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Universidade Federal de Alagoas
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Projeto Gráfico
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Diagramação e Finalização
Lucas Gerônimo Villar
Teoria da Literatura 1
Professor: Disciplina 1
Roberto Sarmento Lima
Revisão Gramatical:
Roberto Sarmento Lima
INTRODUÇÃO
Prezado aluno:
PLANO DE DISCIPLINA
Ementa:
Conteúdos:
Objetivos:
Objetivos específicos:
Referências
Disciplina 1
ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética
clássica. Trad. de Jaime Bruna. 7. ed. São Paulo: Cultrix,
1977.
UNIDADE 1:
Disciplina 1
PROBLEMATIZAÇÃO DA
LITERATURA: DA TRADIÇÃO
TEÓRICA DOS FILÓSOFOS
GREGOS DA ANTIGUIDADE
AOS ESTUDOS LITERÁRIOS
CONTEMPORÂNEOS
Disciplina 1
A teoria literária é uma disciplina que, no nível superior
de estudos, busca, antes de tudo, refletir sobre o fato literário,
apontando os caminhos da sua interpretação, o modo como
se devem encarar as mudanças e divergências conceituais
estilísticas no campo da história e das transformações sociais
que interferem na produção e recepção de um texto. É, pois,
uma ciência da literatura. Nasceu com o nítido objetivo de
teorizar e transformar a literatura num objeto de reflexão e
análise.
No caso específico da composição de disciplinas ligadas
aos estudos literários, em um curso universitário como o de
letras, a teoria literária não raro tem tido o papel de introduzir
a temática e a série dos seus problemas, pois o aluno que acaba
de entrar no curso não conhece os fundamentos dessa ciência
nem mesmo saberia dizer ou explanar as principais questões
que envolvem esse saber. O ensino médio não forneceu esses
dados, não teve e não tem como princípio entrar numa seara
tão particular de discussão. Apenas não se deve perder de
vista que a teoria literária não é uma disciplina que veio
facilitar a vida do estudante, fornecendo-lhe “dicas” de como
ler um texto literário e de como compreender transformações
de estilo e de gêneros. Visa, sim, a problematizar a literatura,
e tal atividade e estudo implica uma reflexão aprofundada
das questões que se põem em discussão, sempre permanente
e carente de uma atualização programática.
O que é problematizar? Em linguagem científica,
problematizar é construir um problema onde o senso comum
não vê problema algum. Uma pessoa pode até gostar muito
de ler, apreciar bons romances, poesias, peças de teatro,
crônicas, mas não tem consciência daquilo que o motivou
a gostar. Então, chegou a hora de criar um problema: saber
por que literatura é um tipo de manifestação que existe em
qualquer sociedade do mundo, por que é lida, consumida, por
que sobrevive aos tempos invadidos pela mídia eletroeletrônica,
cada vez mais dominantes no mundo atual, e por que, apesar
disso tudo, continua nos encantando, mesmo quando os
Referências
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. São
Paulo: Ática, 1986. (Princípios, 46).
ação, que é a poesia). É preciso reter esse significado original ¹ É preciso saber que a palavra “ação”,
grego do termo para mais tarde compreender o quanto de em grego, é designada por duas palavras
ação e de construção existe na literatura e que é justamente distintas: poíesis e práxeis. A primeira,
essa dimensão fabricadora ou fabricante que interessa “poesia”, que nos interessa no momento Disciplina 1
efetivamente à compreensão do literário.¹ e que serviu para nomear a atividade
Sobre isso afirma Stalloni, mostrando que a palavra da literatura e o próprio texto que é
“poesia” — originalmente uma “ação que produz um feito durante essa atividade, foi a que
resultado por efeitos da fabricação de um objeto” — migrou ficou no âmbito dos estudos literários.
para o terreno da teorização do literário, passando a designar Entretanto, o nosso tempo esqueceu-
o rótulo geral “literatura” assim como o texto poético ou se de sua origem grega, e “poesia” —
literário: que era uma ação que originava um
produto, depois que a ação terminava
A palavra poesia tendeu muito rapidamente a —não tem mais esse sentido, perdendo
especializar-se numa acepção literária, mas pode inclusive o seu caráter de ação,
também se aplicar a qualquer tipo de fabricação ou realização, execução. Hoje em dia,
de construção concreta (navios, por exemplo) ou ao evocar o termo “poesia”, ninguém
abstrata (um raciocínio). Em todo caso, segundo mais vai pensar que, na Antiguidade,
o hábito, ela é empregada como um epíteto que o termo implicava a ideia de trabalho.
indica sua caracterização específica em casa caso; Muito pelo contrário: hoje não se
assim, em literatura, poesia trágica, poesia épica, pensa mais que o poeta é aquele que
poesia ditirâmbica etc. (STALLONI, 2007, p. 132) desenvolve uma ação exterior, uma
forma de trabalho. Enfim, perdeu-se o
Quando Aristóteles, à falta de melhor termo para designar, sentido originário do termo.
