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BNCC

Capítulo

2
Professor, nesta página você poderá
abordar as seguintes habilidades da BNCC: Na mente dos personagens
Habilidades gerais
EF69LP44 EF69LP47
que o tempo passa lentamente. Nesse gênero, o narrador
EF69LP53 EF69LP54 Conhecimentos prévios costuma causar certo estranhamento no leitor a partir
da forma como narra a história. Agora, vamos mergulhar
1. Quando você tem ansiedade para que algo impor- em contos em busca desse estranhamento.
Habilidades específicas tante aconteça, como você sente a passagem do
tempo? Antes de começar a ler
EF89LP33 EF89LP37 2. Você acha que a passagem do tempo é percebida
da mesma forma pelas pessoas? No capítulo anterior, analisamos o texto Jonas e o menino,
EF09LP04 3. Você acha possível escrever uma narrativa simu- de Heber Costa. Nesse estudo, caracterizamos esse texto como
um exemplo de conto social. Nele havia um narrador-observa-
lando o fluxo do nosso pensamento? dor, uma denúncia social, uma crítica ao abandono de crianças
Objetivos e ao comportamento de pessoas que, ignorando esse abandono,
comovem-se mais com a miséria de animais. Além disso, vimos

pedagógicos O que estudaremos neste


capítulo
que, para enriquecer a narrativa, o autor utilizou algumas pala-
vras em situações diferentes daquelas em que normalmente são
empregadas, o que causa certo estranhamento no leitor. Esse es-
tranhamento é o fim estético do texto, isto é, do prazer da leitu-
ra. No conto que vamos ler agora, também produzido por Heber
Ao final deste capítulo, o aluno deve ser • Características e função social dos contos Costa e publicado no seu blogue Manual de Astronomia, veremos
psicológicos. uma narrativa semelhante ao conto social, mas algumas diferen-
capaz de: • Orações subordinadas substantivas subjetivas,
ças nos permitem classificá-la como psicológica. Leia com aten-
ção o texto, procurando perceber esses detalhes.
• Demonstrar conhecimento básico sobre objetivas diretas e objetivas indiretas.
• Orações subordinadas substantivas completivas
o gênero e suas funções sociais: o que é nominais, predicativas e apositivas.
• Pontuação das orações subordinadas
Aprofundamento do gênero 1
um conto psicológico? Para quem é escri-
substantivas. Conto psicológico
to? Por quê? Para quê? E como é feito?
O dia das trevas
• Expressar-se de forma oral e escrita so- Caracterizando
bre os temas abordados nos textos. o gênero Lembro que vivíamos numa casa velha e, embo-
ra fosse o mundo para mim, era reconhecidamente
• Reconhecer mais de um tipo textual em humilde e pequena até para os padrões já baixos do
Neste capítulo, estudaremos o conto psicológico, bairro pobre em que morávamos. Alheio a tudo, eu não
um mesmo texto. uma realização contemporânea do conto em que predo- via que minha mãe, com a garganta presa pelo nó do
• Realizar leituras inferenciais. minam o espaço e o tempo psicológicos. Esses elementos silêncio, sofria um sentimento mudo de solidão. Seu
dizem respeito à forma como cada um de nós percebe o sorriso era raro e só se abria quando raios do sol en-
• Identificar fenômenos da linguagem, am- tempo e os espaços em determinadas situações, como travam em prisma pela janela e caíam coloridos sobre
ocorre quando sentimos saudade e temos a impressão de mim, contrastando com a pele negra, que reluzia seu
biguidade, aspectos da narração, infor-
mações implícitas e explícitas e o valor se-
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mântico de algumas palavras no texto.
• Realizar prática e análise linguística, ob-
servando as distinções estruturais e fun- FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 36 26/02/2020 17:17:38 FC_L

cionais das orações subordinadas subs- tenciais. Pergunte se já se sentiram es-


Anotações
tantivas. tranhos em algum momento, se têm
• Pontuar adequadamente as orações su- sentimentos que os deixam solitários,
bordinadas substantivas. pensativos, confusos, etc. Conclua a dis-
cussão observando que esses momentos
Sugestão de que mexem com a emoção e o estranha-
abordagem mento em situações diversas são usados
por escritores de contos psicológicos e
Antes de começar a ler o texto, seria fazem com que o leitor mergulhe na sub-
interessante iniciar uma discussão com jetividade dos personagens e muitas ve-
os alunos a respeito de conflitos exis- zes se identifique com eles.

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tos internos por meio de fatos externos. O
conceito de inconsciente, formulado por
brilho fascinante e esquecido. Enternecida pela sua quase todos aqueles vocábulos que não eram filhos da
solitária condição não apenas de mãe, mas de mulher, boca com o coração. Exceto aquele que sempre me foi Sigmund Freud (1856–1939), constituiu um
ela me abraçava; eu, sem entender, apenas me sen- estranho: papai.
tia mais protegido. Somente outra coisa a fazia sorrir:
novo autorretrato para o indivíduo, que
Disponível em: http://manualdeastronomia.blogspot.com.br/2010/02/o-dia-
a chegada daquele homem. Era um homem branco e -das-trevas.html. Acesso em 16/04/2019. passou a buscar, desde então, uma com-
alto, com cheiro forte de riqueza. Entrava em casa com
estirpe de dono, passava diretamente pela sala e con- Aprenda mais preensão da vida interior. Essa perspectiva
duzia minha mãe para o quarto. Ignorado e ignorando,
psicológica influenciou a literatura produ-
eu brincava com meus caubóis de plástico no velho No capítulo anterior, conhecemos um

Reprodução
oeste daquele chão poeirento e na savana do carpete pouco de um escritor brasileiro muito im- zida no início do século XIX até o início do
portante, Wander Piroli, que escreveu o
sujo. Com o cair da tarde, o abandono do sol e o desin-
teresse das brincadeiras, pesava sobre mim um senti-
conto social Trabalhadores do Brasil. Como
estamos estudando agora as caracterís-
século XX e acabou refletindo essa dualida-
mento estranho, uma miséria que brotava das minhas ticas e funções dos contos psicológicos,
aproveite para conferir uma obra muito
de em diferentes gêneros, entre eles, o con-
roupas desbotadas e entrava pelos poros, virando ou-
tra miséria, mais profunda. Era como uma febre que
interessante de Piroli, O menino e o pinto
do menino, um excelente conto psicológico
to psicológico.
anunciava sua chegada, uma moleza de espírito, um sobre as mentiras que contamos diariamente para nos proteger.
arrependimento de algo que não fiz. Por isso, eu temia
aquele homem: era o dia em que as luzes tardavam Diálogo com o
em se acender. Toda semana, era o Dia das Trevas. Na
penumbra, eu divisava vultos ameaçadores — alguns
Vocabulário
desconhecido
professor
eram ratos; outros, tenho certeza, demônios. O deses-
pero endurecia minhas pernas. Nada podia fazer. Sem
ter ao que me agarrar, deixava correrem as silenciosas Utilizando pistas do próprio texto, estruturas, ilustra- Em Morangos mofados, de Caio Fernan-
lágrimas do medo, salgadas de abandono. Quando já ções ou mesmo fontes externas, como dicionários, cons-
tinha passado o limite do insuportável, entre a vida e o trua o sentido das palavras seguintes. do Abreu, você encontrará interessantes
pesadelo, as luzes se acendiam e o homem ia embora.
Repleta de ternura e afeto. contos psicológicos que poderão lhe dar
Minha mãe vinha até mim, coberta num véu de culpa, Enternecida –
e tentava me consolar com biscoitos amanteigados.
Linhagem; descendência.
uma outra perspectiva do gênero.
Enquanto eu mordiscava, ela novamente dava à luz Estirpe –
aquelas palavras bastardas: “Papai não pode ficar. Ele
Meia-luz.
tem outra família, meu filho”. Palavras refletidas num Penumbra –
espelho distorcido, mais para si própria do que para
mim. Só anos depois, compreendi o que significavam Divisava –
Enxergava; avistava. Anotações

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Sugestão de gens, há a possibilidade de o enredo não


abordagem seguir uma ordem linear e o espaço onde
acontece a narrativa é marcado pelo pon-
É interessante comentar algumas carac- to de vista de como as experiências são
terísticas dos contos psicológicos para si- apreendidas pelo personagem.
tuar os estudantes na leitura dos textos que
serão trabalhados no decorrer do capítulo. Diálogo com o
Para iniciar a sua abordagem, esclare- professor
ça que o conto psicológico é uma narrativa
cujo fator principal sempre está relaciona- O conto psicológico apresenta uma
do a lembranças e emoções dos persona- dualidade de enredo que permite narrar fa-

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BNCC
2| No tempo em que se encontra, já crescido, o narrador-
-personagem entende que o homem era seu pai bioló-
Professor, nesta página você poderá Para discutir gico. Contudo, sendo alguém com quem ele nunca teve
relação afetiva, o narrador sente que não teve pai. Que
abordar as seguintes habilidades da BNCC: aspectos do texto revelam isso?
1. Como vimos, nos contos psicológicos há o desenvolvi-
O fato de o narrador chamar o pai de “o homem” duran-
mento das emoções e dos sentimentos em uma pers-
pectiva psicológica. Que sentimento o narrador tinha
Habilidades gerais te todo o texto e o fato de o narrador afirmar que não
pelo homem branco, alto, com cheiro forte de riqueza?
EF69LP44 EF69LP47 2. No capítulo anterior, vimos também que os textos
compreende o significado da palavra papai.
literários costumam reservar ao leitor um papel ati-
EF69LP53 EF69LP54 vo na construção do sentido do texto, ou seja, para
entender o texto em sua totalidade, o leitor preci- 3| Narrativas desse tipo comumente atribuem um valor
sa buscar “pistas” deixadas pelo autor ao longo da simbólico a elementos do texto, explorando sentidos
Habilidades específicas obra. Isso fica claro, por exemplo, quando analisa- que vão além do seu significado cotidiano. Pensando
mos a relação entre o homem estranho e o narra- nisso, você acha que, para o narrador, as trevas eram
EF89LP33 EF89LP37 dor. Como era essa relação? Ela está dita no texto? apenas a falta de luz? Justifique sua resposta.
EF09LP04 Resposta pessoal. Espera-se que os alunos percebam

Sugestão de Desvendando os que, para o narrador, as trevas são bem mais do que a
segredos do texto
abordagem falta de luz: representam a solidão, o medo, a miséria e o

abandono que sentia quando tinha de ficar sozinho no


1| Nos textos literários, o tempo é algo relativo, que
serve aos propósitos do autor. No texto O dia das tre-
Você pode trabalhar com os alu- dia da visita do pai.
vas, o narrador-personagem relembra um fato que
nos o texto Uma esperança, um dos aconteceu várias vezes em sua infância. Como esse
fato é representado e qual a relação disso com o título 4| Na parte final do texto, o narrador dá pistas de que
contos psicológicos mais famosos de do texto? era filho de um relacionamento extraconjugal, ou seja,
Clarice Lispector (1920–1977), publi- O fato é representado como se acontecesse sempre do
fora do casamento. O autor faz uso de três orações para
retomar essa ideia e reforçá-la. Quais são essas orações?
cado em 1971 na coletânea Felicida-
mesmo jeito, como se fosse um único dia que se repete, “[…] ela novamente dava à luz aquelas palavras bas-
de clandestina. Nesse texto, ela mos-
é por isso que o título do texto está no singular. Era o dia tardas […]”; “Ele tem outra família, meu filho”; e “[…]
tra um bom exemplo de narração
psicológica ao trazer para o leitor narra- em que o homem branco visitava a mãe do narrador- aqueles vocábulos que não eram filhos da boca com o

tivas múltiplas. Após a leitura, provoque -personagem e ficava até tarde no quarto com ela, en- coração”.

a turma com questões de leitura, como: quanto o narrador ficava nas trevas.
1. No título do conto, o que a palavra
esperança significou para você?
2. No texto, a palavra esperança funcio-
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na como um substantivo concreto ou abs-
trato do ponto de vista do menino?
3. Nos contos psicológicos, há o de- FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 38 26/02/2020 17:17:38 FC_L

senvolvimento simultâneo de pelo menos 6. No início do conto, a narradora apresenta seu ponto de vista sobre a esperança. Qual
duas histórias. Você saberia dizer quais são é esse ponto de vista?
as duas histórias sugeridas já na primeira
frase do texto?
4. Que opinião a narradora tem do sen-
Anotações
timento de esperança?
5. No texto de Clarice Lispector, pode-
mos atribuir dois sentidos à palavra es-
perança. Explique quais são esses dois
sentidos e como eles contribuem para a
narrativa psicológica.

