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Texto 1: BIDERMAN, M. T. C. As Ciências do Léxico. ln. OLIVEIRA, A.

M. P. P.; ISQUERDO, A. N. As Ciências do Léxico. Lexicologia,


Lexicografia, Terminologia. 2 ed. Campo Grande: Editora UFMS, 2001,
pp. 13-22.

A /

AS CIENCIAS DO LEXICO
Maria Tereza Camargo Biderman
Universidade Estadual Pau lista/ AraraquaralCNPq

o lÉXICO
O léxico se relaciona com o processo
de nomeação e com a cognição da realidade
léxico de uma Iingua natural constitui uma forma de registrar o
conhecimento do universo. Ao dar nomes aos seres e objetos, o
homem os classifica simultaneamente. Assim, a nomeação da realidade
pode ser considerada como a etapa primeira no percurso científico do espí-
rito humano de conhecimento do universo. Ao reunir os objetos em grupos,
identificando semelhanças e, inversamente, discriminando os traços distinti-
vos que individualizam esses seres e objetos em entidades diferentes, o ho-
mem foi estruturando o mundo que o cerca, rotulando essas entidades discri-
minadas. Foi esse processo de nomeação que gerou o léx.ico das línguas
naturais. Por outro lado, podemos afirmar que, ao nomear, o indivíduo se
apropria do real como simbolicamente sugere o relato da criação do mundo
na Bíblia, em que Deus incumbiu ao primeiro homem dar nome à toda a
criação e dominá-Ia. A geração do léxico se processou e se processa atra-
vés de atos sucessivos de cognição da realidade e de categorização da ex-
periência, cristalizada em signos lingüísticos: as palavras.
Os conceitos, ou significados, são modos de ordenar os dados
sensoriais da experiência. Através de um processo criativo de organiza-
ção cognoscitiva desses dados surgem as categorizações lingüísticas ex-
pressas em sistemas classificatórios: os léxicos das lfnguas naturais.
Assim, podemos afirmar que o homem desenvolveu uma estratégia en-
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genhosa ao associar palavras a conceitos, que simbolizam os referentes. dida que as comunidades humanas desenvolveram progressivamente seu
Portanto, os símbolos, ou signos lingüísticos, se reportam ao universo conhecimento da realidade e tomaram posse do mundo circundante, o
referencial. homem criou as técnicas e depois as ciências. Assim as comunidades
que atingiram tal estágio de civilização precisaram ampliar sempre mais
seu repertório de signos lexicais para designar a realidade da qual toma-
Sistemas classificatórios das línguas naturais vam consciência, ao mesmo tempo que precisavam rotular as invenções
e noções novas desenvolvidas por essas ciências e técnicas. Eis por que
O processo de cognição e de apropriação do conhecimento assu-
o léxico das línguas vivas usadas pelas sociedades civilizadas vive hoje
miu formas distintas, ou seja, os sistemas lexicais das numerosíssimas lín-
um processo de expansão permanente. No mundo contemporâneo so-
guas naturais (vivas ou mortas). Embora provavelmente se baseiem num
bretudo, está ocorrendo um crescimento geométrico do léxico português
processo de conceptualização universal, as línguas constituem sistemas
e das línguas modernas de modo geral, em virtude do gigantesco pro-
muito distintos e variados. A conceptualização da realidade configura-se
gresso técnlcõe científico, da rapidez das mudanças sociais provocadas
lingüisticamente em modelos categoriais arbitrários. As categorias lingüís-
pela freqüência e intensidade das comunicações e da progressiva
ticas não são nem coincidentes, nem equivalentes. As Taxionomias que
integração das culturas e dos povos, bem como da atuação dos meios de
embasam os modelos de categorização constituem elaborações específi-
comunicação de massa e das telecomunicações. É o léxico o único do-
cas de cada cultura, embora possamos admitir que as línguas naturais
mínio da língua que constitui um sistema aberto, diversamente dos de-
tenham tipos de semântica universalmente compreensíveis.
mais, fonologia, morfologia e sintaxe, que constituem sistemas fecha-
Em suma, o universo conceptual de uma língua natural pode ser dos.
descrito como um sistema ordenado e estruturado de categorias léxico-
As designações dos referentes criados pelas técnicas e pelas ciên-
gramaticais. As palavras geradas por tal sistema nada mais são que
cias constituem as taxionornias técnico-científicas. Essas taxionomias
rótulos, através dos quais o homem interage cognitivamente com o seu
são sistemas classificatórios engendrados segundo modelos científicos
meio. Vale a pena insistir no fato de que as categorias léxicas variam de
e, portanto, não mais empíricos como nos primórdios da história das so-
língua para língua, raramente ocorrendo que dois idiomas sej am dotados
ciedades humanas. Contudo, cada comunidade humana que forja o seu
dos mesmos tipos categoriais.
instrumental lingüístico para designar conceitos novos utiliza o modelo
Além disso, o léxico de uma língua natural pode ser identificado lingüístico herdado por seu grupo social. Assim os termos técnico-cientí-
com o patrimônio vocabular de uma dada comunidade lingüística ao longo ficos são gerados com base na lógica da língua em questão, segundo os
de sua história. Assim, para as línguas de civilização, esse patrimônio cons- padrões lexicais nela existentes. Excetuam-se os empréstimos lingüísticos,
titui um tesouro cultural abstrato, ou seja, uma herança de signos lexicais muito freqüentes no mundo contemporâneo, sobretudo anglicismos, que
herdados e de uma série de modelos categoriais para gerar novas pala- se vêm propagando por todas as línguas, em virtude do papel hegemônico
vras. Os modelos formais dos signos lingüísticos preexistem, portanto, ao exercido pelos Estados Unidos na contemporaneidade. De fato, o inglês
indivíduo. No seu processo individual de cognição da realidade, o falante tornou-se a língua universal da ciência e da tecnologia.
incorpora o vocabulário nomeador das realidades cognoscentes juntamen-
te com os modelos formais que configuram o sistema lexical.
DISCIPLINAS TRADICIONAIS QUE ESTUDAM O LÉXICO:
A LEXICOLOGIA E A LEXICOGRAFIA
Taxionomias técnico-científicas
Essas disciplinas enfocam o seu objeto de estudo, o léxico, de
A etapa mais primitiva de cognição da realidade pode ser modos distintos, porém, ambas têm como principal finalidade a descrição
identificada com a geração do léxico básico das línguas naturais. À me- desse mesmo léxico.
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Mais recentemente a Psicolingüística e a Neurolingüística têm feito mui-
Lexicologia
tas pesquisas experimentais sobre a estocagem do vocabulário e o pro-
A Lexicologia, ciência antiga. tem como objetos básicos de estudo blema do acesso ao repertório lexical armazenado na memória.
e análise a palavra, a categorização lexical e a estruturação do léxico.
Esses três problemas teóricos têm merecido pouca atenção dos lingüis-
tas. A definição e a identificação da unidade lexical constitui problema Lexicografia
teórico complexo com graves conseqüências em outros domínios, espe-
A Lexicografia é a ciência dos dicionários. É também uma ativi-
cialmente na prática da Lexicografia. O problema das classes de pala-
dade antiga e tradicional. A Lexicografia ocidental iniciou-se nos princí-
vras, ou seja, a categorização léxico-gramatical também é assunto pou-
pios dos t~pos modernos. Embora tivesse precursores nos glossários
co estudado, a não ser pelo tradicional enfoque dos gramáticas. Quanto
latinos medievais, essas obras não passavam de listas de palavras
à estruturação do léxico, tal matéria, desconhecida e complexa, rara-
explicativas para auxiliar o leitor de textos da antigüidade clássica e da
mente foi objeto de trabalhos científicos. A rigor, essa questão foi ape-
Bíblia na sua interpretação. A Lexicografia só começou, de fato, nos
nas aflorada em sua superfície. Importa lembrar que "o léxico de qual- séculos XVI e xvn com a elaboração dos primeiros dicionários
quer língua constitui um vasto universo de limites imprecisos e indefini-
monolingües e bilíngües (latim e uma língua moderna). Os primeiros di-
dos." (Biderman, 1978, p.l39). Ora, ao nível do microcosmo lexical, cada
cionários em língua portuguesa dignos do nome são: o Vocabulário Por-
palavra da língua faz parte de uma vastíssima estrutura que deve ser
tuguês-Latino de Rafael B1uteau (1712-1728), obra bilíngüe em 8 volu-
considerada segundo duas coordenadas básicas - o eixo paradigmático e mes e o Dicionário da Língua Portuguesa de Antônio de Morais Silva
o eixo sintagmático. Da conjugação dessas simples coordenadas resulta (1" ed. 1789; 2" ed. 1813). Quanto aos dicionários técnico-científicos, no
a grande complexidade das redes sernântico-lexicais em que se estrutu- português, eles são obra do século vinte; na verdade, nessa área estamos
ra o léxico, evidenciando como a palavra inserida numa cadeia
apenas começando.
