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Língua Portuguesa
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SUMÁRIO
Unidade 1 - A Filologia.....11
Atividade 1 - Conceito, Objeto de Estudo,
Metodologia e Objetivos do Estudo da Filologia.....13

Unidade 2 - A Filologia Românica.....27


Atividade 2 - A Formação da România.....29
Atividade 3 - O Latim Vulgar.....47

Unidade 3 - As Línguas Românicas.....69


Atividade 4 - Caracterização e Inter-relacionamento
das Línguas Românicas.....71
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CONCEITO, OBJETO DE
ESTUDO, METODOLOGIA
E OBJETIVOS DO ESTUDO
DA FILOLOGIA

a t i v i d a d e 1
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OBJETIVOS
Ao final desta atividade, você deverá ser capaz de
- compreender o conceito, o objeto de estudo, a metodologia e os objetivos da Filologia;
- distinguir Filologia de Lingüística.

Nesta atividade, você vai adquirir uma visão geral da Filologia: vai saber qual o
seu conceito, qual o seu objeto de estudo, qual a sua metodologia e quais os seus ob-
jetivos. Vai adquirir informações imprescindíveis para o profissional de letras. Você vai
ampliar ainda mais, por meio de análise, descrição e explicação, sua compreensão sobre
os fatos lingüísticos.

Conceito e Objetivos da Filologia


Filólogo O homem, ao longo dos tempos, preocupou-se
Especialista em filologia.
em estudar a sua língua. Acreditava que o conhecimento
História da língua permitia o acesso ao domínio das leis de fun-
Narração metódica dos fatos notáveis ocor-
cionamento da sociedade e da cultura. Para ter domínio
ridos na vida dos povos, em particular, e na
vida da humanidade, em geral. da língua, o homem precisou sistematizar os estudos
lingüísticos, pois a língua tem multiplicidade de aspectos
Literatura
Conjunto de conhecimentos relativos às e funções. Desde a antiguidade, a Filologia vem cumprin-
obras ou aos autores literários. do o papel de interpretar e explicar textos escritos. Hoje
Filosofia a Filologia é vista como o estudo dos textos literários,
Estudo que se caracteriza pela intenção de especialmente os do mundo greco-romano, e de modo
ampliar incessantemente a compreensão da geral, o estudo da cultura e da civilização de um povo,
realidade, no sentido de apreendê-la na sua em determinada época da sua história, por meio de do-
totalidade, quer pela busca da realidade ca-
cumentos literários.
paz de abranger todas as outras, o Ser (ora
‘realidade suprema’, ora ‘causa primeira’, ora A palavra Filologia foi formada a partir dos
‘fim último’, ora ‘absoluto’, ‘espírito’, ‘maté-
ria’, etc.), quer pela definição do instrumento
termos gregos philos (que significa “amigo”) e logos,
capaz de apreender a realidade, o pensamen- (que significa “palavra”). Portanto, Filologia quer dizer
to (as respostas às perguntas: que é a razão? “amigo da palavra”, “estudioso da palavra ou estudioso
o conhecimento? a consciência? a reflexão? da língua”, “amor da ciência”, “o culto da erudição ou
que é explicar? provar? O que é uma causa?
da sabedoria em geral”. O principal objetivo do Filólogo
um fundamento? uma lei? um princípio? etc.),
tornando-se o homem tema inevitável de con- é conhecer o pensamento cultural de um povo: toda a
sideração. Ao longo da sua história, em razão sua produção literária em determinada época. Ele deve
da preeminência que cada filósofo atribua a encontrar-se preparado para exercer essa atividade,
qualquer daqueles temas, o pensamento filo- para que possa corrigir os erros dos textos; restaurá-
sófico vem-se cristalizando em sistemas, cada
los em toda a sua possível perfeição; criticá-los, quanto
um deles uma nova definição da filosofia.
à autenticidade, colocando-os em sua época devida,
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atribuindo-lhes a verdadeira autoria, explicando-os em


todos os seus pontos obscuros, completando-os em suas Paleografia
falhas, restituindo-os, enfim, ao seu verdadeiro estado Ciência que tem por objeto o estudo das
escritas antigas, em qualquer espécie de ma-
de perfeição, tal qual os deixou, em épocas passadas, o
terial, e que compreende a decifração, a des-
seu autor. coberta de erros na transmissão, a datação
de textos, a atribuição de lugar de origem e
A Filologia é uma ciência, tem seu objeto formal interpretação, além de ocupar-se da própria
estabelecido, com métodos próprios, seguros e apurados, história da escrita.
com conclusões seguras que a tornam ciência por apre- Arqueologia
sentar um conjunto de postulados logicamente encadea- O estudo científico do passado da humani-
dos acerca de uma língua ou linguagem. A sua finalidade dade, mediante os testemunhos materiais que
específica é fixar, interpretar e comentar os textos. Para dele subsistem.
tanto, ela se acerca de outras áreas do conhecimento Mitologia
humano, como a História, a Literatura, a Filosofia, a Ciência, estudo ou tratado acerca das origens,
desenvolvimento e significação dos mitos.
Lingüística, a Paleografia, a Arqueologia, a Mitologia,
o Folclore, a Codicologia e outras, que forem necessá- Folclore
rias para o maior e melhor entendimento do universo Estudo e conhecimento das tradições de um
povo, expressas nas suas lendas, crenças, can-
textual. Portanto, os filólogos trabalham num campo ções e costumes.
interdisciplinar em que é preciso buscar, reunir, integrar
Codicologia
informações advindas de várias fontes e ciências.
Disciplina auxiliar da crítica textual que tem
por objeto o estudo dos materiais emprega-
A Filologia, para obter o status que tem hoje, pas-
dos na confecção e elaboração do livro ma-
sou por um longo período de maturação. As vicissitudes nuscrito ou códice.
de seu desenvolvimento e as novas descobertas não lhe
Glossário
tiraram o atributo fundamental: a pesquisa da língua com
Vocabulário que figura como apêndice a uma
objetivos diversos: obra, principalmente para elucidação de pa-
• estudo das regras gramaticais, lavras e expressões regionais ou pouco usa-
• comentário crítico de obras, das. Léxico de um autor, que figura, em geral,
• elaboração de glossários, como apêndice a uma edição crítica.
• descrição de línguas, tanto na perspectiva histó- Diacronia
rica, diacrônica, quanto na perspectiva sincrônica. Estudo de uma língua considerando sua evo-
lução histórica, no tempo.

Objeto de estudo Sincronia


Estudo de um sistema lingüístico consideran-
O objeto de estudo da Filologia é a língua. Não a língua
do seu funcionamento em um dado ponto do
em si mesma, mas a língua como instrumento que serviu tempo.
de expressão ao pensamento, às emoções artísticas de um
povo, em determinada época, pensamentos e emoções
que nos deixaram em seus documentos literários. Como conseqüência, preocupa-se
também com a história literária, os costumes, as instituições etc. Se aborda as questões
lingüísticas, é especialmente para comparar textos de épocas diferentes, para determinar a
língua particular de cada autor, para decifrar e explicar inscrições numa língua antiga.
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Metodologia
Os estudos filológicos seguem o método histórico-comparativo, cujas técnicas permi-
tem ao filólogo reconstituir, com bastante precisão, as formas que deram origem às
diferentes palavras, esclarecem as etimologias, determinam a origem dos vocábulos e
ajudam a discernir os processos que uma dada comunidade ou um povo emprega na
sua linguagem. Tais processos podem ser identificados nos níveis fonético, fonológico,
morfossintático, semântico e, principalmente, no lexical.

Foi pela comparação que se conseguiu identificar o tronco comum de línguas como o
grego, o alemão, o latim, o sânscrito e o eslavo e constituir com estas línguas a família
indo-européia, a mais importante de todas as famílias de línguas existentes.

Como ilustração, examinemos as palavras no quadro abaixo:

latim vulg [cláss.] português espanhol francês italiano romeno


caballus, equus (mas) cavalo caballo cheval cavallo cal
equa (fem) égua yegua ive* iapa
lupus lobo lobo loup lupo lup
focus fogo fuego feu fuoco foc

Etimologia
O estudo das palavras, de sua história e das possíveis mudanças de seu significado.
Fonética
É o ramo da Lingüística que estuda os sons da fala humana e de um determinado
idioma.
Fonologia
Preocupa-se com a maneira como eles se organizam dentro de uma língua, classificando-
os em unidades capazes de distinguir significados, chamadas fonemas.
Morfossintático
Estudo que considera, na análise de uma língua, as dimensões morfológicas e sintáticas.
Semântico
Refere-se ao estudo do significado, em todos os sentidos do termo.
Lexical
Relativo ao acervo de palavras de um determinado idioma. Em outras palavras, é todo o
conjunto de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm à sua disposição para
expressar-se, oralmente ou por escrito.
Indo-Europeu
Língua que teria sido falada por volta de 3000 a. C. e que teria começado a cindir-se em
diferentes línguas no milênio subseqüente, dando origem à família indo-européia.
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No latim, a denominação mais comum para designar


‘cavalo’, era equus (com o feminino equa), antigo nome indo- Sânscrito
Língua indo-européia do ramo indo-aria-
europeu (cf. sânscrito asvah; grego ippoz; inglês eoh etc.), mas
no na qual foram escritos os quatro Vedas
já no século II a.C. aparece caballus, usado para denominar (c. 1200-900 a. C.), e que, entre os séculos
o cavalo de tiro e de trabalho, expressão de uso da língua VI a. C. e XI d. C., se tornou a língua da
popular. As línguas românicas conservam caballus (italiano literatura e da ciência hindus; é mantida,
ainda hoje, por razões culturais, como lín-
cavallo; francês cheval; espanhol caballo; português cavalo; ro-
gua constitucional da Índia.
meno cal), em detrimento de equus, conservado, em parte,
Appendix probi
apenas no feminino equa (ant. franc. ive, ieve; ant. provençal
Lista com mais de 200 erros e respecti-
ega; catalão éuga, egua; esp. yegua, port. égua, rom. iapa,). Con- vas correções, onde a primeira expressão
forme se observa, o método comparativo, principalmente pertence ao latim literário e a segunda é
dentro dos estudos filológicos romanísticos, permite dois erro que se trata de corrigir, atribuída a
um gramático chamado Probo, que deve
tipos de comparação, quais sejam, entre formas românicas
ter vivido no século III. Exemplo nurus
e entre estas e o latim. non nura; socrus non socra.
Vejamos outro exemplo de uso do método histórico-
comparativo, sobre o substantivo ‘orelha’. Os dados que apresentamos a seguir demons-
tram a realidade histórica do método comparativo aplicado à Lingüística Românica.

Confrontemos o francês oreille, o italiano orechia, o espanhol oreja, o português


orelha e o romeno ureche. Nestas cinco palavras, que apresentam, entre si, uma evidente
semelhança, a primeira sílaba mostra uma correspondência surpreendente (or-, ur-), e as
outras sílabas, uma grande diferença (-eille, -ecchia, -eja, -elha, -eche). A forma corrente em
latim para ‘orelha’ é auris, à qual não é possível fazer corresponder a segunda parte das
palavras românicas. Mas existe também o derivado latino auricula, com o qual poderiam
muito bem relacionar-se as palavras românicas. Se confrontarmos as denominações
românicas de orelha com as de olho, por exemplo, (francês oeil, italiano occhio, espanhol
ojo, português olho e romeno ochiu), cuja origem latina é evidente – oculus – constatare-
mos que o elemento consonântico da segunda parte das palavras românicas é o mesmo,
tanto para ‘orelha’ como para ‘olho’ (francês Il [le], italiano cch, espanhol j, português
lh e romeno ch) e, ao mesmo tempo, comprovaremos que as palavras românicas que
designam orelha vêm do latim, aurícula, e não do latim auris.

Outras comparações nos mostram que o francês Il [le], o italiano cch, o espanhol
j, o português lh e o romeno ch não devem remontar ao latim -cul- diretamente (como
em auricula, oculus), mas ao latim -cl-; e o Appendix Probi (século III), que, ao lado das
formas latinas, registra formas “incorretas”que estavam em uso no latim vulgar, nos
diz, por exemplo, nas glosas 3, 4, 7, 8, 9 e 111, que realmente se deve dizer speculum non
speclum, masculus non masclus, veranculus non vernaclus, articulus non articlus, baculus non baclus e
oculus non oclus. Com o método comparativo, remontamo-nos, portanto, ao passado, até
à forma latina auricla e nos aproximaremos ainda mais da verdade histórica.
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Para compreender melhor a Filologia e o seu papel, podemos levar em conside-


ração seus campos de aplicação.

Na edição e na interpretação da Bíblia, por exemplo,


Hermenêutica a Igreja conta com o auxílio de diferentes ciências, como
Interpretação do sentido das palavras. a Filologia, a Lingüística, a Historiografia e a Arqueolo-
Exegese gia, entre outras. O Texto Sagrado, contudo, nem sempre
Comentário ou dissertação para esclareci- informa seu sentido à primeira leitura. É necessário,
mento ou minuciosa interpretação de um
texto ou de uma palavra.
portanto, o trabalho hermenêutico e exegético de pes-
quisadores e teólogos autorizados pela Sé Apostólica. As
Figuras de linguagem
São estratégias literárias que o escritor pode Sagradas Escrituras apresentam muitas figuras de linguagem,
aplicar no texto para conseguir um efeito metáforas, metonímias, hipérboles, expressões idiomáticas
determinado na interpretação do leitor. e foram redigidas em hebreu arcaico, idioma com muitas
Metáforas restrições lexicais, elementos estes que podem efetiva-
Consiste em usar uma palavra pela outra mente confundir o nosso entendimento. As mensagens
por força de comparação mental: “Você é da Bíblia, portanto, devem ser entendidas dentro de um
um doce”
conjunto doutrinário integrado e coerente. Além disso,
METONÍMIA os originais desses textos sofreram diversos processos de
Figura de linguagem que consiste em de-
signar um objeto por palavra designativa
cópia e tradução que produziram algumas alterações se-
doutro objeto que tem com o primeiro mânticas e também na sua organização. Não são intentos
uma relação de causa e efeito (trabalho, por deliberados de ocultar ou acrescentar alguma informação,
obra), de continente e conteúdo (copo, por não são intentos desonestos de acrescentar ou retirar algo
bebida), lugar e produto (porto, por vinho do
da Bíblia; são problemas objetivos, traduções de traduções,
Porto), matéria e objeto (bronze, por estatue-
ta de bronze), abstrato e concreto (bandeira, manuscritos elaborados de forma mais precisa, ou menos
por pátria), autor e obra (um Camões, por precisa, e assim sucessivamente. A presença de problemas
um livro de Camões), a parte pelo todo (asa, objetivos como os mencionados – dúvidas filológicas
por avião), etc.
sobre o termo mais adequado a ser traduzido ou o modo
Hipérboles de organizar os textos, ou, a perda de partes dos originais
É um exagero da verdade para produzir no
– ajudam a Igreja a esclarecer dúvidas deixadas nos textos
espírito de quem ouve impressão mais forte:
“Rios te correrão dos olhos, se chorares” divinos, por conta da natureza humana dos autores.
Expressões idiomáticas A Filologia é importante também porque promove
É uma expressão que se caracteriza por a preservação da cultura dos povos por meio de suas lín-
não ser possível identificar seu significado
através de suas palavras individuais ou de
guas, editando, interpretando e explicando textos literários
seu sentido literal. Desta forma, também e filosóficos que se encontravam nas bibliotecas, a partir
não é possível traduzi-la para outra língua dos manuscritos bem conservados. Nessa tarefa da edição
de modo literal. Essas expressões geral- de textos, a Filologia é disciplina auxiliar de todas as ciên-
mente se originam de gírias, cultura e pe-
cias e tecnologias, pois é por meio dela que as idéias dos
culiaridades de diversosgrupos de pessoas:
seja pela região, profissão ou outro tipo de grandes intelectuais (artistas ou técnicos) são preservadas
afinidade.. em sua forma mais próxima possível da vontade de seus
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autores, sejam escrivães (como Pero Vaz de Caminha), naturalistas (como Alexandre
Rodrigues Ferreira), poetas (como Camões ou Gregório de Matos), filósofos, historia-
dores, políticos, oradores etc. É por meio da Filologia que a memória cultural de um
povo se preserva ou se redescobre na sutileza da interpretação dos textos preservados
em edições tratadas cientificamente.

Estudando a etimologia das palavras, os filólogos buscam os seus significados mais


primitivos, reinterpretando as diversas alterações que sofreram na forma e no sentido para
se adaptarem às diversas comunidades de falantes (no espaço, no tempo e nas diversas
classes sociais), para mostrar que a língua é a expressão mais legítima da cultura de um
povo, tanto que as palavras que se tornam desnecessárias em cada geração caem no
esquecimento e surgem espontaneamente outras para suprirem as novas necessidades.

Do ponto de vista geográfico, a Filologia se preocupa em interpretar os valores


culturais de cada comunidade de falantes, registrando os fatos lingüísticos (ou dialetais)
que lhes são mais peculiares e oferecendo grande contribuição para os estudos etnográ-
ficos e de diversas outras especialidades.

Diacronicamente, a Filologia se ocupa da história da língua propriamente dita (a


gramática histórica) e da história de seus falantes ou dos fatos culturais que mais rele-
vantemente atuaram ou atuam para acelerar ou frear a sua evolução e para estabelecer o
grau do seu prestígio. É aí também que o filólogo e a Filologia se põem a refletir sobre as
diversas formas de criação de novas palavras, como, por exemplo, o empréstimo de uma
língua de especialidade para outra, de estrangeirismos tomados das línguas dos povos
que se destacarem em cada área do conhecimento ou em cada especialidade, etc.

Os textos filologicamente trabalhados fornecem dados que tornam possível o


fomento de uma política do idioma com vistas a garantir a identidade nacional, uma
vez que a língua é o fator preponderante na definição de uma
nacionalidade ou mesmo no restabelecimento de elos comuns a Galego
povos que já conviveram num mesmo espaço geográfico, como Língua românica falada na Galiza
é o caso dos textos galegos, portugueses e galego-portugueses. (Espanha).

A gramaticalização das línguas vernáculas e seu ensino


valorizam a língua, assim como a crítica literária, ambas preocupadas com a descrição
segura e simples das manifestações lingüísticas e dos estilos mais prestigiados.

Observe a análise filológica abaixo, feita por Bragança Júnior (1997), do pro-
vérbio latino:
“Não queira irrefletidamente contar um segredo à esposa! Dificilmente aquela o
guarda quieto por um dia em seu coração”. (Uxori temere noli mandare secretum! Vix in
corde suo tenet illa luce quietum.)
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A mulher não merece a confiança de seu esposo. Um ato sem reflexão dele,
como o simples contar um segredo, pode significar problemas futuros, na medida em
que ela não sabe guardá-lo para si, revelando-o a outros.
A imagem negativa atribuída à mulher neste provérbio reforça uma posição
não privilegiada da mulher na estrutura social medieval. Referindo-se a isso, Jacques
le Goff (1984, p. 42) assim se pronuncia:
“Está fora de dúvida o facto de a mulher ter sido inferior. Nesta sociedade mi-
litar e viril, de subsistência sempre ameaçada e em que, por conseguinte, a fecundidade
é mais uma maldição (é daí a interpretação sexual e procriativa do pecado original)
que uma bênção, a mulher não estava em posição privilegiada. E bem parece que o
cristianismo pouco fez para lhe melhorar a situação material e moral. É ela a grande
responsável pelo pecado original. E é também ela a pior encarnação do mal nas formas
da tentação diabólica.”
A genealogia da mulher, remontando a Eva, não deixa dúvidas quanto ao seu
caráter tentador. Muitas vezes, nem mesmo o matrimônio cristão pode definitivamente
apagar o passado pecaminoso do sexo feminino. Henry R. Loyn, ao comparar a visão
mariana da mulher a partir do século XI com a concepção mundana da mesma, assim
nos diz:
“Seu oposto era a forte tradição misógina herdada de São Paulo e dos escritos
patrísticos, que retratavam a mulher como Eva, a suprema tentadora e obstáculo para
a salvação; era melhor casar do que se consumir – mas não muito melhor – e um
homem decidido a levar uma vida santa deveria ingressar numa ordem religiosa.”
(LOYN 1992, p. 264)
Obviamente que o contexto sócio-político-cultural europeu durante a Idade
Média variou de região para região e com o crescente avanço das primeiras economias
mercantis, com o desenvolvimento do tear e de um incipiente comércio nas cidades,
houve uma revitalização e mudança do papel das mulheres, não mais apenas mães e
monjas, mas também trabalhadoras e parceiras comerciais.
No entanto, a indiscrição e loquacidade femininas são motivos de reprimenda
no provérbio acima. A esposa, muitas vezes casada em um matrimônio de interesse,
não seria digna de conservar consigo um segredo, já que sua natural predisposição à
falta moral a impeliria a divulgá-lo. Ao homem, pois, caberia cautela, expressa pelo
advérbio temere, “às cegas, inconsideradamente”, ou seja, sem uma reflexão prévia. Este
já deveria saber que no coração feminino, que tem em Eva o seu modelo original, não
se pode confiar. O homem deve sempre lembrar-se da inocência de Adão!
A marca discursiva do provérbio, portanto, manifesta-se em uma advertência ao
perigo, no qual os homens incorrem, quando revelam segredos às suas esposas. Pelo
tipo de construção e mensagem do texto, parece-nos mais um exemplo de uma lição
moral de conduta, expressa em latim sob a concisa forma de um provérbio. Por trás
do texto, como indicadores sociais, notamos ainda corrente um discurso eclesiástico,
que privilegia o homem como criatura suprema racional feita por Deus e que insere
a mulher num plano inferior.
Referências Bibliográficas
LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Tradução de Manuel Ruas. Lisboa:
Editorial Estampa, 1984 (vol.2).
LOYN, H. R. (Org.) Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
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Observe que não é tão fácil interpretar e/ou explicar um texto. Primeiro, pre-
cisamos saber se o texto a ser analisado é verdadeiro, original; segundo, em relação à
determinada palavra, expressão ou edição de um texto, não podemos fazer afirmações
precipitadas, devemos ter certeza do que estamos afirmando; terceiro, como o texto
pode ter sido produzido por alguém de uma cultura e em uma época diferentes da
do analista, é prudente não analisar o passado com os olhos do presente para não co-
metermos imprecisões ou até mesmo injustiças. Preocupados com essas questões, os
estudiosos da linguagem consolidaram, ao longo dos tempos, um campo do saber, uma
ciência, denominada Filologia. Na análise do provérbio, você notou que foi necessário,
ao filólogo, buscar informações em outras áreas do conhecimento para fazer determi-
nadas afirmações. Veja:

Na História – “A imagem negativa atribuída à mulher neste provérbio reforça uma


posição não privilegiada da mulher na estrutura social medieval.”

Na Religião – “A genealogia da mulher, remontando a Eva”.

Na Economia e na Sociologia – “Com o crescente avanço das primeiras economias


mercantis, com o desenvolvimento do tear e de um incipiente comércio nas cidades,
houve uma revitalização e mudança do papel das mulheres, não mais apenas mães e
monjas, mas também trabalhadoras e parceiras comerciais”.

Na Psicologia – “A indiscrição e loquacidade femininas são motivos de reprimenda


no provérbio acima”.

Na Lingüística – “Ao homem, pois, caberia cautela, expressa pelo advérbio temere,
‘às cegas, inconsideradamente’, ou seja, ‘sem uma reflexão prévia’. ‘A marca discursiva
do provérbio’ ”.

Distinção entre Filologia e Lingüística


A distinção entre Filologia e Lingüística é um caminho necessário para que o
profissional de Letras considere os estudos filológicos como eles realmente devem ser
compreendidos.

A Filologia busca concentrar-se no estudo de ‘textos’ (obras), ao passo que a Lin-


güística propõe-se a alcançar o conhecimento da língua em si mesma, como fato social
da linguagem. Não a língua A ou B, mas o fenômeno língua, sua estrutura, seu conteúdo,
sua essência, seus processos, suas relações com o pensamento, com o sentimento, com
a vontade, com a sociedade, com a cultura, sua evolução, estabilidade e desagregação,
causas da estabilidade e fatores de diferenciação, interação lingüística etc.

A Filologia é a ciência dos fatos literários, eruditos e que se referem às línguas, enquan-
to a Lingüística é a ciência dos fatos da linguagem espontânea, em todos os idiomas.
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A Filologia abrange a crítica, o comentário de textos antigos e a história das línguas,


principalmente naquilo que elas possuem do elemento literário culto. Já a Lingüística
estuda a linguagem como expressão do pensamento, como fórmula exterior articulada
da inteligência humana em ação.

EXERCÍCIO
As questões abaixo servirão para você mostrar que compreendeu os conceitos
que foram estudados nesta unidade. Discuta as respostas com o tutor, no próximo
encontro presencial.

Marque com um X as afirmações verdadeiras:


( ) A Filologia trabalha com textos no intuito de fixá-los, comentá-los, explicá-los,
aproximá-los o mais possível de seus leitores e de seu autor ou autora.
( ) A Filologia busca identificar e classificar as alterações realizadas pelos próprios es-
critores ou por revisores, editores, tipógrafos, copistas por meio das sucessivas cópias
manuscritas ou edições impressas de uma obra.
( ) A Filologia restitui ou tenta restituir a palavra escrita e considerada definitiva pelo
autor ao público leitor. Intenta vencer o “ruído” que separa um texto de seus leitores.
( ) A Filologia tem como objeto de estudo o texto: sua leitura, interpretação, apura-
mento, explicação e publicação.
( ) A Filologia se acerca de outras áreas do conhecimento humano, como a História,
a Literatura, a Filosofia, a Lingüística, a Paleografia, a Codigologia e outras que forem
necessárias para o maior e melhor entendimento do universo textual.
( ) Os filólogos trabalham num campo interdisciplinar em que é preciso buscar, reunir,
integrar informações advindas de várias fontes e ciências.
( ) Os estudos filológicos nos mostram que para realizarmos uma pesquisa consistente
com textos literários ou não literários é preciso que tenhamos uma visão do sistema
que produziu esses textos, ou seja, fazer um levantamento de toda a tradição direta e
indireta de uma determinada obra e também uma pesquisa minuciosa de seu vocabulá-
rio, de sua poética, de seus pontos obscuros e do quadro das mentalidades em que ela
foi construída.
( ) A Filologia proporciona um mergulho vertiginoso e radical em uma obra estudada
a partir de seu método de investigação: método histórico-comparativo.
( ) Dirige-se a Filologia à interpretação do pensamento literário do presente, e como
tal pensamento se encontra em textos escritos e orais, estes são o campo especial do
trabalho filológico.
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( ) Se quiséssemos criar a Filologia nacional, deveríamos iniciar o trabalho pelas cartas


de Anchieta, pelos trabalhos dos missionários jesuítas, pois foram os primeiros docu-
mentos escritos no país.
( ) Rigorosamente, Lingüística é o estudo de textos literários, ao passo que Filologia
é o estudo da língua como tal, independentemente de textos ou de beleza literária.

LEITURA COMPLEMENTAR
O texto abaixo do professor Silvio Elia (1979, p. 1-3) trata do conceito de Filologia
e discorre sobre a relação entre a Filologia e a Lingüística. Nele você vai saber um pouco
mais sobre os conceitos básicos da Filologia, estudados nesta unidade.

Filologia
Do grego φιλóλογos, através do latim, philologus, isto é, “amigo das letras” das
obras literárias, da linguagem.
D. Carolina Michaelis de Vasconcelos (Lições de Filologia Portuguesa) estudou de-
tidamente a palavra. Depois de tratar dos radicais gregos que a compõem, acrescenta:
“Filologia é, portanto, etimologicamente: amor da ciência; o culto da erudição ou da
sabedoria em geral; e em especial, o amor e culto das ciências do escrito (geisteswis-
senschaften), sobretudo da ciência da linguagem, do verbo ou do logos que é distintivo
do homem – expressão do pensamento, manifestação da alma nacional, órgão de lite-
ratura e instrumento de nós todos, mas principalmente e sublimadamente dos letrados
que, apesar de tudo quanto contra eles se tinha dito e se possa dizer, são poderosos
obreiros de Deus.”
Pouco adiante ensina: “E, com efeito, os dois maiores pensadores da Anti-
guidade, Platão e Aristóteles... são os que nos ministraram os passos mais antigos
relativos à Filologia, são os primeiros que documentam a palavra.” Quanto a quem
teria cunhado o termo, diz: “Ignoro se Platão, o mais velho dos dois, discípulo genial
de Sócrates, o criou, ou se já lhe fora transmitida pelo mestre, cuja doutrina e cujos
processos ele expõe...”
No séc. II a.C. houve um grego erudito que aplicou a si próprio, com orgulho,
o epíteto “filólogo”: foi Eratóstenes, famoso também porque inventou o conhecido crivo
para identificação dos números primos. Em Roma, o primeiro escritor que recebeu o
nome de philologus foi um certo Ateius Praetextatus (séc. I a.C.).
A introdução da Filologia em Roma tem uma origem anedótica. Segundo
Suetônio, quando, em 172 a.C., o rei de Pérgamo, Átalo II, designou embaixador
junto ao senado Romano a Crates de Malos, este, já no fim de sua missão, ao passar
junto ao Palatino, tropeçou e caiu num fosso aberto da cloaca máxima, quebrando uma
perna. Teve assim de permanecer mais algum tempo em Roma e aproveitou os dias
para dissertar sobre questões de linguagem, atraindo a atenção de muitos romanos
ilustres. Ao partir, deixou na velha capital itálica vários discípulos de boa vontade, que
se propuseram a aplicar aos grandes nomes das letras latinas o método de pesquisas e
explicação que Crates lhes ensinara. Desde então até hoje, a Filologia não deixou de
ter adeptos, cada vez mais ardorosos.
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Relação entre Filologia e Lingüística


A relação entre a Filologia e a Lingüística é a da parte para o todo. A Lingüís-
tica – Sprachwissenchaft dos alemães – é o estudo das línguas em todo os seus aspectos,
inclusive o filológico. Historicamente, a Filologia precedeu a Lingüística, mas hoje deve
situar-se modestamente no quadro geral dos estudos lingüísticos. Os estudos filoló-
gicos têm caráter “histórico”. Partem de línguas determinadas, documentadas através
de textos e, depois de percorrerem um itinerário cultural, onde entram a História, a
Epigrafia, a Literatura, voltam para o texto de onde saíram.
Os estudos lingüísticos também se alçam de fatos rigorosamente coligidos e
determinados. Mas a linha da pesquisa “lingüística” strito sensu não descreve aquele
movimento circular a que nos acabamos de referir aludindo à Filologia. Partindo dos
fatos, não volta a eles; seu intento é procurar “princípios gerais de explicação” que
possam dar conta da complexidade dos fenômenos lingüísticos. Estabelecer as causas
psicológicas, sociológicas ou estruturais dos fenômenos lingüísticos é fazer Lingüística;
iluminar um texto por meio de comentários da mais variada natureza é tarefa da Filolo-
gia. A distinção entre os dois campos se obscureceu, porém, com o advento da chamada
Filologia Comparada (Comparative Philology). A comparação de línguas, que sempre se fizera
esporadicamente e um tanto ao acaso, encontrou no método histórico-comparativo
(princípios do séc. XIX) uma base racional de pesquisas. A Filologia enveredou com
entusiasmo por esses novos domínios e empreendeu igualmente a busca de princípios
gerais de explicação (leis fonéticas). As explicações filológicas
deixaram assim de se restringir a uma língua determinada
Epigrafia
(grego, latim, português), para abranger um campo largo de
Parte da paleografia que estuda as ins-
investigações (línguas neolatinas, germânicas, eslavas etc.). Daí
crições, i. e., a escrita antiga em material
surgirem novas particularizações da ciência da linguagem: a
resistente (pedra, metal, argila, cera, etc.),
Filologia Românica, por ex. O propósito de formular também,
incluindo sua decifração, datação e inter-
dentro de cada um desses domínios, princípios gerais de
pretação.
explicação trouxe maior aproximação entre a Filologia e a
Alçar Lingüística, e alguns julgaram até que poderiam trocar, sem
Tornar alto; altear, erguer, levantar, alcear. alteração de sentido, as denominações. Bourciez, por exemplo,
intitulou o seu notável manual de estudos românicos Eléments
Coligir
de Linguistique Romane.
Reunir em coleção, massa ou feixe; ajun-
Todavia, a antiga denominação de Filologia se tem
tar (o que está esparso).
mantido pelos seguintes motivos: a) no domínio românico há
strito sensu grande quantidade de textos, que não podem ser transcurados;
No sentido restrito b) a comparação parte dos textos e volta a eles finalmente,
Leis fonéticas como é próprio dos estudos filológicos, conforme ficou
Princípios da regularidade das mudanças dito. No âmbito do indo-europeu, onde não existem textos,
fonéticas. já não cabe a designação Filologia. De resto sempre se disse
Lingüística Indo-Européia. Em resumo: A Lingüística é a
Transcurar ciência dos fatos da linguagem, estudados em todos os seus
Esquecer-se de; preterir, descurar. aspectos. Logo, todo filólogo é ipso facto lingüista, em sentido
ipso facto lato. Mas há outros domínios da ciência da linguagem que
Pelo mesmo fato. escapam ao ofício do filólogo. Aqueles, por exemplo, em
que se traçam as causas gerais dos fenômenos lingüísticos,
Desiderato
abstraídas as determinações específicas de tempo e lugar. É a
Aquilo que se deseja, a que se aspira; as-
chamada Lingüística Geral. Terreno comum é o constituído
piração.
pela Filologia Comparada: pelo seu desiderato de elevar-se
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25

a princípios gerais de explicação, aproxima-se esta da Lingüística; mas a existência de


textos em que se fundamentam essas explicações traz-lhe parentesco com a Filologia.
Quando o comparatismo não pode apoiar-se em textos, não cabe falar em Filologia.
Daí, como já se disse, o ramo de estudos chamado “Lingüística Indo-Européia”.

Referência Bibliográfica
BOURCIEZ, Edouard. Eléments de Linguistque Romane. 4ª. Ed. Paris: Klincksieck,
1956.

BIBLIOGRAFIA
BÁSICA
BUENO, Francisco da Silveira. Estudos de Filologia Portuguesa. São Paulo: editora Saraiva,
1967.
BRAGANÇA JÚNIOR, Álvaro Alfredo. A fraseologia medieval latina: reflexo de uma socieda-
de. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, 1997.
Disponível em http://www.filologia.org.br/revista/artigo/3(7)43-53.html, acessado
em 06/05/2008.
MELO, Gladstone Chaves de. Iniciação à filologia e à lingüística portuguesa. Rio de Janeiro:
Acadêmica, 1981.
VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de. Lições de Filologia Portuguesa, seguidas das Lições
Práticas de Português Arcaico. Lisboa: Dinalivro, 1946.

COMPLEMENTAR
ORLANDI, Eni e RODRIGUES, Suzy L. (orgs.). Introdução às ciências da linguagem – dis-
curso e textualidade. Campinas: Pontes Editores, 2006.
ILARI, Rodolfo. Lingüística românica. São Paulo: Ática, 1992.
ELIA, Silvio. Preparação à lingüística românica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.

RESUMO DA ATIVIDADE
A atividade 1 teve por objetivo apresentar o conceito de Filologia.Você aprendeu que
a Filologia estuda a cultura e as civilizações de um povo, em determinada época da sua
história, por meio de documentos e textos literários. Aprendeu que a Filologia é uma
ciência com objeto formal estabelecido, os textos escritos; com método investigativo
próprio, o método histórico-comparativo e com objetivos específicos, fixar, interpretar
e comentar os textos. Aprendeu também que a Filologia busca concentrar-se no estudo
de ‘textos’ (obras literárias), ao passo que a Lingüística propõe-se a alcançar o conheci-
mento da língua em si mesma, como fato social da linguagem.
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ROMÂNICA
A FILOLOGIA

u n i d a d e 2
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A FORMAÇÃO
DA ROMÂNIA

a t i v i d a d e 2
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OBJETIVOS
Ao final desta atividade, você deverá ser capaz de
- conceituar a România;
- identificar os perídos da România;
- distinguir as fases da evolução das línguas românicas.

Na atividade 1 da unidade I, você aprendeu que a Filologia busca o conhecimento


de uma civilização, de uma cultura por meio de documentos escritos, tendo como ins-
trumento principal o estudo da língua em que foram escritos tais documentos. Assim,
podemos distinguir tantas filologias quantas forem as línguas e as civilizações. Há a
filologia italiana, a filologia provençal, a filologia espanhola, a filologia portuguesa, a
filologia árabe, etc.