de modo geral, as espécies ditas literárias conhecidas da sua
época — a epopeia, a tragédia, a comédia e o ditirambo —,
se serviu do termo “poesia” (que, como vimos, se refere a uma
ação humana estruturante de um ser que se objetiva depois
de realizada a ação: o tijolo que sai da ação de manipular a
argila, dando-lhe uma forma e um sentido), a palavra passou
a circular como hoje funciona o rótulo “literatura”. Falar de
poesia, na época de Aristóteles e Platão, era falar também
da atividade literária. Mas, por outro lado, no terreno da
evolução semântica do termo, poesia também significava
“texto poético”, aquele que tenho debaixo dos olhos e que eu
leio, como é, aliás, também hoje em dia, igualmente. Assim,
a palavra “poesia” tinha três sentidos bem distintos: antes
de tudo, era uma modalidade de ação humana (seu sentido,
digamos, original); era sinônimo de literatura, vista como
atividade e como rótulo geral de um acervo de textos ditos
literários; e era, também, para completar, um texto escrito
Referências
LIMA, Roberto Sarmento. As tentações do espelho.
Conhecimento prático literatura, São Paulo: Escala
Educacional, nº 38, p. 10-19, [set./out. 2011].
a
Atividade de Aprendizagem
1. Leia o conto “O espelho”, de Machado de Assis e diga
em que sentido se pode dizer que está tematizado nesse texto
o conceito de literatura como imitação do real. Comente e
comprove.
Referências
ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética
clássica. Trad. de Jaime Bruna. 7. ed. São Paulo: Cultrix,
1977.
Pelos modos,
Os meios não a tragédia e a
distinguem as Os objetos comédia, distintos
espécies poéticas, nobres igualam pelos objetos, se
pois todas podem epopeia e tragédia igualam (só em
se servir, ora (representam parte a epopeia tem
combinados, ora homens modo dramático).
separados, dos superiores), e
mesmos meios: cor, objetos vulgares O ditirambo fica
traço, voz, palavra, caracterizam à parte (a epopeia
ritmo, canto apenas a comédia também se serve
desse modo)
Referências
ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética
clássica. Trad. de Jaime Bruna. 7. ed. São Paulo: Cultrix,
1977.
1.2.4.POESIA É MIMESE
Por esse critério dos modos, dentro da visão que Platão tem
do problema, só existiria mimese quando o ator fingisse que
era outro, assumindo a sua personalidade e caracteres. Isso,
dentro do que rezam a posição política e a doutrina social Disciplina 1
de Platão, seria um despautério, pois ninguém pode ser
um e outro ao mesmo tempo, sob risco de confundir a sua
identidade e os valores que tem, antes de passar por outro. A
poesia, por estimular a divisão da personalidade, estimularia
a perversão contra a identidade em favor da multiplicidade.
Imitar outro, como sugere a própria expressão, é sair de si
mesmo, desprender-se da própria alma e assumir outra, é
perder a sua racionalidade e corromper ou ameaçar a inteireza
da sua identidade. Na narração simples, o poeta não fala no
lugar de outro, mas apenas fala por si mesmo — nesse caso,
não haveria corrupção identitária (é o caso da “diegese” por
oposição a “mimese”, esta sim, uma ameaça à dignidade
humana). A tragédia e a comédia, e em parte a epopeia, são
formas literárias danosas, por serem imitativas de outrem.
Platão não avança muito nessa teorização, deixa tudo muito
esparso e incompleto, já que não teve objetivo, como o teve
Aristóteles, de escrever uma poética.
Platão opõe, dessa maneira, “narração” (ou diegese) a
“imitação” (ou mimese). Aristóteles, ao contrário, vê todas as
operações formais da poesia como miméticas, sem chegar a
essa distinção que Platão defende. No âmbito da narração, o
homem não corre perigos, é o que sugere a versão platônica
da mimese, pois não haveria aí representação (nem no sentido
teatral nem no sentido da imitação). O perigo era o poeta se
fazer de outro, fingir que tem outra personalidade, a da sua
personagem, por exemplo, entregando-se à ruptura com a
unidade e a indivisibilidade do eu.
No Livro III de A república, Platão chega a reescrever
uma parte da epopeia de Homero para mostrar ao discípulo
Adimanto que seria menos arriscado o poeta manter o tempo
todo a sua voz única, sem cedê-la a outrem, do que fazer a
personagem falar, momento em que o narrador se dispersa de
si mesmo e finge ser a personagem. Diz Platão:
Os aviões abatidos
são cruzes caindo do céu.
Referências
LIMA, Roberto Sarmento. O falso da imitação.
