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Casos práticos Direito Comercial

Direito Comercial (Universidade Catolica Portuguesa)

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Casos práticos Direito Comercial

Índice
Qualificação e estatuto de comerciante ...................................................................... 2
Caso nº1 .............................................................................................................................. 2
Estabelecimento Comercial e Empresa. Transmissão ............................................. 22
Caso nº1 - Trespasse de estabelecimento situado em local arrendado ............................ 22
Caso nº2 - Trespasse......................................................................................................... 24
Caso nº3 – Obrigação de não concorrência...................................................................... 25
Caso nº4 - Trespasse de estabelecimento instalado em prédio arrendado ...................... 27
Caso Prático nº5 (Trespasse de estabelecimento instalado em prédio arrendado) ......... 30
Caso nº7 ............................................................................................................................ 35
Caso nº8 extra ................................................................................................................... 38
Propriedade Industrial e concorrência ............................................................................. 45
Títulos de Crédito e Valores Mobiliários .................................................................. 46
Caso nº1 ............................................................................................................................ 46
Caso nº2 ............................................................................................................................ 50
Caso nº3 ............................................................................................................................ 51
Caso nº4 ............................................................................................................................ 52
Caso extra 1....................................................................................................................... 53
Caso extra nº2 ................................................................................................................... 56

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Qualificação e estatuto de comerciante


Caso nº1
Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como manicure num
espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas não andam a correr muito
bem, decidiram abandonar a sua anterior profissão e tornarem-se empresários de pastelaria.
Alberto é um excelente pasteleiro e tem um amigo de infância que vive na província
produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis nas pastelarias lisboetas. Esse seu amigo
(Cristiano) vem todos os dias a Lisboa trazer os cereais encomendados por Alberto. A
pastelaria foi logo um enorme sucesso, mas este foi abruptamente interrompido pela
instalação, a 50m, de uma loja da “Padaria Portuguesa” que, por se integrar numa rede de
franchising, conseguia praticar preços muito competitivos; ficando o negócio de Alberto em
dificuldades. Suponha agora que a Padaria Portuguesa celebrou um contrato com Cristiano
nos termos do qual Cristiano forneceria cereais à Padaria e se vinculava a comprar bolos e
pão da Padaria Portuguesa, que iria revender ao público na sua região, assumindo o
compromisso de o fazer de acordo com a política comercial da Padaria Portuguesa e sujeito
ao controlo desta.

a) Cristiano é comerciante, de acordo com a TAC? E de acordo com a TJE?


Tendo em conta ambas as teorias, será importante ter em conta dois momentos:
1. Cristiano, num primeiro momento, exerce uma atividade agrícola, nos termos do art. 464º
§2º do C.Com.
a. Teoria dos atos de comércio (TAC) à Deste modo, não estaríamos perante um ato
de comércio em sentido objetivo, não sendo também C qualificado como
comerciante, nos termos do art. 13º e para efeitos da segunda parte do art. 2º.
b. Teoria Jurídica da Empresa (TJE) à No que toca à TJE, a empresa de C seria uma
empresa agrícola, e mesmo quando transporta cereais para Lisboa, a sua empresa é
uma empresa acessória da empresa agrícola, sendo dominante o risco do fator terra,
e não o risco de capital, não sendo por isso, para efeitos do art. 230º, e segundo o
Prof. Paulo Sendim, uma empresa comercial, mas sim civil.

2. Num segundo momento, quando a sua atividade principal passa a ser a compra e revenda de
bolos, estaremos, para efeitos da teoria dos atos de comércio, no âmbito do art. 463º §1,
comprando C os bolos para revenda. Deste modo, estaríamos perante um ato de comércio
em sentido objetivo, regulados pelo direito comercial.

Quanto a saber se Cristiano é comerciante:


- é importante ter em conta o art. 13º §1, uma vez que C não constitui, pelos dados da hipótese, uma
sociedade comercial. Assim, para ser comerciante, para além da prática com carácter regular de atos
de comércio, seria necessário:
a. Capacidade de gozo e de exercício;
b. Atuação em nome próprio;
c. Prática regular, e não esporádica, com carácter de profissionalidade e habitualidade, de atos
de comércio;
d. Atividade económica, em vista da criação de riqueza, com um objetivo lucrativo, estando em
causa uma atividade voltada para o mercado.

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Verificadas estas características, estaríamos perante um comerciante, para efeitos do art. 2º, sendo
considerados comerciais os atos por este praticados, se não forem os mesmos de carácter civil, e
quando não rodeados por determinadas circunstâncias que levem a concluir que o mesmo não foi
realizado no âmbito da atividade do comerciante.

Do ponto de vista da TJE, será importante ter em conta, como defendida por Paulo Sendim, o art.
230º, retirando do mesmo, através de um método tipológico, determinadas características, de forma
a considerar o modo como a atividade é exercida e não a atividade em si mesma, será importante ter
em conta que, no presente caso:
i. Estando em causa uma organização de fatores produtivos, desde logo conhecimento,
trabalho, capital e terra;
ii. Voltada para o mercado;
iii. Risco predominante é o risco de capital

Estaríamos perante uma empresa comercial, e como tal, sua atividade estaria sujeita ao Direito
Comercial, verificando-se uma tutela antecipatória através desta norma, na medida em que basta que
se tenha proposto ao exercício dessa atividade, não sendo necessária a prática regular e efetiva de atos
de comércio em sentido objetivo. Está em causa uma tutela antecipatória numa fase em que, segundo
o Prof. Paulo Sendim, é maior o risco empresarial, desde logo, devido ao recurso ao crédito e a
adequação à concorrência.

Deste modo, e para concluir, tanto para a teoria dos atos de comércio como para a teoria jurídica da
empresa, C seria comerciante, nos termos do art. 13º e do art. 230º do C.Com.

b) E Alberto?
Face à profissão de A, enquanto educador de infância, não pode este ser considerado comerciante,
por se tratar de uma profissão liberal.

Relativamente à atividade de pasteleiro:


De acordo com a TAC (art 13º), teríamos de ver se está em causa um ato de comércio objetivo, logo
segundo o art. 463º §1º, sendo uma compra e venda para revenda, tratar-se-ia de um comerciante,
atuando em nome próprio. Porém, estando a revender uma coisa que não comprámos (compramos
cereais e revendemos bolos), podíamos dizer que o art. 463º §1 não se aplicava, mas sim o art. 230º
§1.

De acordo com a TJE e segundo o art. 230º/1, tratar-se-ia de comerciante. Mas, levantando a hipótese
de pequena empresa teria de estar em causa:
a. exercício direto pelo titular;
b. dependência do sucesso da atividade do trabalho desse titular;
c. inexistência de uma organização autónoma;
d. risco do exercício direto superior ao investimento

Se os requisitos estivessem preenchidos, haveria uma exceção ao art. 230º §1 2ª parte

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Caso nº2
António é proprietário de um táxi e exerce a atividade de taxista, juntamente com um filho.

1. Os contratos que celebra com os clientes são comerciais? Justifique.


Teoria dos Atos de Comércio (TAC)
Nos termos do art. 2º 1ª parte, são considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem
especialmente regulados no Código Comercial (e legislação avulsa, de acordo com a doutrina). Ou
seja, a norma geral qualificadora que deriva do art. 2º pressupõe sempre a sua conjugação com uma
norma qualificadora especial. Neste caso, podemos identificar o art. 366º do C.Com., que prevê o
transporte e o contrato de transporte comercial.
• Nos termos do art. 366º, o contrato de transporte por terra considerar-se-á mercantil quando
os condutores tiverem constituído empresa ou companhia regular permanente.
• O que significa que, para que o contrato de transporte em causa seja mercantil, tem que
preencher os requisitos especificados neste artigo. Se for esse o caso, o contrato de transporte
celebrado é um ato de comércio objetivo.

Teoria Jurídica da Empresa


A TJE considera como norma qualificadora geral o art. 230º. Logo, importa averiguar se os contratos
de transporte se inserem em algum dos parágrafos do referido preceito. Ora, o art. 230º §7 estabelece
que haver-se-ão por comerciais as empresas que se propuserem a transportar, regular e
permanentemente, por água ou por terra, quaisquer pessoas, animais, alfaias ou mercadorias de
outrem.
• Seria necessário que estivesse em causa uma empresa (i.e., organização de fatores
produtivos).
Neste caso António é proprietário de um táxi, não sendo referido se está em causa uma empresa ou
não.

2. A resposta seria diferente se ele tivesse uma frota de táxis? Neste segundo caso:
a) Suponha que António comprou os livros necessários à exploração do seu negóciol.
Comprou também dois táxis e contratou um financiamento bancário para financiar
essa aquisição.
Esses actos são comerciais? Justifique.

Pressupondo que A tem uma frota de táxis, constituindo uma empresa de transportes, segundo o art.
366º, sabendo que a atividade objetiva é de transporte (art. 13º), qualifica-se a compra dos livros
como atos de comércio subjetivos (art.2º, 2ª parte).

Relativamente à compra dos táxis, enquanto ato acessório da sua profissão, estaria em causa um ato
de comércio subjetivo, segundo o art. 13º e art. 2º 2ª parte.

Relativamente ao contrato de financiamento de empréstimo, face ao banco trata-se operações de


banco (art.2º, 2ª parte e art.362º). Tratam-se de atos comerciais.

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b) Suponha que António, num local distante do seu negócio e sem referir que era
empresário, celebrou um contrato de arrendamento de um andar, por um mês,
durante o período normal de férias.
Este ato é comercial? Justifique.
O regime de arrendamento não está presente no C.Com., mas está previsto no C.C., para fins
habitacionais e não habitacionais. Por força de uma interpretação atualista do art. 2º C.Com., deve-
se entender “regulados neste Código” e outra legislação avulsa. Devemos então atender aos critérios
para averiguar se a legislação avulsa é ou não comercial.

Se for um arrendamento habitacional poderá ser um ato comercial? Se tiver feito um contrato
habitacional, poderá ser um ato comercial?

Teoria dos Atos de Comércio


• Ato de comércio objetivo à Segundo o art. 2º 1ª parte não poderia ser um ato comercial,
porque não há norma qualificadora específica. Até porque mesmo no C.C., não preside o
interesse mercantil.
• Ato de comércio subjetivo à Temos de ver se o negócio tem um caráter exclusivamente
civil. Não tem, porque tem caráter patrimonial. Temos de apurar também se ele é
comerciante nos termos do art. 13º, o que parece ser o caso visto que não só exerce
profissionalmente a atividade transportadora, tendo também capacidade para ser
comerciante. O terceiro requisito é ver se o contrário do próprio ato não resultar.
o “Se o contrário do próprio ato não resultar” à Um negócio praticado por um comerciante,
considera-se relativo ao seu comércio, a menos que dos seus termos ou
circunstâncias acompanhantes se deduza que ele lhe é estranho – que respeita à sua
esfera ou vida civil.
§ Aqui a situação já é mais discutível. Se não se verificar esta exceção, então
é um ato de comércio subjetivo, caso contrário não estaríamos perante um
ato de comércio.

Se for um arrendamento não habitacional (arts. 1108º e ss. C.C.) – teria de constar isto do
contrato.

Teoria dos atos de comércio à Seria um ato de comércio objetivo (art. 2º 1ª parte C.Com.), de acordo
com uma sua interpretação atualista.

Teoria jurídica da empresa


• Recorreríamos ao art. 2º porque o art. 230º não satisfaria a resolução deste caso, porque seria
um ato de comércio acessório.

Questão principal suscitada neste caso:

Esta hipótese está feita para discutirmos o art. 2º 2ª parte. O ato será subjetivamente comercial a
menos que caia numa das duas exceções aí previstas: efeito exclusivamente civil ou o contrário
resultar do próprio ato. O primeiro é afastado com facilidade, e o segundo não sabíamos.
• “Se o contrário do próprio ato não resultar” à O critério é o do homem médio, rodear o ato das
circunstâncias suficientes para afastar a comercialidade, se for o caso. Não é preciso redigir
um contrato, podendo ser uma circunstância – diz à contraparte que está a arrendar a casa

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para as férias, ou que comprou um carro para a filha. O problema depois pode ser de prova,
em tribunal.
o Se António esclareceu que isto não estava relacionado com o comércio, afastou esta
presunção. Não será um ato de comércio objetivo. Se ele não afastou, poderá ser
um ato de comércio objetivo.

c) Suponha agora que António, sem aludir à qualidade de comerciante mas perante
quem sabia que ele era comerciante, encomendou pelo telefone um computador.
O acto é comercial? Justifique.

Teoria dos Atos de Comércio

Ato de comércio objetivo (art. 2º 1ª parte) à Nada nos diz que é uma compra para revenda (art.
463º C.Com.). Objetivamente, o ato não seria comercial. Logo, a questão seria a comercialidade
subjetiva do ato.

Ato de comércio subjetivo (art. 2º 2ª parte) à Serão considerados atos de comércio, todos os
contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o
contrário do próprio ato não resultar.
• O vendedor sabia que António era comerciante, pelo que a presunção de comercialidade é
maior. Adicionalmente, o ato não é de natureza exclusivamente civil, para além de que o
contrário do próprio ato não resultou. Com efeito, António não rodeou o ato de
circunstâncias que afastassem a sua comercialidade. Não nos é referido que tenha
mencionado que o computador seria utilizado para fins pessoais, para a sua vida pessoal.

Temos de abrir ambas as hipóteses:


• Sendo comerciante, poderíamos assumir que comprou o computador para a sua atividade.
Se estiver a comprar isto na qualidade de comerciante subjetivo nos termos do art. 2º 2ª
parte, então é um ato de comércio subjetivo.
• Se estivesse a comprar o computador para uso pessoal e para a sua família, operava a
desqualificação do art. 464º §1, mas ainda assim havia que rodear o ato de circunstâncias que
afastassem a comercialidade do mesmo. Não tendo rodeado o ato dessas circunstâncias, a
presunção não foi ilidida, podendo estar assim sujeito à qualificação do ato como comercial
pela presunção do art. 2º 2ª parte.

Teoria Jurídica da empresa

Iríamos ao art. 230º que não se aplica, por isso voltamos ao art. 2º nº1. E aplicar-mos-íamos a mesma
solução da anterior.

Há quem entenda que no âmbito da teoria jurídica da empresa, o art. 230º não qualifica só os atos
core da atividade, mas também os atos “core” e os acessórios. Aí classificávamos logo como comercial
por aqui. O Prof. Coutinho de Abreu fala disto.

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Caso nº3
António, comerciante de eletrodomésticos, comprou cinco torradeiras e uma carrinha de
transporte de mercadorias.
a) Os negócios celebrados por António são comerciais?