Nesta disciplina, cujo nome é Filologia Românica, você tem como objeto de es-
tudo os documentos literários escritos nas chamadas línguas românicas. Para proceder a
este estudo você precisa entender como se deu a formação da România e a conseqüente
evolução das línguas ali originadas.

Esta atividade dedica-se a apresentar algumas informações básicas sobre a Româ-


nia: conceito, perídos e fases da evolução das línguas românicas.

Conceito de România
A formação da România é decorrência do percurso histórico do Império Ro-
mano e da língua latina, desde a expansão territorial, por intermédio de guerras, até a
dissolução e queda do Império. As conquistas do Império Romano contribuíram para a
divulgação do latim como língua oficial do Império. Como conseqüência disso, o contato
dos romanos com as diferentes famílias lingüísticas dos povos dominados deu origem
a novas línguas, denominadas línguas românicas. Os estados que se formaram após o
domínio romano se autodenominavam como romanos, sendo que a unidade lingüística
e cultural dos territórios outrora sob domínio romano ficou conhecida como România.
O termo România surgiu a partir de romanus, que formou
o advérbio romanice ou “à maneira ou costume romano”,
Romance que originou um novo advérbio, romance, que se aplicava a
Cada uma das variedades surgidas da evo-
qualquer texto ou composição escrita em uma das línguas
lução do latim vulgar, falado pelas popu-
lações que ocupavam as diversas regiões vulgares. O termo România foi usado modernamente para
da România e que se constituiu na fase se referir a toda área ocupada por línguas de origem latina,
preliminar de uma língua românica. sendo que os limites da România atual e do antigo Império
Romano não coincidem.
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Pode-se apontar como fatores que contribuíram para que o latim não se mantives-
se como a língua falada em todo o Império; a romanização superficial, a superioridade
cultural dos vencidos e a superposição maciça de populações não-romanas. Por meio
dos movimentos de propagação do catolicismo e das grandes navegações, as línguas
românicas chegaram a novos continentes e atingiram o status de línguas oficiais, como
o português, o espanhol, o francês e o italiano.

O texto que servirá de base para este estudo está no capítulo 4, intitulado “A
România”, de Bassetto (2005, p. 177-186), que dá início ao seu trabalho conceituando
o termo România como o conjunto dos territórios onde se falou latim ou onde se fala
atualmente uma língua românica, incluindo a sua literatura e a cultura de seu povo. Antes,
porém, o autor discorre sobre a origem do termo România. Leia o trecho abaixo. Ele
o(a) ajudará na compreensão do conceito de România.

Conceito de România
Documentado pela primeira vez por Paulo Osório, discípulo de Santo
Agostinho, em Historiae Adversus Paganos (VII,6,43), o termo România parece
ser um criação popular, já que ao citá-la Paulo Osório acrescenta “ut vulgariter
loquar” (“para falar de modo popular”). Inicialmente, como “romano” se opunha
a “bárbaro”, no sentido de “estrangeiro”, ou seja, “não latino” ou “ não grego”,
România se opunha a barbaria e barbaries; nesse sentido, no período clássico
encontra-se o termo Barbaria. Quanto a România, porém, não se sabe quando
passou a ser corrente; a expressão de Paulo Osório faz supor que se trata de um
termo usual na língua falada, designando todo o império romano ou o mundo
romano. Curiosamente, atestação de România coincide com o período em que o
mundo romano se esfacelava e os godos pretendiam construir a Gótia sobre as
ruínas da România. O termo ocorre também no biógrafo de Santo Agostinho,
Possídio, que qualifica os vândalos de “Romaniae eversores”.
No Oriente, encontram-se várias atestações de România, empregado
como sinônima de Império Romano tanto Ocidental como Oriental. Assim,
Santo Atanásio (295-373) considera Roma a “capital da România”: Μητρόπολτς
ή ΄Ρώμη της ΄Ρωμανίας. Também Santo Epifânio (315-403) diz que o espírito demoníaco
dominou Ario e o levou a pôr fogo na Igreja. Fogo “ό κατείληφε πãσαυ τηυ ΄Ρωμαυαυ σχ́εδόυ,
μάλιστα της άυατολης τὰ μέρη”. (“que incendiou quase toda a România, sobretudo as partes
do Oriente).
No Ocidente, România mantém o sentido político equivalente a Império
Romano, como o atesta o historiador dos godos Jordanes, em Getica, 25: “Diuque
cogitante (Visigothae) tandem communi placito legatos ad Roma-
niam direxere, ad Valentem imperatorem, fratrem Valentianiani”.
(E refletindo por muito tempo, finalmente os visigodos, Visigodos
de comum acordo, enviaram legados à România, ao im- Povo antigo da Germânia, que, do séc.
perador valente, irmão de Valentiniano). Posteriormente, III ao V, invadiu os impérios romanos do
sobretudo onde se falava uma língua românica. Quando Ocidente e do Oriente. Dividiam-se em
Carlos Magno fundou o chamado Sacro Império Romano, ostrogodos (godos do Leste) e visigodos
România adquiriu também um sentido político, como o (godos do Oeste).
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denota um documento do rei Luís, o Pio, e de Lotário, em


Exarcado que se alude a “in nostris et Romaniae finibus” (“nos nossos
Território governado por um exarco, territórios e nos da România”). Quando, porém, o poder
delegado dos imperadores de Bizâncio passou a ser exercido por imperadores residentes na
na Itália ou na África. Germânia, o termo România voltou a designar apenas os
territórios de línguas românicas, particularmente a Itália.
Assim, sem conteúdo semântico bem definido, o termo
chega até a se opor simplesmente a Lombardia, especialmente depois que os
bizantinos conquistaram o exarcado de Ravena e a região de Pontápole que, por
ser a única na Itália a pertencer ao Império Romano do Oriente, era designado
por “România”, donde o nome da atual “Ramagna”, único topônimo derivado de
România. Era considerada uma “Romaníola”, ou seja, uma pequena România,
provindo daí o adjetivo étnico romagnolo.
O moderno conceito de România, porém, somente foi fixado com o ad-
vento da Filologia Românica. Em sua grammatik der romnischen Sprache, de 1836
[cf.edição francesa de 1874], Friedrich Diez (1794-1876) consagrou o termo ao
dividir a România em Ocidental e Oriental, no que foi seguido posteriormente
pelos romanistas em geral; com isso, o termo se tornou corrente. Gaston Paris
buscou definir esse conceito em 1872; com base na tradição, define-se România
como o conjunto dos territórios onde se falou latim ou onde se fala atualmente
uma língua românica, incluindo as respectivas literaturas e a cultura de seus povos.
Levando-se em conta as mudanças ocorridas no tempo e no espaço relativas à
abrangência dos territórios considerados românicos distinguem-se três fases na
história da România.
Referência bibliográfica
DIEZ, Friedrich. Grammaire des langues romanes. 3. ed. Paris: A. Franck Édit., 1874, 3
vol. (1836)

Em seguida, Bassetto (2005) apresenta os perídos da România: a România Antiga, a


România Medieval e a România Moderna.

Períodos da România

România Antiga
Bassettto (2005) identifica a România Antiga como um conjunto de territórios
com um total de 301 províncias. O texto apresentado a seguir (p. 179) o(a) ajudará a
entender o conceito de România Antiga.

România Antiga
Como se notou, as primeiras atestações da România indicam que o termo era
sinônimo de Império Romano ou Orbe Romano, com denotação étnica e política no
Ocidente e apenas política no Oriente. A esse conjunto de territórios, que nos pri-
meiros decênios do século II d.C. atingiu sua extensão máxima, com um total de 301
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províncias, dá-se o nome de România Antiga. A denominação se apóia em critérios


mais políticos que lingüísticos e culturais. É certo que em todas as províncias, mesmo
nas mais distantes, o latim era falado pelo menos pelo exército, pela administração,
pelos colonos e comerciantes. Mas houve províncias que fizeram parte dessa România
Antiga por muito pouco tempo, como a Armênia (de 114 a 117 d.C.), a Assíria e a
Mesopotâmia (de 115 a 117 d.C.), nas quais a latinização foi nula. Em todo o Oriente,
a língua usual era o grego, e o latim não chegou a se impor; basta lembrar que dos
milhares de papiros existentes, provenientes daquela região, apenas cerca de quatro-
centos são escritos em latim e, mesmo assim, há os grafados com caracteres gregos;
e a influência grega é perceptível praticamente em todos eles.
Outras regiões, como os Agri Decumates, a leste do rio Reno e norte do rio
Danúbio, e também a Britânia, conquistada lentamente entre 43 a 71 d.C., foram
latinizadas apenas superficialmente; nesses territórios, a presença romana deixou seus
traços em numerosas ruínas de obras públicas, tais como aquedutos, teatros, estradas
etc., mas poucos vestígios do latim.

România Medieval

Na seqüência, Bassetto (2005, p.179-181) apresenta o conceito de România Me-


dieval afirmando que a expressão diz respeito às regiões em que se continuou a falar
o latim vulgar, após a queda do Império Romano do Ocidente, em 476. Leia o trecho
abaixo e saiba mais sobre a România Medieval.

România Medieval
A redução da România Antiga começou, portanto, já no século II d.C.. As
invasões dos povos germânicos e eslavos, como se viu, causaram a fragmentação pri-
meiramente política e posteriormente lingüística da România. O Império do Oriente
subsistiu ainda por cerca de dez séculos; ali, porém, o predomínio da língua e da
cultura gregas sempre foi incontestável, embora o latim tivesse sido a língua oficial
por muito tempo.
Assim, com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, o conceito de
România passou a ser principalmente cultural e lingüístico e eventualmente político.
A România Medieval abrange as regiões em que se continuou a falar o latim vulgar,
agora em rápido processo de fragmentação rumo a dialetos e línguas românicas atra-
vés da fase romance. Trata-se de uma România reduzida, composta pela Itália, Récia,
Gália, Ibéria, ilhas mediterrâneas, Dalmácia e Dácia, territórios onde, grosso modo,
nasceriam os dialetos e as línguas românicas. Perderam-se as já citadas regiões fraca-
mente romanizadas; os Bálcãs, como o atestam dados do substrato em vários pontos,
desromanizaram-se mais lentamente. A Dalmácia continuou pertencendo ao Império
do Ocidente na divisão de 395, depois da morte de Teodósio, o Grande, enquanto a
região do leste, dita “Praevalitana”, passou a pertencer ao do Oriente. Assim, a antiga
Dalmácia permaneceu por mais um século e meio sob a influência de Roma, tendo
sido dominada por Constantinopla em 535; com isso, sua evolução lingüística acom-
panhou em parte a das línguas românicas ocidentais. Explica-se desse modo que o
ragusano, dialeto da região de Ragusa ao sul, só tenha desaparecido no século XV; e o
dalmático, língua falada ao longo da costa do mar Adriático e cujo último reduto foi a
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ilha de Veglia ou Querso (esl. Krk), donde o nome veglioto, descoberto e estudado por
Matteo Bartoli, desapareceu somente no fim do século passado.
A perda desse território da România começou durante a Idade Média; os diale-
tos românicos foram sendo lentamente empurrados em direção ao mar, tornando-se
substrato das línguas eslavas hoje ali dominantes. A Dácia, mesmo isolada e totalmente
cercada por falares não românicos, nunca deixou de fazer parte da România, bem
como pequenas ilhas lingüísticas onde se falam variedades consideradas diale­tos do
romeno.
Na Gália, perdeu-se a parte oriental da Bélgica e parte da Bretanha, ocupada
pelos bretões celtas provenientes, no século VI, das ilhas britânicas e falantes de uma
variedade lingüística do ramo celta britânico, como o címrico e o córnico. Na Península
Ibérica, exclui-se apenas o País Basco, na divisa com a França e ao longo do golfo de
Biscaia; seu território, porém, vem sendo diminuído através dos séculos; hoje abrange
aproximadamente a metade do espaço que ocupava no século XVI.
No continente africano, as perdas da România foram grandes. A África Romana
constava da Africa Proconsularis (região da antiga Cartago), da Mauretania Caesarensis,
Tingitana e Numidia, ou seja, do Marrocos à Tripolitânea em termos atuais. Todo o
norte africano havia sido bem romanizado até Leptis Magna, na província da Africa
Proconsularis; nos territórios mais ao oriente, a presença grega era grande e a latiniza-
ção extremamente tênue. Com a invasão dos vândalos e a subseqüente formação do
primeiro reino bárbaro dos vândalos (429-534) em território do Império, a cultura
latina começou a ser erradicada do norte da África; com a tomada de Cartago por Abd
EI-Malik, em 698, e implantação do domínio árabe, os traços da cultura latina foram
quase totalmente eliminados, tanto que nem o domínio de franceses e espanhóis em
séculos posteriores conseguiu reanimá-los.
Com todas essas perdas, a România Medieval representa a fase territorialmente
menos extensa, mas foi nela que as línguas românicas se formaram.

România Moderna
Por último, Bassetto (2005, p. 181-183) apresenta o terceiro período da România: a
România Moderna. Afirma que este período é o mais amplo dos três, graças às conquistas
de novos territórios, especialmente da África, pelos portugueses e espanhóis, no fim
do século XV; quando, com objetivos religiosos, econômicos e comerciais, se lançaram
ao mar para conquistar novas terras. Leia o trecho apresentado a seguir e conheça as
regiões que fazem parte da România Moderna.

România Moderna
A fase moderna da România começa no fim do século XV, quando portugueses
e espanhóis, levados pelo êxito da reconquista da Península Ibérica, atacaram o norte da
África; os portugueses ocupam Tânger e Ceuta (1471) e os espanhóis, Melila (1497) e
Oram (1509) na região do atual Marrocos. Ao mesmo tempo, os portugueses projetam
contornar a África para continuar a combater o islamismo e completar a reconquista,
além de reaver a Terra Santa com a ajuda de um certo Padre João, da Abissínia, que
se supunha cristão. A esses objetivos religiosos juntaram-se outros, econômicos e
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comerciais, como estabelecer relações diretas com a África Oriental, tendo em vista
escravos, ouro, especiarias e outras mercadorias.
Iniciaram-se, assim, as grandes navegações com a descoberta da Ilha da Madeira
(1419), dos Açores (1431) e Cabo Verde (1445). Vasco da Gama encontra a rota para as
Índias em 1498, contornando o cabo das Tormentas e, em 1500, Pedro Álvares Cabral
chega ao Brasil. Cristóvão Colombo descobre a América Central em 1492, seguido por
numerosas expedições que incorporaram grande parte das Américas ao reino espanhol
e nelas implantaram a língua castelhana. A primeira grande expedição francesa para
a América do Norte é de 1524 e a seguinte de 1534, chefiadas respectivamente pelo
florentino Verrazano e por Jacques Cartier. Samuel de Champlain (1567-1635) é o
primeiro governador do Canadá, com autoridade sobre a Terra Nova, Nova Escócia
e Nova França; com a chegada de mais de 10.000 colonos franceses, outra língua
românica é implantada no Novo Mundo. Nas Antilhas, o francês foi introduzido em
São Cristóvão (1625), São Domingos, Guadalupe, Martinica (1635) e Haiti (1655); no
continente da América do Sul, o francês só é falado na Guiana Francesa.
Na África, o português foi implantado com as sucessivas conquistas na Guiné
Portuguesa, Angola, Moçambique e nas ilhas de Príncipe e São Tomé. As possessões
espanholas na África não chegaram a implantar o espanhol, como em Rio d’Ouro (na
altura das Canárias) e na Guiné Espanhola. O francês convive ainda hoje com dialetos
locais nas antigas possessões da África Ocidental Francesa (1904), África Equatorial
Francesa (1852-1905), em Madagascar (1896), Marrocos e Congo Francês. A Algéria
pertenceu à França de 1830 a 1962, ano em que lhe foi concedida a independência
completa, condicionada apenas à concessão de garantias aos franceses ali residentes.
Em 1906, cerca de 13% da população era francesa; com a independência, muitos desses
franceses denominados “pieds noirs” (“pés pretos”) emigraram. Por causa do grande
número de variedades dialetais autóctones, o francês ainda hoje é a língua de cultura
tanto nos países do norte da África (Argélia, Tunísia, Marrocos) como nos territórios
centrais do continente, que foram antigas possessões francesas.
No Oriente, o português se fixou nos pequenos enclaves conquistados na Índia:
Diu, Damão, Goa, Mangalor; com a ocupação militar desses territórios por Nehru,
em 1961, a situação do português ficou difícil. Já em Macau,
na foz do rio Sikiang na China, o português evoluiu para
um dialeto crioulo ainda hoje existente, tendo acontecido Enclave
o mesmo em Jaua, Málaca e Singapura e em alguns pontos Terreno ou território encravado noutro.
da ilha do Ceilão, onde se fala o crioulo malaio-português.
Também o castelhano das Filipinas veio a se transformar em
um tipo crioulo. De modo semelhante, na ilha de Curaçao, próxima da Venezuela, nas
Antilhas, formou-se uma variedade crioula, denominada “papiamento”, com base inicial
portuguesa mas atualmente com forte influência castelhana, que dispõe até de modesta
literatura e é usada em jornais e revistas, embora a ilha seja uma possessão holandesa.
Em fins do século passado, as possessões francesas no Oriente compreendiam a Co-
chinchina (1862), o Cambodja (1863), o território do atual Vietnam (1883), Laos (1893)
e Tonkin, ao norte (1884); na Península da Índia, pertenceram à França os enclaves de
Yanaon, Mahé e Pondichery; na Oceania, as ilhas Marquesas, Tahiti e Tuomotu entre
outras. Mais permanente é a influência do francês nas ilhas da Oceania do que nos
territórios do continente asiático, onde o francês permaneceu nos meios cultos.
Convém ainda lembrar as migrações, que têm levado milhares de falantes de
uma língua românica para países ou regiões de língua não românica, em busca de
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melhores condições de vida, como os milhões de latinos que


Sefarditas vivem nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha e
Diz-se dos judeus descendentes dos pri- alhures. No cômputo geral, esses migrantes representam um
meiros israelitas de Portugal e da Espa- número expressivo, difícil, porém, de ser calculado, tendo em
nha, expulsos, respectivamente, em 1496 vista que muitos deles são clandestinos.
e 1492 (sefaraditas). Há ainda grupos isolados de fala românica, embora
restrita, como os sefarditas levantinos, judeus de fala castelha-
na, expulsos em 1492 e acolhidos inicialmente pela Turquia;
atualmente, vivem também na Bósnia, Macedônia, Bulgária, Romênia e Grécia; o
castelhano deles ainda hoje corresponde ao do período clássico, com a conservação
do /f/, que não passou a /h/ ou a /ф/, distinção das sibilantes /s/ e /z/ surdas e
sonoras etc., e que é conhecido como “ladino”, quando usado nos livros religiosos. Parte
deles concentrou-se em Salônica, onde chegaram a constituir metade da população. De
Portugal, os judeus foram expulsos por D. Manuel I, o Venturoso, em 1496; fixaram-se
sobretudo na Holanda, na capital Amsterdam, na Alemanha, na cidade de Hamburgo e
na Baviera, e na Itália em Livorno. Um manuscrito do século XVIII afirma que os judeus
da Holanda e de Livorno falavam todos o português. Atualmente, porém, é certo que
os de Livorno falam o italiano; na Alemanha e na Holanda, o português conservou-se
por mais tempo, como também o castelhano no ambiente sefardita, mas atualmente
restam apenas alguns nomes de família e um número restrito de vocábulos.
O esboço acima traçado da expansão dos povos e coletividade de língua ro-
mânica mostra que a România Moderna é a mais ampla das três, embora não se tenha
fixado em todos os territórios para os quais a respectiva língua românica foi levada.
De qualquer forma, porém, as línguas românicas são faladas em todos os continentes,
detentoras em toda parte duma literatura muito vasta e valiosa.

EXERCÍCIO
As questões abaixo o(a) ajudarão na compreensão do conceito de România. Dis-
cuta as suas respostas com o tutor, no próximo encontro presencial.
1. Analise as afirmações abaixo e escolha a que melhor conceitua o termo România.
Justifique, em um texto de, no máximo, 5 linhas, sua escolha.
a) Se o Império sobreviveu como ideal de ordem política durante toda a Idade Média, a
unidade lingüística e cultural dos territórios romanizados não impressionou menos os
antigos, romanos ou bárbaros. Para denominar essa diversidade lingüística e cultural,
emprega-se o termo România.
b) Em termos restritos, conceitua-se, lingüisticamente, a România como toda a área
geográfica que, em virtude das conquistas romanas, foi latinizada. Convém lembrar,
porém, que essa latinização não constituiu substrato étnico uniforme. Em temos amplos,
a România abrange toda a área geográfica por onde se expandiram os idiomas neolatinos
na África, na América, na Ásia e na Oceania.
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c) O termo România é usado modernamente referindo-se a toda área ocupada por


línguas de origem latina, sendo que os limites da România atual e do antigo Império
Romano coincidem.

2. Para verificar se aprendeu os conceitos relativos aos períodos da România, elabore


um texto de, no máximo, de 5 linhas, sobre cada um dos itens abaixo.
a) România Antiga
b) România Medieval
c) România Moderna

Fases da Evolução das Línguas Românicas


O que você estudou acima são os aspectos relativos à localização do latim e das
línguas românicas no espaço, aspectos mais relacionados com sua história externa. Agora
você vai estudar as fases da evolução interna das línguas românicas, ou seja, as fases por
meio das quais o latim, em sua variedade vulgar, originou as línguas românicas: a fase
latina, a fase romance (intermediária) e a fase das línguas românicas modernas.

A fase latina
A fase latina compreende o período de formação do Império Romano (aproxi-
madamente do século VI a.C. ao século V ou VI d.C.), em que o latim, tanto na variante
vulgar quanto na clássica, tornou-se a língua do Império. Convém ressaltar que o latim,
levado pelos legionários, colonos, comerciantes e funcionários públicos romanos, im-
pôs-se pela força das próprias circunstâncias: tinha o prestí­gio de língua oficial, servia
de veículo a uma cultura superior, era o idioma da escola.

Enquanto houve unidade política no Império Romano, o latim vulgar apresenta-


va relativa coesão interna. A partir do século V d.C., com a queda do Império Romano,
decorrente da invasão dos bárbaros, o latim vulgar entrou em processo de fragmenta-
ção mais ou menos rápido conforme a região. A rapidez da fragmentação foi determi-
nada por fatores como o grau de latinização e a ação dos substratos e superstratos, além
das variações dialetais do próprio latim vulgar.

Para entender um pouco mais o latim que serviu de base para a formação das línguas
românicas, leia o trecho abaixo, de Bassetto (2005, p. 184), que afirma que o latim vulgar,
como toda língua ou dialeto falado em regiões amplas, apresenta uma uniformidade
básica com variantes mais ou menos notáveis.
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Fase Latina
Quanto a essas variedades do latim vulgar, muito se tem discutido. Levados pelo
propósito de dar às línguas românicas uma fonte única, romanistas do século passado
exageram em salientar uma homogeneidade quase absoluta, dificilmente sustentável.
Contudo, as divergências de pormenor entre as línguas românicas postulam bases
latinas vulgares diversificadas e explicadas pela época em que a região foi latinizada,
pelas distâncias em relação ao centro e pela dificuldade de acesso e de comunicação.
Desse modo, as regiões de colonização mais antiga teriam um latim mais arcaico,
enquanto as mais recentes apresentariam uma língua mais evoluída. A distância da
Ibéria e da Dácia, em relação a Roma, explicaria os arcaísmos do latim vulgar dessas
regiões, o mesmo acontecendo com a Sardenha, pelas dificuldades de acesso, além das
inibições normais decorrentes de se considerar a ilha como terra de degredo. Essas
circunstâncias, porém, podem ter sido atenuadas pela presença da administração e os
outros fatores apontados.

Por outro lado, são também inegáveis as numerosas concordâncias no léxico, na


fonética, na morfologia e na sintaxe. Em conclusão, pode-se afirmar que o latim vulgar,
como toda língua ou dialeto falado em regiões amplas, apresenta uma uniformidade
básica com variantes mais ou menos notáveis.

A unidade do grande Império, não obstante a diversidade de povos que o compu-


nham, arrancou do poeta Rutílio Namaciano esta exclamação: “Fizeste uma pátria única,
de diversas nações; fizeste uma cidade que antes era um mundo”.

A fase romance
Você já sabe que a modalidade do latim que mais substancialmente contribuiu
para a formação das línguas românicas foi a falada pelos colonos e soldados. Quando
os romanos conquistavam outros povos, ao lodo dos soldados seguiam pedagogos,
funcionários e outros profissionais necessários à consolidação da conquista. A língua
foi, evidentemente, ensinada nas escolas fundadas, ao mesmo tempo em que se infiltrava
na massa popular, impondo-se como instrumento de maior cultura e como idioma do
conquistador.

Tudo indica que os romanos não impunham diretamente a língua latina, mas
fato é que as circunstâncias gerais e o serem eles os conquistadores determinavam o
predomínio do latim sobre as línguas nativas. Desta ou daquela forma, o certo é que
essas línguas acabaram absorvidas pelo latim falado. Mas a absorção não se poderia dar
sem conseqüências diferenciadoras e, semelhantemente ao que sucede a qualquer língua
falada por uma coletividade estrangeira, o latim foi-se alterando, em função das necessi-
dades regionais, dos hábitos fonéticos do povo conquistado e da época da romanização
da província. Enquanto perduraram a unidade política e a influência conservadora das
escolas, aquelas alterações iam-se infiltrando, discretamente, porém.
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A invasão dos bárbaros, no século V, e a conseqüente quebra da unidade política


do Império fizeram com que as diferenças regionais se acentuassem.

O latim, fortemente abalado, cedeu ao crescente prestígio das novas formas de


expressão, fragmentando-se em diversas línguas.

Para uma melhor compreensão dessa fase embrionária das línguas neolatinas,
chamada de romance, leia o trecho abaixo, de Basseto (2005, p. 185).

Fase Romance
Esta fase abrange o período em que o latim vulgar começa a se modificar até
se transformar nas línguas românicas modernas. Trata-se de um processo lento, que se
estende por séculos e acabou por alterar estruturalmente o latim vulgar e fragmentar
sua unidade no plano territorial. Cronologicamente, é muito difícil estabelecer datas,
mesmo aproximadas; entretanto, admite-se que a perda da quantidade vocálica e sua
substituição pelo acento de intensidade e outras modificações fonéticas se deram nos
séculos IV e V. As modificações morfológicas e sintáticas, como a substituição dos casos
por torneios preposicionados, a criação dos artigos, a conjugação passiva só analítica,
as formas verbais perifrásticas etc. tornam-se claras apenas nos séculos VII ou VIII.
Essas breves averiguações mostram que não houve nenhum limite cronológico claro
entre o latim e as línguas românicas, não sendo, portanto, possível dizer quando o latim
vulgar deixou de ser falado, pois foi um processo gradual sem maiores injunções, cujo
“terminus ad quem” são as línguas românicas.
Chegou-se, assim, a uma época em que esse conjunto de modificações fez
com que o latim já não fosse mais entendido. A esse tipo de linguajar se deu o nome
de romance, originário do Romanice fabulare, oposto ao Latine loqui. A primeira atestação,
muito clara, da existência desse romance é o já citado cânon 17 das resoluções do
Concílio de Tours. Sabendo-se que qualquer modificação em grandes instituições, como
a Igreja, é lenta, pode-se afirmar com segurança que já antes do século IX o povo em
geral ou grande parte dele só falava o romance e não entendia mais latim, conhecido
apenas por aqueles que freqüentavam as escolas e essas eram poucas, destinadas pre-
ferencialmente a nobres e clérigos.
Da mesma forma que o latim vulgar, as variedades não foram escritas. Os que
escreviam, faziam-no em latim medieval, sob as mais diversas denominações, como
latim patrístico, litúrgico, eclesiástico, dos diplomas, das chancelarias, notarial, dos
tabeliães etc., ainda que nesses documentos se encontrem muitos termos romances,
mais numerosos que os do latim vulgar em textos literários. A atitude das pessoas
cultas em relação ao romance era semelhante à dos escritores e gramáticos latinos
relativamente ao sermo plebeius. Entretanto, em razão de essa elite culta, não houve de
fato interrupção entre a literatura latina tardia e a literatura latina medieval; os modelos
para a prosa e para o verso continuaram a ser os clássicos, residindo a dificuldade, cada
vez maior, no manejo de uma língua não mais falada ordinariamente; nesse contexto,
surgem os glossários, destinados a facilitar a leitura de textos em latim, língua que já
soava diferente, como quando lemos textos do português arcaico.
O processo modificador, em direção ao romance e às línguas românicas, co-
meçou bem cedo sob a influência dos substratos e dos adstratos, já durante o período
do bilingüismo. Datam desses primórdios os empréstimos léxicos das línguas itálicas
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(toscano, prenestino, paduano etc.), que Quintiliano considera como verba peregrina
(“palavras estrangeiras”), embora afirmando “licet omnia Italica pro Romanis habeam”
(“ainda que considere romanas todas as [palavras] itálicas”) em sua Institutio Oratoriae
1.5.56. Com a queda do Império, as forças do substrato e do superstrato aceleram o
processo, ocasionando o que W. von Wartburg denominou Ausgliederung, desmembra-
mento ou fragmentação lingüística da România.
A evolução desse processo modificador e fragmentador era percebida por
observadores, como São Jerônimo (348-420), discípulo de Aelius Donatus, ao afirmar
que o latim se modificava “et regionibus quotidie... et tempore” (Comm. ad. Gal. 2.3).
A hipérbole expressa pelo quotidie (“diariamente”) denota a rapidez da fragmentação
lingüística aos olhos do autor. Os regionalismos e os empréstimos léxicos se multi-
plicam e se fortalecem. A ausência de um fator de unificação, como havia sido, por
exemplo, a administração romana, facilitou a ação, embora inconsciente, das tendências
modificadoras na fonética, na morfologia, na sintaxe e no léxico.

Nessa fase, a fragmentação da România foi tão grande que nenhuma variedade
lingüística conseguiu a princípio destacar-se como comum a alguma região mais vasta,
conforme se vê na história de cada uma das línguas neolatinas ou românicas: o português,
o galego, o espanhol, o catalão, o francês, o provençal, o franco-provençal, o italiano,
o rético e o romeno.

EXERCÍCIO
A questão abaixo servirá para você mostrar que compreendeu os conceitos que
foram estudados até aqui. Discuta a sua resposta com o tutor, no próximo encontro
presencial.

1. Levando em conta tudo o que você aprendeu, até o momento, sobre as fases da evo-
lução das línguas românicas, redija um texto de, no máximo, 10 linhas sobre os aspectos
que caracterizam cada uma delas.

A Fase das Línguas Românicas Modernas


Com a queda do Império Romano, séc. V d.C., surgiram vários reinos construí-
dos pelos povos bárbaros sobre as ruínas do antigo Império. As populações românicas,
entretanto, mantiveram por muito tempo ainda o sentimento de pertencerem a uma só
grande nação. O romance local preenchia muito bem esse sentimento, uma forma popu-
lar e familiar da língua comum, o latim. Por outro lado, o cristianismo não favorecia o
aparecimento do nacionalismo e com ele o anseio por uma língua nacional distintiva. A
leitura do texto abaixo, de Bassetto (2005, p. 186-188), o(a) ajudará a compreender as
diversas fases da constituição das línguas românicas.
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Fase das Línguas Românicas Modernas


Quando, porém, os limites das diversas nações vieram a tornar-se menos ins­
táveis e os falares românicos assumiram o status de línguas literárias, ainda que de
modo bastante lento, a situação se altera. De inicio, porém, não se pode falar a rigor
de línguas; são antes um conjunto de dialetos. Razões diversas levaram uma dessas
variedades a se destacar e depois a se impor sobre as demais, relegando-as ao plano
familiar ou, no máximo, regional.
A fase romance é variável para as diversas línguas românicas, de modo que as
respectivas línguas literárias surgem em épocas diferentes; os primeiros documentos
surgem entre os séculos IX e XVI. Assim, consideram-se os dois textos em “romana
língua” dos Juramentos de Estrasburgo (842) o primeiro documento em
uma língua românica. Contudo, não se sabe com certeza de que região
Cultismo
da França seria dialeto usado; os cultismos indicam certa elaboração,
Relativo ao culto, erudito.
como o emprego do subjuntivo sit,dificilmente admissível como vul-
gar. Só no ano de 987, a corte real francesa se instala na Île-de-France,
iniciando com isso a elevação do dialeto local, o frâncico, até então
sem qualquer notoriedade, à condição de língua oficial e, posteriormente, literária,
o que vem a se concretizar apenas no século XV. Nessa escalada, essencial lhe foi o
apoio político, sobretudo em sua luta contra a concorrência do normando no século
XII e a do picardo no século XIII.
Em português, os primeiros documentos começaram a surgir no século XII:
a poesia datável mais antiga é a cantiga de amor de Paay Soarez de Taveiroos - “No
mundo non m’ei parella” - escrita entre 1189 a 1206. Formado com base nos falares
de Lisboa e de Coimbra e maiores contribuições dos dialetos do sul que dos do norte,
o português literário não sofreu concorrências dialetais, como o francês, mas teve que
firmar sua identidade perante o castelhano. Assim, Gil Vicente (1470-1540) tem autos
e farsas em português e em castelhano e em algumas de suas obras usou as duas lín-
guas, refletindo uma situação em que não eram ainda bem claros os limites distintivos
entre as duas línguas, o que vai ocorrer com Luis Vaz de Camões (1524-1580) em Os
Lusiadas (1572).
De modo geral, as línguas românicas assumiram sua feição literária definiti­va
nos séculos XV e XVI: em algumas há consideráveis diferenças entre a língua dos
primeiros documentos e a literária moderna. Lendo-se, por exemplo, a Chanson de
Roland tem-se a impressão de uma língua estranha com muitos poucos pontos de
contato com o Francês atual; o mesmo acontece com o castelhano do Cantar del mio
Cid, embora em menor proporção.
Nessa perspectiva, o provençal dos séculos XI ao XIII, como língua literária
da lírica trovadoresca, apresenta notável unidade, apesar das variações dialetais. Da
mesma forma, o catalão literário dos séculos XIII, XIV e XV se caracteriza por uma
extraordinária unidade lingüística, explicada pelo fato de ter como modelo a língua
oficial da chancelaria do reino de Aragão.
A língua literária italiana fundamenta-se nas obras de Dante Alighieri (1265­
1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375), escritas,
em parte, no dialeto toscano ou, mais precisamente, florentino. Quando a Accademia
della Crusca, influenciada pelas Prose della volgar lingua, publicadas em 1525 por Pietro
Bembo, escolheu como modelo de seu primeiro dicionário a língua daquela famosa
tríade, especialmente a de Boccaccio, o florentino do século XIV se consagrou como
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a língua literária da Itália, caso único entre as línguas românicas. Esse retorno ao mo-
delo medieval, já literário, explica a manutenção das mesmas feições lingüísticas, tanto
que um leitor italiano de hoje não encontra maiores dificuldades em compreender a
Divina Commédia de Dante, a não ser uma ou outra expressão. A grande aceitação da
variante florentina entre os intelectuais obstou que outros dialetos chegassem à con-
dição ambicionada de língua literária.
No conjunto das línguas românicas, os motivos principais que levam uma
variedade dialetal à categoria de língua literária são de ordem cultural e política. Onde
nenhum desses motivos foi suficientemente forte, nenhuma variedade lingüística
conseguiu sobrepor-se às demais; é o que se deu com o rético, em cujo ramo ociden-
tal pelo menos cinco dialetos ainda disputam o privilégio de ser a língua literária. Na
Romênia, a falta de unidade política fez com que a verdadeira literatura romena só
surgisse no século XIX.
Em conclusão, cada língua românica tem sua historia característica e uma tra-
jetória própria, que convém conhecer.

Apesar de o Império Romano do Ocidente ter desmoronado em 476, as insti-


tuições políticas, os fundamentos jurídicos, os cânones literários e artísticos da Roma
Antiga, bem como a própria língua latina, sobreviveram até a era moderna. A língua latina
constituiu-se o veículo de transmissão do patrimônio cultural da Antigüidade. Ao lado do
grego, foi, durante muito tempo, considerada uma língua digna da literatura, da poesia,
da ciência, da filosofia, da religião, etc. Em face disso, as línguas vulgares mantiveram
entre si uma posição de igualdade, de equivalência, e, ao mesmo tempo, de submissão
cultural à influência greco-latina. Com efeito, ainda hoje, a maioria dos termos técnicos,
científicos ou simplesmente os vocábulos de cultura de qualquer língua ocidental são
empréstimos das línguas clássicas ou estão formados com elementos morfológicos dessas
línguas e segundo seus modelos.

