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MÓDULO 3 – RENASCIMENTO

ARTÍSTICO E CULTURAL: épica e lírica


camoniana
AULA 7 – RENASCIMENTO ARTÍSTICO E
CULTURAL
Introdução

Renascimento
Ao longo da Idade Média (séc. V-XV), a Igreja Católica foi a força cultural
predominante na Europa, tornando a mentalidade cristã um padrão que marcou os
valores morais e, também, a produção artística do período. Ainda que muitos dos
religiosos da época fossem estudiosos e tivessem contribuído para a construção do
pensamento ocidental, foi no período posterior, iniciado em fins do século XIV na
Itália e denominado Renascimento, que a relação do homem com o mundo que o
cerca sofreu uma alteração substancial.
Renascimento

Período histórico, de origem italiana, compreendido entre os séculos XIV e XVI, de grande
desenvolvimento do espírito racionalista, do comércio ultramarino, das artes e das ciências
naturais.
Renascimento

Antropocentrismo

Surge em oposição ao pensamento teocêntrico “Deus escolheu o Homem e, colocando-o


de que Deus era o centro do universo, propagado no centro do Mundo disse-lhe: És tu que
durante a Idade Média. Durante o renascimento, segundo os teus desejos e o teu
vários aspectos do ser humano foram resgatados discernimento, podes escolher.”
e o homem passou a ter uma posição de Pico Della Mirandola, Sobre a dignidade do homem, 1486.

destaque.
Renascimento

Grandes Navegações

O desenvolvimento das Grandes Navegações na


península Ibérica teve papel importante nessa época.
Foi justamente a crença no poder do homem que o
tornou capaz de se aventurar “por mares nunca
dantes navegados”, para aumentar seus domínios
políticos e ampliar seu campo de visão.
Renascimento

Racionalismo

Consciente de sua inteligência e poder de realização,


o homem passou a se empenhar em desenvolver
novas técnicas e métodos para dominar a natureza à
sua volta, ampliando não apenas seus domínios
políticos, mas também sua visão de mundo, o que
influenciou diretamente o avanço da razão e da
ciência.
As principais transformações

Na arte
❖ Perfeição formal na imitação da natureza – mimese.
❖ Aplicação da perspectiva matemática na pintura – efeito de profundidade.
❖ Harmonia e equilíbrio na composição das imagens.
❖ Utilização de personagens da mitologia.
As principais transformações
Na arte

Exemplos:

O nascimento de Vênus, 1485, de Sandro As Bodas de Caná, 1562-1563, de Paolo Veronese.


Botticelli.
As principais transformações

Na arquitetura
❖ Grande cúpula arredondada (domo).
❖ Colunas de sustentação nos moldes da
Antiguidade.
❖ Aplicação da teoria da perspectiva.
❖ Arquitetos importantes – Filippo
Brunelleschi e Donato Bramante.
As principais transformações
Na literatura SONETO LXIV

❖ Equilíbrio – harmonia e regularidade entre os elementos; busca Quando vejo do Tempo a dura mão cassar
De rica idade antiga o orgulho sepultado;
pela perfeição formal. Quando vejo tombar torres dantes altivas
E os bronzes imortais à morte sujeitados;
❖ Sonetos – poema de forma fixa, com quatro estrofes, sendo
Quando vejo do mar as ondas pressurosas
dois quartetos e dois tercetos. Seu reino disputar às barrancas vizinhas,
O chão firme vencer o líquido elemento,
❖ Verossimilhança – imitação da natureza e de modelos Seus ganhos perdas sendo e suas perdas ganhos,

consagrados. Quando me é dado ver as fortunas trocadas,


Ou fortunas tombar para abismar-se um dia,
A ruína me faz ruminar uma ideia:
❖ Racionalismo – razão domina o sentimento.
Que o Tempo deve vir arrebatar-me o amor:
❖ Maneirismo – movimento artístico de revisão dos valores Para mim isto é morte e não posso senão
Tua perda temer e chorar por te ter.
clássicos do Renascimento. Tendência dissonante da arte
SHAKESPEARE, William.
clássica.
AULA 8 – POESIA ÉPICA DE CAMÕES
POESIA ÉPICA: OS LUSÍADAS (1572)

Poema épico ou epopeia: Gênero narrativo em verso.

A palavra narrar vem do latim narrāre, que quer dizer contar, expor, dar a saber. A
expressão surgiu no século VII a. C., para designar o relato de ações guerreiras. Assim,
gênero narrativo é aquele que expõe um encadeamento de eventos. O gênero narrativo
pode se manifestar de maneira muito variada, por exemplo em versos como a obra Os
Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.
Gênero narrativo

Quais são os elementos fundamentais da narrativa?

▪ Narrador
▪ Personagens
▪ Enredo
▪ Espaço
▪ Tempo
Gênero narrativo

Tipos de gêneros narrativos:

▪ Gênero narrativo em prosa: romance, conto,


novela.
▪ Gênero narrativo em verso: poema épico (ou
epopeia).
Os Lusíadas

Traços fundamentais

Narrativa principal: viagem de Vasco da Gama às Índias.