1. Compra de cinco torradeiras

Teoria dos atos de comércio

Estamos perante um ato de comércio objetivo (art. 2º 1ª parte e art. 463º - norma qualificadora especial)
visto que se trata de uma compra para revenda = compra e venda comercial.
• Logo, a compra de torradeiras seria um ato de comércio objetivo.

Teoria jurídica da empresa

O art. 230º é a norma qualificadora geral de acordo com esta teoria.


• Não podemos chegar à conclusão que o art. 230º qualifica como não comercial, um ato que
é comercial por outro artigo do Código que não o art. 230º. O art. 230º não exclui a
comercialidade dos outros atos que estão previstos, ele alarga a comercialidade.
• Este ato é claramente um ato de interposição nas trocas (compra para revenda). Claramente
é um ato comercial. A pratica atos comerciais.
• O art. 230º não é a única norma qualificadora para a Teoria Jurídica da Empresa. Não
podemos cair na tentação de que sob a teoria jurídica da empresa o ato não é comercial por
não cair no art. 230º.

2. Compra de carrinha de transporte de mercadorias

O ato que importa qualificar neste caso é o ato da compra da carrinha de mercadorias. Não está em
causa o contrato de transporte do art. 366º.

Teoria dos Atos de Comércio


• Ato de comércio objetivo à Segundo o art. 2º 1ª parte, serão considerados atos de comércio,
todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código. Ora, este ato não se
encontra expressamente previsto no Código Comercial. Logo, não havendo norma
qualificadora especial, não será um ato de comércio objetivo.
• Ato de comércio subjetivo à Devemos questionar se estamos perante um ato de comércio
subjetivo. Devemos recorrer ao art. 13º, mas a própria hipótese nos confirma que António
é comerciante. Logo, está em causa um ato subjetivamente comercial desde que não se
apliquem as exceções do art. 2º 2ª parte: natureza exclusivamente civil; e se o contrário do
próprio ato não resultar. Não se verifica nenhuma dessas exceções pelo que estaríamos
perante um ato de comércio subjetivo.

Teoria Jurídica da Empresa à De acordo com esta teoria, a norma qualificadora geral é o art. 230º
C.Com. Teríamos de seguir a lógica de aplicar o art. 2º, nos mesmos termos acima configurados. Ou
seja, seria um ato de comércio subjetivo.

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Nota 1: é difícil configurar uma hipótese em que a teoria jurídica da empresa não qualifique como
comercial quando a teoria dos atos de comércio qualifica como ato de comércio. A teoria jurídica da
empresa alarga, e considera mais atos de comércio do que a teoria dos atos de comércio.

Nota 2: se considerarmos que os negócios acessórios também entram no art. 230º, então a
qualificação seria por este artigo. O core neste caso é a revenda dos bens: a venda de eletrodomésticos.
O core é a atividade que o qualifica como comerciante, que é comprar e vender eletrodomésticos.

Nota 3: as compras que se destinem a bens e serviços que sejam acessórios, são tipicamente
qualificados na TJE pelo art. 2º 2ª parte, pois há quem considere que os atos acessórios também são
comerciais (aí é pelo art. 230º). O art. 230º, com os atos preparatórios qualifica como comerciante, e
com essa qualificação como comerciante, qualificamos os atos pelo art. 2º nº2.

Nota 4: na TJE não tem que estar em causa uma empresa (organização de fatores produtivos). Os
critérios do Prof. Paulo Sendim para sabermos se está em causa uma empresa, resultam das
exceções do art. 230º.

b) Suponha que Bernardo, cliente da loja de António, comprou uma torradeira para a sua
casa nova. O acto praticado por Bernardo é comercial? Justifique.

B (cliente) ------------------------------ A (comerciante)


C/V

Relativamente a António à Estaríamos perante um ato de comércio por virtude da norma


qualificadora especial do art. 463º §3: “as vendas de coisas móveis (...) quando a aquisição houvesse sido feita
no intuito de as revender”.

Relativamente a Bernardo à O ato seria civil, visto que é cliente da loja. Não está em causa um
ato de comércio.
• O facto de B ir a uma loja como cliente não significa que não seja comerciante. Importa
distinguir, e abrir a hipótese de ser comerciante.
• Ex.: imagine-se que A conhecia B, e sabia que B era comerciante. A não saberia se B estaria a comprar
uma torradeira para casa ou para o seu comércio. Portanto, se B fosse comerciante e não esclarecesse que a
torradeira era para fins pessoais, estaríamos perante um ato de comércio.

Como o ato, relativamente a A, é comercial, estamos perante um ato misto e temos de aplicar o art.
99º C.Com.

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Caso nº4
Carlos, comerciante de artigos desportivos, comprou 100 camisolas do Benfica, 50 porta-
chaves do Sporting, tendo ainda encomendado ao mesmo fornecedor 1000 patins em linha
com o símbolo do Futebol Clube do Porto.
a) Os negócios celebrados por Carlos são comerciais?
Importa qualificar os atos em relação a Carlos. Os atos que vamos qualificar são a compra das
camisolas, porta-chaves e patins em linha.
Teoria dos Atos de Comércio à Os três atos são atos de comércio objetivos. Subsumem-se
ao art. 2º 1º parte, com a norma qualificadora especial do art. 463º (compra para revenda).
Teoria Jurídica da Empresa àO art. 463º funciona como norma qualificadora. Estão em
causa atos de intermediação nas trocas, pelo que seriam atos comerciais.

b) Suponha que Fernando comprou a Carlos duas camisolas, dois porta chaves e dois patins
em linha para os seus filhos, devendo o preço dos mesmos ser pago daqui a dois dias. As
compras realizadas por Fernando são comerciais?
Importa qualificar os atos em relação a Fernando. Os atos que vamos qualificar são a compra de
duas camisolas, dois porta-chaves e dois patins em linha.
v Teoria dos Atos de Comércio
o Ato de comércio objetivo à Não estamos perante um ato de comércio objetivo.
Com efeito, o art. 2º 1ª não funcionaria com nenhuma norma qualificadora, mas sim
com a norma desqualificadora do art. 464º nº1 – fins familiares.
o Ato de comércio subjetivo à A questão é se seria um ato de comércio subjetivo
(art. 2º 2ª parte). Não sabemos se Fernando é comerciante. Portanto, temos de abrir
ambas as hipóteses.
§ Se fosse comerciante, e como o negócio não tem natureza exclusivamente
civil, teríamos de ver se pela declaração de vontade e as circunstâncias que
o rodeiam resulte que está a fazer a compra para fins pessoais ou não. O
caso não nos diz nada: se fosse comerciante, funcionaria a presunção de
comercialidade.
§ Não sendo comerciante, não seria um ato de comércio subjetivo.

c) Se o preço não for pago na data devida qual o valor dos juros?

Estão em causa juros de mora (art. 102º C.Com.). Nos termos dos parágrafos 3 e 4, a taxa de juros
de mora comercial é superior à taxa civil.

à O tema aqui é: qual é a taxa de juro que se vai aplicar?


• Vamos assumir que está em causa um ato misto. O art. 99º manda aplicar o regime mercantil
com exceção das disposições que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o
ato é mercantil.
• Os juros consubstanciam uma dessas disposições? O facto de ser um ato de comércio
unilateral/misto afasta a aplicação do art. 102º? Esta é a questão central desta hipótese.
o Prof. Fátima Gomes, Prof. Evaristo Mendes e Jurisprudência à Entende que se
aplica o art. 102º a um ato de comércio unilateral.

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Agora, há que perceber do que o art. 102º trata.


è Há lugar ao decurso e contagem de juros em todos os atos comerciais em que for de
convenção ou de direito (i.e., decorra da lei) vencerem-se e nos mais casos especiais fixados
no presente Código.
è Neste caso, aplicamos a primeira hipótese: “de direito” (art. 805º do Código Civil) – tínhamos
de fazer este passo porque importa justificar a aplicação do artigo.
o Se as partes tivessem convencionado juros, de que forma teriam de o fazer? Por
escrito (art. 102º §1).
è Os §§4 e 5 fixam taxas mínimas. Estas taxas mínimas são taxas supletivas para quando
existem juros legais, ou para quando as partes convencionem juros, mas não fixem as taxas:
funcionará como taxa supletiva. As taxas mínimas constam dos §§4 e 5.
o Já as taxas máximas, devemos ter em consideração o art. 102º §2. Com efeito, o art.
1146º C.C., trata dos juros usurários e esses limites máximos aplicam-se também aos
juros comerciais.
è Este artigo é uma consagração do princípio da onerosidade das transações comerciais!

Vamos assumir que estando do outro lado um não comerciante, aplica-se o art. 102º §3 que estabelece
que: “os juros moratórios legais e os estabelecidos sem determinação de taxa ou quantitativo, relativamente aos créditos
de que sejam titulares empresas comerciais, singulares ou coletivas, são os fixados em portaria conjunta dos Ministros
das Finanças e da Justiça”.
è Há doutrina e jurisprudência que entendem que isto é aplicável mesmo quando o devedor
não é comerciante.
o Argumento literal: desde que seja titular um comerciante, não distingue quem esteja
do outro lado.
o Argumento histórico: estabeleceu-se isto para favorecer o comerciante, em detrimento
de quem seja o devedor. Inclusivamente, o Prof. Engrácia Antunes entende também
que este preceito deveria ser aplicado não só quando o comerciante é credor, mas
também quando o comerciante é devedor.
è Alguma doutrina veio dizer que isto pode ser muito prejudicial para um consumidor.
è A posição que a jurisprudência tem tomado tem sido uniforme, não adotando muito a
segunda doutrina mencionada.

Respondendo à hipótese:
• Há lugar ao pagamento de juros? Sim, porque são juros de direito (art. 102º C.Com., e 806º
C.C.).
• Não tendo convencionado nada, vamos aplicar o regime supletivo legal.
• Aplicamos o art. 102º §3. Este §3º conjuga-se com o §4º ou 5º?
o Excluímos a aplicação do §5 por via do DL que exclui do seu âmbito os contratos
celebrados com consumidores.
o Logo, a taxa de juros seria a prevista pelo §4 – 7%.
• Existem outros regimes especiais de juros, como é o caso das letras e livranças.

Outra resolução
Estamos perante um ato misto, de comerciante com um não comerciante
ART.102º - onde estão previstos os juros comerciais; e os juros civis está no CCivil

559ºCCivil, vem dizer que se vem aplicar os juros civis


Portaria /2003 onde estão previstas as taxas dos juros civis – neste momento é de 4%

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Quanto aos juros comerciais, são fixados com uma periocidade semestral – onde tem de haver um
aviso que fixa a taxa de juro comercial – neste momento é entre 7 e 8%
102º, nº3 ajuda-nos a delimitar esta taxa comercial – aplica-se quando o credor seja uma empresa
(neste caso o nosso comerciante)

Mas pode surgir uma dúvida, relativamente ao DL 62/2013, de 10 maio, que se aplica às transações
comerciais.
Nas regras previstas, o legislador só trata as relações com o consumidor, e entre várias medidas
adotas, temos algumas alterações e regula várias coisas quanto aos juros.
Art.9º - onde se estabelece a obrigação de semestralidade de juros
Art.11º entre outras disposições, vem alterar e regular a matéria de juros do CComercial

- Veio alterar o art.102º,CC – veio impor um limite mínimo mais elevado para as transações comercia,
adicionando no art.102º, nº5.
-> Então por via deste diploma pode dizer-se que se pretendeu excluir os juros a não comerciantes?

102º,nº5- aplica-se às transações comerciais

Neste caso aplica-se a taxa de 7%. (102º,nº3 + 599º)

è Os valores que temos sempre de considerar são sempre os dos avisos.

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Caso nº6
António, empresário mercantil, e Carlos, agricultor, compraram a um particular (Bernardo)
uma carrinha por 50 000 euros. Duarte ficou fiador de António. Se nada for pago, quanto
pode Bernardo exigir de cada um?

A + C (devedores) ------------------------------- B (credor) (particular = não comerciante)

No Direito Comercial, as obrigações plurais passivas estão previstas no art. 100º: os co-obrigados são
solidários, salvo estipulação em contrário. O legislador estabeleceu um regime em favor do credor.

Neste caso, temos do lado passivo (i.e., devedores), por um lado A que é empresário mercantil
(assumimos que é comerciante) e por outro, C que é agricultor. Sendo agricultor, não é comerciante
por virtude do art. 230º §1º.

Neste caso, A e C compraram uma carrinha. Este ato é comercial? A dívida só será comercial se o
ato for comercial. Logo, devemos qualificar a compra e venda.
è Pelo menos, pelo art. 2º 2ª o ato será comercial relativamente a A que é comerciante. Mas
isto, assumindo que não se aplicam nenhuma das exceções.
è Vamos assumir que o ato é comercial.

Devemos ter em conta o art. 100º: “Nas obrigações comerciais, os co-obrigados são solidários, salva estipulação
contrária”. O art. 100º estabelece a solidariedade dos devedores. No entanto, estabelece também que
“esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos contratos que, em relação a estes, não constituírem
atos comerciais”.
è Logo, B vai poder pedir ao A os 50 mil euros, visto que em relação a ele a obrigação é
solidária. Devido à exclusão ao C, só poderá pedir 25 mil euros, porque quanto a ele vale a
regra da conjunção.

Quanto à fiança, aplica-se o art. 101º: “todo o fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja comerciante, será
solidário com o respetivo afiançado”.
è D é fiador, e sendo a dívida comercial, a fiança é comercial. Logo, responde pelo mesmo
valor do afiançado, não havendo benefício da excussão prévia. A fiança é um ato de
comércio objetivo acessório.
è D tem direito de regresso perante A nos 50 mil euros.

Na 2ª hipótese (de a fiança ser civil), há benefício da excussão prévia, porque a fiança é civil. É subsidiário
não solidário.

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Caso nº7
António, comerciante singular de automóveis usados, casado sob o regime da comunhão de
adquiridos com Berta, contraiu um empréstimo bancário no valor de 100 000 euros para
ampliar as instalações do seu estabelecimento. Não tendo sido pago o empréstimo, qual a
garantia patrimonial do crédito do banco?

A (comerciante) + B -------------------------------- BANCO


(casados em Empréstimo
comunhão 100 mil euros
de adquiridos)

(1) Qualificação do ato de comércio, nomeadamente o empréstimo.


è Para o A, será um ato de comércio objetivo pelo art. 2º nº1 e art. 394º. O empréstimo tem que
ter uma finalidade mercantil, e tem-na visto que A fê-lo para ampliar a instalação do seu
estabelecimento de compra e revenda dos automóveis.
è Para o Banco seria aplicável o art. 2º nº1 e o art. 362º por ser uma operação de banco = ato de
comércio objetivo.

Estando o ato qualificado, a questão é qual a garantia patrimonial do crédito do banco. Temos de aferir a
delimitação do património que pode ser chamado a responder pela dívida.

Uma vez que está casado com Berta, a questão que se levanta, é a da comunicabilidade de dívidas entre o
cônjuge comerciante. No caso sabemos que são casados pelo regime de comunhão de adquiridos,
funcionando o art. 1691º alínea d) C.C, uma vez que não estão casados em separação de bens. Haverá
responsabilidade solidária do cônjuge não comerciante, caso estejam numa das modalidades de comunhão,
presumindo-se que haverá essa comunicabilidade a não ser que se prove que não houve proveito comum.
• Requisito do proveito comum ≠ lucro que se retira diretamente do ato. É o fim visado, o
resultado visado (melhorar as instalações para que o negócio que beneficia a família cresça mais).
Não tem de ser um ato que em si gere um aumento exponencial do património ou lucro.
o Não haverá comunicabilidade por exemplo, se o ato foi praticado, mas o preço pago foi muito
superior ao razoável. Ainda que o ato em si fosse suscetível de beneficiar o casal, o preço pago é demasiado
oneroso; ou então atos que não estão relacionados com a atividade core do comerciante.
• Neste caso há proveito comum porque o lucro retira-se do resultado visado: melhorar instalações
para que o negócio que beneficia a família cresça mais. Ou seja, não se olha para o efeito direto:
para apenas o facto de se melhorar o estabelecimento, mas para o facto de isso vir a beneficiar a
família. Não avaliamos o lucro gerado pelo ato em si, mas sim se o ato é feito para beneficiar o
proveito comum, se é uma atividade de sustento da família. O Prof. Coutinho de Abreu densifica
este critério.

Aqui assentamos em duas presunções: a do art. 15º C.Com., e a do art. 1691º alínea d) C.C. O art. 15º
facilita a prova, inverte o ónus da prova: quem passa a ter que provar é o cônjuge se não quiser afetar a
sua parte dos bens.

Devemos atentar no seguinte:


è A Prof. Fátima Gomes diz que para se aplicar este art. tem de estar em causa .... Se o cônjuge
consentiu já responsabilizou os dois, não sendo preciso aferir tudo isto.

O Prof. Evaristo Mendes entende que não tem de se aplicar o art. 15º, porque pelo art. 2º 2ª parte
chegamos à mesma conclusão.

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O art. 15º diz que as dívidas comerciais presumem-se contraídas no exercício do comércio. Para aplicar
esta presunção, preciso primeiro de encontrar uma dívida comercial. O art. 1691º d) diz que se for no
exercício do comércio, responsabiliza os dois, exceto se estiver em causa a separação de bens e se não
houver proveito comum. Ou seja, o art. 15º e o art. 1691º d) não dizem o mesmo.

Este tema da comunicabilidade da dívida é uma das consequências que decorrem do estatuto do
comerciante. Mas há mais: escrituração mercantil (que não se reconduz só à contabilidade) + registo.

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Caso nº8
Belindo tem uma empresa que se dedica à instalação de sistemas de vigilância de habitações.
Recentemente conseguiu ficar como representação de uma empresa nacional, titular de uma
marca muito conhecida. Considerando que o pontual cumprimento do contrato o obrigava
a fazer alguns investimentos iniciais, resolveu constituir com o cônjuge uma sociedade e
mandou fazer uma página de internet da sociedade, ABC - Sistemas de Vigilância, Lda, a
Carlitos. Celebrou depois, já com a sociedade constituída, como gerente desta, um contrato
de arrendamento de um espaço situado num Centro Comercial da cidade e pediu a um Banco
2000 euros, a título de financiamento, entregando ao banco uma livrança por si (Belindo)
subscrita, em nome da sociedade e a título pessoal, como avalista.

a) Como qualificaria o contrato celebrado entre Belindo e Carlitos relativo à


realização da página de internet da ABC, Lda? É um contrato civil ou comercial?

A qualificação de um ato como comercial releva para podermos apurar se é aplicável, ou não, o regime
comercial por oposição ao regime civil. Para empreendermos esta tarefa, podemos adotar uma de duas
teorias: a teoria dos atos de comércio ou a teoria jurídica da empresa.

O ato que merece qualificação, neste caso, é o contrato celebrado entre Belindo e Carlitos no qual o
primeiro mandou fazer uma página de internet da sociedade.

Teoria dos atos de comércio (TAC)


Vamos começar por qualificar o contrato em causa tendo em consideração a teoria dos atos de comércio.
Devemos qualificar o ato na perspetiva dos dois intervenientes: de Belindo, por um lado, e de Carlitos
por outro.

Quanto a Carlitos à Está em causa uma prestação de serviços (i.e., fazer uma página de internet). A
norma qualificadora geral é o art. 2º 1ª parte, e, segundo a TAC, para operar uma qualificação do ato, tem
de ser sempre conjugada com uma norma qualificadora especial. Mas não há norma qualificadora especial
quanto à prestação de serviços, pelo que não está em causa um ato de comércio.
• Nota à Não podemos, pela teoria dos atos de comércio, conjugar o art. 2º 1ª parte com o art.
230º nº2 no sentido que lhe é atribuído pelo Prof. Coutinho de Abreu de acordo com uma
interpretação atualista (isto é, considerando que se devem enquadrar aí as prestações de serviço).
Isto porque a teoria dos atos de comércio é uma teoria fechada.

Quanto a Belindo à Devemos apurar, em primeiro lugar, se é um ato objetivamente comercial (art. 2º
1ª parte). Para tanto, é necessária a conjugação do art. 2º 1ª parte com uma norma qualificadora especial.
Como já referimos, não há uma norma qualificadora especial. Ou seja, pela TAC não conseguimos
qualificar o contrato celebrado, como um ato de comércio objetivo.
è Uma vez que não conseguimos qualificar o ato objetivamente, devemos tentar qualificá-lo
subjetivamente (art. 2º 2ª parte). Devemos tentar qualificar B como comerciante (art. 13º).
• Tem que ter capacidade para praticar atos de comércio + profissionalidade (art. 13º) ou ter uma
sociedade comercial já constituída (o que não é o caso).
• Ou seja, vamos pelo art. 13º §1 e ele tem que estar a praticar de forma comercial um ato de
comércio objetivo. Capacidade + exercício de forma profissional de atos de comércio. Por isso,
temos de qualificar os atos que pratica como atos de comércio.

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• Ora, a hipótese estabelece que Belindo conseguiu ficar com a representação de uma empresa
nacional, titular de uma marca muito conhecida. Ou seja, devemos reconduzir isto a um contrato
de concessão. Está em causa, portanto, uma compra para revenda que é uma compra comercial.
Assim, o ato é subjetivamente comercial (art. 2º 2ª parte).

Teoria Jurídica da Empresa (TJE)

Quanto a Carlitos à Neste caso importa apurar a aplicação do art. 230º §2 na interpretação que lhe é
conferida pelo Prof. Coutinho de Abreu. Só estaria em causa um ato de comércio caso Carlitos tivesse
uma empresa ou sociedade que se dedicasse à feitura de páginas de internet, visto que o art. 230º pressupõe
uma organização de fatores produtivos (empresa). Há que distinguir, portanto, se Carlitos era um
particular que não fazia disto a sua atividade, não é um ato de comércio; se ele tivesse uma empresa, então
seria um ato de comércio objetivo.

Quanto a Belindo à Como sabemos do enunciado, a tempo da celebração do contrato com Carlitos, a
sociedade ABC, Lda ainda não estava constituída. Pelo que importa apurar se a podemos enquadrar o
contrato celebrado no âmbito do art. 230º. O art. 230º dá relevância aos atos preparatórios para a
qualificação como comerciante, quando estabelece: empresas que “se proponham a”. É comerciante quem
se estiver a preparar para desenvolver uma determinada atividade, mesmo que ainda não a tenha iniciado.
Importa apurar se a atividade que Belindo se propõe a desenvolver enquadra-se ou não em algum dos
parágrafos do art. 230º.
• E mais do que isso, qualquer ato preparatório de uma atividade comercial é comercial? A doutrina
diverge.
o Há quem considere que só os atos relacionados com os atos “core” da atividade é que
serão comerciais. Ex.: comprar stocks
o Há quem entenda que tanto os “core” como os acessórios serão comerciais.
Pela TJE seria comerciante porque tem a sociedade mais ou menos constituída, embora ainda não
totalmente constituída.

b) Como qualificaria o contrato de arrendamento do espaço situado no Centro Comercial?

Artigo 1109.º CC
Locação de estabelecimento
1 - A transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele, em conjunto
com a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele instalado, rege-se pelas
regras da presente subsecção, com as necessárias adaptações.

Assim sendo, poderíamos estar perante um contrato civil.


Contudo, há negócios que são comerciais pelo fim ou destino comercial do objeto (mediato).
É o caso dos arrendamentos comerciais - contratos tendentes a proporcionar a alguém o gozo de
um espaço para a instalação e funcionamento de um estabelecimento mercantil - em face do Decreto
5411 (hoje, revogado: cfr. os arts. 1108ss do CC) e boa parte dos atos de comércio acessórios.
Os atos de comércio ditos subjetivos (art. 2º II parte CCom), caracterizam-se genericamente pela sua
conexão com o exercício da atividade que constitui o objeto do negócio ou empresa do comerciante
- integrando-se, portanto no exercício do seu comércio, ainda que a título «acessório». Será por esta
via que o contrato celebrado entre B e C adquire a sua comercialidade – já que nada na obrigação nos
indica a sua natureza exclusivamente civil.
B e o cônjuge serão comerciantes nos termos do artigo 13º nº2, enquanto pessoa coletiva.

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Teoria dos atos de comércio


Quanto à sociedade ABC à Está em causa um ato de comércio subjetivo (art. 2º 2ª parte) visto que
nos termos do art. 13º nº2 são comerciantes as sociedades comerciais (e neste caso, a sociedade já se
encontra constituída), e porque se assume que as duas exceções do art. 2º 2ª parte, não se verificam.
• Quanto a saber se o ato é objetivamente comercial (art. 2º 1ª parte) à Para a TAC
precisamos de uma norma qualificadora especial. Ora, não há nenhuma norma qualificadora
especial no Código Comercial. Mas, nos termos do art. 1109º C.C., “a transferência temporária
e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele, em conjunto com a exploração de um estabelecimento comercial
ou industrial nele instalado, rege-se pelas regras da presente subsecção, com as necessárias adaptações”.
o A doutrina é unânime ao dizer que quando lemos o art. 2º quando fala de “regulados
neste Código”, não se limita a isto. Inclui legislação avulsa que ou substitui e
desenvolve regimes do Código Comercial como é o caso da LULL, ou que se
autoqualifica como comercial, ou ainda outras leis que regulem atos que
analogicamente possam ser considerados como comerciais (para quem admita a
analogia na qualificação que é diferente da analogia de regime).
§ A Prof. Fátima Gomes diz que não há analogia na qualificação.
§ Mas o Prof. Coutinho de Abreu admite que se aplique analogicamente as
prestações de serviço.

Quanto ao Centro Comercial à Também estaria em causa uma sociedade a arrendar o espaço, logo
também seria comerciante (art. 2º 2ª parte). E pelos mesmos motivos acima enunciados, estaria em
causa um ato de comércio objetivo.

c) Como qualificaria o contrato de financiamento realizado com o banco?

Teoria dos Atos de Comércio


Quanto à sociedade ABC à Para que o ato seja objetivamente um ato de comércio, a teoria dos
atos de comércio exige a conjugação da norma qualificadora geral do art. 2º 1ª parte com uma norma
qualificadora especial. Neste caso, encontramos o art. 394º C.Com.
• Nos termos do art. 394º: “Para que o contrato de empréstimo seja havido por comercial é mister que a
coisa cedida seja destinada a qualquer ato mercantil”. Ou seja, é necessário que a coisa cedida seja
destinada a qualquer ato mercantil. Ora, está verificado este requisito. O dinheiro emprestado
é destinado a um ato de comércio.

Quanto ao Banco à O ato em causa é um ato de comércio objetivo, uma vez que operamos a
conjugação do art. 2º 1ª parte com o art. 362º C.Com., relativo às operações de banco (ato de
comércio objetivo absoluto, por contraposição aos acessórios – as operações de banco têm
comercialidade própria, enquanto que os empréstimos não).
• Nos termos do art. 362º C.Com.,: “São comerciais todas as operações de banco tendentes a realizar
lucros sobre numerário, fundos públicos ou títulos negociáveis, e em especial as de câmbio, os arbítrios,
empréstimos, descontos, cobranças, aberturas de créditos, emissão e circulação de notas ou títulos fiduciários
pagáveis à vista e ao portador”.

*Nota:
Þ O requisito do empréstimo mercantil ser praticado por dois comerciantes releva apenas para a
exigência de forma (art. 396º). Não é requisito da comercialidade do ato.

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Þ O empréstimo é mercantil se a coisa cedida for destinada ao comércio; se isso for entre dois
comerciantes pode ser provado por qualquer meio.

d) Como qualificaria a subscrição da livrança?


Livrança = é uma promessa de pagamento (um título de crédito).
Nos termos do art. 2º do C.Com., são atos de comércio, todos aqueles que se acharem especialmente
regulados neste Código. Deve-se entender, de acordo com a posição unânime da doutrina, que
também se inclui aqui a legislação avulsa. Assim, poderemos mencionar a LULL (Lei Uniforme
relativa a Letras e Livranças).
• São atos formalmente comerciais. Formais opõe-se a materiais. Ou seja, não se exige
qualquer relação com o ato comercial. Ela é comercial por si só.
• A doutrina tem discutido se esta qualificação como ato formal deve ser levada tão longe até
considerar formal um ato de um particular (não comerciante) que não está relacionado em
nenhuma forma com o comércio.
o A doutrina minoritária diz que isto deveria ser feito com ponderação.
o A doutrina maioritária entende que se um ato é formalmente comercial, então é
comercial – abstrai da causa, independentemente da causa. Ou seja, este negócio
cambiário, porque previsto em lei mercantil, é um ato de comércio – apesar de a sua
comercialidade ser formal, uma vez que a causa deles pode nada ter a ver com o
comércio ou atos de comércio.
Neste caso tínhamos a livrança subscrita pela sociedade. Aqui, comerciante é a sociedade comercial
e não o gerente. Quando houverem poderes de representação, o representante não é o comerciante.
O B enquanto gerente não é comerciante, estando sim, a agir por conta de outrem.

e) O contrato de financiamento está sujeito a forma especial?


As exigências formais são pensadas para o tráfego extracomercial, por imperativos de
consciencialização e segurança jurídica. Neste caso, estamos perante dois comerciantes que, presume-
se, saberão com rigor as ações que tomam. Assim sendo, imperam os interesses jurídicos de agilização
do comércio.
Por tudo isso, o contrato de financiamento não está sujeito a qualquer forma ex lege.

