645>.

5.3 Seguindo a gramática


Nesta unidade, além de nos dedicarmos ao aprendizado da Nova Ortografia, vamos estudar alguns tópicos da
gramática para que possamos nos expressar melhor na fala e na escrita. Mas, antes disso, é fundamental com-
preender os fundamentos da gramática, uma vez que é sobre ela que discutiremos agora. Vamos adiante!
Você sabia que a gramática é um instrumento que existe há muito tempo e que foi, inclusive, estudada dois mil
anos antes de Cristo? Faraco (2006, p. 16) explica que:
Os babilônios, por exemplo, já se dedicavam a esse tipo de estudo por volta do ano 2.000 a. C. Os
hindus desenvolveram uma forte tradição gramatical por volta do século IV a. C. No mesmo perí-
odo, os chineses estavam também iniciando suas reflexões gramaticais.
De acordo com o que já sabemos, a gramática é um material que estabelece as diretrizes e normas de nosso
idioma, a fim de apresentar as regras para o uso adequado da língua. Assim, esse instrumento sempre será um
apoio para nós, pois contém informações que vão desde aspectos fonéticos e fonológicos até a estruturação
gramatical. Para passar em um concurso público, por exemplo, o estudo das regras ortográficas, estruturas sin-
táticas, emprego da crase e concordâncias é obrigatório, uma vez que demonstra as capacidades do candidato
para ocupar o cargo em disputa.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Figura 5.2 – Primeira tradução inglesa da gramática de Dionísio de Trácia.

Legenda: A primeira gramática que deu ênfase à linguística foi escrita no século XIX pelo gramático grego
Dionísio de Trácio, “A arte da gramática”, sendo esta traduzida posteriormente a outras línguas.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dionysius_Thrax._Grammar._Davidson._1874._Portada.jpg

A gramática não pode ser vista como um “bicho de sete cabeças”, como muitos dizem. Em seu ensino, deve haver
a contextualização da norma que se estuda, a fim de que o aluno possa entender a importância das variantes da
língua e do emprego de suas normas nas mais distintas situações. A respeito desse contexto, Faraco (2016, p. 26)
considera que é de suma importância refletirmos sobre o uso da língua, entendendo que:
Não cabe, no ensino de português, apenas agir no sentido de os alunos ampliarem seu domínio
das atividades de fala e escrita. Junto com esse trabalho (que é, digamos com todas as letras, a
parte central do ensino), é necessário realizar sempre uma ação reflexiva sobre a própria língua,
integrando as atividades verbais e o pensar sobre elas.
Com base nisso, percebemos que tanto o ensino como o aprendizado da gramática devem ser atividades prazerosas
e instigantes, cuja reflexão leve ao bom emprego de nosso idioma a fim de revelar nossas competências na língua.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Portanto, veja que a gramática não pode ser encarada como um objeto que engessa a nossa língua, mas como
um instrumento que nos apoia e nos instrui a desenvolver as muitas capacidades que temos sobre nosso idioma.
Quem fala bem e escreve bem demonstra um bom grau de instrução, não é mesmo?

Por que existem padrões em nosso idioma? A quem pertencem as regras da língua? Leia o
artigo de Carlos Alberto Faraco (2006), Ensinar x Não ensinar gramática: ainda cabe essa
questão?, e veja as respostas a essas perguntas. Acesse: <http://revistas.unisinos.br/index.
php/calidoscopio/article/view/5983/0>.

5.3.1 Aprendendo a utilizar as concordâncias verbal e nominal

Certamente, você já deve ter observado algumas placas com frases semelhantes a essas: “Proibido a entrada de
animais!”, “Está aberta as matrículas para 2017” etc. Mas será que esses anúncios estão em desacordo com a
norma padrão culta? Sim, e como estão! Os equívocos que podemos perceber referem-se às concordâncias ver-
bal e nominal, cujas regras vamos conhecer adiante.
Quando nos referimos a uma proibição e utilizamos artigo, o correto é concordar o termo proibido com o subs-
tantivo que segue o artigo. No caso do segundo exemplo, o problema está na concordância verbal, já que, quando
utilizamos as matrículas, a conjugação do verbo deverá estar no plural.

5.3.2 Concordância nominal

A concordância nominal ocorre quando artigos, adjetivos, pronomes e numerais concordam – em gênero e
número – e são flexionados de acordo com o substantivo. Vejamos agora os casos mais importantes.

a. Meio ou meia?

A palavra “meio” pode significar tanto “metade” como ser um advérbio, que significa “um pouco”. Esse elemento
não pode variar (ir para o plural, por exemplo) quando fizer referência ao sentido de “um pouco”.
Dessa forma, não podemos dizer “Estou meia cansada”, pois não há alguém que possa ficar “metade” cansada,
não é mesmo? Assim, o advérbio “meio” deve ser empregado como nos exemplos a seguir.
• A palestra está meio (um pouco) cansativa.
• Aquela moça está meio (um pouco) triste esta semana.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Quando a palavra “meio” significar “metade”, ele será um adjetivo. Dessa forma, ele pode variar, dependendo do
gênero (feminino ou masculino) e número (plural ou singular), conforme os exemplos a seguir.
• Pedi meio copo de suco de laranja ao garçom.
• A professora comeu meia maçã nesta manhã.
• Pare de falar meias verdades!
• Não quero meios agrados!
Viu como meia significa “metade”, neste caso? Mas ela também pode ser um substantivo, como a “meia” que
calçamos para usar com o sapato.

O vocábulo “meio”, além de ser advérbio ou adjetivo, também pode ser um substantivo.
Nesse caso, ele será variável (quanto ao número), como nos exemplos a seguir: “Utilizamos
meios seguros na viagem”, “Precisamos encontrar um meio mais eficiente para finalizar o
projeto”, “O meio no qual estou inserido apresenta muitos conflitos entre as pessoas” etc.

b. Possível

Combinada com as expressões “o mais”, “o menos”, “o pior” ou “o melhor”, a palavra “possível” será invariável, ou
seja, ficará no singular; por exemplo:
• Precisamos o maior número de candidatos possível.
• O resultado que esperamos é o melhor possível.
No entanto, a palavra “possível” pode ir para o plural quando os artigos “o” e “a” estiverem no plural; por exemplo:
• Buscamos as casas mais baratas possíveis.
• Queremos os menores telefones possíveis.

c. Anexo ou em anexo?

O emprego do “anexo” ou do “em anexo” causa muitas dúvidas, principalmente quando se escreve um e-mail.
Mas vejamos o que é, de fato, o correto.
A expressão “em anexo” (ou “no anexo”) só deverá ser utilizada se encaminharmos um anexo com outro docu-
mento dentro dele. Se enviarmos uma pasta zipada com fotos por e-mail, por exemplo, podemos dizer que “As
fotos vão em anexo”, ou seja, “dentro do anexo”, que é a pasta zipada.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

A palavra “anexo”, por sua vez, sempre vai variar, dependendo do substantivo ao qual estiver relacionada; por
exemplo:
• As planilhas seguem anexas.
• Encaminho anexo o documento solicitado.
• Anexos seguem os relatórios do mês passado.

d. Mesmo e só

Quando a palavra “mesmo” for equivalente a “de fato” (advérbio), será invariável; por exemplo:
• Os alunos empenharam-se mesmo para vencer o concurso de matemática.
Quando “mesmo” for um adjetivo, ele será variável; por exemplo:
• Eles mesmos arrecadaram os alimentos.
• Ela mesma inventou aquele texto.
Quanto ao uso da palavra “só”, é importante que você entenda que ela pode significar “somente” ou “sozinho(a)”.
Veja que se “só” for equivalente a “somente”, será sempre invariável; por exemplo:
• Naquele evento de Natal, estavam somente os funcionários do RH. Ou seja: Naquele evento de Natal,
estavam só os funcionários do RH.
Por outro lado, será variável se tiver o sentido de “sozinho(a)”, observe:
• As alunas estavam sós na sala de aula.
• Percebi que ele se sentia muito só naquele domingo.

e. Obrigada ou obrigado?

Você já deve ter perguntado-se alguma vez: “devo dizer ’obrigada’ ou ‘obrigado? ’”. Isso vai depender da seguinte
situação: se a mulher estiver agradecendo a alguém, sempre vai dizer “obrigada”. Por outro lado, quando um
homem fizer um agradecimento, sempre dirá “obrigado”, independentemente do gênero da pessoa a quem esti-
ver agradecendo. Simples, não?

Com relação à concordância quanto ao número, a palavra obrigado também deve concor-
dar com o sujeito que agradece. Veja mais informações neste link: <http://porticodalingua-
portuguesa.pt/index.php/duvidas-da-lp/dificuldades/item/obrigado-ou-obrigada-2>.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Veja exemplos de uso desse vocábulo com o sentido de agradecimento:


• Ela disse obrigada ao carteiro após receber o envelope.
• Elas disseram obrigadas ao pai pelos presentes.
• Obrigado pela lembrança – disse o avô à sua neta.
• Os meninos disseram obrigados para os organizadores da festa.

f. Proibido, necessário e permitido

As palavras “proibido” e “permitido” sempre serão variáveis quando o substantivo tiver um artigo que o antecede;
por exemplo:
• É proibido o uso de chapéu neste ambiente.
• É proibida a entrada de animais.
• A entrada de animais é permitida.
• É permitido o uso de capacete.
Por outro lado, essas mesmas palavras serão invariáveis quando fizerem referência a uma forma verbal ou quando
não houver artigo; por exemplo:
• Proibido fumar.
• É proibido o uso do celular neste local.
• É proibido entrar sem camisa neste ambiente.
• É proibida a entrada de pessoas estranhas.
• Permitido falar alto.
Com a palavra “necessário”, sempre que o substantivo for precedido de artigo ou pronome, existirá a variação do
termo; por exemplo:
• Aquelas discussões foram necessárias para chegarmos a um consenso.
• O protocolo é necessário para o evento.

g. Milhão

Milhão é um substantivo masculino, devendo ser variável de acordo com as palavras às quais fizer referência; por
exemplo:
• No show, havia dois milhões de pessoas.
• Havia milhões de dúvidas sobre aquele assunto.

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Mas e no caso da expressão 1.300.000,00 reais? Observe que esse valor se inicia com um numeral no singular, por
isso, o correto é dizer “um milhão e trezentos mil reais”, e não “mil e trezentos milhões”.

h. Menas ou menos?

A palavra menas não existe! Sempre empregamos a palavra “menos” de forma invariável; por exemplo:
• Faça menos bagunça.
• Compramos menos roupas neste ano.

i. Numerais ordinais

As expressões “primeiro”, “segundo”, “terceiro”, e assim por diante, admitem as seguintes construções:
• Vão formar-se, neste semestre, primeiro e segundo graus.
• O segundo e o terceiro ano farão uma linda festa de formatura.

Quer conhecer outras regras de concordância nominal? Então, confira o Manual de Reda-
ção da Presidência da República, disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
manual/manualredpr2aed.pdf>.

5.3.3 Concordância verbal

A concordância verbal ocorre quando o sujeito concorda com o verbo ao qual se refere e vice-versa. Dessa forma,
existem regras que precisam ser empregadas para algumas formas verbais, como você poderá conhecer na
sequência. Vamos lá!

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

a. Haver, fazer, ir, estar e ser

Esses verbos, quando estiverem referindo-se a tempo, sempre ficarão no singular. Observe os exemplos:
• Há vários meses que os primos não vêm a minha casa.
• Faz cinco anos que não viajo a Europa.
• Irá fazer três anos que passei no concurso.
• Está fazendo três anos que mudamos de apartamento.
• No fim de novembro, será três dias de prova.
Na indicação de horas, datas e distâncias, o verbo [ser] é impessoal (sem sujeito) e concordará com a expressão
numérica (predicativo). Se ela for igual ou maior do que dois, usamos o “plural”:
• Da estação à fazenda, são duas léguas a cavalo.
• Hoje são vinte do mês, não?
• Seriam cinco da manhã?
• É uma hora e meia (hora).
• Hoje são 20 de fevereiro.

b. Chover, nevar, ventar, amanhecer etc.

Como esses verbos referem-se a fenômenos da natureza, ficarão sempre no singular; por exemplo:
• Choveu bastante nesta semana.
• Nevou em Santa Catarina durante o final de semana.

Se tivermos o verbo “chover” na expressão “Choveram aplausos”, por exemplo, o verbo con-
corda com o sujeito, tendo em vista que o verbo “chover”, nesse caso, está em sentido figu-
rado, não significando um fenômeno da natureza.

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c. “Mais de”, “menos de”, “cerca de” mais um numeral

Quando tivermos expressões como essas, unidas a um numeral, o verbo deve sempre concordar com o numeral;
por exemplo:
• Mais de um aluno compareceu à reunião.
• Cerca de dez pessoas faltaram ao evento.

d. “Existir”, “acontecer”, “faltar”, “sobrar” etc. mais sujeito posposto

Neste caso, o verbo sempre vai concordar com o sujeito que vier na sequência; por exemplo:
• Existem motivos para a sua demissão.
• Sobram razões para a minha felicidade.
• Aconteceu um imprevisto neste final de semana.
Caso esses verbos – “existir”, “acontecer”, “faltar”, “sobrar” etc. – façam parte de uma locução verbal, eles deve-
rão concordar com o sujeito que vier depois (sujeito posposto); por exemplo:
• Devem faltar motivos para a tua ausência.
Caso esses verbos – “existir”, “acontecer”, “falar”, “sobrar” etc. – façam parte de uma locução verbal, somente o
verbo auxiliar concordará com o sujeito posposto e eles permanecerão no infinitivo.
• Na prova daquele concurso público, podem faltar questões presentes na apostila que usei para estudar.

Glossário

Segundo Bechara (2009, p. 230, grifo do autor), “Chama-se locução verbal a combinação das
diversas formas de um verbo auxiliar com o infinitivo, gerúndio ou particípio de outro verbo
que se chama principal: hei de estudar, estou estudando, tenho estudado. Muitas vezes o auxiliar
empresta um matiz semântico ao verbo principal, dando origem aos chamados aspectos do
verbo.”

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e. Porcentagem

Sempre que nos referirmos à porcentagem e o número percentual for sujeito e estiver no plural, com percentual
acima de 2%, o verbo concordará com ele, ficando também no plural.
• 60% dos entrevistados resolveram não responder à primeira pergunta sobre política.
Contudo, se o substantivo posposto ao número estiver no singular, há duas possibilidades. Veja no exemplo a
seguir:
• 20% da população protestou (protestaram) contra a reforma agrária no ano passado.

