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Luís de Camões - Os Lusíadas

Dividido em dez cantos, a obra é um longo poema do gênero épico, ou seja, que
aborda grandes acontecimentos históricos ou mitológicos. No caso, o tema principal de Os
Lusíadas é a bravura do povo português na época das grandes navegações, no século XVI.
O poema conta histórias sobre as perigosas viagens marítimas e a descoberta de
novas terras, povos e culturas, exaltando o heroísmo do homem, que, navegador,
aventureiro, cavalheiro e amante, é também destemido e bravo, e enfrenta mares
desconhecidos em busca dos seus objetivos.
Além de narrar o caminho para a descoberta das índias, a epopeia fala sobre as
grandes navegações, o império português no Oriente, os reis e heróis de Portugal, dentre
outros fatos que o tornam um poema histórico, enciclopédico. Em paralelo, desenvolve-se
também uma história mitológica, envolvendo lutas entre os deuses do Olimpo: Vênus e
Marte, Baco e Netuno.
Em Os Lusíadas podemos encontrar ideais renascentistas, imperialistas e
nacionalistas, cristãos e pagãos, épicos e líricos, ufanistas e críticos, clássicos e barrocos.
O acontecimento central da obra é o descobrimento do caminho marítimo para a
Índia. Para o seu tratamento literário, Camões inventou uma fábula mitológica onde os
deuses, como se fossem humanos, entram em conflito por causa da viagem de Vasco da
Gama. Gera-se uma verdadeira intriga, no fim da qual os homens são mitificados. Ao mesmo
tempo, são evocadas as glórias da nacionalidade, com admirável engenho, na narrativa do
próprio Gama, verdadeira síntese da História pátria.

Quanto à história, o enredo é dividido em cinco partes:

➔ Proposição - Apresentação da obra e síntese do assunto, ressaltando o heroísmo, o


antropocentrismo, o ufanismo, dentre outras características do homem.
➔ Invocação das Tágides - É um pedido do autor às musas Tágides, ninfas do rei Tejo,
para virem lhe dar inspiração.
➔ Dedicatória ao Rei D. Sebastião - O rei é apresentado como um menino, aos 14 anos,
assumindo o trono, exaltando-o como jovem e esperança da pátria.
➔ Narração - Parte mais consistente da história, como já dito, foca-se em três pontos
principais: a viagem de Vasco da Gama às Índias, a narrativa da história de Portugal e
as lutas e intervenções dos deuses do Olimpo. Ao mesmo tempo, o autor faz
descrições de fenômenos como a tromba marítima, e disserta sobre a moral, o ouro,
as riquezas, entre outros interesses do homem renascentista.
➔ Epílogo - última parte, contém críticas do poeta, lamentações sobre a realidade,
exortações ao rei, etc. O tom destas últimas 12 estrofes é pessimista, criticando a
decadência do país, e reforçando a exaltação ao Rei D. Sebastião.
Planos

Na epopeia Os Lusíadas, de Camões, há quatro planos, que se vão entrelaçando ao longo da


obra:

- Plano da Viagem (plano central, que se encontra sobretudo nos cantos I, II, IV, V, VI, VII e
VIII) com a narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem entre Lisboa e Calecut
(partida, peripécias da viagem, paragem em Melinde, chegada à Índia; regresso e chegada a
Lisboa).

- Plano da História de Portugal (plano encaixado que aparece, nomeadamente, nos cantos
III, IV, VIII) com o relato dos factos marcantes da História de Portugal (em Melinde, Vasco da
Gama narra ao rei os acontecimentos da nossa História, desde Viriato até ao reinado de D.
Manuel I; em Calecut, Paulo da Gama apresenta ao Catual episódios e personagens
representados nas bandeiras; em prolepse, através de profecias, é narrada a História
posterior à Viagem do Gama)

- Plano da Mitologia (plano paralelo que ocorre sobretudo nos cantos I, II, VI, IX, X) que
permite e favorece a evolução da ação (os deuses assumem-se, uns como adjuvantes, outros
como oponentes dos Portugueses). A mitologia constitui, por isso, a intriga da obra. São os
deuses que apoiam ou criam dificuldades à ação dos portugueses: Consílio dos Deuses no
Olimpo; Consílio dos Deuses Marinhos; A Ilha dos Amores...

- Plano do Poeta (plano ocasional que surge, especialmente, no canto III e no fim dos cantos
I, V, VI, VII, VIII, IX, X) com as considerações e as opiniões do autor expressas,
nomeadamente, no início e no fim dos cantos.

Elementos

Os elementos de uma epopeia são quatro: AÇÃO (o assunto no seu desenvolvimento),


PERSONAGEM/HERÓI (o agente principal/actante-sujeito), MARAVILHOSO (intervenção de
seres superiores), FORMA (forma natural de literatura, estrutura versificatória).

Na obra "Os Lusíadas", e em obediência às regras acima enunciadas, encontramos os


seguintes elementos:

➔ Ação - viagem marítima de Vasco da Gama à Índia


➔ Herói - o Povo Português, representado simbolicamente na figura do comandante
das naus, Vasco da Gama
➔ Maravilhoso
Cristão - intervenção do Deus dos Cristãos
Pagão - intervenção das divindades da mitologia
Céltico ou mágico - intervenção da feitiçaria, da magia, de crenças populares

Forma - Narrativa
Versos decassílabos (geralmente heróicos, com o acento rítmico na 6.ª e 10.ª sílaba)
Rimas com esquema abababcc
Estâncias – oitavas

Partes da Epopéia

De acordo com as regras do género, a epopeia clássica estrutura-se em três partes


obrigatórias: Proposição (apresentação do assunto), Invocação (súplica da inspiração) e
Narração (desenvolvimento do assunto, por vezes iniciado em meio da ação - in medias res).
Pode incluir uma parte facultativa, a Dedicatória (oferecimento da obra). Na Narração, é
possível encontrar o Epílogo (fechamento da epopeia) com a consagração dos heróis.

"Os Lusíadas", na sua estrutura interna, possui:

• A Proposição (Canto I, estâncias 1 a 3) onde o Poeta indica aquilo que se propõe cantar.
• As Invocações :
- 1.ª (Canto I, estâncias 4 e 5) - súplica às Tágides (ninfas do Tejo) para que o ajudem na
organização do poema e lhe deem inspiração para cantar os feitos heroicos lusitanos;
- 2.ª (Canto III, ests. 1 e 2) - súplica a Calíope, porque estão em causa os mais importantes
feitos lusíadas;
- 3.ª (Canto VII, ests. 78 a 87) - súplica às ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos
seus infortúnios;
- 4.ª (Canto X, ests. 8 e 9) - novo pedido a Calíope para que o inspire para terminar a obra.
• A Dedicatória (Canto I, estâncias 6 a 18), com o oferecimento do poema a D. Sebastião.
• A Narração (a partir do Canto I, estâncias 19 e seguintes), iniciada in medias res (quando a
frota se encontra no Canal de Moçambique), tem momentos retrospectivos (da história de
Portugal e da viagem), momentos prospectivos (sonhos, presságios, profecias…) e Epílogo
(regresso dos nautas incluindo o episódio da Ilha dos Amores).

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