Devemos ter em conta o art. 396º do C.Com., nos termos do qual rege o princípio da liberdade de forma
desde que ambos os sujeitos sejam comerciantes.
No entanto, devemos ter em consideração o DL 32765/1943 à “Os contratos de mútuo ou usura, seja
qual for o seu valor, quando feitos por estabelecimentos bancários autorizados, podem provar-se por escrito particular,
ainda que a outra parte não seja comerciante”.
• Ora, este Decreto Lei é especial face ao C.Com.

f) Belindo é comerciante?
- Antes de constituir a sociedade à Devemos apurar se B exerce a atividade em nome próprio, de
forma profissional, praticava atos de comércio (art. 13º nº1) então era comerciante.
- B, enquanto gerente da sociedade é comerciante? Não, é representante. O comerciante é a
sociedade.
- B, enquanto sócio à Está em causa uma sociedade por quotas limitada. Devemos olhar para o art.
13º. Não se aplica o nº2. Devemos apurar a aplicação do art. 13º nº1.
o A detenção da participação social não se consubstancia na prática de um ato de comércio.

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o A doutrina discute. Há doutrina que defende que um sócio de responsabilidade ilimitada


como pode ter essa responsabilidade pela atividade da sociedade pode ser considerado
comerciante.
o Mas, a Prof. Fátima Gomes desconsidera muito os argumentos utilizados por essa parte da
doutrina.

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Caso nº9
Antonieta, recentemente nomeada conselheira do STA e que já tomou posse, decidiu suprir a falta
dos subsídios de férias e Natal através de algum ganho que consiga obter em negócio de venda de
bijuteria de qualidade, pelo que encetou a procura de espaço compatível na Av. da Liberdade em
Lisboa. Para realizar o seu projeto, convidou a filha de Bernardete, sua amiga de infância, miúda
talentosa que frequenta o 10º ano do ensino profissionalizante de artes, de seu nome Carlita.
Antonieta e Carlita rapidamente se entendem e desenvolvem o seu projecto para a A&C biju,
redigindo um acordo escrito, tendo combinado que Antonieta entrava com o investimento e Carlita
com o seu talento artístico para criar as peças e vender.
Tendo em conta o caso acima apresentado, diga:
a) Antonieta e Carlita são comerciantes, de acordo com a TJE?

Teoria Jurídica da Empresa


• Carlita à Frequenta o 10º ano, logo nos termos do art. 13º e 7º C.Com., não tem capacidade
jurídica para ser comerciante. No entanto, a incapacidade pode ser suprida pelos pais. Um menor,
pode ser representado no exercício do comércio pelos representantes legalmente autorizados,
nomeadamente os pais.
o Se Carlita fosse maior de idade, poderia ser comerciante? Nos termos do art. 13º §1º,
teria capacidade para o efeito, sendo que temos de aferir o requisito da profissionalidade.
A hipótese não oferece dados suficientes para concluir que embora sejam atos
praticados habitualmente, isso não é suficiente se não existir um intuito operativo da
atividade.
• Antonieta à Devemos apurar se há uma incompatibilidade devido à sua profissão. Mas antes
de mais devemos verificar se pratica atos de comércio de acordo com a TJE.
o Art. 230º C.Com., §1 – pega em materiais e transforma em bijuteria.
o Antonieta é comerciante porque tem o risco de capital (é investidora). Não é quem
pratica diretamente os atos que é comerciante, pode praticá-los por intermédio dos seus
trabalhadores.
o Logo, isto seria uma empresa comercial e tornaria Antonieta comerciante.
o Mas também temos que discutir o tema da pequena empresa. Neste caso poderíamos
qualificar pelo art. 230º §1, mas não se aplica esta exceção. Há um risco de capital
superior a outro: se A falhar e houver outra pessoa, o negócio continua. Uma pequena
empresa é, de acordo com o Prof. Paulo Sendim, uma empresa com lucros exíguos.
o Nos termos do art. 14º do C.Com., proíbe-se o exercício comercial a pessoas por lei que
não o possam fazer. No caso concreto, o art. 13º do Estatuto dos Magistrados Judiciais.
o Prof. Evaristo Mendes à levanta o problema de saber se podem ou não ser
considerados comerciantes. Irá ficar numa situação de comerciante irregular quem continua
a exercer a profissão. Esta incompatibilidade só existe se, e enquanto, ela estiver a
exercer simultaneamente a profissão de conselheira. Ou seja, estamos perante uma
impossibilidade legal e não um problema de incapacidade. Esta impossibilidade é
geral.
o Consequência de violação desta norma:
§ No manual da Prof. Fátima Gomes, a mesma diz que há doutrina que considera
que os atos são nulos por violação de normas imperativas.
• Mas devemos seguir a posição de que a conselheira não é incapaz
(sendo que a nulidade está associada à incapacidade), estamos perante
uma situação de impossibilidade legal, sendo que o ato não é nulo,
podendo haver uma sanção disciplinar.
§ O ato é válido e comercial, mas ainda assim ela não é comerciante. Logo,
aplicamos-lhe o estatuto de comerciante? Há doutrina que entende que estas

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pessoas não podem beneficiar da proibição legal, para não estarem sujeitos a
normas que preveem um regime mais oneroso (ex.: solidariedade). Isto poderia
configurar-se um pouco como um venire contra factum proprium.

b) A&C biju é comerciante, de acordo com a TJE?

O art. 13º nº2 diz nos que as sociedades comerciais são comerciantes. Contudo, não sabemos que tipo de
sociedade terá sido adotada. Não sabemos se é uma sociedade comercial. Se for comercial, a firma está
incompleta: devia ser A&C biju Lda, por exemplo. De qualquer das formas, seria comerciante por virtude
do art. 13º nº2.

Se não for uma sociedade comercial, não pode ser qualificada como comerciante. Não está em causa uma
pessoa singular. E não conseguimos enquadrar aqui uma pessoa coletiva. Logo, não seria comerciante.
Seria quanto muito uma firma, que não existe comercialmente.
• Comerciante é a pessoa singular ou coletiva que exerce uma atividade comercial de forma
profissional.

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Estabelecimento Comercial e Empresa. Transmissão

Caso nº1 - Trespasse de estabelecimento situado em local arrendado


A, titular de um pequeno motel, com 8 empregados, situado em local de que C é o locador,
vendeu-o a B, com todo o ativo e passivo, por 20 000 euros, apesar de a situação líquida ser
ligeiramente negativa. C, notificado do negócio, propôs ação de despejo contra B, alegando
que o negócio fora simulado, e deduziu como pedido subsidiário a entrega do imóvel, por se
considerar titular de um direito de preferência.
Quid iuris?

Estamos perante um caso de trespasse. O trespasse está referido no art. 1112º do C.C.
O trespasse ou asset deal, é uma transferência definitiva da propriedade de um estabelecimento.
É um negócio que não esta regulado. Juridicamente, essa transmissão faz-se pelas vias normais – CV,
doação, etc
Ou seja, este negócio não tem uma especificidade regulada. Tem sim uma especificidade que é o
objeto. O legislador tenta tipificar este negócio baseado em algumas normas, como é o caso do
arrendamento e nos contratos de trabalho.
è Há então uma especificidade quando ao seu objeto!

O trespasse, sendo um negócio pluricausal, pode consubstanciar vários negócios: compra e venda, dação
em cumprimento, doação, entradas em espécie (para a constituição de uma sociedade comercial em que
esta passa a ser a proprietária do estabelecimento e a sociedade dá ações ou quotas de volta).

Neste caso pratico, o estabelecimento comercial operava neste local arrendado.


- Primeiro, temos de definir em que consiste o “estabelecimento comercial”
Estabelecimento comercial é o espaço físico onde se desenvolve a atividade comercial
Definição de estabelecimento comercial – segundo o Professor Francisco Barona, o EC é o conjunto de bens ou serviços
predispostos pelo empresário que serve de suporte para uma atividade produtiva de mercado, englobando elementos
corpóreos e incorpóreos dentro da chamada dimensão técnico-produtiva, aliada à dimensão de mercado.
Então, estaremos perante um EC?
Assumimos que sim, pois preenche a definição e os critérios de comercialidade (463º 1§ - compra para revenda – neste
caso, de material de papelaria – 2º nº1 e nº2), quer pela TAC quer pela TJE.
Não é que releve, uma vez que o trespasse tanto opera quanto a EC como a estabelecimentos não comerciais
(1112º nº1 al. a)).

É composto por bens corpóreos e bens incorpóreos


Nas situações em que o estabelecimento comercial é objeto de transmissão, transmite-se tudo.

A é considerado empresário? À luz da teoria dos AC, não porque é uma pequena empresa, etc etc.
Mas isso não releva para efeitos do Estabelecimento comercial, só é preciso que seja reconhecida esta
organização, tem de ser autónoma e com aptidão para perdurar.

1112º,al a) – este estabelecimento não é a mesma coisa que empresa; pode ser objeto de trespasse o
estabelecimento comercial mesmo que nao sirva de suporte a uma atividade comercial, mas sim a
uma atividade civil. Nesta alínea exclui-se a comercialidade, não é necessário que tal se verifique.
Neste caso, pode ser objeto de trespasse? Sim.
Então não precisa de autorização do senhorio.

O grande tema é que foi feito um trespasse de um estabelecimento situado num local arrendado. Nos
termos do art. 1112º nº1 alínea a), não é necessário o consentimento do senhorio.
• Se estivermos perante um trespasse, realmente o senhorio C não precisava de autorizar.

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• Mas o negócio em causa pode não ser trespasse. O art. 1112º nº2 dá exemplos de duas situações
em que não há trespasse. Não havendo autorização nestes casos, a cessão é ilícita, sendo
fundamento de resolução do contrato de arrendamento. Logo, pode ser intentada uma ação de
despejo. Com efeito não há trespasse quando:
o A transmissão não seja acompanhada de transferência, em conjunto, das instalações,
utensílios, mercadorias ou outros elementos que integram o estabelecimento
o A transmissão vise o exercício, no prédio, de outro ramo de comércio ou indústria ou,
de um modo geral, a sua afetação a outro destino.

Pode-se fazer um trespasse para encobrir uma cessão da posição de arrendatário, que de outro modo
precisaria de autorização. Mas, não é por o estabelecimento ter uma situação líquida ligeiramente negativa,
que há necessariamente uma simulação.

Mas, havendo trespasse, é necessário que haja notificação 1112º, nº3. Essa comunicação, atraves do nº4,
permite ao senhorio exercer o direito de prefrencia em duas situações, ver art.?

A consequência é a ineficácia. A ineficácia é fundamento de resolução?


• Art. 1083º nº2 prevê que é fundamento de resolução o incumprimento que, pela sua gravidade
ou consequências, torne inexigível à outra parte a manutenção do arrendamento,
designadamente, quanto à resolução pelo senhorio: a cessão, total ou parcial, temporária ou
permanente e onerosa ou gratuita, do gozo do prédio, quando ilícita, inválida ou ineficaz perante
o senhorio.
o Quando não seja exigível a manutenção do contrato – não basta que incumpra dois dias,
tem que ser algo mais grave (na opinião do Prof. Coutinho de Abreu).

Contudo, na hipótese assumimos que foi notificado dentro do prazo e que a cessão é eficaz. Por isso,
devemos agora abordar a questão do direito de preferência.
Neste caso, ao invés de exercer, optou por instaurar uma ação de despejo com fundamento em
simulação.
• O direito de preferência do senhorio não lhe permite fazer um resgaste do estabelecimento. Por
isso, o seu direito de preferência está condicionado.
o Terá direito de preferência se se comprometer a continuar a desenvolver a atividade que
ali era desenvolvida.
o Se tivesse sido notificado para exercer o seu direito de preferência tinha o prazo de 8
dias para o fazer art. 416º. Tem de se comunicar todos os termos do contrato de
trespasse. Se não tivesse sido notificado poderia defender-se através de uma ação de
preferência.

Pode haver várias interpretações (o caso pratico esta feito de forma a que nos alunos possamos
explorar as várias hipóteses)
- Quanto ao preço – o nj não tem este valor, ele só pretende é cessar a posição contratual. Nesse
sentido poderia admitir-se que houve simulação.

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Caso nº2 - Trespasse


Alberto, industrial de sumos e refrigerantes, casado com Berta, adquiriu em 31 de Julho de 2008 a
Carlos, agricultor e fornecedor de matérias-primas, 100 toneladas de frutas para a produção de sumos
naturais, pelo preço de € 50.000,00, que o adquirente ficou de pagar em cinco prestações iguais.
Entretanto, e para distribuição dos seus sumos, Alberto celebra com Etelvino, dono de uma pequena
mercearia, situada num imóvel pertencente a Felisberta, um contrato pelo qual Etelvino lhe cede o
gozo da loja (incluindo o respetivo ativo e passivo), a título definitivo, mediante o pagamento de €
100.000,00.

a) Suponha que Felisberta pretende intentar uma ação de despejo contra Alberto, invocando
que houve uma cessão não autorizada da posição de arrendatário. Quid Iuris?

E (trespassante) ----------------------------- A (trespassário)


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F (senhorio)

Temos de apurar se se trata de um estabelecimento comercial.

Felisberta – senhoria
F invoca uma cessão não autorizada da posição de arrendatário.
- Temos de ver então se é um trespasse e se se trata de um estabelecimento comercial.

Como vimos no caso anterior, já podemos concluir que se trata de um estabelecimento comercial.
(1112º,al).

Como é que vamos aplicar o regime do trespasse sabendo que é cedido o gozo temporário.
- Aqui temos é de ver como é que vamos classificar o trespasse – saber se estamos perante um
verdadeiro trespasse ou então uma cessão de exploração.
Por um lado, fala sobre cedência de gozo – característico da cessão de exploração (1109º).
Ex: concessões -situações em que estão a explorar o negócio e apensas pagam uma renda ao senhorio
Isso é ceder o gozo do espaço, pois a propriedade não se transmite, mantem-se na titularidade do
senhorio.
Por outro lado, temos a versão a título definitivo.

A diferença está sempre em saber se a transmissão é definitiva ou não.

Neste caso, considerando como um trespassse, se ele não tivesse comunicado (considerando com
condição de eficácia), a senhoria poderia por uma ação de preferência ou resolver com fundamento
no 1083º, f).

A cessão da exploração não tem de ser autorizada pela senhoria, mas tem de lhe ser comunicada.

b) Caso Irene tivesse um crédito contra Etelvino resultante de um fornecimento de bebidas


que não foi pago, contra quem poderá Irene fazer valer agora o seu crédito?

Estamos perante uma situação de trespasse. O gozo de E teria se transmitido visto que o trespasse da loja
incluía o respetivo ativo e passivo.