Quando o número for inferior a 2%, o verbo fica no singular, mesmo que o número venha
acompanhado de nome plural: 1,97% de nossos fregueses ganha acima de 10 salários míni-
mos; 1% dos eleitores daquele país ainda está indeciso quanto ao seu candidato; só 0,2%
das empresas está habilitado a vender o produto.

f. Sujeito coletivo

Quando fizermos referência a um substantivo coletivo, o verbo ficará no singular; por exemplo:
• A multidão aplaudiu a banda de rock.
• Sabemos que o povo observa as mudanças no mundo político.

Se o sujeito coletivo for especificado, você pode optar por deixar o verbo no singular ou no
plural, por exemplo: “A multidão de seguidores chegou cedo ao evento”.

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g. Havia ou houveram?

O emprego do verbo “haver” costuma causar muitas dúvidas, não é mesmo? Vamos ver agora as normas para
o emprego desse verbo de forma adequada. Quando o verbo “haver” for sinônimo de “existir” ou “ocorrer”, ele
sempre ficará no singular, mesmo que o sujeito este no plural, veja:
• Houve muitos acidentes neste último verão.
• No dia da prova, havia alunos bastante nervosos.
No entanto, quando o verbo “haver” significar “decidir”, “apresentar-se”, “dar-se” (se dar bem em alguma coisa)
ou “sair-se” (sair-se bem em alguma situação), ele irá para o plural, veja:
• Os senadores houveram (“decidiram”) por bem adiar as sessões semanais.
• As coordenadoras do curso de Pedagogia houveram-se bem (saíram-se bem) na primeira reunião do
curso.

Além das regras de concordância que acabamos de conhecer, existem muitas outras que são
muito importantes em nosso dia a dia. Acesse o link a seguir e confira outros exemplos de
normas desse tópico da gramática: <http://educacao.globo.com/portugues/assunto/usos-
-da-lingua/concordancia-verbal-e-nominal.html>.

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5.3.4 Principais dúvidas sobre o emprego das regências verbal e nominal

Você sabia que algumas expressões possuem uma relação de dependência e subordinação a outras? Assim, para
os gramáticos, existem termos regentes e termos regidos (ou subordinados), a fim de completar o sentido da
frase. Mas, então, qual a forma correta de dependência do verbo “assistir”, por exemplo: “assistir o filme ou ao
filme”? Vamos esclarecer essas e outras questões ao longo deste tópico. Acompanhe!
Vejamos no quadro a seguir alguns exemplos de termos regentes e regidos.

Quadro 5.3 – Regência de expressões.

TERMO REGENTE TERMO REGIDO

amar, amor a Deus

insistiu, insistência em falar

Persuadiu o Senador a que votasse

obediente, obediência à lei

cuidado, cuidadoso com a revisão do texto

Legenda: A regência nominal vai depender da subordinação que algumas expressões têm para com as outras.
Fonte: Adaptado de Brasil (2002).

Conforme o que acabamos de observar nos exemplos ilustrados no quadro, substantivos e adjetivos podem ser
termos regentes, que determinam a regência nominal. Por outro lado, os verbos podem desempenhar o papel de
regentes de adjetivos, preposições e substantivos, o que chamamos de regência verbal. Dessa forma, a prepo-
sição será determinante nessa relação de dependência, sendo ela definida pela transitividade do verbo; observe:

Quadro 5.4 – A transitividade de alguns verbos.

VERBO TRANSITIVIDADE

Aspirar No sentido de respirar, é transitivo direto, por exemplo: “Aspiramos o ar puro da


montanha.”
No sentido de pretender, é transitivo indireto, por exemplo: “O projeto aspira à
estabilidade da economia.”

Assistir No sentido de auxiliar, socorrer, é transitivo direto: “Procuraremos assistir os atingidos


pela seca”.
No sentido de ver, é transitivo indireto, por exemplo: “Não assisti à reunião ontem.”

Atender Pode ser transitivo direto ou indireto, por exemplo:


“O Prefeito atendeu ao pedido do vereador” (transitivo indireto).
“O Presidente atendeu o Ministro” (transitivo direto).

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Consistir Depois da forma verbal “consiste”, por exemplo, sempre empregamos preposição,
por exemplo: “O plano consiste em promover uma trégua de preços por tempo
indeterminado.”

Obedecer Sempre será transitivo indireto, por exemplo:


“As reformas obedeceram à lógica do programa de governo.”
“É necessário que as autoridades constituídas obedeçam aos preceitos da Constituição.”

Visar Sempre será transitivo indireto, por exemplo: “O projeto visa ao incentivo da coleta
seletiva de lixo.”
É interessante acrescentar que, hoje, a gramática gerativa aceita o verbo visar como
transitivo direto. Neste caso, a frase ficaria assim: “O projeto visa o incentivo da coleta
seletiva de lixo.”

Legenda: O que vai determinar a regência verbal é a necessidade ou não de uma preposição.
Fonte: Adaptado de Brasil (2002).

Confira o material de Sérgio Lourenço Simões, Regência nominal e verbal sem segredo,
e conheça outros casos e exemplos de regência nominal e verbal. Acesse o livro em:
<http://dicasdiariasdeportugues.com.br/wp-content/uploads/2015/05/11-estude-
reg%C3%AAncia-nominal-fa%C3%A7a-o-download-do-ANEXO-11.pdf>.

Viu como o emprego da regência verbal e nominal não é tão complicado como parece? Basta sabermos a
transitividade do verbo e entender quais são os termos regentes para que possamos utilizar de forma correta a
regência de nomes e verbos. Vamos conhecer agora quando devemos usar a crase? Acompanhe!

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

5.4 Quando usar a crase?


Antes de começar a falar sobre qualquer assunto, é necessário pensar um pouco melhor sobre o seu significado, o
seu conceito. Dessa forma, precisamos entender que o acento grave é utilizado quando ocorre a crase, encontro
do artigo a com a preposição a, desde que sejam obedecidas algumas regras que serão explicitadas mais à frente.
Para entender melhor, podemos, também, nos remeter a um dicionário, que poderá nos ajudar a esclarecer.

Glossário

Significado de Crase
1 - Contração ou fusão de sons vogais num só.
2 - Acento grave colocado para assinalar uma crase.
3 - Constituição; temperamento.
4 - Mistura das substâncias de um humor. <https://dicionariodoaurelio.com/crase>. Acesso
em: 24 fev. 2017.

O vestido é vendido “à vista” ou “à prazo”? Para você, essa dúvida às vezes é cruel, não é mesmo? Agora, vamos
conhecer quando devemos ou não utilizar a crase, e ver que, seguindo as regras básicas, isso será mais simples
do que parece!
Primeiro, é muito importante compreender que a crase não é um acento, mas um resultado da união de duas
vogais: “a” (artigo) e “a” (preposição). Observe um exemplo:
• “A menina foi cedo à igreja”.
Veja que, nesse caso, poderíamos dizer que a menina foi para (preposição) + a (artigo) igreja.
Usamos o acento grave indicando a crase sempre que o elemento inicial exigir a preposição “a” e o elemento
posterior aceitar o artigo “a”, como ocorre:
a. Na indicação de um horário
»» A palestra começa às 10h.
No entanto, é muito importante entender que, quando houver uma preposição antes da indicação de
horas, não se usa a crase; por exemplo: “O shopping fica aberto até as 12h.”
b. Pronomes demonstrativos com a preposição contraída
»» Referimo-nos àquela (a + aquela) palestrante.
»» Quanto àquele assunto, já entramos em um acordo.
c. Pronomes relativos com a preposição contraída
»» As profecias às quais fazemos referência são o foco de nossa discussão.

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d. Antes de palavras femininas


»» Na semana passada, fui de ônibus à cidade.
»» Vamos à palestra no mês que vem.
e. Expressões adverbiais femininas que indicam:
Tempo
»» A festa será à tarde.
Modo
»» Chegamos à aula às pressas.

Para saber se é preciso empregar a crase, existe uma técnica bastante útil. Basta que você
substitua a palavra feminina por uma masculina, dentro do mesmo contexto da frase. Por
exemplo: se eu quiser saber se terei que usar crase no “a” da frase “Vamos à palestra no
próximo sábado”, substituo “palestra” por “teatro. Nesse caso, terei “Vamos ao teatro no pró-
ximo sábado”, ficando entendido que, antes de “palestra” (no exemplo mostrado), deverei
usar a crase.

Não usamos crase nos seguintes casos:


a. Antes de verbo
»» Estamos a estudar muito.
b. Antes de palavras masculinas
»» Ando a cavalo.
Nesse caso, existe uma exceção, ou seja, se a expressão significar “à moda de”, teremos a crase antes da
palavra masculina; por exemplo: “Visto-me à Clodovil.”
c. Antes da palavra distância não especificada
»» Nosso curso é na modalidade a distância.
d. Pronomes como “ninguém”, “alguém”, “toda”, “cada”, “tudo”, “você”, “alguma” etc.
»» Não peço a ninguém estas informações.
e. Quando tivermos “a” no singular + palavra no plural,
»» Faço menção a questões anteriores.
f. Antes de artigos indefinidos,
»» Fomos a uma festa muito divertida hoje!

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Para saber se antes de nomes de cidades ou países usamos a crase, podemos utilizar uma
estratégia, que pode ser ilustrada na seguinte reflexão: “se eu volto da, crase há; se volto de,
crase para que? ”. Assim, no caso de Volto à Bahia, emprego a crase porque “volto da Bahia”;
no caso de “Vou a Florianópolis”, não uso a crase, porque “volto de Florianópolis. ” Simples,
não é mesmo?

5.5 A pontuação do texto


A maioria das pessoas tem dificuldade em usar de forma correta os sinais de pontuação. Muitos perguntam-
-se: “Será que agora é ponto final ou ponto e vírgula? ”; “Será que é travessão ou são dois pontos? ”, e assim por
diante. Pontuar bem o texto garante clareza e mais assertividade da situação comunicativa. Dessa forma, vamos
conhecer agora quando usar cada sinal de pontuação. Acompanhe!
Você sabia que uma simples vírgula é capaz de mudar todo o sentido de uma frase? Pois é; observe os exemplos
a seguir:
• Não sou capaz de fazer isso!
• Não, sou capaz de fazer isso!
Viu como uma vírgula muda tudo? No primeiro caso, eu indico que não tenho capacidade para alguma coisa;
no segundo, digo que sou capaz, e isso é determinado pelo uso da vírgula, um dos sinais de pontuação do texto.
Vamos ver agora, com mais detalhes, quando devemos empregar a vírgula. Observe!

Quadro 5.5 – Quando usamos a vírgula.

USAMOS A VÍRGULA EXEMPLOS

Para separar termos coordenados, ainda quando “Sim, eu não tinha um bom emprego, seguro,
ligados por conjunção (no caso de haver pausa). rentável.”

Para separar orações coordenadas aditivas ainda “Gostava muito das nossas antigas dobras de ouro, e
que sejam iniciadas pela conjunção e, proferidas eu levava-lhe quanta podia obter.”
com pausa.
“No fim da meia hora, ninguém diria que ele não era o
mais afortunado dos homens; conversava, chasqueava,
e ria, e riam todos”

Para separar orações coordenadas alternativas Ele sairá daqui logo, ou eu me desligarei do grupo.
(ou, quer etc.), quando proferidas com pausa.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Nas aposições, exceto no especificativo. “Ora enfim de uma casa que ele meditava construir,
para residência própria, casa de feitio moderno...”

Para separar, em geral, os pleonasmos, “Nunca, nunca, meu amor!”


e as repetições (quando não têm efeito
superlativamente). A casa é linda, linda.

Para separar as orações adjetivas de valor “Perguntava a mim mesmo por que não seria melhor
explicativo. deputado e melhor marquês do que o lobo Neves, – eu,
que valia mais, muito mais do que ele, – ...”

Para separar, quase sempre, as orações adjetivas “No meio da confusão que produzira por toda a parte
restritivas de certa extensão, principalmente este acontecimento inesperado e cujo motivo e
quando os verbos de duas orações diferentes se circunstâncias inteiramente se ignoravam, ninguém
juntam. reparou nos dois cavaleiros...”

Para separar as orações intercaladas “Não lhe posso dizer com certeza, respondi eu”

Para separar, em geral, adjuntos adverbiais que “Eu mesmo, até então, tinha-vos em má conta...”
precedem o verbo e as orações adverbiais que
vêm antes ou no meio da sua principal: “Mas, como as pestanas eram rótulas, o olhar
continuava o seu ofício...”

Para separar, nas datas, o nome do lugar: Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1961.

Para separar as partículas e expressões de Sairá amanhã, aliás, depois de amanhã.


explicação, correção, continuação, conclusão,
concessão.

Para separar as conjunções e advérbios “A proposta, porém, desdizia tanto das minhas
adversativos (porém, todavia, contudo, sensações últimas...”
entretanto), principalmente quando pospostos.

Para indicar, às vezes, a elipse (ausência) do Ele sai agora: eu, logo mais.
verbo.

Legenda: Devemos entender as diversas situações em que a vírgula pode ser usada, pois um
sinal de pontuação dessa natureza pode alterar totalmente o sentido de uma frase.
Fonte: Adaptado de Brasil (2002).

Ponto final

Sempre que quisermos finalizar a ideia de uma mensagem, usamos o ponto final; por exemplo:
• É muito importante que consideremos a política um fenômeno positivo, uma vez que é ela que garante
também o nosso bem-estar social.
O ponto final indica que minha ideia já foi esclarecida e finalizada.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 5 – Nova ortografia e tópicos gramaticais

Ponto e vírgula

Diferentemente da vírgula, o ponto e vírgula é um sinal que indica uma pausa maior, sendo utilizado para indicar
itens enumerados; por exemplo:
• Minhas áreas de estudo são:
»» Filosofia;
»» Química;
»» Português.
Além disso, o ponto e vírgula é utilizado em orações que estão relacionadas sem o uso de conjunções; por
exemplo:
• Um dos aspectos a serem observados é clima organizacional; o outro é a comunicação.

Dois pontos

Os dois pontos indicam a introdução de uma citação, a apresentação de um assunto, como se este fosse um
esclarecimento; por exemplo:
• Muitos são os desafios em nossa vida; entre eles, destaca-se os seguintes: alcance do sucesso, formação
de uma família e bem-estar financeiro.