paradigmática se articula em cornbinatórias sintagmáticas, gerando um
labirinto in:findo de significações lingüísticas. Ao longo desses últimos séculos a descrição do léxico foi efetiva-
mente realizada pela Lexicografia e não pela Lexicologia; contudo, essa
Embora se atribua à Semântica o estudo das significações lingüís-
tarefa foi executada como uma práxis pouco científica. A análise da
ticas, a Lexicologia faz fronteira com a Semântica, já que, por ocupar-se
significação das palavras tem sido o objeto principal da Lexicografia. É
do léxico e da palavra, tem que considerar sua dimensão significativa.
muito recente, pelo menos entre nós, o advento de um fazer lexicográfico
Tradicionalmente os estudiosos da Lexicologia tem-se ocupado da fundamentado numa teoria lexical e com critérios científicos.
problemática da formação de palavras, província em que essa ciência
Já a Lexicologia aplicou-se mais cientificamente ao estudo do lé-
confina com a Morfologia, dita lexical. Os lexicólogos vêm-se dedicando
xico. Hoje, porém, é a Lexicografia que vem despertando grande inte-
também ao estudo da criação lexical, ou seja, dos neologismos. A partir
resse entre os lingüistas.
da década de cinqüenta muitas pesquisas foram realizadas em Estatísti-
ca Léxica, ou Léxico-estatística, visando a obter resultados aplicáveis ao
ensino/aprendizagem do vocabulário, bem como investigações mais
DICIONÁRIOS
especulativas sobre tipologia lingüística, na busca da origem e filiação de
famílias lingüísticas, ciência essa batizada de Glotocronologia. Muito tam- O dicionário de lingua faz uma descrição do vocabulário da língua
bém já se fez no domínio da Semântica Evolutiva ou Diacrônica. Ade- em questão, buscando registrar e definir os signos lexicais que referem os
mais, a Lexicologia faz fronteira com ciências tais como a Dialetologia e conceitos elaborados e cristalizados na cultura. Por outro lado, o dicionário é
a Etnolingüística; nessas áreas interdisciplinares fizeram-se estudos so- um objeto cultural de suma importância nas sociedades contemporâneas,
bre Palavras e Coisas, isto é, sobre as relações entre a lingua e a cultura. sendo uma das mais relevantes instituições da civilização moderna. Exer-
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cendo funções normativas e informativas na sociedade, esse produto cultu- Convém reiterar que o dicionário de língua registra a norma lexical
ral deveria ser de uso obrigatório para todos os usuários da língua. corrente na sociedade. De fato, o dicionarista nada mais é que o porta-
Podemos considerar um dicionário de 100.000 a 400.000 pala- voz da comunidade lingüística.
vras como um tesouro lexical. Via de regra, esse tesouro é fragmen-
tado em subconjuntos diferentes, originando-se assim vários tipos de
dicionários: o dicionário padrão (em torno de 50.000 palavras) e os
A TERMINOLOGIA
dicionários técnicos e especializados, recobrindo-se assim os diversos A Terminologia se ocupa de um subconjunto do léxico de uma
campos do conhecimento. Ainda que se trate de um dicionário de ta- língua, a saber, cada área específica do conhecimento humano. Esse
manho médio (50.000 entradas), a nomenclatura do dicionário padrão subconjunto lexical que constitui seu objeto, insere-se no universo
reúne um grande contingente de vocábulos técnicos e científicos, além referencial. Assim, atêrmlnologia pressupõe uma teoria da referência,
de regionalismos e termos raros, literários, desusados, já que o léxico ou seja, uma correlação entre a estrutura geral do conhecimento e o
mais usual não ultrapassa umas 15.000 palavras. Num acervo de 50.000 código lingüístico correspondente. Especificando melhor: a Terminolo-
palavras um número elevado desses signos são termos técnico-cientí- gia deve estabelecer uma relação entre a estrutura conceptual e a
ficos vulgarizados na língua geral. Contudo, um número enorme de estrutura léxica dessa língua. Citemos Cabré: "A teoria geral da Ter-
signos lingüísticos não foram criados em nossa cultura, mas foram im- minologia baseia-se [... ] na natureza do conceito, nas relações
portados de outras culturas e línguas, e recriados ou adaptados à conceptuais, na relação termo-conceito e a atribuição de termos aos
especificidade da língua portuguesa. conceitos ocupam uma posição chave [nessa ciência]. Esse enfoque
do conceito ao termo distingue o método de trabalho da Terminologia
O vocabulário de uma língua se renova com grande velocidade no
daquele que caracteriza a Lexicografia. Os terminógrafos, que são os
mundo contemporâneo. Segundo a lexicógrafa J. Rey-Debove em 25
práticos da Terminologia, têm por objeto a atribuição de denominações
anos a renovação vocabular é da ordem de 10%, o que corresponde a
aos conceitos: atuam pois do conceito para o termo (processo
5.000 palavras num conjunto de 50.000 vocábulos (1984, p.57).