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• Efeito externo – É necessário que se cumpram alguns requisitos.


o Regime da assunção de dívidas, sendo necessário que haja um acordo expresso,
ratificado pelo credor, ou que haja um acordo escrito expresso independentemente do
acordo do trespassante. Em qualquer dos casos, continua o trespassante a responder
solidariamente pelas dívidas transmitidas.
o Irene podia exigir tudo de Etelvino, porque ele continua a responder solidariamente,
assumindo que não houve nada.

Devemos distinguir:
1. Se I tivesse feito declaração expressa de exoneração à então I não poderia exigir a totalidade da dívida
a E.
2. Se I não tivesse feito declaração expressa de exoneração à então I poderia exigir tudo a E, porque este
continua a responder solidariamente com A.

Isto não integra o âmbito natural do trespasse. O âmbito natural do trespasse, serão por exemplo os
bens corpóreos e incorpóreos (por exemplo, numa pastelaria, as mesas, cadeiras, bancada, forno, marca,
logótipo, posição de empregador nos contratos de trabalho). E as receitas dos bolos? Vão porque incluem
o know-how do pasteleiro. Os stocks, mercadorias, máquinas, equipamentos, e know-how tipicamente são
trespassados, ou seja, fazem parte do trespasse, tal como o local onde o estabelecimento funciona.
• Ex.: nos pastéis de Belém a receita do mesmo tinha que ser trespassado, por exemplo, porque
configuram o negócio.

Bens incorpóreos: direitos que não sejam sobre coisas.


• Conta corrente de um cliente à Um crédito do estabelecimento. O regime da cessão de créditos
é aplicado sem mais? Tendencialmente, este tipo de créditos transmite-se com o trespasse.
• Firma
• Marca
• Contato com instituições financeiras
• Dívidas

Caso nº3 – Obrigação de não concorrência


A, titular de uma papelaria na cidade de Braga, relativamente conhecida, mas já com certo aspeto «fora de
moda» - chamada «papelaria da arcada» -, vendeu-a a B, com todo o activo e passivo, por 50 000 euros.
No momento da venda, da contabilidade constava um activo de 30 000 euros e um passivo de 20 000.
Passados dois meses, foi aberta pela sociedade C, a 50 metros do local, uma outra papelaria, designada
«papelaria moderna». A sociedade pertence maioritariamente a A.
Quid iuris ?
A resposta seria diferente se a segunda papelaria tivesse sido aberta pelo próprio A ? e pelo cônjuge ? E
se fosse o cônjuge o sócio maioritário da sociedade ?

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A ----------------------------- B
Trespasse

Obrigação de não concorrência à Obrigação de não exercer uma atividade económica concorrente. O
trespassante (A) do estabelecimento fica, em princípio, obrigado a, num certo espaço e durante certo
tempo, não concorrer, com o trespassário – nomeadamente, fica vinculado a não iniciar uma atividade
similar à exercida através do estabelecimento trespassado.
• Fundamento principal desta obrigação de não concorrência: assegurar o gozo pleno e pacífico da
coisa não jurídica transmitida ou alienada.

A doutrina tem considerada esta obrigação comum tanto à transmissão direta (trespasse – asset deal) como
à indireta (share deal). Estamos perante uma transmissão direta, nomeadamente o trespasse.
• A nova papelaria foi aberta passados dois meses e a 50 metros do local da outra. E o sócio
maioritário é A, o antigo titular da papelaria de B.
• Isto seria uma violação manifesta à obrigação de não concorrência, porque ainda que A não seja
titular do novo estabelecimento, sendo sócio maioritário tem controlo na sociedade. E, portanto,
podendo ter um conhecimento qualificado sobre a dimensão de mercado do outro
estabelecimento, poderá frustrar o gozo pleno e pacífico do outro estabelecimento. Isto faz dele
um concorrente especialmente perigoso.

Estando perante uma violação desta obrigação, resta saber qual é a sanção aplicável.
• Resolução do contrato de trespasse por incumprimento culposo (art. 808º nº1 C.C.)
• A indemnização não será suficiente, pois sozinha não se configura como uma sanção útil.
• Com base no art. 829º, há quem considere que se pode pedir o encerramento do estabelecimento.

Devemos ter ainda em consideração o raio de ação do estabelecimento trespassado. 50 metros é claramente
um raio de ação em que a papelaria opera.

E se no CT diz que o trespassante não fica sujeito a qualquer obrigação de não concorrência?
à Podemos dizer que a obrigação de não concorrência é uma nota caracterizadora do trespasse. Se se
convencionar isto, então o fim do trespasse fica desfigurado – não haverá um verdadeiro trespasse, ou
uma efetiva transmissão do estabelecimento.
à MAS, a Prof. Elisabete Reis entende que está na livre disponibilidade das partes. Em princípio, as
partes podem convencionar isto. As pessoas são livres de fazer negócios ruinosos para si próprias.
• O sujeito dos interesses patrimoniais tutelados pela obrigação de não concorrência é o
trespassário, que deles pode dispor livremente.

E se fosse pelo cônjuge?

Então também estaríamos perante uma violação da obrigação de não concorrência, porque esta não
se dirige apenas ao antigo titular do estabelecimento, mas também a todos os familiares diretos desse
mesmo trespassante (i.e., cônjuges e filhos). Há aqui duas dimensões: a mulher tem conhecimento do
negócio do marido porque ele fala disso com ela em casa; e se for a mulher a exercer o negócio, o marido
irá lá dizer-lhe determinadas coisas. O que está subjacente é a partilha de vida e de conhecimento.

E se ela fosse sócia maioritária da sociedade?

Depois de termos admitido que uma sociedade maioritariamente constituída pelo marido está sujeita a
esta obrigação de não concorrência, chocaria uma solução oposta quanto à mulher.

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Caso nº4 - Trespasse de estabelecimento instalado em prédio arrendado

A, titular de um estabelecimento a funcionar em local arrendado, vendeu-o por €50.000,


assumindo o comprador, ainda, um passivo líquido de €20.000. Executado o negócio e
notificado do mesmo, o senhorio propôs uma acção de despejo, invocando que, como os
próprios valores indicavam, o contrato era simulado; apenas haveria a transmissão da posição
de arrendatário, encoberta por certos bens sem valor económico apreciável.

Quid iuris?

Estamos perante um trespasse (i.e., asset deal) que se configura como uma transmissão direta do
estabelecimento, isto é, uma alienação definitiva da titularidade de um estabelecimento. É um negócio
pluricausal, visto que lhe pode servir de base qualquer negócio, tendo neste caso sido a compra e venda.
Adicionalmente, está em causa um trespasse de estabelecimento instalado em prédio arrendado (art. 1112º
C.Civ.).

Em caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial instalado em prédio arrendado, o


trespassante-arrendatário pode ceder a sua posição de arrendatário ao trespassário sem necessidade de
autorização do senhorio. O negócio está sujeito ao regime geral dos artigos 424º e ss. CC (1059º nº2),
salvo as disposições especiais do capítulo (1022º e ss.). Uma das disposições especiais mais importantes é
a do artigo 1112º nº1 al. a) onde se dispensa a autorização do senhorio para a transmissão inter vivos da
posição de arrendatário nos casos de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial. Esta norma
visa agilizar e defender a circulação negocial dos EC e, eventualmente, a sua própria manutenção, pois a
necessidade de autorização poderia revelar-se extremamente limitadora. É protegido, assim,
essencialmente, o interesse do trespassante (até pela maximização do valor de realização da venda do EC)
e do trespassário em adquirir EC valiosos e funcionais – bem como o interesse geral no desenvolvimento
do tecido empresarial.
O 1112º nº2 a) parece indiciar que basta que o trespasse não transmita algum elemento do EC,
para o negócio se enfermar de um vício de invalidade e, como tal, não se falaria em trespasse mas em mera
cessão da posição contratual de arrendatário, que padeceria da falta de consentimento do senhorio, o que
dará fundamento de resolução do contrato de arrendamento ao mesmo (1083º nº2 e)). Contudo, sabemos
que este regime somente se aplica ao âmbito mínimo ou essencial de entrega. Assim, não basta ao senhorio
alegar que falta um desses elementos enumerados, mas que sem esse determinado elemento, no caso
concreto, não subsiste EC para ser trespassado, pelo que nunca poderá ter sido negociado um trespasse,
mas sim uma simulação de trespasse (240º), onde o negócio dissimulado seria a cessão da posição
contratual de arrendatário, ainda que pudesse existir a transmissão da propriedade sobre grande parte dos
bens, a outro título, como de compra e venda.
Neste caso, nada nos faz assumir que estaremos perante uma simulação de trespasse, mas tudo dependerá
da conceção de EC que optemos por adotar:
• Conceito amplo (moderno, hoje o mais correto) – dimensão de mercado – dificilmente se provará
a simulação, uma vez que um preço elevado aliado a uma assunção de dívidas poderá justificar-
se pelo potencial de mercado do EC.
• Conceito restrito (clássico, hoje anacrónico) – dimensão técnico-produtiva ou corpórea –
facilmente se admite a simulação, pois rejeita-se a relevância da clientela na avaliação objetiva do
valor do EC.

Ou seja, quanto à simulação:


Cessão da posição de arrendatário sem consentimento do senhorio, simulada. A questão que se coloca
aqui é a de saber se há ou não trespasse (art. 1112º nº2 C.C.).

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Þ Mesmo que se conclua que não há trespasse, isso não significa que a propriedade dos elementos
não se tenha transmitido, temos nós vários contratos de compra e venda dos vários elementos,
ou cessão de créditos.
Þ O beneficio de chamar trespasse é precisamente não ser necessário o consentimento do senhorio
– havendo uma transmissão forçada. Também estão ligados à existência ou não de trespasse
benefícios fiscais.
Þ O senhorio invoca o art. 1112º nº2 alínea a). Resolver o contrato por cessão ilícita (art. 1083º).
Não tendo sido transmitido o ativo, não havia trespasse, e daqui retiramos as consequências. Era
preciso autorização, e não havendo a cessão é ilícita.

Mudança de ramo
Há trespasse, há notificação. No entanto, há outras limitações como o direito de preferência do senhorio,
assim como a continuidade da atividade que era praticada pelo trespassante.
Þ Está em causa um tema sobre o qual a doutrina discute: não vê um fundamento autónomo de
resolução no art. 1112º nº5.
o Parte da doutrina à Ou está na alínea b) e não era um trespasse e pode resolver; ou cai
na alínea c) do nº2 do 1083º. Posto isto, não sabem porque existe o nº5 do art. 1112º.
o Prof. Coutinho de Abreu à Diz que há um bloco de casos restritos que exigem a
existência deste fundamento autónomo do nº5. No caso do trespassário, ele não pode
mudar a atividade do estabelecimento, ainda que esteja contida no âmbito do contrato
de arrendamento. O arrendatário pode exercer as atividades previstas no contrato de
arrendamento, o trespassário só pode fazer a atividade que recebeu do trespasse, e se
alterar o senhorio pode resolver o contrato nos termos do art. 1112º nº5. Mas isto é só
se ele não tiver essa intenção no trespasse, mas só se depois mais tarde decide alterar a
atividade.

nº2 al. b) do 1112º, considera-se não haver trespasse quando, no momento do negócio, havia intenção de
dar a outros destino ao prédio; o cessionário da posição de arrendatário tinha em vista não a continuação
do mesmo EC, mas sim a constituição, no mesmo prédio, de EC novo, com ou sem aproveitamento dos
respetivos bens, ou a aplicação do imóvel a fins não comerciais ou industriais, como a habitação. O destino
pode ser revelado por:
• Declarações expressas no contrato de trespasse;
• Declarações externas mas concomitantes;
• Factos objetivos posteriores (hipótese mais comum).
Quais as consequências jurídicas da mudança de ramo, ainda que inserida no âmbito abstratamente
definido pelo contrato de arrendamento? Alguma doutrina defende que ocorre uma sobreposição de
soluções jurídicas entre o 1083º nº2 c) e o 1112º nº2 b) e nº5 (Janúario Gomes, Olinda Garcia, Sousa
Ribeiro). Coutinho de Abreu defende que o 1112º nº5, ainda que não isento de críticas, cria, de facto, um
fundamento autónomo de resolução contratual.
Assim, apesar da mudança do ramo, houve trespasse, pois a hipótese não se enquadra na previsão do
1112º nº2 b), já que este ramo ainda se enquadra no admitido pelo contrato de arrendamento. Sim, poderá
ser-lhe dado um uso distinto do original, mas não um uso interdito pelas partes (1067º nº2, 1027 e 1028º).
Assim sendo, não há qualquer fundamento de resolução pelo 1083º nº2 c). Contudo, o artigo 1112º nº5
confere ao senhorio um fundamento autónomo de resolução contratual: a lei concede ao trespassante e
ao trespassário o benefício consagrado no 1112º nº1 al a), onde se dispensa a autorização do senhorio na
cessão da posição contratual de arrendatário, a fim de a facilitar. Contudo, se o EC cuja circulação se
promoveu não se mantiver, poderá o senhorio interferir na relação arendatícia, resolvendo o contrato.
A partir daqui tudo depende do momento em que ocorra essa alteração do destino:

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• No momento do trespasse – cessão ilícita – 1112º nº2 b) – não haverá resolução;


• Em momento posterior ao trespasse – afetação posterior – 1112º nº5 – resolução.

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Caso Prático nº5 (Trespasse de estabelecimento instalado em prédio arrendado)

A, marceneiro com estabelecimento aberto ao público em local arrendado e exercendo


diretamente a profissão sem quaisquer ajudantes e conforme práticas ancestrais, vendeu-o,
em 2010, a B, tendo notificado da transmissão o senhorio, juiz de profissão. Este pretende
exercer o direito de preferência. Quid iuris?

A ------------------------- B
| Trespasse
|
|
|
Senhorio (juiz de profissão)

Definição de estabelecimento comercial – segundo o Professor Francisco Barona, o EC é o conjunto de


bens ou serviços predispostos pelo empresário que serve de suporte para uma atividade produtiva de
mercado, englobando elementos corpóreos e incorpóreos dentro da chamada dimensão técnico-
produtiva, bem como uma dimensão de mercado.
Então, estaremos perante um EC?
Assumimos que não, pois para além de estarmos perante um pequeno comerciante – que escapa à órbita
do direito comercial -, estamos perante uma hipótese de atividade sujeita a normas expressamente
desqualificadoras – 230º nº1 - 230º 1§ e 464º 3§.
Não é que releve, uma vez que o trespasse tanto opera quanto a EC como a estabelecimentos não
comerciais (1112º nº1 al a) CC).

Estamos perante um contrato de trespasse.