Travessão

O travessão pode substituir parênteses e vírgulas em determinados casos. Esse sinal deve ser empregado quando
tivermos uma expressão isolada na frase, sendo esta um esclarecimento breve, como se fosse uma pausa na
frase; por exemplo:
• Os materiais escolares – caneta, lápis, borracha e caderno, por exemplo – estão cada vez mais caros.

Utilizar bem os sinais de pontuação é um requisito do bom escritor. Para conhecer mais
exemplos do uso de cada sinal, acesse o seguinte conteúdo: <http://portugues.uol.com.br/
gramatica/particularidades-alguns-sinais-pontuacao.html>.

101
Considerações finais
Nesta unidade, conhecemos e aprendemos sobre vários assuntos. Dessa
forma, você compreendeu que o Novo Acordo Ortográfico foi proposto
para que nossa língua obtivesse mais prestígio, tendo igualdade na grafia
dos países falantes de nosso idioma. Além disso, conhecemos as novas
regras ortográficas, sendo que as principais são em torno da acentuação
e do emprego do hífen.
Na sequência, estudamos alguns tópicos da gramática e vimos que esse
instrumento é um material que estabelece as diretrizes e normas de nosso
idioma, a fim de apresentar as regras para o uso adequado da língua. Mas
nosso estudo não parou por aqui! Você teve a oportunidade de conhe-
cer as diferenças entre concordância verbal e nominal, sendo a primeira
definida pela harmonia entre verbos e complementos, e a segunda ocorre
quando artigos, adjetivos, pronomes e numerais concordam – em gênero
e número – e são flexionados de acordo com o substantivo.
Também compreendemos que substantivos e adjetivos podem ser termos
regentes, que determinam a regência nominal. Por outro lado, os ver-
bos podem desempenhar o papel de regentes de adjetivos, preposições e
substantivos, o que chamamos de regência verbal. Dessa forma, a pre-
posição será determinante nessa relação de dependência. Aprendemos
também quando devemos ou não usar a crase e as diferenças entre os
sinais de pontuação, reconhecendo que, se eles forem mal empregados,
a frase terá seu sentido totalmente modificado.
Até a próxima!

102
Referências bibliográficas
AZEREDO, José Carlos (Coord.) Escrevendo pela nova ortografia. 3. ed.
São Paulo: Publifolha, 2009.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro:


Nova Fronteira, 2009.

BRASIL. Manual de redação da Presidência da República. 2. ed. Brasília


(DF): presidência da República, 2002.

FARACO, Carlos Alberto. Ensinar x Não ensinar gramática: ainda cabe


essa questão? Calidoscópio. Vol. 4, n. 1, p. 15-26, jan/abr 2006. Dispo-
nível em: < http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/
view/5983/0>. Acesso em: 12 jan. 2017.

______. Novo acordo ortográfico. Escrevendo o futuro. 2013. Disponível


em: <https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arqui-
vos/187/novoacordo2.pdf>. Acesso em: 01 de fev. 2017.

SIMÕES, Sérgio L. Regência nominal e verbal sem segredo. São Paulo:


UNINOVE, 2009.

103
Unidade 6
Desenvolvendo a redação
acadêmica
6
Para iniciar seus estudos

Todos temos problemas com redação; não apenas com o tipo de escrita,
mas também com o ato de redigir. Seja em maior ou menor grau, em
algum momento da vida, você deparou-se com alguma dificuldade para
escrever algo, desde as dissertações do Ensino Médio até as resenhas, os
artigos científicos e os trabalhos de conclusão de curso. Quem nunca se
viu em pânico, em pleno final de semestre, tendo que entregar um tra-
balho da faculdade sem saber muito bem como fazê-lo? Afinal, quais
são as regras que devemos seguir? A utilização da norma culta não é o
suficiente? Existe um gênero acadêmico? Essas são algumas das ques-
tões que responderemos ao longo desta unidade da disciplina Leitura e
Produção Textual.

Objetivos de Aprendizagem

• Utilizar redação acadêmica.


• Diferenciar os textos acadêmicos apontando as suas finalidades.
• Compreender o que é uma fonte de pesquisa.
• Identificar e utilizar exemplos de vocabulário acadêmico.
• Localizar e corrigir os principais problemas ortográficos encontra-
dos em textos acadêmicos.
• Discriminar homônimos de parônimos.

105
Leitura e Produção de Textos | Unidade 6 – Desenvolvendo a redação acadêmica

6.1 Utilizar redação acadêmica


Enquanto texto, a redação acadêmica é responsável pela comunicação entre a tríade universidade, comunidade
e academia, pois é por meio da escrita de diferentes textos acadêmicos que as mais distintas instituições de
ensino, pesquisa e extensão informam, inspiram e influenciam a vida de centenas de indivíduos, pertençam eles
à comunidade científica ou não.
Por tratar-se de uma obra de natureza formal e alto rigor técnico, muitos acreditam que a escrita acadêmica seja
difícil, complicada e até mesmo inacessível; julgam ser uma composição enfadonha e rebuscada. Quanto a isso,
o professor Silvio Chibeni (2007) ressalta que:
O que caracteriza um texto acadêmico é, antes de tudo, o seu objeto: ele veicula o fruto de alguma
investigação científica, filosófica ou artística. Deve, pois, refletir o rigor, a perspectiva crítica, a pre-
ocupação constante com a objetividade e a clareza que são parte inerente da pesquisa acadê-
mica. Num texto podemos distinguir o conteúdo (idéias, estrutura argumentativa, etc.) da forma
(linguagem, disposição dos elementos, etc.). Embora a qualidade de um texto acadêmico dependa
fundamentalmente de seu conteúdo, esse conteúdo não poderá ser devidamente compreendido
e examinado se a forma que o reveste for deficiente. Assim é que os autores mais representativos
de qualquer área da atividade acadêmica sempre primaram também pela excelência dos textos
em que registraram sua produção (CHIBENI, 2007, grifo nosso).
Assim, um texto acadêmico deve contemplar toda a precisão científica e visão critica própria das instituições de
pesquisa. De modo que, o autor deve buscar escrevê-lo de forma clara, consistente e direta. Em outras palavras,
o sucesso de um texto acadêmico é resultado da harmonia entre forma e conteúdo.

Figura 6.1: Forma e Conteúdo.

Como é
comunicado
Forma (linguagem
utilizada)

O que é realizado
Conteúdo (conhecimento
produzido)

Legenda: Esquema de um texto acadêmico.


Fonte: Elaborada pelo autor.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 6 – Desenvolvendo a redação acadêmica

6.1.1 A redação acadêmica

A redação acadêmica enquanto forma escrita de comunicação visa transmitir, repassar e/ou divulgar determi-
nado conteúdo. Ela tem como objetivo fazer com que a ideia contida no texto seja a mesma captada e compre-
endida pelo leitor (PIMENTA, 2006), garantindo uma comunicação eficaz.
Essa forma de escrita encontra-se intimamente ligada aos diversos processos de construção e divulgação de
conhecimento, uma vez que é por meio dela que são apresentados diversos feitos e descobertas realizados nas
diferentes instituições de ensino, pesquisa e extensão.
No “Manual para elaboração de projetos e relatórios de pesquisa, teses, dissertações e monografias” (2000), os
autores afirmam que “os princípios indispensáveis à redação científica podem resumir-se em clareza, precisão,
comunicabilidade e consistência” (BASTOS et al., 2000, p. 21, grifo do autor).

6.1.2 Dos princípios fundamentais

Clareza

Um texto claro é, antes de tudo, um texto sem ambiguidade, mas também objetivo e de fácil compreensão.
Escrever com clareza não é, de forma alguma, ser simplista. Ao contrário, elaborar um discurso acadêmico “[...]
que não deixa margem a interpretações diversas da que o autor deseja comunicar” (BASTOS et al., 2010, p. 21)
requer grande esforço.
Saber usar o vocabulário adequado, os termos específicos e conhecer a epistemologia do tópico abordado são
requisitos essenciais para facilitar a compreensão de um texto. Assim, procure dominar o assunto sobre o qual irá
escrever e, se não for esse o caso, faça um levantamento bibliográfico de referência, examinando, os textos das
autoridades da área. Isso lhe ajudará a ter uma visão panorâmica do tema sobre o qual irá escrever.
Antes de começar a redigir, procure estruturar o texto – faça-o mentalmente ou por meio de um esboço -, orga-
nize os argumentos de forma lógica e coerente. Além de ajudar a manter o interesse do leitor, um discurso bem
estruturado contribui para uma leitura mais fluida e facilita a compreensão.
O uso de exemplos concretos e de simples assimilação ajuda a contextualizar a escrita e facilita o entendimento
textual. O autor deve manter-se atento à construção de cada frase, optando por períodos curtos e em ordem
direta (sujeito, verbo, objeto), sem esquecer, contudo, da pontuação, fundamental para a produção de sentido e
a eliminação de ambiguidade.

Precisão

A precisão está ligada, em especial, à escolha lexical, ou seja, aos termos e às palavras que compõem a produção
textual. Segundo Bastos et al. (2010):

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Um autor é claro quando usa linguagem precisa, isto é, quando atenta para que cada palavra
empregada traduza, exatamente, o pensamento que deseja transmitir (BASTOS et al., 2010, p.
21).
Assim, devemos nos ater ao fato de que, para cada área do conhecimento, existe uma terminologia que é mais
apropriada, convencional ou atual, a qual deve ser respeitada e utilizada de forma adequada.

Comunicabilidade

A comunicabilidade diz respeito à maneira como os assuntos são apresentados. Enquanto escritor acadêmico,
você precisa garantir que suas ideias sejam expostas de maneira clara e objetiva, sem margem para digressões
ou ambiguidades. Assim, seus argumentos devem ser desenvolvidos de forma lógica e contínua, visando facilitar
a compreensão textual.

Consistência

A comunicabilidade diz respeito à maneira como os assuntos são apresentados. Enquanto escritor acadêmico,
você precisa garantir que suas ideias sejam expostas de maneira clara e objetiva, sem margem para digressões
ou ambiguidades. Assim, seus argumentos devem ser desenvolvidos de forma lógica e contínua, visando facilitar
a compreensão textual.
Agora que já compreendemos o que é necessário para a redação de um bom texto acadêmico, chegou a hora de
aprender a diferenciá-los.

O que você acredita ser essencial para a compreensão de um texto? Quais são os elementos
que auxiliam na acessibilidade de um texto, tornando-o mais fácil de ser entendido?

6.2 Diferenciar os textos acadêmicos apontando as suas


finalidades
Já vimos que a redação acadêmica é responsável pela comunicação entre a tríade universidade, comunidade e
academia, uma vez que é a partir desse tipo de escrita que as diversas instituições de pesquisa, ensino e extensão
divulgam suas ações, descobertas e reflexões.
No entanto, há diversas maneiras de se vincular uma produção ou atividade acadêmica as quais podem variar de
acordo com o seu objetivo. Abaixo apresentamos algumas delas:

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Artigo

Produção acadêmica destinada a comunicar um ponto específico de determinada pesquisa. Em geral, quando se
tem uma pesquisa grande, como uma investigação de mestrado ou doutorado, o artigo serve para tornar público
uma pequena parte de todo o resultado. Trata-se de uma produção menor, em torno de 15 ou até 20 páginas,
em geral, destinada a publicação em revistas acadêmicas ou anais de congressos.
O artigo é composto de resumo, abstract (o mesmo resumo em inglês), introdução e os tópicos da pesquisa,
seguido de conclusão. Em alguns casos, ele pode ser destinado a realização de uma compilação de diferentes
autores de relevância para uma determinada área, são os chamados artigos de revisão bibliográfica.

Resenha

A resenha é um trabalho acadêmico igualmente destinado à divulgação científica, mas que objetiva falar acerca
de outro trabalho científico mais extenso e profundo. Em geral, uma resenha é um resumo crítico de uma obra,
por exemplo, de um livro. Ela pode ocorrer sob demanda editorial ou mesmo como uma sistematização de estu-
dos para um estudante de pós-graduação, por exemplo. Visa, em geral, a publicação em periódico.

Dissertação

Trata-se de um trabalho acadêmico apresentado para obtenção do título de mestre e também analisado por
uma banca avaliadora composta por três ou mais doutores. A dissertação é menos complexa que uma tese,
mas também trata-se de uma investigação aprofundada. No entanto, por ter um tempo menor de elaboração,
em geral dois anos, tem um recorte de pesquisa mais delimitado. Pode ser elaborada a partir de uma pesquisa
original ou apresentar um resultado parcial de um estudo experimental. Ou, ainda, expor um estudo com bases
bibliográficas. Em geral tem cerca de 100 páginas, o que também pode variar. Também exige a assistência de um
professor orientador.

Tese

Na tese o autor deve, obrigatoriamente, defender uma ideia e uma pesquisa original para, então, conseguir o
título de doutorado ou livre-docência. Em geral, tem cerca de 200 páginas, mas esse número pode variar de
acordo com a pesquisa ou mesmo de acordo com as normas da instituição. Uma tese é elaborada depois de
concluídas as disciplinas obrigatórias de um curso de doutorado e é realizada a partir da atuação de um professor
orientador. É um trabalho autônomo de um pesquisador sênior, quando se trata de obtenção do título de livre-
-docência ou professor titular. A tese é defendida em uma sessão pública diante de uma banca composta por
pelo menos cinco avaliadores doutores.

Monografia

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Monografia é um trabalho acadêmico que apresenta os resultados de uma pesquisa sobre um tema único e
delimitado. Trata-se de uma investigação mais simples e raramente é embasada em uma pesquisa original, nor-
malmente é um estudo com bases bibliográficas. Em geral, o objetivo de uma monografia é a obtenção do título
de bacharel ou especialista, mas também é usada como trabalho de conclusão de curso em algumas disciplinas
regulares. Em geral, tem cerca de 60 páginas e pode ser desenvolvida sob a supervisão de um professor orientador.

Comunicação

A comunicação é um trabalho acadêmico curto que apresenta, em geral, o resultado parcial de uma pesquisa
ainda em desenvolvimento. Pode ser desenvolvida com base em estudo experimental, uma pesquisa original ou
mesmo um estudo bibliográfico. É uma modalidade de texto bastante utilizada para enviar trabalhos à avaliação
destinada à participação em congressos, simpósios e afins. Pode ou não prescindir da figura de um orientador
acadêmico.