onornasiológico); os lexicógrafos, práticos da Lexicografia, partem da
Um dicionário é constituído de entradas lexicais, ou lemas que denominação, que é a entrada de dicionário, e a caracterizam funcional
ora se reportam a um termo da língua, ora a um referente do universo e semanticamente: movem-se na direção contrária, do termo para o
extralingüístico. A lista total desses lemas constitui a nomenclatura conceito (processo semasiológico)". (1993, p.32-33).
do dicionário, a sua macroestrutura. Quanto ao verbete, essa
Para abordarmos a questão da referência, tópico central na Ter-
microestrutura tem como eixos básicos a definição da palavra em
minologia, é preciso propor um modelo cognitivo que permita descrever,
epígrafe e a ilustração contextual desse mesmo vocábulo, quer atra-
relacionar e classificar os conceitos, gerando uma taxionomia por meio
vés de abonações por contextos realizados na língua escrita ou oral,
da qual esses conceitos são nomeados.
quer através de exemplos. Quanto à ilustração contextual (e/ou abo-
nação) ela é essencial para explicitar claramente o significado e/ou Podemos conceber o universo cognoscível como um hiperespaço
uso registrado na definição. Claro está que os significados e usos contínuo que recortamos em classes de objetos (ou referentes) através
referidos são aqueles já registrados e documentados em contextos de processos de classificação de acordo com suas características distin-
realizados e não valores semânticos possíveis, eventualmente atribu- tivas.
ívcis aos lexemas da língua. O verbete deve ser completado com
Como o registro e a transmissão do conhecimento usam o instru-
informações sobre registros sociolingüísticos, do uso da palavra e re-
mento discreto da língua, impõe-se a aceitação das coerções impostas
missões a outras unidades do léxico associadas a este lema por meio
pelo sistema lingüístico como meio de abordagem aproximativa desse
do redes semântico-Iexicais.
mesmo conhecimento. Por outro lado, dependendo do enfoque peculiar'
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de uma disciplina do conhecimento, um dado referente pode ser percebi- oficialmente um padrão terminológico. A despeito de ser difícil atingir
do e categorizado diversamente, dependendo do seu uso em cada área uma total uniformidade de referência, pode-se obter um razoável con-
científica, ou da sua correlação com outros itens de cada subespaço senso entre os usuários da língua.
conceptual. Por exemplo: em eletrônica o clorito férrico é usado para
construir placas de circuito impresso em que ele corrói as trilhas a serem O uso de termos padronizados (nonnalizados) permite que a co-
eliminadas; na indústria têxtil é usado como mordente para fixar as cores municação lingüística atinja a eficácia desejada, se os membros da co-
em tinturaria. Ambas as áreas técnico-científicas reconhecem os mes- munidade científica, ou da soci-edade em geral, dispuserem do mesmo
mos cristais deliqüescentes na descrição do referente, identificando-o repertório de signos e esses itens lexicais designarem o mesmo referen-
como a mesma substância, mas enfocam-na de modo diverso. te na estrutura geral do conhecimento. Por isso o papel da normalização.
terrninológica é essencial. Também se pode padronizar os mecanismos
No espaço contínuo do conhecimento, a função referencial da de designação, permitindo que as neologias criadas possam ser facil-
linguagem mapeia um repertório discreto e enumerável de símbolos _ o mente decodificadas, pois sua referência seria inferi da de outros termos
léxico. Dessa maneira, todo conhec.imento do universo é transferido para já conhecidos. Isso vem ocorrendo, com freqüência, em algumas áreas
o léxico em virtude da relação que se estabelece entre cada um dos do conhecimento como a biologia, a farmacologia e a química, em virtu-
itens lexicais discretos e o espaço referencial designado. Esses sím- de do sistema taxionômico adotado nessas áreas. Seria desejável que
bolos, signos lingüísticos, não são itens do conhecimento propriamente isso se verificasse nas demais áreas do conhecimento (Johnson & Sager,
dito. São-no apenas no sentido de que só podemos manipular o conheci- 1980).
mento abstrato através dessas formas lingüísticas, que somos capazes
de memorizar e com as quais podemos operar. Esses signos são, pois,
o que se constata são di vergências, às vezes gritantes, na
meras etiquetas através das quais podemos referir-nos ao conhecimento lexicalização dos termos na língua, sobretudo quando as terminologias
do universo (Johnson & Sager, 1980). passam ao uso da língua geral. Nessa instância os termos assumem
freqüentemente valores polissêmicos, afastando-se de sua monossemia
O uso de um termo específico em uma disciplina técnico-cientí- original e muitas vezes adquirindo conotações variadas que desvirtuam
fica pressupõe o conhecimento da configuração desse espaço seu valor denotati vo original.
conceptual e o papel e o lugar desse termo nesse sistema estruturado
do conhecimento. Por outro lado, convém lembrar que os criadores de terminologias
no português freqüentemente ignoram os processos de formação de pa-
É relativamente simples atribuir uma forma a um item lexical; é lavras do nosso sistema lingüístico e geram alguns monstrengos lexicais.
difícil, porém, especificar os limites do conceito ao qual ele se refere, A Esse fenômeno vem ocorrendo muito no domínio da informática em que
despeito da norma social atuando na língua, os indivíduos podem inter- especialistas em computação e informáticos em geral, partindo de uma
pretar os conceitos diversamente, segundo sua conceptualização da rea- terminologia gerada na língua inglesa, criam termos portugueses em total
lidade. Conseqüentemente, os usuários da língua podem atribuir ao mes- dissonância com os processos de formação de palavras do português.
mo item lexical uma referência, contendo discriminações sutis em rela- Pior ainda: criam termos híbridos sobre uma base inglesa acrescida de
ção ao conhecimento do mesmo espaço cognitivo, isto é, usarem o mes- morfemas do português como em becapear (backupear), bootar, clicar,
mo termo para referir pontos não coincidentes no universo cognoscível. -',
customizar, deletar, formatar, inicializar, Ioga r, plugar, renderizar,
Eis por que é recomendável uma normalização termino lógica para ga- scanear, startar, storar, além dos decalques e das lexias complexas em
rantir aunivocidade do significado e do uso do termo científico. Ora, é que um verbo suporte do português se combina com um termo inglês
desejável obter o consenso dos usuários da língua sobre a sentido e a como em dar o (um) boot, dar um enter, dar reset, dar um sort, etc.
d cl imitação de um termo científico. Para sanar essa dificuldade pode-se
dcllberadamente propor e impor a uniformidade de uso do termo, fixando A normalização de conceitos e termos tem sido objeto de polúicas
lingüísticas intervencionistas para tentar ordenar os caóticos processos
o
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~;"'l;
'at', ~[hJJ'(J.)S.f..L ftttp,
ifeiio OU lIWtfO te ctJfii~
de criação lexical que vêm "Ocorrendo nos variadíssimos domínios do
var.(t. "lI" C.U{t h'.a .(2). ;).
conhecimento na sociedade contemporânea, sendo mais conhecidos os
casos do Canadá Francês, da França e da Catalunha. No Brasil uma tfJlnpfe;;p áos padrões
comissão de especialistas de algumas universidades brasileiras, associa- áeço#tp0rt1Lment(h 4rú
da à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) vem-se de- crítlÍças, áas kJ$tituiyões e
bruçando sobre esse problema com vistas a propor à comunidade brasi- IÚm1:ros 't)a{ores espiritu-
leira termos e conceitos mais bem formados. ais tJ1tfaieriats,úq,11~tni .. \
ti!QS l:oÚ!.ei1Jol'ne:J1ú: e ca-
uittf!:l'ISMtOS te uma soei-
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mento, V-28, 1984,45-69.
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