O trespasse, originalmente na versão original do CC de 1966, era regulado nos artigos 1083º a 1120º do
CC (1109º e 1112º e 1118º CC – arrendamento para fins não habitacionais). Na década de 90 transitou
para o RAU, em 2006 para o NRAU e hoje surge regulado num Anexo do NRAU, dedicado à republicação
de certos artigos do CC, 1112º por exemplo. A sua inserção junto do regime do arrendamento resulta de
razões históricas.
O trespasse é definido - articulando o entendimento dos Professores Coutinho de Abreu e Francisco
Barona - como um contrato de transmissão direta e definitiva da propriedade de um estabelecimento ou
empresa por negócio entre vivos.
Quanto ao direito de preferência (1091º e 1112º nº4 CC) – exige-se (416º - prazo, com todos os elementos
que aí se exigem):
• Trespasse, com compra e venda ou dação em cumprimento
• Assunção de todos os direitos e obrigações do arrendatário referentes ao EC
• Continuação da atividade empresarial com todas as qualidades do arrendatário
• No mesmo local
Sendo o senhorio juiz de profissão, estará sujeito ao Estatuto dos Magistrados Judiciais, nos termos da lei
n.º 21/85, de 30 de julho com as alterações introduzidas até à Lei n.º 9/2011, de 12-04 ou ao Lei n.º
47/86, de 15 de Outubro (Estatuto do Ministério Público), consoante seja magistrado da qualidade tal ou
tal – no seguimento do 14º nº2. Relevam, nomeadamente, as seguintes disposições:
Artigo 13.º
Incompatibilidades
1 - Os magistrados judiciais, excepto os aposentados e os que se encontrem na situação de
licença sem vencimento de longa duração, não podem desempenhar qualquer outra função
pública ou privada de natureza profissional, salvo as funções docentes ou de investigação

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científica de natureza jurídica, não remuneradas, e ainda funções directivas em organizações


sindicais da magistratura judicial.
Assim como:
Artigo 81.º
Incompatibilidades
1 - É incompatível com o desempenho do cargo de magistrado do Ministério Público o exercício de qualquer outra função pública ou
privada de índole profissional, salvo funções docentes ou de investigação científica de natureza jurídica ou funções directivas em
organizações representativas da magistratura do Ministério Público. Isto demonstra que o senhorio nunca poderá exercer a atividade
profissional de marceneiro enquanto desempenhar a função de juiz, seja magistrado judicial, seja magistrado do ministério público.

Posto isto, claro fica que o senhorio nunca poderia cumprir os requisitos legais para interposição do direito
de preferência, pois estaria interditado de prosseguir a atividade profissional de marceneiro.
Contudo, não é absolutamente linear que ele tenha de manter o EC aberto, se satisfizer todos os outros
interesses do trespassário…
Estamos perante impedimentos relativos - uma pessoa singular pode, por razões de interesse público
(proteção de função ou profissão pública), estar afetada por uma incompatibilidade: o cargo que
desempenha é inconciliável com o exercício do comércio.
Se isso for desrespeitado, para além das consequências verificáveis no plano da função ou profissão
protegida, obstará à sua qualificação como comerciante? A questão é controvertida, mas, com razão,
maioritariamente tem resposta negativa: ele pode, ainda assim, tornar-se comerciante.
Entidades do artigo 14º - proíbe-se o exercício do comércio de forma profissional às entidades de fim
ideal e a pessoas que por lei o não devam fazer, via de regra para preservação de um outro estatuto e da
respetiva independência (incompatibilidades legais). Existe aqui, pelo menos literalmente, uma diferença:
o Estado, as autarquias, etc., não podem ter a qualidade de comerciantes, ou seja, não são qualificáveis como
tais e portanto não se lhes aplica, ao menos em princípio, o estatuto de comerciante. As entidades de fim
ideal e as pessoas abrangidas por incompatibilidades legais, embora o possam fazer juridicamente, não
devem exercer a profissão, ficando numa situação irregular se o fizerem (comerciantes irregulares). Por
conseguinte, só quanto às entidades do primeiro grupo é certo que não podem ser comerciantes.

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Caso nº6
Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como manicure
num espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas não andam a correr
muito bem, decidiram abandonar a sua anterior profissão e tornarem-se empresários de
pastelaria.
Alberto é um excelente pasteleiro e tem um amigo de infância que vive na província
produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis nas pastelarias lisboetas. Esse seu amigo
(Cristiano) vem todos os dias a Lisboa trazer os cereais encomendados por Alberto.
A pastelaria foi logo um enorme sucesso, mas o sucesso foi abruptamente interrompido pela
instalação, paredes meias, de uma loja da “Padaria Portuguesa”, que, por se integrar numa
rede de franchising, conseguia praticar preços muito competitivos.
Confrontado com o facto, Alberto pensa que o melhor a fazer é comunicar ao senhorio que
vai ceder a utilização do espaço da sua pastelaria à “Padaria Portuguesa”, para que esta
expanda o seu espaço comercial e assim o seu negócio.

a) Na sua opinião, o senhorio tem alguma forma de reagir perante esta situação?

Resposta: visto que há uma cedência de utilização do espaço de A à Padaria Portuguesa, poderia estar
em causa um subarrendamento (há apenas cedência de gozo do espaço), por ser a título temporário e já
não um trespasse (a título definitivo). Assim, não haverá aqui direito de preferência por parte do senhorio.

Problema jurídico: transmissão a titulo temporário do estabelecimento


• Disposições relevantes do Código C.C.: arts. 1108º a 1113º

Art. 1109º (Locação de estabelecimento)


Þ Nº1: a transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele, em conjunto
com a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele instalado, rege-se pelas
regras da presenta subsecção, com as necessárias adaptações.
Þ Nº2: a transferência temporária e onerosa de estabelecimento instalado em local arrendado não
carece de autorização do senhorio, mas deve ser-lhe comunicada no prazo de um mês.
o A transmissão é onerosa e, não obstante deverá ser feita comunicação ao senhorio no
prazo de 10 dias.

Nos casos de locação se aplica mutatis mutandis o regime do art. 1112º. O senhorio podia exercer o seu
direito de preferência, concretizável se continuar a desenvolver atividade exercida através de cessão.

Numa locação há uma transmissão do gozo, mas não da propriedade. O senhorio pode provar se não há
trespasse ou cessão?

à Duvida: há trespasse? Ou cessão de exploração?

A cessão de exploração ou locação são formas de transmissão direta de estabelecimento, a um titulo


definitivo ou temporária.

Estamos perante cessão ou subarrendamento?


Þ Subarrendar: cedo o espaço e decoração. O bolo movido é o mesmo, mas o título não é
transmissão da propriedade, mas há uma cessão do gozo (i.e., possibilidade do locatário gozar do
estabelecimento).

Locação
Tema do subarrendamento: em princípio necessita de autorização do senhorio
Caso não, cessão ilícita da posição contratual+ ação de despejo

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Se for: regime é semelhante. A comunicação do trespasse é 15 dias depois do mm. Cessão de exploração
é 1 mês.

b) Admita que o senhorio goza do direito de preferência na aquisição da pastelaria de


Alberto. Isso significa que assume as dívidas que Alberto tinha para com
fornecedores, bancos e trabalhadores?

Quanto ao direito de preferência (1091º e 1112º nº4 CC) – exige-se (416º - prazo, com todos os elementos
que aí se exigem):
• Trespasse, com compra e venda ou dação em cumprimento
• Assunção de todos os direitos e obrigações do arrendatário referentes ao EC
• Continuação da atividade empresarial com todas as qualidades do arrendatário
• No mesmo local
E…
Teremos duas modalidades de âmbitos de entrega:
• Obrigatório/Natural (ex silentio)/Imperativo/Legal/Mínimo;
• Convencional/Máximo.
É possível enumerar os elementos que habitualmente compõem o âmbito de entrega:
Âmbito e elementos naturais de entrega ou imperativos, que se transmitem necessariamente…
Meios empresariais do trespassante a título de propriedade:
• Logotipos e marcas
• Máquinas
• Utensílios
• Mobiliário
• Matérias-primas
• Mercadorias
• Inventos patenteados
• Modelis de utilidade
• Desenhos ou modelos
• Prédios ( a doutrina divide-se quanto à sua admissibilidade – Orlando de Carvalho nega, enquanto
Coutinho de Abreu, Barbosa de Magalhães, Ferrer Correia, Evaristo Mendes e Fátima Gomes
defendem que sempre que de um contrato de trespasse não se faça menção à transmissão do
prédio e não se conclua, por interpretação do negócio, que ele foi excluído, deve concuir-se que
a propriedade do mesmo foi (naturalmente) transmitida)
Meios empresarias na disponibilidade do trespassante a título obrigacional:
• Contratos de trabalho (285º CT)
• Transmissão da posição de arrendatário (Coutinho de Abreu, Pereira Coelho e Evaristo Mendes
consideram que também se transmite cessão da posição contratual) – em prédio arrendado ou
alocado dispensa-se a autorização do senhorio - 1112º, fugindo à regra geral de onde se extrairia
a necessidade de consentimento – 424º e ss. e 1059º nº1. Basta que se comunique, fazendo uma
notificação, sujeita a prazo de 15 dias (1038º g)) – 1112º nº2 – provando que haveria simulação,
não haveria trespasse. Se não, haveria trespasse. E se não houve notificação? Seria trespasse
ineficaz por violação do 1112º nº3. Sendo ineficaz, aplica-se o 1083º nº2 al. e) CC, existindo
fundamento para resolução do contrato de arrendamento.
• Transmissão da posição de locatário financeiro
Âmbito e elementos convencionais de entrega, que apenas se trnamistem por meio de estipulação…
• Firma, logotipo ou marca quando neles figure nome individual, firma ou denominação do titular
do estabelecimento

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• Posições contratuais e débitos daí resultantes (424º e ss. CC – regime geral, que exige a
confirmação de terceiros)
• Créditos do trespassante ligados à exploração da empresa mas cujos objetos não sejam meios do
estabelecimento não devem considerar-se, dissemos já, elementos ou meios empresariais (577º
CC)
• Transmissão singular de dívidas (assunção de dívidas) – 595º - só com acordo entre os
trespassante e o trespassário e ratificação e declaração expressa dos credores, ou por
acordo entre o trespassário e os credores, com ou sem consentimento do trespassante.
Se faltar a ratificação, o negócio deverá ser interpretado pro creditoris, numa co-assunção
solidária de dívidas pelo trespassante e trespassário. - SIM
o Há casos de exceção:
§ 285º nº1 e nº2 CT – ordenados e coimas laborais - SIM
§ 209º nº2 CRCSPSS – segurança social
§ EIRL
É necessário distinguir entre âmbito natural (transmissão de elementos integrantes do estabelecimentos)
e convencional (relações com terceiros, que necessitam da sua autorização e de observar as regras da
cessão da posição contratual).

No âmbito convencional, é necessária autorização:


• Face às dívidas, não são suscetíveis de transmissão natural e necessitam de autorização ou acordo
por parte do credor, logo ou o novo titular teria acordado com o antigo devedor, ou teria antes
acordado o novo titular com o credor esta transmissão sem consentimento do antigo devedor
(art.596º/2, CC). Logo, as dívidas para com os fornecedores necessitam de acordo para se
transmitirem. Se não houve acordo nesse sentido, o senhorio não tem de assumir as dívidas;
• Face aos trabalhadores e segundo o art.295º, CT, as dívidas perante o trabalhador passam para o
trespassário.

Necessitam de autorização ou acordo por parte do credor. Para se dar uma transmissão das dívidas por
fornecedores, sendo acordo ratificado por credor. Ou o titular tinha acordado com credor a transmissão.
De qualquer dos casos, o antigo devedor só deixa de responder solidariamente, se credor... regime do CC:
art. 596º nº2.

Se não houve acordo nesse sentido, o senhorio não assume dívidas para com fornecedores. Trata-se de
uma ... creditória pelo que... relativamente a dívidas para com trabalhadores.

Os contratos de trabalho são títulos jurídicos e esses títulos transmitir-se-iam para esfera jurídica do
trespassário. Assume de forma automática todos os direitos ou encargos adstritos. Não obstante, o antigo
empregador responsável por 1 ano (art. 295º CT) – diz que as dívidas perante trabalhadores passam para
o trespassário

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Caso nº7
Suponha que António vende, por acordo escrito, a Bento, seu amigo de infância, mas em relação ao qual
guarda ressentimentos por ter sido vítima de bulling, acções de uma sociedade anónima, em relação à qual
não haviam sido emitidos os documentos de representação das acções,. A alienação envolve 55% do
capital social e António havia contraído um crédito bancário para a sua aquisição, tendo o banco
financiador exigido ficar com o penhor das participações sociais.
Na venda que faz a Bento, António não só não indica que se financiou no banco, como também omite
qualquer referência ao penhor.
As partes assinam um documento intitulado “contrato de compra e venda de participações sociais”, por
200.000 euros, e, na altura em que Bento exige à sociedade os títulos das acções, estes vêem a ser-lhe
entregues com uma anotação que indica terem sido dados em penhor em favor do Banco.
Quid iuris?

Está em causa um contrato de fornecimento, e segundo o art. 230º nº2 está em causa uma modalidade
atípica de compra e venda comercial. Além disso, nos termos do art. 463º estão em causa compras e
vendas comerciais.

Posto isto, face aos deveres das partes, as partes são comerciantes (art. 1º, CSC e art. 13º nº2, C.Com.)
por serem sociedades comerciais. Porém, a lei admite que uma sociedade comercial tenha um objeto que
não comercial, pondo-se o caso de saber se as farmácias são comerciantes.
• Coutinho de Abreu dá resposta negativa;
• Evaristo Mendes dá resposta positiva.

Porém, qualificando como comerciante, adviriam as obrigações do seu estatuto enquanto comerciante.
Posto isto, face à dívida em questão, teríamos de ver se a taxa de juros foi fixada pelas partes e não havendo
informação, assume-se que não.
Não estando em causa juros convencionais, aplicam-se juros moratórios legais (art.102º, 3), isto assumindo
que há mora. Segundo o DL 62/2013, arts. 2º e 3º, aplica-se a transações comerciais entre empresas,
estando verificado o âmbito de aplicação.
• O §4 (taxas abrangidas para as restantes situações que não as do DL) e §5 (taxas abrangidas pelo
DL em questão) do art.105º;
• Logo, a taxa de juro seria a do art.102º, §5, conjugada com o DL

Posto isto, aplica-se o art. 4º/2 e 3, c) do DL.

ESQUEMA DE RESPOSTA
1º à Contrato de fornecimento (definição)
2º à Qualificação das 2 partes
Þ É uma sociedade comercial nos termos do art. 13 nº2. No entanto já foi discutido se este objeto.
A doutrina atualmente não é comerciante, não obstante ser uma sociedade comercial.
3º à Valor da dívida, sua exigibilidade, data a partir da qual seriam contados os juros
Þ Transação comercial DL nº62/2013 – demonstrar âmbito de aplicação (art 2º e definição de art.
3º). É aplicável. Aplicação taxa do art. 112 nº3, 5. O 4 e 5 concretizam aplicação do 3.

ACORDAO fala da aplicação deste DL no fornecimento de uma farmácia: DL nº 868/11 5TBTMR.C1


de 01/04/2004

Banco----A-----B

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Negócio celebrado entre o Banco e A - O negócio entre o Banco e A é um ato de comércio. O financiamento é
uma operação de banco (art. 362º) e é para ser utilizado para um ato de comércio (art. 394º). O penhor é
comercial – art. 397º - a dívida que está a garantir tem de ter origem comercial. A regra neste tipo de
penhor, ao contrário do regime civil, é de que não tem de haver entrega da coisa – art. 398º. (é ainda de
referir o art. 399º+ art. 23º/3 CSC[2] + CVM).
O DL nº 29883 de 117/08/1939 regula o penhor bancário e afirma que o penhor constituído em favor
de créditos bancários não necessita que haja entrega da coisa.

Fenómeno de levereged buyout - Ocorreu também um fenómeno de leveraged buyout que consiste numa técnica
jurídica de aquisição de empresas societárias, em que o adquirente (António), não possui o capital ou
liquidez suficiente para realizar a compra, pelo que recorre a financiamento de um terceiro (Banco) e
oferece-lhe como garantia o património da empresa adquirida (penhor sobre as participações adquiridas).
Basicamente a sociedade adquirida suporta o custo da sua aquisição.
As ações vendidas a António encontram-se empenhadas – A é o titular das mesmas, sobre as quais foi
constituído um penhor.

Conceito de transmissão indireta- Neste caso, Bento é investido da titularidade económica da sociedade,
decorrente da aquisição de uma posição de controlo sobre o capital social da empresa (transmissão
indireta/ share deal). Para tal considera-se ser necessário (Prof. Engrácia Antunes), que a transmissão das
ações invista o adquirente na titularidade controlo da sociedade (o não que ocorre – 45% do capital do
banco não é suficiente, se a sociedade não tiver o capital disperso – os 55% estão com outra pessoa) e que
à luz das regras gerais de interpretação seja possível concluir que tenha sido a vontade das partes transferir
a empresa e que essa seja a causa negocial do contrato de compra e venda de ações.

Compra e venda de participações sociais - O negócio celebrado pode-se considerar uma compra e venda de
participações sociais previstas no art. 463º/5. O objeto desta compra acabam por ser direitos sobre a
empresa, independentemente da participação em causa ser maioritária ou minoritária.

Soluções - As ações foram penhoradas, dado que António pagou o valor devido ao banco; qual a situação
de Bento?

Venda de bem onerado – O regime do direito civil prevê que a verificação de circunstâncias submetidas a
ónus ou limitações determina a aplicação dor regime da venda de bens onerados. A aplicação deste regime
à aquisição de participações sociais tem de ser adaptado ao contexto empresarial. Os profs. António Pinto
Monteiro, Paulo Mota Pinto, Calvão da Silva e Coutinho de Abreu consideram que pode haver uma
aplicação deve ser feita de forma ponderada. Os profs. Antunes Varela, Galvão Telles, Rita Amaral Cabral
defendem a aplicação do regime da culpa in contrahendo, porque sempre que o alienante soubesse ou
devesse saber do vício, devia prevenir o adquirente nos termos do disposto do art. 227º.
Para efeitos das garantias legais, dever-se-á tratar esta matéria de acordo com art. 905º CC, como o direito
transmitido estava sujeito a uma limitação que excedia os limites normais dos direitos da mesma categoria
(tinha um penhor constituído), o contrato celebrado por António e Bento será anulável por dolo, caso os
seus pressupostos se verifiquem (art. 253º/1), podendo haver lugar a uma indeminização, pelo art. 908º.
· Acórdão STJ, de 21/02/1991 – Entende que houve erro sobre os motivos, na situação em que
após a a cessão de quotas foi detetado pelos compradores uma penhora sobre o equipamento da empresa,
sendo que os alienantes sabiam que os compradores descoconehciam desse facto. PODE-SE TAMBÉM
APLICAR ESTE REGIME SE FOR NECESSÁRIO.
· Regime mais flexível porque permite a alteração do contrrato mediante redução do preço acordado.

Transmissão indireta da empresa – share deal (por contraposição ao asset deal (transmissão direta)

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A --------------------- B ------------------------- C
Houve duas compras para revenda de ações (463º nº5) – ambos atos de comércio (TAC e TJE)
Houve um contrato de financiamento com penhor comercial (362º e 394º + 397º, 399º, 23º nº3 CSC e
CVM)

Se o estabelecimento for da propriedade de uma sociedade comercial, é mais fácil para as partes fazer um
NJ em que o dono do estabelecimento é o sócio maioritário da empresa.
o Share deal – SE for uma sociedade, em vez de a alienar por completo, pode apenas
fazer uma alienação de ações representativas do capital da empresa.
As partes não se resumem a dizer que pretendem comprar ou vender a maioria das quotas ou as ações do
sócio controlado. Mas se a perspetiva das partes é de adquirir, ainda que de forma indireta, o
estabelecimento, é natural que quem compra queira saber o que está dentro da sociedade. Assim, as partes
fazem um processo de auditoria levado a cabo pelo comprador; análise à documentação da empresa e
perceber quem são os fornecedores, os clientes, a atividade, etc.. É a propósito disso que se determina se
há contingências (ex.: dívidas ao Fisco, à Segurança Social, a trabalhadores).
Nestes processos, estes negócios de due diligence revelam que o que as partes quiseram foi a de adquirir,
de modo indireto, a empresa. A transmissão do estabelecimento pode fazer-se por via direta (asset deal)
ou de modo indireto (tranmissão do controlo das partes sociais).

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Caso nº8 extra


7
A Farmácia da Palma, Lda - ver acórdão 868/11.5TBTMR.C1 de 01/04/2014 TRC -,
titular de uma farmácia, que funciona num local arrendado, celebrou com o Laboratório
Phama Y, SA, um contrato de fornecimento de medicamentos, a executar à medida das
necessidades da primeira.
A certa altura, a Farmácia da Palma, Lda encomendou um lote de vacinas para a gripe
sazonal, facturada em 1 de Dezembro de 2013, por 35.000 €. Em função do pagamento do
preço, aceitou uma letra nesse valor, com vencimento a 23 de Janeiro de 2014.
A 22 de Janeiro de 2014, Farmácia da Palma, Lda, recebeu a encomenda e verificou que
parte das vacinas não estavam boas, porque durante o transporte não haviam sido
conservadas à temperatura ideal (Cumprimento defeituoso).
A Farmácia da Palma, Lda comunicou imediatamente tal facto ao Laboratório Phama
Y, SA, na pessoa do seu administrador, José Cautela, e este disse-lhe que ainda assim teriam
de pagar o preço da totalidade do lote de vacinas, uma vez que o Laboratório Phama Y,
SA havia endossado a letra à Cooperativa dos Laboratórios de farmácia Unidas, CRL, e este
a havia descontado num Banco.
Segundo o entendimento do Laboratório Phama Y, SA, era-lhe devido o pagamento do
preço, acrescido de juros, uma vez que a factura estava já vencida.
Tendo em conta os dados da hipótese, diga se o contrato celebrado entre a Farmácia da
Palma, Lda e o Laboratório Phama Y, SA é um contrato comercial, analisando os
deveres das partes e os argumentos invocados pelo Laboratório Phama Y, SA quanto:
• ao valor da dívida
• sua exigibilidade
• taxa de juros aplicável
• a data a partir da qual esses juros seriam contados.

Relativamente ao caráter comercial do contrato…


1º - Caracterizar, com traços distintivos, as duas teorias para qualificação, se a pergunta não nos direcionar,
no enunciado, para uma delas:
• Teoria dos atos de comércio (TAC) – um determinado ato é ato de comércio, aplicando-se o
regime mercantil, quando se acharem especialmente regulados no Código (2º 1ª parte + norma
especial, como o artigo 463º, quanto à compra para revenda); Estas normas somente qualificam
como comerciais os atos, já a comercialidade enquanto estatuto dos sujeitos remete-se para o 13º.
Atende-se, no essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais objetivamente
caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra para revenda), não ao
elemento organizativo.
• Teoria jurídica da empresa (TJE) – Esta teoria diz-nos que a norma do 230º é que é a norma
fundamental quanto à qualificação comercial dos atos, ao passo que a norma do artigo 2º nº1 é
uma norma residual, somente quanto aos atos de comércio ocasionais (230º + 2º nº1); O artigo
230º alarga o âmbito dos atos objetivos – não são só os clássicos atos de intermediação nas trocas,
mas todos os atos elencados no 230º a todas as atividades preparatórias da empresa (core). O 230º
opera duas qualificações: estabelece os atos como comerciais e classifica os sujeitos como
comerciantes (Olavo Cunha), mas complementado pelo artigo 13º. Esta posição antecipa a

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qualificação, atendendo ao elemento organizativo em detrimento do elemento operativo


(primeiros atos jurídicos tendo em vista o ato comercial objetivamente caracterizador da atividade
futura da empresa, como a contratação de trabalhadores).
2º - Tratar separadamente todos os sujeitos que sejam partes na situação jurídica, se a pergunta não se
cingir a um sujeito em concreto;
3º - As questões deverão incidir sobre dois pontos de análise:
• O ato é qualificável como comercial para o sujeito sub judice?
• O sujeito é qualificável como comerciante para o ato sub judice?
(Isto significa que teremos quatro grandes questões (estas duas para cada sujeito), que se tornarão oito ao
todo, pois devem ser respondidas, na falta de explicitação, empregando cada teoria separadamente); Assim
sendo...
4º - Comecemos pela Teoria dos Atos de Comércio (TAC).
5º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TAC? (PRIMEIRA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)
• Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão normativa da
1ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste
Código”? Entende a doutrina, como o Professor Coutinho de Abreu e o Professor Evaristo
Mendes, que isto engloba:
o As correspondentes a atos de comércio «regulados» diretamente no CCom;
o As previstas no artigo 230º; - SIM, 230 §2 ou 463º §1 – BILATERALMENTE
COMERCIAL – não se aplica o regime do 99º.
o As correspondentes a atos de comércio regulados por normas avulsas, quer se trate de
normas que revogaram títulos do Código, quer se trate de legislação comercial
extravagante (por autoqualificação ou por interpretação);
o As que correspondam a um pensamento analógico (legis – 10º/2 CC - ou iuris – 10º/3)
CC – NA TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO NÃO HÁ ANALOGIA.
• (Cont.) Independentemente da modalidade onde se enquadre, a lógica desta posição é sempre a
seguinte: 2º nº1 1ªP + Norma Especial, codificada ou avulsa. Atende-se, no essencial, ao
elemento operativo (primeiros atos comerciais objetivamente caracterizadores da atividade da
empresa, como a primeira compra para revenda), não ao elemento organizativo.
• Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão normativa da
2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações dos comerciantes (via 13º,
segundo a TAC), que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato
não resultar (ou das suas circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar três questões…
o Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva positiva)
o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA PERGUNTA
OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO COMERCIANTE?)
§ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,
inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o comércio
por si, por um EIRL ou por representante (13º nº1); E profissionalidade,
mediante a qualificação dos atos de comércio que ele pratica (se qualfiicarmos
estes atos como comerciais – 463º - compra de sistemas de vigilância para
revenda com instalação, ou sendo uma comissão, por ele estar em
representação duma grande empresa, alegadamente);
§ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e SE; - As Lda
são Sociedades por quotas de responsabilidade limitada (197º e ss. CSC);
As SA também são Sociedades, desta feita Sociedades Anónimas (271º e
ss. CSC) – Ambos os sujeitos são comerciantes enquanto Sociedades
Comerciais, preenchendo o âmbito do artigo 1º nº1 e nº2. – os atos de
comércio derivam do 230º §2 e do 463º §1.
§ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);

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§ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);


§ As Cooperativas (230º);
§ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;
§ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
o Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
§ Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
§ Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos (dependentes de uma
relação pessoal: por ex., convenções antenupciais e obrigação de alimentos);
§ As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
§ Os negócios mortis causa (discutível).
• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como subjetivamente
comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.
6º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como comerciante
\para o outro sujeito, ainda segundo a TAC.
7º - Partimos agora para a análise da questão sob o prisma da Teoria Jurídica da Empresa (TJE).
8º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TJE? (PRIMEIRA PERGUNTA
OBTÉM AQUI RESPOSTA)
9º - Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão normativa
do artigo 230º Ccom - SIM (relembramos que para TJE o artigo 230º é a norma qualificadora primária,
operando o artigo 2º nº1 residualmente, somente quanto a atos de comércio ocasionais) – “Haver-se-ão
por comerciais as empresas, singulares ou coletivas, que se propuserem: (…) ”. Esta posição antecipa a
qualificação, atendendo ao elemento organizativo em detrimento do elemento operativo.
• Se se confirmar a qualificação por esta norma, respondemos desde logo à SEGUNDA
QUESTÃO, uma vez que, segundo Olavo Cunha, o artigo 230º qualifica tanto o ato como
comercial como o sujeito que o pratica como comerciante. Neste caso, o Professor Coutinho de
Abreu entende que há um princípio básico de que todos os contratos de prestação de serviços
são comerciaism, nos termos do 230º nº2. E´possível, mesmo por analogia! Mas isso depende da
qualificação de C como comerciante, um prestador de serviços (dentro de uma organização),
coisa que não sabemos. Se não for, não há qualificação pelo 230º, e não poderá ser objetivamente
comercial.
• Se não se confirmar…
10º - Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão normativa da 2ª
parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações dos comerciantes (via 13º), que não forem
de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar (ou das suas circunstâncias
circundantes) ”. Importa perguntar três questões…
• Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva positiva)
• Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA PERGUNTA
OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO COMERCIANTE?)
o As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade, inabilitação ou
interdição) judicialmente autorizadas para exercer o comércio por si, por um EIRL ou
por representante (13º nº1);
§ As sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e SE; As Lda
são Sociedades por quotas de responsabilidade limitada (197º e ss. CSC);
As SA também são Sociedades, desta feita Sociedades Anónimas (271º e
ss. CSC) – Ambos os sujeitos são comerciantes enquanto Sociedades
Comerciais, preenchendo o âmbito do artigo 1º nº1 e nº2. – os atos de
comércio derivam do 230º §2 e do 463º §1.
o Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
o Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
o As Cooperativas (230º);