Relatório

Um relatório é um trabalho acadêmico de menor complexidade e, em geral, destinado a informar às fontes finan-
ciadoras ou instituições de ensino superior o estágio da pesquisa em desenvolvimento. Costuma ser um texto
exigido ao menos uma vez por semestre durante o desenvolvimento de uma pesquisa. É submetido às comissões,
conselhos e diversos outros órgãos avaliadores.

6.3 Compreender o que é uma fonte de pesquisa


Uma fonte de pesquisa é o meio através do qual podemos obter as informações para embasar e fundamentar
diferentes tipos de pesquisas. Os tipos de fonte podem ser acadêmicas, editoriais, de campo (entre outras) e
podem estar disponíveis em formato online ou impresso. Essas fontes podem ser primarias, secundarias ou ter-
ciárias.
Sendo este um dos pontos mais importantes para a produção de um texto acadêmico, é fundamental que você
entenda o que são e como usar as fontes disponíveis, especialmente porque hoje temos uma imensa quantidade
de fontes de informação online e off-line de todos os níveis de confiabilidade e relevância.
Os textos acadêmicos dependem de suas referências, especialmente se pensarmos em análises bibliográficas,
então devemos entender como funcionam, como usar e qual a representatividade das referências na conclusão
da redação acadêmica.

Frente a tantas opções, como escolher e utilizar da melhor fonte possível? Primeiramente, classificamos em
fontes primárias e secundárias.

A fonte primária, como o próprio nome sugere, é onde se encontra a matriz argumentativa do seu texto, é a que
mais se relaciona com o objeto em estudo naquele material. Ela será a responsável pelo esqueleto dissertativo
do seu texto:

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(...) sob a determinação do sentido de ponto primeiro, as fontes primárias, na investigação e na


pesquisa, seriam consideradas a matriz explicativa do objeto em estudo, estabelecendo, com tal
objeto, uma relação de dependência. Desse modo, as fontes seriam auto-suficientes na sua con-
dição de matriz explicativa. O seu lugar teria o poder de fazer circular, explicando, magistralmente,
os significados pretensamente estabelecidos ou legítimos, o que se insinua no campo dos signi-
ficados de primeiro. É o que se observa na ressonância dos significados instalados, coagulados,
inertes. (CAMPOS e CURY, 1997)
Precisamos levar em conta que a referência primária, fio condutor dos argumentos que corroboram seu ponto de
vista, precisa de uma rede de outros pilares para se sustentar e é aí que entram as referências secundárias. Esse
diálogo entre bibliografias diversas é fundamental para demonstrar que seus argumentos são válidos. De modo
que, a intertextualidade é parte essencial do mundo acadêmico e, por conseguinte, das produções e desdobra-
mentos dele.
As fontes secundárias são as que falam sobre a primária, um especialista, um livro sobre o assunto; autores que
organizam as fontes primárias. De acordo com Cunha (2001):
Contêm, informações sobre documentos primários e são arranjados segundo um plano defi-
nitivo; são, na verdade, os organizadores dos documentos primários e guiam o leitor para eles.
(CUNHA, 2001, p. 09)
Além dessas, temos as terciárias, que são as fontes que falam das primárias, mas deslocadas no tempo e espaço,
como reportagens que tratam de um fato a ser estudado. Ainda de acordo com Cunha (2001):
Têm como função principal ajudar o leitor na pesquisa de fontes primárias e secundárias, sendo
que, na maioria, não trazem nenhum conhecimento ou assunto como um todo, isto é, são sina-
lizadores de localização ou indicadores sobre os documentos primários ou secundários, além de
informação factual [...] (CUNHA, 2001, p. 09).
Portanto, as fontes primárias dizem respeito ao evento ou texto de origem da sua pesquisa, fato direto da fonte,
sem alteração, como, por exemplo, um livro escrito no idioma original do pesquisador; as fontes secundárias
referem-se a especialistas que abordam o assunto estudado, análises da fonte primária; e as fontes terciárias são
análises do que foi posto pelos especialistas, menções, reportagens, excertos, trabalhos acadêmicos de análise,
bibliografia da bibliografia. Cada um dos tipos tem sua função e devem estar presentes e relacionadas em um
trabalho acadêmico.

Para mais informações sobre a importância da internet na obtenção de informação: http://


www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/1754/1501.

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6.4 Identificar e utilizar exemplos de vocabulário acadêmico


Com base em tudo o que vimos até agora, podemos dizer que escrever um texto acadêmico não é uma tarefa
simples. Além de exigir tempo e dedicação, espera-se que o texto acadêmico apresente clareza, consistência,
comunicabilidade e precisão.
Devemos lembrar que, para cada área do conhecimento, existe uma terminologia que é mais apropriada, con-
vencional ou atual, a qual deve ser respeitada e utilizada de forma adequada. Isso não apenas facilita a comuni-
cação, como ajuda na compreensão. Chibeni (2007) afirma que:
A consolidação da arte de bem redigir depende, acima de tudo, do contato direto e sistemático
com os grandes exemplos de produção escrita, não apenas de natureza estritamente acadêmica,
mas também literária de um modo geral (CHIBENI, 2007).
Portanto, é sempre recomendável fazer um levantamento bibliográfico antes de começar a escrever sobre qual-
quer assunto. Independentemente do seu grau de conhecimento ou de sua familiaridade com o tema, é sempre
bom rever determinados conceitos e ter uma visão do assunto sob a perspectiva de outro autor.
Também é importante lembrar que, em um texto acadêmico, é fundamental criar sua linha de raciocínio para, em
seguida, compará-la a de pelo menos dois autores, confrontando os pensamentos deles. Esses autores podem
corroborar ou contrariar sua hipótese e, a partir desse posicionamento, você segue para a conclusão do trabalho.
A introdução serve sempre para expor o problema de pesquisa. Assim, você deve fazer uma pergunta a seu
objeto de pesquisa: esse é o primeiro passo para explicitar seu argumento. Também deve constar, na introdução,
a fundamentação teórica, ou seja, os autores que você escolheu para discutir o assunto e a importância deles
para sua pesquisa, conforme vemos no exemplo a seguir.

Em primeiro lugar (parte dois do texto, após esta introdução) porque este é um caminho destrutivo das socie-
dades humanas e da vida em geral e, portanto, incompatível com as aspirações e as premissas éticas tanto
da noção da Mãe Terra como com a noção de desenvolvimento, tal como definida por Amartya Sen (2001).
A segunda razão (parte 3 do texto) é que já existem meios técnicos que permitem acesso às utilidades em que
se pode apoiar o processo de desenvolvimento, sem que, para isso, a matriz energética tenha que ser fóssil
ou se apoiar em novas hidrelétricas nocivas a ecossistemas florestais. Mais que isso: estes meios técnicos não
se referem apenas à produção de energia, mas abrem a possibilidade (cuja transformação em realidade está
longe de ser puramente técnica, é claro) de que a organização social tenha cada vez mais por eixo a colabo-
ração e a produção crescente de bens públicos e coletivos (ABRAMOVAY, 2014, grifo nosso).

O desenvolvimento do trabalho deve apresentar, em primeiro lugar, a sua ideia, para, em seguida, discutir os
posicionamentos dos autores. O argumento segue para a conclusão depois de você ter trabalhado todos esses
pontos e encontrado a resposta, ou ao menos uma indicação de resposta, para o seu problema de pesquisa ini-
cial, conforme segue:

Mas é este o ponto que deveria dominar as discussões e as propostas para combater o aquecimento global:
muito mais importante que garantir o direito aos países de renda baixa e média para que continuem contri-
buindo (e de forma crescente) à destruição do sistema climático, o grande desafio está em conseguir dotá-los
das condições técnicas que lhes permitam entrar e avançar na revolução digital sem terem que passar pelo
que de mais predatório caracterizou a primeira e a segunda revoluções industriais (ABRAMOVAY, 2014).

A estrutura do texto acadêmico não acaba aí, visto que a bibliografia e as citações são tão importantes quanto a
estrutura do argumento e devem ser feitas de acordo com normas específicas para cada tipo de fonte.

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6.5 Localizar e corrigir os principais problemas ortográficos


encontrados em textos acadêmicos
Vimos que todo texto científico precisa ser claro e objetivo, ao mesmo tempo em que deve refletir todo o rigor e
a perspectiva crítica da academia.
Os princípios indispensáveis à redação científica podem resumir-se em clareza, preci­são, comu-
nicabilidade e consistência. Uma redação é clara quando não deixa margem a interpretações
diversas da que o autor deseja comunicar. Uma linguagem rebuscada, cheia de termos desneces-
sários, devia a atenção do leitor, confundindo-o, por vezes. (BASTOS et al., 2000, p. 21, grifos do
autor).

No entanto, quando pensamos nas atribuições inerentes ao cargo de pesquisador, nos damos conta do fato de que, além
de saber pesquisar efetivamente, o pesquisador ou docente universitário necessita dominar a redação de textos do gênero
acadêmico. Esse talvez seja o principal motivo da grande quantidade de problemas ortográficos encontrados em textos
acadêmicos. Nem sempre quem domina a técnica da escrita acadêmica possui, necessariamente, o mesmo grau de habili-
dade escrita.

Como disse Chibene (2010), para ser um bom escritor, é necessário, antes, ter sido um bom leitor. Quando buscamos os
erros mais comuns nas redações científicas, pudemos observar que a grande maioria se refere a questões de linguagem
científica e outros resumiam-se à falta de um dos princípios inerentes da redação científica. O site Pós-graduando publi-
cou uma matéria na qual destacava os erros mais comuns na redação científica; selecionamos três para expor nosso ponto
de vista. Confira o quadro a seguir.

Quadro 6.1 Erros mais comuns na redação científica

Uso de linguagem A linguagem da escrita científica deve ser o mais impessoal possível. A maioria
pessoal: dos manuais recomenda o uso da terceira pessoa do singular e da voz passiva.

Esse erro é um ótimo exemplo de falta dos princípios de consistência e clareza


Frases longas:
(BASTOS et al., 2000)

O texto científico deve primar pela clareza e objetividade, evitando rodeios,


Palavras inúteis: digressões e pleonasmos, de modo que, o uso de palavras e/ ou termos
desnecessários que tendem a confundir o leitor.

Legenda: Os erros mais comuns nas redações científicas referem-se a questões de linguagem cientifica.
Fonte: Adaptado de Pós-graduando (2017) e Bastos et. al (2000).

Você se identifica com esse perfil de pesquisador? Acredita que deveria aumentar o número
de livros que lê por ano?

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 6 – Desenvolvendo a redação acadêmica

6.6 Discriminar homônimos de parônimos


Tendo em vista tudo o que foi discutido até aqui, você já deve estar ciente da importância de ter uma boa escrita
acadêmica. Desse modo, você deve buscar aprimorar, cada vez mais, sua competência linguística. Uma boa
forma de fazer isso é ampliando seu repertório de leitura, fazendo dela uma prática constante. Acostumar-se à
companhia de um bom dicionário também facilitará bastante sua escrita, haja vista a quantidade de parônimos
e homônimos na língua portuguesa.

6.6.1 Parônimos

Trata-se de palavras que são semelhantes na grafia e no som, mas possuem significados distintos. Constatemos
alguns casos:
• Absolver (perdoar) e absorver (aspirar);
• Apóstrofe (figura de linguagem) e apóstrofo (sinal gráfico);
• Aprender (tomar conhecimento) e apreender (capturar);
• Despensa (local onde se guardam alimentos) e dispensa (ato de dispensar);
• Docente (relativo a professores) e discente (relativo a alunos);
• Emigrar (deixar um país) e imigrar (entrar num país);
• Soar (produzir som) e suar (transpirar).

6.6.2 Homônimos

Têm significado e grafia distintos, porém sons iguais, por exemplo:


• apreçar (avaliar) - e apressar (dar pressa);
• ceara (verbo cear) - e seara (extensão de cereal cultivado no campo);
• caçar (perseguir a intenção de matar) - e cassar (anular uma licença);
• cede (verbo ceder) – e sede (matriz).

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6.6.3 Homógrafos

Têm a mesma grafia, porém sons e significados diferentes. Por exemplo:


• acordo (entendimento) – e acordo (verbo acordar);
• acerto (acordo, correção) – e acerto (verbo acertar);
• choro (pranto) – e choro (verbo chorar);
• colher (utensílio de mesa) – e colher (apanhar).

6.6.4 Homônimos perfeitos

São palavras com grafia e sons idênticos, porém, com significados diferentes, por exemplo:
• verão (estação do ano) – e verão (verbo ver);
• cedo (advérbio de tempo) – e cedo (verbo ceder);
• caminho (itinerário) – e caminho (verbo caminhar);
• leve (pouco peso) – e leve (verbo levar).

115
Considerações finais
Caro aluno, chegamos ao final da sexta unidade da disciplina Leitura e
Produção Textual. Vamos agora relembrar o que discutimos e aprende-
mos sobre nosso foco de estudo: a escrita acadêmica.
Ao longo desta unidade, vimos que a redação acadêmica é responsável
pela comunicação entre a tríade universidade, comunidade e academia,
pois é por meio desse tipo de escrita que diferentes instituições de ensino,
pesquisa e extensão divulgam suas ações, descobertas e reflexões a cen-
tenas de pessoas, pertençam elas à comunidade científica ou não.
Aprendemos que a redação científica, enquanto forma escrita de comu-
nicação, tem como objetivo fazer com que a ideia contida no texto seja
a mesma captada e compreendida pelo leitor (PIMENTA, 2006), visando
sempre uma comunicação eficaz.
Embora as composições do gênero acadêmico possam variar quanto à
forma (linguagem, disposição dos elementos etc.) e ao conteúdo (ideias,
estrutura argumentativa etc.) todas devem apresentar clareza, precisão,
comunicabilidade e consistência, os quatro elementos indispensáveis à
redação científica (BASTOS et al., 2000).
Compreendemos que existem diversas maneiras de vincular uma produ-
ção científica ou atividade acadêmica, as quais podem variar de acordo
com o seu objetivo:
• Artigo: destina-se a comunicação de um ponto específico de
determinada pesquisa, ou seja, serve para tornar pública uma
pequena parte de todo o resultado.
• Artigo de revisão bibliográfica: destina-se a realização de uma
compilação de diferentes autores de relevância para uma deter-
minada área.
• Resenha: destina-se à divulgação científica, em geral, à publica-
ção em periódicos, e tem por escopo falar acerca de outro traba-
lho científico mais extenso.
• Dissertação: trata-se de um trabalho acadêmico apresentado
para a obtenção do título de mestre e analisado por uma banca
avaliadora composta por três ou mais doutores.

