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CLASSICISMO

Etec Professor Camargo Aranha


Profa. Vanessa Giron
O Classicismo corresponde a um
movimento artístico-cultural que
ocorreu durante o período do
Renascimento (a partir do século
XV) na Europa.

O nome do movimento que marca o


fim da Idade Média e o início da
Idade Moderna faz referência aos
modelos clássicos (greco-romanos).

No campo da literatura, Classicismo


é o nome dado aos estilos literários
que vigoravam no século XVI, na
época do Renascimento. Por isso, a
produção desse período também é
chamada de Literatura
Renascentista.
O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli.
Contexto Histórico

Na Idade Média, período que durou dez séculos (V ao XV), o principal


atributo da sociedade era a religião.
Esse momento esteve marcado pelo teocentrismo, cujo lema eram os
dogmas e preceitos da Igreja Católica, que cada vez mais adquiria
fiéis.
Assim, pessoas que estivessem contra ou questionassem esses
dogmas eram excomungados, além de sofrerem alijamento da
sociedade, ou em último caso, a morte.
O Humanismo, que surgiu a partir do século XV na Europa, começou
a questionar diversas questões uma vez que o cientificismo
despontava.
Muitos estudiosos foram capazes de propor novas formas de análise do mundo e
da vida, que estivessem além do divino, ou seja, apresentavam questões
baseadas na racionalidade humana e no antropocentrismo (homem no centro do
mundo).
Esse momento esteve marcado por grandes transformações e descobertas
históricas:
• as Grandes Navegações;
• a Reforma Protestante (que levou a uma crise religiosa) encabeçada por
Martinho Lutero;
• a invenção da Imprensa pelo alemão Gutenberg;
• o fim do sistema feudal (início do capitalismo);
• o cientificismo de Copérnico e Galileu.
Foi nesse contexto que as pessoas buscavam novas expressões artísticas
pautadas no equilíbrio clássico.
Assim, surgiu o renascimento cultural, período de grandes transformações
artísticas, culturais, políticas e que se espalhou por todo o continente europeu.
Classicismo em Portugal

Em Portugal, o Classicismo compreende o período literário do


século XVI (entre 1537 e 1580). O marco inicial do movimento foi
a chegada do poeta Francisco Sá de Miranda a Portugal.

Ele se inspirou no Humanismo italiano e trouxe para Protugal


uma nova forma de poesia: o “dolce stil nuevo” (doce estilo
novo).
Esse novo modelo estava baseado na forma fixa do soneto (2
quartetos e 2 tercetos), nos versos decassílabos e na oitava rima.
No entanto, foi a partir de Luís de Camões, um dos maiores poetas
portugueses e da literatura mundial, que a literatura portuguesa
ganha notoriedade.

Sua grande obra "Os Lusíadas” (1572) é uma epopeia classicista


onde ele narra a viagem de Vasco da Gama às Índias. Ela foi escrita
em 10 cantos e está composta de 8816 versos decassílabos em
oitava rima distribuídos em 1120 estrofes.

O Classicismo em Portugal permaneceu teve seu fim em 1580. Esse


é o ano da morte de Camões e também da União das Coroas
Ibéricas, aliança estabelecida até 1640 entre Espanha e Portugal.
Características do Classicismo

As principais características do Classicismo são:
• Valorização da antiguidade clássica;
• Antropocentrismo;
• Universalismo;
• Racionalismo;
• Cientificismo;
• Paganismo;
• Objetividade;
• Equilíbrio;
• Harmonia;
• Rigor formal;
• Mitologia greco-romana;
• Ideal platônico e de beleza.
Principais autores e suas obras