EXERCÍCIO
Para fixar melhor seu entendimento sobre a leitura anterior, responda às ques-
tões abaixo:
1) Qual o primeiro dialeto reconhecido como língua oficial?
2) Qual a importância da cantiga de amor “No mundo non m’ei parella”, de Paay Soarez
de Taveiroos?
3) Além do francês e do português, que outras línguas românicas surgiram?
4) Quais os principais motivos do surgimento das línguas românicas?
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LEITURA COMPLEMENTAR
Apresentamos como leitura complementar o texto “O acesso dos romances à
escrita: os primeiros documentos em romance”, de Rodolfo Ilari (1992, p. 198-202).
Nele o autor discorre sobre as condições de acesso dos romances à escrita e apresenta
exemplos de transcrições de textos antigos que revelam o aparecimento do romance
na escrita.

O Acesso dos Romances à Escrita:


Os Primeiros Documentos em Romance
Condições de acesso dos romances à escrita
Por vários séculos, os romances foram variedades lingüísticas tipicamente fa-
ladas, aprendidas como primeira língua e presentes em todas as atividades diárias, mas
sem acesso aos documentos escritos, em que se continuava usando o latim literário –
ou antes aquilo que dele havia sobrevivido no conhecimento das pessoas cultas e das
instituições afeitas à transmissão da cultura.
Por muito tempo, as pessoas tiveram a ilusão de que o latim literário, chamado
às vezes de “gramática”, nada mais era do que a versão escolar e correta de sua língua
materna, ou seja, o latim literário e os “vulgares” foram vistos por longo tempo como
aspec­tos de uma mesma língua. No fim do primeiro milênio, contudo, o fosso que
se havia criado entre ambos era suficientemente grande para que começassem a ser
encarados como duas línguas distintas. Que o latim já não era compreendido pelas
pessoas incultas, fica claro nas disposições do Concilio de Tours (813), que recomen-
davam ao clero traduzir suas homilias e sermões para o romance ou para a língua
germânica falada na região.
No difícil caminho pelo qual os romances conseguiram impor-se na escrita,
deve considerar-se uma fase em que contaminaram o latim escrito da época na for-
ma de interferências. Essas interferências deviam-se sobretudo à precária cultura dos
escritores e copistas que, ao redigirem ou grafarem textos latinos, tendiam natural-
mente a cometer descuidos em aspectos da morfologia e sintaxe onde os textos mais
diferiam de sua língua materna. Essas interferências, cada vez mais numerosas nos
últimos séculos do primeiro milênio e nos primeiros do segundo, são um sintoma
da importância crescente dos romances, mas na busca dos primeiros documentos
românicos os estudiosos têm procurado escritos que revelem a consciência de redigir
numa língua autônoma, distinta do latim.
Esta consciência revela-se, num primeiro momento, sobretudo em dois tipos
de textos: (i) os que foram escritos com o intuito de reproduzir as palavras textuais de
alguém, (ii) os que foram escritos especificamente para glosar um texto latino, isto é,
traduzir palavras e passagens obscuras ou comentá-lo para uso das pessoas incultas.
Mais tarde, será possível qualificar como documentos representativos do romance
vários textos escritos para fins práticos (cartas, privilégios, disposições legais), de edi-
ficação religiosa (vidas de santos, em versão poética ou dramática, orações a serem
pronunciadas durante os ofícios religiosos), ou estético-literários (letras de canções,
poemas líricos e épicos, conforme as tradições e os gostos das várias regiões).
A seqüencia deste capítulo é constituída por uma série de transcrições de tex-
tos antigos que exemplificam o aparecimento do romance na escrita. Em sua escolha,
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procurou-se, simultaneamente, (i) exemplificar a variedade das situações em que o


romance faz seu aparecimento na escrita; (ii) mostrar documentos representativos
das várias regiões da România. É por isso que entre o mais antigo dos documentos
apresentados, os “Juramentos de Estrasburgo”, e o mais recente, uma versão romena
do “Pai-Nosso” impressa em Brasov logo depois da Reforma, há um espaço de nada
menos que sete séculos.
Os textos são acompanhados de breves informações históricas, e de uma tra-
dução tão literal quanto possível. É claro que essa tradução, embora contribua para
esclarecer uma ou outra palavra ou construção, não substitui um autêntico comentá-
rio filológico, voltado para o esclarecimento mais completo da ortografia e da língua
dos textos: mais do que nunca, vale aqui a recomendação de completar esta leitura
com uma consulta atenta e paciente da bibliografia.

Ipsa verba
Consideremos primeiro os documentos que foram redigidos em ro-
mance para registrar com exatidão as palavras textuais de alguém: (“ipsa ver-
ba”). Trata-se de documentos de caráter político ou cartorial, que interessou redigir
em romance por uma preocupação de fidelidade à fala dos interessados, quando o usa
do latim poderia ter conseqüências indesejáveis.
(a) Os “Juramentos de Estrasburgo”
O texto de “Juramentos de Estrasburgo”, o mais antigo documento românico
que sobreviveu até nós, data de 842; consiste nas fórmulas de juramento pronuncia-
das para sancionar a aliança de dois herdeiros do Império de Carlos Magno, Luís, o
Germânico, e Carlos, o Calvo, e a promessa de se apoiarem reciprocamente contra o
irmão mais velho e inimigo comum, Lotário. Para ser compreendido pelos vassalos
de Carlos, o Calvo, que eram francos romanizados, Luís, o Germânico, pronunciou
seu juramento em romance e depois em germânico; em seguida, as vassalos dos dais
príncipes juraram em sua própria língua. O historiador que registra o episódio foi
testemunha ocular dos fatos e é até provável que tenha participado da redação da fór-
mula do juramento. Nessas circunstâncias não há dúvida de que o texto que chegou
até nós reproduz fielmente as palavras efetivamente pronunciadas, e que estas deviam
ser compreensíveis a todos os vassalos de fala românica que participaram do ato.
Eis a transcrição do juramento:
Pro Deo amur & pro christan poblo & nostro comun salvament, ‘d’ist di in avant
quand Deus savir & podir me dunat, si salvarei eo cist mon fradre Karlo & in aiudha
& in cadhuna cosa, si cum om per dreit son fradra salvar dift, in o quid il mi altresi
fazet et ab Ludher nul plaid nunquam prindrai ki, meon vol, cist meon fradre Karle
in damno sit.
(Por amor a Deus e pelo povo cristão e nossa salvação comum, deste dia em diante,
enquanto Deus me der saber e poder, assim salvarei eu este meu irmão Carlos, e
na ajuda e em cada coisa, assim como homem por direito seu irmão salvar deve,
enquanto ele a mim da mesma forma fizer, e de Lotário nunca aceitarei nenhum
acordo que, por minha vontade, seja em prejuízo a este meu irmão Carlos.)

Em relação ao romance falado na época, a língua dos “Juramentos de Estras-


burgo” é surpreendentemente arcaica: de fato, no norte da França, em pleno século
IX já estavam consumadas certas mudanças (como a palatalizacão de k seguido de a,
cp. o Francês moderno Charles, chose, chacun) que o texto dos Juramentos não registra.
Várias.hipóteses foram aventadas para explicar esse tom arcaico dos Juramentos: (i)
eles teriam ·sido redigidos inicialmente em latim, e traduzidos em seguida para as
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línguas modernas; a grafia latina teria então interferido na grafia do romance, para a
qual não havia convenções; (ii) os Juramentos teriam sido redigidos num dos tantos
dialetos arcaizantes da região d’oil (lembre-se que há no norte da França alguns diale-
tos mais arcaizantes do que o frâncico, por exemplo, o normando e picardo); (iii) seus
redatores teriam procurado expressar-se numa espécie de língua comum, compreen-
sível para falantes de vários dialetos; o arcaísmo seria assim o preço pago por escrever
numa espécie de koiné.
Essas hipóteses chamam à atenção as condições peculiares em
que os Juramentos foram escritos, e têm um interesse exemplar: inter-
Koiné
ferência do latim, presença de traços “dialetais” (em oposição à poste-
Dialeto utilizado como língua
rior definição de standards nacionais) e busca do caráter de koiné são três
franca
características presentes em muitos dos primeiros textos românicos.
(b) Alguns documentos de caráter legal
Imagine-se, em pleno século X, uma demanda pela propriedade de terras entre
os clérigos de um convento, versados em latim literário, e seus adversários, falantes
da língua vulgar. É óbvio que toda a discussão e todos os depoimentos necessários
seriam feitos nesta última, mesmo que a sentença final fosse pronunciada em latim; e
a preocupação em evitar equívocos levaria a anotar “ipsis verbis”, isto é, em romance
todos os testemunhos. Aparentemente, foram escriturados nessas condições quatro
termos de testemunho referentes a outras tantas demandas de terras julgadas entre
960 e 963 na região da Campânia, que se conservam até hoje na biblioteca do mosteiro
de Montecassino.
Eis uma dessas fórmulas, em que a testemunha diz que uma determinada pro-
priedade pertenceu durante 30 anos sem qualquer contestação a um certo Pergoaldo;
a língua é o vulgar italiano numa variedade tipicamente meridional:
(Sessa, marco de 963)
Sao cco kelle terre, per quelle fini que tebe monstrai, Pergoaldi foro, que ki contene,
& trenta anni le possette.
(Sei que aquelas terras, naqueles limites que te mostrei, (e) que aqui (a abreviação)
contém foram de Pergoaldo, e as possuiu por trinta anos.]

Podemos supor razões análogas para que fosse registrado no romance portu-
guês este testamento em que uma monja da região portuguesa de Barcelos lega todos
os seus bens ao mosteiro de Vairão em 1193 do calendário gregoriano.
In Christi Nomine, Amen. Eu Elvira Sanchiz offeyro o meu corpo ààs virtudes de
Sam Salvador do mônsteyro de Vayram, e offeyro con o meu corpo todo o herda-
mento que eu ey em Cantegàus e as tres quartas do padroadigo dessa eygleyga e todo
hu herdamento de Crexemil, assi us das sestas como rodo u outro herdamento: que
u aia o moensteiro de Vayram por en secula séculorum. Amen.
Fecta karta mense septembri era MCCXXXI. Menendus Sanchis tes­tes. Stephanus
Suariz testes. Vermúú Ordoniz testes. Sancho Diaz testes. Gonsalvus Diaz testes.
Ego Gonsalvus Petri presbyter notavit.

BIBLIOGRAFIA

BÁSICA
BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de Filologia Românica: história externa das línguas. 2ª.
ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
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ILARI, Rodolfo. Lingüística românica. São Paulo: Ática, 1992.


ELIA, Silvio. Preparação à lingüística românica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.

COMPLEMENTAR
ILARI, Rodolfo. Lingüística românica. São Paulo: Ática, 1992.
MELO, Gladstone Chaves de. Iniciação à filologia e à lingüística portuguesa. Rio de Janeiro:
Acadêmica, 1981.

RESUMO DA ATIVIDADE
Nesta atividade, você aprendeu que a formação da România é decorrência do
percurso histórico do Império Romano e da língua latina; que o termo România surgiu
a partir de romanus, que formou o advérbio romanice, ou “à maneira ou costume roma-
no”, que, por sua vez, originou um novo advérbio, romance, que se aplicava a qualquer
texto ou composição escrita em uma das línguas vulgares. Você aprendeu também que,
modernamente, România se refere a toda área ocupada pelas línguas de origem latina.
Aprendeu, ainda, que, levando-se em conta as mudanças ocorridas no tempo e no espaço
relativas à abrangência dos territórios considerados românicos, distinguem-se três fases
na história da România: a România Antiga, a România Medieval e a România Moderna.
Em relação à história interna, você estudou, finalmente, as fases por meio das quais o
latim, em sua variedade vulgar, originou as línguas românicas: a fase latina, a fase romance
(intermediária) e a fase das línguas românicas modernas.
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O LATIM
VULGAR

a t i v i d a d e 3
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OBJETIVOS
Ao final desta atividade, você deverá ser capaz de
- saber o que é latim vulgar e as fontes para seu estudo;
- reconhecer as características do latim vulgar;
- conhecer as transformações no sistema vocálico e no sistema consonantal ocorridas
na passagem do latim clássico ao latim vulgar;
- conhecer os principais fatores responsáveis pela dialetação do latim vulgar.

Nesta atividade, você vai conhecer o latim


vulgar, que deu origem não só à língua portuguesa,
Grupo itálico mas também a várias outras línguas românicas.
Conjunto de línguas derivadas de um mesmo Vai conhecer também as características fonético-
tronco, o indo-europeu. Sua classificação
é feita segundo a origem e o parentesco de
fonológicas decorrentes do processo de dialetação
cada uma. O grupo itálico é composto pelas do latim vulgar.
seguintes línguas: osco, úmbrio, latim, italia-
no, provençal, francês, espanhol, catalão, por- Conceito e fontes do latim vulgar
tuguês, galego, romeno, sardo ou logudorês, O latim, juntamente com o osco, a sabélico, o
reto-romano, falisco. volsco, o umbro e o falisco, é uma língua que integra
Línguas indo-européias o grupo itálico, uma das línguas indo-européias. Essas
O latim pertence ao grupo das chamadas lín- línguas apresentam entre si algumas semelhanças que,
guas itálicas, que eram faladas antes de Cristo
segundo Bourciez (1956), são em número pequeno, mas
na península de mesmo nome. Por sua vez,
as ditas línguas itálicas pertenciam ao indo- inegáveis. De acordo com o autor citado, o latim era
europeu, que deu origem a quase todas as falado ao centro da Península Itálica, área que vai desde
línguas faladas na Europa. Além do latim, são a Foz do Tibre a Roma.
indo-européias :
- as línguas célticas (irlandês, inglês, escocês); O latim era uma língua rude, concreta e sem refina-
- as línguas germânicas (alemão, inglês, ho- mento de qualquer espécie. Muito mais útil à divulgação
landês); de leis e preceitos do que à poesia. Lembremo-nos de que
- as línguas eslavas (russo, polaco, tcheco, búl-
garo e servo-croata);
era uma língua falada pelos pastores e agricultores. Era
- as línguas escandinavas; uma língua prática e utilitária. Pouco a pouco, por um
- o grego; processo natural, tornou-se mais flexível. Isso, segundo
- o albanês. Bourciez (1956), deve-se à interferência do grego e da
As línguas que se falam e falaram na Europa
cultura helênica que se difundia pela Itália.
que não pertencem à família indo-européia
são o etrusco(desaparecido), o finlandês, o Finalmente, por volta da metade do século I a.C
lapão, o estoniano, o húngaro e o vascuense.
(época de César e Cícero), essa língua apresentou uma
Fora da Europa, pertence ao tronco indo-eu-
ropeu o grupo das línguas indus e o persa. estabilização desse florescimento clássico que durou
aproximadamente duzentos anos, foi elevada ao status
a.C - antes de Cristo;
d.C - depois de Cristo. de língua literária e teve como escritores figuras como
Virgílio, Horácio, Tito Lívio.
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A difusão dessa língua deve-se à conquista que seus falantes realizaram. Sabemos
que o sucesso e a propagação de uma língua estão diretamente relacionados ao sucesso
dos homens que a falam (cf. BOURCIEZ, 1956).

Como o latim vulgar era uma variedade de língua falada – não existia nenhum docu-
mento escrito nessa variedade –, para atestar sua existência recorremos às seguintes fontes:
a) inscrições populares gravadas em muros, paredes, monumentos, banheiros,
túmulos, etc. – as inscrições de Pompéia e de Herculano, cidades soterradas pela erupção
do Vesúvio em 79 d.C., são as mais importantes;
b) papiros antigos encontrados nas regiões áridas do Egito e Próximo Oriente –
eles continham produções literárias, documentos jurídicos, correspondências, glossários,
documentos militares e particulares;
c) gramáticos e mestres da retórica, que, ao atestarem a existência de uma varie-
dade “vulgar” da língua, defendiam o ideal da boa linguagem representado pelo latim
da urbs;
d) tratados técnicos em que os autores, não sendo literatos, usavam uma lingua-
gem com características populares para falarem sobre agricultura, arquitetura, medicina,
veterinária, culinária etc.;
e) relatos de peregrinações à Terra Santa, conhecidos pelo nome de Itineraria.
f) textos latinos tardios em que os autores, com fins estilísticos ou cômicos, acen-
tuavam o caráter popular presente, apenas, nas personagens do povo, dos textos latinos
do período clássico;
g) textos cristãos – quando a comunidade cristã aumentou, foi necessário adequar
os textos religiosos à língua que a maioria conhecia, o latim vulgar, e então sugiram várias
traduções da Bíblia, em linguagem adaptada aos destinatários, cristãos latinos incultos;
h) glossários – elencos de palavras ao lado das quais é posta outra, que a traduz
ou explica, da língua do leitor ao qual se destina (exemplos: pueros: infantes (“meninos”);
ictus: colpus (“golpe”);
i) elementos latinos identificados nas línguas dos povos com os quais os romanos
entraram em contato;
j) línguas românicas que herdaram e usam muitos vocábulos ainda documentados
por outras fontes.

Com os dados recolhidos por essas fontes foi possível reconstruir o latim vulgar.

Características do latim vulgar


Antes de tudo, é preciso dizer que co-existiam o latim vulgar e o latim clássico.
O latim vulgar era a língua viva, popular, que sofria constantes modificações, como
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acontece com qualquer língua em uso. Já o latim clássico era praticamente uma língua
morta. Restrita a determinados grupos. Esta variedade praticamente não sofria altera-
ções, ao contrário, tornava-se cada vez mais uniforme em
decorrência da característica estabilizadora da educação.
Fonologia
A língua aprendida nos colégios era o latim clássico ao
(do Grego phonos = voz/som e logos = pa-
lavra/estudo) qual o povo não tinha acesso.
É o ramo da Linguística que estuda o sistema
sonoro de um idioma. Esta é uma área muito De acordo com Williams (1975), não existem mui-
relacionada com a Fonética, mas as duas têm tos documentos que nos permitam um estudo rigoroso
focos de estudo diferentes. Enquanto a Foné- do latim vulgar. Poucas vezes as fontes são intencionais.
tica estuda a natureza física da produção e da
Na maioria das vezes, elas resultam da consulta a docu-
percepção dos sons da fala (chamados de fo-
nes), a Fonologia preocupa-se com a maneira mentos em que o latim vulgar aparece acidentalmente.
como eles se organizam dentro de uma lín- Assim, alguns dados apresentados por autores diversos
gua, classificando-os em unidades capazes de resultam de hipóteses que se construíram de fragmentos
distinguir significados, chamadas fonemas.
heterogêneos. Entretanto, é possível fazer uma breve ca-
Quantidade racterização, com base nesses estudos, do latim vulgar e
A quantidade (ou duração), no latim clássico,
do latim clássico no sentido de se evidenciar suas diferen-
era uma característica fonológica, ou seja, ca-
paz de distinguir palavras e morfemas grama- ças. Comecemos pelos aspectos fonético-fonológicos.
ticais: por exemplo, ŏs (o breve) = osso e ōs
(o longo) = boca.
Lexema Do latim clássico ao latim vulgar: o acento
Unidade do léxico de uma língua; item lexical;
Na fonologia, a perda da quantidade (ou duração)
palavra.
e sua substituição pelo acento intensivo, por exemplo,
Morfema
Elemento lingüístico mínimo que tem signi-
trouxe como conseqüência, entre outras, a redução das
ficado. dez vogais (as cinco longas e as cinco breves) a sete, seis
Oxítona ou cinco apenas, segundo as diversas regiões da românia,
Palavra cuja sílaba tônica é a última: Pará, com específicas evoluções posteriores.
tatu, avô. As palavras cuja sílaba tônica é a
penúltima ou a antepenúltima são chamadas No latim clássico o acento tônico era determinado
de paroxítonas ou proparoxítonas, respecti- pela quantidade (duração) das sílabas. De acordo com
vamente: dinheiro, emprego e pêssego, fós- a duração, as vogais (tanto as tônicas quanto as átonas)
foro.
podiam ser longas ou breves; as longas valiam por duas
Dissílabas breves. Pela quantidade os romanos distinguiam as signi-
Classificação das palavras quanto ao número
de sílabas: monossílabas (uma sílaba) - é, eu,
ficações lingüísticas, quer dos radicais (lexemas), quer dos
há, teu, sim, quais; Dissílabas (duas sílabas) sufixos ou flexões (morfemas). Assim, pela quantidade,
- me-sa, u-va, ma-nhã, ru-a, qual-quer; Tris- ŏs (ŏ breve – osso) diferia de ōs (ō longo – boca); rosă (a
sílabas (três sílabas) - a-ba-no, or-gu-lhar, rosa) diferia de rosā (com a rosa) .
ar-tis-ta, fu-ra-cão; Polissílabas (mais de três
sílabas) - so-bre-tu-do, an-ti-ga-men-te, in- Não havia oxítonos; os dissílabos eram paroxíto-
com-pre-en-sí-vel.
nos (fructum > fruto); os polissílabos tinham o acento
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na penúltima sílaba, se esta fosse longa (amīcum > amigo); e na antepenúltima sílaba,
se breve (arbŏre > árvore).

Já no latim vulgar, perdeu-se a noção de quantidade, adotando-se o acento de


intensidade. As vogais passaram de longas e breves para átonas e tônicas, com algumas
exceções, conforme veremos abaixo:

Latim clássico
• Palavras de duas sílabas têm acentuada a penúltima sílaba (hómo).
• Palavras que apresentam três ou mais sílabas têm acentuada a penúltima sílaba:
a) se for longa (amātur) ;
b) ou se apresentar ditongo (incāutum);
c) se for breve seguida de duas ou mais consoantes (intĕndo).
• Em palavras de três ou mais sílabas, a antepenúltima é acentuada se a penúltima for
breve (homĭnem > homem).

Latim vulgar Prefixação


• Palavras de três ou mais sílabas Processo de derivação pelo qual é acrescido
um prefixo a um radical. Exemplo: desfazer,
a) a penúltima sílaba é acentuada se apresenta inútil.
vogal breve, em “posição débil”, ou seja, a vogal
Proclítica / Enclítica
que, no latim clássico, era seguida de grupo conso- Diz-se da palavra que depende fonologica-
nantal formado de oclusiva (p, b, t, d, c, g) e líquida mente de outra, comportando-se como se
(l, r) – (cáthedra (LC) > catédra (LV)); fosse uma de suas sílabas. Se no início, diz-se
próclise (Ele se revoltou), se no meio, diz-se
b) a penúltima sílaba é acentuada quando formas mesóclise (dar-te-ei um presente), se no fim,
verbais que apresentam três sílabas são derivadas diz-se ênclise ( passaram-se dois anos e ne-
por prefixação – o acento incide no radical da nhuma notícia).
forma verbal e não no prefixo, diferentemente do
que acontecia no latim clássico, em que a antepe-
núltima sílaba era acentuada [rénego-re+nego- (LC) > renego (LV)];
c) é acentuada a segunda vogal que segue i ou e, acentuados, no latim clássico, por
se tratarem de hiatos – o latim vulgar, na sua tendência de evitar o hiato, deslocou
o acento tônico para a última vogal do hiato (mulíerem > muliére).

As principais palavras átonas, isto é, desprovidas de acento, são as chamadas


proclíticas e enclíticas, que vão formar com a palavra seguinte um todo fonético. São
proclíticas as preposições e os advérbios monossilábicos, os advérbios relativos e inter-
rogativos, os pronomes relativos e interrogativos e parte das conjunções. Por exemplo,
per angústa; ad augusta; non ámat; quem amas. São enclíticas as conjunções -que e -ue “ou”;
a partícula interrogativa -ne, as partículas reforçativas -ce; -dem; -dum; -met; e a preposição
-cum. Exemplos: nosque, eadem, mecum.
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Um dos argumentos que corroboram para a afirmação de que o português derivou do


latim vulgar e não do latim clássico é o fato de o acento em português incidir na mesma
sílaba em que incidia no latim vulgar.

EXERCÍCIO
As questões abaixo servirão para você avaliar se está internalizando corretamente
as informações apresentadas até aqui. Elas tratam do conceito de latim vulgar, das dife-
renças entre este a o latim clássico e das fontes para o estudo do latim vulgar. Resolva-as
com atenção e discuta as respostas com o tutor, no próximo encontro presencial.

1. Qual a diferença entre o latim clássico e o latim vulgar?


2. O latim clássico e o latim vulgar são duas línguas diferentes ou duas variedades da
mesma língua? Justifique.
3. A que grupo lingüístico pertence o latim?
4. O tópico que conceitua o latim apresenta-o, inicialmente, como uma língua rude que,
posteriormente, passou a se caracterizar como uma língua literária. Pode-se dizer que,
durante o período em que era considerada uma língua rude, era considerada inferior à
língua dos gregos, por exemplo?
5. Cite duas diferenças fonéticas entre o latim clássico e o latim vulgar.
6. Associe as colunas, ligando a fonte de latim vulgar aos exemplos:
a) inscrições populares
b) papiros antigos
c) gramáticos e mestres da retórica
d) tratados técnicos
e) relatos de peregrinações à Terra Santa
f) textos latinos tardios
g) textos Cristãos
h) glossários
i) elementos latinos identificados nas línguas dos povos
com os quais os romanos entraram em contato
j) línguas românicas

( ) “In oh tumolo regiescet in pace boné memorie Leo vixet annus XXXXXII transiet nono
Ids. Ohtuberes” – “Neste túmulo, Leo descansa na paz da boa memória; viveu 52
anos; faleceu no nono dia dos idos de outubro”.
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( ) Quintiliano (Institutio Oratoriae, XII,10,40) escreveu: “Nam mihi aliam quan-


dam videtur habere naturam sermo vulgaris, aliam viri eloquentis oratio. (“Pois a linguagem
vulgar parece-me ter uma certa natureza, enquanto outra é a do discurso de
um orador”).
( ) “Admiror, paries, te non cecidisse ruinis, qui tot scriptorum taedia sustineas”. (CIL., IV,
1904 – Admiro-me, parede, não teres caído em ruínas, tu que agüentas o tédio de
tantos escritores” – pichação em Pompéia).
( ) A Regula Monachorum de S. Bento de Núrsia revela a pouca cultura e o reduzido
conhecimento literário de seu autor. Como reflexo do latim daquela época, dá
interessantes informações, sobretudo, sobre a sintaxe latina. As preposições vêm
sistematicamente com o acusativo, substituindo o ablativo: “mox omnes de sedilia
sua surgant” (logo todos se levantem de seus assentos).
( ) Vitruvius Pollio (século I a.C.) escreveu De Architectura; usou também os
escritos de Hermógenes (200 a.C.) e de outros arquitetos gregos.
( ) demonizationes: subprestitiones
demolire: dissipare
fimum: stercus animalium
flagrat: ardet
( ) O emprego de qualis como pronome relativo é antigo, por ser comum a todas
as línguas românicas, inclusive ao romeno e ao sardo: Rom. care (<calem), it. quale
(<calem), fr. quel, prov. cal, cat. cal, cast. cual, port. qual.
( ) Carta de um certo Rustius Barbarus a seu amigo Pompeu, do século II d.C.,
encontrada em Ostracon, no Egito.

Do latim clássico ao latim vulgar: as vogais


Vamos, agora, estudar algumas características das vogais do latim clássico e do latim
vulgar. Aqui serão apresentadas algumas modificações pelas quais o sistema fonológico
do latim clássico passou. Serão abordados aspectos referentes a vogais no que se refere
às suas combinações e às diferentes posições em que se realizavam.

A diferença entre vogais no latim clássico era feita por meio do critério quantitativo
(longas e breves). Já no latim vulgar essa diferença era qualitativa, excetuando-se o caso
da vogal a, para a qual não se fazia diferença qualitativa.

De acordo com os estudos sobre o latim clássico, eram dez as vogais que compu-
nham esse sistema fonológico. Abaixo, podem-se caracterizar essas vogais observando-se
aspectos como anterioridade ou posterioridade, altura e quantidade.
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Quadro 01: As vogais do sistema fonológico latino


Vogal Qualidade Exemplo
Ă Central, baixa, breve Lătum
Ā Central, baixa, longa Amātum
Ĕ Anterior, média, breve Tĕrram
Ē Anterior, média, longa Acētum
Ĭ Anterior, alta, breve Homĭnem
Ī Anterior, alta, longa Amīcum
Ŏ Posterior, média, breve Rŏta
Ō Posterior, média, longa Amōre
Ŭ Posterior, alta, breve Bŭccam
Ū Posterior, alta, longa Virtūte

Essas vogais sofreram diversas transformações. Em geral, as médias longas (ē,


ō ) e as altas breves (ĭ, ŭ) formam o grupo das médias fechadas. Já as médias breves
originaram as médias abertas. As duas centrais baixas deram origem ao a.

A partir de agora, vamos focalizar as mudanças que ocorreram no sistema fono-


lógico do latim clássico, apresentando seus correspondentes no latim vulgar, conforme
sistematização do quadro 02:

Quadro 02: As vogais do sistema fonológico latino clássico e latim vulgar

Latim clássico Latim vulgar


Central, baixa, breve As centrais breves e longas deram origem ao /a/.
ă Maré Ex.: mare; passu
Central, baixa, longa
ā Pāssu
Anterior, média, breve A média breve originou a média anterior aberta /ε/.
ĕ Tĕrram Ex.: Terram
Anterior, média, longa A média anterior longa e a alta anterior breve
ē Acētum originaram/e/(anterior média fechada).
Anterior, alta, breve Ex.: acetum (azedo); setim (sede)
ĭ Sĭtim
Anterior, alta, longa A anterior alta longa originou /i/.
ī Fīcum Ex.: ficum (figo)
A média posterior breve manteve-se como média
Posterior, média, breve
ŏ Rŏta
posterior aberta //.
Ex.: rota (roda)
Posterior, média, longa A média posterior longa e a alta anterior breve origi-
ō Tōta naram /o/ (posterior média fechada).
Posterior, alta, breve Ex.: tota (toda); boccam (boca)
ŭ Bŭccam
Posterior, alta, longa A posterior alta longa originou /u/.
ū Lūna Ex.: luna (lua)
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O quadro acima revela uma redução de dez para sete vogais. As combinações que
essas vogais apresentaram guardavam relação com a sua quantidade e sua ocorrência
tinha a ver com a posição em que se realizavam. Essas combinações que reduziram o
sistema fonêmico do latim tiveram impacto indiscutível sobre o timbre das vogais do
latim vulgar.

Para Câmara Jr. (1976) e Williams (1938), essas modifi-


cações foram mais produtivas em posições mais débeis, como Fonêmico
a átona final e a pretônica. Relativo a fonema (Unidade mínima
distintiva no sistema sonoro de uma
A partir de agora, vamos focalizar essas mudanças língua).
que ocorreram no sistema fonológico do latim clássico, Aférese
levando em consideração a posição em que se encontravam Supressão de um fonema no inicio do
vocábulo. Acume > gume
essas vogais.
Síncope
No latim vulgar, em posição pretônica, o quadro já Supressão de um fonema no meio do
vocábulo. Legale > leal
reduzido do latim clássico (dez para sete vogais em posição
tônica) reduziu-se a cinco vogais, conforme se pode visuali-
zar, abaixo:

Quadro 03: As vogais do latim vulgar (posição pretônica), no início da palavra, perma-
neceram ou sofreram aférese. No meio da palavra, sofreram síncope .

ă /a/
ā ăpertum > aberto; ācume > gume
ĕ
/e/
ē
Sĕcūrum > seguro; Dēlĭcātum > delicado
ĭ
/i/
ī
Prīmārĭum > primeiro
ŏ
/o/
ō
Dŏrmīre > dormir; Plōrāre > chorar; Sŭperbĭam > soberba
ŭ
/u/
ū
Dūrāre > durar

Em posição átona final, esse quadro se reduziu ainda mais, ou seja, passou a ser com-
posto de três vogais: a (escrito a), i (escrito e) e u (escrito o)
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Quadro 04: As vogais do latim vulgar (posição átona final)

Regra geral: mantém-se o a


ă/ ā
portam > porta
ĕ A vogal e sofre
ē ( apócope, supressão no fim, se precedida de consoante l, n, r, s, z)
ĭ Mense > mês; male > mal;
(se precedido de consoante geminada, permanece) ille > ele;
(i passa para e[i]) dormit > dorme
ī O i passa para e[i]
Vivi >vive, vesti > veste
ŏ /u/
ō (o mantém-se onde se pronunciava u) vinum > vinho; sumus > somos
ŭ Tribum > tribu > tribo[u]
O u passa para o[u]
ū Campu > campo, libru > livro

EXERCÍCIO
As questões abaixo o/a ajudarão a compreender as características do latim vulgar.
Por meio dele você vai fazer uma releitura do conteúdo apresentado até aqui mostrando
que aprendeu o comportamento do sistema vocálico na passagem do latim clássico ao
latim vulgar. Responda-as e, em caso de dúvidas, discuta-as com o tutor no próximo
encontro presencial.
1. Quantas vogais o latim clássico apresentava? Quais eram?
2. O que marcava a distinção fonológica das vogais no latim clássico? Dê exemplos.
3. Quantas vogais possuía o latim vulgar em posição pretônica? Dê exemplos.

Latim vulgar: as consoantes


As consoantes do latim vulgar, diferentemente das suas vogais, não apresentam
grandes complexidades. As inovações se caracterizam como variantes posicionais. Assim,
pode-se dizer que são menos complexas do que o quadro das vogais.

No latim vulgar predominavam as oclusivas1 (/p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/), grosso
modo, articulações que implicam uma obstrução num dado ponto do trato vocal. Além
dessas consoantes, o latim vulgar apresentava duas nasais (/m/, /n/), duas constritivas
(/f/, /s/) e duas líquidas (/r/, /l/).

1 Para detalhes sobre as características articulatórios desses sons, consultar Silva (1995).
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Além disso, ocorria o emprego consonântico de i e de u (jugo e vaca). Esses dois


fonemas se comportavam como consoantes, pois formavam sílabas com outras vogais
ocupando a mesma posição que consoantes ocupavam.
Bilabiais
As oclusivas do latim vulgar se dividiam em bilabiais,
Diz-se das consoantes articuladas to-
dentais e posteriores. As oclusivas bilabiais e dentais compu- cando lábios contra lábios: p, b.
nham o par surda /p/, /t/ e sonora /b/, /d/, respectivamen-
Dentais
te. As oclusivas posteriores (/k/, /g/) formavam o par surda e Diz-se das consoantes articuladas to-
sonora também. As oclusivas posteriores variavam de acordo cando a língua contra a arcada dentária
com o contexto em que se encontravam. Assim, variavam no superior: t , d.
que se refere à posterioridade. Eram mais posteriores quando Posteriores
se encontravam diante das velares /o/ e /u/ do que diante Recebem o nome de vogais posteriores
o ó, ô, e u por, ao serem pronunciadas,
de /a/ e / i/.
o falante aproxima a parte posterior da
As constritivas do sistema latino vulgar eram surdas: língua do palato mole ou véu palatino.
/f /, /s/. Surda
Tem haver com a vibração das cordas
Além desses fonemas, havia ainda uma vibrante ante- vocais. Sem vibração é surda: p, t, f, s,
rior, um /l/ que variava de acordo com o ambiente fonético- Sonora
fonológico em que se encontrava, assim como acontecia Tem haver com a vibração das cordas
com as velares, podendo realizar-se como dental ou velar a vocais, com vibração sonora: p, t, v, z.
depender do ambiente fonológico.

As consoantes do latim vulgar se distribuíam como no quadro abaixo:

Quadro 05
Sistema fonológico latino
Oclusivas /p/ /b/ /t/ /d/ /k/ /g/
Constritivas /f/ /s/
Nasais /m/ /n/
/l/
Líquidas
/lh/
Adaptado de Camara Jr. (1985, p. 50)

Além do sistema apresentado, cabe focalizarmos a presença de geminadas no


latim vulgar. Essas consoantes devem ter se estabelecido na pré-história do sistema
latino por meio da aglutinação de dois morfemas (pel + lo = pello) ou decorreu de
motivação expressiva com finalidade distintiva, como em anus (anel) e annus (ano) (cf.
CAMARA Jr., 1976).
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Quadro fonológico: do latim vulgar ao português


Quando da passagem do sistema fonológico do latim vulgar para o português,
alguns fonemas foram acrescentados a esse sistema. As ampliações identificadas se devem
a um conjunto de mudanças que decorreram de variações posicionais.