116
• Tese: na tese, o autor deve, obrigatoriamente, defender uma ideia
e uma pesquisa original para, então, conseguir o título de douto-
rado ou livre-docência.
• Monografia: destina-se a obtenção do título de bacharel ou
especialista, mas também é usada como trabalho de conclusão
de curso em algumas disciplinas regulares.
• Comunicação: trata-se de uma modalidade de texto bastante
utilizada para enviar trabalhos à avaliação destinada à participa-
ção em congressos, simpósios e afins.
• Relatório: trata-se de um trabalho acadêmico de menor com-
plexidade e, em geral, destinado a informar às fontes financiado-
ras ou instituições de ensino superior o estágio da pesquisa em
desenvolvimento.
Também estudamos sobre fontes de pesquisa e sua importância no pro-
cesso de produção e elaboração de textos acadêmicos e vimos que elas
podem ser primárias, secundárias ou terciárias.
Observamos que a fonte de pesquisa é o meio pelo qual se pode obter
informações para embasar e fundamentar diferentes tipos de pesquisas,
sendo os tipos de fonte:
• Fontes primárias: estão diretamente relacionadas ao objeto de
estudo.
• Fontes secundárias: abordam as fontes primárias
• Fontes terciárias: tratam-se de fontes que podem abordar tanto
as fontes primárias quanto as fontes secundárias; são as fontes
que falam das primárias, mas deslocadas no tempo e espaço.
Identificamos e analisamos os principais problemas ortográficos encon-
trados em textos acadêmicos e percebemos que a maioria deles está
ligada à falta de um (ou mais) dos quatro princípios indispensáveis à reda-
ção científica.
Aprendemos a discriminar homônimos de parônimos, sendo homônimos
as palavras que possuem significado e grafia distintos e sons idênticos e
os parônimos as palavras que apresentam semelhança na grafia e no
som e significados distintos.

Por fim, compreendemos a importância de fazer um levantamento


biblio-gráfico antes de começar a escrever sobre qualquer assunto;
indepen-dentemente do grau de conhecimento ou da familiaridade, há
necessi-dade de criar uma linha de raciocínio para, em seguida,
compará-la a de, pelo menos, dois autores, sendo que o posicionamento
deverá aparecer na conclusão do trabalho.

117
Referências bibliográficas
ABRAMOVAY, Ricardo. Inovações para que se democratize o acesso à
energia, sem ampliar as emissões. Ambiente & Sociedade (versão on-
-line). vol. 17, n. 3, São Paulo, jul./set. 2014. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X201400030000
2&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 fev. 2017.

BASTOS, Lília et al. Manual para elaboração de projetos e relatórios de


pesquisa, teses, dissertações e monografias. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2000.

BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de


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CAMPOS, Edson Nascimento; CURY, Maria Zilda Ferreira. Fontes primárias:


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n. 1-2, p. 303-313, jan. 1997. ISSN 1806-9274. Disponível em: <http://
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CHIBENI, S. S. O texto acadêmico. Via Moderna (on-line). 2007. Disponível


em: <http://edsongil.wordpress.com/2007/07/06/o-texto-academico/>.
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CUNHA, Celso; CONTRA, Lindley. Nova gramática do português contem-


porâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

CUNHA, Murilo Bastos da. Para saber mais: fontes de informação em ciên-
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DISCINI, Norma. ANDRADE, Maria Margarida de; MEDEIROS, João Bosco.


Comunicação em língua portuguesa: normas para elaboração de traba-
lho comunicação nos textos: leitura, produção, exercícios. São Paulo

119
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e
redação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2010. 432 p.

GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 14. ed. Rio de Janeiro:


FGV, 2010.

KURY, Adriano da Ga. Contexto, 2010. 414 p.ma. Para falar e escrever
melhor o português. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. 275 p.

MEDEIROS, João Bosco. Redação empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas,


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PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação empresarial. Campinas: Alínea,


2006.

PÓS-GRADUANDO. Dez erros comuns na redação científica. Disponível


em <http://posgraduando.com/dez-erros-comuns-na-redacao-cienti-
fica/>. Acesso em: 21 fev. 2017.

120
Unidade 7
Aprendendo a utilizar as normas
da ABNT
7
Para iniciar seus estudos

Você já ouviu falar em Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)?


Sabe qual é o significado e a importância dessa associação? Quais são
as responsabilidades da ABNT e de que maneira podemos trabalhar para
compreendê-la e utilizá-la de maneira efetiva? E o plágio? O que enten-
demos por plágio e quais são as consequências de sua utilização? De que
maneira evitar e como trabalhar de modo mais acadêmico e científico?
Essas e outras questões serão respondidas no decorrer do estudo desse
capítulo. Bons estudos!

Objetivos de Aprendizagem

• Assinalar a finalidade da ABNT.


• Identificar o plágio, evitando o seu uso.
• Distinguir citação direta da indireta, entendendo quando as utili-
zamos.
• Elaborar as referências bibliográficas do texto.

122
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

7.1 Padronização e normatização: ABNT


Você sabia que a padronização ou a normalização do trabalho cientifico é uma exigência da comunidade cientí-
fica, ou, se assim quisermos, da comunidade de pesquisadores? A utilização de normas e procedimentos padrão
objetiva facilitar e universalizar a comunicação no que concerne a trabalhos de natureza científica. Para que esse
objetivo seja atendido, diversas associações no mundo criaram normas específicas que devem ser seguidas por
aqueles que se propõem a desenvolver um trabalho com característica científica.
As universidades podem optar por um padrão que corresponda à sua especificidade; assim, por exemplo, uma
faculdade de Psicologia pode utilizar as normas da Associação Americana de Psicologia. No Brasil, foi criada a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), uma associação reconhecida internacionalmente. Na ABNT,
uma comissão de especialistas criou as normas brasileiras para a padronização dos trabalhos científicos.
Vale ressaltar aqui que essa associação trabalha com a padronização e a normatização de processos e produtos.
A necessidade de sua criação deu-se principalmente pelo avanço da ciência e do comércio entre os países e o
processo de desenvolvimento tecnológico.

Para saber um pouco mais sobre a história dessa associação, é interessante que você conheça
o material fornecido pela ABNT em seu site: <http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-
-abnt>.

Por tratar-se de uma instituição de ensino que prioriza o conhecimento científico, a padronização e a normati-
zação dos trabalhos acadêmicos é ação importante a ser instituída. Sendo assim, optou-se por seguir as normas
estabelecidas pela ABNT para todos os cursos. Essa escolha deu-se por conta da preocupação de padronizar e
normatizar os trabalhos de nossa instituição. Essa escolha também ocorreu pela abrangência e pelo reconhe-
cimento dos trabalhos da ABNT dentro da comunidade científica. Vale ressaltar que há outras instituições com
foco na normatização de trabalhos científicos, mas não com uma aceitação tão ampla como tem a ABNT.

7.2 Plágio
A produção de textos é vista como uma atividade de grande dificuldade, principalmente quando falamos em tra-
balhos acadêmicos e científicos. Uma das tentativas de muitos alunos para ajudar na produção de suas atividades
é recorrer a textos já produzidos por outros autores. A consulta de bibliográfica é essencial para a ampliação de
conteúdos e a produção textual, porém, é preciso ter cuidado com a maneira que a retomada de ideias de outros
irá aparecer.
Logo mais, neste mesmo capítulo, você conhecerá formas adequadas para esse tipo de trabalho, com citação e
referência a outros autores. O ponto que destacaremos nesse momento está relacionado à cópia de ideias/textos
de outros, muitas vezes tomando-os como nossos. Sabemos que, algumas vezes, essa atitude não tem a intenção
de copiar o outro, mas, sim, de facilitar o trabalho de criação textual. O que muitos não sabem é que essa ação

123
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

não é correta eticamente e incorre em penalização legal. Para uma explicação e compreensão mais adequadas,
vamos começar a trabalhar com a conceituação do plágio.

Glossário

Plágio: 1 Ato ou efeito de plagiar. 2 Imitação de trabalho, geralmente intelectual, produzido


por outrem. (MICHAELIS, 2017).

Figura 7.1: Ética e autoria.

Legenda: Reconhecer o trabalho do outro é uma questão de autoria e mos-


trar a nossa produção deixa transparecer a nossa autoria.
Fonte: 123RF

O plágio é o ato de copiar algo que foi criado por outrem, sem identificar o autor original. Quando falamos em
cópia, não precisamos mensurar/medir quantidade de palavras ou caracteres. Vale destacar também que quando
falamos em texto, estamos nos referindo a qualquer produto que seja carregado com uma mensagem, seja ele
imagético, textual ou qualquer outra forma de expressão. A abrangência também está presente para o meio
em que o texto será divulgado: livro, revista, internet, congresso, entrevista, entre outros. Se você, aluno, quiser
referir-se a algo dito por terceiros, poderá citá-los, indicando a fonte de origem e seguindo normas determinadas
pela ABNT.

124
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Como falamos anteriormente, o plágio pode trazer consequências civis e penais, apoiadas nos direitos autorais
de seu criador. Também não há como justificar o desconhecimento da lei, portanto, vamos em busca de informa-
ções para evitar esses problemas, já que, se nos colocássemos no lugar dos criadores da produção, não gostaría-
mos de encontrar nossas ideias sem a devida indicação de origem.

Você sabia que o desconhecimento da lei não justifica nem nos isenta de nenhum tipo de
punição? A Lei nº 9.610, de 1998, consolida a legislação sobre direitos autorais. Acesse o link
e veja o que diz a lei sobre direito autoral: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.
htm>. Confira também a Lei nº 10.695, de 2003, sobre direito intelectual, no link <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.695.htm>.

Sendo assim, é importante que, nós produtores de textos escritos, orais, imagéticos, publicados por diversos
meios, sejamos conscientes e saibamos a melhor forma de nos relacionar e ampliar nossos discursos a partir
da ligação entre a nossa própria ideia/opinião e as de outros às quais tenhamos acesso. Também é importante
destacar que, com o aparecimento da internet, as possibilidades de identificação de plágio cresceram muito.
Além de ferramentas mais sofisticadas, que demandam investimos para o seu uso no mapeamento de plágios,
os próprios sites de buscas trazem bons retornos.

7.3 Formatação de trabalhos


Antes de começarmos a falar especificamente sobre citações e referências bibliográficas, devemos conhecer
alguns aspectos estruturais do trabalho acadêmico/científico. Independentemente da natureza do trabalho
científico, ele deve ser baseado em normas ditadas pela ABNT. Essas normas devem ser verificadas com frequên-
cia, pois a Associação faz atualizações constantes. Sempre que for consultar algum livro, é interessante buscar a
edição mais nova para que não corra o risco de entrar em contato com normas de formatação antigas.
A estrutura de tese, dissertação ou de trabalho acadêmico compreende elementos pré-textuais, elementos tex-
tuais e elementos pós-textuais. Segundo as normas da ABNT, esses elementos dividem-se em:

125
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Quadro 7.1 – Divisão dos elementos em trabalhos acadêmicos

Capa (obrigatório)
Lombada (obrigatório)
Folha de rosto (obrigatório)
Ficha catalográfica / verso da folha de rosto (obrigatório)
Errata (opcional)
Folha de aprovação (obrigatório)
Dedicatórias (opcional)
Pré-textuais Agradecimentos (opcional)
Epígrafe (opcional)
Resumo em português (obrigatório)
Resumo em língua estrangeira (obrigatório)
Lista de ilustrações (opcional)
Lista de abreviaturas e siglas (opcional)
Lista de símbolos (opcional)
Sumário (obrigatório)

Introdução
Textuais Desenvolvimento
Conclusão

Referências (obrigatório)
Bibliografia (opcional)
Pós-textuais Glossário (opcional)
Apêndice(s) (opcional)
Anexo(s) (opcional)

Legenda: Conhecer os elementos textuais exigidos pela ABNT e como utilizá-


-los é fundamental para a elaboração de um trabalho acadêmico.
Fonte: ABNT (2001).

126
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Considerando o foco do nosso capítulo atual, falaremos mais especificamente dos elementos textuais e dos pós-
-textuais. Para isso, vale destacar algumas definições:

1) Elementos textuais

a. Introdução: nesse momento, o produtor do texto deverá apresentar o assunto escolhido para o desenvol-
vimento do trabalho, de modo que o problema/questionamento fique claro ao seu leitor. Também faz-se
necessário justificar os motivos que levaram à escolha do tema, bem como de sua delimitação, já que
devemos pensar no tempo disponível que há para desenvolver um bom trabalho. Não é possível discutir
de modo eficiente um tema muito abrangente. Além disso, esse é o local em que se mostra os objetivos
da pesquisa e quais são as hipóteses iniciais, a apresentação do problema investigado e seu relaciona-
mento com outros trabalhos, formando os antecedentes que justificam a pesquisa.
Deve incluir a formulação de hipóteses, delimitações do assunto e os objetivos propostos. Considera-se
uma boa introdução aquela que possibilita ao leitor uma visão clara do que será desenvolvido nos capí-
tulos que darão forma ao trabalho.
Sendo a introdução umas das partes mais importantes do trabalho, uma orientação para a sua escrita é
deixá-la para o último momento. Dessa forma, conseguimos preparar um texto mais coerente, em que
todas as informações essenciais estejam presentes. Cabe ao escritor cuidadoso retornar a essa parte do
trabalho assim que finalizar o desenvolvimento e a conclusão.
A revisão faz-se necessária para possíveis adequações. O escritor que não o faz corre o risco de deixar
informações na introdução que não foram contempladas no desenvolvimento do trabalho ou ter incluído
informações importantes ao longo de seu texto que deveriam ser contempladas na introdução.
b. Desenvolvimento: é a fase de fundamentação lógica do tema. Deve ser organizado em divisões e seções,
que variam em função da natureza do assunto tratado. Nesse momento, o autor desenvolve os temas que
fundamentarão seu trabalho. Cada tema de interesse será tratado em um capítulo, possibilitando o apro-
fundamento de temas e subtemas componentes do trabalho. Cada capítulo gerado neste item conterá a
exposição ordenada e pormenorizada do assunto.
c. Conclusão: a finalização do trabalho, em alguns casos, pode parecer uma das tarefas mais difíceis. Aquela
problemática apresentada na introdução deverá aqui ser respondida. Também há a necessidade de
encerrar a discussão do texto, de conclui-lo, mostrando qual hipótese realmente foi alcançada ao final
da pesquisa. Por ser um trabalho científico, deve ser claro e objetivo. O autor não poderá incluir nenhum
dado novo, já que se trata de um encerramento. O que se deve fazer aqui é expressar sua opinião sobre o
assunto com base nas análises realizadas, indicando respostas à problemática do tema exposto. A con-
clusão deve ser clara e concisa e referir-se às hipóteses levantadas e discutidas no trabalho. O autor deve
manifestar seu ponto de vista sobre os resultados obtidos e ao seu alcance.
Todo trabalho desenvolvido pelo autor leva em consideração, sempre, o objetivo do trabalho. O objetivo como
visto é transformado em um problema, dando origem a uma hipótese; a atividade do autor é demonstrar a vera-
cidade ou não de seu objetivo, sua hipótese; assim, pensando cada passo, cada capítulo vai em direção à propo-
sição feita pelo autor.
Nesse ponto, a conclusão do trabalho é o momento em que o autor, após discutir os dados levantados, conclui,
mostrando a relação que cada capítulo estabeleceu com o objetivo do trabalho. Havendo levantamento estatís-
tico, o trabalho vai requerer um capítulo extra. Esse capítulo recebe o nome de discussão, não havendo dados
estatísticos; no caso de monografias, é suficiente fazer uma discussão dos capítulos.