Na literatura portuguesa o autor que recebe


destaque é Luís Vaz de Camões, com sua obra “
Os Lusíadas”. Já na Espanha, 
Miguel de Cervantes (1547-1616) com sua obra “
Dom Quixote” (1605).
Destacam-se também os escritores italianos:
•Dante Alighieri 1265-1321), com sua obra mais
popular, “A Divina Comédia” (1555);
•Francesco Petrarca (1304-1374), pai do
Humanismo e inventor do soneto;
•Giovanni Boccacio (1313-1375), com sua obra
“Decamerão” (1348).
Camões épico
Os Lusíadas é uma das obras mais
importantes da literatura de língua
portuguesa. Foi escrita pelo poeta
português Luís Vaz de Camões e
publicada em 1572.
Ela foi inspirada nas obras clássicas
“Odisseia”, de Homero, e “Eneida”, de
Virgílio. Ambas são epopeias que
narram as conquistas do povo grego e
dos romanos.
No caso de Os Lusíadas, Camões narra
as conquistas do povo português na
época das grandes navegações.
Estrutura da Obra
Os Lusíadas é um poema épico (gênero narrativo), o qual está
dividido em dez cantos.
É composto de 8816 versos decassílabos, sendo a maioria
decassílabos heroicos (as sílabas tônicas são a 6ª e a 10ª) e 1102
estrofes de oito versos (oitavas). As rimas utilizadas são cruzadas
e emparelhadas (ABABABCC).
A obra está dividida em 5 partes:
•Proposição: introdução da obra com apresentação do tema e
dos personagens (Canto I).
•Invocação: nessa parte o poeta invoca as ninfas do Tejo (Canto
I) como inspiração.
•Dedicatória: parte em que o poeta dedica a obra ao rei Dom
Sebastião (Canto I).
•Narração: o autor narra a viagem de Vasco da Gama e os feitos
realizados pelos personagens (Cantos II, III, IV, V, VI, VII, VIII e
IX). Capa da primeira edição de Os
•Epílogo: conclusão da obra (Canto X). Lusíadas
A epopeia, escrita em dez cantos, tem como tema as navegações ultramarinas
do século XVI, as grandes conquistas do povo português e a Viagem de 
Vasco da Gama às Índias. A mitologia greco-romana e o Cristianismo são temas
recorrentes na obra.

A narrativa inicia-se com a frota de Vasco da Gama navegando em direção ao


Cabo da Boa Esperança, estremo sul da África.
A epopeia termina com o encontro dos viajantes e as musas na Ilha dos Amores.
Os principais episódios da obra são:
• Inês de Castro (Canto III);
• Velho do Restelo (Conto IV);
• Gigante Adamastor (Canto V);
• Ilha dos Amores (Canto IX).
Resumo dos cantos
Canto 1 – Indicações do assunto que vai ser abordado (os feitos heroicos dos
portugueses e a glorificação da nação).  O eu lírico invoca as musas do Tejo,
dedica o poema a D. Sebastião, exortando-o a tornar-se o terror dos mouros da
África.  Começa a narrativa descrevendo o concílio dos deuses, expondo o
discurso de Júpiter, a oposição de Baco e a defesa que Vênus faz dos
navegadores com o apoio de Marte.  Narra, em seguida, a entrada da frota no
Oceano Índico, a ancoragem perto de Moçambique, a partida para Quiloa e a
chegada a Mombaça, onde Baco continua tramando contra a frota.  
               
Canto 2 – Narração da emboscada dos mouros e a intervenção de Vênus.  A
deusa pede a Júpiter que proteja os portugueses.  Vasco da Gama vê em sonhos
Mercúrio, que o aconselha a deixar Mombaça e partir para Melinde.  Em Melinde, o
rei hospeda gentilmente os portugueses, pedindo ao capitão que conte a história de
Portugal, especialmente os feitos marítimos.
Canto 3 – Vasco da Gama fala da história de Portugal, contando os principais
fatos dos governos de D. Henrique, D. Afonso Henriques, D. Sancho I, D. Sancho
II, D. Afonso III, D. Dinis e D. Afonso IV.  Narra o  episódio da morte de Inês de
Castro.

Canto 4 – Vasco da Gama relata os tumultos havidos em Portugal por ocasião do
falecimento de D. Fernando.  Destaca a figura de D. João I, mestre de Avis. 
Descreve o assassinato do conde de Andeiro e a intervenção dos reis de Castela. 
D. João I aconselha-se com os fidalgos, realçando-se a lealdade e o patriotismo
de D. Nuno Álvares.  Descreve a batalha de Aljubarrota e como D. Nuno foi lutar
no Alentejo e na Andaluzia.  Conta depois como foi feita a paz e a expedição a
Ceuta, na África.  Descreve ainda a figura do velho que, na praia do Restelo,
dirigiu contra a sede de aventura e conquista dos portugueses..
Canto 5 – Vasco da Gama narra a partida de sua armada a 8 de julho de 1497. 
Descreve o avistamento do Cruzeiro do Sul, o fogo-de-santelmo e uma tromba
marítima. Narra o episódio do gigante Adamastor, personificação do Cabo das
Tormentas.  Depois de uma breve estada na Aguada de São Brás, continuam a
viagem. Os tripulantes da armada são acometidos pelo escorbuto.  Atingem
Moçambique, Mombaça e Melinde.

Canto 6 – Descrição das festas dadas pelo rei de Melinde aos portugueses. 
Continuação da viagem para a Índia.  Baco procura destruir a frota.  Narração do
episódio dos Doze de Inglaterra e da tormenta que se abate sobre os
navegantes.  Vasco da Gama suplica ajuda e Vênus desce em socorro dos
lusitanos.  A frota aproxima-se de Calicute.
Canto 7 – O poeta narra a chegada a Calicute e a recepção do rei, que envia um
emissário à nau capitânia para obter informações dos portugueses.

Canto 8 – Paulo da Gama é vítima de uma traição, mas consegue livrar-se do
perigo.

Canto 9 – Escapando dos perigos, a armada parte e chega à Ilha dos Amores,
local de prazer e descanso que Vênus, auxiliada por Cupido, preparara para os
lusitanos, como recompensa de seus padecimentos e trabalhos.  Os marinheiros
encontram as ninfas. Tétis recebe Vasco da Gama.

Canto 10 – Banquete oferecido aos navegantes. A ninfa Tétis conduz Vasco da
Gama a um monte, de onde lhe mostra um globo transparente que representa a
máquina do mundo.  Partida da Ilha dos Amores.  Depois de descrever a chegada
dos portugueses, Camões queixa-se da decadência em que via sua pátria afundar-
se e da indiferença pelas letras.  Termina exortando o rei D. Sebastião à prática de
ações sublimes e benignas.
Resumo dos episódios mais importantes de
“Os Lusíadas”

Episódio de Inês de Castro


Este episódio é o terceiro canto da épica camoniana e
conta a história da amante de D. Pedro, Inês de Castro.
Mesmo tendo se casado com D. Constança, sabe-se que
D. Pedro acabou se apaixonando. No entanto, ele manda
Inês de Castro para o exílio no castelo de Albuquerque,
depois que a corte e o povo descobrem o caso. No
entanto, a lenda e também o episódio de Inês de Castro
contam o romance à distância dos dois apaixonados, por
correspondência. O episódio retrata ainda que, quando a
esposa de D. Pedro morre no parto, ele traz Inês de
Castro novamente do exílio e se casa com a amante, com
quem teve 4 filhos, tendo um morrido no parto. A trama
então mostra que, com medo de que um dos três filhos
vivos de Inês tome o trono de Portugal como herdeiro,
seu sogro, D. Afonso IV, manda que matem a mulher. D.
Pedro, no entanto, volta da batalha que o afastou de seu
país e encontra sua amada morta. Mesmo assim, faz com
que a desenterrem e a coroa Rainha, fazendo com que
todos beijem a mão da defunta para vingar seu
assassinato.
Episódio do Velho do Restelo
Este episódio conta a história de um
ancião que decide se manifestar contra a
viagem dos navegantes portugueses no
momento em que eles se despedem de
seus familiares que estão no Porto de
Belém. O velho assume um discurso no
qual condena o povo português por sua
ambição, busca por poder, cobiça e fama,
o que faz da aventura dos portugueses
uma aventura completamente insana.

Para a épica camoniana de Os Lusíadas,


o Velho do Restelo é um importante
personagem que traz consigo a
mentalidade feudal que, por muitos anos,
fez parte dos portugueses. Essa
mentalidade é contra as grandes
navegações, visto que elas representam
os interesses burgueses e monárquicos.
Episódio do Gigante Adamastor