Narrativa inserida: história de Portugal, narrada por Vasco da Gama e retomada
em outros momentos do poema.
• Convivência de referências pagãs (deuses gregos, ninfas e monstros) e cristãs
(tradição bíblica).
• Nacionalismo: feitos de heróis portugueses.
• Antropocentrismo: vitória do homem sobre a natureza e sobre os deuses.
Os Lusíadas

• Poesia épica composta de: EPOPEIA: é um poema narrativo longo em linguagem elevada
•10 cantos; que exalta as ações e os feitos memoráveis de um povo ou de
um herói nacional.
•1102 estrofes de oito versos;
• 8816 versos decassílabos;
• decassílabos heroicos: tônicas nas sílabas 6 e 10;
“Es|pe|ran|ça |de |por|to e |sal|va|men|to”
• decassílabo sáfico (menos frequente): tônicas nas sílabas 4, 8 e 10;
“No|tur|na |som|bra e |si|bi|lan|te |ven|to”
• esquema de rimas: ABABABCC
Os Lusíadas
Os Lusíadas

Camões dividiu a obra em cinco partes:


• Proposição
• Invocação
• Dedicatória (D. Sebastião)
• Narração
• Epílogo
Os Lusíadas

I. INTRODUÇÃO (estrofes 1 a 18)


• Proposição: o poeta anuncia o tema de seu Canto – os grandes feitos dos heróis lusitanos.
• Invocação: às Tágides (ninfas do Tejo)
• Dedicatória: ao rei D. Sebastião

II. NARRAÇÃO (estrofe 19 do Canto 1 à 144 do Canto


Canto III
X)
Início do discurso de Vasco da Gama
Canto I
• História dos reis de Portugal: do conde D.Henrique a D.
• Concílio dos deuses
Fernando
• No meio da viagem: oceano Índico
- “Batalha do Salado” (episódio)
• Acidentes atribuídos a Baco/ intervenções
- “Inês de Castro” (episódio)
Salvadoras de Vênus
• Chegada a Mombaça

Canto II Canto IV
• Traição do rei de Mombaça • História dos reis de Portugal: de D. João I a D. Manuel
• Intervenção de Vênus - “Batalha de Aljubarrota” (episódio)
• Profecia de Júpiter - Conquista de Ceuta
Em Melinde: - Sonho profético de D. Manuel
• O rei de Melinde pede a Vasco da Gama que lhe conte a • Preparativos da viagem (Belém)
História de Portugal. - “O velho do Restelo” (episódio)
Os Lusíadas Canto VI
• Partida de Melinde
• 2º Concílio dos deuses
• Histórias a bordo:
- “Os Doze da Inglaterra” (episódio)
• Tempestade marítima
Canto V
• Partida de Lisboa
• Incidentes da viagem (costa ocidental da
África)
• Cabo das Tormentas: Canto VIII
- “O gigante Adamastor” (episódio) • Diálogo entre o Catual e Paulo da Gama: as
• Em Melinde bandeiras
• Baco instiga os indianos contra os portugueses
• Prisão de Vasco da Gama
• Resgate
Canto VII
• Chegada a Calicute
• Descrição da Índia Canto X
• Visita do Catual (“A ilha dos Amores” – cont.)
• O banquete das ninfas
• Profecia de uma ninfa: os futuros feitos dos
Canto IX portugueses
• Viagem de regresso: • Tétis mostra a Vasco da Gama a “Máquina do
- “A ilha dos Amores” (episódio) Mundo”
• Regresso a Portugal

III. EPÍLOGO (final do Canto X)


Lamentações e exortações do poeta.
A Máquina do Mundo
Aula 9 – A poesia lírica de Camões
Introdução

A poesia lírica de Camões


Retomaremos o estudo das obras de Luiz Vaz de Camões, conhecemos na última
aula a poesia épica camoniana com Os Lusíadas e, nesta aula, conheceremos a
poesia lírica com poemas escritos na medida velha e na medida nova.
O que é poesia lírica?

A palavra Lírico vem do


latim: lyrĭcus', de lyra, lira'

Eu-lírico: Voz do poema

Sentimento
Subjetividade

Musicalidade
(Instrumento musical que na Idade
Média acompanhava os poemas)
O que é poesia lírica?
Poesia lírica camoniana

A lírica camoniana é bastante rica e diversificada. Dela, destacam-se dois grandes conjuntos:

1º - Poemas escritos em redondilhas 2º - Sonetos com versos decassílabos


(5 e 7 sílabas poéticas) (10 sílabas poéticas)