Assim, em relação às oclusivas, ocorreu simetria nesse sistema. Isso se deu a partir
do surgimento da série de constritivas anteriores e posteriores antes não existentes no
sistema do latim vulgar, conforme se pode visualizar no quadro abaixo:

Quadro 06
Sistema fonológico latino/português
Oclusivas /p/ /b/ /t/ /d/ /k/ /g/
Constritivas /f/ (/v/) /s/ (/z/) (//) (//)
Nasais /m/ /n/ (/ŋ/)
/l/
Líquidas /r/ (/λ/)
(/r/)
Adaptado de Camara Jr. (1985, p. 50)

Como se pode notar, foram acrescentadas a esse quadro, na série das oclusivas, a
sonora labiodental /v/, a sibilante sonora /z/ e as médio-palatais /∫/ //, formando-se
a correspondência entre oclusivas e constritivas nas séries anteriores e posteriores.

Além da simetria referente às oclusivas, deu-se a simetria entre nasais e líquidas


com o surgimento das médio-palatais.

De acordo com Camara Jr. (1976), a lenização (enfraquecimento, relaxamento) e


a palatalização foram os principais responsáveis por essas alterações no sistema fono-
lógico do latim vulgar. Note-se que quatro das inovações correspondem a um desloca-
mento de articulação para a região médio-palatal. Outra parte decorre de processos de
enfraquecimento, como o surgimento das constritivas. Essas
mudanças ocorreram em contextos específicos, particulares.
Labiodental
Por exemplo: /λ/ surgiu da combinação de /l/ seguido de
Diz-se das consoantes articuladas to-
cando lábio inferior e arcada dentária uma semivogal, antes vogal, como em (folja).
superior: f, v.
Raros foram os casos em que as modificações ocorre-
Sibilante ram como resultado de um fortalecimento das articulações.
Mesmo que fricativa, quando há um ru-
As exceções referem-se à mudança das semivogais /i/ e /u/
ído de fricção: s.
para consoantes (respectivamente para /j/ e /v/). Daí, dizer-
Médio-palatais
se que a língua latina apresenta tendência para a lenização e
Consoantes produzidas aproximando o
dorso da língua contra o céu da boca: a palatalização, o que pode, por outro lado, explicar o grande
x(che), g,(je), lh, nh. número de ocorrências desses fenômenos no português,
língua que deriva do latim.
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EXERCÍCIO
Responda às questões abaixo de acordo com quadro 06 e, em caso de dúvidas,
discuta-as com o tutor no próximo encontra presencial.

Quadro 06
Sistema fonológico latino/português
Oclusivas /p/ /b/ /t/ /d/ /k/ /g/
Constritivas /f/ (/v/) /s/ (/z/) (//) (//)
Nasais /m/ /n/ (/ŋ/)
/l/
Líquidas /r/ (/λ/)
(/r/)
Adaptado de Camara Jr. (1985, p. 50)

1. Quais as consoantes que compunham o sistema fonológico do latim vulgar?


2. Conforme o quadro 06, quais foram os fonemas consonantais que surgiram quando
da evolução do sistema latino para o português?
3. Quais são os fonemas que integram a série das líquidas antes não existentes no sis-
tema latino?
4. Circule os segmentos da série das constritivas que não integravam o sistema latino.
5. Quantas nasais existiam no latim vulgar? E no português arcaico?
6. O que condicionava a realização mais posterior das consoantes velares no latim vul-
gar? Explique.

Dialetação
Como já vimos, diferentemente do que alguns possam pensar, o latim que deu
origem às diferentes línguas românicas que temos atualmente não foi o latim clássico.
Assim, os romances e, posteriormente, as línguas românicas não vieram da língua de
Virgílio, Horácio, Cícero, ensinada em ginásios e colégios. Antes, derivaram do latim
vulgar, a língua viva que era praticada pelo povo romano e pelos povos vizinhos.

O latim vulgar, em outras palavras, o latim coloquial, deu origem às línguas


românicas, que, de certo ponto de vista, podem ser consideradas uma espécie de conti-
nuidade desse latim. Dessa forma, não se poderia considerar o latim uma língua morta,
mas uma língua que se fragmentou em vários dialetos. Essa tese não é pacífica, pois
enquanto alguns acham que o latim se dividiu em vários dialetos, outros afirmam que
é uma língua morta.

O latim falado pelo povo romano não era uniforme, mas apresentava formas
bastante diversificadas. Isso é comumente verificado em uma língua viva. Por exemplo, a
60
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fala do Pará não é igual à fala do Rio de janeiro, de São Paulo, do Rio Grande do Sul e de
muitos outros Estados do Brasil. Se diminuirmos as distâncias entre os estados citados,
ainda assim veremos que há diferença mesmo entre estados da região Norte e da região
Nordeste. Diminuindo ainda mais as distâncias geográficas e culturais, perceberemos que
existem diferenças na maneira de falar de pessoas que moram num mesmo estado ou
numa mesma cidade. E, dentro de um mesmo município, há diferenças em relação aos
usos lingüísticos, maneira de falar da zona rural e da zona urbana, embora se saiba que
em todos esses espaços se fala a língua portuguesa ou dialetos, variações dessa língua.

Essas variações também se aplicaram ao latim que se apresenta sob forma de


vários dialetos. Mas você pode se perguntar: em todas as épocas houve dialetos latinos
ou existiu uma época, um momento específico, em que essas variações na língua latina
passaram a ser mais produtivas e evidentes?

De acordo com Melo (1957), até o terceiro século o latim apresentava certa uni-
dade. Depois desse período, sofreu modificações significativas que impediam que seus
falantes se comunicassem sem a ausência de obstáculos na comunicação. Mas o que
teria contribuído, você poderia perguntar, para que essas línguas, todas derivadas do
latim, apresentem hoje formas tão diferentes, ao ponto de um falante do francês não
compreender, por exemplo, o que diz um falante do português e vice-versa?

Pode-se dizer que vários fatores contribuíram para isso. Não se pode, mesmo
hoje, uma época em já se acumularam diversas informações sobre a história do romance,
determinar com clareza a hierarquia de atuação desses fatores,
mas é possível, com certeza, apontar aqueles que contribuíram
Romance
Cada uma das variedades surgidas da de forma significativa para essa diferenciação.
evolução do latim vulgar falado pelas
populações que ocupavam as diversas
Três aspectos são uniformemente apontados pelos
regiões da România, e que se consti- estudiosos do romance e das línguas românicas como desenca-
tuiu na fase preliminar de uma língua deadores dialetais do latim vulgar: diferenciação cronológica,
românica. diversidade do substrato e quebra da unidade política.

Diferenciação cronológica
A diferenciação cronológica tem a ver com o aspecto histórico. Como se sabe, os
povos dominados pelo poder romano tiveram de se sujeitar ao latim vulgar. O dominado,
assim, teve de usar a língua do dominador. O latim recebido pelos primeiros colonizados
obviamente não era o mesmo que foi recebido pelos povos colonizados numa época
mais ulterior, dada a dinamicidade que as línguas naturalmente apresentam. Para Sapir
(1921), elas apresentam uma espécie de deriva que as leva aonde elas devem ir.
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61

Obviamente, os povos primeiramente colonizados receberam um latim mais arcai-


co enquanto os povos colonizados anos ou décadas depois receberam um latim modifi-
cado, arcaico em relação ao que receberam os povos colonizados em período posterior.
Assim, não se recebe nem se tem a mesma língua nos espaços conquistados.

Povos colonizados no século XVI recebem um latim bem diferente do que é re-
cebido pelos povos colonizados no século XX, podendo-se afirmar que o componente
histórico atuou significativamente na dialetação do latim. En-
tretanto, esse aspecto, sozinho, não é suficiente para explicar
o complexo processo de formação das línguas românicas. Substrato
Mattoso Câmara Junior, em seu Dicio-
Vamos, então, ao estudo de outros fatores.
nário de Lingüística e Gramática, apre-
senta as seguintes definições:
a) substrato - nome que se dá à lín-
Diversidade do substrato gua de um povo que é abandonada em
proveito de outra que a ela se impõe,
Como foi dito anteriormente, os povos colonizados geralmente como conseqüência de uma
pelo império romano tiveram de submeter-se ao uso do latim conquista política;
vulgar, a língua do dominador. Mas isso não aconteceu sem b) superstrato - nome que se dá à lín-
que os povos dominados imprimissem a essa língua as marcas gua de um povo conquistador, que a
abandona para adotar a língua do povo
de sua língua.
vencido;
Vários e diferentes povos foram colonizados pelo im- c) adstrato - toda língua que vigora ao
pério romano. Uma forma de Roma manifestar seu poderio lado de outra (bilingüismo), num territó-
rio dado, e que nela interfere como ma-
era estabelecer a obrigatoriedade do uso de sua língua pelos
nancial permanente de empréstimos.
diferentes povos conquistados. Como não podiam resistir-
lhe, submeteram-se ao uso, mas trouxeram marcas de sua
antiga língua para sua nova língua2. Sendo assim, os colonizados trouxeram seus hábitos
lingüísticos para sua nova língua, o que contribuiu para a formação de romances que
apresentavam características diferentes, visto que as interferências eram diferentes, pois
os traços lingüísticos das línguas apresentam similaridades, mas, também, diferenças. Por
exemplo, o francês apresenta alguns fonemas que o inglês não tem.

Um falante francês, ao aprender/falar uma língua como o português, deverá im-


primir a sua fala características próprias de sua língua, a francesa. Já um falante da língua
inglesa deverá trazer hábitos lingüísticos peculiares a essa língua para a língua portuguesa.

2 Isso, atualmente, é evidente em Angola. Nesse país a língua oficial é a Portuguesa, também chamada de
angolano porque por apresentar muitas semelhanças com diferentes dialetos angolanos dada as interferências
que sofreu.
62
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É isso que faz com que tenhamos realizações com acentos (sotaques) diferentes3. Isso
significa dizer que o latim vulgar era diferente em cada espaço dominado, sua identidade
dependia de cada povo colonizado.

Mas você poderia ainda questionar: se o latim sofria modificações que decorriam
da presença do acento da língua mãe dos colonizados, então os indivíduos que nasciam
tendo como língua mãe o latim não deveriam falar o latim de Roma? Não deveriam,
assim, contribuir para a unidade dessa língua?

Há um aspecto que deve ser explicitado para melhor entendimento dessa ques-
tão. Ele guarda relação com o tempo. Esses indivíduos, quando nasceram, já tiveram
contato com uma língua modificada, alterada pela interferência da língua materna dos
colonizados. Assim, a língua que aprenderiam não era o latim puro, mas aquele repleto
de alterações impressas pelos seus transgressores.

Quebra da unidade política


Aspectos políticos também interferiram no processo de variação do latim. Como
se sabe, a escola é uma das instituições sociais que contribui para gerar a unidade. Isso
não era diferente em Roma. Durante o tempo em que houve certa homogeneidade
política, forças agiam no sentido de se manter a unidade lingüística. Afinal, isso caracte-
rizava integração à civilização romana e ligação política com a metrópole. Com a queda
do império, os colonizados se sentiram livres e autorizados a dar curso específico a sua
língua, pois o dominador, paulatinamente, já não exercia o poder de dizer ao seu domi-
nado que este deveria usar sua língua. Consequentemente, desenvolveram-se tendências
próprias. Adicionemos a isso a atuação do superstrato que tornou ainda mais complexo
e heterogêneo o latim. Mas como isso aconteceu?

Os povos bárbaros que invadiriam as regiões onde já se falava o latim modificado


adotaram as línguas dos dialetos falados nessas regiões. Esses povos imprimiram, assim
como o substrato, seus traços lingüísticos ao latim vulgar já modificado pelo substrato.
Posteriormente, esses dialetos, modificados pelo substrato e pelo superstrato, tomaram
formas bem distintas. Isso explica, grosso modo, os diversos romances e as diversificadas
e diferentes línguas românicas que temos atualmente.

3 Se adotarmos um ponto de vista sociolingüístico, poderemos ensaiar dizer que essas realizações poderiam se
constituir uma forma de esses falantes marcarem sua identidade mesmo inconscientemente. Já do ponto de vis-
ta estritamente articulatório, podemos afirmar que um falante, ao aprender uma nova, necessariamente trata seu
acento quando de sua fala, pois seu aparelho fonador, seu trato vocal não está preparado para realizar sons que não
existiam em sua língua.
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63

Para informações mais detalhadas, consulte as obras cujas referências constam


da bibliografia.

EXERCÍCIO
Responda às questões abaixo. Em alguns momentos, será necessário que você faça
uso dos conhecimentos prévios sobre o que seja uma língua. Comente as suas respostas
com o tutor no próximo encontro presencial.
1. O que você entende por língua morta?
2. Você acredita que o latim é uma língua morta ou uma língua que permanece viva por
meio das línguas românicas? Justifique.
3. Selecione uma das três principais causas apontadas no texto para a existência de di-
ferentes línguas românicas e comente-a.
4. De acordo com o texto, como o substrato e o superstrato interferiram na formação
de línguas românicas tão diferentes?
5. A língua francesa, diferentemente da língua portuguesa, não apresenta o fonema /3/.
Dê exemplo de um fonema que existe em outra língua latina e não existe no português.
6. O texto afirma que a educação é responsável, de certa forma, pela unidade lingüística.
Você concorda com isso? Justifique.

LEITURA COMPLEMENTAR
Para finalizar a atividade 3, apresentamos abaixo um fragmento da terceira parte
do livro Lingüística Românica, do professor Rodolfo Ilari (1992, p. 57-61). Com a sua lei-
tura você vai conhecer o que chamamos de sociolingüística do latim vulgar. O professor
Ilari apresenta alguns esclarecimentos que o/a ajudará a saber o que são exatamente o
latim vulgar e o latim literário.

O latim vulgar e o latim literário no primeiro milênio


Sociolingüística do latim vulgar
Todas as línguas vivas apresentam naturalmente uma variação vertical (cor-
respondente à estratificação da sociedade em classes), e horizontal (correspondente
a diferenças geográficas); além disso, os falantes expressam-se de maneiras diferentes
conforme o grau de formalidade da situação de fala.
Considerações gerais sobre a língua latina Unidade A

Considerações gerais sobre a


língua latina
Iniciamos nosso curso de latim com uma brevíssima história da língua
latina, sua literatura, seu sistema gráfico e fonético. Nosso objetivo é construir
um panorama – que poderemos aprofundar posteriormente com leituras indi- Você pode obter mais
informações em: <http://
viduais – destes fenômenos linguístico-culturais romanos, fundamentando os www.latim.ufsc.br/
estudos gramaticais de todo nosso programa curricular de latim. A1954FE6-6F5F-471C-
-A5A3-DB0F1FEA434A.
html>.
1 A língua latina
Indo-europeu: língua
Nesta primeira unidade, você vai se deparar com grande quanti-
pré-histórica postulada
dade, embora sucinta, de informações históricas, culturais e linguísticas por �����������������
linguistas a par-
relativas ao universo romano. O objetivo, aqui, reiteramos, é apenas o de tir do século XIX para
oferecer subsídios para uma introdução ao sistema linguístico romano, explicar semelhanças
surpreendentes entre
situando o latim em um tempo e espaço específicos, reconhecendo-o
línguas antigas que se
como produtor de literatura e como fundador das línguas neolatinas. O falavam desde a Euro-
domínio desses conteúdos, é claro, só se dá amplamente mediante estu- pa ocidental até a Ín-
dia. Saiba mais sobre
dos aprofundados, os quais não fazem parte de nosso curso de língua
o assunto lendo o se-
latina. guinte livro: BASSO, Re-
nato Miguel; GONÇAL-
O Latim pertence ao ramo itálico das línguas indo-europeias; é,
VES, Rodrigo Tadeu.
portanto, um dos falares antigos que se praticavam na península itálica, História da Língua.
e que tem como origem o indo-europeu, a língua pré-histórica da qual Florianópolis: LLV/CCE/
UFSC, 2010.
deriva a maior parte das línguas da Europa e algumas da Ásia, como o
grego, o alemão e o sânscrito, por exemplo. Entre 1400 e 1000 a.C., tri- Latim clássico: o la-
tim das obras literárias.
bos indo-europeias migraram para o centro da Itália, estabelecendo-se
Latim vulgar: o latim do
no Lácio, onde mais tarde (753 a.C., segundo uma antiga tradição) seria povo, usado na comuni-
fundada Roma, principal cidade latina. Fortalecida, Roma iniciou sua cação diária, levado às
política de expansão: conquistando, a princípio, a península, chegou a regiões conquistadas,
do qual se originam as
estender seu domínio a grande parte da Europa, norte da África e parte
línguas neolatinas. Ro-
da Ásia. O mapa a seguir mostra a extensão máxima que alcançou o mances, lato sensu, são
Império Romano. as línguas românicas ou
neolatinas, originadas
do latim.

15
Língua Latina

Os romanos, estabelecendo-se nas


regiões que conquistavam, levavam para
aí a sua língua e a sua cultura. O latim foi
sendo imposto a partir do século III a.C.
às comunidades das regiões conquistadas
como língua de comércio e de cultura, nas
quais coexistia com as originais línguas re-
gionais. A política romana sempre admitiu
o bilinguismo ou mesmo o multilinguis-
mo em seus territórios. O latim praticado
nas províncias, porém, não era o latim
clássico, língua extremamente polida e re-
Mapa – O Império Romano: as conquistas de Otávio Augusto.
grada, da qual se valiam os escritores, mas
o latim vulgar, língua viva, de comunicação cotidiana dos cidadãos ro-
manos. Como a expansão do Império Romano não foi imediata, tendo
levado cerca de cinco séculos para se completar, o latim que se levou às
primeiras regiões conquistadas diferia do latim levado às últimas, e esse
fato explica em parte diferenças entre alguns romances. Dois outros fa-
tores determinantes de tais diferenças são: (1) o substrato, ou seja, a
língua de cada povo vencido e conquistado, que se infiltrou na língua
do conquistador; e (2) o superestrato, isto é, a língua de conquistadores
pós-romanos, que, não conseguindo suplantar o latim, pode contudo
influenciá-lo em certa medida, alterando-lhe, por exemplo, a pronún-
cia, fornecendo vocábulos novos, modificando a sintaxe, etc. Neste cur-
so se estudará o latim clássico.

2 A literatura latina
Segundo a antiga tradição, Roma foi fundada em 753 a.C., e é desta
data até 240 a.C., ano do começo da influência helênica, que se situa o
primeiro período da literatura latina, chamado das origens. De caráter
rudimentar e marcadas por pouca preocupação estética, destacam-se as
seguintes produções:

a) Canto dos Arvais;

b) Canto dos Sálios;

16
Considerações gerais sobre a língua latina Unidade A
c) A Lei das XII Tábuas;

d) Versos fesceninos;

e) Atelanas.

De 240 a 81 a.C., a cultura grega caracteriza as obras da literatura


latina. É a época em que os romanos, entrando em contato mais estreito
com a literatura grega, percebem a sua riqueza e procuram dotar a sua
literatura nacional de obras equivalentes. As principais criações desse
período, chamado da iniciação helênica, são:

1) Poesia

a) Teatro: Lívio Andrônico (291? – 223?); Cneu Névio (256-202);


Plauto (254-184); Terêncio (185-159); Pacúvio (220-132); Ácio
(170-94);

b) Epopéia: Ênio (239-169);

c) Sátira: Lucílio (180-103);

2) Prosa

a) História: Catão (234-149);

b) Eloquência: Caio Graco (154-121).

Entre 81 a.C. e 14 d.C., compreende-se o período clássico ou áu-


reo da literatura latina, assim chamado por entender-se que se chegara
à maturidade das elaborações sobre os modelos gregos, começadas no
período anterior.

1) Poesia

a) Teatro: Publílio Siro (séc. I);

b) Epopéia: Lucrécio (98-54

c) Sátira: Horácio (65-8 a.C.);

d) Lírica: Horácio; Catulo (77?-57 a.C.?);

e) Elegia: Ovídio (43-17 d.C.); Tibulo (54-19 a.C.?); Propércio


(54?-16 a.C.?);

17
Língua Latina

2) Prosa

a) Eloquência: Cícero (106-43 a.C.);

b) História: César (100-44 a.C.); Cornélio Nepos (100-29 a.C.?);


Salústio (86-34 a.C.?); Tito Lívio (59-19 d.C.);

c) Gramática: Varrão (116-26 a.C.);

d) Arquitetura: Vitrúvio (70?-16 d.C.?).

A partir de 14 d.C., até 192 d.C., verifica-se o afastamento dos ide-


ais estéticos e culturais que caracterizaram as obras do período clássico.
É o período conhecido como do declínio:

1) Poesia

a) Teatro: Sêneca (4 a.C.-65);

b) Epopéia: Lucano (39-65); Estácio (40-96?);

c) Sátira: Pérsio (34-62); Juvenal (60-128?); Marcial (38?-102?);

d) Fábula: Fedro (?-90);

e) Lírica: Estácio (40-96?);

2) Prosa

a) História: Valério Máximo (20 a.C.?-50?); Quinto Cúrcio (?-


76?); Tácito (55-117/120?); Suetônio (69-160);

b) Eloquência: Sêneca o Retor (55?-39); Quintiliano (30-98); Plí-


nio o Jovem (61-113);

c) Filosofia: Sêneca o Filósofo (4-65 d.C.);


Você pode ampliar seus
conhecimentos sobre a
literatura latina a partir da d) Romance: Petrônio (?-67); Apuleio (125-190?);
leitura do seguinte livro:
CARDOSO, Zélia de Almei- e) Gêneros Diversos: Celso (I séc.); Frontino (40-103); Plínio o
da. A literatura latina. 2. Velho (23/24-79); Aulo Gélio (125-175?).
ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
Acompanhando o estado moral do Império, a literatura , a partir de
192 d.C., entra no seu período de decadência, até acabar-se enquanto
literatura latina, também acompanhando a queda do Império Romano
do Ocidente, em 476 d.C.

18
Considerações gerais sobre a língua latina Unidade A
1) Poesia

a) Epopéia: Claudiano (380?-476?); Dracônio (360?-450?);

b) Didática: Rutílio Numaciano (?-426?);

c) Lírica: Ausônio (309-393/395); Pentádio (?-325);

2) Prosa

a) Retórica: Símaco (345-405); Drepânio (320?-400?); Sidônio


Apolinário (430-489); Boécio (480-525); Enódio (473-521);

b) História: Eutrópio (IV séc.); Amiano Marcelino (330-390);

c) Gêneros Diversos: Macróbio (370?422); Vegécio (350?-420?);

d) Direito: Gaio (II séc.); Ulpiano (?-225); Paulo (III séc.); Mo-
destino (204?-280?);

e) Padres da Igreja: Tertuliano (160-220?); Arnóbio (?-327); Lac-


tâncio (225/230-325?); São Cipriano (?-258); Santo Hilário (IV
séc.); São Jerônimo (331-420); Santo Ambrósio (340-397); San-
to Agostinho (354-430);

f) Eclesiásticos: Paciano (310-390?); Clemente (348-410); Rufino


(360-410); Minúcio Felix (III séc.); São Damaso (?-384); Auré-
lio Victor (IV séc.); Rufo Festo (IV séc.); Célio Sedúlio (V séc.);
Cassiodoro (480-575); Isidoro (?-636).

3 O alfabeto latino
O alfabeto que as línguas neolatinas utilizam para a grafia de suas
palavras é uma adaptação do alfabeto latino. Este, por sua vez, tem sua
origem mais remota no alfabeto fenício (cujos registros mais antigos da-
tam do séc. XI a.C.), que serviu de base à constituição do alfabeto grego,
por volta do séc. X a.C., o qual foi utilizado pelos etruscos (habitantes da
Etrúria, ao norte do Lácio, atual região italiana da Toscana), com adap-
tações à sua língua, por volta do séc. VIII a.C. Foi deste alfabeto etrusco,
de origem fenícia e alterado pelos gregos, que os latinos desenvolveram
a sua forma de escrita, o alfabeto latino, composto de 21 letras:

19
Língua Latina

A B C D E F G H I K L M N O P Q R STV X

Não pertencem ao alfabeto latino as letras j e v (a penúltima le-


Você pode ampliar seus tra do quadro acima [V] é forma original do u), cujos respectivos fo-
conhecimentos sobre os
alfabetos e a história da nemas não existem em latim. Elas são criações do humanista francês
escrita lendo o seguinte Petrus Ramus (1515-1572), que as introduziu para substituírem o I e o
livro: FISCHER, Steven Ro-
ger. História da escrita. São V quando semivogais, isto é, quando são seguidas de outra vogal com
Paulo: EdUNESP, 2009. a qual formam sílaba. As letras Y e Z foram introduzidas na escrita por
volta do século I a.C., para transcrever palavras de origem grega, como
SYSTEMA (susthma) e ZELUS (zhloj) Y e Z figuram depois do X
na ordem alfabética. Além dessas letras, criaram-se os dígrafos CH, PH,
RH e TH para a transcrição das consoantes gregas x, f, r e q, respecti-
vamente. O K era de uso restrito; figurava em abreviaturas (Kal., Kalen-
dae) e muitas vezes era empregado em lugar do C (Karthago, Carthago).

4 A duração das sílabas


Veremos, a seguir, algo sobre a duração das sílabas e sobre a toni-
cidade das palavras latinas. No entanto, durante nosso curso nos servi-
remos de dois sinais gráficos que facilitarão uma correta pronunciação
das palavras latinas.

Diferentemente do português, que trabalha apenas com tonicida-


de, o latim é uma língua que trabalha também com quantidade nas
sílabas, ou seja, com duração na pronunciação de uma sílaba. Assim, as
sílabas das palavras latinas podem ser breves ou longas. As longas du-
ram o dobro do tempo de pronunciação das vogais breves. Convencio-
nalmente, passou-se a indicar que uma sílaba é breve sobrepondo-se à
vogal que a compõe um sinal gráfico chamado braquia (˘), e que é longa
sobrepondo-lhe um outro sinal chamado macro (ˉ). Bons dicionários
trazem as palavras com esses sinais de duração, o que é importante, por-
que a acentuação tônica depende da duração das sílabas. São esses os
sinais que também usaremos em nosso curso.

20
Considerações gerais sobre a língua latina Unidade A
Há sílabas que são longas por natureza. São sílabas que contém:

a) vogal que compõe ditongo (ae, au, oe) (aedes, aurum);

b) vogal derivada de um ditongo (inīquus < in + aequus);

c) vogal que resulta da contração de duas vogais (cōgo < co + ago).

Há sílabas que são longas por posição. São as sílabas compostas de


vogal seguida de duas consoantes (dēns, fērt; mūl-tum, ān-nus)

Breves são todas as sílabas não compreendidas nos casos expostos


acima.

5 A tonicidade
a) Átonos são em geral os monossílabos, como as preposições,
as conjunções e algumas partículas interrogativas (ad, cur, per,
etc.). Apóiam-se foneticamente na palavra que as segue;

b) Paroxítonas são as palavras cuja penúltima sílaba é longa


(amīcus, tenebrōsus, appēllo);

c) Proparoxítonas são as palavras cuja penúltima sílaba é breve


(ambŭlant, popŭlus, felicĭtas).

Como o latim não tem um sistema de acentuação gráfica como o


português, que permita saber sempre e com segurança em que sílaba
recai o acento tônico, utilizamos a convenção de sobrepor à penúltima
sílaba das palavras o macro (ˉ), quando esta for longa. Nenhum sinal so-
bre a penúltima sílaba significa que ela é breve e não deve, portanto, ser
acentuada. Quando houver necessidade de clareza, porém, indicaremos
a duração das sílabas também mediante o uso da braquia (˘). Você deve,
portanto, estar sempre atento à penúltima sílaba das palavras latinas,
para identificar sua sílaba tônica. Por exemplo, se se apresenta a seguinte
palavra:

Animus

Observando que não há macro sobre o i, você deve concluir que


ele é breve, o que indica que o acento tônico deve recair sobre a sílaba
anterior (a). Deve-se pronunciar, portanto, ánimus.

21
Língua Latina

6 A pronúncia do latim
Há três práticas de pronúncia do latim possíveis no Brasil e em
Portugal, denominadas: 1) portuguesa; 2) romana; e 3) reconstituída.

1) A pronúncia portuguesa consiste em atribuir aos grafemas la-


tinos, como regra geral, os fonemas do português.

2) A pronúncia romana, prática originária da Itália, consiste em


dar aos grafemas latinos os valores que estes têm no italiano.
É a pronúncia adotada e recomendada pela Igreja Católica, e
por isso, apesar de ser italiana, é uma prática comum entre os
católicos de todo o mundo.

3) A pronúncia reconstituída é o resultado de pesquisas lingu���


��������
ís-
ticas que procuram determinar com exatidão como o latim
clássico era pronunciado no período áureo da sua literatura
(por volta do séc. I a.C.). É esta pronúncia que adotaremos
neste curso.

6.1 A pronúncia reconstituída

Recomendamos que você retome, aqui, os estudos de Fonética e


Fonologia. Retomando agora, sucintamente, o já estudado, lembre-se
de que os símbolos apresentados entre barras (/) foram convencionados
Reveja, também, o Alfabe- por linguistas para representarem os fonemas de maneira precisa e coe-
to Fonético Internacional
(IPA). rente, independentemente da língua em que ocorrem. Assim, o símbolo
/u/, por exemplo, sempre representa o som da vogal u em português
(como em uva), mas pode ser representado por outros grafemas (di-
ferente de u) tanto em português como em outras línguas. A palavra
Fonema: som da fala como, por exemplo, é pronunciada em muitos lugares do Brasil /komu/,
ao qual se associa um sendo o último o a representação do fonema /u/.
grafema, que é a repre-
sentação gráfica desse ӲӲ Vogais
som.
A – Como na palavra água (/a/)

E – Quando breve, é aberto, como na palavra ela (/E/)

Quando longo, é fechado, como na palavra ler (/e/);

22
Considerações gerais sobre a língua latina Unidade A
I – Como na palavra ira (/i/);

O – Quando breve, é aberto, como na palavra pó (/c/);

Quando longo, é fechado, como na palavra dor (/o/);

V – Como na palavra duna (/u/);

Y – Como na palavra francesa tu (/y/).

ӲӲ Semivogais

Dizem-se semivogais os fonemas I (i) e V (u) em posição de con-


soante, isto é, quando fazem sílaba com uma vogal, seja antecedendo-a
(ditongo crescente), seja sucedendo-a (ditongo decrescente). Pronun-
ciam-se do seguinte modo:

I – Como na palavra armário (/j/);

V – Como na palavra quase (/w/).

I e V, como semivogais, aparecem também, desde o Renascimento,


nas formas j e v (as letras ramistas). Segundo a pronúncia reconstituída,
porém, devem soar /j/ e /w/, respectivamente. Os romanos desconhe-
ciam o som do nosso j (jovem) e do nosso v (vento). Em nosso curso,
usaremos, pois, apenas o alfabeto clássico, ou seja, i e u minúsculas
correspondendo a I e V maiúsculas.

ӲӲ Consoantes

B – Como na palavra bola (/b/);

C – Sempre como na palavra carro (/k/), mesmo antecedendo as


vogais e, i e y;

D – Como na palavra dor (/d/);

F – Como na palavra filho (/f/);

G – Sempre como na palavra gato (/g/), mesmo antecedendo as


vogais e, i e y;

H – Indica aspiração, como na palavra inglesa home (/h/);

K – Pronuncia-se como C;

23
Língua Latina

L – Sempre como na palavra logo, e nunca como a semivogal V


A questão da nasalização (/w/), como ocorre em algumas regiões do Brasil, fácil (/fasiw/);
das consoantes m e n é con-
troversa. Expressamos aqui M – Sempre como na palavra musa (/m/), mesmo no final da pala-
a visão do filólogo latinista vra, e, neste caso, produz o efeito da nasalização;
Ernesto Faria.
N – Sempre como na palavra noite, mesmo no final da palavra, e,
neste caso, produz o efeito da nasalização;

P – Como na palavra porto (/p/);

Q – Como na palavra quase (/k/). Vem sempre acompanhada da


semivogal V;

R – Sempre como na palavra caro (/r/), mesmo no começo da pa-


lavra ou dobrado;

S – Sempre sibilante, como na palavra sol (/s/), e nunca como na


palavra asa (/z/);

T – Sempre como na palavra teu (/t/);

X – Como na palavra crucifixo (/ks/);

Z – Pronuncia-se DZ (/dz/).

24
Língua Latina I

saltus, us 4m. salto, etapa, estágio


sanctus, a, um santo
sensus, us 4m. sentido, significado
strictus, a, um restrito, limitado, estreito
tecum ablativo do pronome pessoal tu + preposição cum
uenter, uentris 3m. ventre, estômago

37 Pronomes demonstrativos
Os pronomes demonstrativos são os que localizam (este, esse, aque-
le) ou identificam (mesmo, próprio, tal) o substantivo (Almeida, 1979).
Em latim, são seis os demonstrativos (e não fazem o caso vocativo):

a) hic, haec, hoc - este, esta, isto

Casos Singular Plural


Masc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro
nom. hic haec hoc hi hae haec
gen. huius huius huius horum harum horum
acus. hunc hanc hoc hos has haec
dat. huic huic huic his his his
abl. hoc hac hoc his his his

Hic: proximidade ou primeira pessoa (meu, minha, nosso):

Hic liber, o livro que eu tenho, meu livro, este livro.

b) iste, ista, istud – esse, essa, isso

Casos Singular Plural


Masc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro
nom. iste ista istud isti istae ista
gen. istius istius istius istorum istarum istorum
acus. istum istam istud istos istas ista
dat. isti isti isti istis istis istis
abl. isto ista isto istis istis istis

Iste: segunda pessoa ou sentido pejorativo (teu, tua, vosso):

Iste liber, teu livro, esse ‘livreco’.

114
A 4ª declinação, os pronomes demonstrativos, e o verbo sum Unidade K
c) ille, illa, illud – aquele, aquela, aquilo

Casos Singular Plural


Masc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro
nom. ille illa illud illi illae illa
gen. illius illius illius illorum illarum illorum
acus. illum illam illud illos illas illa
dat. illi illi illi illis illis illis
abl. illo illa illo illis illis illis

Hic… ille: esses demonstrativos são muitas vezes empregados sime-


tricamente: hic se refere à última pessoa citada; ille, à primeira:

Galli et Romani pugnant; hi uincunt, illi uincuntur.

Gauleses e romanos lutam; estes vencem, aqueles são vencidos.

d) is, ea, id - ele, ela, seu, sua, o, a, lhe

este (a), isto, aquele (a), aquilo

Casos Singular Plural


Masc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro
nom. is ea id ii (ei) eae ea
gen. eius eius eius eorum earum eorum
acus. eum eam id eos eas ea
dat. ei ei ei iis (eis) iis (eis) iis (eis)
abl. eo ea eo iis (eis) iis (eis) iis (eis)

O demonstrativo is, ea, id é também considerado um pronome


possessivo não-reflexivo. Quando o pronome possessivo português seu,
sua não se referir à mesma pessoa do sujeito da mesma frase, o latim usa
o pronome demonstrativo is, ea, id como possessivo:

Pater amicum suum uisitauit; amicus eius aegrotus est.

O pai visitou seu (do pai) amigo; seu (dele, do pai) amigo está doente.

e) idem, eadem, idem – ele mesmo (este mesmo, um mesmo), ela


mesma (esta mesma, uma mesma), isto mesmo, isso mesmo,
aquilo mesmo

115
Língua Latina I

Casos Singular Plural


Masc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro
nom. idem eadem idem iidem eaedem eadem
gen. eiusdem eiusdem eiusdem eorundem earundem eorundem
acus. eundem eandem idem eosdem easdem eadem
dat. eidem eidem eidem iis(eis)dem ii(eis)sdem iis(eis)dem
abl. eodem eadem eodem iis(eis)dem iis(eis)dem iis(eis)dem

O demonstrativo idem, eadem, idem é, na verdade, o pronome is,


ea, id seguido da terminação dem, a qual reforça o demonstrativo e se
traduz por mesmo.

f) ipse, ipsa, ipsum - (eu, tu, ele) próprio, mesmo

Casos Singular Plural


Masc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro
nom. ipse ipsa ipsum ipsi ipsae ipsa
gen. ipsius ipsius ipsius ipsorum ipsarum ipsorum
acus. ipsum ipsam ipsum ipsos ipsas ipsa
dat. ipsi ipsi ipsi ipsis ipsis ipsis
abl. ipso ipsa ipso ipsis ipsis ipsis

O pronome ipse indica uma contraposição expressa ou subenten-


dida, ou seja, reforça ou identifica qualquer um dos outros demonstra-
tivos ou pronomes pessoais:

Tu dormis, ipse uigilo.

Tu dormes, eu velo (não eu mesmo).