Adamastor é o Cabo da Boa Esperança


ou Cabo das Tormentas. Por ter seduzido
a ninfa Tétis, esposa do deus Peleu, foi por
ele transformado em rocha como vingança.
O Gigante prometeu destruir qualquer navio
que passasse por ele. Por isso o local era
representado com nuvem negra e
tempestade.
Nisso claramente vê-se a representação
mitológica da obra. Quanto à lírica, é uma
das passagens mais importantes, já
que representa o medo dos portugueses
de atravessarem o Oceano Índico e o
Atlântico, representados por monstros,
gigantes, penhascos e seres sobrenaturais.
Episódio Ilha dos Amores
O mito da Ilha dos Amores é contado por Luís de Camões, nos Cantos IX e X de
Os Lusíadas. Nestes cantos, é relatada a vontade da deusa Vénus em premiar os
heróis lusitanos, com um merecido descanso e com prazeres divinos, numa ilha
paradisíaca, no meio do oceano, a Ilha dos Amores.
Nessa ilha maravilhosa, os marinheiros portugueses podiam encontrar todas as
delícias da natureza e as sedutoras Nereidas, divindades das águas, irmãs de Tétis,
com quem se podiam alegrar em jogos amorosos.
Durante um banquete oferecido aos portugueses, a ninfa Sirena canta as profecias
sobre a gente lusa que incluem as suas glórias futuras no Oriente.
Em seguida, Tétis, a principal das ninfas, conduz Vasco da Gama ao topo de um
monte "alto e divino" e mostra-lhe, de acordo com a cosmografia geocêntrica de
Ptolomeu, a "máquina do mundo", uma fábrica de cristal e ouro puro, à qual apenas
os deuses tinham acesso, e que se tornou também um privilégio para os
portugueses.
Tétis faz a descrição da máquina do mundo e
prediz feitos valorosos, prêmios e fama ao povo
português. Depois do descanso merecido, os
portugueses partem da ilha e regressam a
Lisboa.
O mito da Ilha dos Amores, narrado por
Camões, é fruto da sua imaginação, quer
povoada dos lugares maravilhosos onde as
suas viagens o levaram, quer influenciada
pelas míticas ilhas da literatura grega ou de
outras lendas árabes e indianas.
A moral pagã opõe-se aqui à moral cristã, da
mesma forma que os novos ventos da
mudança do Renascimento de inspiração
grega se opõem às limitações e ao
pensamento medíocre da Inquisição.
Neste episódio simbólico da Ilha do Amores,
Camões tenta imortalizar os heróis lusitanos
que tão grandes façanhas fizeram em nome de
Portugal.
Camões lírico
A maior parte da obra lírica de Camões compõe-se de sonetos e
redondilhas.  O soneto é composto de versos decassílabos (dez sílabas
poéticas), distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Foi chamado
de “medida nova” em oposição à “medida velha”, que eram as
tradicionais redondilhas (estrofes com versos de cinco ou sete sílabas).
Nos textos apresentados a seguir, veremos alguns dos principais temas
da lírica de Camões.

Os efeitos contraditórios do amor


Como podemos resistir aos efeitos do amor?  Quando ele nos invade,
ficamos perturbados, temos sensações contraditórias, não
conseguimos raciocinar direito.
Camões refletiu sobre isso e perguntou-se: o que é o amor?
 
                        “Amor é fogo que arde sem se ver;
                        É ferida que dói e não se sente;
                        É um contentamento descontente;
                        É dor que desatina sem doer;
 
                        É um não querer mais que bem querer;
                        É solitário andar por entre a gente;
                        É nunca contentar-se de contente;
                        É cuidar que se ganha em se perder;
 
                        É querer estar preso por vontade;
                        É servir a quem vence, o vencedor;
                        É ter com quem nos mata lealdade.
 
                        Mas como causar pode seu favor
                        Nos corações humanos amizade,
                        Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
A saudade do ser amado

Uma das amadas de Camões foi uma jovem


chinesa chamada Dinamene. Ela morreu afogada
quando naufragou o barco em que viajava com o
poeta. Diz a lenda que, nesse naufrágio, Camões
conseguiu pelo menos salvar o manuscrito de Os
Lusíadas, segurando-o com uma das mãos e
nadando com a outra.
Camões escreveu vários sonetos lamentando a morte de Dinamene. Esse é um dos mais
famosos:
 
                      ”Alma minha gentil, que te partiste
                        Tão cedo desta vida, descontente,
                        Repousa lá no Céu eternamente
                        E viva eu cá na terra sempre triste.
 
                        Se lá no assento etéreo, onde subiste,
                        Memória desta vida se consente,
                        Não te esqueças daquele amor ardente
                        Que já nos olhos meus tão puro viste.
 
                        E se vires que pode merecer-te
                        Alguma cousa a dor que me ficou
                        Da mágoa, sem remédio de perder-te.
 
                        Roga a Deus, que teus anos encurtou,
                        Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
                        Quão cedo de meus olhos te levou.”

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