MEDIDA VELHA MEDIDA NOVA


Poesia lírica camoniana
[Medida Velha]
CANTIGA ALHEIA

Redondilhas – versos mais curtos, praticados desde a Perdigão perdeu a pena,


origem da língua portuguesa. Estão presentes em cantigas de não há mal que lhe não venha.
roda, na poesia clássica e em provérbios transmitidos VOLTAS
oralmente.
Perdigão, que o pensamento
Perdigão: o macho da perdiz (tipo de
subiu em alto lugar,
ave que tem o voo muito curto e perde a pena do voar,
pesado). ganha a pena do tormento.
Pena: estrutura que compõe o corpo Não tem no ar nem no vento
das aves. asas com que se sustenha:
Pena: nesse caso, sinônimo de não há mal que lhe não venha.
sofrimento, punição.
Desasado: sem asas.
Depenado: sem penas.
Quis voar a ũa alta torre,
Penado: sofrido, maltratado. mas achou-se desasado;
Queixumes: lamentos. e, vendo-se depenado,
de puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
lança no fogo mais lenha:
não há mal que lhe não venha.
Poesia lírica camoniana
[Medida Nova]

Soneto – versos longos, apresenta uma composição fixa de 14 versos. O soneto


camoniano apresenta uma estrutura divida em duas partes: argumentação e conclusão.

Na primeira é desenvolvido um raciocínio que conduz o leitor para a segunda parte a


conclusão do tema desenvolvido no texto.

Chave de ouro: nome que se dá ao


conjunto de versos que encerram o
texto de forma a provocar algum grau
de surpresa ou encantamento.
MARCAS FORMAIS DO SONETO CAMONIANO

• Sonoridade: repetição de sons para criar uma musicalidade ao texto. Isso ocorre por meio da:
- Aliteração: repetição de consoantes.
- Assonância: repetição de vogais.

• Esquema de rimas: geralmente, ABBA (rimas interpoladas ou opostas) ou ABAB (rimas


entrelaçadas ou cruzadas) nos quartetos; e, nos tercetos, uma variação maior: CDC-DCD,CDE-
CDE,CDC-CDC,CDE-DCE, etc.

• Métrica: versos decassílabos na variante heroica (acentos tônicos nas sílabas 6 e 10) ou sáfica
(acentos tônicos nas sílabas 4, 8 e 10).

• Apóstrofe: vocativo, de caráter retórico, em que o enunciador se dirige a elementos da natureza, a


seres fantásticos ou a interlocutores ausentes. Exemplo: “Alma minha gentil, que te partiste / tão cedo desta
vida descontente”.

• Metáfora: estabelecimento de relação de semelhança entre duas expressões, sem o intermédio de


um termo comparativo. Exemplo: “Amor é fogo que arde sem se ver”.
MARCAS FORMAIS DO SONETO CAMONIANO

• Hipérbato: é a inversão da ordem direta das frases, e da ordem habitual das palavras. Exemplo:
“Eu cantarei de amor tão docemente”.
• Oposição: composição de imagens contrárias, com o uso de:
- Antíteses: oposição de palavras que por natureza já se opõem (Bem x Mal)
- Paradoxos: oposição de ideias : “amor é fogo que arde sem se ver”
• Hipérbole: recurso de intensificação, que confere mais vida à expressão: Exemplo:
“Ela só viu as lágrimas em fio/[...]/ se acrescentaram em grande e largo rio”.
• Reiteração vocabular: reforço expressivo, que transmite um sentimento de obsessão, com uma
grande carga dramática; e que pode ocorrer como enumeração de elementos. Exemplo: “nas lindas
faces, olhos, boca e testa / boninas, lírios, rosas debuxando”; ou ainda por meio da derivação
(repetição da palavra com modificação na flexão).
OS SONETOS CAMONIANOS

Principais temas:
▪ O amor platônico: O amor espiritualizado; a amada é idealizada, colocada em um plano superior.
▪ As contradições do amor: O poeta busca compreender racionalmente o sentimento amoroso.
▪ Ciclo Dinamene: Vários poemas relacionados a amada que supostamente morreu em um
naufrágio.
▪ Desconcerto do mundo: Mundo de ponta-cabeça (às avessas).
Exemplos de sonetos camonianos

Amor é um fogo que arde sem se ver, Alma minha gentil, que te partiste
é ferida que dói e não se sente; Tão cedo desta vida descontente,
é um contentamento descontente, Repousa lá no Céu eternamente,
é dor que desatina sem doer. E viva eu cá na terra sempre triste.
É um não querer mais que bem querer; Se lá no assento etéreo, onde subiste,
é um andar solitário entre a gente; Memória desta vida se consente,
é nunca contentar-se de contente; Não te esqueças daquele amor ardente
é um cuidar que ganha em se perder. Que já nos olhos meus tão puro viste.
É querer estar preso por vontade; E se vires que pode merecer-te
é servir a quem vence, o vencedor; Alguma causa a dor que me ficou
é ter com quem nos mata, lealdade. Da mágoa, sem remédio de perder-te,
Mas como causar pode seu favor Roga a Deus, que teus anos encurtou,
nos corações humanos amizade, Que tão cedo de cá me leve a ver-te
se tão contrário a si é o mesmo Amor? Quão cedo de meus olhos te levou.

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