Exercícios

1) Leia com atenção:


Genera nominum quot sunt? Quattuor. Quantos são os gêneros dos nomes?
Quae? Masculinum, ut hic magister, Quatro. Quais? Masculino, como este
femininum, ut haec Musa, neutrum, ut professor, feminino, como esta Musa,
hoc scamnum, commune, ut hic et haec neutro como isto, e comum, como este
sacerdos. Est praeterea trium generum, e esta agente de religião. Há, além dos
quod omne dicitur, quia tria genera três gêneros, o que é chamado de tudo,
comprehendit, ut hic et haec et hoc felix; porque compreende os três gêneros,
est epicoenon, id est promiscuum, ut como este e esta e isto é feliz; há os
passer, aquila. nomes epicenos, ou seja, usados em
Numeri nominum quot sunt? Duo. Qui? comum, como pardal e águia. Quan-
Singularis, ut hic magister, pluralis, ut hi tos são os números dos nomes? Dois.
magistri. Quais? O singular, como este professor,
(Donato, Elio. Ars grammatica. Sec. IV) e o plural, como estes professores.

116
A 4ª declinação, os pronomes demonstrativos, e o verbo sum Unidade K
2) Retire do texto em Latim os pronomes que podem caracterizar os
gêneros na gramática do Português atual.

3) Quais são os exemplos no texto, em Latim, que demonstram o núme-


ro das palavras (singular e plural)?

4) Destaque do texto em latim todos os pronomes demonstrativos e


liste-os informando:

Pronome em Latim Tradução Caso Gênero Número

5) Destaque e traduza os pronomes demonstrativos das frases abaixo;


diga o caso e a função sintática correspondente no português de cada
pronome:
a) Hic amor, haec patria est. (Virgílio)
b) Muta istam mentem tuam, Catilina. (Cícero)
c) Nosce te ipsum. (Inscrição no Templo de Apolo de Delfos)
d) Is est amicus qui in re dubia te iuuat. (Plauto)

6) Pesquise o contexto em português em que podem aparecer as expres-


sões latinas abaixo. Transcreva uma frase que contenha cada uma das
expressões e destaque a preposição utilizada:
a) ad hoc –
b) hic et nunc –
c) hic iacet ceno –
d) ibidem –
e) idem –
f) ipsis litteris –
g) ipsis uerbis –
h) ipso facto –

117
Língua Latina I

Vocabulário
amor, -oris 3m. amor, afeição
aquila, ae 1f. águia
Catilina, ae 1m. Catilina (nome próprio masculino)
cenum, i 2n. lama, lodo, porcaria, esterco
communis, e comum
dicitur (3ª pes. sing., pres. do ind., voz pass., do verbo dico, -is, -ere, dixi, dictum)
diz-se, é dito
dispositio, -onis, 3f. disposição, arranjo
dubius, a, um dúbio, duvidoso, incerto
epicoenus, -a, -um ou -on (adj.) epiceno (os nomes que sob a mesma forma desig-
nam ambos os sexos)
femininus, a, um feminino
genus, -eris, 3n. gênero
masculinus, a, um masculino
mens, mentis 3f. mente, espírito, alma, razão, inteligência
minuitur verbo minuo, -is, -i, -utum, - uere diminuir, reduzir
Musa, ae 1f. Musa
muto, -as, -aui, -atum, -are mudar, alterar
neuter, -tra, -trum neutro
nomen, -inis, 3n. nome
nosco, -is, -ere, noui, notum conhecer, saber
omnis, e todo, tudo
patria, ae 1f. pátria
passer, -eris, m pardal
pluralis, e plural
praeterea (adv.) além disso
praeterea trium além dos três
promiscuus, -a, -um, adj. promíscuo, comum, usado em comum
quae (pron. interr. neutro plural) quais?
quattuor quatro
qui (pron. interrogativo) quais?
qui (pron. relativo) quem, que
quot (pron. interrogativo) quanto(s)?
ratio, -onis, f. razão, juízo, bom senso
res, rei 5f. coisa, assunto, matéria
sacerdos, -otis 3m.f. sacerdote, sacerdotisa
scamnum, -i, 2n. tamborete, banco
singularis, e singular, único
tres, tres, tria três
ubi (adv.) onde

118
A 4ª declinação, os pronomes demonstrativos, e o verbo sum Unidade K
38 Verbo esse e seus compostos
Conhecemos o presente do indicativo do verbo de ligação sum (ser,
estar) ao estudarmos o capítulo 14. Por ter o português assumido dele
muitas de suas funções e grande similaridade nas formas, não nos traz
dificuldades seu estudo.

O verbo sum é também classificado como verbo irregular, ou seja,


que se afasta dos paradigmas regulares de conjugação. Os tempos do in-
fectum (formados com o tema do presente) e os do perfectum (formados
sobre o tema do perfeito) apresentam raízes diferentes: es- e fu- . São, no
entanto, regulares na formação de seus tempos, no uso das desinências,
etc. Perceba que, inclusive a formação do imperativo é regular: tirando-
-se a última sílaba do infinitivo: esse.

esse
Indicativo Imperativo
su-m sou
es es sê
es-t
Presente su-mus
es-tis es-te sede
su-nt
er-a-m era
er-a-s
er-a-t
Pretérito Imperfeito er-a-mus
er-a-tis
er-a-nt
er-o serei (for)
er-i-s
er-i-t
Futuro do Presente er-i-mus
er-i-tis
er-u-nt
fu-i fui, tenho sido
fu-isti
fu-it
Pretérito Perfeito fu-imus
fu-istis
fu-erunt

119
Língua Latina I

fu-er-a-m fôra, tinha sido


fu-er-a-s
Pretérito Mais-que- fu-er-a-t
-Perfeito fu-er-a-mus
fu-er-a-tis
fu-er-a-nt
Futuro do pretérido fu-er-o terei (tiver) sido
fu-er-i-s
fu-er-i-t
fu-er-i-mus
fu-er-i-tis
fu-er-i-nt

Como o verbo sum conjugam-se os seus compostos:

Absum, abes, abfui, abesse estar ausente ou distante, faltar.


Adsum, ades, adfui, adesse estar presente, assistir, tomar parte em.
Desum, dees, defui, deesse faltar, falhar.
Insum, ines, infui, inesse estar em, estar dentro.
Intersum, interes, interfui, interesse estar entre, mediar; tomar
parte em, assistir a.
Obsum, obes, offui, obesse ser nocivo, prejudicar, impedir, obstar.
Praesum, praees, praefui, praeesse presidir, estar à frente, co-
mandar.

Possum, potes, potui, posse poder.


Prosum, prodes, profui, prodesse ser útil, servir.
Subsum, subes, subfui, subesse estar abaixo.
Supersum, superes, superfui, superesse sobrar, restar.

Diferentes do verbo sum quanto à regência, os compostos de sum


pedem dativo. Um único dentre os compostos pede ablativo: o verbo
absum. E o verbo possum geralmente vem acompanhado de um infiniti-
vo, ou acusativo, ou mesmo aparece como intransitivo.

De todos os compostos de sum, apenas possum passou para o português:

120
A 4ª declinação, os pronomes demonstrativos, e o verbo sum Unidade K
posse
Indicativo Subjuntivo
pos-su-m eu posso pos-si-m eu possa
pot-es pos-si-s
pot-es-t pos-si-t
Presente pos-su-mus pos-si-mus
pot-es-tis pos-si-tis
pos-su-nt pos-si-nt

pot-era-m eu podia pos-se-m eu pudesse, poderia


pot-era-s pos-se-s
pot-era-t pos-se-t
Pretérito
pot-era-mus pos-se-mus
Imperfeito
pot-era-tis pos-se-tis
pot-era-nt pos-se-nt

pot-er-o eu poderei
pot-eri-s
pot-eri-t
Futuro do Presente pot-eri-mus
pot-eri-tis
pot-eru-nt

potu-i pude, tenho podido potu-eri-m tenha podido


potu-isti potu-eri-s
potu-it potu-eri-t
Pretérito Perfeito potu-imus potu-eri-mus
potu-istis potu-eri-stis
potu-erunt potu-eri-nt

potu-era-m pudera, tinha potu-isse-m tivesse podido,


potu-era-s podido potu-isse-s teria podido
potu-era-t potu-isse-t
Pretérito Mais-que-
potu-era-mus potu-isse-mus
-Perfeito
potu-era-tis potu-isse-tis
potu-era-nt potu-isse-nt

potu-er-o terei (tiver) podido


potu-eri-s
potu-eri-t
Futuro do pretérido potu-eri-mus
potu-eri-tis
potu-eri-nt

121
Língua Latina I

Exercícios

1) Traduza:
DE CAESARE
Caesar imperator magnus et scriptor clarus Romanorum fuit. Postquam
consul fuit, per multos annos cum bellicosis Galliae populis pugnauit. Co-
pias Gallorum multis proeliis superauit. Etiam cum Germanis certauit.
Magnus erat numerus Germanorum, sed Caesari Germani terrorem non
parabant. Magno proelio Caesar equites et pedites Germanorum fugauit.
Etiam in siluas Germaniae penetrauit agrosque Germanorum uastauit.
Militibus suis Caesar magna proemia donabat. Milites imperatorem suum
ualde amabant. Arma Caesaris semper prospera fuerunt. Etiam Pompeius
clarus imperator Romanorum fuit. Initio Pompeius amicus Caesaris fuit;
postea autem inter Caesarem et Pompeium magna discordia fuit.
(Berge, 1978)

2) Destaque, do texto acima, todas as formas verbais do verbo esse, e


informe:

Verbo em Latim Tradução Tempo Pessoa Número

3) Qual é a temporalidade predominante do texto? Destaque marcas


gramaticais e temáticas que justifiquem sua resposta.

4) Destaque três diferentes formas do verbo esse registradas no texto


e aponte a principal diferença em relação à forma correspondente no
Português.

5) Traduza e responda o que se pede:


a) Absum ab urbe.
Em que caso está a palavra urbe e o que justifica esse uso?
b) Amici non potuerant prodesse.
O que justifica o uso do verdo prodesse no infinitivo?

122
A 4ª declinação, os pronomes demonstrativos, e o verbo sum Unidade K
c) Inter meam domum et tuam interest flumen.
Qual é a regra geral de uso dos verbos derivados de sum? Utilize a frase
acima para exemplificar. Cite mais cinco verbos que seguem a mesma regra.

Vocabulário
agrosque (ager, agri 2m. campo + que = et conjunção e) e os campos
alter, a, um outro
arma, -orum 2n. pl. armas, exército
autem (conj.) porém, no entanto
bellicosus, a, um belicoso, guerreiro
certo, -as, -are, -aui, -atum lutar, combater
cras (adv.) amanhã
clarus, a, um brilhante, famoso, ilustre
coniecto, -as, -are, -aui, -atum presumir, concluir, adivinhar
copiae, -arum 1f. pl. tropas, forças militares
domus, i 2f. casa
eques, equites 3m. cavaleiro
equites, equitum 3m. pl. cavalaria
ergo (conj.) portanto, logo
etiam (conj.) além disso, ainda, também
faustus, a, um feliz, bom, propício
flumen, -inis 3n. rio
fugo, -as, -are, -aui, -atum afugentar, afastar
initium, -i 2n. começo, início
miles, -itis 3m. soldado, militar
nox, nocis 3f. noite
paro, -as, -are, -aui, -atum causar, preparar
pedites, -um 3m. pl. infantaria
postea (adv.) depois, em seguida
proelium, -i 2n. combate, batalha
proemium, -i 2n. prêmio
postquam (conj.) depois que
pugno, -as, -are, aui, -atum combater, travar batalha
ualde (adv.) muito
uasto, -as, -are, aui, -atum devastar, destruir
urbs, urbis 3f. cidade

123
Língua Latina I

124
Referências

Referências
Bibliografia básica
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática latina. 24. ed. Rio de Ja-
neiro: Saraiva, 1992.
A gramática do Napoleão continua sendo uma das melhores gramáticas
de língua latina produzidas no Brasil, bem como um manual didático de
abordagem estruturalista.
SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino-português. 10.
ed. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1993.
Saraiva é um dos melhores dicionários do Ocidente. Esperamos, contudo, que
algum dia se faça uma atualização do mesmo.

Bibliografia complementar
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portu-
guesa. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 1979.
A gramática do Napoleão continua sendo uma das melhores gramáticas
de língua latina produzidas no Brasil, bem como um manual didático de
abordagem estruturalista.
BERGE, Fr. Damião et al. Ars latina. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1973.
Tomo IV gramática.
______. Ars latina. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 1978. Tomo I.
A gramática editada pela Vozes é dirigida tanto a iniciantes quanto a ini-
ciados na língua latina. É bastante clara em questões complexas, e apro-
fundada mesmo nas simples.
BESSELAAR, José van den. Propylaeum latinum. São Paulo: Herder,
1960. Vol. I: sintaxe latina superior.
CÂMARA, J. Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. 11. ed. Pe-
trópolis: Vozes, 1984.
CARDOSO, Zélia de Almeida. Iniciação ao latim. São Paulo: Ática,
1989.
Este pequeno livro de Zélia de Almeida Cardoso é sucinto e objetivo, diri-
gido aos iniciantes na língua latina.
CART, A. et al. Gramática latina. Tradução e adaptação de Maria Evan-
gelina V. N. Soeiro. São Paulo: Edusp, 1986.
A gramática de Cart et al. é uma gramática intermediária, concisa, con-
cebida para um uso rápido e fácil.

125
Língua Latina I

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português con-


temporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
DESBORDES, Françoise. Concepções sobre a escrita na Roma antiga.
Tradução de Fulvia M. L. Moretto e Guacira Marcondes Machado. São
Paulo: Ática, 1995.
ERNSTBERGER, Reinhold; RAMERSDORFER, Hans. Roma bI - Texte
und Übungen. 2. Aufl. Bamberg: C.C. Buchners Verlag, 1999.
FARIA, Ernesto. Fonética histórica do latim. 2. ed. Rio de Janeiro: Livra-
ria Acadêmica, 1970.
______. Gramática da língua latina. 2. ed. Brasília: FAE, 1995.
HAUY, Amini Boianain. História da língua portuguesa: séculos XII, XIII
e XIV. Rio de Janeiro: Ática, 1989.
ILARI, Rodolfo. Lingüística românica. São Paulo: Ática, 1992.
O livro de Ilari é uma excelente introdução à formação das línguas neola-
tinas, em especial do Português.
LODEIRO, José. Traduções dos textos latinos. Rio de Janeiro: Globo,
1952.
NÓBREGA, Vandick L. da. A presença do latim. II – parte gramatical.
Rio de Janeiro: INEP/MEC, 1962.
RAVIZZA, P. João. Gramática latina. 14. ed. Niterói, RJ: Dom Bosco,
1958.
RÓNAI, Paulo. Não perca o seu latim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1980.
STÖRIG, Hans Joachim. A aventura das línguas. Uma viagem através
da história dos idiomas do mundo. Tradução de Glória Paschoal de Ca-
margo. São Paulo: Melhoramentos, 1987.
Aos interessados em adentrar no universo da história das línguas, o livro
de Störig apresenta-se como uma introdução indispensável. O autor dis-
corre sobre cada língua em particular de modo claro, objetivo, sucinto.
VALENTE, P. Mílton. Ludus primus. 36. ed. Porto Alegre: Livraria Sel-
bach, [19--].
______. Ludus secundus. 15. ed. Porto Alegre: Livraria Selbach, [19--].
VEYNE, Paul (Org.). História da vida privada. Vol. I: do império roma-
no ao ano mil. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990.

126
Referências
Crédito das Imagens
Capa
Coliseu em Roma, Itália.
Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_-avfDo2jKpk/TTsa-
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em: 17 set. 2011.
Mapa – O Império Romano: as conquistas de Otávio Augusto.
Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/com-
mons/7/76/Augusto_30aC_-_6dC_55%25CS_jpg.JPG>. Acesso em: 13
set. 2011.
Unidade A
Retrato de Paquius Proculus e sua esposa, afresco de Pompeia, Itália (sé-
culo I d.C.).
Fonte: Museu Arqueológico Nacional de Nápoles (Itália). Disponível
em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/Meister_
des_Portr%C3%A4ts_des_Paquius_Proculus_001.jpg>. Acesso em: 13
set. 2011.
Unidade B
Forum Romanum em Roma, Itália.
Fonte: Foto de Stefan Bauer. Disponível em: <http://upload.wikimedia.
org/wikipedia/commons/5/5a/Forum_Romanum_Rom.jpg>. Acesso
em: 13 set. 2011.
Unidade C
Via Appia em Roma, Itália.
Fonte: Foto de MM. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wi-
kipedia/commons/d/d5/RomaViaAppiaAntica03.JPG>. Acesso em: 13
set. 2011.
Unidade D
Templum Romanum (La Maison Carrée), Nimes, França.
Fonte: Foto de Jonathan Marcialis. Disponível em: <http://upload.wi-
kimedia.org/wikipedia/commons/9/93/Maison_Carr%C3%A9e_Ni-
mes-2007-10-23.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011.

127
Língua Latina I

Unidade E
Templo de Diana: localizado em Évora, Portugal, foi construído por volta
do século III a.C. para homenagear o Imperador Romano César Augusto.
Fonte: Disponível em: < http://f5pelomundo.files.wordpress.
com/2009/04/templo-diana-ok.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011.
Unidade F
Arco de Tito em Roma, Itália.
Fonte: ARTE Grega e Romana. In: ENCICLOPÉDIA Multimídia da Arte
Universal. Barueri, SP: AlphaBetum; Videolar, 1996. V.2. 1 CD-ROM.
Unidade G
Teatro Romano em Mérida, Espanha.
Fonte: Foto de Hakan Svensson. Disponível em: <http://upload.wiki-
media.org/wikipedia/commons/1/16/Merida_Roman_Theatre2.jpg>.
Acesso em: 13 set. 2011.
Unidade H
Casa Romana: Peristylium – Casa della Venere em Conchiglia, Pompeia,
Itália.
Fonte: Disponível em: <http://thearcheology.files.wordpress.
com/2010/06/peristyle-casa-della-venere-in-conchiglia-em-pompeia-
-italia.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011.
Unidade I
Boca da Verdade (Bocca della verita) em Roma, Itália.
Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_NJ8Oeg8b1v4/
SK92ICKmDtI/AAAAAAAAAZQ/kANV8khNO9Y/s1600-h/boca+da
+verdade+bocca+della+verita+roma.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011.
Unidade J
Arco da Tetrarquia, Sbeitla, Tunísia.
Fonte: Foto de Bernard Gagnon. Disponível em: <http://en.wikipedia.
org/wiki/File:Sbeitla_10.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011.
Unidade K
Aqueduto romano do século I em Segóvia, Espanha.
Fonte: Foto de Marco Rogério Ferraz Jr. Disponível em: < http://1.
bp.blogspot.com/-jZ_UjbK6URk/TdLqmramPrI/AAAAAAAAA9s/
gRwkoZnFFFg/s1600/IMG_2287+a.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011.

128
Conjugações

68 Verbo auxiliar: es-se


Indicativo Subjuntivo Imperativo
sum sou sim seja
es sis es sê
est sit
Presente sumus simus
estis sitis este sede
sunt sint
eram era essem fosse, seria
eras esses
erat esset
Pretérito Imperfeito eramus essemus
eratis essetis
erant essent
ero serei (for)
eris esto sê, seja ele
erit
Futuro do Presente erimus
eritis estote sede
erunt sunto sejam eles
fui fui, tenho sido fuerim tenha sido
fuisti fueris
fuit fuerit
Pretérito Perfeito fuimus fuerimus
fuistis fueristis
fuerunt fuerint
fueram fôra, tinha sido fuissem tivesse sido,
fueras fuisses teria sido
Pretérito Mais- fuerat fuisset
que-Perfeito fueramus fuissemus
fueratis fuissetis
fuerant fuissent
fuero terei sido, tiver sido
fueris
fuerit
Futuro do Pretérito fuerimus
fueritis
fuerint

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio
Presente esse ser
Pretérito fuisse ter sido
Futuro futurum, am, um; os, as, a esse futurus, a, um que será, futuro
haver de ser

129
Língua Latina I

69 Conjugação em –a– (1ª) : lauda-re


Ativa Indicativo Subjuntivo Imperativo
laud-o louvo laud-e-m louve
lauda-s laud-e-s lauda louva
lauda-t laud-e-t
Presente lauda-mus laud-e-mus
lauda-tis laud-e-tis lauda-te louvai
lauda-nt laud-e-nt
lauda-ba-m louvava lauda-re-m louvasse,
lauda-ba-s lauda-re-s louvaria
lauda-ba-t lauda-re-t
Pretérito Imperfeito lauda-ba-mus lauda-re-mus
lauda-ba-tis lauda-re-tis
lauda-ba-nt lauda-re-nt
lauda-b-o louvarei
lauda-bi-s lauda-to louva tu,
lauda-bi-t louve ele
Futuro do Presente lauda-bi-mus
lauda-bi-tis lauda-tote louvai
lauda-bu-nt lauda-nto louvem eles
louvei, tenho louvado tenha louvado
laudau-i laudau-eri-m
laudau-isti laudau-eri-s
Pretérito Perfeito laudau-it laudau-eri-t
laudau-imus laudau-eri-mus
laudau-istis laudau-eri-tis
laudau-erunt laudau-eri-nt
louvara, tinha louvado tivesse (teria) louvado
laudau-era-m laudau-isse-m
laudau-era-s laudau-isse-s
Pretérito Mais- laudau-era-t laudau-isse-t
que-Perfeito laudau-era-mus laudau-isse-mus
laudau-era-tis laudau-isse-tis
laudau-era-nt laudau-isse-nt
terei (tiver) louvado
laudau-er-o
laudau-eri-s
Futuro do Pretérito laudau-eri-t
laudau-eri-mus
laudau-eri-tis
laudau-eri-nt

130
Conjugações
Formas Nominais do Verbo
Infinitivo Particípio
Presente lauda-re louvar lauda-ns, ntis louvando
Pretérito laudau-isse ter louvado
laudat-urum, am, um; os, as, a esse laudat-urus, a, um que louvará, que vai louvar, que está
Futuro
haver de louvar para louvar
Gerúndio Supino
-----
gen. lauda-nd-i do louvar 1. laudat-um para louvar
dat. lauda-nd-o ao louvar 2. laudat-u para louvar
ac. ad lauda-nd-um para o louvar
abl. lauda-nd-o pelo louvar

Passiva Indicativo Subjuntivo Imperativo


laud-o-r sou louvado laud-e-r seja louvado
lauda-ris laud-e-ris lauda-re sê louvado
lauda-tur laud-e-tur
Presente lauda-mur laud-e-mur
lauda-mini laud-e-mini lauda-mini sede louvado
lauda-ntur laud-e-ntur
lauda-ba-r era louvado lauda-re-r fosse (seria)
lauda-ba-ris lauda-re-ris louvado
lauda-ba-tur lauda-re-tur
Pretérito Imperfeito lauda-ba-mur lauda-re-mur
lauda-ba-mini lauda-re-mini
lauda-ba-ntur lauda-re-ntur
lauda-bo-r serei (for)
lauda-be-ris louvado lauda-tor sê louvado, seja ele
lauda-bi-tur louvado
Futuro do Presente lauda-bi-mur
lauda-bi-mini
lauda-bu-ntur lauda-ntor sejam eles louvados

fui louvado, tenho sido tenha sido louvado


louvado
laudat-us, a, um sum laudat-us, a , um sim
es sis
Pretérito Perfeito est sit
laudat-i, ae, a sumus laudat-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint

131
Língua Latina I

fora louvado, tinha sido tivesse (teria) sido lou-


louvado vado
laudat-us, a, um eram laudat-us, a, um essem
Pretérito Mais- eras esses
que-Perfeito erat esset
laudat-i, ae, a eramus laudat-i, ae, a essemus
eratis essetis
erant essent
terei sido louvado
laudat-us, a, um ero
eris
Futuro do Pretérito erit
laudat-i, ae, a erimus
eritis
erunt

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente lauda-ri ser louvado
Pretérito laudat-um, am, um; os, as, a laudat-us, a, um louvado
esse ter sido louvado
Futuro laudat-um iri haver de ser lauda-nd-us, a, um que
louvado deve ser louvado

132
Conjugações
70 Conjugação em –e– (2ª) : dele-re
Ativa Indicativo Subjuntivo Imperativo
dele-o destruo dele-a-m destrua
dele-s dele-a-s dele destrói
dele-t dele-a-t
Presente dele-mus dele-a-mus
dele-tis dele-a-tis dele-te destruí
dele-nt dele-a-nt
dele-ba-m destruía dele-re-m destruísse,
dele-ba-s dele-re-s destruiria
Pretérito Imperfei- dele-ba-t dele-re-t
to dele-ba-mus dele-re-mus
dele-ba-tis dele-re-tis
dele-ba-nt dele-re-nt
dele-b-o destruirei dele-to destrói,
dele-bi-s destrua ele
dele-bi-t
Futuro do Presente dele-bi-mus dele-tote destruí
dele-bi-tis dele-nto destruam eles
dele-bu-nt
deleu-i destruí, tenho deleu-eri-m tenha
deleu-isti destruído deleu-eri-s destruído
deleu-it deleu-eri-t
Pretérito Perfeito deleu-imus deleu-eri-mus
deleu-istis deleu-eri-tis
deleu-erunt deleu-eri-nt
deleu-era-m destruíra, deleu-isse-m tivesse
deleu-era-s tinha deleu-isse-s (teria)
Pretérito Mais-que- deleu-era-t destruído deleu-isse-t destruído
-Perfeito deleu-era-mus deleu-isse-mus
deleu-era-tis deleu-isse-tis
deleu-era-nt deleu-isse-nt
deleu-er-o terei (tiver)
deleu-eri-s destruído
deleu-eri-t
Futuro do Pretérito deleu-eri-mus
deleu-eri-tis
deleu-eri-nt

133
Língua Latina I

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio
Presente dele-re destruir dele-ns, ntis destruindo
Pretérito deleu-isse ter destruído
delet-urum, am, um; os, as, a esse delet-urus, a, um que destruirá, que vai destruir, que está
Futuro haver de destruir para destruir

Gerúndio Supino
-----
gen. dele-nd-i do destruir 1. delet-um para destruir
dat. dele-nd-o ao destruir 2. delet-u para destruir
ac. ad dele-nd-um para o destruir
abl. dele-nd-o pelo destruir

Passiva Indicativo Subjuntivo Imperativo


dele-ba-r era destruído dele-a-r seja destruído
dele-ba-ris dele-a-ris dele-re sê destruído
dele-ba-tur dele-a-tur
Presente dele-ba-mur dele-a-mur
dele-ba-mini dele-a-mini dele-mini sede destruídos
dele-ba-ntur dele-a-ntur
dele-bo-r serei (for) dele-re-r fosse (seria)
dele-be-ris destruído dele-re-ris destruído
dele-bi-tur dele-re-tur
Pretérito Imperfeito dele-bi-mur dele-re-mur
dele-bi-mini dele-re-mini
dele-bu-ntur dele-re-ntur
dele-bo-r serei (for)
dele-be-ris destruído dele-tor sê destruído, seja
dele-bi-tur ele destruído
Futuro do Presente dele-bi-mur
dele-bi-mini
dele-bu-ntur dele-ntor sejam eles destruídos
fui destruído, tenho sido tenha sido destruído
destruído
delet-us, a, um sum delet-us, a, um sim
es sis
Pretérito Perfeito
est sit
delet-i, ae, a sumus delet-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint

134
Conjugações
fora destruído, tinha sido tivesse (teria) sido des-
destruído truído
delet-us, a, um eram delet-us, a, um essem
Pretérito Mais-que- eras esses
-Perfeito erat esset
delet-i, ae, a eramus delet-i, ae, a essemus
eratis essetis
erant essent
terei sido destruído
delet-us, a, um ero
eris
erit
Futuro do Pretérito
delet-i, ae, a erimus
eritis
erunt

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente dele-ri ser destruído
Pretérito delet-um, am, um; os, as, a delet-us, a, um dele-nd-us, a, um que
esse ter sido destruído destruído deve ser destruído
Futuro delet-um iri haver de ser
destruído

135
Língua Latina I

71 Conjugação Consonantal (3ª) : leg-e-re


Ativa Indicativo Subjuntivo Imperativo
leg-o leio leg-a-m leia
leg-i-s leg-a-s leg-e lê
leg-i-t leg-a-t
Presente leg-i-mus leg-a-mus
leg-i-tis leg-a-tis leg-i-te lede
leg-u-nt leg-a-nt
leg-e-ba-m lia leg-e-re-m lesse, leria
leg-e-ba-s leg-e-re-s
leg-e-ba-t leg-e-re-t
Pretérito Imperfeito leg-e-ba-mus leg-e-re-mus
leg-e-ba-tis leg-e-re-tis
leg-e-ba-nt leg-e-re-nt
leg-a-m lerei (eu ler)
leg-e-s leg-i-to lê, leia ele
leg-e-t
Futuro do Presente leg-e-mus
leg-e-tis leg-i-tote lede
leg-e-nt leg-u-nto leiam eles
leg-i li, tenho lido leg-eri-m tenha lido
leg-isti leg-eri-s
leg-it leg-eri-t
Pretérito Perfeito leg-imus leg-eri-mus
leg-istis leg-eri-tis
leg-erunt leg-eri-nt
lera, tinha lido tivesse (teria) lido
leg-era-m leg-isse-m
leg-era-s leg-isse-s
Pretérito Mais-que-
leg-era-t leg-isse-t
-Perfeito
leg-era-mus leg-isse-mus
leg-era-tis leg-isse-tis
leg-era-nt leg-isse-nt
terei (tiver) lido
leg-er-o
leg-eri-s
Futuro do Pretérito leg-eri-t
leg-eri-mus
leg-eri-tis
leg-eri-nt

136
Conjugações
Formas Nominais do Verbo
Infinitivo Particípio
Presente leg-e-re ler leg-e-ns, ntis lendo
Pretérito leg-isse ter lido
lect-urum, am, um; os, as, a esse haver de ler lect-urus, a, um que lerá, que vai ler, que está
Futuro para ler

Gerúndio Supino
-----
gen. leg-e-nd-i do ler 1. lect-um para ler
dat. leg-e-nd-o ao ler 2. lect-u para ler
ac. ad leg-e-nd-um para o ler
abl. leg-e-nd-o pelo ler

Passiva Indicativo Subjuntivo Imperativo


leg-o-r sou lido leg-a-r seja lido
leg-e-ris leg-a-ris leg-e-re sê lido
leg-i-tur leg-a-tur
Presente leg-i-mur leg-a-mur
leg-i-mini leg-a-mini leg-imini sede lidos
leg-u-ntur leg-a-ntur
leg-e-ba-r era lido leg-e-re-r fosse (seria)
leg-e-ba-ris lido
leg-e-ba-tur leg-e-re-ris
Pretérito Imperfeito leg-e-ba-mur leg-e-re-tur
leg-e-ba-mini leg-e-re-mur
leg-e-ba-ntur leg-e-re-mini
leg-e-re-ntur
leg-a-r serei (for) lido
leg-e-ris leg-i-tor sê lido, seja ele lido
leg-e-tur
Futuro do Presente leg-e-mur
leg-e-mini leg-u-ntor sejam eles lidos
leg-e-ntur
fui lido, tenho sido lido tenha sido lido
lect-us, a, um sum lect-us, a, um sim
es sis
Pretérito Perfeito est sit
lect-i, ae, a sumus lect-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint

137
Língua Latina I

fora lido, tinha sido lido tivesse (teria) sido lido


lect-us, a, um eram lect-us, a, um essem
eras esses
Pretérito Mais-que- erat esset
-Perfeito lect-i, ae, a eramus lect-i, ae, a essemus
eratis essetis
erant essent
terei sido lido
lect-us, a, um ero
eris
Futuro do Pretérito erit
lect-i, ae, a erimus
eritis
erunt

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente leg-i ser lido
lect-um, am, um; os, as, a esse lect-us, a, um lido
Pretérito
ter sido lido
lectum iri haver de ser lido leg-e-nd-us, a, um que deve
Futuro
ser lido

138
Conjugações
72 Conjugação em –i– (4ª): audi-re
Ativa Indicativo Subjuntivo Imperativo
audi-o ouço audi-a-m ouça
audi-s audi-a-s audi ouve
audi-t audi-a-t
Presente audi-mus audi-a-mus
audi-tis audi-a-tis audi-te ouvi
audi-u-nt audi-a-nt
audi-e-ba-m ouvia audi-re-m ouvisse,
audi-e-ba-s audi-re-s (ouviria)
audi-e-ba-t audi-re-t
Pretérito Imperfeito audi-e-ba-mus audi-re-mus
audi-e-ba-tis audi-re-tis
audi-e-ba-nt audi-re-nt
audi-a-m ouvirei
audi-e-s audi-to ouve, ouça ele
audi-e-t
Futuro do Presente audi-e-mus
audi-e-tis audi-tote ouvi
audi-e-nt audi-u-nto ouçam eles
ouvi, tenho ouvido tenha ouvido
audiu-i audiu-eri-m
audiu-isti audiu-eri-s
Pretérito Perfeito audiu-it audiu-eri-t
audiu-imus audiu-eri-mus
audiu-istis audiu-eri-tis
audiu-erunt audiu-eri-nt
ouvira, tinha ouvido tivesse (teria) ouvido
audiu-era-m audiu-isse-m
audiu-era-s audiu-isse-s
Pretérito Mais- audiu-era-t audiu-isse-t
que-Perfeito audiu-era-mus audiu-isse-mus
audiu-era-tis audiu-isse-tis
audiu-era-nt audiu-isse-nt
terei (tiver) ouvido
audiu-er-o
audiu-eri-s
Futuro do Pretérito audiu-eri-t
audiu-eri-mus
audiu-eri-tis
audiu-eri-nt

139
Língua Latina I

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio
Presente audi-re ouvir audi-e-ns, ntis ouvindo
Pretérito audiu-isse ter ouvido
audit-urum, am, um; os, as, a esse haver de audit-urus, a, um que ouvirá, que vai ou-
Futuro ouvir vir, que está para ouvir

Gerúndio Supino
-----
gen. audi-e-nd-i do ouvir 1. audit-um para ouvir
dat. audi-e-nd-o ao ouvir 2. audit-u para ouvir
ac. ad audi-e-nd-um para o ouvir
abl. audi-e-nd-o pelo ouvir

Passiva Indicativo Subjuntivo Imperativo


audi-o-r sou ouvido audi-a-r seja ouvido
audi-ris audi-a-ris audi-re sê ouvido
audi-tur audi-a-tur
Presente audi-mur audi-a-mur
audi-mini audi-a-mini audi-mini sede ouvidos
audi-u-ntur audi-a-ntur
audi-e-ba-r era ouvido audi-re-r fosse (seria)
audi-e-ba-ris audi-re-ris ouvido
audi-e-ba-tur audi-re-tur
Pretérito Imperfeito audi-e-ba-mur audi-re-mur
audi-e-ba-mini audi-re-mini
audi-e-ba-ntur audi-re-ntur
serei (for) ouvido
audi-a-r
audi-e-ris audi-tor sê ouvido, seja ele
audi-e-tur ouvido
Futuro do Presente audi-e-mur
audi-e-mini
audi-e-ntur audi-u-ntor sejam eles ouvi-
dos
fui ouvido, tenho sido ouvido tenha sido ouvido
audit-us, a, um sum audit-us, a, um sim
es sis
est sit
Pretérito Perfeito audit-i, ae, a sumus audit-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint

140
Conjugações
fora lido, tinha sido ouvido tivesse (teria) sido ouvi-
audit-us, a, um eram do
eras audit-us, a, um essem
Pretérito Mais-que- erat esses
-Perfeito audit-i, ae, a eramus esset
eratis audit-i, ae, a essemus
erant essetis
essent
terei sido ouvido
audit-us, a, um ero
eris
Futuro do Pretérito erit
audit-i, ae, a erimus
eritis
erunt

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente audi-ri ser ouvido
audit-um, am, um; os, as, a audit-us, a, um ouvido
Pretérito
esse ter sido ouvido
auditum iri haver de ser audi-e-nd-us, a, um que deve ser
Futuro
ouvido ouvido