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BNCC
5| Assim como em outros textos que estudamos, há uma
personagem que vive um conflito pessoal. A mãe encon- Análise Professor, nesta página você poderá
tra-se dividida. A frase abaixo, retirada do texto, ilustra
essa divisão. Analise-a e responda: qual era o conflito da linguística abordar as seguintes habilidades da BNCC:
mãe? Você acha que ela sofria com isso? Por quê?

Enternecida pela sua solitária condição não apenas


Orações subordinadas Habilidades gerais
de mãe, mas de mulher, ela me abraçava. substantivas (1) EF69LP05
O conflito era entre sua condição de mãe e de mulher.
Leia o quadrinho. EF69LP56

Espera-se que o aluno perceba que a mãe se dividia en-


Habilidades específicas
tre o amor pelo filho e o relacionamento com o homem,
EF09LP04
que aplacava sua solidão. A mãe sofria com isso, visto EF09LP08
que sentia culpa e tentava justificar suas ações para o fi- EF09LP11

lho e para si mesma.


Sugestão de
abordagem
6| Como vimos, nos contos psicológicos há pelo menos 1. Na língua portuguesa, o que significa a expressão
duas histórias entrelaçadas: uma exterior e uma interior. popular estar no olho da rua?
• Para as questões da seção Análise linguís-
Normalmente, a ação interior é maior que a exterior, ad- 2. O quadrinho utiliza a linguagem verbal e não verbal
quirindo, portanto, mais profundidade e relevo ao longo para produzir sentido. Que elemento não verbal se tica, propomos as seguintes respostas:
do texto. Assim, o conflito psicológico sobressai em re- refere à expressão estar no olho da rua? Que outra
lação aos fatos exteriores. Pensando nisso, releia o con- expressão popular esse elemento sugere? Qual é o 1. Na língua portuguesa, a expressão
to e, em seguida, responda às questões propostas. seu significado? estar no olho da rua significa estar des-
3. No quadrinho, o verbo saber é classificado como
a. Que fato é exterior à narrativa psicológica? transitivo direto ou indireto? pedido, sem emprego.
4. Indique o complemento do verbo saber.
A visita do pai. 2. A marca de sapato nas nádegas do
Seguindo a gramática da língua, alguns verbos exi- personagem. Essa marca sugere a expres-
b. Qual é o efeito psicológico que esse fato desperta no gem necessariamente complementos para terem senti-
narrador? do completo. São os verbos transitivos, como estudar, são popular levar um pé na bunda, que no
ler, perguntar e saber. Observe.
Ele começa a pensar/refletir sobre o sentimento de contexto também significa que o persona-
abandono e angústia.
Até o GPS sabe. gem foi despedido, está desempregado.
3. No quadrinho, o verbo saber é tran-
Verbo transitivo
sitivo direto.
4. O complemento do verbo é o termo a
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minha localização.
• Aproveite para trabalhar com os alunos
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o filme O labirinto do Fauno, de Guillermo
Anotações del Toro. A obra traz uma história cujo en-
redo tem um desenrolar parecido com um
conto psicológico. No longa, é fácil perce-
ber o desenvolvimento de duas histórias,
uma interna e uma externa à protagonis-
ta Ofélia, fundindo elementos fantásti-
cos e psicológicos. Nesse trabalho, aten-
te para a classificação indicativa do filme
(16 anos).

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Analisando essa estrutura de forma isolada, percebe-
Núcleo do objeto direto
mos que o verbo saber está incompleto, isto é, sem seu
complemento, também chamado de objeto. Por essa ra- Ele não entende a prática da professora.
zão, poderíamos nos perguntar: “Até o GPS sabe o quê?”.
O termo que ocupará o lugar desse o quê será, portanto, Verbo transitivo direto Objeto direto
o complemento verbal, o objeto direto, pois se liga ao ver-
bo diretamente (sem o auxílio de uma preposição).
Veja outro exemplo, com um numeral substantivo na
Até o GPS sabe a minha localização. função de núcleo do objeto direto.

Verbo transitivo direto Objeto direto Pedro e Alice são muito diferentes, mas eu amo os dois.

Objeto direto

Veja este outro exemplo.


Em todas essas situações, o papel do objeto é exerci-
Verbo transitivo indireto do por um substantivo. No entanto, essa função poderia
ser desempenhada, sem problema algum, por uma ora-
Paula não gosta do aplicativo de geolocalização. ção, que equivaleria, pois, a um substantivo. Observe.

Preposição Objeto indireto


Primeira oração Segunda oração

Nesse exemplo, novamente o verbo precisa de um 1 Pedro não gosta de tirar nota ruim.
complemento: não gosta de quê? Note, no entanto, que
Objeto indireto
o complemento do verbo gostar se liga a ele indireta-
mente, isto é, com a ajuda de uma preposição. Portanto,
esse complemento é o objeto indireto.
Nos dois casos, os verbos precisaram de um comple-
mento: o objeto. Na prática, o papel de núcleo do obje-
Primeira oração Segunda oração
to é sempre exercido por um substantivo ou expressão
substantiva. Nesses casos, os substantivos localização
e aplicativo são os núcleos dos objetos. Veja outro 2 A professora Norma odeia que os alunos não
exemplo. estudem.

Ele não entende . Objeto direto

Verbo transitivo Lugar destinado


direto exige um ao objeto direto
objeto direto (substantivo)

Primeira oração Segunda oração

Como dissemos, a função do núcleo do complemen-


to verbal é desempenhada por um substantivo ou pala- 3 O pai pensou que o filho estava cansado.
vra que tenha esse valor. Nesse caso, poderíamos com-
Objeto direto
pletar a frase da seguinte forma:

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Oração principal
Aprenda mais
Quem terminar a prova pode sair da classe.
A gramática normativa classifica esse que dos exemplos 2 e
3 como conjunção integrante, pois, ao mesmo tempo que liga Oração subordinada substantiva subjetiva
duas orações, ele integra a segunda oração, que é subordinada
substantiva. A outra conjunção integrante é se, como ocorre em
Ele não sabe se fez a escolha certa.
Oração subordinada substantiva
objetiva direta
Nos exemplos vistos, o objeto é exercido por uma
oração que — repetindo — equivale a um substantivo. Como diz o nome, esse tipo de oração funciona como
Você se lembra do que isso significa? Ora, como vimos objeto direto do verbo da oração principal.
no capítulo anterior, as orações que funcionam como
termo de outra são as chamadas orações subordina- Oração principal
das. Logo, podemos dizer que, nesses exemplos, a se-
gunda oração é subordinada substantiva. Ele preferiu não aprender piano.
Existem seis tipos de orações subordinadas substan-
tivas: subjetivas, objetivas diretas, objetivas indire- Oração subordinada substantiva objetiva direta

tas, completivas nominais, predicativas e apositivas.


Agora, vejamos as três primeiras.
Oração principal

Oração subordinada substantiva Ela disse que queria silêncio.


subjetiva
Oração subordinada substantiva objetiva direta
A oração subordinada substantiva subjetiva funcio-
na como sujeito do verbo da oração principal.
Oração principal
Oração principal
Ela percebeu que não estava sozinha.
Quem nasce no Recife é recifense.
Oração subordinada substantiva objetiva direta
Oração subordinada substantiva subjetiva

Oração principal
Oração principal

O vendedor queria saber se o dono da casa estava.


É possível que ele tenha viajado.
Oração subordinada substantiva objetiva direta
Oração subordinada substantiva subjetiva

Oração principal Oração subordinada substantiva


objetiva indireta
Quem gosta de praia precisa conhecer a Bahia.
Esse tipo de oração funciona como objeto indireto do
Oração subordinada substantiva subjetiva
verbo da oração principal.

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BNCC
Oração principal so amarelo. Disse um “obrigado” meio chocho, fingindo
Professor, nesta página você poderá que tinha gostado. Era um livro.
Lembre-se de que o mundo dá muitas voltas. A capa branca trazia o desenho de um menino com
abordar as seguintes habilidades da BNCC: uma bicicleta daquelas bem antigas, que têm a roda da
Oração subordinada substantiva objetiva indireta
frente enorme e a de trás pequenininha. O nome do livro
era Jim e a bicicleta.
Habilidades gerais Àquela altura eu já sabia ler, mas nunca tinha lido
Oração principal uma história grande assim sozinho, do começo ao fim.
EF69LP47 EF69LP53
Dava até um pouco de medo. Mas, para o meu avô não
EF69LP54 Ele não gosta de comprar roupas caras. ficar chateado e também porque, no fundo, eu estava
com uma pontinha de curiosidade, resolvi começar a ler
Oração subordinada substantiva objetiva indireta
o livro depois do jantar.
Habilidades específicas Subi para o mezanino, deitei numas almofadas gos-
tosas que minha mãe tinha feito, deixei uma caixinha
EF09LP04 EF09LP08 Oração principal nova de língua de gato aberta do meu lado e comecei
a leitura. Comecei e não parei mais. Minha irmã foi me
Ela se esqueceu de comemorar o próprio aniversário. convidar para brincar, e eu não quis. Ia passar um pro-
Sugestão de grama bom na televisão, mas também não me deu von-

abordagem
Oração subordinada substantiva objetiva indireta
tade de ver. Só parei de ler quando já tinha passado bas-
tante da minha hora de ir para a cama e meus avós me
chamaram para se despedir.
No dia seguinte, eu não via a hora de chegar em casa
As narrações normalmente trazem mar- Prática linguística e continuar as aventuras do Jim. O livro era um pouco
esquisito, porque era feito em Portugal, e lá eles falam e
cas (pistas) de tempo e de espaço. O texto de
Texto
Arthur Nestrovski está repleto de marcas de
tempo, como Eu tinha 7 anos; Era início de in- O vô Maurício e os livros
verno; Era uma quarta-feira; Nesse dia; No dia Eu tinha 7 anos e estava na segunda série. Era início de
seguinte; etc. Seria interessante chamar a inverno e fazia muito frio em Porto Alegre. Meus pais tinham
feito uma reforma em nossa casa e construído uma espécie
atenção dos alunos para esses aspectos e so- de mezanino — uma sala suspensa, formando a metade de
um segundo andar, do meio até o fim da garagem.
licitar que eles os identifiquem no texto. Era uma quarta-feira. Como é que eu sei? Porque o vô
Os verbos trazem em si diversas infor- Maurício e a vó Luísa iam jantar conosco todas as quar-
tas-feiras. Sempre levavam presentes. Passas de pêsse-
mações, desde seu aspecto até marcas go de Pelotas, por exemplo, que eu adorava. Língua de
gato, meu chocolate predileto. Um time de botão, quem
de modo e de tempo. No texto de Arthur sabe?, ou um álbum de figurinhas.
Nestrovski, há o uso predominante dos Nesse dia, meu avô levou algo especial. Era um pa-
cote pequeno, em forma de retângulo. Achei que fosse
verbos no pretérito perfeito e imperfeito. algum jogo. Rasguei o papel de qualquer jeito para ver
logo o que era. E fiquei com cara de bobo e dei um sorri-
Mostre aos seus alunos que esses tempos
verbais, apesar de fazerem referência ao
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passado, não se referem à mesma fração
de tempo.
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Anotações

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Sugestão de

escrevem diferente de nós. Esquisito ou não, eu só que- a. Podemos afirmar que todos os adultos que o narrador
abordagem
ria saber do Jim. Meu avô teve de me trazer mais um li- conhecia quando menino tinham o hábito de ler? Explique.
vro da série na semana seguinte. E outro na seguinte, e
assim por diante, até completar a coleção.
Não. O narrador fala apenas dos adultos ao seu redor, isto No trabalho com a questão 1, chame a
Nunca mais vi esses livros depois que fiquei gran-
é, adultos com os quais ele convivia quando menino.
atenção para o emprego do passado com-
de. Talvez se eu os visse agora não ia entender por que
gostei tanto. Mas, de todos os livros que já li na vida, posto (o auxiliar ter + particípio), muito co-
nenhum foi mais importante do que Jim e a bicicleta.
mum no português brasileiro.
Gostei mais de outros até, mas nenhum foi tão impor-
tante. Porque foi o que me fez descobrir, por mim mes- b. Antes de ler Jim e a bicicleta, o que o narrador achava
mo, o que era essa coisa estranha que os adultos ao da leitura de um livro completo? Leitura
meu redor estavam sempre fazendo sem que ninguém
mandasse: ler um livro.
Ele achava que era algo estranho.
complementar
NESTROVSKI, Arthur. Arte e manhas da linguagem. vol. 4. Curitiba: Positivo, 2002.
c. Nesse período, o segmento destacado em negrito é
explicado por uma oração. Que oração é essa?
1| O trecho a seguir foi retirado do primeiro parágrafo.
Para mais informações acerca das va-
Ler um livro.
Leia-o com atenção. riadas formas de expressão do passado no
Meus pais tinham feito uma reforma em nossa 4| No texto, o personagem é “seduzido” pelo prazer de português brasileiro, podemos consultar a
casa... ler. Todos os trechos abaixo confirmam isso, de acordo
com o contexto, exceto:
Gramática do português brasileiro, de Má-
Que forma verbal pode substituir corretamente a ex- rio Perini.
pressão destacada? a. “[...] e comecei a leitura. Comecei e não parei
mais.” (sexto parágrafo)
Fizeram.
b. X “[...] resolvi começar a ler o livro depois do jan- Anotações
tar.” (quinto parágrafo)
2| Analisando o texto como um todo, é correto afirmar que: c. “Minha irmã foi me convidar para brincar, e eu
não quis.” (sexto parágrafo)
a. Não incentiva o despertar do prazer pela leitura. d. “[...] eu não via a hora de chegar em casa e conti-
b. Não apresenta um objetivo pedagógico. nuar as aventuras do Jim.” (sétimo parágrafo)
c. Mostra que a leitura é a interpretação do mundo, e. “Esquisito ou não, eu só queria saber do Jim.”
não de livros. (sétimo parágrafo)
d. X Tem como tema o despertar do prazer pela leitura.
e. Defende que a leitura é apenas uma forma de in- 5| Agora leia o trecho a seguir.
terpretação do mundo.
Eu tinha 7 anos e estava na segunda série. (primeiro
3| Agora releia este trecho, retirado do último parágrafo. parágrafo)

Porque foi o que me fez descobrir, por mim mesmo, Acerca da forma verbal destacada, é correto afirmar que:
o que era essa coisa estranha que os adultos ao
meu redor estavam sempre fazendo sem que nin- a. Indica uma noção de tempo passado, por isso
guém mandasse: ler um livro. pode ser substituída por terei, que transmite o
mesmo sentido.

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Diálogo com o
professor b. Transmite uma ideia de fato hipotético, já que o b. Nesse contexto, o que significa um sorriso amarelo?
narrador não tem muita certeza da idade que teria no
Um sorriso forçado, sem graça.
momento do fato.
Este é um bom momento para iniciar c. Se refere a um elemento de 3a pessoa; no caso, o
uma discussão bastante produtiva a res- narrador, que não participa da história. c. Qual foi a primeira impressão que o narrador teve do
d. X Indica uma noção de tempo passado e demons- presente do avô?
peito da importância dos livros para a so- tra que o narrador volta no tempo para relatar algo
Ele achou que fosse um jogo.
que o marcou.
ciedade letrada. Chame seus alunos para
e. Indica uma noção de tempo passado e pode ser
discutir o papel que o livro exerce social- substituída pela forma teria, sem que haja mudança d. O que o levou a fazer essa suposição?
de sentido.
mente, sua relação com o homem, o papel Ele fez essa suposição devido ao tamanho pequeno do

da leitura, o livro como documento histó- 6| O terceiro parágrafo do texto começa com a expres-
pacote e ao seu formato retangular.
são nesse dia, cuja função, no texto, é:
rico, enfim. Como tema gerador, podemos
a. X Voltar a uma informação citada anteriormente;
usar estes versos de Mário Quintana: “Li- no caso, a noção de que era quarta-feira.
vros não mudam o mundo, quem muda o b. Antecipar um fato que ainda será apresentado no e. A oração que fosse algum jogo completa o sentido do
texto; no caso, a noção de que era quarta-feira. verbo achar. Qual é, então, a função sintática exercida
mundo são as pessoas. Os livros mudam as c. Voltar a uma informação citada anteriormente; por ela no período?
no caso, a noção de que era o dia em que o persona-
pessoas”. gem entrara na segunda série. Objeto direto.
d. Antecipar uma ação que ainda será apresentada
Leitura no texto; no caso, a informação de que o avô levara
algo especial ao neto.
8| Ainda com relação ao terceiro parágrafo, analise o pe-

complementar e. Voltar a um fato dito anteriormente; no caso, o


dia em que o avô teve que levar mais e mais livros
ríodo a seguir.

Achei que fosse algum jogo.


para o narrador.

O artigo de Juranice Rodrigues, Que li- 7| Releia o terceiro parágrafo do texto.


Considerando o contexto em que o período ocorre e as
intenções comunicativas do narrador, analise as opções
vros os alunos devem ler?, publicado na a seguir e indique aquela que poderia substituir a ora-
Nesse dia, meu avô levou algo especial. Era um pa-
ção destacada sem alterar o sentido da frase.
edição nº 63 da revista Língua Portuguesa, cote pequeno, em forma de retângulo. Achei que
fosse algum jogo. Rasguei o papel de qualquer jeito
traz uma interessante reflexão acerca da para ver logo o que era. E fiquei com cara de bobo e
a. Que realmente era um jogo.
b. X Que se tratava de um jogo.
seleção dos livros para os alunos. dei um sorriso amarelo. Disse um “obrigado” meio
c. Que era meu jogo preferido.
chocho, fingindo que tinha gostado. Era um livro.
d. Que não fosse nada importante.

Anotações a. Nesse parágrafo, o narrador faz certo mistério sobre


e. Que era um bom presente.

o que ganhou, de fato, do avô Maurício, até revelar que


foi um livro. Que termos são utilizados por ele para se 9| Embora não seja uma regra, muitas vezes podemos
referir ao presente misterioso? transformar as orações subordinadas substantivas em
substantivos. Para isso, devemos observar o verbo uti-
Algo especial, um pacote pequeno, algum jogo.
lizado na oração. Veja.

44 Língua Portuguesa – 9o ano

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44 Manual do Educador

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Sugestão de
abordagem
Os povos primitivos observaram que as estrelas se
movem no céu.
É hora de produzir
Para facilitar o entendimento da refle-
Os povos primitivos observaram o movimento das
Antes de começar a escrever xão proposta na seção Antes de começar
estrelas no céu.
O humorista e desenhista ar- a escrever, seria interessante levar para a

Reprodução
Agora, leia os períodos a seguir e transforme as orações gentino Joaquín Salvador Lavado,
sala de aula algumas tirinhas de Quino (ou
subordinadas substantivas destacadas em substantivos. ou simplesmente Quino, começou
a publicar as tiras de Mafalda, sua o próprio livro, Toda Mafalda: da primeira à
a. É necessário que se adiante a data da festa. personagem mais importante e fa-
mosa, em 1964. Produziu até 1973, última tira) em que aparecem as persona-
É necessário o adiantamento da data da festa.
quando, segundo ele, percebeu gens Liberdade e Burocracia, para que os
que já tinha dito tudo o que queria
b. Convém que se superem todas as dificuldades. com a personagem e seus colegui- alunos possam associar mais facilmente
nhas. O grande feito de Mafalda é
Convém a superação de todas as dificuldades.
a maneira como ela percebe e interpreta o mundo. Embora
seu nome às suas características.
seja uma criança, ela tem opiniões extremamente críticas Talvez seja necessário exemplificar esta
10| Agora, você fará o inverso do exercício anterior: transfor- sobre a realidade e se preocupa bastante com os problemas
me os termos substantivos em orações substantivas. do mundo e de seu país: a Argentina. Por exemplo: duran- proposta de produção selecionando uma
te os quase dez anos em que foram publicadas as tirinhas
a. Os manifestantes exigiam transparência do governo (1964–1973), o mundo vivia em intensos conflitos, como o
das palavras dadas. Por exemplo: caso es-
na negociação. autoritarismo dos governos militares, a tensão da Guerra colhesse a palavra muro, o aluno poderia
Fria, a absurda Guerra do Vietnã, a explosão do consumis-
Os manifestantes exigiam que o governo fosse transpa-
mo, etc. Assim, todos esses eventos foram temas das tiri- criar externamente uma cena em que um
nhas de Quino, sempre de maneira muito crítica e reflexiva.
rente na negociação. personagem vem caminhando por uma tri-
Para você ter uma ideia, esse posicionamento crítico a
respeito da realidade da época era representado até mes- lha repleta de armadilhas e, de repente,
b. É necessário o aproveitamento de fontes alternativas mo no nome de alguns personagens. É o que acontece,
de energia. por exemplo, com a menina Liberdade e a tartaruguinha depara-se com um muro que o impede de
É necessário que fontes alternativas de energia sejam
de estimação de Mafalda, que ela nomeou simplesmente prosseguir. Paralelamente, desenvolve-se
de Burocracia. Liberdade foi desenhada como uma me-
nina cujo corpo era minúsculo, exatamente como era, na a narrativa psicológica, em que os elemen-
aproveitadas.
época, o direito das pessoas de serem livres. Já o nome
da tartaruga representava a lentidão com que os órgãos
tos externos podem ser transpostos subje-
NikoNomad/Shutterstock.com

estatais realizavam suas ações. Para conhecer melhor es- tivamente para a narrativa interna. Assim,
ses personagens e se divertir com suas histórias, confira
o livro Toda Mafalda: da primeira à última tira. Será uma a trilha perigosa pode ser entendida como
ótima oportunidade para dar umas boas gargalhadas e
ter uma aula de crítica inteligente.
a vida, repleta de situações difíceis. Inde-
Esse recurso de explorar a duplicidade de sentido pendentemente dessas provações, conti-
das palavras já foi empregado de forma muito engenho-
sa por alguns autores na produção de contos psicológi- nuamos vivendo, até que, um dia, depa-
cos. E é isso que você vai fazer agora.
ramo-nos com um terrível obstáculo (o
muro). O que fazer?
Língua Portuguesa – 9o ano 45

Diálogo com o
7:17:39 FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 45 26/02/2020 17:17:39
professor
BNCC Para enriquecer a proposta, seria in-
Professor, nesta página você poderá abordar as seguintes habilidades da BNCC: teressante levar para a sala de aula mais
exemplos de palavras cujo significado
Habilidades gerais Habilidades específicas pode despertar a narrativa psicológica.
EF69LP44 EF89LP32
EF69LP46 EF89LP35
EF69LP47 EF09LP04
EF69LP51 EF09LP11
EF69LP54
EF69LP56

Língua Portuguesa – 9º ano 45

ME_FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 45 03/03/2020 08:04:49


Anotações
Proposta
Aspectos analisados Sim Não
Agora, você produzirá um conto psicológico para
ser lido em uma roda de leitura. Nesse texto, você de- O conto está baseado na duplici-
verá explorar a duplicidade de sentido de uma pala- dade de sentido da palavra esco-
vra. Mesmo que essa duplicidade não seja aparente, lhida na proposta?
você poderá fazer como Quino, que criou uma perso-
Há duas narrativas entrelaçadas
nagem pequenina com o nome de Liberdade, justa-
(uma exterior e outra interior)?
mente para criticar a falta de liberdade que marcou
aquela época. A realidade exterior e a interior es-
A seguir, sugerimos algumas palavras para facilitar tão caracterizadas?
sua criatividade. Você poderá escolher uma delas ou
O texto está claro?
utilizar outra.
É possível ao leitor diferenciar o
espinho vida aurora céu que é exterior do que é interior?
estrela luz verdade esperança Há um conflito psicológico?
joaninha pena muro calor

Leitura Planejamento Aprofundamento do gênero 2


complementar Como seu texto será um conto psicológico, será ne- Conto psicológico
cessário definir, primeiramente, quais serão as duas
narrativas que você fará em uma só. Lembre-se de que
Escrever em/um fluxo de consciência Antes de começar a ler
uma dessas narrativas abordará a realidade exterior; e
a outra, a realidade interior, psicológica. Para ajudar no
é como instalar uma câmera na cabeça O conto que vamos ler a seguir foi escrito por Malthus de
seu planejamento, defina os pontos a seguir. Queiroz, um contista cearense de grande habilidade. Nesse
da personagem, retratando fielmente sua conto, Malthus criou um verdadeiro labirinto psicológico para
1. Como serão a realidade exterior e a interior? contar a história de um homem que retorna à sua cidade natal
imaginação, seus pensamentos. Como o 2. Como o protagonista do conto entrará em contato
vinte anos depois e lá reencontra Dulcineia, sua namorada da
infância, agora diretora da escola onde estudaram. Na lancho-
pensamento, a consciência não é ordena- com seu interior? nete localizada em frente à escola, o homem toma três copos
3. Que personagem será antagonista? d’água enquanto relembra sua história com Dulcineia, uma re-
da, o texto-fluxo-de-consciência também 4. Como se dará o conflito psicológico? lação marcada por sentimentos intensos.
5. Como esse conflito será resolvido?
não o é. Presente e passado, realidade e 6. Além desses pontos, é muito importante você ob-
desejos, anseios e reminiscências, falas e servar o uso das orações subordinadas substantivas
na construção da sua narração. Elas podem ajudar Três copos d’água
ações se misturam na narrativa num jor- bastante você a narrar os fatos…
Cheguei àquela pequena cidade por volta das 16 ho-
ro desarticulado, descontínuo, numa sin- ras da segunda — o céu e seu estranho alaranjado, ter-
taxe caótica, apresentando as reações ín- Avaliação ras aquietadas no pé das serras do Agreste. A viagem
tinha sido tranquila, poucos carros. O meu cansaço de
timas da personagem fluindo diretamente 1. Para avaliar seu texto, faça uma releitura observan- meses de trabalho repousou momentos, quanto silên-
do os aspectos seguintes. cio depois de o nosso nome ter ido embora.
da consciência, livres e espontâneas.
É como se o autor “largasse” a persona-
46 Língua Portuguesa – 9o ano
gem, deixando-a entregue a si mesma, às
suas divagações, resultando um texto que
lembra a associação livre de ideias, de fei- FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 46 26/02/2020 17:17:40

tio incoerente, desconexo, sem os nexos zão por que o texto se apresenta sem pará- Barca dos Homens) e Clarice Lispector (Per-
ou enlaces sintáticos de um texto “bem grafos, sem pontos, ininterrupto; numa pa- to do Coração Selvagem; A Hora da Estrela).
comportado”. lavra, caótica.
É como se fosse um depoimento, a ex- Na literatura universal, os grandes SCARTON, Gilberto (2002). Guia de pro-
pressão livre, desenfreada, desinibida, mestres desta técnica são James Joyce dução textual: assim é que se escreve.
ininterrupta, difusa, alógica de pensamen- (Ulysses), Virgínia Woolf (Mrs. Dalloway) e Porto Alegre: PUCRS, Fale/GWEB/Pro-
tos e emoções, muitas vezes de uma mente William Faulkner (O Som e a Fúria; Enquanto grad, [2002].
conturbada e atônita. agonizo).
No fluxo de consciência, o pensamento Em nosso meio, entre tantos escrito- Disponível em: http://gilbertoscarton.blogspot.com/2016/01/

simplesmente flui, pois, a personagem não res, poderiam ser citados Antônio Callado guia-de-producao-textual-como-escrever.html?m=0. Acesso

pensa de maneira ordenada, coerente, ra- (Assunção de Salviano), Autran Dourado (A em: 24/05/2019.

FC

46 Manual do Educador

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Parei o carro na frente da escola. Lembro-me dela Outro dia igual a outro dia. E outros se passariam,
e dos meninos correndo, depois das aulas, meus olhos água, tua mão delicada se despedindo sem um movi-
como folhas secas levadas pelo vento das memórias. O mento, pessoas, dormia e voltava como um sonho. Era
papel timbrado na mão, com a logo da empresa, parecia um sonho rever minha cidade, o Agreste e sua fala, água
o meu caderno, as tarefas feitas sempre no dia anterior, revirada. Encontraria Dulcineia no outro dia.
minha mãe, meu chefe, meus clientes... Será que o por- Quando amanheceu, contei vinte piados de passari-
tão faria o mesmo ruído daquele dia em que me formei, nhos diferentes.
um ruído de palavras estranhas. — Oi, eu sou o novo fornecedor. Vim do Recife, antes
— Bom dia. Eu venho falar com a diretora, D. Dulcineia. de ontem, mas não te encontrei.
— Ela não está. Só volta amanhã. Era ela, eu tinha certeza. Parecia morrer nesta esqui-
Sentei-me na lanchonete em frente, saíra da faculda- na, mas não; apenas se enlaçava a uma vida que eu não
de cheio de ideias revolucionárias, aquela camisa que mais conhecia, tanto tempo longe, o pé da serra de Dul-
eu te dei quando parti. Pedi água, nada menos que vinte cineia, que terminava no beco, sempre antes das oito.
anos sem ver essa rua. Muito mudou, mas eu sabia onde Seu pai nunca gostou de mim, “o novo fornecedor”.
estavam as coisas, a vendinha de seu Neno, a namorada Dulcineia me olhou desconfiada, assustada com
eterna de minha infância que morava descendo o beco, toda aquela novidade. Ofereceu água, tomei café em
era pobre, mais um copo d’água e vou-me embora. sua casa, descendo o beco, despindo-a para sempre de
Entrei novamente no carro com o timbrado na mão, minha solidão, entrando mais fundo no que eu tomava
um tanto de esperança esquecida. Lembrei do assalto; posse — cansaço depois vinho. Tantas vezes. Voltava
àquela hora, eu dormia, dormia, dormia, sede da tua uma vez por muitas vezes, e muitas vezes que eu voltas-
sede de vida, um tiro de raspão. Dormia. se não me saciaria o preço de uma vez.
— D. Dulcineia está? “Quis vir te buscar há mais tempo”, agora trago estes
— Ainda não. Mas tem a dona Clécia, que pode aju- produtos para a escola, minha comissão sustentará bem
dar. Quer falar com ela? a família e a faculdade, estou terminando Administra-
— Não, não. Tem que ser com a Dulcineia mesmo. ção. Fascinava-a a minha volta, queria água, eu e Dul-
Obrigado. cineia novamente juntos, como nos tempos de criança,
timbrado agora nosso amor. Desde cedo, aprendi a cru-
zar caminhos.
Partimos dois meses depois de vinte anos, trinta e
cinco eu, dois tiros.
— Levaram a bolsa.
Levaram. Levaram a bolsa de Dulcineia.
Agora volto, os mesmos vinte anos. Nosso filho me
pergunta que escola é aquela. Não consigo dizer o
nome. Ainda vendo produtos escolares, tenho carro e
7:17:40
flores que deixo em tua casa, como se ela fosse o beco, a
descida. Quisera, como quisera!
Tantas coisas eu queria, o tempo nunca deixa. Qui-
sera arrancar da terra toda a seiva do teu corpo, assistir
aos filmes do Cine Bajado, que escola era aquela, uma
criança sempre corre após as aulas, homens encontram
seus destinos ao fugir deles, um copo d’água sempre e
nunca mata a sede. E já não me lembro como se chama
amor de alma, só de mulher.

Língua Portuguesa – 9o ano 47

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Língua Portuguesa – 9º ano 47

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BNCC
Parei o carro no mesmo lugar, vinte anos após vinte
Professor, nesta página você poderá anos são como outro dia igual a outros dias. Descemos, Vocabulário
abordar as seguintes habilidades da BNCC: eu e meu filho.
— Pai, você quer que eu tente resolver sozinho, para
desconhecido
ver se eu estou afiado? Utilizando pistas do próprio texto, estruturas, ilustra-
Olhei a escola como se olhasse uma estrada. O tem- ções ou mesmo fontes externas, como dicionários, cons-
Habilidades gerais po nunca nos leva para longe de nós mesmos. trua o sentido das palavras seguintes.
— Vai lá, filho. Resolve isso pra gente.
EF69LP44 EF69LP47 Que ficaram quietas, calmas.
— Deixa comigo. Aquietadas –
EF69LP53 EF69LP54 Na lanchonete em frente, pedi uma água.
Descidas, inclinações.
— Essa aqui não era a lanchonete do seu Inácio? Declives –
O homem me disse que era seu pai, tinha falecido há
Habilidades específicas muito tempo.

EF89LP33 EF89LP37
— E o senhor é quem?
— Alguém que tinha morado aqui há muito tempo,
Desvendando os
EF09LP04
perto do beco — agora um copo de água para aca- segredos do texto
bar a conversa. — Tenho uma empresinha no Recife,
cinquenta e cinco anos não é nada, é só uma rua que 1| No texto, o narrador relembra alguns momentos sig-
nificativos vivenciados. Cite, pelo menos, um momento
Diálogo com o se segue, um prédio, mudança de casa, assalto sem-
pre tem, Dulcineia, Dulcineia... Aquele tiro acidental, significativo.

professor nunca aceitei que me tomassem as coisas, principal-


mente as que conquistei sozinho. Mas já vendi a arma.
Sugestão de resposta: o namoro do protagonista com
Nunca mais reagi.
Dulcineia.
Meu filho se encostou a mim no balcão.
É importante comentar que a fragmen- — Pronto, resolvido. O cheque vai ser depositado
amanhã, a nota fiscal eu envio por e-mail. Tem que ligar 2| No primeiro parágrafo, o personagem relata que a
tação é a qualidade do texto de se apresen-
pro Sérgio pra ele reservar a mercadoria. Tá aqui a lista, viagem tinha sido tranquila. Conforme seu entendimen-
tar em fragmentos, ou seja, em pequenas os dados da escola, o nome da diretora e tudo mais. to do texto, o que motivou essa viagem?
O nome da diretora. Nome são nomes, nunca no
ações, em partes; e simultaneísmo ocorre singular. Fiquei orgulhoso do meu filho, a escola eu
O narrador trabalhava em uma empresa de material es-

quando diferentes ideias são postas ao mes- podia olhar, eram ainda quatro da tarde, cinquenta e
colar e foi fornecer produtos para a escola onde estudou
cinco anos, duas casas alugadas, um tiro no abdome,
mo tempo no texto, normalmente por meio três copos d’água, a bolsa de Dulcineia perdida. Juro
quando criança.
que mirei neles.
de conectivos aditivos. Essas duas caracte- Calculei que três horas depois estaria no Recife.
rísticas são próprias do fluxo da consciência. Nunca saí de lá, apesar de tudo. Conheço meus decli- 3| No texto de Malthus de Queiroz, podemos atribuir
ves, evito as sombras das plantas regadas por ela, parei dois sentidos à palavra timbrado. Quais são esses
com o cigarro a pedido do médico, ainda tomo vinho. significados?
Anotações Abriram uma rua no antigo beco, que dava para a BR.
A palavra ora é usada para qualificar um documento da
Era inevitável seguir por ali. Reconheci a casa, mudada.
Algumas coisas continuam, e a saudade é esta rua, que empresa de material escolar do personagem, ora é usa-
passa e permanece. da para qualificar o amor entre ele e Dulcineia. Neste
caso, seria um amor definitivo, sério, permanente, com
QUEIROZ, Malthus Oliveira de. Três copos d’água e outros contos. Recife:
Moenda Editorial. No prelo.
a mesma validade de um documento.

48 Língua Portuguesa – 9o ano

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Sugestão de Neste conto, é evidente o tom memoria-


abordagem lístico na narrativa. A partir disso, você pode
trabalhar com outros textos, além de con-
Durante a leitura do conto Três copos tos, que trazem essa relação entre literatu-
d’água de Malthus de Queiroz, chame a ra e memória. Para isso, sugerimos o livro
atenção dos alunos para alguns pontos Dois irmãos, de Milton Hatoum, uma narra-
em que o processo inferencial desempe- tiva feita em primeira pessoa na perspecti-
nha um papel importante para a constru- va de um personagem secundário, Nael, que
ção do sentido, por exemplo, os três copos busca sua origem. É possível explorar o pas-
de água que sugerem certo desespero do sado pessoal e coletivo, com suas histórias,
personagem. acontecimentos e particularidades.

48 Manual do Educador

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teresses e outros fatores, tais como co-
nhecimentos do leitor, gênero e forma de
4| O conto Três copos d’água se caracteriza pelo conflito 6 O narrador-personagem volta à cidade com seu
entre o personagem-narrador e seus anseios, seus de- filho quarenta anos depois. textualização. Por isso, a compreensão
sejos e suas memórias. Que nome damos a esse tipo de 1 O narrador-personagem volta à cidade e reencon-
conflito na Literatura? tra Dulcineia.
de texto é uma questão complexa que en-
Conflito psicológico, ou conflito interno.
3 O narrador-personagem e Dulcineia têm um filho. volve não apenas fenômenos linguísticos,
5 O narrador-personagem opta por continuar viven-
do na cidade do Recife. mas também antropológicos, psicológicos
5| Retire do texto passagens que remetam à memória 2 Dulcineia reconhece o narrador-personagem; eles
e factuais. As inferências lidam com as re-
do narrador. reiniciam o romance interrompido quando ele foi embo-

Sugestões de resposta: “Lembro-me dela e dos meninos


ra da cidade. lações entre esses conhecimentos e muitos
4 Dulcineia morre no assalto.
outros aspectos.
correndo, depois das aulas, meus olhos como folhas se-
A sequência correta é:

cas levadas pelo vento das memórias.”; “Muito mudou,


a. X 6–1–3–5–2–4. MARCUSCHI, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêne-
b. 1–3–6–2–4–5.
mas eu sabia onde estavam as coisas [...]”; “Lembrei do ros e compreensão. São Paulo: Parábola, p. 249.
c. 5–6–3–1–2–4.
d. 5–6–2–4–3–1.
assalto [...]”.
e. 6–1–3–2–5–4. Anotações
6| Com relação ao conto Três copos d’água, assinale a 8| Analise as propostas abaixo, atribuindo-lhes V para
alternativa incorreta. verdadeiro ou F para falso.

a. O conflito gira em torno de um narrador-perso- I. F O conto é narrado em primeira pessoa, e o nar-


nagem que se defronta com lembranças ao retornar à rador é onisciente. Pode-se perceber isso devido aos
sua cidade natal. verbos flexionados na primeira pessoa do discurso
b. O conto é narrado em primeira pessoa. Por esse (eu) e pelo fato de o narrador conseguir relembrar
motivo, a visão dos fatos fica condicionada à maneira todos os fatos relevantes da trama.
como o narrador os interpreta. II. V O conto é narrado em primeira pessoa, sendo
c. O narrador vive no Recife e foi à sua cidade natal a ordem dos fatos apresentada de forma caótica e
a trabalho. não linear.
d. A narração não segue uma cronologia temporal, III. V O texto apresenta um narrador-protagonista, pois o
e sim um tempo psicológico. Assim, não fica claro o narrador é também o personagem principal da história.
que é passado e o que é presente. IV. V A subjetividade é uma das características dos
e. X A narração não segue uma cronologia tempo- contos psicológicos, pois apresenta a trama segun-
ral, mas ainda assim é bastante clara a definição dos do a visão do narrador.
fatos passados e presentes.
A sequência correta é:
7| O tempo da narrativa se refere ao encadeamento
dos fatos, que nem sempre apresenta uma ordem cro- a. V-V-F-F.
nológica linear (passado–presente–futuro) na narra- b. X F-V-V-V.
tiva. Com base nisso, enumere as colunas a seguir de c. V-V-V-V.
forma que a sequência temporal do conto Três copos d. F-F-F-V.
d’água fique linear. e. F-F-V-F.

Língua Portuguesa – 9o ano 49

7:17:40 FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 49 26/02/2020 17:17:40

Leitura gras embutidas no processo. Não se pode,


complementar pois, definir e medir a compreensão pela
quantidade de texto reconstruído pelo lei-
A contribuição essencial das inferências tor, pois ler compreensivamente não é ape-
na compreensão de textos é funcionarem nas reproduzir informações textuais, nem
como provedoras de contexto integrador parafrasear. Isto seria o mesmo que supor
para informações e estabelecimento de que compreender um texto seria traduzi-lo
continuidade do próprio texto, dando-lhe em outro equivalente, de modo unívoco, já
coerência. As inferências funcionam como previsto pelo original.
hipóteses coesivas para o leitor processar Na compreensão influenciam condi-
o texto. Funcionam como estratégias ou re- ções textuais, pragmáticas, cognitivas, in-

Língua Portuguesa – 9º ano 49

ME_FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 49 03/03/2020 08:04:51


BNCC
9| A linguagem literária tem mais liberdade formal e não 12| Analise as afirmações a seguir.
Professor, nesta página você poderá se prende a elementos fixos, como ocorre com outros ti-
pos de linguagem. Fazendo uma comparação da lingua- I. Dulcineia foi assassinada por bandidos em um assalto.
abordar as seguintes habilidades da BNCC: gem do conto com a de um texto jornalístico, que diferen- II. De acordo com a leitura do texto, podemos dizer
ças você apontaria entre elas? que o narrador-personagem sente saudade e culpa
ao recordar sua história com Dulcineia.
Habilidades gerais Resposta pessoal. No entanto, o aluno, a seu modo,
III. O filho do narrador, ao acompanhá-lo em mais
deve atentar para algumas diferenças mais notórias,
uma visita à escola, teria aproximadamente 25
EF69LP56 como subjetividade do texto literário e objetividade do
anos de idade.
texto jornalístico; não relação com a veracidade do tex-
to literário e a obrigação de veracidade do texto jorna-
Está correto o que se afirma apenas em:
Habilidades específicas lístico; busca por um leitor não específico do texto lite-
rário e busca por um leitor específico do texto jornalís-
EF09LP04 tico; intenção de causar prazer na leitura e intenção de
a. I.
b. X II.
informar.
EF09LP05 c. III.
d. I e II.
EF09LP06 10| A subjetividade da linguagem literária permite que o e. II e III.
EF09LP08 narrador informe um fato sem, no entanto, descrevê-lo.
Com base nisso, indique a passagem do texto que suge- 13| Para você, o conflito apresentado no texto foi resol-
EF09LP11 re a morte de Dulcineia. vido? Justifique sua resposta.

“[...] um tiro no abdome, três copos d’água, a bolsa de Resposta pessoal. No entanto, sendo a narrativa forte-
Sugestão de
abordagem
Dulcineia perdida. Juro que mirei neles.” mente marcada pelo sentimento de saudade e pela cul-

pa, o último parágrafo sugere que o conflito não foi re-


11| Segundo as pistas deixadas pelo narrador-perso-
nagem do texto, qual a sua idade quando ele saiu pela
solvido, tendo em vista que o narrador-personagem, ao
Ao responder à questão 11, chame a primeira vez de sua cidade e qual a sua idade quando re-
tornou pela última vez? Explique como podemos identi-
atenção dos alunos para a forma verbal ficar essas informações no texto.
comparar o sentimento da saudade com a BR, afirma

mirei, que deixa claro que o narrador-per- No início do conto, ele afirma que passou “vinte anos que ambas passam e permanecem, ou seja, é um senti-
sonagem causou a morte de Dulcineia com sem ver essa rua”, e após reencontrar Dulcineia, dois
meses depois de ter retornado, ele diz: “partimos dois mento que está sempre o acompanhando.
um tiro acidental ao reagir ao assalto. Essa meses depois de vinte anos, trinta e cinco eu”. Ou seja,
se ele passou vinte anos sem ver a cidade e agora tinha
informação será útil para identificar como trinta e cinco, quando saiu da cidade pela primeira vez
verdadeiro o item II da questão 12, ou seja, tinha quinze anos. Quando retorna à cidade pela última
vez, ou seja, quarenta anos depois, ele indica a sua ida-
o narrador sente saudade e culpa ao relem- de no seguinte trecho: “Fiquei orgulhoso do meu filho, a
escola eu podia olhar, eram ainda quatro da tarde, cin-
brar a sua história com Dulcineia.
quenta e cinco anos, duas casas alugadas [...]”.
Ainda considerando a questão 12, co-
mente com os alunos que o filho do nar-
rador só poderia ter, no máximo, 20 anos
50 Língua Portuguesa – 9o ano
de idade quando o acompanhou na visita
à escola.
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Anotações

50 Manual do Educador

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tica em uma sala de aula, implica sempre
reflexão sobre a linguagem, formulação de
Análise hipóteses sobre a constituição e funciona-
linguística mento da língua. Quando nos envolvemos
em situações de interação, há sempre re-
Orações subordinadas substantivas (2) flexão (explícita ou não e, neste caso, auto-
Leia a tirinha. mática) sobre a língua, pois temos de fazer
corresponder nossas palavras às do ou-
tro para nos fazer entender e para enten-
der o outro. Impossível, pois, usar a língua
e aprender a língua sem reflexão sobre ela.
Esse é um ponto importante para a propos-
ta que estruturamos.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos (2006). Gramática e interação: uma pro-

posta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, p. 107.

Sugestão de
1. Agora, analise este período.

Serafim, cheguei à conclusão de que você realmente não sabe escrever.


abordagem
Retire desse período o termo de que você realmente não sabe escrever. O que acontecerá com o sentido do Para as questões da seção Análise lin-
período?
guística, propomos estas respostas:
2. Considerando a sua resposta ao item anterior, identifique a função sintática do termo retirado do período.
1. O período ficará com sentido
incompleto.
Oração subordinada substantiva completiva nominal
2. Complemento nominal.
Muitas vezes, durante a nossa comunicação, utilizamos algumas palavras de sentido incompleto. Na primeira parte
deste capítulo, vimos que essa é uma característica de alguns verbos, os chamados verbos transitivos. Para se com-
pletarem semanticamente, esses verbos necessitam, portanto, de complementos verbais.
No entanto, essa necessidade semântica não é restrita aos verbos. Existe uma porção de nomes (substantivos abs- Anotações
tratos, adjetivos e advérbios) que têm sentido incompleto, isto é, exigem um complemento nominal, uma função
sintática exercida geralmente por substantivos.

Língua Portuguesa – 9o ano 51

7:17:40 FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 51 26/02/2020 17:17:41

Repensando o ensino da de enunciados” e aprender “um conjunto


Gramática de máximas ou princípios” de como cons-
truir um texto oral (participando de uma
Ao ensinarmos gramática, queremos levando em conta os interlocutores possí-
que o aluno domine a língua, para ter uma veis e os objetivos que se tem ao dizer, bem
competência comunicativa nessa língua, como a própria situação de interação como
mas, como diz Geraldi (1993: 16–17), é pre- elementos pertinentes nessa construção e
ciso entender que dominar uma língua não no estabelecimento do efeito de sentido
significa apenas incorporar “um conjunto que acontece na interação comunicativa.
de itens lexicais (o vocabulário)”; aprender Aprender a língua, seja de forma natural
“um conjunto de regras de estruturação no convívio social, seja de forma sistemá-

Língua Portuguesa – 9º ano 51

ME_FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 51 03/03/2020 08:04:52


Anotações
Observe este período, retirado do primeiro quadri- Analisando esse período, percebemos que o predica-
nho da tira: tivo é exercido por uma expressão que tem como núcleo
um substantivo (homem). No entanto, esse termo po-
Nome com sentido incompleto deria ser desempenhado por uma oração, formando um
período composto. Veja.
Serafim, cheguei à conclusão de que você
realmente não sabe escrever. Verbo de ligação (ser)

Oração subordinada substantiva completiva nominal


Eu sou o homem com que você sonha.

Oração principal Oração subordinada


Observe que, nesse exemplo, o complemento nomi- substantiva
predicativa
nal de conclusão é uma oração (de que você realmente
não sabe escrever). Como essa oração exerce uma fun-
ção sintática em relação à outra (cheguei à conclusão), Como, nesse período, o predicativo é exercido por
é classificada como subordinada. Considerando que a uma oração, temos uma oração subordinada substan-
função de complemento nominal é típica dos substan- tiva predicativa. Veja outro exemplo.
tivos, temos, portanto, um exemplo de oração subor-
dinada substantiva completiva nominal. Veja outro
Sua esperança era a vitória do time.
exemplo desse tipo de oração a seguir.
Predicativo
Nome com sentido incompleto

O pai do menino tinha certeza de que ele estava


rezando. Sua esperança era que o time vencesse.

Oração subordinada substantiva completiva nominal Oração subordinada substantiva predicativa

Oração subordinada substantiva Oração subordinada substantiva


predicativa apositiva
Como vimos na primeira parte deste capítulo, os Agora, analise o período simples abaixo.
verbos transitivos são aqueles que necessitam de
um complemento verbal. Agora, veremos um outro Eu só tinha um desejo: seu respeito.
tipo de verbo, o verbo de ligação, que é incapaz de
exercer transitividade. Esses verbos são assim cha- Nesse caso, seu respeito (que é um termo substanti-
mados porque apenas ligam o sujeito ao seu predi- vo) desempenha a função de aposto, ou seja, é um ter-
cativo. Observe. mo que especifica o sentido de um desejo. Esse aposto
poderia ser desenvolvido em uma oração.
Verbo de ligação (ser)

Eu sou o homem dos seus sonhos. Eu só tinha um desejo: que você me respeitasse.

Sujeito Predicativo Oração subordinada substantiva apositiva

52 Língua Portuguesa – 9o ano

Leitura
complementar FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 52 26/02/2020 17:17:42 FC_L

Ela descobriu que os bem-te-vis faziam tagma nominal é capaz de exercer, a sa-
Orações substantivas o ninho na amendoeira. ber: sujeito (oração subjetiva), objeto dire-
Quem saísse por último apagaria as to (oração objetiva direta), complemento
Chamam-se orações substantivas os luzes. relativo (oração completiva relativa), com-
sintagmas nominais resultantes de trans- plemento predicativo (oração predicativa),
posição de uma oração. • Podem apresentar o verbo no infiniti- complemento nominal (oração completiva
vo — orações reduzidas: nominal) e aposto (oração apositiva).
Características formais Eles preferiram voltar da festa a pé.
• Podem vir anunciadas por um trans- AZEREDO, José Carlos de (2008). Gramática Houaiss da

positor e apresentar o verbo em forma fini- Características funcionais língua portuguesa. São Paulo: Publifolha/Instituto Antônio

ta — orações desenvolvidas: Exercem as mesmas funções que o sin- Houaiss, p. 310.

52 Manual do Educador

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o caminho que pode levar a sociedade bra-
sileira a definir seu próprio rumo e o modo
Veja outro exemplo: Mas, embora a gente se pense tão moderno, não é o
que acontece. Alunos (e filhos) questionadores podem de ele movimentar-se.
Só pensava nisto: vencer na vida. ser um embaraço. Preferimos nos tornar membros da
vasta confraria da mediocridade, que cultua o mais fá-
A linguagem já não é vista apenas como
Oração subordinada substantiva apositiva cil, o mais divertido, o que todo mundo pensa ou faz, e instrumento para organizar o pensamento
abafa qualquer inquietação.
Por sorte nossa, aqui e ali aquele olho da angústia nem apenas como meio de comunicação.
Prática linguística mais saudável entreabre sua pesada pálpebra e nos en-
Ela é reconhecida como forma de ação,
cara irônico: como estamos vivendo a nossa vida, esse
breve sopro... e o que realmente pensamos de tudo isso processo de estabelecer vínculos, de criar
Texto
— se por acaso pensamos?
compromissos entre interlocutores. Não
Pensar é viver
LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. pp. 177–178.
estamos mais num conclave ideal em que
Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador para
Vocabulário cada erudito discursador enuncia seu pen-
entender a vida: ela é confusão mesmo. A gente avança
no escuro, teimosamente, porque recuar não dá. Nesse desconhecido samento a respeito da questão em pauta,
labirinto, a gente encontra o fio de um afeto, pontos de na certeza de absoluta impunidade, pois a
criatividade, explosões de pensamento ou ação que nos Utilizando pistas do próprio texto, estruturas, ilustra-
iluminem por um momento que seja. Coisas que nos ções ou mesmo fontes externas, como dicionários, cons- plebe lá fora não entende nada do que está
justifiquem enquanto seres humanos. trua o sentido das palavras seguintes.
Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo
sendo proferido. Não estamos mais na di-
Que não são nossas.
faz algum sentido e que nós precisamos descobrir — ou Alheias – tadura dos competentes, que articulam di-
inventá-lo. Qualquer pessoa pode construir a sua “filo-
sofia de vida”. Qualquer pessoa pode acumular vida in- Esquizofrênico –
Que demonstra perda de unidade da daticamente as palavras de ordem a serem
terior. Sem nenhuma conotação religiosa, mas ética: o
personalidade. comunicadas à classe média embasbacada
que valho, e os outros, o que valem para mim? O que es-
tou fazendo com a minha vida, o que pretendo com ela?
Passar além; atravessar; desobedecer.
com um discurso tão científico (para a clas-
Essa capacidade de refletir, ou de simplesmente Transgredir –
aquietar-se para sentir, faz de nós algo além de cabides se média, pois a plebe continua não enten-
Tarefa difícil ou desagradável.
de roupas ou de ideias alheias. Sempre foi duro vencer Empreitada – dendo nada) […].
o espírito de rebanho, mas esse conflito se tornou es-
Anormalidade; esquisitice; irregula-
quizofrênico: de um lado, precisamos ser como todo Excentricidade – E nisso vai uma questão fundamental
mundo, é importante adequar-se, ter seu grupo, perten-
cer; de outro lado, é necessário preservar uma identida-
ridade. para a prática de escrever: composição
de e até impor-se, às vezes transgredir, para sobreviver.
Irmandade; associação. pressupõe leitores iguais ao autor, que
[…] Confraria –
Dura empreitada, num momento em que tudo pare- vão aplaudir a riqueza do vocabulário ou
Qualidade dos que não têm destaque;
ce colaborar para que se aceitem modelos prontos para Mediocridade –
servir. Pensamento independente passou a ser excen-
o virtuosismo com que o pronome oblíquo
pequenez espiritual.
tricidade, quando não agressão. Família, escola e so- é colocado, ou, em outro gênero, a rique-
ciedade deviam desenvolver o distanciamento crítico e
a capacidade de avaliar — e questionar — para poder 1| Todos os textos têm uma função comunicativa, isto za da rima.
escolher. é, por meio deles alguém expressa informações, críticas,
Redação pressupõe leitores que vão
executar os comandos. Produção de tex-
Língua Portuguesa – 9o ano 53
to pressupõe leitores que vão dialogar com
o texto produzido: concordar e aprofundar
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ou discordar e argumentar, tomando o tex-
Leitura isto é, de organizar, mas de produzir, trans- to como matéria-prima para seu trabalho.
complementar formar, mudar, mediante a ação humana,
o estado da natureza com vistas a um inte- GUEDES, Paulo Coimbra (2009). Da redação à produção

Produção de texto expressa a ação de resse humano. textual: o ensino da escrita. São Paulo: Parábola, pp. 89–90.

escrever textos como um trabalho entre Contemporâneo da crise econômica da


outros: cultivar a terra, pastorear cabras, segunda metade dos anos 1970, o termo
consertar sapatos, dar aulas, apertar produção de texto revela a generalizada
Anotações
parafusos numa linha de montagem ou desconfiança das soluções milagrosas ge-
desapertá-los num ferro velho, engessar radas em inodoros gabinetes tecnocráticos
pernas quebradas. Não se trata de compor, e aponta para a produção concreta, para o
isto é, de juntar com brilho, nem de redigir, trabalho direto com a matéria-prima como

Língua Portuguesa – 9º ano 53

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etc. Pensando nisso, explique qual foi a intenção comu- 5| Releia o trecho a seguir, retirado do segundo parágra-
nicativa de Lya Luft ao escrever esse texto. fo, e responda às questões propostas.
A intenção da autora foi fazer uma reflexão sobre o que
é a vida para ela. Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo
faz algum sentido […]
2| Ainda considerando a intenção comunicativa da autora,
podemos dizer que, nesse texto, ela defendeu pontos de vis- a. Qual é a função do termo destacado?
ta, contou uma história ou expôs informações sobre a vida?
Completar o sentido do verbo acreditar, sendo, portan-
Ela defendeu seus pontos de vista a respeito da vida.
to, oração subordinada substantiva objetiva direta.
3| Transcreva, do primeiro parágrafo do texto, dois subs-
tantivos que expressem o que a vida é para Lya Luft. b. Se substituíssemos o termo destacado por no senti-
do da vida, haveria mudança significativa de sentido?
Confusão e labirinto.
Não.
4| O período a seguir foi retirado do primeiro parágrafo
do texto. 6| (Colégio Pedro II) Leia atentamente o trecho destaca-
do do texto.
Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador
para entender a vida: ela é confusão mesmo. Sempre foi duro vencer o espírito de rebanho, mas
esse conflito se tornou esquizofrênico: de um lado,
Agora, analise estas afirmações: precisamos ser como todo mundo, é importante
adequar-se, ter seu grupo, pertencer; de outro
I. O termo em destaque é uma oração que esclarece o lado, é necessário preservar uma identidade e até
sentido do termo vida, expresso anteriormente. impor-se, às vezes transgredir, para sobreviver.
II. O termo destacado funciona, sintaticamente, como
complemento do nome vida. Pode-se resumir o conflito citado acima em duas pa-
III. A oração em destaque expressa um dado muito im- lavras: adequação e transgressão. Em outras passa-
portante para a compreensão do texto: o que a vida gens do texto, há expressões que podem ser associa-
significa para a autora. das a cada um desses lados conflitantes. Relacione-os
IV. A repetição da palavra nenhum e o uso de mesmo e numere os quadrados, obedecendo ao seguinte có-
contribuem enfaticamente para a defesa de um digo:
ponto de vista.
V. O verbo entender necessita de um termo que lhe 1 Adequação.
complete o sentido. No período, esse complemento 2 Transgressão. FC_L

é exercido por uma oração.


VI. Podemos dizer que receita e facilitador, no contex- A seguir, assinale a opção com a ordem correta.
to, têm sentidos equivalentes.
1 “cabides de ideias alheias”
Estão corretas: 2 “pontos de criatividade”
a. I, II e V. b. II, III e VI. 2 “pensamento independente”
c. II, IV e V. d. X I, III, IV e VI. 1 “espírito de rebanho”
e. Todas. 2 “explosões de pensamento”

54 Língua Portuguesa – 9o ano

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54 Manual do Educador

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BNCC
a. 2 – 1 – 1 – 2 – 1.
Professor, nesta página você poderá
b.
c.
2 – 1 – 2 – 1 – 2.
1 – 2 – 1 – 1 – 1.
É hora de produzir
d. X 1 – 2 – 2 – 1 – 2.
abordar as seguintes habilidades da BNCC:
e. 1 – 2 – 1 – 1 – 2.
Antes de começar a escrever
7| (Colégio Pedro II) Leia a frase retirada do texto. A seguir, você vai analisar a sinopse do enredo de um Habilidades gerais
conto psicológico muito conhecido: Eu estava ali deita-
EF69LP44 EF69LP46
Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo do, do escritor mineiro Luiz Vilela.
faz algum sentido e que nós precisamos descobrir EF69LP47 EF69LP51
— ou inventá-lo. O conto traz duas narrativas paralelas: uma exterior
(aparente) e outra interior (psicológica). Na primei- EF69LP54 EF69LP56
O pronome oblíquo lo refere-se a que termo? ra, Carlos está deitado em sua cama. Ele observa
as coisas que estão ao seu redor: as roseiras que vê
O pronome refere-se a sentido.
pela janela, as venezianas, etc. Está sofrendo devido Habilidades específicas
ao fim de seu relacionamento com Miriam (narrativa
interior). Sua mãe o procura no quarto, preocupada
EF89LP32 EF89LP35
com seu desânimo. Oferece almoço, mas ele rejeita. EF09LP04 EF09LP11
8| Quando estivermos analisando orações subordinadas A mãe e o pai de Carlos almoçam em silêncio. De-
substantivas, é preciso muito cuidado para não confun- pois, o pai vai até o quarto de Carlos, procura con-
dir as objetivas indiretas com as completivas nominais. versar com ele e o convida para um passeio, mas ele Sugestão de
abordagem
Para isso, é necessário levar em conta o termo que está também não aceita. O pai sai, e Carlos continua dei-
sendo completado: se é um verbo ou um nome. Abaixo, tado, pensando em Miriam. Para tentar esquecê-la,
alistamos algumas orações. Entre elas, apenas uma é ele conta até quinhentos, recorda o nome de todas
completiva nominal. Assinale-a. as capitais do Brasil e da Europa, relembra o nome
de diversos rios e montanhas, se remexe na cama
Comente que as narrativas com viés
a. Ela me convenceu de que eu devo ir à escola. várias vezes. No final do conto, Carlos se surpreende
b. Não duvido de que você seja capaz. novamente olhando as roseiras e as venezianas da psicológico são marcadas principalmen-
c. Lembre-se de que tudo passa. janela, exatamente como no início do conto.
d. X Temos certeza de que você vai gostar da nova te pelo esforço do autor em tornar com-
casa. preensíveis as motivações por trás de atos
e. Os idosos necessitam de que cuidemos deles. Proposta
e escolhas visivelmente incoerentes dos
9| Assinale a alternativa abaixo em que a oração desta- Como você certamente percebeu, no enredo desse
cada exerce a função apositiva. conto de Luiz Vilela a narrativa se passa com pouquís-
personagens.
simas ações. Destacam-se o monólogo interior que o
a. Haverá corte do fornecimento de água em todos personagem central (Carlos) trava consigo mesmo e seu
os bairros se persistirem as ações delinquentes. estado psicológico, de prostração total devido ao fim de
b. Informei-o de que já mudei meus objetivos. seu relacionamento com Miriam (narrativa paralela). Anotações
c. Fabiana, que era a melhor aluna da sala, su- Agora, sua missão será produzir um conto psicológi-
preendentemente não passou no vestibular. co com base nesse enredo, procurando realizar as duas
d. A mãe falecerá sem saber do que houve na noite narrativas propostas (uma exterior, outra psicológica).
anterior com a filha. Importante: elabore outro conflito psicológico para o
e. X Deixei-lhes claro meu objetivo: ser a melhor em tudo. personagem protagonista. Ao final do trabalho, produza

Língua Portuguesa – 9o ano 55

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17:42

Língua Portuguesa – 9º ano 55

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BNCC
um título para o seu conto e, com os colegas e o pro-
Professor, nesta página você poderá fessor, leia o conto de Luiz Vilela, que trabalharemos no A escrita em
Encerramento deste capítulo.
abordar as seguintes habilidades da BNCC: foco
Planejamento
Habilidades gerais O primeiro passo para planejar seu conto é definir o
Pontuação das orações
EF69LP44 EF69LP46 enredo, isto é, deixar clara a progressão: começo, meio e subordinadas substantivas
fim. Para produzir o seu conto com mais facilidade, pen-
EF69LP47 EF69LP53 se nas questões abaixo. Leia a charge abaixo.