127
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Concluir é ainda transmitir o conhecimento que você adquiriu durante o trabalho. Não são aceitáveis opiniões
pessoais e nem informações novas, conforme supracitado. Ao finalizar, é preciso dizer o que se concluiu, ou seja,
deve-se informar quais foram as conclusões obtidas. Muitos autores novos parecer ter receio de fazer afirmações,
o que deixa lacuna para interpretações, muitas delas enganosas, de que o autor não atingiu o objetivo proposto,
ou ainda não desenvolveu um trabalho adequado. Para evitar esse problema, é necessário tomar cuidado com
a linguagem selecionada, sendo o mais claro e objetivo possível. Um texto científico deve apresentar clareza de
informação, sem permitir várias interpretações.

2) Elementos pós-textuais

a. Referências (obrigatório): elenco final das obras efetivamente utilizadas para a elaboração do trabalho. As
entradas das referências deverão sempre ser feitas em ordem alfabética, tendo como base o sobrenome
do autor e o título da obra. Devem obedecer a uma ordem alfabética única de sobrenome de autor e título
para todo o título de material consultado. Existe uma variedade de estilos para a apresentação das refe-
rências bibliográficas. Para esse trabalho, deve ser obedecida a NBR-6023/2002 da ABNT, sobre a qual
falaremos mais à frente.
É importante frisar que a referência bibliográfica pode ser colocada no rodapé de cada página, infor-
mando ao leitor a obra consultada e que fundamenta, por meio de uma citação, aquilo que foi apre-
sentado pelo autor. É fundamental lembrar que as citações devem seguir as explicações do autor e em
nenhuma hipótese as substituirão. Elas podem ainda ser relacionadas ao final do trabalho, em uma lista
em ordem alfabética de sobrenome e seguindo a NBR-6023/2002.
b. Bibliografia: elementos consultados, mas não efetivamente utilizados.
c. Glossário: vocabulário de termos que necessitam de explicação.
d. Anexos e/ou apêndices (opcionais): consiste em tudo o que pode ampliar a discussão do texto, desde que
indispensável para a compreensão global das ideias nele presentes. Cuidado! Não devemos colocar aqui
material para aumentar o número de páginas. Eles devem fazer sentido e ser realmente necessários. É
necessário que o material seja complementar ao texto, devendo ser incluído somente quando imprescin-
dível à compreensão deste (textos de lei, tabelas, figuras, formulários ou questionários utilizados).

128
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

7.4 Apresentação de citação em documentos


De acordo com a ABNT (NBR-10520, 2001), a citação é: “menção, no texto, de informação extraída de outra
fonte”. Ela é muito importante, pois ajuda a justificar suas argumentações. Só devemos ter cuidado para que
as citações realmente sejam necessárias para o nosso trabalho, para que não pareça que somente queremos
aumentar o número de páginas.

Para conhecer mais detalhes sobre as regras de citação, leia as normas da ABNT presente
em: ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10520: informação e documentação
– apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, 2001.

Figura 7.2: Citação.

Legenda: A citação permite que nos relacionemos com ideias que não são nos-
sas, mas que compartilhamos ou criticamos, apresentando argumentações.
Fonte: 123RF

129
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Assim como as referências, também há normas para esse elemento do trabalho científico, a saber, a citação.
Um dos pontos principais a se pensar é o significado desse termo, pois, quando utilizamos palavras de outras
pessoas, devemos indicar quem é o responsável pela mensagem. Se isso não for mencionado, pode-se correr o
risco de ser responsabilizado legalmente, conforme mencionado no tópico anterior. Você deve lembrar-se disso!

Glossário

Citação: 1 - Ato ou efeito de citar. 2 - Texto que se cita. 3 - Intimação judicial ou em nome de
qualquer autoridade (AURÉLIO, 2007).

Para trabalhar com as normas aqui apresentadas, é necessário que se inicie a ordem alfabética pelo sobrenome
do autor, seguida pelo nome da instituição responsável, ambas em letra maiúscula. As entradas pelo sobrenome
do autor, pela instituição responsável ou título incluído na sentença devem ser em letras maiúsculas e minúsculas
e, quando estiverem entre parênteses, devem ser em letras maiúsculas. Aqui, estamos nos referindo a momen-
tos em que a nossa produção necessita que façamos uma ligação entre as nossas ideias e referências de outros
estudiosos da área. A essas referências chamamos de citação, que se subdividem em:
a. Citação indireta: quando mencionamos as ideias de um autor sem copiar o texto criado por ele, conforme
vemos no exemplo a seguir:

A ironia seria assim uma forma implícita de heterogeneidade mostrada, conforme a classificação pro-
posta por Auhier-Reiriz (1982).

b. Citação direta: transcrição do texto de um autor sem fazer a paráfrase de suas ideias, realmente reprodu-
zindo, de forma fidedigna, as palavras por ele utilizadas. Nesse caso, temos mais de uma forma de repre-
sentar esse material sem que incorramos em plágio, conforme você verá a seguir:

“Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da filosofia”


(DERRIDDA, 1982, p. 223).

Vale destacar que, nesse caso, a indicação do autor deve aparecer entre parênteses, com o sobrenome em
maiúsculas, bem como a indicação da página em que se encontra o trecho mencionado. Diferentemente
do que acontece na citação indireta, em que não se menciona o número de página.
Deve-se especificar no texto página(s), volume(s), tomo(s) ou seção(ões) da fonte consultada, se houver.
Estes devem seguir a data, separados por vírgula e precedidos pelo designativo, de forma abreviada.

Freud (1974, v. 21, p. 81-171) define a dualidade [...]

Quando se utiliza transcrição de até três linhas, estas deverão aparecer entre aspas duplas. A utilização
das aspas simples somente será permitida quando o autor da obra consultada estiver referindo-se a um
terceiro, o que seria uma citação dentro de outra citação.

130
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

As transcrições no texto de até três linhas devem estar encerradas entre aspas duplas. As aspas simples
são utilizadas para indicar citação no interior da citação.

Exemplo:
“Não se mova, faça de conta que está morta” (CLARAC; BONNIN, 1985, P.72).
Segundo Pereira de Sá (1995, p. 27), [...] “por meio da mesma ‘arte de conversação’ que abrange tão
extensa e significativa parte da nossa existência cotidiana”.

Diferentemente do que vimos anteriormente, ao utilizar citações de mais de três linhas, estas deverão ter um
destaque maior no trabalho, por isso, o afastamento da margem esquerda deverá ser de 4 cm. O tamanho da
letra também deverá ser diferenciado, uma letra menor do que a do texto corrente e sem aspas. As transcrições
no texto com mais de três linhas devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, com fonte
tamanho 10, espaço simples e sem aspas.
A teleconferência permite ao indivíduo participar de um encontro nacional ou regional sem a
necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comuns de teleconferência incluem o uso da
televisão, telefone, e computador. Através de áudio conferência, utilizando a companhia local
de telefone, um sinal de áudio pode ser emitido em um salão de qualquer dimensão (NICHOLS,
1993, p. 181).
Todo tipo de inclusão ou exclusão de qualquer parte que seja, independentemente de sua extensão, deve estar
indicado na citação. Cada alteração terá uma indicação diferente: a) exclusão de uma parte [...], inserção de infor-
mações ou comentários []; c) destaques: utiliza-se o termo “grifo nosso”.
Devem ser indicadas supressões, interpolações, comentários, ênfases ou destaques do seguinte modo: a) supres-
sões: [...]; b) interpolações, acréscimos ou comentários: [ ]; ênfases ou destaques: grifo ou negrito ou itálico.
Qualquer trabalho pode ser utilizado como referência, mesmo as apresentações orais. Para essa indicação, deverá
ser utilizada, ao final do exemplo, a indicação de informação verbal. As questões de espaçamento obedecerão às
mesmas regras apresentadas anteriormente.
Algo parecido acontecerá com os trabalhos que ainda não foram publicados. Eles deverão ser referenciados,
se utilizados, somente acrescentando a informação de que o trabalho ainda não está disponível para consulta.
Dessa forma, o leitor saberá que não adianta buscar a fonte no momento da produção do texto.
Quando se tratar de dados obtidos por informação oral (palestras, debates, comunicações), indica-se entre
parênteses a expressão “informação verbal”, mencionando-se os dados disponíveis somente em nota de rodapé.

Tricart constatou que, na Bacia Resende, no Vale do Paraíba, há indícios de cones de dejecção (informação
verbal).

Na citação de trabalhos em fase de elaboração, deve ser mencionado o fato, indicando-se os dados disponíveis
somente em nota de rodapé.

Poetas Rio-grandenses, de autoria de Elvo Clemente, a ser editado pela EDIPUCRS, 2001 (em fase de elabo-
ração).

131
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Para enfatizar trechos da citação, deve-se destacá-los indicando essa alteração com a expressão “grifo nosso”
entre parênteses, após a idealização da citação.

[...] para que não tenha lugar a produção de degenerados, quer physicos quer morais, misérias, verdadeiras
ameaças à sociedade (SOUTO, 1916, p. 46, grifo nosso).

7.5 Notas de rodapé


Segundo a ABNT (NBR 10520, 2001), as notas de rodapé são “indicações, observações ou aditamentos ao texto
feito pelo autor, tradutor ou editor [...]”. É uma opção para indicar a fonte de pesquisa utilizada no trabalho, de
fazer referência e indicar de onde foi tirada a citação ou a ideia apresentada. Também é possível utilizar esse
espaço para apresentar traduções presentes do desenvolvimento do texto. Indicam a fonte de onde é tirada
uma citação, permitindo uma eventual comprovação, inserindo no trabalho considerações complementares e
trazendo a versão original de alguma citação traduzida no texto.

... produtividade, flexibilidade e reduzir os prazos e custos, muitas empresas adquirem ferramentas compu-
tacionais, tais como CAE1/CAD1/CAPP/CAM1/MRP1, principalmente para setores de engenharia e controle da
produção.

Algumas expressões latinas são importantes para o entendimento dessas notas de rodapé:
• ibid: mesma obra de um mesmo autor;
• opcit: obra citada;
• idem: obras diferentes de um mesmo autor;
• apud: usada em citação, isto é, quando o trabalho citado não foi consultado pessoalmente pelo citante.
Essa citação deve aparecer entre aspas e sucedida de apud, que significa “citado por”.

Na citação: de acordo com Malavolta apud Cerqueira (25) “...”; na referência bibliográfica (este termo
deverá ser utilizado quando eu retiro a fala de um autor que se refere a um terceiro, sempre em nota
de rodapé. Só devemos utilizar este tipo de fonte quando não houver nenhuma possibilidade de ter
acesso ao original):
Furtado, Celso. Formação econômica do Brasil. Apud CARTAXO, Francisco. Economia nordestina.
São Paulo: Globo, 1969. p. 20.

• et al. (e outros): usado em referência bibliográfica após o 1º, 2º ou 3º autor quando a obra foi escrita por
mais de três autores.
• In: (dentro de): é usada em referência bibliográfica de partes de publicações avulsas, ou seja, capítulo de
livro ou trabalho apresentado e publicado dentro de algum evento. Em referência de artigo periódico não
se usa In.

132
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

7.6 Referências
Devido à grande variação de tipos de trabalhos científicos, são várias as fontes de consulta. No caso desta uni-
dade, abordaremos as mais utilizadas. Sobre as demais, faz-se necessário buscar atualizações constantes da
ABNT em bibliotecas, já que essas normas são atualizadas constantemente.

Figura 7.3: Referência.

Legenda: Maneira de indicar ao leitor os locais e materiais de consulta.


Fonte: 123RF

As referências informam ao leitor a respeito das fontes que serviram de referência para a realização da pesquisa,
usando as normas estabelecidas pela ABNT NBR 6023.

Quadro 7.2 – Modelos de referências

Um autor.

SOUNIS, E. Bio-estatística: princípios fundamentais e metodologia estatística às ciências biológicas. 2. ed.


São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975. 230p.

Dois autores.

BORDENAVE, J. D., PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1986.


312p.

Três autores.

HELT, S. R. M., BONFIM, M. N. C., MARTINS, R. C. Estatísticas em microcomputadores. Rio de Janeiro: LTC,
1985. 163p.

133
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Quatro autores ou mais.

PURDY, R. J. et al. Curriculum y administration escolar. Buenos Aires: Paidos, 1969. 41. (Biblioteca del
Educador Contemporaneo, 88)

Sem autor.

WORLD list of scientific periodicals publish in the years 1900-1960. 4ed. London: Butterworths, 1963-65. 3v.

Mesmo autor da citação.

______. Gramática do português contemporâneo. 3. ed. Belo Horizonte: Bernardo Alvares, 1972. 510p.

Tradução.

SPIEGEL, M. R. Estatísticas. Tradução Pedro Consentino. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1967. 580p.

Capítulo de livro.

COELHO, E. P. Mário Sacramento e a evolução do neo-realismo. In: ________. O reino flutuante. Lisboa:
Edições 70, 1972. P. 123-29.
DIETRICH, S. M. de C. Inibidores do crescimento. In: FERRI, M. G. (coord.) Fisiologia vegetal. 2. ed. São
Paulo: EPU, 1979. Cap.7, p. 193-212.