141
Língua Latina I

Depoentes
73 Conjugação em –a– (1ª): mina-ri
Indicativo Subjuntivo Imperativo
min-o-r ameaço min-e-r eu ameace
mina-ris min-e-ris mina-re ameaça
mina-tur min-e-tur
Presente mina-mur min-e-mur
mina-mini min-e-mini mina-mini ameaçai
mina-ntur min-e-ntur
mina-ba-r ameaçava mina-re-r se eu ameaçasse
mina-ba-ris mina-re-ris
mina-ba-tur mina-re-tur
Pretérito Imperfeito mina-ba-mur mina-re-mur
mina-ba-mini mina-re-mini
mina-ba-ntur mina-re-ntur
mina-bo-r ameaçarei
mina-be-ris mina-tor ameaça tu
mina-bi-tur ameace ele
Futuro do Presente mina-bi-mur
mina-bi-mini
mina-bu-ntur mina-ntor ameacem
ameacei,tenho ameaçado tenha ameaçado
minat-us, a, um sum minat-us, a, um sim
es sis
Pretérito Perfeito est sit
minat-i, ae, a sumus minat-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint
ameaçara, tinha ameaçado tivesse (teria) ameaçado
minat-us, a, um eram minat-us, a, um essem
eras esses
Pretérito Mais- erat esset
que-Perfeito minat-i, ae, a eramus minat-i, ae, a essemus
eratis essetis
erant essent
tiver (terei) ameaçado
minat-us, a, em ero
eris
Futuro do Pretérito erit
minat-i, ae, a erimus
eritis
erunt

142
Conjugações
Formas Nominais do Verbo
Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente mina-ri ameaçar mina-ns, ntis ameaçando
minat-us, a, um esse ter minat-us, a, um ameaçado
Pretérito
ameaçado
minat-urum, am, um; os, as, minat-urus, a, um que está mina-nd-us, a, um que deve ser
Futuro
a esse haver de ameaçar para ameaçar ameaçado

143
Língua Latina I

74 Conjugação em –e– (2ª): pollice-ri


Indicativo Subjuntivo Imperativo
pollice-o-r prometo pollice-a-r eu prometa
pollice-ris pollice-a-ris pollice-re promete
pollice-tur pollice-a-tur
Presente pollice-mur pollice-a-mur
pollice-mini pollice-a-mini pollice-mini prometei
pollice-ntur pollice-a-ntur

prometia se eu prometesse
pollice-ba-r pollice-re-r
pollice-ba-ris pollice-re-ris
Pretérito Imperfeito pollice-ba-tur pollice-re-tur
pollice-ba-mur pollice-re-mur
pollice-ba-mini pollice-re-mini
pollice-ba-ntur pollice-re-ntur

pollice-bo-r prometerei
pollice-be-ris pollice-tor promete tu
pollice-bi-tur prometa ele
Futuro do Presente pollice-bi-mur
pollice-bi-mini
pollice-bu-ntur pollice-ntor prometam eles

prometi, tenho prometido tenha prometido


pollicit-us, a, um sum pollicit-us, a, um sim
es sis
Pretérito Perfeito est sit
pollicit-i, ae, a sumus pollicit-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint
prometera, tinha prometido tivesse (teria) prometido
pollicit-us, a, um eram pollicit-us, a, um essem
eras esses
Pretérito Mais- erat esset
que-Perfeito pollicit-i, ae, a eramus pollicit-i, ae, a essemus
eratis essetis
erant essent

terei prometido
pollicit-us, a, um ero
eris
Futuro do Pretérito erit
pollicit-i, ae, a erimus
eritis
erunt

144
Conjugações
Formas Nominais do Verbo
Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente pollice-ri prometer pollice-ns, ntis prometendo
pollicit-us, a, um esse ter pollicit-us, a, um
Pretérito
prometido prometido
pollicit-urum, am, um; os, pollicit-urus, a, um que pollice-nd-us, a, um que
Futuro
as, a esse haver de prometer está para prometer deve ser prometido

145
Língua Latina I

75 Conjugação Consonantal (3ª) : loqu-i


Indicativo Subjuntivo Imperativo
loqu-o-r falo loqu-a-r que eu fale
loqu-e-ris loqu-a-ris loqu-e-re fala
loqu-i-tur loqu-a-tur
Presente loqu-i-mur loqu-a-mur
loqu-i-mini loqu-a-mini loqu-i-mini falai
loqu-u-ntur loqu-a-ntur
loqu-e-ba-r falava loqu-e-re-r se eu falasse
loqu-e-ba-ris loqu-e-re-ris
loqu-e-ba-tur loqu-e-re-tur
Pretérito Imperfeito loqu-e-ba-mur loqu-e-re-mur
loqu-e-ba-mini loqu-e-re-mini
loqu-e-ba-ntur loqu-e-re-ntur
loqu-a-r falarei
loqu-e-ris loqu-i-tor fala tu, fale ele
loqu-e-tur
Futuro do Presente loqu-e-mur
loqu-e-mini loqu-u-ntor falem eles
loqu-e-ntur
falei, tenho falado tenha falado
locut-us, a, um sum locut-us, a, um sim
es sis
Pretérito Perfeito est sit
locut-i, ae, a sumus locut-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint
falara, tinha falado tivesse (teria) falado
locut-us, a, um eram locut-us, a, um essem
eras esses
Pretérito Mais- erat esset
que-Perfeito locut-i, ae, a eramus locut-i, ae, essemus
eratis essetis
erant essent
terei (tiver) falado
locut-us, a, um ero
eris
Futuro do Pretérito erit
locut-i, ae, a erimus
eritis
erunt

146
Conjugações
Formas Nominais do Verbo
Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente loqu-i falar loqu-e-ns, ntis falando
locut-us, a, um esse ter locut-us, a, um falado
Pretérito
falado
locut-urum, am, um; os, as, locut-urus, a, um que loqu-e-nd-us, a, um que
Futuro
a esse haver de falar está para falar deve ser falado

147
Língua Latina I

76 Conjugação em – i – (4ª): menti-ri


Indicativo Subjuntivo Imperativo
menti-o-r minto menti-a-r eu minta
menti-ris menti-a-ris menti-re mente
menti-tur menti-a-tur
Presente menti-mur menti-a-mur
menti-mini menti-a-mini menti-mini menti
menti-u-ntur menti-a-ntur
menti-e-ba-r mentia menti-re-r eu men-
menti-e-ba-ris tisse
menti-e-ba-tur menti-re-ris
Pretérito Imperfeito menti-e-ba-mur menti-re-tur
menti-e-ba-mini menti-re-mur
menti-e-ba-ntur menti-re-mini
menti-re-ntur
menti-a-r mentirei
menti-e-ris menti-tor mente tu
menti-e-tur minta ele
Futuro do Presente menti-e-mur
menti-e-mini
menti-e-ntur menti-u-ntor mintam
menti, tenho mentido tenha mentido
mentit-us, a, um sum mentit-us, a, um sim
es sis
Pretérito Perfeito est sit
mentit-i, ae, a sumus mentit-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint
mentira, tinha mentido tivesse (teria) mentido
mentit-us, a, um eram mentit-us, a, um essem
eras esses
erat esset
Pretérito Mais- mentit-i, ae, a eramus mentit-i, ae, a essemus
que-Perfeito eratis essetis
erant essent

terei mentido
mentit-us, a, um ero
eris
Futuro do Pretérito erit
mentit-i, ae, a erimus
eritis
erunt

148
Conjugações
Formas Nominais do Verbo
Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente menti-ri mentir menti-e-ns, ntis mentindo
mentit-us, a, um esse mentit-us, a, um mentido
Pretérito
ter mentido
mentit-urum, am, mentit-urus, a, um que menti-e-nd-us, a, um que deve ser
Futuro um; os, as, a esse está para mentir mentido
haver de mentir

149
Língua Latina I

Irregulares
pos-se
Indicativo Subjuntivo Imperativo
pos-sum eu posso pos-sim eu possa
pot-es pos-sis mina-re ameaça
pot-est pos-sit
Presente pos-sumus pos-simus
pot-estis pos-sitis mina-mini ameaçai
pos-sunt pos-sint
pot-era-m eu podia pos-sem eu pudesse,
pot-era-s poderia
pot-era-t pos-ses
Pretérito Imperfeito pot-era-mus pos-set
pot-era-tis pos-semus
pot-era-nt pos-setis
pos-sent
pot-er-o eu poderei
pot-eri-s mina-tor ameaça tu
pot-eri-t ameace ele
Futuro do Presente pot-eri-mus
pot-eri-tis
pot-eru-nt mina-ntor ameacem
potu-i pude, tenho podi- potu-eri-m tenha po-
do dido
potu-isti potu-eri-s
Pretérito Perfeito potu-it potu-eri-t
potu-imus potu-eri-mus
potu-istis potu-eri-stis
potu-erunt potu-eri-nt

potu-era-m pudera, tinha potu-isse-m tivesse


podido podido, teria podido
potu-era-s potu-isse-s
Pretérito Mais- potu-era-t potu-isse-t
que-Perfeito potu-era-mus potu-isse-mus
potu-era-tis potu-isse-tis
potu-era-nt potu-isse-nt
potu-er-o terei (tiver) po-
dido
potu-eri-s
Futuro do Pretérito potu-eri-t
potu-eri-mus
potu-eri-tis
potu-eri-nt

150
Conjugações
Formas Nominais do Verbo
Infinitivo
Presente posse poder
Pretérito potu-isse ter podido

fer-re
Ativa Indicativo Subjuntivo Imperativo
fer-o levo fer-a-m leve
fer-s fer-a-s fer leva
fer-t fer-a-t
Presente fer-i-mus fer-a-mus
fer-tis fer-a-tis fer-te levai
fer-u-nt fer-a-nt
fer-e-ba-m levava fer-re-m levasse, levaria
fer-e-ba-s fer-re-s
fer-e-ba-t fer-re-t
Pretérito Imperfeito fer-e-ba-mus fer-re-mus
fer-e-ba-tis fer-re-tis
fer-e-ba-nt fer-re-nt
fer-a-m levarei
fer-e-s fer-to leva
fer-e-t
Futuro do Presente fer-e-mus
fer-e-tis fer-tote levai
fer-e-nt
tul-i levei, tenho levado tul-eri-m tenha levado
tul-isti tul-eri-s
tul-it tul-eri-t
Pretérito Perfeito tul-imus tul-eri-mus
tul-istis tul-eri-tis
tul-erunt tul-eri-nt
tul-era-m levara, tinha tul-isse-m tivesse (teria)
tul-era-s levado tul-isse-s levado
Pretérito Mais- tul-era-t tul-isse-t
que-Perfeito tul-era-mus tul-isse-mus
tul-era-tis tul-isse-tis
tul-era-nt tul-isse-nt
tul-er-o terei (tiver)
tul-eri-s levado
tul-eri-t
Futuro do Pretérito tul-eri-mus
tul-eri-tis
tul-eri-nt

151
Língua Latina I

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio
Presente fer-re levar, trazer fer-e-ns, ntis que leva, levando
Pretérito tul-isse ter levado
lat-urum, am, um; os, as, a esse haver de lat-urus, a, um que levará, que vai levar, que
Futuro levar, ir levar está para levar

Gerúndio Supino
-----
gen. fer-e-nd-i de levar 1. lat-um para ler
dat. fer-e-nd-o ao levar 2. lat-u para ler
ac. ad fer-e-nd-um para o levar
abl. fer-e-nd-o pelo levar

Passiva Indicativo Subjuntivo Imperativo


fer-or sou levado fer-a-r seja levado
fer-ris fer-a-ris fer-re sê levado
fer-tur fer-a-tur
Presente fer-i-mur fer-a-mur
fer-i-mini fer-a-mini fer-i-mini sede levados
fer-u-ntur fer-a-ntur
fer-e-ba-r era levado fer-re-r fosse (seria)
fer-e-ba-ris fer-re-ris levado
fer-e-ba-tur fer-re-tur
Pretérito Imperfeito fer-e-ba-mur fer-re-mur
fer-e-ba-mini fer-re-mini
fer-e-ba-ntur fer-re-ntur
fer-a-r serei (for) levado
fer-e-ris
fer-e-tur
Futuro do Presente fer-e-mur
fer-e-mini
fer-e-ntur
fui levado, tenho sido levado tenha sido levado
lat-us, a, um sum lat-us, a, um sim
es sis
Pretérito Perfeito est sit
lat-i, ae, a sumus lat-i, ae, a simus
estis sitis
sunt sint

152
Conjugações
fora levado, tinha sido tivesse (teria) sido levado
levado
lat-us, a, um eram lat-us, a, um essem
Pretérito Mais- eras esses
que-Perfeito erat esset
lat-i, ae, a eramus lat-i, ae, a essemus
eratis essetis
erant essent
terei sido levado
lat-us, a, um ero
eris
erit
Futuro do Pretérito
lat-i, ae, a erimus
eritis
erunt

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio Gerundivo
Presente fer-ri ser levado
lat-um, am, um; os, as, a lat-us, a, um levado
Pretérito
esse ter sido levado
lat-um iri haver de ser leva- fer-e-nd-us, a, um que deve
Futuro
do ser levado

uel-le, nol-le, mal-le


querer, não querer, preferir
Indicativo Subjuntivo
uol-o nol-o mal-o uel-i-m nol-i-m mal-i-m
ui-s non ui-s maui-s uel-i-s nol-i-s mal-i-s
uul-t non uul-t mauul-t uel-i-t nol-i-t mal-i-t
Presente
uol-u-mus nol-u-mus mal-u-mus uel-i-mus nol-i-mus mal-i-mus
uul-tis non uul-tis mauul-tis uel-i-tis nol-i-tis mal-i-tis
uol-u-nt nol-u-nt mal-u-nt uel-i-nt nol-i-nt mal-i-nt
uol-e-ba-m nol-e-ba-m mal-e-bam uel-le-m nol-le-m mal-le-m
uol-e-ba-s nol-e-ba-s mal-e-ba-s uel-le-s nol-le-s mal-le-s
Pretérito uol-e-ba-t nol-e-ba-t mal-e-ba-t uel-le-t nol-le-t mal-le-t
Imperfeito uol-e-ba-mus nol-e-ba-mus mal-e-ba-mus uel-le-mus nol-le-mus mal-le-mus
uol-e-ba-tis nol-e-ba-tis mal-e-ba-tis uel-le-tis nol-le-tis mal-le-tis
uol-e-ba-nt nol-e-ba-nt mal-e-ba-nt uel-le-nt nol-le-nt mal-le-nt
uol-a-m nol-a-m mal-a-m
uol-e-s nol-e-s mal-e-s
Futuro do uol-e-t nol-e-t mal-e-t
Presente uol-e-mus nol-e-mus mal-e-mus
uol-e-tis nol-e-tis mal-e-tis
uol-e-nt nol-e-nt mal-e-nt

153
Língua Latina I

uolu-i nolu-i malu-i uolu-eri-m nolu-eri-m malu-eri-m


uolu-isti nolu-isti malu-isti uolu-eri-s nolu-eri-s malu-eri-s
Pretérito uolu-it nolu-it malu-it uolu-eri-t nolu-eri-t malu-eri-t
Perfeito uolu-imus nolu-imus malu-imus uolu-eri-mus nolu-eri-mus malu-eri-mus
uolu-istis nolu-istis malu-istis uolu-eri-tis nolu-eri-tis malu-eri-tis
uolu-erunt nolu-erunt malu-erunt uolu-eri-nt nolu-eri-nt malu-eri-nt
uolu-era-m nolu-era-m malu-era-m uolu-isse-m nolu-isse-m malu-isse-m
uolu-era-s nolu-era-s malu-era-s uolu-isse-s nolu-isse-s malu-isse-s
Pretérito
uolu-era-t nolu-era-t malu-era-t uolu-isse-t nolu-isse-t malu-isse-t
Mais-que-
uolu-era-mus nolu-era-mus malu-era-mus uolu-isse-mus nolu-isse-mus malu-isse-mus
Perfeito uolu-era-tis nolu-era-tis malu-era-tis uolu-isse-tis nolu-isse-tis malu-isse-tis
uolu-era-nt nolu-era-nt malu-era-nt uolu-isse-nt nolu-isse-nt malu-isse-nt
uolu-er-o nolu-er-o malu-er-o
uolu-eri-s nolu-eri-s malu-eri-s
Futuro do uolu-eri-t nolu-eri-t malu-eri-t
Pretérito uolu-eri-mus nolu-eri-mus malu-eri-mus
uolu-eri-tis nolu-eri-tis malu-eri-tis
uolu-eri-nt nolu-eri-nt malu-eri-nt

Presente Futuro
nol-i não queiras nol-i-to não queiras, não queira
Imperativo
nol-i-te não queirais nol-i-tote não queirais

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio
Presente uel-le, nol-le, mal-le querer, não que- uol-e-ns, ntis, querendo
rer, preferir

Perfeito uolu-isse, nolu-isse, malu-isse nol-e-ns, ntis, não querendo


ter querido, não ter querido, ter pre-
ferido

i-re
Indicativo Subjuntivo Imperativo
e-o vou e-a-m vá
i-s e-a-s i vai
i-t e-a-t
Presente i-mus e-a-mus
i-tis e-a-tis i-te ide
e-u-nt e-a-nt
i-ba-m ia i-re-m fosse
i-ba-s i-re-s
i-ba-t i-re-t
Pretérito Imperfeito i-ba-mus i-re-mus
i-ba-tis i-re-tis
i-ba-nt i-re-nt

154
Conjugações
i-b-o irei
i-bi-s i-to vai
i-bi-t
Futuro do Presente i-bi-mus
i-bi-tis i-tote ide
i-bu-nt eu-nto vão eles
i-i fui i-eri-m tenha ido
isti i-eri-s
i-it i-eri-t
Pretérito Perfeito
i-imus i-eri-mus
istis i-eri-tis
i-erunt i-eri-nt
i-era-m fora, tinha ido isse-m tivesse (teria)
i-era-s ido
i-era-t isse-s
Pretérito Mais-
i-era-mus isse-t
que-Perfeito
i-era-tis isse-mus
i-era-nt isse-tis
isse-nt
i-er-o terei ido
i-eri-s
i-eri-t
Futuro do Pretérito i-eri-mus
i-eri-tis
i-eri-nt

Formas Nominais do Verbo


Infinitivo Particípio
Presente i-re ir i-e-ns, eu-ntis que vai, indo
Pretérito isse ter ido
it-urum, am, um; os, as, a esse haver it-urus, a, um que irá
Futuro de ir

Gerúndio Supino
-----
gen. eu-nd-i de ir 1. it-um para ir
dat. eu-nd-o ao ir 2. it-u para ir
ac. ad eu-nd-um para ir
abl. eu-nd-o pelo ir

155
Vocabulário

Vocabulário

a , ab, abs (prep.) distante de, de, desde


abeo, -is, -ire, abii, abitum partir, afastar-se, retirar-se
abundo, -as, -are, -aui, abundatum encher, abundar
ac (conj.) e, e o que mais
accūso, -as, -āre, -āui, -ātum acusar
acer, acris, acre ácido, azedo, áspero, duro, forte, enérgico, vigoroso,
severo, cruel
acūtus, a, um aguçado, pontudo, agudo
ad (prep. + acus.) a, junto a
adeo, -is, -ire, adii (ou: -iui), aditum ir em direção, ao encontro de
aditus, us 4m. entrada, acesso, oportunidade, direito a
adficio, -is, -ere, adfeci, adfectus condenar, ferir, atacar; afetar
adgredior, -eris, adgredi, adgressus sum aproximar-se de, ir ao en-
contro de
adhuc (adv.) ainda, até agora
adiuuo, -as, -āre, -iūui, -iūtum ajudar, auxiliar
admitto, -is, -ere, admissi, admissum admitir, aceitar, permitir, receber
adseruo, -as, -are, -aui, -atum guardar, manter, vigiar, observar
adulātor, -ōris 3m. adulador
aedificium, i 2n. edifício, construção
aedifico, -as, -āre, -āui, -ātum construir, edificar
aedis, aedis 3f. templo; aedes, aedium 3f. pl. casa
aegroto, -as, -are, -aui, -atum adoecer, estar doente, enfermar
aegrotus, a um doente
aetas, -ātis 3f. época, idade
aeternus, a, um eterno, imortal
ager, agri 2m. campo
ago, agis, agere, egi, actum agir, comportar-se
agricola, ae 1m. camponês, lavrador, agricultor
ala, ae 1f. asa
alea, ae 1f. dado de jogar; sorte
aliquis, aliqua, aliquid (pron. indef.) alguém, alguma, algum, algo, al-
guma coisa
alius, alia, aliud (pron. indef.) (um)
�����������������������������������������
outro, (uma) outra, (uma) outra coi-
sa; diferente
alius... alius (pron. indef.) um... outro
alter, a, um outro
altus, a, um alto, elevado

157
Língua Latina I

amātor, -ōris 3m. amador, amante


ambulo, -as, -āre, -āui, -ātum passear
amen (adv.) amém, assim seja
amens, -entis desvairado, perturbado
amīca, ae 1f. amiga
amīcus, i 2m. amigo
amo, -as, -āre, -āui, -ātum amar, gostar
amoenus, a, um ameno, agradável
amor, -oris 3m. amor, afeição
amphitheātrum, i 2n. anfiteatro
amplus, a, um largo, espaçoso, amplo
ancilla, ae 1f. empregada, escrava
anima, ae 1f. alma
animus, i 2m. espírito, alma, coração, vontade; pensamento; disposição
ante (prep.) antes de, diante de, perante
antīquus, a, um antigo
Antonia, ae 1f. Antônia
appareo, -es, -ere, apparui, apparitum aparecer
appello, -as, -āre, -āui, -ātum chamar, reclamar, nomear
appeto, -is, -ere, appetiui, appetitum desejar, abordar, buscar
appropinquo, -as, -are, -aui, -atum aproximar-se
apud (prep.) junto a, entre, em casa de
aqua, ae 1f. água
aquila, ae 1f. águia
arbitror, -aris, -ari, arbitratus sum acreditar, imaginar, julgar, considerar
arbor, -oris 3f. árvore
arma, -orum 2n. pl. armas, exército
aro, -as, -āre, -āui, -ātum arar, lavrar
ars, artis 3f. arte, habilidade, técnica
asinus, i 2m. asno, burro
astutia, ae 1f. astúcia
athlēta, ae 1m. atleta
attamen (conj.) contudo
attentus, a, um atento, aplicado
auaritia, ae 1f. avareza
auctoritas, atis 3f. autoridade
audax, audacis audaz, audacioso, corajoso
audeo, -es, -ere, ausus sum ousar
audio, -is, -ire, audiui, auditum ouvir
aue (interj.) salve! olá!
auia, ae 1f. avó

158
Vocabulário
aureus, a, um áureo, de ouro
aurum, i 2n. ouro
ausculto, -as, -āre, -āui, -ātum escutar
aut (conj.) ou
autem (conj.) mas, porém, contudo
auxilium, i 2n. auxílio

b arba, ae 1f. barba


barbarus, a, um bárbaro, incivilizado, estrangeiro
beātus, a, um feliz
Belga, ae 1m. belga, povo ao Norte da Gália
bellicosus, a, um belicoso, guerreiro
bene (adv.) bem
benedictus, a, um bendito, agraciado
bestia, ae 1f. animal, criatura, besta
bis duas vezes
bonus, a, um bom, bondoso
breuis, e breve, conciso, pequeno
breuitas, atis 3f. brevidade, concisão
Britannia, ae 1f. Britânia
Brittanicus, i 2m. Britânico
Brutus, i 2m. Bruto

c aesar, -aris 3m. César


calamus, i 2m. cana, caneta, pena de escrever
campus, i 2m. campo, terreno, território
canis, canis 3m. e f. cão, cadela
cano, -is, -ere, cecini, cantus cantar, celebrar, recitar
canon, onis 3m. regra, catálogo dos escritos sagrados
cantilena, -ae 1f. canção; sentido figurado: tagarelice
canto, -as, -āre, -āui, -ātum cantar, cantarolar
capio, -is, -ere, cepi, captum tomar, capturar, prender
caput, itis 3n. cabeça, chefe
careo, -es, -ēre, -ui, -itum (abl.) precisar, carecer
casa, ae 1f. cabana, casebre, choupana
castīgo, -as, -āre, -āui, -ātum corrigir, castigar
cathedra, ae 1f. cadeira, cátedra
Catilina, ae 1m. Catilina (nome próprio masculino)
caueo, -es, -ere, caui, cautum tomar cuidado, prevenir-se, acautelar-se
causa, ae 1f. causa, motivo, razão
celeber, celebris, celebre célebre, famoso

159
Língua Latina I

celer, celeris, celere rápido, veloz, ágil


celo, -as, -āre, -āui, -ātum ocultar, esconder
cena, ae 1f. o jantar, a ceia
ceno, -as, -āre, -āui, -ātum jantar
cenum, i 2n. lama, lodo, porcaria, esterco
cera, ae 1f. cera, tabuinha encerada em que se escreve
certo, -as, -are, -aui, -atum lutar, combater, disputar
cesso, -as, -are, -aui, cessatum cessar, deter, desativar
ceterum (ad.) ademais, de resto
ceterus, a, um resto, excedente, outro
cibus, i 2m. alimento
Cicero, onis 3m. Cícero
ciuis, ciuis 3m. e f. cidadão
ciuitas, atis 3f. cidade, comunidade
clam (adv.) furtivamente
clamo, -as, -āre, -āui, -ātum gritar, proclamar, declarar, clamar, chamar,
exclamar
clarus, a, um brilhante, famoso, ilustre, claro
clausus, a, um fechado, encerrado, escondido
coactus, a, um (de cogo) forçado, impelido, coagido
cogito, -as, -āre, -āui, -ātum pensar, refletir, ponderar
cognosco, -is, -ere, cognoui, cognitum conhecer, reconhecer, aprender,
cogo, -is, -ere, coegi, coatum forçar, impelir, coagir
collega, ae 1m/f. colega
columba, ae 1f. pomba
comes, itis 3m. companheiro
communis, e comum
comparo, -as, -are, aui, comparatum comparar
conceptus, a, um concebido
concipio, -is, -ere, concepi, conceptus receber, entender, conceber
condemno, -as, -are, -aui, condemnatum condenar, sentenciar, censurar
condiscipula, ae 1f. colega, companheira
condo, -is, -ere, condidi, conditum fundar, construir, compor
conficio, -is, -ere, confeci, confectum fazer, construir, preparar, com-
pletar, realizar
coniecto, -as, -are, -aui, -atum presumir, concluir, adivinhar
coniurātus, i 2m. conjurado, aliado
conseruo, -as, -āre, -āui, -ātum conservar
consilium, i 2n. plano
consulo, -is, -ere, consului, consultum perguntar, tomar informação,
considerar, decidir
consultum, i 2n. decisão, resolução, decreto

160
Vocabulário
contra (prep.) contra, defronte a
contrarius, a, um contrário, oposto
conuoco, -as, -are, -aui, -atum convocar, chamar, reunir
copia, ae 1f. abundância
copiae, arum 1f. pl. exército, tropas, forças militares
coquo, -is, -ere, coxi, coctus cozinhar
cor, cordis 3n. coração
corōna, ae 1f. coroa
corpus, -oris 3n. corpo
cras (adv.) amanhã
credo, -is, -ere, credidi, creditus crer, acreditar, confiar
Christus, i 2m. Cristo
Chrysalus, i 2m. Chrysalo
culpa, ae 1f. culpa
culter, -tri 2m. faca
cum (prep) com, em companhia de, contra
cunctus, a, um todo, inteiro
cupio, -is, -ere, -iui, -itum desejar
cur (adv.) por que
curo, -as, -āre, -āui, -ātum cuidar, preparar
curro, -is, -ere, cucurri, cursum correr
custos, -ōdis 3m. e f. guarda, vigia

d e (prep.) sobre, a respeito de, conforme, durante, de


debeo, -es, -ēre, -ui, -itum dever
decet, decere, decuit convém
dedecet, dedecere, dedecuit não convém
defendo, -is, -ere, defendi, defensum defender, guardar, proteger
delecto, -as, -āre, -āui, -ātum agradar, aprazer, deleitar
deleo, -es, -ēre, -ēui, -ētum apagar, destruir
delirum, i 2n. delírio
Demosthenes, is 3m. Demóstenes
dens, dentis 3m. dente
derideo, -es, -ēre, derisi, derisum rir, escarnecer, zombar
detraho, -is, -ere, detraxi, detractum retirar, remover, puxar
deus, i 2m. deus
dexter, dextra, dextrum direito
dico, -is, -ere, dixi, dictum dizer, contar, falar, ditar, ensinar
difficilis, e difícil
difflo, -as, -are, -aui, difflatum dissipar, espalhar, dispersar assoprando
dignitas, atis 3f. dignidade

161
Língua Latina I

dignus, a, um digno, decente


diligens, -entis diligente, aplicado, disciplinado, esforçado
diligentia, ae 1f. diligência
disciplīna, ae 1f. disciplina
discipula, ae 1f. aluna, discípula
discipulus, i 2m. aluno, discípulo
disco, -is, -ere, didici aprender
dispositio, -onis 3f. disposição, arranjo
disturbo, -as, -āre, -āui, -ātum destruir, aniquilar
diues, itis rico
do, das, dare, dedi, datum dar, presentear
doceo, -es, -ere, docui, doctum instruir, ensinar
doctus, a, um instruído, douto, sábio
domina, ae 1f. senhora, patroa
dominus, i 2m. senhor, patrão
domus, i 2f. casa
donatus, a, um doado, presenteado
donec (conj.) enquanto, até que
dubito, -as, -āre, -āui, -ātum duvidar
dubius, a, um dúbio, duvidoso, incerto
duco, is, -ere, duxi, ductum guiar, conduzir
dulcis, e doce, agradável
dum (conj.) enquanto
duo, ae, o dois, duas
duro, -as, -āre, -āui, -ātum durar, resistir, endurecer
durus, a, um duro, pesado, difícil
dux, ducis 3m. general, comandante, chefe, guia, condutor

e , ex (prep.) acerca de, de, de dentro de, para fora de, acima de, da
parte de, desde
ecce eis aqui, eis que, eis
ecclesia, ae 1f. igreja
edo, -is, -ere, edi, esum comer
educo, -as, -are, -aui, -atum educar, treinar
effectus, us 4m. efeito, execução
egredior, -eris, egredi, egressus sum sair
elephantus, i 2m. elefante
eloquentia, ae 1f. eloquência
enarro, -as, -āre, -āui, -ātum explicar, comentar, dissertar
enim (conj.) pois
eo, is, ire, ii (ou: iui), itum ir

162
Vocabulário
epicoenus, -a, -um ou -on (adj.) epiceno (nome que sob a mesma for-
ma designa ambos os sexos)
epistola, ae 1f. carta, epístola
eques, equitis 3m. cavaleiro, soldado de cavalaria
equester, -tris, -tre equestre, relativo a exército de cavalaria
equites, equitum 3m. pl. cavalaria
equus, i 2m. cavalo
ergo (conj.) portanto, logo
eruptio, -onis 3f. erupção
et (conj.) e, também
et... et... (conj.) tanto... quanto...
etiam (conj.) além disso, ainda, também
Europa, ae 1f. Europa
ex (prep. abl.) de, a partir de
exclamo, -as, -are, -aui, -atum exclamar, gritar, chamar
exemplum, i 2n. exemplo
exerceo, -es, -ere, exercui, exercitum exercitar, praticar, cultivar
exercitus, us 4m. exército, infantaria, forças armadas
eximie (adv.) magnificamente
eximius, a, um exímio, primoroso, excelente
expecto, -as, -are, -aui, -atum esperar, ter expectativa
expertus, a, um experiente
expugno, -as, -are, -aui, -atum conquistar, tomar de assalto, expugnar
exspecto, -as, -āre, -āui, -ātum esperar
exstruo, -is, -ere, exstruxi, exstructum construir
exsulto, -as, -āre, -āui, -ātum exultar, estar alegre, regozijar-se

f abula, ae 1f. fábula, história, peça teatral


facilis, e fácil
facio, -is, -ere, feci, factum fazer, efetuar, dar
fama, ae 1f. fama
fame, famis 3f. fome
familia, ae 1f. família
faustus, a, um feliz, bom, propício
felix, felicis feliz
femina, ae 1f. mulher
femininus, a, um feminino
fera, ae 1f. fera, animal selvagem
fero, fers, ferre, tuli, latum levar, trazer
Fidentinus, i 2m. Fidentino
filia, ae 1f. filha

163
Língua Latina I

filius, i 2m. filho


fingo, -is, -ere, finxi, fictum formar, criar, compor
fio, fis, fieri, factus sum ser feito, tornar-se, fazer-se, vir a ser
fleo, -es, -ēre, -ui, -etum chorar
flos, floris 3m. flor
flumen, -inis 3n. rio
folium, i 2n. folha
formīca, ae 1f. formiga
formo, -as, -are, -aui, -atum formar, modelar
fortis, e corajoso, valente, forte
fortuna, ae 1f. sorte, fortuna, prosperidade
frater, -tris 3m. irmão, companheiro
frico, -as, -are, -cui, frictum (fricatum) esfregar, coçar
frigidus, a, um frio, fresco
fructus, us 4m. fruto
frumentum, i 2n. trigo
fugo, -as, -āre, -āui, -ātum afugentar, expulsar, rechaçar, afastar
fugio, -is, -ere, fugi, fugitum fugir
fulget, fulgere, fulsit relampeja, reluz
fur, furis 3m. e f. ladrão

g allia, ae 1f. Gália


Galliae, -arum 1f. pl. Gálias (compreendendo todas as divisões da Gália)
Gallus, i 2m. gaulês, natural da Gália
gaudeo, -es, -ere, gauisus sum alegrar-se, rejubilar, regozijar-se
gaudium, i 2n. alegria
gemma, ae 1f. gema (pedra ornamental)
genus, -eris, 3n. gênero
Germania, ae 1f. Germânia
Germanus, a, um germano, natural da Germânia
gladiātor, -ōris 3m. gladiador
gladius, i 2m. espada
Graecus, a, um grego
gratia, ae 1f. graça, beleza, favor
gratus, a, um grato, agradecido
grauis, e sério, grave, valioso

h abeo, -es, -ēre, -ui, -itum ter, possuir


habito, -as, -āre, -āui, -ātum habitar
herba, ae 1f. erva
hercle (interj.) por Hércules!