Conhecimento prático língua portuguesa, São Paulo:
Escala Educacional, nº 19, p. 47-50, [set./out. 2009].
Referências
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio.
Vários escritos. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
p. 235-263.
a
Atividade de Aprendizagem
Texto para aplicação:
Questão:
Referências
PERRONE-MOISÉS, Leyla. A criação do texto literário. In: PERRONE-
MOISÉS, Leyla . Flores da escrivaninha: ensaios. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
a
Atividade de Aprendizagem
Texto:
Questão:
UNIDADE 2
Disciplina 1
Gêneros
literários:
o lírico e o narrativo
isso, evitar repetir o que ele considera erro das várias poéticas:
o congelamento das formas em compartimentos estanques,
eternos e imutáveis, como a Ideia platônica.
Disciplina 1
2.2. O GÊNERO LÍRICO
Referências
LIMA, Roberto Sarmento. Existem poemas de amor? Conhecimento
prático língua portuguesa, São Paulo: Escala Educacional, nº 20,
p. 34-39, [nov./dez. 2009].
a
Atividade de Aprendizagem
Texto: Disciplina 1
Questão:
Do Novíssimo Testamento
e levaram-no maniatado
Disciplina 1
O texto de José Paulo Paes é breve, e os eventos evocados
não se amarram necessariamente. Falta ao lírico, como sempre,
uma explicação para dizer por que aquilo está sendo dito,
pois tudo parece resultar de uma entrada súbita e imprevista
em um assunto. No texto de Paes, isso é denunciado pela
presença da conjunção coordenativa “e” encabeçando o
poema, como se o assunto tivesse sido surpreendido no meio,
como se houvesse algo antes e não há na verdade, ao menos
não foi enunciado:
e levaram-no maniatado
Referências
BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1985.
[...]
[...]
12 a mi nha fa tetrassílabo
[...]
Referências
LIMA, Roberto Sarmento. A ideologia na casa de bonecos.
Conhecimento prático literatura, São Paulo: Escala Educacional,
nº 43, p. 32-43, [jul./ago. 2012].
— Estourado.
— An!
— An!
— An!
— An!
[...]
— Estourado.
poética que servisse para defini-la, uma vez que não tinha
gostado nada da metáfora que José Dias encontrara para
ela, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Isso se dá no
capítulo XXXII, intitulado “Olhos de ressaca”. Nessa cena,
Bentinho dramatiza e testa a capacidade máxima de lirismo
que um texto pode ter. Certamente, Capitu deve ter achado
que aquele olhar demorado do namorado sobre ela era sinal
de encantamento e enlevo, típico de quem está apaixonado.
Mas o que pretendo mostrar é que Bentinho vai em outra
direção, muito mais conceitual e intelectual do que mesmo
afetiva. Vamos ao texto:
a
Atividade de Aprendizagem
Texto:
Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-
se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente,
recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou
alguma cousa. Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideias que
são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda,
elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que
entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de
buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta
outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada. E recordou então
os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um incidente,
e mais outro, tudo eram sintomas, e concluiu que sim.
Questões:
Referências
SCHWARZ, Roberto. Casmurro abre o jogo. Piauí. São Paulo: Abril,
ano 2, dez. 2008, p. 58-59.
— Já vai.
— Que é? perguntou-lhe.
Disciplina 1
Referências
Ler o conto “A causa secreta”, de Machado de Assis, do volume Várias
histórias, desse autor. A leitura desse conto interessará também ao
estudo da seção seguinte.
Referências
SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1989.
(Princípios, 166).
de ônibus, olha para ela (ela pensa que ele olha para ela)
com um sorriso inexprimível, como se a estivesse querendo
alertar para uma nova percepção da realidade. Ana tem essa
sensação, porque é ela que andava cega, sem nada ver com Disciplina 1
nitidez ao seu redor, apenas fazendo o que se espera de uma
dona de casa, sempre pronta para atender os filhos e o marido,
dentro das conveniências sociais. Esse resumo do conto serve
apenas para situar a personagem de “Amor” e mostrar como
elementos da vida exterior — a metrópole, o ar de segurança
e bem-estar aparente do bairro do Jardim Botânico, o bonde,
o cego, a sacola de ovos quebrados — funcionam não apenas
como elementos do espaço, mas interagem vivamente com
a personagem feminina, simbolizando estados afetivos. Os
ovos, símbolo do início da vida, ao quebrarem-se, mostram
que se rompe ou se esgota uma fase da vida, sem consciência,
fazendo brotar outra, a da consciência da insatisfação e da
solidão na grande cidade, mesmo em meio às reuniões com
familiares e amigos. Eis um exemplo como o ambiente, no
sentido dado por Osman Lins, é representado pela narradora
criada por Clarice Lispector: