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Os Ratos – Dyonélio Machado

Dyonélio Tubino Machado (Quaraí, 21 de


agosto de 1895 – Porto Alegre, 1985) foi escritor
(romancista, contista, ensaísta e poeta),
jornalista, médico e militante comunista brasileiro.
Foi um dos principais expoentes da segunda
geração do modernismo no Brasil.
Era filho de Sylvio Rodrigues Machado e
de Elvira Tubino Machado. Ainda criança, seu pai
foi assassinado, acontecimento que lhe marcaria
para sempre a existência. Com apenas oito anos,
vendia bilhetes de loteria para ajudar no sustento
da família pobre – a mãe e o irmão Severino.
A pobreza familiar não o impediu, contudo,
de continuar estudando. Dyonélio dava aulas para
os meninos das classes mais atrasadas e, em
troca, ele e o seu irmão podiam estudar sem pagar a matrícula da escola. Aos doze anos
trabalhava como servente no seminário O Quaraí, onde começou a se entrosar com
intelectualidade local. Veio daí, provavelmente, o gosto pelo jornalismo, o que lhe
acompanharia pelo resto da vida. Lá mesmo, em Quaraí, fundou por volta de 1911, o
jornal O Martelo, nome sugestivo que demonstrava seu interesse pelo comunismo.

Vencedor do premio Machado de Assis


da época, Os Ratos (1937) é um dos tesouros
valiosíssimos da literatura brasileira, ainda
mais por causa de seu final surpreendente.
Sua narrativa é apresentada numa
linguagem simples, direta, rápida, com tal
domínio da expectativa do leitor que lembra
o trabalho de Camilo Castro Branco, em Amor
da Perdição. Cada capítulo tem sua própria
célula de suspense, que será resolvida no
máximo no seguinte, em que obrigatoriamente
surgirá outra.
O caráter aberto do final do conto, que
potencializa sua literariedade, só perde para a
simbologia cruel do título do livro. A ideia de os
ratos aproveitarem-se da escuridão para
atacarem o dinheiro é uma representação
cabal de tudo o que ocorrera no dia de
Nazazieno. A relação mais óbvia é
estabelecida com os poderosos (agiotas, joalheiros, estelionatários), que se aproveitavam
das dificuldades financeiras alheias. Mas é possível também comparar aos oprimidos, que
eram submetidos a condições humilhantes de sobrevivência, igualando-se a roedores.
Enfim, aqui uma cruel crítica à maneira como o dinheiro acabou se tornando a mola
propulsora as relações sociais comandando a respeitabilidade, a ética, a dignidade e até
injusta e facilmente, quando não arbitrária e despoticamente, degradando-as, denotando-
as. Em suma, todos esses aspectos fazem Os Ratos uma das obras mais nobres de
nossa literatura.

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