164
Vocabulário
heri (adv.) ontem
hic (adv.) aqui
hic, haec, hoc (pron. demonstr.) esse, essa, isso
Hispania, ae 1f. Espanha
hodie (adv.) hoje
homo, -inis 3m. homem, ser humano
honor, -oris 3m. respeito, honra
honoro, -as, -are, -aui, -atum honrar, respeitar
hora, ae 1f. hora
hortus, i 2m. jardim

i aceo, -es, -ere, iacui, iacitum jazer, estar deitado, estar prostrado
iacio, -is, -ere, ieci, iactum lançar, jogar, atirar
iactus, a, um lançado, jogado
iam (adv.) já
ianua, ae 1f. porta, entrada
ibi (adv.) aí
idem, eadem, idem (pron. demonstr.) ele, ela, isso mesmo; o mesmo,
um mesmo
Iesus, Iesu 4m. Jesus
igitur (conj.) por isso
ignārus, a, um ignorante
ignauus, a, um covarde, preguiçoso
ignis, ignis 3m. fogo
ignoro, -as, -are, -aui, ignoratum ignorar, desconhecer, não saber
ille, illa, illud (pron. demonstr.) ele, ela; aquele, aquela, aquilo
imitatio, -ōnis 3f. imitação
immitto, -is, -ere, immisi, immissum enviar
immortalis, -e imortal
imperātor, -ōris 3m. comandante, general, imperador
imperium, i 2n. império; ordem, mando, comando
impero, -as, -are, -aui, imperatum ordenar, imperar
impetro, -as, -are, -aui, impetratum obter, solicitar, requerer
impossibilis, e impossível
in (prep.) em, dentro, sob, sobre, durante; para, a, contra, segundo
inaudio, -is, -ire, inaudiui, inauditum ouvir dizer, saber de ouvido
inauditus, a, um não ouvido, novo
incipio, -is, -ere, incepi, inceptum começar, iniciar
incola, ae 1m. e f. habitante
India, ae 1f. Índia
indignatio, -onis 3f. indignação

165
Língua Latina I

industria, ae 1f. atividade zelosa


inexcusabilis, e inexcusável, indesculpável, imperdoável
infero, -fers, -ferre, intuli, illatum apresentar, oferecer
ingens, -entis enorme, grandioso, ingente
inhonestus, -a -um vergonhoso, desonesto, desonroso, degradante
initium, -i 2n. começo, início
innocens, -entis inocente
inspicio, -is, -ere, -pexi, -pectum examinar; olhar; inspecionar
inspīro, -as, -āre, -āui, -ātum inspirar
insula, ae 1f. ilha
insulto, -as, -are, -aui, insultatum insultar, ultrajar, afrontar
integer, -gra, -grum inteiro, ileso
intelligo, -is, -ere, intellexi, intellectum entender, discernir, conceber
inter (prep.) entre, por entre
interest, interesse, interfuit importa
intra (prep.) dentro de, durante
intro, -as, -āre, -āui, -ātum entrar
inuidia, ae 1f. inveja
ira, ae 1f. ira
irascor, -eris, irasci, iratus sum irritar-se, zangar-se, tornar-se irritado
iratus, a, um irado, irritado, zangado
irreparabilis, e irreparável
is, ea, id (pron.) ele, ela, o, a, este, esta, isto
iste, ista, istud (pron. demonstr.) esse, essa, isso
Italia, ae 1f. Itália
itaque (conj.) por isso
iter, intineris 3n. caminho
iterum (adv.) outra vez, de novo
iucundus, a, um agradável, prazeroso
iudex, -icis 3m. juiz
iudicium, i 2n. julgamento, juízo
iudico, -as, -āre, -āui, -ātum julgar, sentenciar, acusar
iustitia, ae 1f. justiça
iustus, a, um justo, correto
inuenio, -is, -ire, inueni, inuentum encontrar, achar
iuuenis, iuuenis 3m. e f. jovem
iuuenis, e jovem
iuuo, -as, -āre, iuui, iutum ajudar
iuxta (prep.) próximo, junto

166
Vocabulário

l abor, -ōris 3m. trabalho


laboriōsus, a, um trabalhador
labōro, -as, -āre, -āui, -ātum trabalhar
lacrimo, -as, -āre, -āui, -ātum chorar
laetitia, ae 1f. alegria
laetus, a, um alegre, contente
lancea, ae 1f. lança, haste
lapidatio, -ōnis 3f. apedrejamento
latro, -as, -are, -aui, -atum ladrar
latus, a, um amplo, largo, abrangente
laus, laudis 3f. louvor, mérito, glória
laudo, -as, -āre, -āui, -ātum louvar, elogiar
lauo, -as, -āre, -āui, -ātum lavar-se, tomar banho
Lazarus, i 2m. Lázaro
legātus, i 2m. legado, embaixador
legio, onis 3f. legião
lego, -is, -ere, legi, lectum ler
leo, -ōnis 3m. leão
lepus, oris 3m. lebre
lex, legis 3f. lei
libellus, i 2m. livrinho
libenter (adv.) de preferência, preferencialmente, de bom grado
libet, libere, libuit apraz, agrada
liber, -bri 2m. livro
liberi, -orum 2m. pl. crianças, filhos
libertas, -atis 3f. liberdade
licet, licere, licuit é licito
lilium, i 2n. lírio
linum, i 2n. linha
littera, ae 1f. letra
litterae, arum 1f. carta, letras
Liuia, ae 1f. Lívia
locus, i 2m. lugar, território, região
longinquus, a, um longínquo, distante
longus, a, um longo, comprido, extenso, grande, vasto
loquor, -eris, loqui, locutus sum falar
lucescit, lucescere, luxit amanhece
ludus, i 2m. jogo
lumen, -inis 3n. brilho, luz
luna, ae 1f. lua

167
Língua Latina I

lupa, ae 1f. loba


lupus, i 2m. lobo

m agis (adv. comparativo) mais


magister, -tri 2m. professor, mestre
magistra, ae 1f. professora, mestra
magistratus, us 4m. magistrado, magistratura
magnus, a, um grande, magno
male (adv.) mal
maledico, -is, -ere, -dixi, -dictum maldizer
malignus, a, um maligno, mau
malo, mauis, malle, malui preferir
malus, a, um mau, ruim
maneo, -es, -ēre, mansi, mansum permanecer, ficar
mano, -as, -āre, -āui, -ātum escorrer, deslizar
manus, us 4f. mão
Marcus, i 2m. Marco
mare, maris 3n. mar
Mars, Martis 3m. Marte, deus da guerra
marītus, i 2m. marido
Martialis, -is 3m. Marcial, poeta latino
masculinus, a, um masculino
matūrus, a, um maduro
memoria, ae 1f. memória
mendicus, i 2m. mendigo
mens, mentis 3f. mente, espírito, alma, razão, inteligência
mensa, ae 1f. mesa
mentior, -iris, -iri, mentitus sum mentir
merces, edis 3f. pagamento, recompensa, salário
miles, -itis 3m. soldado, militar
minister, -tri 2m. criado, servidor
minor, -aris, -ari, minatus sum ameaçar
minuo, -is, -ere, -i, -utum diminuir, reduzir
mirabilis, e admirável, maravilhoso, extraordinário
miseret (me), miserere, miseritus sum (de misereor) compadeço-me
mitto, -is, -ere, misi, missum enviar, mandar
Mnesilochus, i 2m. Mnesiloco
modeo, -es, -ere, momordi, morsum morder
modestus, a, um modesto
modo agora
modus, i 2m. modo, maneira

168
Vocabulário
molestus, a, um desagradável
momentum, i 2n. momento, período
moneo, -es, -ēre, -ui, -itum (ac.) advertir, aconselhar, lembrar
monstro, -as, -āre, -āui, -ātum mostrar
monumentum, i 2n. monumento, memorial
morior, -eris, mori, mortuus sum morrer
moriturus, a, um (part. fut. at.) que está para morrer
mors, mortis 3f. morte
mortalis, e mortal
mortuus, a, um morto
mos, moris 3m. hábito, costume
mox (adv.) em breve, logo
mulier, -ēris 3f. mulher, esposa
multitūdo, inis 3f. multidão
multus, a, um muito
mundo, -as, -āre, -āui, -ātum limpar
mundus, i 2m. mundo
munus, eris 3n. presente; serviço, dever, ofício, função
Musa, ae 1f. Musa (qualquer das nove filhas de Zeus e Mnemósine)
muto, -as, -aui, -atum, -are mudar, alterar

n am (conj.) pois
nato, -as, -āre, -āui, -ātum nadar
natūra, ae 1f. natureza
natus, a, um nascido
nauigium, i 2n. barco, navio
nauta, ae 1m. marinheiro
nec (adv.) nem, e não
necessarius, a, um necessário
neco, -as, -āre, -āui, -ātum matar
nefas (indecl.) crime, pecado, falta, violação da lei divina ou natural,
algo ilícito, ímpio
neglegens, -entis negligente, indisciplinado, descuidado
nego, -as, -are, -aui, negatum negar, dizer não
nemo, neminis (pron. indef.) 3m. e f. ninguém
neque... neque... (conj.) nem... nem...
nequeo, nequis, nequire, nequii (ou: nequiui), nequitum não poder
Nero, -onis 3m. Nero
nescio, -is, -ire, nesciui não saber, ser ignorante de
neuter, -tra, -trum neutro
Nicobulus, i 2m. Nicóbulo

169
Língua Latina I

nidus, i 2m. ninho


niger, -gra, -grum escuro, negro
nihil (pron. indef.) nada
nil nada
ningit, ningere, ninxit neva
nobis (ablativo do pronome pessoal nos) nós
nocturnus, a, um noturno, da noite
nolo, non uis, nolle, nolui não querer
nomen, -inis 3n. nome
nomino, -as, -āre, -āui, -ātum indicar o nome, nomear
nondum ainda não
nosco, -is, -ere, noui, notum conhecer, saber
noster, -tra, -trum nosso
nox, noctis 3f. noite
nubes, nubis 3f. nuvem
nudus, a, um nu
nullus, nulli 2m. ninguém, nenhum
numero, -as, -are, -aui, -atum contar, numerar, enumerar
nunc (adv.) agora
nunquam (adv.) nunca
nuptiae, arum 1f. núpcias, bodanutrio, -is, -ire, -iui, -itum alimentar, nutrir

o bligo, -as, -are, -aui, -atum ligar, atar, obrigar


obsecro, -as, -are, -aui, -atum pedir, suplicar
obseruo, -as, -are, -aui, -atum observar, olhar
obscūrus, a, um obscuro, escuro
obsigno, -as, -are, -aui, -atum assinar, selar
obsto, -as, -are, obstiti impedir, obstar, opor
obtempero, -as, -āre, -āui, -ātum obedecer
occupo, -as, -āre, -āui, -ātum ocupar
oculus, i 2m. olho
odi, odisti, odisse (defectivo) odiar, ter aversão a, estar descontente
odiōsus, a, um odioso, detestável
odium, i 2n. ódio, antipatia, desgosto
odor, oris 3m. perfume, odor, aroma
omnis, e todo, toda, tudo
opera, ae 1f. atenção, obra
operam dare prestar atenção
opinor, -aris, -ari, opinatus sum opinar, achar, supor, acreditar
oportet, oportere, oportuit é preciso
oppidum, i 2n. cidade

170
Vocabulário
opto, -as, -are, -aui, -atum desejar; escolher, selecionar
opus, eris 3n. trabalho, obra
oratio, -onis 3f. discurso, oração
orator, -ōris 3m. orador
ordo, inis 3m. ordem, classe
orno, -as, -āre, -āui, -ātum enfeitar, adornar
oro, -as, -are, -aui, -atum orar, rezar, rogar
os, oris 3n. boca
ostium, i 2n. porta, entrada
otium, i 2n. ócio, tempo livre

p aenitet (me), paenitere, paenituit arrependo-me


pallium, i 2n. pálio, manto
pario, -is, -ere, peperi, partus gerar, parir
paro, -as, -āre, -āui, -ātum preparar, fazer, proporcionar, causar
pars, partis 3f. parte, porção, partilha
paruulus, a, um pequenino
paruus, a, um pequeno
pascua, ae 1f. pastagem
passer, -eris, 3m. pardal
pastor, -oris 3m. pastor
pater, -tris 3m. pai
patria, ae 1f. pátria
patricii, orum 2m. patrícios, nobres, a nobreza romana
patricius, a, um patrício, nobre, da nobreza romana
pauper, a, um pobre, sem recursos
pax, pacis 3f. paz
peccator, -oris 3m. pecador
pecunia, ae 1f. dinheiro
pedes, pedidits 3m. soldado de infantaria
pedester, -tris, -tre pedestre, relativo a exército de infantaria
pedites, -um 3m. pl. infantaria
penna, ae 1f. pena
per (prep.) através de, durante, por causa de
pereo, -is, -ire, -iui/perii, -itum estar perdido, estar em apuros; desapa-
recer, morrer
perficio, -is, -ere, perfeci, perfectum completar, acabar, realizar
perfrango, -is, -ere, perfregi, perfractum quebrar
periculōsus, a, um perigoso
periculum, i 2n perigo
peritus, a, um experto, habilidoso, experiente, perito

171
Língua Latina I

persōna, ae 1f. pessoa


persuadeo, -es, -ere, persuasi, persuasum persuadir, convencer
pertineo, -es, -ēre, -ui, -entum (ad. + ac.) pertencer, dizer respeito
perturbo, -as, -āre, -āui, -ātum perturbar
pes, pedis 3m. pé
peto, -is, -re, petiui, petitum pedir, solicitar, buscar
Petrus, i 2m. Pedro
philosophia, ae 1f. filosofia
philosophus, i 2m. filósofo
piger, -gra, -grum preguiçoso
piget (me), pigere, piguit repugna-me
pigritia, ae 1f. preguiça, indolência, repouso
Pilatus, i 2m. Pilatos
pinus, i 2f. pinheiro
pirāta, ae 1m. pirata, corsário
pius, a, um pio, virtuoso, bondoso
placeo, -es, -ēre, -ui, -itum agradar
plaga, ae 1f. região
planus, a, um plano, fácil
Plautus, i 2m. Plauto
plebeius, a, um plebeu, do povo
plenus, a, um pleno, cheio, intenso
plerumque (adv.) quase sempre, geralmente
pluralis, e plural
plus (adv.) mais
poēta, ae 1m. poeta
polliceor, -eris, -eri, pollicitus sum prometer
Pompeii, Pompeiorum 2m. pl. Pompeia
Pontius, i 2m. Pôncio
populus, i 2m. povo
porticus, us 4f. pórtico
porto, -as, -āre, -āui, -ātum levar, trazer, carregar, portar
portus, us 4m. porto
possum, potes, posse, potui poder, ser capaz de
post (prep.) depois de, após, atrás de
postea (adv.) posteriormente, depois, em seguida
postquam (conj.) depois que
postulo, -as, -are, -aui, postulatum solicitar, pedir, requerer, demandar
potestas, atis 3f. poder
prae (prep.) diante de, por causa de
praeceptor, -ōris 3m. professor, preceptor

172
Vocabulário
praeceptum, i 2n. preceito, regra
praeda, ae 1f. espólio, despojos de guerra, presa
praedico, -is, -ere, -dixi, -dictum predizer
praeterea (adv.) além disso
prandeo, -es, -ere, prandi, pransum comer (no café da manhã ou no
almoço)
pretiōsus, a, um precioso
primus, a, um primeiro
pro (prep.) por, a favor de
probus, a, um probo, honesto
procella, ae 1f. tempestade, procela
procurator, oris 3m. procurador, dirigente, administrador
proelium, -i 2n. combate, batalha
proemium, -i 2n. prêmio
profundum, i 2n. profundeza, abismo
prohibeo, -es -ēre, -ui, -itum (ac.) proibir, impedir, deter
promiscuus, -a, -um (adj.) promíscuo, comum, usado em comum
prope (prep. + adv.) perto de, quase; por perto, perto, cerca
propensus, a, um propenso, preparado, disposto
propero, -as, -āre, -āui, -ātum apressar-se, correr
proprius, a, um próprio, característico, individual
propter (prep.) perto de, por causa de
prosum, prodes, prodesse, profui ser útil, vantajoso, servir
proximus, a, um (adj. superlativo de propis) vizinho, o mais perto, pró-
ximo, último
prudens, -entis prudente, previdente, cauteloso
publicus, a, um público
pudeo, -es, -ere, pudui, puditum ter vergonha
pudet (me), pudere, puduit envergonho-me
puella, ae 1f. menina, garota
puer, i 2m. garoto, rapaz
pugio, -ōnis 3m. punhal
pugno, -as, -āre, -āui, -ātum lutar, combater, travar batalha
pugnus, i 2m. punho
pulcher, pulchra, pulchrum belo, bonito
pulso, -as, -āre, -āui, -ātum (ac.) bater (em), tocar
punio, -is, -ire, -iui, punitum punir, castigar
pupa, ae 1f. boneca
puto, -as, -are, -aui, -atum considerar, pensar, achar, acreditar, julgar

q uam (adv. e conj.) que, do que, como, quão


quare (adv.) porque, pelo que, com que; a fim de que, para que, por

173
Língua Latina I

que? por que razão?


quattuor quatro
queo, quis, quire, quii (ou: quiui), quitum poder
qui (pron. interr.) qual, quais?
qui, quae, quod (pron. relat.) que, o qual, quem
quia (conj.) porque
quid (pron. interr.) o quê?
quid (+ gen. =) que tipo de
quietus, a, um que repousou, repousado, calmo, sossegado
quo (adv.) para onde
quod (conj.) porque, enquanto, que, o que
quominus (conj. integrante) que
quoque (adv.) também
quot (pron. interr.) quanto(s)?

r aro (adv.) raramente


ratio, onis 3f. conta, soma, plano, regra, razão, consideração, pensamento
ratio, -onis 3f. razão, juízo, bom senso
recito, -as, -āre, -āui, -ātum recitar, ler em voz alta
rectus, a, um correto, reto, direito, honesto
refert, referre, rettulit importa
regio, onis 3f. região, área
regno, -as, -āre, -āui-, atum (abl.) reinar, governar
relīquum, i 2n. resto, sobra, restante
Remus, i 2m. Remo
res, rei 5f. coisa, assunto, matéria
rex, regis 3m. rei
riuus, i 2m. riacho
rogo, -as, -āre, -āui, -ātum pedir, perguntar
Roma, ae 1f. Roma
Romānus, a, um romano
Romulus, i 2m. Rômulo
rosa, ae 1f. rosa
roseus, a, um vermelho, rosa
ruo, -is, -ere, rui, ritus ruir, desabar

s aepe (adv.) muitas vezes, frequentemente


sacerdos, -otis 3m. e f. sacerdote, sacerdotisa
saltus, us 4m. salto, etapa, estágio
salue salve, olá
salūto, -as, -āre, -āui, -ātum cumprimentar, saudar

174
Vocabulário
saluus, a, um salvo, seguro
sanctus, a, um santo
sanguis, sanguinis 3m. sangue
sapiens, entis sábio, racional, judicioso
sapientia, ae 1f. sabedoria; ciência
saxum, i 2n. rocha, seixo
scaena, ae 1f. cena, cenário
scamnum, i 2n. tamborete, banco
scelestus, a, um criminoso, mau-caráter
scelus, eris 3n. bandido, criminoso, malfeitor
schola, ae 1f. escola
scio, -is, -ire, sciui, scitum saber, conhecer
scribo, -is, -ere, scripsi, scriptum escrever
scripto, -oris 3m. escritor
seco, -as, -are, secui, sectum cortar
secum consigo
secūrus, a, um seguro, calmo
sed mas, porém
sedeo, -es, -ēre, sedi, sessum sentar, estar sentado
sedo, -as, -āre, -āui, -ātum acalmar, abrandar
sedulus, a, um aplicado
semper (adv.) sempre
senator, oris 3m. senador
senatorius, a, um senatorial, relativo a senador
senatus, us 4m. senado
senex, senis 3m. velho, ancião
sententia, ae 1f. oração, frase, pensamento, sentença
sentio, is, ire, sensi, sensum perceber, sentir, entender
sensus, us 4m. sentido, significado
septem sete
sermo, -ōnis 3m. conversação, língua, modo de expressão
serua, ae 1f. escrava, serva
seruus, i 2m. servo, escravo
seuerus, a, um severo, rigoroso, grave, sério
si (conj.) se
sic (adv.) assim, deste modo
Sicilia, ae 1f. Sicília
signum, i 2n. sinal, indício
silua, ae 1f. selva, floresta
simplex, simplicis simples, singelo, só
sine (prep.) sem
singularis, e singular, único

175
Língua Latina I

sodalis, -is 3m. companheiro, camarada, amigo


sol, solis 3m. sol
solus, a, um só, sozinho
soror, -ōris 3f. irmã
specto, -as, -are, -aui, -atum observar, olhar, ver, considerar
spina, ae 1f. espinho
spiritus, us 4m. sopro, espírito, alma, vida
stella, ae 1f. estrela
sto, -as, -āre, steti, statum estar de pé
strictus, a, um restrito, limitado, estreito
studeo, -es, -ere, studui esforçar-se, estudar, desejar
studiōsus, a, um esforçado, estudioso
stultitia, ae 1f. estultícia, tolice
stultus, a, um estúpido, insensato, imprudente
suauis, e suave, leve, agradável, doce
sub (prep.) sob, debaixo de
sum, es, esse, fui ser, estar, haver, existir
summa, ae 1f. soma, totalidade
super (prep.) sobre, por cima de (há contato imediato entre os objetos)
superior, superius (adj. comparativo de superus, a, um) mais alto, mais
elevado; anterior, passado
supplicium, i 2n. sofrimento, punição, tortura, suplício
supra (prep.) acima de, sobre (não há contato imediato entre os objetos)

t abellae, arum 1f. tabuinhas escritas


taceo, es, -ere, tacui, tacitum calar, silenciar
Tacitus, i 2m. Tácito, historiador romano
taedet (me), taedere, taesum est entedio-me
talis, tale tal, igual, semelhante
tantus, a, um tanto, tamanho
tecum ablativo do pronome pessoal tu + preposição cum
templum, i 2n. templo, lugar sagrado
tempus, -oris 3n. tempo
teneo, -es, -ēre, -ui, tentum segurar, ter em mãos, deter, possuir
terra, ae 1f. terra
terreo, -es, -ēre, -ui, -itum aterrorizar
tertius, a, um terceiro
testa, ae 1f. vaso, ânfora
theatrum, i 2n. teatro
Tiberius, i 2m. Tibério
timeo, -es, -ēre, -ui (ac.) recear, ter medo de

176
Vocabulário
timidus, a, um tímido, covarde, medroso
tonat, tonare, tonuit troveja
totus, a, um todo, inteiro
tragoedia, -ae 1f. tragédia
trans (prep.) para além de, para lá de, mais de
tremo, -is, -ere, tremui tremer
tres, tria três
tum (adv.) então

u alde (adv.) muito, bastante


ualeo, -es, -ēre, -ui, -itum passar bem, ter saúde
uane (adv.) em vão
uasto, -as, -āre, -āui, -ātum devastar, destruir
ubi (adv.) onde
uehemens, uehementis vigoroso, enfático, veemente
uelut (adv.) como se
uenēnum, i 2n. veneno
uenio, is, -ire, ueni, uentum vir
uenter, uentris 3m. ventre, estômago
uentus, i 2m. vento
uerbero, -as, -are, -aui, -atum açoitar, espancar, maltratar
uerbum, i 2n. palavra
ueritas, atis 3f. verdade
uerto, -is, -ere, uerti, uersum mudar, voltar, verter, reverter, tornar
uerus, a, um verdadeiro, real
uesperascit, uesperascere, uesperauit anoitece
uestis, uestis 3f. vestimenta, roupa
Vesuuius, i 2m. Vesúvio
uetus, ueteris velho, antigo, idoso
uia, ae 1f. via, caminho, estrada
uicīnus, a, um vizinho, próximo
uictima, ae 1f. vítima
uictoria, ae 1f. vitória
uideo, -es, -ēre, uidi, uisum ver
uigilo, -as, -āre, -āui, -ātum vigiar, permanecer acordado
uilla, ae 1f. casa de campo
uincio, -is, -ire, uinxi, uinctum amarrar, atar, prender
uinco, -is, -ere, uici, uictum vencer, ser vitorioso, ganhar, conquistar
uinea, ae 1f. vinha, vinhedo, videira, parreiral
uinum, i 2n. vinho
uiola, ae 1f. violeta

177
Língua Latina I

uiolentus, a, um impetuoso, violento


uir, i 2m. varão, homem
uirtus, utis 3f. valor, virtude, valentia
uita, ae 1f. vida
uitium, i 2n. vício, defeito, crime, falta
uito, -as, -āre, -āui, -ātum evitar
uiuo, -is, -ere, uixi, uictum viver
uiuus, a, um vivo
umbra, ae 1f. sombra
unda, ae 1f. onda
unguentum, i 2n. perfume, óleo perfumado
ungueo, -es, -ēre ungir
uolo, -as, -āre, -āui, -ātum voar
uolo, uis, uelle, uolui querer
uoluptas, -atis 3f. prazer, satisfação, gosto
urbs, urbis 3f. cidade
usque ad (prep. ac.) até
usus, us 4m. uso, emprego, hábito, utilidade, proveito
uter, utra, utrum (pron. interrog. + pron. indef. + adj.) quem, qual (den-
tre dois)
utilis, e útil
utinam (interj.) oxalá
uua, ae 1f. uva
uulpes, uulpis 3f. raposa
uxor, -ōris 3f. esposa

Z eno, -onis 3m. Zenãos

178
Índice Geral

Índice Geral da Gramática


Os números em negrito referem-se aos itens gramaticais en-
contrados ao longo do manual Língua Latina.

Ablativo, 19
ablativo absoluto, 65
Acusativo, 17
acusativo com infinitivo - AcI (presente, passado, futuro), 55
Adjetivos,
de 1ª classe, 26
de 2ª classe, 41
graus dos adjetivos, 45
Advérbios, 46
Alfabeto latino, 3
Análise de orações, 22
Caso,
ablativo, 19
acusativo, 17
caso e função sintática, 7
dativo, 18
genitivo, 8, 21
nominativo, 13
vocativo, 23
Conjunções, 66
Dativo, 18
Declinações,
1ª declinação: tema em a; genitivo -ae, 12
2ª declinação: tema em o; genitivo –i, 25
3ª declinação: temas consonantal e vocálico em –i; genitivo –is,
30
temas consonantais, 31
temas vocálicos em –i, 32
observação relativa à morfologia, 33
4ª declinação: tema em u; genitivo -us, 36
5ª declinação: tema em e; genitivo em -ei, 39
quadro sinótico, 78
Duração das sílabas, 4
Gênero, 10
Genitivo, 8, 21

179
Língua Latina I

terminação do genitivo singular, 8


Língua latina, noções gerais, 1
Literatura latina, noções gerais, 2
Nominativo, 13
Número, 11
Partículas interrogativas, 51
Preposições, 20
Pronomes
demonstrativos, 37
indefinidos, 49
interrogativos, 64
pessoais, 34
possessivos, 28
relativos, 63
Pronúncia do latim, 6
Radical, 9
Tema, 9
consonantal, 31
vocálico em i, 31
Tonicidade, 5
Verbo, 15
1ª conjugação, em a, 68
2ª conjugação, em e, 69
3ª conjugação, consonantal, 70
4ª conjugação, em i, 71
conjugações, 68-77
defectivos, 52
depoentes, 73-76
1ª conjugação, em a, 73
2ª conjugação, em e, 74
3ª conjugação, consonantal, 75
4ª conjugação, em i, 76
derivados dos tempos primitivos, 67
esse, 14, 38, 68-77
compostos, 38
conjugação, 68-77
presente do indicativo, 14
ferre, 77
formação dos tempos do subjuntivo, 53
futuro do indicativo passivo, 44

180
Índice Geral
futuro do presente do indicativo ativo (1ª e 2ª Conjugações), 27
futuro do pretérito do indicativo ativo, 43
gerúndio, 60
imperativo presente (1ª e 2ª Conjugações), 29
imperfeito do indicativo ativo (1ª e 2ª Conjugações), 24
imperfeito do indicativo passivo, 44
impessoais, 51
infinitivos presente, passado, futuro, 54
ire, 77
irregulares, 51, 77
mais-que-perfeito do indicativo ativo, 43
noções gerais (pessoa, número, tempo, modo, voz), 15
particípio futuro ativo, 58
particípio futuro passivo: gerundivo, 59
particípio - noções gerais, 56
particípio passado, 47
particípio presente, 57
perfeito do indicativo ativo (1ª e 2ª conjugações), 35
perfeito do indicativo ativo (3ª e 4ª conjugações), 42

perfeito do indicativo passivo, 48


posse, 77
presente do indicativo ativo (1ª e 2ª Conjugações), 16
presente do indicativo passivo, 44
semidepoentes, 62
supino, 61
tempos do subjuntivo, 52
uelle, nolle, malle, 77
voz passiva, 44, 48
Vocativo, 23

Vogal temática, 9

181
Declinações

Declinações
78 Quadro sinótico
1ª Declinação 2ª Declinação 3ª Declinação
Singular Plural Singular Plural Singular Plural
Nom. -a -ae -us, -er, -ir / -um -i / -a (variável) -es /-a, -ia
Gen. -ae -arum -i -orum -is -um, -ium
Acus. -am -as -um -os / -a -em, -im (variável) -es,-is /-a, -ia
Dat. -ae -is -o -is -i -ibus
Abl. -a -is -o -is -e, -i -ibus
Voc. -a -ae -e, -er, -ir / -um -i / -a (variável) -es, -is / -a, -ia

4ª Declinação 5ª Declinação
Singular Plural Singular Plural
Nom. -us / -u -us / -ua -es -es
Gen. -us -uum -ei -erum
Acus. -um / -u -us / -ua -em -es
Dat. -ui, -u -ibus -ei -ebus
Abl. -u -ibus -e -ebus
Voc. -us / -u -us / -ua -es -es

183
Processos fonológicos/metaplasmos em produções textuais de alunos da Educação Básica

Rafaella Salvini (UNIOESTE)1


(rafaella_salvini@hotmail.com)
Sanimar Busse (UNIOESTE)2
(sani_mar@yahoo.com.br)

Resumo: Neste trabalho apresentamos um estudo sobre as variações ortográficas por meio da
análise dos processos fonológicos/metaplasmos em produções escritas de alunos da Educação
Básica, dos Anos Finais do Ensino Fundamental, de uma escola pública situada no Oeste
paranaense. A etapa foi selecionada pois se entende que nesta fase os estudantes deveriam
apresentar conhecimento sistemático sobre a relação fala e escrita e o sistema gráfico, porém o
que se observa é uma oscilação entre a representação da fala e na escrita e da hipóteses sobre o
funcionamento das relações arbitrárias. Destacamos, ainda, que um trabalho com a pluralidade
linguística nas aulas de Língua Portuguesa, conforme destacam Bortoni-Ricardo (2006) e
Bagno (2007), auxilia o aluno a refletir sobre a fala, do ponto de vista da identidade linguística,
e da compreensão do papel da variedade padrão. Para a análise, toma-se como norte as
descrições dos processos fonológicos/metaplasmos, para, posteriormente, refletir sobre as
hipóteses construídas pelos estudantes, tendo em vista que elas são reflexos dos processos
fonológicos, os quais são explicados por meio do desenvolvimento da fala. Assim, ao produzir
um texto escrito, o aluno está sujeito a apresentar na escrita essas representações que, nem
sempre, correspondem às regras ortográficas. Como aporte teórico, este trabalho pauta-se na
Sociolinguística Educacional, mais precisamente em Botelho e Leite (2005), em que são
apresentadas diferentes classificações para cada inadequação ortográfica. Como resultados,
percebe-se que algumas das ocorrências relacionam-se à oralidade enquanto outras se associam
à falta de conhecimento ou compreensão da relação entre fonema e grafema.

Palavras-chave: Fala; Variação Linguística; Processos Fonológicos.

Resumen: En este trabajo presentamos un estudio sobre las variaciones ortográficas a través
del análisis de procesos fonológicos / metaplasmas en producciones escritas de estudiantes de
Educación Básica, de los Últimos Años de Educación Primaria, de una escuela pública ubicada
en el Oeste de Paraná. La etapa fue seleccionada porque se entiende que en esta etapa los
estudiantes deben presentar un conocimiento sistemático sobre la relación entre el habla y la
escritura y el sistema gráfico, sin embargo lo que se observa es una oscilación entre la
representación del habla y la escritura y las hipótesis sobre el funcionamiento de relaciones
arbitrarias. Destacamos también que un trabajo con pluralidad lingüística en las clases de lengua
portuguesa, como destacan Bortoni-Ricardo (2006) y Bagno (2007), ayuda al alumno a
reflexionar sobre el habla, desde el punto de vista de la identidad lingüística, y comprensión del
papel de la variedad estándar. Para el análisis, se toman como guía las descripciones de los
procesos fonológicos / metaplasmas, para luego reflexionar sobre las hipótesis construidas por
los estudiantes, considerando que son reflejos de procesos fonológicos, los cuales se explican a
través del desarrollo del habla. Así, al producir un texto escrito, el alumno está sujeto a
presentar por escrito estas representaciones que, no siempre, corresponden a las reglas
ortográficas. Como aporte teórico, este trabajo se basa en la Sociolingüística Educativa, más
precisamente en Botelho y Leite (2005), en la que se presentan diferentes clasificaciones para

1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras PPGL da Universidade Estadual do Oeste Paraná
(Unioeste), campus Cascavel. Professora da rede privada e estadual de ensino do Paraná.
2
Doutora em Estudos da Linguagem, Docente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Unioeste, Mestrado
e Doutorado.
cada insuficiencia ortográfica. Como resultado, está claro que algunas de las ocurrencias están
relacionadas con la oralidad, mientras que otras están asociadas con la falta de conocimiento o
comprensión de la relación entre fonema y grafema.

Palabras llave: Habla; Variación lingüística; Procesos fonológicos.

Palavras Iniciais

Este estudo tem como objetivo verificar a natureza dos erros ortográficos apresentadas
em produções textuais de alunos do Ensino Fundamental. Para tanto, pautamo-nos na
Sociolinguística Educacional, mencionada por Bortoni-Ricardo (2004, 2005) e nas
classificações feitas por Botelho e Leite (2005). A análise parte da produção escrita de alunos
do 7º e 8º Anos do Ensino Fundamental de uma instituição pública de ensino da Região Oeste
do Paraná. Buscamos partir de produções dessas turmas, pois entendemos que nesta fase os
estudantes estão no processo de desenvolvimento de uma escrita independente, ou seja,
reproduzem de forma autônoma suas produções.
Em sala de aula, são perceptíveis os problemas relacionados ao domínio da escrita,
principalmente no nível ortográfico, os quais têm colocado muitos docentes diante de
obstáculos acerca da compreensão dos motivos que levam os estudantes chegarem ao Ensino
Fundamental II e Médio com dúvidas e hipóteses de escrita que estão relacionadas ao processo
de alfabetização. Por meio de estudos relacionados à oralidade, pode-se perceber que os
estudantes possuem uma justificativa para os erros ortográficas que cometem, os quais se
baseiam em hipóteses decorrentes da fala, pois o educando tende a representar na escrita aquilo
que reproduz na oralidade.
Entendemos necessária uma estratégia de ensino que oriente e compreenda as hipóteses
pelas quais os alunos constroem o seu conhecimento. Para que isso ocorra, é preciso que se
identifiquem os reflexos da oralidade no domínio ortográfico da escrita.
Desse modo, o desenvolvimento do artigo encontra-se organizado em seções: na
primeira, explanaremos sobre fala e escrita; na segunda, analisamos os dados nas produções
textuais dos estudantes; e, por fim, apresentamos os resultados e considerações os quais são
alcançados por meio da pesquisa.

O conhecimento sistemático entre a fala e a escrita


Ao chegarem à escola os alunos se deparam-se com o ensino de uma língua diferente
da que é usada de forma rotineira, principalmente no que se refere à escrita. Bagno (2007)
ressalta que:

O reconhecimento da existência de muitas normas linguísticas é fundamental


para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado
de que a norma linguística ensinada na sala de aula é, em muitas situações,
uma verdadeira “língua estrangeira” para o aluno que chega à escola
proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no
cotidiano é uma variedade de português não-padrão. (BAGNO, 2007, p. 18).

Entendemos que é justificável o porquê de muitos alunos, principalmente de escolas


públicas ou periféricas, apresentarem inúmeras dificuldades e hipóteses referentes à produção
escrita, pois muitos escrevem da maneira com que falam, já que essa é, na maioria das vezes, a
única forma linguística para eles apresentada e conhecida.
Além das dúvidas relacionadas à grafia das palavras, os alunos lidam ainda com a
questão de uma palavra é pronunciada de uma maneira, por que deve ser escrita de outra? Tais
incertezas sempre surgiram em algum momento de produção escrita, portanto, inicialmente, a
oralidade parece distanciar-se da representação gráfica.
Faz-se necessário considerar que a fala e a escrita apresentam características diferentes,
até porque se aprende primeiro a falar muito antes de escrever, sendo a modalidade falada
praticada primeiramente em ambiente familiar, partindo de situações informais. Já a escrita é
adquirida na escola, ou seja, em um ambiente formal. Sobre isso, Cagliari (2002) afirma que a
complexidade da linguagem oral e escrita domina as atividades escolares de tal modo que se
torna impossível lidar apenas com “palavras já dominadas na escrita”, mesmo porque os alunos
são falantes nativos, cuja habilidade linguística é muito maior do que o material linguístico
usado pela escola.
Já Marcuschi (2007) afirma que a fala e a escrita

[...] são representações históricas mais ou menos independentes, e a escrita


não é uma representação da fala. O próprio desenvolvimento da escrita de cada
língua segue uma linha de mudanças e adaptações que se distancia da
pronúncia (MARCUSCHI, 2007, p. 58).

Ou seja, língua oral tem o poder de expressar quase todos os tipos de sentimentos, desde
a raiva até o amor. Isso não se percebe na língua escrita. O que se pode ver nela é o uso da
pontuação e também se deve considerar a boa interpretação do leitor. Outra situação que precisa
ser posta em questão é que na língua falada ocorrem as variações e quando isso acontece na
língua escrita, julga-se como um ato falho. O professor, nesse caso, pede para o aluno adequar
seu texto à modalidade padrão da escrita.
Por outro lado, o uso da escrita desenvolveu a comunicação entre os homens permitindo-
lhes remontar as barreiras do tempo na recepção de mensagens, além de ajudar muito no
desenvolvimento intelectual do ser humano. Ademais, seu domínio passou a figurar,
socialmente, como prestígio social e instrumento de ascensão profissional. Para Cagliari (2000),
a escrita é uma forma de neutralizar a variedade linguística da fala, ou seja, é a maneira de
apagar a identidade linguística de quem dela faz uso.
Na escola, a relação entre fala e escrita passa pela oposição entre padrão/ não-padrão,
formas conservadoras/ formas inovadoras, formas estigmatizadas/ formas de prestígio (BUSSE,
2013). Entretanto, a fala e a escrita não devem ser pensadas separadamente, como uma sendo
mais monitorada que a outra ou que na primeira ocorre variação e na segunda não. Sabemos
que a escrita, na maioria das vezes, apresenta planejamento cuidadoso, fluxo não fragmentado,
ausência de expressões fáticas, norma culta etc. Entretanto, não se pode universalizar tais
conceitos, pois um texto escrito pode produzir marcas na oralidade, como em uma entrevista.
Para classificar um texto pertencente à modalidade escrita ou falada, é preciso além de observar
as características relacionadas anteriormente, inferir em qual contexto sociocomunicativo o
locutor está inserido e qual é seu objetivo.
Ao levar em consideração esse trabalho com a língua em sala de aula, portanto, é preciso
considerar os contextos de produção e de uso. É de acordo com eles que as modalidades escrita
e falada se moldam. Assim, ambas podem ser mais ou menos monitoradas, formais ou
informais.
Dessa forma, é válido ressaltar que existem muito mais falantes que escritores, visto que
a fala é adquirida naturalmente em contexto familiar, enquanto que a escrita é apresentada no
âmbito escolar. Ainda assim, vale frisar que todos são falantes, mas que infelizmente nem todos
os falantes têm acesso à cultura letrada. Então, é compreensível que ao ter acesso à escola, a
criança deva aprender a língua escrita, a qual envolve ortografia e regras gramaticais, quesitos
esses que assombram os estudantes, já que não fazem parte de sua realidade diária.
Sendo assim, é preciso refletir sobre os aspectos que englobam a relação entre a fala e a
escrita. Além disso, é necessário buscar compreender porque alguns estudantes optam por
determinadas formas de grafar algumas palavras. Ao realizar essas escolhas, as quais inúmeras
vezes fogem da maneira normativa, o estudante está realizando possíveis tentativas de escrever
aquilo que está mais próximo à fala, pois essa é, na maioria das vezes, sua única referência.
Ainda é válido ressaltar que, ao representar a escrita de forma associada à fala, o estudante
carrega traços identitários tanto dele quanto da comunidade em que está inserido.
Portanto, quando um determinado som se apresenta “difícil” para uma criança, esta
buscará por uma sonoridade semelhante àquela que se aproxime do que ela está querendo dizer,
o que torna este processo mais complexo.

A escrita e seus percursos na aquisição dos conhecimentos ortográficos

Entendemos que que a aquisição da escrita é realizada processualmente, por meio, de


reflexões, revisões e sistematizações. Para Bortoni-Ricardo (2006), o estatuto do erro na língua
oral e na língua escrita são bem distintos, embora a escola nem sempre estabeleça essa distinção
entre ambos. A pesquisadora assevera que a Sociolinguística rechaça a ideia de erros no
repertório do falante nativo de uma língua, pois entende que todo falante nativo é competente
em sua língua materna. “O que a sociedade tacha de erro na fala das pessoas a Sociolinguística
considera tão somente uma questão de inadequação da forma utilizada às expectativas do
ouvinte.” (BORTONI-RICARDO, 2006, p. 272). Assim, o erro na língua oral é um fato social,
não podendo ser classificado como transgressão de um sistema de regras da estrutura da língua.
Paradoxalmente, “na língua escrita o chamado erro tem outra natureza porque representa
a transgressão de um código convencionado e prescrito pela ortografia.” (BORTONI-
RICARDO, 2006, p. 273). A autora afirma que, diferente da língua oral, o sistema ortográfico
é um código que não prevê variação, sendo a uniformidade responsável por garantir a
funcionalidade do sistema, bem como propiciar o entendimento entre falantes com os mais
variados antecedentes regionais.
Conforme a autora, a Sociolinguística não admite referir-se a erros quando se trata da
fala, mas tal classificação pode ser utilizada sem nenhum empecilho quando diz respeito a
transgressões ortográficas. Portanto, o professor não deve hesitar em corrigir os erros
ortográficos cometidos pelos alunos. É seu papel, sem dúvida, intervir na língua escrita, com a
finalidade de levar o educando a internalizar, gradativamente, a convenção ortográfica. No
entanto, é preciso realizar essa correção de maneira sensível, com a finalidade de levar o
estudante à reflexão, principalmente, de sua identidade linguística.
A fim de apontar hipóteses sobre os motivos que levam os alunos a apresentarem
problemas de escrita que surgem em textos escolares, destaca-se, neste trabalho, os processos
fonológicos ou metaplasmos.
De acordo com Bagno (2007),
Um metaplasmo é uma mudança na estrutura de uma palavra, ocasionada por
acréscimo, remoção ou deslocamento dos sons de que ela é composta. Na
mudança do latim em português é possível detectar alguns metaplasmos que
agiram com regularidade nessa transformação. (BAGNO, 2007, p. 08).

Os metaplasmos podem ser de quatro formas: 1) por acréscimo; 2) por supressão; 3) por
transposição e 4) por transformação. A seguir, há a apresentação de uma tabela adaptada de
Botelho e Leite (2005).

Quadro 1- Metaplasmos
1- METAPLASMOS POR ACRÉSCIMO: caracterizam-se pela adição de um fonema no
vocábulo. São classificados de acordo com a posição que o novo fonema ocupa na palavra.
CLASSIFICAÇÃO CONCEITO EXEMPLO
A)EPÊNTESE Acréscimo de um fonema asterisco- asterístico
no meio da palavra. lista- listra
B)ANAPTIXE OU Acréscimo de uma vogal ignorante- iguinorante
SUARABÁCTI para desfazer um grupo pneu-peneu ou pineu
consonantal. advogado- adevogado ou
adivogado
C)PARAGOGE OU Acréscimo de um fonema mártir- mártire
EPÍTESE no final da palavra. variz- varize
D) PRÓTESE Inserção de um fonema renegar- arrenegar
no início da palavra. lagoa- alagoa
2- METAPLASMOS POR SUPRESSÃO: ocorrem quando o falante suprime um fonema do
vocábulo. São classificados de acordo com a posição que o novo fonema ocupa na palavra.
CLASSIFICAÇÃO CONCEITO EXEMPLO
A)AFÉRESE Supressão de um fonema ainda- inda
ou uma sílaba no início até- té
de um vocábulo. está- tá
B) APÓCOPE Supressão de um fonema bobagem- bobage
no final do vocábulo. quer- qué
C) SÍNCOPE Supressão de fonemas no horóscopo- horospo
meio do vocábulo. bêbado- bebo
D)HAPLOLOGIA Supressão da primeira, entretenimento- entretimento
de duas sílabas paralelepípedo- paralepípedo
sucessivas, no meio da
palavra.
3- METAPLASMOS POR TRANSPOSIÇÃO: ocorre a deslocação de um fonema, podendo
ser por deslocamento ou tonicidade da palavra.
CLASSIFICAÇÃO CONCEITO EXEMPLO
A)METÁTESE Transposição de um perto- preto
fonema em uma mesma perguntar- preguntar
sílaba de um vocábulo. prateleira- parteleira
B)HIPÉRTESE Transposição de um nervoso-nevroso
fonema de uma sílaba bicarbonato- bicarbonato
para outra em um
vocábulo.
4- METAPLASMOS POR TRANSFORMAÇÃO: consistem na transformação de um
fonema que passa a assumir a posição de outro fonema distinto.
CLASSIFICAÇÃO CONCEITO EXEMPLO
A)DEGENERAÇÃO Transformação do assobiar- assoviar
fonema /b/ em fonema /v. travesseiro- trabesseiro
B)DESNASALAÇÃO Transformação de um virgem- virge
fonema nasal a um home- homem
fonema oral. fizeram-fizero
C)DISSIMILAÇÃO Transformação de um pílula- pírula
fonema para itinerário- etinerário
diferenciação de um privilégio- previlégio
outro semelhante estrambótico- estrambólico
existente no mesmo
vocábulo.
D)ROTACISMO Transformação do alface-arface
fonema /l/ em /r. almoço- armoço
E)LAMBDACISMO Transformação do freira-flera
fonema /r/ em /l. problema- plobema
F)DITONGAÇÃO Transformação de uma bandeja-bandeija
vogal ou um hiato em caranguejo- carangueijo
ditongo.
G) MONOTONGAÇÃO Transformação ou doutor- dotor
redução de um ditongo jogou- jogô
em uma vogal. rouba- roba
H)METAFONIA Alteração do timbre ou direito-dereito
altura de uma vogal. diferente- deferente
I)NASALIZAÇÃO Transformação de um até- inté
fonema oral a um nasal. igual- ingual
J)PALATIZAÇÃO Transformação de um ou Antônio- Antonho
mais fonemas em uma avião- avinhão
palatal. família- familha
L) DESPALATIZAÇÃO Transformação de cabeçalho- cabeçalio ou cabeçario
fonemas palatais em um
nasal ou oral.
Fonte: adaptado de Botelho e Leite (2005, p. 3).

A seguir, apresentamos um gráfico com os metaplasmos que mais localizamos nas


produções textuais. Entretanto, também nos defrontamos com um número significativo de
outros fenômenos, como os casos de arbitrariedade e hipossegmentação, os quais acreditamos
que merecem destaque. A primeira situação trata-se de erros resultantes do conhecimento
insuficiente das convenções que regem a língua escrita. Já a segunda está vinculada à
organização da língua escrita, pois ocorre quando há a união de dois vocábulos (Bortoni-
Ricardo, 2006).
Gráfico 1- Fenômenos mais encontrados

25
20
15
10
5
0

Fonte: as autoras.

Para a realização da análise qualitativa-interpretativista e a classificação dos


problemas de escrita encontrados, foram escolhidas produções escritas de alunos de 7º e 8º
Anos de uma Instituição Pública de Ensino, situada na Região Oeste do Paraná. É válido
ressaltar que os textos pertencem a gêneros discursivos diferentes, visto que foram recolhidos
em diferentes períodos do ano letivo. Sendo assim, primeiro há a transcrição de fragmentos dos
textos, da maneira que os alunos apresentaram. Em seguida, ocorre a descrição e a análise dos
problemas ortográficos, pautados em Botelho e Leite (2005) em que o autor apresenta uma série
de explicações do porquê os alunos escreverem determinadas palavras de uma forma diferente
da que consta nos “manuais”.

Quadro 2- Produção textual 1


1 Fasa aquilo que você quer faser não aquilo que
2 eles te mandão faser mais viva cada di como
3 fose o urtimo porque pode ser mesmo não é.
4 E pare de lutar e comese a viver de verdade
5 poque nós nasemos sabendo que nos vamos
6 morer porque a vida e curta.
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 7º Ano.

Nos registros de “fasa” (faça), (2) “faser” (fazer), “fose” (fosse), “comese” (comece),
“nasemos” (nascemos), o aluno se baseia na fala mesmo havendo regras ortográficas.
Na grafia de “mandão” (mandam), há a representação da nasalização em sílaba final.
A troca está relacionada à conjugação verbal e à semelhança dos sons, entretanto a forma
grafada pelo aluno não existe nas gramáticas.
Em “di” (dia) ocorre apócope, pois foi suprimido o fonema /a/ no final da palavra.
Nesse caso, muito provavelmente, houve falta de atenção do aluno, pois o registro não se
ampara na fala ou na ortografia.
No registro de “urtimo” (último) ocorre rotacismo, pois há a troca da líquida /l/ pela
líquida /r/. Aqui, também ocorre uma variação representando a identidade linguística do
estudante, a qual é tratada de forma desprestigiada, apresentando o contexto socioeconômico
do aluno. Trata-se de uma relação entre os sons e os grafemas por interferência das
características estruturais do dialeto do aprendiz.
Em “poque” (porque), embora se observe a síncope da letra r, houve novamente falta
de atenção do aluno, pois o registro não se ampara na fala ou na ortografia.
Na grafia de “morer” (morrer) há a representação da vibrante fricativa velar. Destaca-
se que o corpus foi gerado em localidade que apresenta a presença de colonos sulistas no seu
processo de colonização. A realização da fricativa velar, na fala dos grupos descendentes de
alemães, pode ser substituída pela vibrante alveolar.

Quadro 3- Produção de texto 2


1 Eu tidei o ouro do sol a prata
2 da Lua tedei as estrelas pra desenhar (...)
6 alguém assim que se encaixa-se (...)
10 um poco de nois dois que não (...)
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 7º Ano.

Além dos metaplasmos, as produções escritas apresentam também registros de


segmentação não convencional, como em “tidei, ocorre a hipossegmentação, junção
intervocabular entre “ti” e “dei”. Ao ocorrer a troca de /e/ por /i/, há a presença do dialeto o
estudante. Esta categoria se refere aos casos em que partição da fala não corresponde à partição
da escrita. A fala segmenta seus componentes em torno de unidades de acento, enquanto a
escrita segmenta seus componentes em torno de unidades de sentido. Também, no texto, há a
representação de “tedei”, outro caso de hipossegmentação, pois, como no acaso anterior, ocorre
a junção intervocabular entre “te” e “dei”.
Em “encaixa-se” (encaixasse) também observamos o registro da segmentação não
convencional por meio da hipersegmentação, o que resultou em erro de grafia na representação
da fricativa, alveolar surda, como sonora.
No registro de “nois” (nós) ocorre a ditongação. Também podemos perceber o
fenômeno da variação, transpondo a identidade linguística do aluno.

Quadro 4- Produção textual 3


7 (...) ela tava ali te dando amor
8 mesmo com a consiencia
9 pessada com poblemas,
10 ela tava ali e depois que você
11 crese você não se importa (...)
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 7º Ano.

Na grafia de (2) “tava” ocorre aférese, pois percebemos que foi suprimida a parte inicial
da palavra, correspondente à sílaba “es”. Tal uso é muito comum entre os falantes brasileiros,
representando um dialeto.
Já no registro de “consiencia” (consciência), “pessada” (pesada), “crese” (cresce),
novamente, o aluno não consegue refletir sobre a posição do fonema /s/ na palavra.
Em “poblemas” (problemas) percebemos a supressão do fonema /r/ no meio do
vocábulo, ocorrendo a síncope. Trata-se de fenômeno presente na fala, também, decorrente da
dissimilação, eliminação de sons com características semelhantes.

Quadro 5- Produção textual 4


3 (...) se não eu não consigo me consentrar ,
4 se alguém me chamar eu me desconsentro (...)
8 Agora estou aqui denovo meio apindurado,
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 7º Ano.

Ao registrar “consentrar” (concentrar), “desconsentro” (desconcentro), sendo o segundo


vocábulo derivado do primeiro, percebe-se que o estudante ainda não assimilou algumas regras
em relação ao fonema /c/.
Em “denovo”, percebemos novamente o registro da segmentação não convencional por
meio da hipossegmentação, pois há a junção intervocabular de “de novo” (preposição +
adjetivo).
Já em “apindurado” (pendurado) ocorre prótese, pois há a inserção de /a/ no início da
palavra. Também há a troca de /e/ por /i/, representando o dialeto do estudante.
Quadro 6- Produção textual 5
11 (...) vou me esquecer deles porque eu não tenho oque (...)
16 por estar sem a ropa do uniforme, mas você
17 estava totalmente certo, porque se tem a ropa certa tem (...)
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 7º Ano.

No exemplo “oque”, verificamos, novamente, um caso de registro da segmentação não


convencional por meio da hipossegmentação, pois houve a junção intervocabular de “o que”.
Já em (2) “ropa” (roupa), há monotongação, pois ocorreu a redução do ditongo /ow/
para /o/, observamos, desta maneira, o reflexo da fala na grafia da palavra.

Quadro 7- Produção textual 6


3 (...) Venho por meio desa carta informar que
4 professores chatos não presisão dar aula (...)
8 mas nossos profesores não precisarão
9 ir pois os portão estaram fechado para
10 profesores ate acabar a festa.(...)
13 para mais imformações fale com algum (...)
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 8º Ano.

Nos registros “desa” (dessa), “presisão” (precisam), (2) “profesores” (professores), o


aluno revela a incompreensão do funcionamento da escrita, em que o grafema s representa
diferentes sons, dependendo da posição em que se encontra na palavra. Esse aluno também
ainda não distingue a diferença do fonema /s/ em determinadas combinações e posições. Ainda
assim, há dois casos a serem observados mais atentamente aqui: o primeiro é referente ao termo
“presisão”, o qual sofre nasalização já que ocorre a troca de “am” por “ão” em sílaba final. Isso
está relacionado à conjugação verbal e à semelhança dos sons, entretanto a forma grafada pelo
aluno não existe nas gramáticas. O segundo caso é que, embora o estudante tenha grafado duas
vezes a forma “profesores”, é válido perceber que, na linha quatro, ele registrou o termo na
forma dicionarizada. Uma hipótese aqui pode ser a de que houve falta de atenção por parte da
criança no momento do registro ou, por ter ocorrido mais de uma vez o registro não
dicionarizado, esse aluno se encontra ainda com dúvidas sobre a grafia da palavra.
No registro de “estaram” (estarão) ocorre nasalização em sílaba final. Isso está
relacionado à conjugação verbal e à semelhança sonora, entretanto a forma grafada pelo aluno
não existe nas gramáticas.
Já em “imformações” (informações), o aluno pode ter se confundido por conta do
traçado dos grafemas [m] e [n], já que são semelhantes e apresentam a mesma nasalização.
Trata-se de escrita alfabética com correspondência trocada por semelhança de traçado.

Quadro 8- Produção textual 7


3 (...) Venho atravez desta carta sugerir
4 umas coisas para nosso colégio, su-
5 girir a liberação do uso do celular, (...)
30 imcomodar tanto.
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 8º Ano.

Na grafia de “atravéz” (através), presenciamos uma indiferença, por parte do aluno,


quanto ao som do fonema /z/.
Em (2) “sugirir” (sugerir), há metafonia, pois ocorreu a troca de /e/ por /i/.
Já em “imcomodar” (incomodar), o aluno pode ter se confundido por conta do traçado
dos grafemas [m] e [n], já que são semelhantes e apresentam a mesma nasalização.

Quadro 9- Produção textual 8


3 (...)Venho por meio desta carta para agradeser por
4 estar ensinando nós alunos, estarmos setornando umas
5 pessoas melhores no futuro encontrar um imprego (...)
7 Que possa ter um lar bom, comfortávl e p-
8 oder viajar com a familha pelo mundo e o (...)
11 videos e ademinstrar, a quantia de inscritos
12 e falar melhor com o meu pubico e aprender outras
13 linguas e aprende a escrever melhor.
14 Por isso eu presto atemção nas aulas e tento (...)
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 8º Ano.

No registro de “agradeser” (agradecer), percebemos, outra vez, o uso indevido de /s/ no


lugar de /c/.
Em “setornando”, vemos mais um caso de registro de sigmentação não convencional
através da hipossegmentação, pois há a junção interocabular de “se tornando”.
Na grafia da palavra “imprego” (emprego), ocorre metafonia, pois há a troca de /e/ por
/i/.
Nas palavras “comfortávl” (confortável) e “atemção” (atenção), o aluno pode ter se
confundido por conta do traçado dos grafemas [m] e [n], já que são semelhantes e apresentam
a mesma nasalização. Ainda assim, o estudante suprime o fonema /e/ da primeira palavra, o que
nos leva a acreditar que houve falta de atenção, já que o registro não se ampara na fala ou na
ortografia.
Já na grafia de “familha” (família) ocorre palatização, transformação da lateral dental
/l/ na palatal /lh/.
Em “adeministrar” (administrar), ocorreu a anaptixe, com o acréscimo da vogal /e/ a fim
de desfazer o grupo consonantal “ad”.
Em “aprende” (aprender) ocorreu apócope, pois há a supressão do fonema /r/ no final
da palavra. Tal variação é recorrente aos falantes brasileiros. Também é uma diagnose da
variação utilizada pelo estudante. Entretanto, na linha 12 o aluno grafa o mesmo verbo de
maneira adequada, ou seja, no infinitivo, demonstrando assim um deslize ou falta de atenção.

Quadro 10- Produção textual 9


1 Venho por meio desta carta por agradeser (...)
7 meu lado, quando eu presisei você sempre (...)
Fonte: Fragmento de uma produção de um aluno de 8º Ano.

Na grafia de “agradeser” (agradecer) e “presisei” (precisei), verificamos, novamente,


que o estudante não reflete quanto ao uso de /s/ e /c/.
Nos textos analisados, percebem-se alguns desvios de escrita relacionados diretamente
com a oralidade, identificando, dessa forma, a variedade linguística adotada pelo estudante.
Entretanto também ocorreram outros desvios referentes a outras justificativas, como o traçado
da letra.
Pode-se perceber, através do estudo dos fragmentos, de que em sete dos nove
fragmentos ocorreram casos de arbitrariedade, ou seja, as crianças ainda não compreenderam
de que existem letras diferentes que possuem sons semelhantes.
As formas são ditas dicionarizadas e requerem pesquisa por parte do estudante ou
retomada de conceitos e explicações, como a relação entre fonema e grafema, combinações
entre algumas consoantes e vogais e a posição de algumas letras na estrutura da palavra. Tais
abordagens devem ficar ao cargo do professor.
Da produção 1 à 5, referentes à turma do 7º Ano, constatamos ainda problemas
relacionados à nasalização, apócope, síncope, hipossegmentação, ditongação, aférese, prótese,
matafonia e monotongação.
Já do fragmento 6 ao 8, relacionados ao 8º Ano, foram detectados desvios referentes à
epêntese, nasalização, metafonia, hipossegmentação, palatalização, síncope, apócope e
anaptixe, além da possível confusão com o traçado das letras.
Considerações Finais

A finalidade deste trabalho foi analisar a produção escrita de alunos de 7º e 8º Anos do


Ensino Fundamental, a fim de perceber se há reflexos da oralidade na produção escrita e refletir
sobre as hipóteses sistematizadas pelos estudantes ao que se refere à prática da escrita.
Outrossim, por meio da descrição e análise dos fragmentos, averiguamos que há
diversos erros presentes nas produções textuais. Portanto, é preciso separar quais impasses
decorrem da interferência da fala, pois alguns desvios ortográficos apresentados relacionam-se
à oralidade, evidenciando a identidade linguística do aluno e a variação linguística adotada por
ele.
Também, como a análise apresentou vários casos de falta de assimilação entre as regras
ortográficas versus sons, o professor deve oportunizar atividades de pesquisa em dicionários,
além da prática assídua de leitura e escrita, em diferentes gêneros textuais, sejam eles escritos
ou orais. Após esse processo, o estudante terá autonomia para produzir textos com base nos
conhecimentos que adquiriu durante o estudo dos gêneros.
Após a produção textual do aluno, o professor pode identificar quais problemas estão
relacionados à oralidade, classificá-los e iniciar um trabalho de conscientização e compreensão
das modalidades escrita e falada. Tal sequência culminará em uma consciência fonológica.
Já Bortoni-Ricardo (2005) sugere que o professor analise os erros ortográficos com base
em estudos sociolinguísticos, tendo como conhecimento as variedades linguísticas. De acordo
com a autora, isso “permite o levantamento de um perfil sociolinguístico dos alunos, o que
servirá de subsídio para a elaboração de estratégias pedagógicas e de material didático
adequado.” (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 59). A sociolinguista acredita que, para que
ocorra a aprendizagem da língua portuguesa na escola, deve-se considerar o ambiente social
em que o aluno está inserido, assim como as interferências fonéticas de sua variedade, visto que
representam sua identidade linguística.

Referências

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Universidade de Brasília, 2007.

BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São
Paulo: Parábola, 2007.

BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. A sociolinguística na sala de
aula. São Paulo: Parábola, 2004.

BORTONI – RICARDO, S. M. Métodos da alfabetização e consciência fonológica: o


tratamento de regras de variação e mudança. Belo Horizonte: Scripta, v.9, n.18, p. 201 – 220,
2006.

BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora? sociolinguística na sala de


aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

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M. E; COELHO, I. L. (Orgs.). Sociolingüística e ensino: contribuições para a formação do
professor de língua. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2006.

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<http://www.filologia.org.br/cluerjsg /anais/ii/completos/comunicacoes/isabellelinsleite.pdf>.
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MARCUSCHI, L. A. A oralidade no contexto dos usos lingüísticos: caracterizando a fala. In:
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Metaplasmos contemporâneos – Um estudo acerca das
atuais transformações fonéticas da Língua Portuguesa
José Mario Botelho (UERJ)
Isabelle Lins Leite

Introdução

A Língua Portuguesa, desde o Latim, passou por diversos pro-


cessos de transformação fonética até resultar na Língua que hoje
conhecemos. A esses processos de transformação por que passou a
língua chamamos metaplasmos.
Os metaplasmos não são simplesmente os processos que a lín-
gua sofreu na passagem do Latim para o português mas, como po-
demos verificar na língua atual, estes fenômenos continuam agindo e
transformando a Língua Portuguesa.
Podemos observar as mudanças fonéticas por que está passan-
do nossa língua, principalmente na fala dos indivíduos – referimo-
nos ao uso lingüístico –, por exemplo, nos diálogos cotidianos em
que as palavras consagradas no léxico de uma forma sofrem trans-
formações fonéticas e são pronunciadas de modo distinto deste.
Os falantes de nossa língua (neste estudo, os do Brasil) utili-
zam metaplasmos de aumento, supressão, transposição e transforma-
ção, e a partir destes são criadas novas formas de vocábulos.
Em nosso estudo, mostraremos algumas das formações atuais
que já foram registradas em dicionários e outras que fazem parte
apenas de nosso discurso oral. Veremos ainda a questão dos tipos de
metaplasmos utilizados no Português do Brasil e o modo como os
metaplasmos contemporâneos estão influenciando a formação de
nosso léxico.
A definição de metaplasmos perpassa o âmbito dos processos
de transformação fonética por que passa uma língua. No caso dos
metaplasmos contemporâneos, consideramos as transformações ocor-
ridas a partir da Língua (no nosso caso a portuguesa do Brasil), que
conhecemos hoje.
Neste trabalho, partiremos dos processos de transformação fo-
nética de casos isolados emblemáticos. Em seguida, vamos destacar
e comentar, com base na “Gramática Histórica”, de Dolores Carva-
lho e Manoel Nascimento, e na monografia “História e formação do
léxico da língua portuguesa”, de Botelho, alguns casos do poema
“Poesias clássicas”, de Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da
Silva), por representar uma situação específica de comunicação: a
fala de nordestinos no sertão brasileiro.

Casos isolados de processos de transformação fonética

Ao analisarmos os metaplasmos verificamos que estes podem


ocorrer de quatro maneiras: por aumento; por supressão; por transpo-
sição e por transformação.

2
1. Metaplasmos por aumento

Ocorrem quando inserimos um fonema no vocábulo, aumen-


tando assim a sua forma fonética. Neste grupo, temos o caso da epên-
tese, do anaptixe (ou suarabácti), do paragoge (ou epítese) e da pró-
tese, os quais veremos a seguir:
a) Epêntese: É a inserção de um fonema no meio da palavra. Dos
casos em que ocorre epêntese, observadas em nossa língua oral, des-
tacamos: asterisco > asterístico; lista > listra (forma registrada em
dicionário); beneficência > beneficiência; prazerosamente > prazei-
rosamente; e estalo > estralo (forma registrada em dicionários).

b) Anaptixe (ou suarabácti): É o nome dado ao fenômeno de acres-


centar uma vogal para desfazer um grupo consonantal: ignorante >
iguinorante; pneu > peneu ou pineu; e advogado > adevogado ou
adivogado.

d) Paragoge (ou epítese): É o nome dado ao metaplasmo que acres-


centa um fonema no final da palavra: mártir > mártire; e variz > vari-
ze.

e) Prótese: É o nome que caracteriza o fenômeno de inserção de um


fonema no início da palavra: renegar > arrenegar (forma registrada
em dicionários); lagoa > alagoa (à semelhança de Alagoas – estado
brasileiro); voar > avoar (forma registrada em dicionários); lembrar >
alembrar; e soar > assoar (forma registrada em dicionários, com a
acepção de “limpar o nariz”).

3
Obs.: Pode ser considerado prótese o caso de aglutinação: de repente
> derrepente; a frete > afrete (ou àfrete, de à frete); e a cerca de >
acerca de (forma registrada em dicionários).

2. Metaplasmos por supressão

Como o próprio nome nos remete, os metaplasmos por supres-


são ocorrem quando suprimimos um fonema de um vocábulo. Vere-
mos neste grupo os fenômenos da aférese, da apócope, da síncope e
da haplologia.
a) Aférese: É o nome que caracteriza o fenômeno de supressão de um
fonema (ou uma sílaba) do início de um vocábulo: ainda > inda; até
> té; está > tá (forma registrada); espera > péra; José > Zé; você > cê;
uniforme > niforme (ou liforme).

b) Apócope: É o nome dado ao fenômeno que suprime um fonema


no final do vocábulo: bobagem > bobage; quer > qué; saber > sabê;
passar > passá; parênteses > parentes; furúnculo > furunco; lâmpada
> lampa; rapaz > rapá; pôr > pô; e licença > cença.

c) Síncope: É o nome dado à supressão de fonemas no meio do vo-


cábulo: horóscopo > horospo; bêbado > bebo; cócegas > coscas;
padrinho > padinho; também > tamém; mesmo > memo; murcho >
mucho; negro > nego; compadre > cumpade; experimento > expre-
mento, e drible > dibre (com rotacismo, por assimilação total pro-
gressiva do “l” drible > dribre).

4
d) Haplologia: É o nome dado ao fenômeno que suprime a primeira,
de duas sílabas sucessivas, no meio da palavra, por ter semelhança
sonora com a seguinte. Esse fenômeno é uma modalidade da sínco-
pe: entretenimento > entretimento (forma registrada em dicionários);
paralelepípedo > paralepípedo; e infalibilidade > infabilidade.

3. Metaplasmos por transposição

Os metaplasmos por transposição se dão por deslocamento de


posição de fonemas em um vocábulo ou por transposição do acento
tônico da palavra. Veremos neste grupo alguns casos de metátese, de
hipértese, de sístole e de diástole.
a) Metátese: É o nome dado à transposição de um fonema em uma
mesma sílaba de um vocábulo: perto > preto; perguntar > preguntar;
barganha > braganha; prateleira > parteleira; entreter > enterter, e
entretela > entertela.

b) Hipértese: É o nome dado à transposição de um fonema de uma


sílaba para outra em um vocábulo: nervoso > nevroso; e bicarbonato
> bicabornato.

c) Sístole: É o nome dado ao deslocamento, por recuo, do acento


tônico de um vocábulo: rubrica > rúbrica; ruim > ruim (rú); filantro-
po > filântropo; acrobata > acróbata (forma registrada em dicioná-
rios).

5
d) Diástole: É o nome dado ao deslocamento, por avanço, do acento
tônico de um vocábulo: opto > opito (pí); gratuito > gratuíto; águo >
aguo (gú) (forma aceita); ínterim > ínterim (rím); e designo > desi-
guino (guí).

4. Metaplasmos por transformação

Os metaplasmos por transformação ocorrem quando um fone-


ma de um vocábulo se transforma, passando a ser outro fonema dis-
tinto em lugar do primeiro. Aqui veremos alguns casos de degenera-
ção, desnasalação, dissimilação, rotacismo, lambdacismo, ditonga-
ção, monotongação, metafonia, nasalação, palatização, sonorização
(ou abrandamento) e de despalatização.
a) Degeneração: É o nome dado ao processo de transformação do
fonema /b/ em fonema /v/: assobiar > assoviar (forma registrada em
dicionários); basculante > vasculante (ou vasculhante); e travesseiro
> trabesseiro.

b) Desnasalação: É o nome dado ao processo de transformação de


um fonema nasal a um fonema oral: virgem > virge; homem > home;
benjoim > beijoim (forma registrada em dicionários); e fizeram >
fizero.

c) Dissimilação: É a transformação de um fonema para diferencia-


ção de um outro semelhante existente no mesmo vocábulo: pílula >

6
pírula; estrambótico > estrambólico; itinerário > etinerário; e privilé-
gio > previlégio.

d) Rotacismo: É a transformação do fonema /l/ em /r/: alface > arfa-


ce; almoço > armoço; aluguel > aluguer (forma registrada em dicio-
nários); Flamengo > framengo; flauta > frauta (forma registrada em
dicionários); flecha > frecha (forma registrada em dicionários).

e) Lambdacismo: É a transformação do fonema /r/ em /l/: freira >


flera (ê); e cabeleireiro > cabelelero (com monotongação de “-lei-” e
“-rei-”).

f) Ditongação: É o nome dado à transformação de uma vogal ou um


hiato em ditongo: bandeja > bandeija; caranguejo > carangueijo; e
saudar (sa-u-dar) > saudar (sau-dar) (pronúncia mais incidente).

g) Monotongação: É o nome dado à transformação ou redução de um


ditongo em uma vogal: freira > flera (ê); doutor > dotor; Europa >
Oropa; Eugênio > Ogênio; rouba > roba (ó); trouxe > truxe; polícia >
poliça; sou > sô; jogou > jogô; besouro > besoro (ô); louco > loco
(ô); cabeleireiro > cabelerero (ou cabelelero, com assimilação total
progressiva de “r”); manteiga > mantega; caixa > caxa; pouco > po-
co; queijo > quejo; beijo > bejo; treino > treno; beira > bera; ameixa
> amexa; e peneira > penera (ê).

7
h) Metafonia: É o nome dado à alteração do timbre ou altura de uma
vogal: direito > dereito; diferente > deferente; semente > simente; e
cadê > quedê (forma registrada em dicionários).

i) Nasalação: É o nome dado à transformação de um fonema oral a


um fonema nasal: até > inté; aipim > aimpim; igual > ingual; identi-
dade > indentidade; ignorante > ingnorante; frenesi > frenesim (for-
ma registrada em dicionários); idiota > indiota; e mostruário > mons-
truário; mortadela > mortandela;.

j) Palatização: É o nome dado à transformação de um ou mais fone-


mas em uma palatal: Antônio > Antonho; avião > avinhão; basculan-
te > basculhante (vasculhante); demônio > demonho; família > fami-
lha; e salsicha > salchicha (forma registrada em dicionários).

l) Sonorização (ou abrandamento) É o nome dado à transformação de


um fonema surdo, em posição intervocálica, à sua homorgânica so-
nora: cuspir > guspir; e constipado > gustipado.

m) Despalatização. É o nome dado à transformação de fonemas pala-


tais em um nasal ou oral: cabeçalho > cabeçálio (ou cabeçário); e
docinho > docim.

Casos de processos de transformação fonética em situação de


comunicação – texto poético.

Leremos a seguir um trecho do texto “poetas clássicos”, de Pa-


tativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), no qual temos um

8
registro do discurso oral do sertão nordestino do Brasil. Em seguida
analisaremos alguns dos metaplasmos atuais, presentes no texto, que
normalmente ocorrem na linguagem sertaneja do nordeste brasileiro.

“Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.”

No texto citado, temos as palavras “niversitário”, “cademia”,


“vocabularo”, “tarvez”, “recebê”, “lugio”, “istima”, “sê”, “fié”, “ins-
truí” e “papé” como formas faladas na linguagem do sertão brasilei-
ro. Consideramos que estas formas são resultados das transformações
fonéticas a que denominamos metaplasmos de nossa língua.
Ao analisar os metaplasmos encontrados no texto, verificamos
que:
 a palavra “universitário” sofreu aférese do fonema /u/ e monoton-
gação do ditongo /io/ final, resultando em “niversitaro”;

9
 a palavra “academia” sofreu aférese do fonema /a/, resultando em
“cademia”;
 a palavra “vocabulário” sofreu monotongação do ditongo /io/
final, passando a “vocabularo”;
 a palavra “talvez” sofreu rotacismo, pois o fonema /l/ foi substitu-
ído pelo fonema /r/, passando a “tarvez”;
 a palavra “receber” sofreu apócope do fonema /r/ e resultou em
“recebê”;
 a palavra “elogio” sofreu aférese do fonema /e/ e metafonia do
fonema /o/, que passou a /u/. Estes processos deram resultado à
palavra “lugio”;
 a palavra “estima” sofreu metafonia do /e/, que passou a /i/, resul-
tando na palavra “istima”;
 a palavra “ser” sofreu apócope do fonema /r/, resultando na pala-
vra “sê”;
 a palavra “fiel” sofreu apócope do fonema /u/, e passou a “fié”;
 a palavra “destruir” sofreu aférese do fonema /d/, metafonia do
fonema /e/ e apócope do fonema /r/l, resultando na palavra “istru-
í”.
 a palavra “papel” sofreu apócope do fonema /w/ e passou a “pa-
pé”.

Conclusão

Conforme observamos, nossa língua está em processo constan-


te de transformação fonética.

10
Algumas das formas surgidas no discurso oral já foram regis-
tradas em dicionários de nossa língua, enquanto outras continuam
restritas somente a esta modalidade da língua.
Nosso estudo, porém, não está restrito ao presente trabalho,
pois como a língua está se modificando a cada instante, devemos
estudá-la de modo constante, para bem observar suas transformações
com ênfase na fonética.

11
Referências Bibliográficas

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portuguesa. Monografia. (Mestrado em Letras) – Pontifícia Univer-
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