EF69LP54 1. Como será a situação inicial do conto?


2. Como serão os personagens secundários?
3. Qual será o conflito psicológico vivenciado por Carlos?
Habilidades específicas 4. Como será o desenlace desse conflito?
5. Procure caracterizar física e psicologicamente o seu
EF89LP32 EF89LP33 protagonista, mostrando ao leitor como ele está se
EF89LP37 EF09LP04 sentindo.
6. Quem será o antagonista? O que ele fará para atingir
o protagonista e desencadear a narrativa interior?
7. Como será o ambiente em que se desenvolverá toda

Anotações a cena?
1. A produção do humor sempre está ligada à quebra
Avaliação de expectativa do interlocutor. Seja em uma piada,
seja em quadrinhos, o humor ocorre justamente
1. Peça a um colega para avaliar seu conto. A avalia- porque o que esperávamos acontecer não aconte-
ção deverá contemplar os pontos seguintes. ce. Essa quebra de expectativa procura sempre um
desfecho que, além de inesperado, seja surpreen-
Aspectos analisados Sim Não dente. Pensando nisso, discuta com o professor e
com a turma como se dá o humor nessa charge.
O texto está compreensível?
2. Na charge, podemos identificar a ocorrência de três
O conto apresenta duas narrativas orações apositivas que esclarecem o sentido das
simultâneas, uma exterior e uma cores utilizadas no semáforo. Indique em qual des-
interior? sas orações há um sentido de obrigatoriedade.
A narração se passa em apenas 3. Qual dessas orações apositivas expressa proba-
uma cena? bilidade?
Os personagens estão bem carac-
terizados? Nessa charge, como você percebeu, as orações você
O personagem principal enfren- pode seguir, você deve ter atenção e você pode ser
tou um conflito psicológico? assaltado equivalem a apostos que esclarecem o sen-
tido dos nomes verde, amarelo e vermelho, respecti-
Há um antagonista?
vamente. Na charge, o autor utilizou dois-pontos para
O conflito psicológico teve um separá-las dos nomes aos quais se referem, mas poderia
desfecho? ter utilizado, também, o travessão.

56 Língua Portuguesa – 9o ano

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Sugestão de
abordagem
Para as questões de seção A escrita em rado, ou seja, que, no Brasil, parar no sinal
foco, propomos estas respostas: vermelho é perigoso.
1. A quebra da expectativa se dá justa- 2. “Você deve ter atenção”.
mente no desfecho da fala do pai do garo- 3. “Você pode ser assaltado”.
to. No semáforo, a cor vermelha indica que Professor, nessas duas últimas ques-
o motorista deve parar. No entanto, essa tões é importante discutir com a turma a
simbologia é ignorada pelo personagem importância semântica dos modalizadores
em benefício de um ponto de vista inespe- dever e poder nas orações em questão.

56 Manual do Educador

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BNCC
Todo ser humano tem direito à moradia, à alimenta- Professor, nesta página você poderá
ção, à saúde.
Verde — você pode seguir.
abordar as seguintes habilidades da BNCC:
Amarelo — você deve ter atenção. Nesse caso, as vírgulas separaram os termos a mo-
Vermelho — você pode ser assaltado! radia, a alimentação e a saúde, que exercem a função
sintática de complemento nominal. Habilidades gerais
Em um texto dissertativo, como um artigo de opinião,
EF69LP05
por exemplo, esses termos poderiam ser desenvolvidos
em orações subordinadas substantivas completivas no- EF69LP56
Assim, podemos dizer que as orações subordinadas minais na intenção de conferir mais força ao ponto de
substantivas apositivas são separadas da oração princi- vista apresentado. Logicamente, a pontuação se man-
pal por dois-pontos ou por travessão. teria. Veja. Habilidades específicas
Já para pontuar os outros tipos de oração substanti-
va, não há grandes problemas. Basta lembrar que essas Todo ser humano tem direito a viver em uma casa EF09LP04
orações exercem funções sintáticas e, portanto, seguem digna, a alimentar-se adequadamente, a ter sua
a principal regra de pontuação, ou seja, não se separam, saúde preservada.
EF09LP08
por nenhum sinal de pontuação: EF09LP11
• O sujeito do seu predicado. A escrita em
• O verbo dos seus complementos (objeto direto e
questão Diálogo com o
professor
objeto indireto).
• O verbo de ligação do predicativo do sujeito.
• Um substantivo, um adjetivo ou um advérbio do
seu complemento (complemento nominal).
1| Imagine que você está produzindo um conto psicoló-
gico e que acabou de escrever o parágrafo seguinte.
Nesse caso, a oração principal é Aqui no
Como dissemos, essa regra deve ser seguida ao uti- Acordou preocupado com as dívidas, com o pouco
lizarmos, na escrita, as orações subordinadas substan- dinheiro, com a falta de trabalho. O que mais o in- Brasil, filho, as cores do semáforo significam
tivas. Assim: comodava era o desespero de não conseguir o que
queria: a sensação de paz. Passava horas pensando o seguinte. No contexto, os sinais verde,
• Uma oração subordinada substantiva subjetiva
não deve ser separada por sinal de pontuação da
nisso. De vez em quando esquecia, por um segundo,
mas logo voltava ao pensamento inicial. Não en-
amarelo e vermelho (junto às orações apo-
oração principal. contrava saída. sitivas a eles referidas) esclarecem o sen-
• A s orações objetivas diretas e objetivas indiretas
não se separam do verbo cujo sentido completam. Ao reler o parágrafo, você percebeu que poderia ser bem
tido do termo o seguinte, exercendo, por-
• A s orações predicativas não se separam do verbo
de ligação.
mais expressivo no seu conto, detalhando mais os pen-
samentos, as ações, o desespero do personagem. Ora,
tanto, a função de aposto.
• A s orações completivas nominais não se separam
do nome cujo sentido completam.
esse problema pode ser resolvido de maneira muito
interessante por meio do uso de orações subordinadas Anotações
substantivas. Pensando nisso, reescreva esse parágrafo
Além disso, é preciso lembrar, também, outra regra transformando em orações substantivas os termos des-
de pontuação muito importante: na escrita, separamos tacados em negrito. Use sua criatividade. Ao final, você
por vírgulas termos que exercem a mesma função sintá- verá como seu texto ficará mais atraente para seu leitor.
tica. Veja. Em tempo: observe a pontuação. Resposta pessoal.

Língua Portuguesa – 9o ano 57

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Língua Portuguesa – 9º ano 57

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Encerramento

Antes de começar a ler


No texto que você vai ler agora, o estranhamento característico dos contos psicológicos está bastante aparente. Neste conto, o núcleo
narrativo está centrado num impressionante monólogo interior de um garoto chamado Carlos. As ações são rápidas e mostram um perso-
nagem completamente inserido em seu universo social e psicológico.
Neste conto, o escritor mineiro Luiz Vilela utilizou uma técnica com que buscou imitar a lógica do pensamento, com monólogo interior,
palavras soltas, etc. Os críticos literários definem essa técnica como fluxo de consciência. Observe também que o fluxo de consciência do
personagem é facilitado pelo discurso indireto livre.

Eu estava ali deitado


Luiz Vilela

eu estava ali deitado olhando através da vidraça as roseiras no jardim


fustigadas pelo vento que zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto e de repente
cessava e tudo ficava tão quieto tão triste e de repente recomeçava e as roseiras
frágeis e assustadas irrompiam na vidraça
eu estava ali o tempo todo olhando estava em minha cama com a minha
blusa de lã as mãos enfiadas nos bolsos os braços colados ao corpo as
pernas juntas
estava de sapatos Mamãe não gostava que eu deitasse de sapatos
deixe de preguiça menino! mas dessa vez eu estava deitado de sapatos e ela viu
e não disse nada ela sentou na beirada da cama e pousou a mão em meu joelho
e disse você não quer mesmo almoçar?
eu disse que não não quer comer nada? eu disse que não nem uma
carninha assada daquelas que você gosta? com uma cebolinha de folha lá da
horta um limãozinho uma pimentinha ela sorriu e deu uma palmadinha no
meu joelho e eu também sorri mas eu disse que não não estava com a menor
fome nem uma coisinha meu filho? uma coisinha só? eu disse que não e
então ela ficou me olhando e então ela saiu do quarto eu estava de sapatos
e ela não disse nada ela não diria nada meus sapatos engraxados bonitos
brilhantes
ele não quer comer nada? ouvi Papai perguntando e Mamãe decerto só
balançou a cabeça porque não a ouvi responder e agora eles estavam comendo
em silêncio os dois sozinhos lá na mesa em silêncio o barulho dos garfos a
casa quieta e fria e triste o vento zunindo lá fora e nas venezianas de meu
quarto
— você precisa compreender isso Carlos
— não posso Miriam
— não daria certo
— não daria certo?
— nossos temperamentos não combinam

58 Língua Portuguesa – 9o ano

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58 Manual do Educador

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— não é verdade
— assim será melhor para nós dois
não Miriam não é verdade Miriam não é certo Miriam não pode Miriam não
pode não pode! ó meu Deus não pode
Papai estava parado à porta pensei que você estivesse dormindo
ele disse eu sorri que vento hem! ele disse e eu olhei para a vidraça e lá
estavam as roseiras frágeis e assustadas fustigadas pelo vento este mês de
junho é terrível ele disse ele estava parado no meio do quarto estava de
paletó e gravata e pulôver esfregava as mãos eu vou lá no Jorge você não
quer ir também? ele ficou olhando para mim esperando não Papai dar
uma volta não obrigado você vai virar sorvete aí dentro ele brincou e eu ri
e ele riu e então ficou sério de novo esfregava as mãos fiquei com pena
dele eu sabia que ele queria me dizer alguma coisa sabia quase o que ele
queria me dizer Mamãe devia ter dito a ele Artur chama o Carlos para dar uma
volta e ele dissera isso mas agora era diferente era ele mesmo que queria me
dizer alguma coisa e estava atrapalhado ficava atrapalhado quando queria
conversar certas coisas com um filho e então esfregava as mãos não era
por causa do frio Carlos eu sei o que você está sentindo ele disse eu sei
como é é muito aborrecido mesmo mas há coisas piores sabe?
eu olhei para ele e então ele abaixou a cabeça e de novo estava
atrapalhado e de novo eu fiquei com pena dele eu sei que você gostava muito
dela eu sei eu sei que isso é muito aborrecido mas ele olhou para mim
não se preocupe Papai eu disse não precisa se preocupar não é nada eu
sei mas você não almoçou eu estava sem fome pois é e então nós
dois ficamos calados ele tirou o relógio do bolso e olhou as horas você não
quer ir mesmo no Jorge? ele perguntou e eu disse que não então ele saiu do
quarto ouvi ele abrindo o portão e depois os passos dele na calçada o vento
zunia lá fora

Língua Portuguesa – 9o ano 59

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Língua Portuguesa – 9º ano 59

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eu estava olhando para os meus sapatos ela gostava deles assim
engraxados bonitos brilhantes você é tão cuidadoso Carlos como gosto
de você você não pode calcular o tanto que eu gosto de você se te
acontecesse alguma coisa se te acontecesse alguma coisa eu não sei o que
eu faria mas não vai acontecer nada bem vai? não não vai não pode se
te acontecesse alguma coisa acho que eu morreria eu gosto demais de você
demais
fechei os olhos e contei até quinhentos e recordei os nomes de todas as
capitais do Brasil e da Europa e recordei os nomes de dezenas de rios e dezenas
de montanhas e deitei de bruços e deitei do lado direito e deitei do lado esquerdo
e deitei de bruços outra vez e pus o travesseiro em cima da cabeça e pus o
travesseiro debaixo da cabeça e apertei a cabeça contra a parede e apertei mais
ainda a cabeça contra a parede e apertei tanto a cabeça contra a parede que ela
doeu e então virei de costas outra vez e enfiei as mãos nos bolsos colei os
braços ao corpo juntei as pernas abri os olhos
e estava de novo olhando através da vidraça as roseiras frágeis e assustadas
fustigadas pelo vento que zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto
VILELA, Luiz. No bar. Rio de Janeiro: Bloch, 1968. 2ª edição. São Paulo: Ática, 1984, pp. 13-15.