Publicação oficial.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Economia e Planejamento. Saneamento Básico no Estado de São
Paulo, 1970. São Paulo: SEPLAN, 1970.
BRASIL. Ministério da Economia e Planejamento. Estatísticas nos municípios do ABC. 3. ed. Brasília: M. E.
P., 1963. 630p.

Entidade coletiva.

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Relatório da diretoria geral. 1984. Rio de Janeiro, 1985. 40p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (Rio de Janeiro). Normalização da documentação no
Brasil. Rio de Janeiro: IBBD, 1960. 120p.

Artigo de periódico.

RIOS, I. C. Psicoterapia na instituição pública sob o argumento psicanalítico. Temas. São Paulo, v.21,
n.42, p.406-16, jul/dez, 1991.

Periódico no todo (coleção)

DIÁLOGO: Revista da Cultura. São Paulo: Sociedade Cultural Nova Crítica, 1955.

Artigo de jornal.

IZAGUIRRE, M. Confronto com PMDB leva ministro a pedir demissão. Folha de São Paulo. 28 ago. 1993.
Seção Brasil. P. 5.

134
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Tese.

ZEDU, P. M. M. Escalas perceptivas visuais e tatual - cinestésica de espessura e área em observadores


normais e cegos. Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, USP, 1991. 104f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia). 1991.

Mapas.

SUDENE. Departamento de Recursos Naturais. Divisão de Agrologia. Mapa exploratório: reconhecimento de


solos, Estado de Sergipe. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1964. Ex. 1:400.000. Color.

Evento.

Total:
CONGRESSO LATINO AMERICANO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 1. 1980, Salvador. Anais. São
Paulo: Associação Paulista de Bibliotecários, 1981. 180p.
Parcial:
ORLANDO FILHO, J. LEME, E. J. de A. Utilização agrícola de resíduos de agroindústria canavieira. In:
SIMPÓSIO SOBRE FERTILIZANTES NA AGRICULTURA BRASILEIRA, 1984, Brasília. Anais. Brasília: EMBRAPA,
Departamento de Estudos e Pesquisas, 1984. 642p. p. 451-75.

Resenha de livro.

FUNARI, P. P. Cultura Popular na antiguidade clássica. São Paulo: Contexto, 1989. Resenhado por LOSNAK, C.
J. História. São Paulo, v.9, p. 181-83, 1990.

CD-ROM

Microsoft Project for Windows 95, version 1.1: project planning software. [s.l.]: Microsoft Corporation, 1995.
Conjunto de Programas. 1 CD-ROM.

E-mail.

ACCIOLY, F. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <mtmendes@uol.com.br>


em 26 jan. 2000.

Banco de dados.

BIRDS from Amapá: Banco de Dados. Disponível em <http://www.bdt.org/bdt/avifauna/aves>. Acesso em:


25 nov. 1998.
ÁCAROS no Estado de São Paulo (Enseiusconcordis): banco de dados preparado por Carlos H. W.
Flechtmann. In: FUNDAÇÃO TROPICAL DE PESQUISA E TECNOLOGIA “ANDRÉ TOSELLO”. Bases de Dados
Tropical: no ar desde 1985. Disponível em: <http://www.bdt.org /bdt/acarosp>. Acesso em: 28 nov. 1998.

Legenda: Durante a realização de uma pesquisa acadêmica, muitas fontes são uti-
lizadas e precisam ser referenciadas ao final do trabalho.
Fonte: ABNT (2002).

135
Leitura e Produção de Textos | Unidade 7 – Aprendendo a utilizar as normas da ABNT

Para escolher as fontes que serão utilizadas em nossos trabalhos, faz-se necessário desenvolver um olhar crítico
sobre o tipo de estudo que se está fazendo; com isso, conseguimos buscar meios mais apropriados para o tipo de
trabalho que está sendo desenvolvido.
Não há uma regra para a escolha desses materiais, já que será a natureza do estudo que norteará essa seleção.
O que a ABNT determina é a maneira que iremos identificar tudo o que foi utilizado para a produção do estudo.
Com certeza, algumas fontes ficaram fora dessa explanação, justamente devido a essa diversidade supracitada.
Isso acontecerá também em vários outros materiais, já que o que queríamos aqui é mostrar a importância da
criação da Associação e das normas por ela determinadas. Além disso, conforme já citado anteriormente, as
normas sofrem alterações periodicamente e faz-se necessária a consulta a um material de referência atualizado
constantemente.

136
Considerações finais
Neste capítulo, você pôde conhecer um pouco mais sobre a ABNT, uma
Associação que apresenta algumas normas para várias áreas de conheci-
mento, seja para a produção de produtos ou para a criação e a realização
de processos. Também conseguiu compreender a necessidade de criação
desse órgão e um pouco de sua história.
A partir dessa informação, foi-lhe demonstrada a estrutura determinada
para a apresentação de todo trabalho científico e acadêmico, desta-
cando-se alguns elementos que são mais polêmicos nas instituições de
ensino, citação e referências, acrescidos da importância da autoria e da
necessidade de indicação de autores consultados.
Toda consulta e citação é sempre bem-vinda para a produção textual,
desde que não a tomemos como nossa, não tomemos posse de algo que
não é nosso. Aceitar e concordar com a opinião de outras pessoas é natu-
ralmente possível; para isso, é preciso que façamos uma análise pessoal e,
se formos nos basear em opiniões alheias, devemos indicar isso em nossa
produção, seja de maneira direta ou indireta. Para essa tarefa, precisamos
nos orientar e ter como obra de referência as normas de citação e refe-
rências.
Bons estudos!

137
Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Conheça a ABNT. Dis-
ponível em: <http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt>. Acesso em:
8 fev. 2017.

______. NBR 6023: Informação e documentação - Referências - Elabora-


ção. Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR 10520: Informação e documentação – apresentação de cita-


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cos - Apresentação. Rio de Janeiro, 2001.

AURÉLIO. Dicionário de Português. Citação. Disponível em: <https://


dicionariodoaurelio.com/citacao>. Acesso em: 8 fev. 2017.

BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e con-


solida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília/DF, fev. 1998. Disponível em: <http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em: 8 fev. 2017.

______. Lei nº 10.695, de 1º de julho de 2003. Altera e acresce parágrafo


ao art. 184 e dá nova redação ao art. 186 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal, alterado pelas Leis nos 6.895, de 17 de
dezembro de 1980, e 8.635, de 16 de março de 1993, revoga o art. 185 do
Decreto-Lei no 2.848, de 1940, e acrescenta dispositivos ao Decreto-Lei
no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal. Diário
Oficial da União, Brasília/DF, jul. 2003. Disponível em: <http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.695.htm>. Acesso em: 1 abr. 2017.

138
Unidade 8
Falando em público

Para iniciar seus estudos


8
Apesar de parecer simples, falar em público é um grande desafio. Quem
nunca passou por uma situação em que precisou fazer uma apresentação,
seja na faculdade ou no trabalho, e sentiu-se nervoso ou constrangido?
Ou então, em uma situação social em que foi mal interpretado e o que era
para ser um agradável encontro de amigos tornou-se um ringue de briga?
O que será que acontece? Obviamente, existe um problema de comuni-
cação; mas, por parte de quem: dos que ouvem ou de quem comunica?
Será que, quando você fala, se expressa de forma eficiente? Essas são
algumas das questões que responderemos ao longo desta última unidade
da disciplina Leitura e Produção Textual.

Objetivos de Aprendizagem

• Conceituar oratória.
• Elucidar as principais barreiras à comunicação oral.
• Elaborar discursos orais.
• Distinguir os tipos de discursos.
• Reconhecer a importância do cuidado com a postura em uma
apresentação em público.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

8.1 O que é oratória


De acordo com Lopes (2000), o termo oratória origina-se do latim oratoria e significa a arte de falar ao público
ou falar em público. Na Grécia Antiga, a oratória era estudada como componente da retórica, ou seja, na com-
posição e na apresentação de discursos, e era considerada uma importante habilidade na vida pública e privada,
haja vista que, na Antiguidade Clássica, cada cidadão falava em seu próprio nome, uma vez que não existiam
representantes de um cliente ou um círculo social. Assim, era a habilidade de expressar-se em público que deter-
minava quão bem-sucedida uma pessoa conseguiria ser.
As técnicas eram ensinadas primeiro pelos autointitulados “sofistas”, conhecidos por cobrar taxas para “tornar
forte o mais fraco argumento” e treinar seus alunos para serem os “melhores.
No entanto, se antes a oratória era considerada uma arte, hoje, ela tornou-se um fator-chave para diferentes
áreas de atuação profissional. Em um mundo de comunicação rápida e constante, dominar a habilidade de falar
em público de forma clara e estruturada é tanto uma exigência de mercado quanto um diferencial.
Segundo o professor Silvio Luzardo Mello (2006), a desenvoltura verbal tornou-se um dos grandes requisitos de
inserção no mercado de trabalho, que está cada vez mais exigente e competitivo. Uma pesquisa realizada pela
Education Foundation e divulgada pelo Jornal do Brasil aponta que as três principais habilidades que as 200
maiores empresas do mundo buscam em um colaborador são trabalhar em equipe, habilidades interpessoais e
comunicação oral.

PINTO, Sandra Regina da Rocha. Capacitação profissional do Administrador: uma inves-


tigação sobre as habilidades requeridas e a formação universitária adquirida. Disponível em:
<http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnANPAD/enanpad_1999/RH/1999_RH5.
pdf>.

Diante desse panorama, fica claro o motivo do crescente aumento do número de cursos de oratória em todo país.
Existem cursos para diferentes perfis, ministrados pelos mais diversos profissionais: professores, fonoaudiólogas,
coachings etc. Todos visam aprimorar e desenvolver as capacidades de utilização da voz, dos gestos e da expressi-
vidade emocional e corporal por meio de técnicas e recursos para a superação do medo e da timidez de falar em
público e de relacionar-se com os outros.

Você concorda que as pessoas que possuem a habilidade de falar em público são, em geral,
mais bem-sucedidas que as demais? Você acredita que a oratória poderia contribuir para o
seu desempenho profissional e o seu convívio social? De que maneira?

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

8.2 Principais barreiras à comunicação oral


Vimos, na primeira unidade, que a comunicação só ocorre quando há um entendimento entre o emissor e o
receptor ou, nas palavras de Pimenta (2006, p. 19), “[quando] uma pessoa consegue fazer com que sua ideia seja
captada e compreendida por outra (s) pessoa (s), nesse momento ocorreria o fenômeno da comunicação”.
Assim, comunicar é a arte de bem gerir as mensagens, tanto as enviadas quanto as recebidas em processos inte-
racionais. No caso da comunicação oral, a transmissão da mensagem é imediata e sua compreensão pode ser
auxiliada por entoação/entusiasmo, ritmo, gestos e outros recursos por meio dos quais o emissor pode transmitir
sentimentos, intenções e opiniões. O fato de ambos – emissor e receptor – conhecerem o contexto também
ajuda a tornar a comunicação mais breve.
No entanto, é importante observar que há muito mais envolvido no fenômeno da comunicação do que apenas o
emissor e o receptor, e que nem sempre os demais elementos envolvidos atuam positivamente no processo. Na
verdade, muitos deles chegam a tornar-se verdadeiras barreiras à comunicação oral.
No “Manual de Técnicas da Comunicação” (2012), o autor diz poder agrupar todos os principais fatores que atra-
palham a comunicação em seis grandes áreas. Por uma questão didática, optamos por destacar quatro delas, que
acreditamos serem as principais barreiras a comunicação oral.

8.2.1 Fatores que constituem barreiras à comunicação

Fatores pessoais: os fatores pessoais compreendem elementos que vão desde o grau de conhecimento do
enunciador a respeito do assunto sobre o qual irá discursar ou palestrar até o tom de voz empregado na hora da
apresentação. O orador que apresenta fluência verbal e linguagem corporal positiva tem maiores chances de
conseguir uma comunicação efetiva com seus interlocutores. Manter o contato visual durante a transmissão da
mensagem é imprescindível, assim como observar a expressão facial dos destinatários; eles são o termômetro do
seu desempenho.
Fatores sociais: os fatores sociais dizem respeito à formação cultural, política e social. Em outras palavras, deve-
mos conhecer nosso público-alvo: saber para quem falamos; de que lugar discursamos; e qual o melhor modo
de fazer isso. O segredo de uma boa apresentação é conhecer o público para o qual se fala. Devemos conhecer
nosso interlocutor, sua formação cultural, ideológica e religiosa; qual tipo de educação ele recebeu; qual papel
social desempenha.
Fatores de personalidade: os fatores de personalidade podem ser divididos basicamente em dois tipos: de com-
portamentos e de conclusões (nomenclaturas meramente didáticas):
• “Julgamentos antecipados”: diz respeito a determinados comportamentos que acabam por atrapalhar
a comunicação, por exemplo, a postura de autossuficiência de alguns interlocutores frente à apresenta-
ção de um novo conteúdo.
• “Conclusões confusas”: tratam-se dos equívocos cometidos por diversas pessoas que tendem a con-
fundir assuntos de alçada pública com privada e sentido conotativo e denotativo.
Fatores de linguagem: sabe a máxima “Sou responsável pelo que digo, não pelo o que você entende”? Então,
ela resume bem a quarta barreira à comunicação. Os fatores de linguagem abordam a atribuição de sentido que
cada interlocutor dá às palavras, mais especificamente a falta de consenso na atribuição desse sentido.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

Outra barreira ao comunicar-se é o rumor. Trata-se de um fenômeno que consiste em alte-


rar a mensagem e que, durante a sua transmissão, age segundo três leis: debilitação, acen-
tuação e assimilação. Acesse o link: <https://es.scribd.com/document/38074115/tecnicas-
-de-comunicacao>.

8.3. Elaborar Discursos Orais


Os discursos, enquanto forma oral de comunicação, têm como objetivo fazer com que a ideia de uma pessoa
“seja captada e compreendida por outra(s) pessoa(s)” (PIMENTA, 2006, p. 19), garantindo uma comunicação efi-
caz.
À luz da oratória, o ato de expressar-se em público e/ou para um público vai além da transmissão de conteúdo, de
“tornar comum” o pensamento compartilhado por meio do ato comunicativo (PIMENTA, 2006, p. 19); é preciso
ser capaz não apenas de informar o(s) outro(s), como também e, principalmente, de transformar suas emoções.
Assim, é necessário ter em mente cinco elementos fundamentais:

• Quem fala
• O que diz essa fala
• A quem ela se destina
• Que meio foi utilizado para enviar essa mensagem
• Quais são as conseqüências/resultados

Você saberia dizer o que Nelson Mandela, Barack Obama, Martin Luther King e Steve Jobs
têm em comum? Acesse o link: <http://soap.com.br/blog/4-grandes-oradores-e-seu-
-legado-para-lideres-que-falam-em-publico/> e descubra.

