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O sonho de qualquer poeta do século XVI era a criação de uma epopeia, à imitação de Homero e
Virgílio. Os Descobrimentos eram um assunto de interesse nacional e universal. Era necessário
imortalizá-los. Antes de Camões, outros eruditos chegaram a projetar epopeias como forma de
imortalizar os Descobrimentos. António Ferreira encorajou a escrita de versos sobre os feitos
portugueses. Estava criada a temática, só faltava um poeta de génio. Esse foi Camões.
Para o tratamento literário da sua obra, Camões inventou uma fábula mitológica onde os deuses,
como se fossem humanos, entram em conflito por causa da viagem de Vasco da Gama. Gera-se
uma verdadeira intriga, no fim da qual os homens são mitificados. Ao mesmo tempo, são
evocadas as glórias da nacionalidade, na narrativa do próprio Gama que apresenta a verdadeira
síntese da História de Portugal. O poeta introduz, de acordo com a tradição da Antiguidade
Clássica, a mitologia (pagã e cristã), as profecias (futuro), alternando o tom épico com o lírico, e
imprimindo à obra uma intencionalidade pedagógica. Durante muito tempo não se compreendeu a
função mitificadora da presença da mitologia pagã. Mas dela depende a coesão narrativa, a
diversidade, a vida e a criatividade presente na obra. O Poema apresenta um tom grandioso e
eloquente, que contrasta com a 'humildade do lirismo'.
► Características da obra:
— estilo culto, erudito;
— recurso a latinismos;
— perífrases mitológicas;
— alusões à História antiga;
— criatividade do poeta (faz rivalizar os heróis humanos com os deuses);
— herói coletivo — o povo português (representado pela sinédoque — 'O peito ilustre lusitano') —
visando o engrandecimento do Império e a expansão da Fé e da cultura europeia.
— vivências coletivas e dinamizadoras fundamentadas na História de Portugal;
— cunho pessoal (tema), com o objetivo de lhe conferir uma maior veracidade;
Camões procura ser objetivo e verídico mas faz a sua interpretação da História de Portugal
permitindo olhar a obra de dois lados:
• Apresenta um texto elogioso dos feitos heroicos dos portugueses (Proposição - vai de encontro à
ideologia oficial);
• Demonstra uma posição crítica face à política oficial da expansão que tem demasiados perigos e
riscos para os portugueses:
São estes acontecimentos narrados com grandes preocupações de veracidade, associados a uma
grande beleza literária, que fazem de Os Lusíadas uma obra universal.
Estrutura de Os Lusíadas
Os Lusíadas cantam a voz da alma do povo português. Camões propôs-se cantar os feitos
heroicos dos Portuguesas, atribuindo-lhes uma categoria universal. Através da epopeia
enobreceu a língua portuguesa.
• Plano da Viagem
• Cantos I, II, IV, V, VI, VII e VIII
• Plano central com a narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem entre Lisboa e
Calecute (partida, peripécias da viagem, paragem em Melinde, chegada à Índia, regresso e
chegada a Lisboa).
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• Plano encaixado que aparece com o relato dos factos marcantes da História de Portugal (em
Melinde, Vasco da Gama narra ao rei os acontecimentos da nossa História, desde Viriato até ao
reinado de D. Manuel I; em Calecute, Paulo da Gama apresenta ao Catual episódios e
personagens representados nas bandeiras; em prolepse, através de profecias, é narrada a
História posterior à Viagem do Gama).
• Plano da Mitologia
• Cantos I, II, VI, IX, X
• Plano paralelo que permite e favorece a evolução da ação (os deuses assumem-se, uns como
adjuvantes, outros como oponentes dos Portugueses).
A mitologia constitui, por isso, a intriga da obra. São os deuses que apoiam ou criam dificuldades
à ação dos portugueses: Consílio dos Deuses no Olimpo; Consílio dos Deuses Marinhos; A Ilha
dos Amores.