Vocabulário Aprenda mais


desconhecido Quem é Luiz Vilela?
Luiz Vilela nasceu em Ituiutaba (MG), em 1942. Estreou na
Utilizando pistas do próprio texto, estruturas, ilustra-
literatura aos 24 anos, com a coletânea de contos Tremor de ter-
ções ou mesmo fontes externas, como dicionários, cons- ra, que lhe garantiu o Prêmio Nacional de Ficção. Foi premiado
trua o sentido das palavras seguintes. também no I e no II Concurso Nacional de Contos, do Paraná, e
recebeu ainda o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro,
Castigadas. para o melhor livro de contos do ano, com O fim de tudo. Suas
Fustigadas –
obras já foram traduzidas em quinze países.
Em 2003, a TV Cultura
Do verbo zunir; zumbir. Escaneie o QR CODE.
Zunia – produziu um programa cha-
mado Contos da meia-noite,
Do verbo cessar; parar. que exibiu uma adaptação
Cessava – de Eu estava ali deitado, com
o ator Matheus Nachtergaele
Do verbo irromper; invadir de repente.
Irrompiam – no papel de Carlos. Confira o
vídeo no link ao lado.
Certamente.
Decerto –
1| Nesse conto, as ações são bastante condensadas no
Espécie de suéter, agasalho sem mangas, que
Pulôver – tempo. Quanto dura, mais ou menos, a narrativa?

se veste sobre a camisa. A narrativa dura alguns minutos.

60 Língua Portuguesa – 9o ano

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60 Manual do Educador

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2| No conto, temos a sensação de que a mãe de Carlos 6| Releia o trecho a seguir.
está bastante preocupada com ele. Isso fica claro no
comportamento dela. Carlos sempre faz algo que ela — você precisa compreender isso Carlos
reprova e, nesse dia, ele tornou a fazê-lo, mas ela não o — não posso Miriam
reprovou. O que ele fez? — não daria certo
— não daria certo?
Ele deitou de sapatos na cama.
— nossos temperamentos não combinam
— não é verdade
3| Voltando à questão anterior, o que a mãe de Carlos costu- — assim será melhor para nós dois
mava dizer para repreendê-lo quando ele fazia isso? não Miriam não é verdade Miriam não é certo
Miriam não pode Miriam não pode não pode! ó
Deixe de preguiça, menino!
meu Deus não pode

4| Por que os pais de Carlos parecem preocupados com ele? a. No conto, percebemos que o sentimento predomi-
nante é o de tristeza do narrador. A personagem Miriam
Porque ele está triste, por causa do fim de seu relacio-
tem algo a ver com esse sentimento? Explique.

namento com Miriam, provavelmente sua namorada, e Sim, pois a tristeza de Carlos se deve ao fato de Miriam

não quer comer. ter terminado o relacionamento com ele.

5| Releia o trecho a seguir, retirado do quarto parágrafo b. Transcreva o termo que o narrador utiliza para ex-
do texto. pressar seu lamento.

“ó meu Deus”
nem uma carninha assada daquelas que você gosta?
com uma cebolinha de folha lá da horta um limão-
zinho uma pimentinha? 7| No conto, Carlos relembra dois momentos vivencia-
dos com Miriam. Que momentos são esses?
a. Que personagem profere essas falas?
O momento em que ela termina o relacionamento com
A mãe de Carlos.
ele de maneira fria e o momento em que ela, apaixona-
b. Transcreva as palavras que estão no grau diminutivo.
da, confessa seu amor por ele.
Carninha, cebolinha, limãozinho, pimentinha.

c. O que essas palavras flexionadas no diminutivo suge-


rem a respeito da personagem que as fala? 8| Na questão anterior, você apontou dois momentos
que Carlos vivenciou com Miriam. Qual desses momen-
Sugestão: Essas palavras sugerem o carinho com que a
tos aconteceu primeiro?

mãe falava com o filho, devido à preocupação que tinha O momento em que ela confessa morrer de amores por

com ele. ele.

Língua Portuguesa – 9o ano 61

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Língua Portuguesa – 9º ano 61

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Sugestão de
abordagem 9| O texto procura representar um fluxo de consciên- b. Transcreva o período em que o narrador sugere saber
cia, ou seja, a livre associação de ideias do narrador- por que o pai aparentava certo nervosismo.
-personagem. Aponte dois recursos expressivos, pre-
Na seção Mídias em contexto, propomos sentes no texto, que foram empregados com essa
Sugestões de resposta: “sabia quase o que ele queria

algumas questões para reflexão coletiva da finalidade.


me dizer” ou “não era por causa do frio”.
turma. As respostas a seguir são sugestões: Dois recursos expressivos são a falta de pontuação e o
polissíndeto (repetição da conjunção e), que revelam a
a) As lembranças são fixadas no cérebro fragmentação e o simultaneísmo próprios do fluxo de
consciência.
junto com um estado de humor. Todas as 12| Nesse conto, o autor optou por utilizar pouquíssi-
10| Cite, do texto, um exemplo do discurso da mãe inse- mos sinais de pontuação e separar frases por meio de
recordações que temos, sejam elas boas ou rido no fluxo de consciência do narrador. lacunas. De que forma essa tática facilita a aproximação
ruins, trazem consigo sentimentos. Sugestões: “deixe de preguiça, menino!” e “você não
entre o leitor e o narrador?

Essa tática aproxima leitor e narrador, pois possibilita


b) Apesar de preferirmos os momentos
quer mesmo almoçar?”.
alegres, todas as emoções são importan- uma leitura ritmada com o fluxo de consciência do nar-

tes. Assim, é preciso saber usá-las da me- 11| Agora, releia o trecho a seguir.
rador-personagem.
lhor forma possível diante dos desafios. Papai estava parado à porta pensei que você estava
dormindo ele falou eu sorri que vento hem! ele fa- 13| No último parágrafo do conto, Carlos se surpreende
c) No filme, Alegria procura o tempo in- lou e eu olhei para a vidraça [...] ele estava parado no novamente olhando as roseiras e as venezianas, exata-
teiro ignorar Tristeza. No entanto, há mo- meio do quarto estava de paletó e gravata de pulôver mente como no início da narrativa. O que essa volta ao
esfregava as mãos eu vou lá no Jorge você não quer ir começo do conto sugere para o leitor?
mentos em que a melancolia é necessária também? ele ficou olhando pra mim esperando não
Essa volta ao início da narrativa sugere que ela se repetirá.
papai dar uma volta? não obrigado você vai virar
para enfrentarmos as dificuldades que sur-
sorvete aí dentro ele brincou e eu ri e ele riu e então
gem em nossa vida. ficou sério de novo esfregava as mãos fiquei com 14| Carlos é o protagonista desse texto de Luiz Vilela. Que
pena dele eu sabia que ele queria me dizer alguma personagem é seu antagonista?
d) Esses sentimentos nos livram de pe- coisa sabia quase o que ele queria me dizer Mamãe
Miriam.
rigos. O medo faz com que não corramos devia ter dito a ele Artur chama o Carlos para dar uma
volta e ele dissera isso mas agora era diferente era
riscos desnecessários, e o nojo não deixa ele mesmo que queria me dizer alguma coisa e estava
atrapalhado ficava atrapalhado quando queria con-
comer algo estragado, por exemplo. É fun- versar essas coisas com um filho e então esfregava as
damental equilibrar essas emoções para mãos não era por causa do frio Carlos eu sei o que Mídias em
não incorrermos em exageros, como ter
você está sentindo ele falou eu sei como é é muito
aborrecido mesmo mas há coisas piores sabe?
contexto
medo de tudo ou achar que toda comida a. Nesse trecho, vemos a cena em que o pai encontra 1| Neste capítulo, vimos como a caracterização psicoló-
está ruim. Carlos no quarto. Algo sugere que o pai não está à von- gica dos personagens é importante para a construção do
tade. Que gesto seu denuncia isso? texto narrativo. Do mesmo modo, essa caracterização é
e) A felicidade exagerada nos faz perder fundamental, também, para obras audiovisuais baseadas
O gesto de esfregar as mãos.
na narração, como filmes. Uma das melhores obras au-
a noção das coisas. É como se tudo fosse
melhor do que a realidade. No filme, a per-
62 Língua Portuguesa – 9o ano
sonagem Alegria não cansa de ver as coisas
com extremo otimismo — mesmo quando
a situação exige um pouco de medo, triste- FC_Língua_Portuguesa_9A_02.indd 62 26/02/2020 17:17:43 FC_L

za, nojo ou raiva.


Anotações
f) A raiva tem o potencial de indignar e
corrigir possíveis injustiças. Mais uma vez,
é fundamental equilibrar os sentimentos:
na medida certa, a raiva estimula a pessoa
a (se) defender; mas, se ultrapassa os limi-
tes, ela torna a pessoa destrutiva.
g) São as memórias que definem gran-
de parte da nossa personalidade. No filme,
as memórias-base são esferas que guar-
dam momentos especiais da vida de Riley.

62 Manual do Educador

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BNCC
diovisuais que abordam claramente essa temática é o vencedor do Oscar Divertida Mente (Disney/Pixar, 2015), que conta
a história de Riley, uma garota divertida, de 11 anos, que tem de enfrentar várias mudanças em sua vida quando se muda Professor, nesta página você poderá
com a família para uma cidade longínqua. No cérebro da menina, convivem cinco emoções — Alegria, Tristeza, Medo,
Raiva e Nojo —, responsáveis por processar as informações e armazenar as memórias. A líder dessas emoções é Alegria,
abordar as seguintes habilidades da BNCC:
que procura o tempo inteiro fazer com que a vida de Riley seja feliz. Entretanto, uma confusão na sala de controle faz com
que ela e Tristeza sejam expelidas da mente da menina. A partir daí, elas precisam percorrer as várias ilhas existentes nos
pensamentos de Riley para conseguir retornar à sala de controle. Enquanto isso não Habilidades gerais
acontece, a vida da garota muda radicalmente. O desenho foi dirigido pelo cineasta
EF69LP44
e produtor de cinema norte-americano Pete Docter, que procurou ajuda de psicólo-
gos e neurologistas para preparar o brilhante roteiro. EF69LP46
Com seus colegas e seu professor, assista ao filme Divertida Mente, procurando enten- EF69LP47
der como se constitui a mente da personagem Riley. Nessa reflexão, analise e opine. EF69LP53
a. Qual a relação entre as memórias e as emoções? EF69LP54
b. Existe sentimento pior ou melhor, ruim ou bom?
c. No contexto do filme, a tristeza é necessária?
EF69LP56
d. Qual a importância do medo e do nojo para a nossa vida?
e. Por que sentir muita alegria é ruim? Como podemos perceber isso no filme?
f. Por que sentir raiva é importante? Habilidades específicas

Divulgação.
g. No filme, o que são as memórias-base? Qual é a importância delas para nós?
EF89LP32
EF89LP33
Outras fontes
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Como fazer um conto O escritor Luiz Vilela, Adolescentes da rede Contos da Meia-Noite – EF09LP04
psicológico? autor do conto viram “cineastas” de O conto Gringuinho, de
Quais as principais psicológico Eu estava ali contos psicológicos Samuel Rawet, aborda a EF09LP08
características do gênero? deitado, fala sobre sua Estudantes da Escola realidade de adaptação
Confira o vídeo, no código relação com a leitura e Básica Virgílio dos Reis das crianças estrangeiras
abaixo, que traz dicas seu método de trabalho. Várzea, em Canasvieiras, e os conflitos familiares
sobre a estruturação No final do vídeo, ele Florianópolis, produziram e sociais aos quais
desse gênero literário,
além de renomados
lê o conto psicológico
Ninguém, do livro Tremor
11 vídeos sobre a
temática.
sobreviveram. Anotações
autores. de Terra.

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