143
Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

Mas em que consiste a elaboração de um bom discurso oral?

Antes de começar a preparar um discurso, o orador deve refletir sobre seus objetivos, que podem aparecer sepa-
rados, ao mesmo tempo ou de forma alternada durante a execução oral. Algumas opções são:
• informar;
• persuadir;
• motivar;
• entreter;
• promover-se.
Depois de traçados os objetivos, o próximo passo refere-se ao conteúdo sobre o qual se irá discursar. Recomenda-
-se que o orador escolha um tema sobre o qual possua autoridade ou interesse, uma vez que isso facilitará a
apresentação e contribuirá para passar segurança ao público.
Caso isso não seja possível, aconselha-se fazer uma pesquisa prévia a respeito do tópico em questão, de modo a
apresentá-lo sob uma perspectiva ainda não abordada.
Como já visto anteriormente, conhecer a(s) pessoa(s) a quem sua fala se destina é fundamental para o sucesso
de qualquer exposição. Assim, o orador deve buscar sempre adequar sua apresentação à plateia, de modo que é
importante informar-se a respeito dos indivíduos que compõem o seu público-alvo. Tente conseguir o máximo
de informações: idade, sexo, grau de escolaridade, crença religiosa, padrão sociocultural etc. Tais informações lhe
ajudarão a preparar-se e a prever possíveis colocações e dúvidas.
Outro ponto que deve ser considerado é o local onde será feito o discurso/palestra/exposição e os recursos dis-
poníveis. Pode parecer um item superficial e que nem deveria ser considerado; no entanto, informações como
capacidade do auditório, recursos tecnológicos disponíveis e existência ou não de equipe de apoio fazem toda a
diferença na hora de uma apresentação.

Você acredita que se informar previamente sobre todos esses aspectos ajuda na hora de dis-
cursar ou contribui para aumentar a ansiedade?

144
Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

8.3.1 Estrutura do discurso

É importante estruturar previamente o discurso em três partes: introdução, corpo e conclusão.


Introdução: refere-se à parte do discurso na qual o orador apresenta o tema que será abordado, a metodologia
escolhida para tal e o que pretende com isso. Alguns oradores também costumam usar a introdução para enfati-
zar os pontos mais relevantes a serem trabalhados. Também é a parte na qual os responsáveis pela apresentação
aproveitam para apresentar-se.
Como cativar a plateia:
• Respeito antes de tudo (pontualidade, dignidade).
• Cuidado para não projetar uma imagem de infalibilidade e superioridade.
• Brinque com seus defeitos, porém, sem se expor.
• Empregue exemplos que sejam familiares ao assunto abordado e à experiência de seus ouvintes.
• Fique atento aos sinais que a plateia lhe envia para reagir adequadamente.
Corpo: refere-se ao desenvolvimento efetivo do discurso, durante o qual é necessário manter uma linguagem
clara e objetiva, sem qualquer margem para ambiguidades ou interpretações diversas. O público necessita com-
preender exatamente o que você deseja comunicar.
• Não confie em sua memória. Leve suas anotações, mas não as leia para o público.
• Mantenha a linguagem clara, use frases curtas e com ritmo, fazendo uma transição lógica entre os pon-
tos.
• Ordene os seus argumentos e apoie-se em dados e/ou exemplos que ajudem o auditório/público a com-
preender a mensagem que você quer passar.
• Fique atento à sua linguagem corporal, mantenha contato visual com a plateia, encorajando as perguntas
e percebendo o grau de compreensão dos interlocutores.
Conclusão: o encerramento a de um discurso deve vir acompanhado de uma súmula de tudo que foi apresen-
tado. Essa é a melhor maneira de encerrar um discurso, pois, ao apresentar um breve resumo do conteúdo, o
orador consegue avaliar seu desempenho e reforçar seus objetivos.

8.4. Distinguir os tipos de discurso


Uma vez que a oratória se trata de um método de discurso, deve-se ter bem definidos alguns termos fundamen-
tais para sua compreensão. São eles: eloquência e retórica.
• O termo eloquência deriva do latim eloquentia e é tido como a base da prática. Seria a capacidade inata
que cada indivíduo tem de expressar-se, persuadir outra pessoa e assim por diante. Diz respeito aos
talentos e à potencialidade, os quais podem ser aperfeiçoados e desenvolvidos.
• A retórica origina-se do grego rhetoriké e designa o conjunto de regras relativas à capacidade da eloqu-
ência. É o tratado que encerra essas regras.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

8.4.1 Tipos de oratória

• Oratória política: é caracterizada pelo uso da palavra em defesa de causas consideradas comuns a todos,
ou seja, quando algum membro do poder executivo de interesse do executivo, em exercício de represen-
tação da sociedade, defende um serviço ou interesse da população. Esse tipo de discurso é marcado por
uma forte carga demagógica e está relacionado a reuniões de caráter eleitoral, comícios.
• A eloquência forense ou judiciária: trata-se do uso da palavra pela esfera judiciária, tanto por parte da pro-
motoria quanto da acusação. Seu uso requer conhecimento da ciência jurídica e dos detalhes dessa prá-
tica profissional, pois tem como finalidade a comoção e o convencimento do público constituído pelos
tribunais de júri.
• Oratória sacra: pode ser caracterizada como o uso da palavra por chefes religiosos para a transmissão de
seus respectivos dogmas e doutrinas.
• Oratória acadêmica ou literária: diz respeito ao modo como a palavra é usada para abordar assuntos de
cunho acadêmico e literário, com destaque para o ambiente da universidade.
• O discurso de circunstância: diferencia-se das demais práticas por não obedecer a formalismos; não tem
lugar certo e nem público definido, podendo ser usado por qualquer pessoa da sociedade. É também
chamado de eloquência do homem moderno, que faz uso do gênero em qualquer situação que o cerca.
Antes de elaborar um discurso, é importante ter clareza quanto ao tipo de discurso que se quer utilizar.

8.4.2 O improviso

Diferentemente do que se acredita, o discurso de improviso requer muito preparo e dedicação. É preciso estar
atento, ser hábil e procurar informar-se sobre possíveis abordagens. Um bom orador precisa saber improvisar. Ele
jamais deixa transparecer o despreparo e sempre começa pelo assunto que melhor conhece, puxando da memó-
ria trechos de discursos anteriores para enriquecer o improviso. Segundo Leonardi (2002), na oratória “não há
lugar para os improvisos repentinos e inspirações súbitas”.

8.4.3 Sustentação Oral

Mais do que bem escrita, a sustentação oral precisa ser bem proferida. Seu orador deve apresentar fluência,
cadência, clareza e firmeza ao discursar. Leonardi (2002) esclarece que é necessário passar convicção, pois a ora-
tória forense é uma arte para ser ouvida e vista, e não para ser lida.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

8.4.4 O Debate

O debate assemelha-se a uma competição na qual dois ou mais participantes discorrem sobre um tema prede-
terminado, com o objetivo de provar seu ponto de vista. É considerado uma das melhores formas de obter dados
e opiniões acerca de um assunto específico, posto que a maioria dos debates é realizada por pessoas com auto-
ridade no tema e olhares contrastantes.
As formas mais conhecidas de debates são mesa redonda, comitê, painel, colóquio, simpósio, conferência e
fórum. As exposições variam apenas em relação ao número de oradores e determinadas formalidades, por exem-
plo, tempo de apresentação, interação com a platéia e local de realização.
O debate, talvez mais do que qualquer outro tipo de comunicação pública, requer bastante preparo. Durante sua
prática, o orador pode ver-se em situações nas quais lhe serão exigidas habilidades além do conhecimento, por
exemplo, a capacidade de admitir seus erros, de ser um bom ouvinte e de não se alterar quando provocado.

8.4.5 Os Comícios

Hoje em dia, os comícios podem ser comparados a shows nos quais o orador é o artista e o seu discurso o equiva-
lente a uma performance. Assim, o discurso necessita passar vitalidade, entusiasmo e confiança por meio de uma
voz fluente e potente, mas que seja agradável aos receptores.
Logo, um dos pontos centrais desse tipo de apresentação é o público, o qual costuma ser bastante heterogêneo e
inconstante, variando tanto em número quanto em perfil, sendo difícil estabelecer o objetivo das pessoas apenas
por sua passagem pelo local em que foi montado o comício.
Diferentemente do que acontece no auditório, no comício – por melhor organizado que ele seja –, não há como
o orador garantir a permanência da plateia, a qual não se sente constrangida em partir antes do final da apresen-
tação. Assim, o orador deve conseguir manter-se motivado e estimulando o público até o fim da exposição. Para
isso, sua linguagem precisa ser clara, bem articulada e de fácil compreensão. O uso de frases curtas, pontuais e
impactantes, somado a gestos altos e abundantes, ajudam no entendimento.

Conheça as técnicas dos oradores mais persuasivos em <http://vitaminapublicitaria.com.


br/11-segredos-dos-oradores-mais-persuasivos>.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

8.5 A postura em uma apresentação em público


O modo como nos sentamos, deitamos ou levantamos comunica muito sobre nós – e de diferentes maneiras –,
em especial sobre as nossas atitudes interpessoais. Características como hostilidade, afabilidade, superioridade
ou inferioridade podem ser percebidas pela postura, assim como o estado emocional, o grau de tensão ou des-
contração. No entanto, a postura é mais difícil de controlar do que a expressão facial, podendo denunciar-se na
postura um estado de ansiedade não visível no rosto.
Por meio do corpo, forma privilegiada de comunicação não verbal, reforça-se ou nega-se o que se diz verbal-
mente. Assim, cada uma das partes do corpo, funcionando isoladamente ou em conjunto, pode afirmar ou con-
tradizer o que você expressa verbalmente.

Figura 1.1 - O olhar.

Legenda: O olhar revela a autenticidade ao conteúdo da mensagem.


Fonte: 123RF.

São os olhos que sustentam nossa relação com os outros; por meio deles, as pessoas denunciam-se e nós somos
denunciados. É com o olhar que aferimos a reação dos interlocutores e que eles se apercebem da autenticidade
(ou não) do conteúdo da nossa mensagem.

148
Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

Figura 1.2 - O rosto.

Legenda: A expressão do rosto representa os sinais não verbais.


Fonte: 123RF.

São inúmeras as manifestações do rosto que representam sinais não verbais perante determinada mensagem,
desde o franzir da testa e o comprimir dos lábios até o rubor repentino.

Figura 1.3 - O gesto.

Legenda: Os gestos podem reforçar uma fala e medir a compreensão de uma informação passada.
Fonte: 123RF.

Os gestos podem tanto ajudar como atrapalhar a comunicação. Por meio deles, podemos reforçar uma fala e
medir a compreensão de uma informação passada. Do mesmo modo, o excesso de gesticulação pode desviar a
atenção do interlocutor e atrapalhar na captação do conteúdo exposto.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

Figura 1.4 - A postura do corpo.

Legenda: A postura determina como estamos recebendo a mensagem.


Fonte: http://www.susanconstantine.com/wp-content/uploads/2014/10/body-language-in-interviews.jpg

Encolhemos os ombros, cruzamos os braços, viramos o corpo no sentido oposto ao do interlocutor, debruçamo-
-nos sobre a mesa ou recostamo-nos na cadeira quando ouvimos determinada mensagem, conforme estamos
atentos ou distraídos, mais ou menos interessados, em acordo ou desacordo com as mensagens emitidas.

Figura 1.5 - A aparência física.

Legenda: A aparência física provoca juízos de valor.


Fonte: http://www.wornthrough.com/blog/wp-content/uploads/2008/06/drdaveforwebsite.jpg

O modo como nos vestimos, andamos e cumprimentamos as pessoas ao nosso redor provocam juízos de valor
que podem ser perceptíveis por meio de sinais não verbais, de aprovação ou discordância.

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Leitura e Produção de Textos | Unidade 8 – Falando em público

Figura 1.6 - O sorriso.

Legenda: O sorriso contribui para criar um ambiente propício à boa comunicação.


Fonte: 123RF.

São vários os tipos de sorriso, no entanto, o sorriso espontâneo continua sendo o que mais convence o receptor,
resolvendo e impedindo conflitos, além de contribuir para criar um ambiente propício à boa comunicação. Assim,
tenha em mente que o seu corpo fala, muitas vezes mais do que você gostaria de comunicar, e mantenha-se
atento!

151
Considerações finais
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da Unidade 8 da disciplina Leitura e
Produção Textual. Vamos agora relembrar o que discutimos e aprende-
mos sobre nosso foco de estudo: falar em público.
Aprendemos que a oratória é a arte e a ciência de falar em público ou para
um público e que essa habilidade é bastante requisitada pelo mercado de
trabalho, posto o atual cenário de comunicação rápida e constante.
Também abordamos as potenciais barreiras à comunicação oral, que
podem variar desde fatores pessoais, como a aparência do interlocutor e
sua falta de fluência durante uma exposição, até a falta de consenso na
atribuição de sentido às palavras do interlocutor.
Vimos que os quesitos necessários para a realização de uma boa apresen-
tação vão muito além da boa vontade: é necessário dominar o assunto,
conhecer o público e pensar nas consequências.
Compreendemos também que existem diferentes tipos de oratória, cada
uma com uma finalidade específica:
• Oratória política é o uso da palavra em defesa de causas consi-
deradas comuns a todos e para defender serviços e/ou interesses
da população.
• Eloquência forense ou judiciária é o uso da palavra perante o
juiz no tribunal para fazer a defesa da sociedade.
• Oratória sacra é quando o orador se empenha em transmitir uma
doutrina religiosa.
• Oratória acadêmica está relacionada aos assuntos culturais.
• Discurso de circunstância diferencia-se das demais práticas por
não ter lugar certo e nem público definido.
Por fim, aprendemos sobre a importância de nos mantermos atentos à
nossa linguagem corporal e ao que comunicamos por meio dela, uma vez
que ela pode afirmar ou contradizer o que expressamos verbalmente.

152
Referências bibliográficas
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BARCELLOS, Carolina Arantes Pereira; et al. A oratória como fortaleci-


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153

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