• Plano do Poeta
• Canto III e no fim dos Cantos I, V, VI, VII, VIII, IX, X
► Elementos da epopeia
O género épico remonta à antiguidade clássica grega e latina (Homero e Virgílio). A epopeia é um
género narrativo em verso, em estilo elevado que pretende celebrar feitos grandiosos de heróis
fora do comum reais ou lendários.
• Elementos da epopeia
• Ação: assunto no seu desenvolvimento
• Personagem/herói: o agente principal/actante-sujeito
• Maravilhoso: intervenção de seres superiores
• Forma: forma natural de literatura, estrutura versificatória
• Proposição
• Canto I, estâncias 1 a 3:
— O Poeta indica aquilo que se propõe cantar.
• Invocação
• Canto I, ests. 4 e 5:
1.ª — Súplica às Tágides (ninfas do Tejo) para que o ajudem na organização do poema e lhe
deem inspiração para cantar os feitos heroicos lusitanos;
• Canto III, ests. 1 e 2:
2.ª — Súplica a Calíope, porque estão em causa os mais importantes feitos lusíadas;
• Canto VII, ests. 78 a 87:
3.ª — súplica às ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios;
• Canto X, ests. 8 e 9:
4.ª — Novo pedido a Calíope para que o inspire para terminar a obra.
• Dedicatória
• Canto I, ests. 6 a 18:
— O oferecimento do poema a D. Sebastião
• Narração
• Canto I, estâncias 19 e seguintes:
— A narração é iniciada in medias res (quando a frota se encontra no Canal de Moçambique), tem
momentos retrospetivos (da história de Portugal e da viagem), momentos prospetivos
(sonhos, presságios, profecias) e Epílogo (regresso dos nautas incluindo o episódio da
Ilha dos Amores).
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► Mitificação do Herói
Os Lusíadas são um texto renascentista. Na obra traduz-se o espírito otimista do Renascimento e
a inspiração humanista. Aposta-se nas capacidades humanas. Os portugueses são celebrados
como nação e coletividade e a História de Portugal é cantada como uma epopeia.
• na Ilha dos Amores (Olimpo simbólico) — exaltação dos navegadores como heróis, capazes de
ascender à divinização. A recompensa pela heroicidade e pelas conquistas. Satisfação dos
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Em Os Lusíadas, Camões procurou demonstrar a sua base ideológica, deixando de certa forma
um apelo aos vindouros. A forte crença na capacidade de o ser humano se tornar cada vez mais
digno e perfeito estava ameaçada, razão pela qual o poeta sentiu necessidade de deixar
presentes as suas considerações, através nomeadamente de temas como os perigos que cercam
o homem, o Velho do Restelo, honra e glória, o poder do ouro e a aspiração à imortalidade.
Exaltação à valentia dos portugueses que mesmo pequenos podem mais que os deuses
► Velho do Restelo
Lançamento de uma maldição a quem pretende desafiar os limites:
• maldição a quem inventou a navegação
• maldição a quem teve ambição (ex.:Prometeu)
Comparação dos portugueses com outros que foram ambiciosos e por isso castigados
Camões, pela voz do Velho do Restelo, lança um alerta: aqueles que são levados pela fama e
pela cobiça ambicionam a honra que nunca poderão ter, essa cabe aos verdadeiramente
autênticos.
► Honra e Glória
Condenação daqueles que se encostam à fama já alcançada:
• enumeração dos obstáculos que impedem o homem de atingir a fama e a glória
• enumeração das condições para alcançar a fama e a glória
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► O poder do ouro
Os problemas trazidos pela ambição do ouro:
• traição
• corrupção
► Aspiração à imortalidade
Indicação de caminhos para alcançar "o verdadeiro valor":
• renúncia ao poder do dinheiro
• aplicação da justiça na paz
• combate na guerra
• desafio dos próprios limites