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o As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;


o As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
• Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
o Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
o Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos (dependentes de uma relação
pessoal: por ex., convenções antenupciais e obrigação de alimentos);
o As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
o Os negócios mortis causa (discutível).
• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como subjetivamente
comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.
11º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como comerciante
para o outro sujeito, ainda segundo a TJE.
12º - No final, deveremos, para cada teoria, aferir se estamos perante um ato objetivo puro ou misto
(unilateral ou bilateral), consoante seja comercial para uma ou ambas as partes (art. 99º).
RESUMINDO, temos que:
Contrato é objetivamente comercial para a Farmácia da Palma Lda?
• TAC – Sim (2º nº1 + 230 §2 ou 463 §1)
• TJE – Sim (230º §2 ou 230º + 463º §1)
Contrato é objetivamente comercial para a Laboratório Phama Y SA?
• TAC – Sim (230 §2)
• TJE – Sim (230 §2)
Contrato é subjetivamente comercial para a Farmácia da Palma Lda?
• TAC – Sim (2º nº2 – 13º nº2 – SQ)
• TJE – Sim (230º §2, dupla qualificação ou 13º nº2 – SA)

Relativamente aos deveres das partes…


Para além de todos os deveres resultantes do estatuto do comerciante…
• Regime dívidas dos cônjuges (art. 15 do CCom/ art. 1691.1d) do CC);
• Juros de mora (art. 102 §§ 3/4 e 5 do CCom); - 5 – DL – 2º sim, 3º confirmar definições,
4º nº c) – MAS ATENÇÃO ÀS DATAS, se fosse anterior ao DL, já não!
• Solidariedade passiva das obrigações (art. 100º do CCom), extensível à fiança (art. 101º CCom);
• Forma do mútuo (art. 396 do CCom)
• Eficácia do penhor (art. 400 do CCom);
• Qualificação de negócios e créditos como comerciais, potencialmente sujeitos a regras distintas
do regime civil (art. 2 II, melhor analisado adiante).
• Regras especiais relativas à representação jurídica dos comerciantes, através de gerentes e
auxiliares seus (arts. 248ss do CCom e 115º nº3 CT);
• Direito de saque (278º CCom);
• Regime de especial da insolvência (CIRE);
• Disposição fundamental do artigo 18º do CCom: Os comerciantes são especialmente obrigados:

Relativamente aos argumentos invocados pelo Laboratório Phama Y, SA quanto:


• ao valor da dívida
• sua exigibilidade
• taxa de juros aplicável
• a data a partir da qual esses juros seriam contados.
“,Na pessoa do seu administrador, José Cautela, este disse-lhe que ainda assim teriam de pagar o preço da totalidade do lote
de vacinas, uma vez que o Laboratório Phama Y, SA havia endossado a letra à Cooperativa dos Laboratórios de farmácia
Unidas, CRL, e este a havia descontado num Banco. Segundo o entendimento do Laboratório Phama Y, SA, era-lhe devido
o pagamento do preço, acrescido de juros, uma vez que a factura estava já vencida. A Farmácia da Palma, Lda encomendou

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um lote de vacinas para a gripe sazonal, facturada em 1 de Dezembro de 2013, por 35.000 €. Em função do pagamento
do preço, aceitou uma letra nesse valor, com vencimento a 23 de Janeiro de 2014.”
A letra bancária é um título de crédito. Trata-se, por isso, de um documento escrito e assinado pelas
partes que contém um crédito em dinheiro e que se movimenta por endosso ou desconto. São também
títulos de crédito, entre outros, a livrança e o cheque.
Existe a possibilidade de o sacador da letra efetuar o desconto bancário de letras, que é um
mecanismo que lhe permite receber previamente o valor total de uma letra bancária de um Banco, através
do pagamento de juros e comissões convencionadas. Nesse momento, a Instituição Financeira passa a ser
a tomadora da letra bancária. Todavia, se o devedor (sacado) entrar em incumprimento, é o credor
(sacador) e não o Banco que suportará na totalidade as correspondentes perdas.
O desconto de letra bancária é sobretudo um mecanismo que permite transformar um direito de crédito
em dinheiro imediato (liquidez), sem ter que esperar pela data de vencimento da letra.
A Letra é um instrumento muito antigo e muito importante para a concessão de crédito a comerciantes
e empresas. Efetivamente, uma das causas para a enorme importância prática deste instrumento é a
possibilidade de se poder prestar aval pessoal por parte de terceiros (sobretudo, os sócios de uma empresa
em relação a essa empresa).
Ora, uma das características da letra bancária é a de que a posse do título em conformidade com a Lei
permite que o portador da letra possa cobrar o direito que emerge do título de crédito.
Assim, aquele que pode cobrar a letra é o portador ou tomador (NESTE CASO, O BANCO); por sua
vez, aquele que dá a ordem de pagamento é o sacador ; por último, aquele a quem é dada a ordem de
pagamento é o sacado.
Desta característica da legitimação decorre que o portador não precisa de provar a titularidade do
direito cartular, uma vez que esta se presume; por isso, o devedor (sacado) não pode recusar o pagamento
de uma letra bancária ao portador sem entrar em incumprimento contratual.
Mais, o devedor não precisa de aferir se o tomador do título de crédito é ou não o legítimo titular do
direito. Com efeito, ao efetuar o pagamento da letra bancária ao portador na data de vencimento, o
devedor (sacado) fica totalmente desonerado de todas as obrigações decorrentes da letra, não lhe podendo
ser exigido que pague outra vez a letra por eventualmente ter pago à pessoa errada. Assim, o devedor
(sacado) fica com a garantia de que o pagamento que efetuar não pode ser qualificado como cumprimento
feito a terceiro.
A Letra é criada através do saque. Existem dois tipos de saque:
• 1) – Saque à ordem do sacador (arts. 1º, n. 6º, e 3º da LULL); – neste caso o sacador é o primeiro
titular da letra, que a pode transmitir, designadamente por endosso (entrega do título com uma
declaração de transmissão a favor de um endossado).
• 2) – Saque para o tomador ou à ordem deste (art.º 1º, n. 6º); – neste caso, o sacador não fica
titular da letra, porque o primeiro titular é o tomador; tornando-se o saque, em regra, eficaz,
enquanto negócio jurídico a favor de terceiro, com a entrega do título a este, ou seja, com a sua
emissão. Emissão é, grosso modo, o ato pelo qual o criador de um título voluntariamente o
coloca no tráfico, fora da sua esfera jurídica. No caso das letras e cheques, implica em regra a
entrega voluntária do título ao tomador, sendo o saque a favor deste ou à sua ordem, ou a um
primeiro endossado do sacador, se o saque for à ordem deste.
23. A forma de transmissão da letra especialmente prevista na LU é o endosso (arts. 11º e seguintes).
A transmissão da letra sem ser por endosso - isto é, a transmissão de direito comum (cfr. o art.º 20º)
- é uma transmissão em certo sentido fraca. Duas razões apontam nessa direção:
• 1) – Por um lado, é uma transmissão que não beneficia da tutela cambiária prevista na LULL
(cfr. o art. 16º);
• 2) – Por outro lado, em caso de conflito com uma transmissão cambiária (ou por endosso),
cede, em princípio, perante ela. É esse o sentido da Lei e pode ver-se aqui uma manifestação
do mencionado princípio da incorporação, que, segundo o entendimento geral, caracteriza
os títulos de crédito.

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Mesmo quando a letra circula por endosso, no nosso direito, o endosso – quando se trata de endosso
translativo, porque há outras modalidades (cfr. os arts. 18º e 19º da LULL) – é um elemento de um
contrato translativo ou da sua execução. Ou melhor, é a representação ou projecção cartular (isto é, no
título) desse contrato.
Exemplo: Sacador ------------------------- E1 ------------ P (banco)
|
sacado (Aceitante)
Está aqui retratado um saque à ordem do sacador, seguido de um endosso pelo mesmo sacador.
Subjacente à ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado através da letra (e subjacente também ao
aceite) está – vamos admitir - uma compra e venda, na qual o sacador assumiu a posição de vendedor,
credor do preço. A relação estabelecida entre o sacador e o seu endossado (E1) resultou igualmente de
um contrato de compra e venda. O sacador endossou a letra a E1, utilizando-a como moeda de troca,
para pagar o preço estipulado nesse contrato (ou em função desse pagamento), ficando legalmente garante
do pagamento pontual do título pelo sacado no vencimento (art.º 9º da LULL). O E1, por sua vez,
endossou a letra ao banco, seu portador, ao abrigo ou em execução de um contrato de desconto. O banco
entregou-lhe o valor actual (valor de troca ou valor descontado) da letra e ficou com ela para cobrar no
vencimento o respectivo valor facial; garantindo-lhe o E1, seu endossante, o bom fim do título, isto é, o
seu pagamento pontual pelo sacado no vencimento (art.º 15º da LULL). O endosso é em certa medida,
no primeiro caso, uma expressão, no título, do subjacente contrato de compra e venda e, no segundo caso,
do contrato de desconto.
24. Com o aceite, o sacado constitui-se obrigado cambiário, isto é, obriga-se a pagar a letra a quem a
apresentar a pagamento (artº 28º da LULL). Na sua essência, a letra aceita continua a ser uma ordem de
pagamento legalmente garantida – agora confirmada pelo seu destinatário. Ser a letra legalmente garantida
significa que o sacador, ao emitir ou mobilizar o título, é garante do seu pagamento pontual, sendo
responsável pelo seu eventual não pagamento; e isto por força da lei, não da sua vontade. Os restantes
subscritores, com excepção do aceitante, se houver aceite, são, em princípio, igualmente garantes perante
o portador. No entanto, isto não é um mecanismo obrigacional: o sacador nem promete o pagamento da
letra, nem assume qualquer obrigação de a fazer pagar pelo sacado. O que ele faz é dar uma ordem de
pagamento a este. Só se constituindo obrigado de regresso, por força da garantia que a lei lhe impõe, na
eventualidade de o pagamento da letra não ser feito pontualmente, no vencimento; ou, não estando a letra
aceite, se este vier a ser recusado.
25. Especificamente, em geral a obrigação de regresso só surge se se verificarem certos pressupostos:
• 1º - a) Apresentação atempada da letra a pagamento e recusa deste; ou b) apresentação da letra a
aceite e respectiva recusa. O aceite inválido equivale à recusa de aceite.
• 2º Apresentação atempada a protesto de letra cujo pagamento ou aceite hajam sido recusados
(artsº 43 e seguintes da LULL).
O protesto é, em Portugal, uma prova notarial de que a letra foi apresentada a pagamento (ou aceite) e
que tal pagamento (ou aceite) foi recusado (art.º 44º da LULL e arts. 119ºss do CódNot). Evaristo Mendes
(FDL 1990-1991) 14 26. Ao lado dos garantes legais da letra, prevê a lei ainda a existência de garantes
voluntários: os avalistas (artsºs 30º e seguintes da LULL). Tal como sucede com o sacador e os
endossantes, também os avalistas se limitam a assegurar a produção de um resultado: o pagamento pontual
da letra (em princípio pelo sacado) no vencimento da mesma. Não assumem, com o seu aval, nenhuma
obrigação de pagar. Apenas se tornam obrigados na eventualidade de a letra cair no regresso por falta
desse pagamento (ou de aceite), o que não sucede com a generalidade dos títulos emitidos. Só no âmbito
da relação obrigacional de regresso, se ela vier a constituir-se, o portador fica, portanto, titular de um
direito de crédito contra eles.
27. A letra é um título de crédito. Afirmar que a letra é um título de crédito pode, porém, levar ao engano,
na medida em que, por um lado, o «direito» inscrito num título desta natureza não tem que ser um direito
de crédito e, por outro lado, como se observou, a essência da letra - «rectius», de uma letra normal, não
desacreditada – reside numa ordem de pagamento, legalmente garantida a partir da emissão, a favor de
alguém. O mesmo se diga, nomeadamente, das ações das sociedades anónimas: nem sempre o seu titular

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é um credor. É-o, por exemplo, quando há lucros a distribuir pelos acionistas; mas, uma vez os lucros
distribuídos, o titular das ações não é por esse facto titular de um direito de crédito. Mesmo quando exista
tal situação credora, a essência da posição jurídica inscrita no título apresenta natureza distinta. Salienta-
se esta ideia: a afirmação corrente de que a letra é um «título de crédito» - e, inclusive, um título de crédito
«stricto sensu» - tem de ser entendida cuidadosamente. Com efeito, na sua circulação normal (que vai da
emissão, em princípio, até ao vencimento e que, na generalidade das letras, é a única existente), ela só é
um título incorporador de um crédito quando está devidamente aceita (arts. 21º e segs. da LULL, máxime,
28º); e, mesmo neste caso, tal crédito não se confunde com a posição jurídica de beneficiário de uma
ordem de pagamento legalmente garantida que a caracteriza – acresce à mesma. Apenas as letras
desacreditadas – mormente aquelas que caem no regresso – são letras obrigacionais, títulos de crédito em
sentido restrito.
PORTANTO:
Laboratório Phama Y (3º e 9º), SA havia endossado (11º, 12º, 13º, 14º e 15º) a letra à Cooperativa dos
Laboratórios de farmácia Unidas, CRL, e este a havia descontado num Banco. Segundo o entendimento
do Laboratório Phama Y, SA, era-lhe devido o pagamento do preço, acrescido de juros, uma vez que a
factura estava já vencida.

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Propriedade Industrial e concorrência

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Títulos de Crédito e Valores Mobiliários


Caso nº1
ARMINDO, cartoonista de profissão, casado com BELA, comerciante de cristais
decorativos, ilustrou, em co-autoria com CRISTINA, escritora, um livro de anedotas.
Querendo publicá-lo, os dois autores acordaram com a sociedade “Charlie, Lda” a edição
de 500 exemplares, tendo ficado combinado que eles suportariam todos os custos relativos
à produção e à distribuição do livro, no montante de € 8 000, a pagar na data da edição.
Para garantir o compromisso, ARMINDO e CRISTINA firmaram uma livrança, avalizada
por BELA, sem indicação do beneficiário, com a data de vencimento por preencher.
Admitindo que, antes de a edição estar concluída, a editora preencheu e descontou a livrança
num banco, apondo nela uma data de vencimento a 3 meses da data (altura em que previra
terminar a edição), por necessitar de liquidez para satisfazer compromissos urgentes, refira:

a) Quem é hoje o portador do título de crédito? Identifique e descreva a relação


subjacente à aquisição da livrança pelo atual portador.
Está em causa uma livrança (i.e., promessa de pagamento) ao qual é aplicado o regime da letra com as
devidas anotações. Neste caso, não há indicação do beneficiário. Não existindo este requisito
absolutamente essencial, a livrança não produzirá efeitos como livrança (art. 76º).
è No entanto, a doutrina tem entendido que efetivamente não existe tal coisa como uma livrança
ao portador – que seria o que aconteceria se emitíssemos uma letra sem o beneficiário.
No momento do nascimento do título de crédito não existe o título de crédito ao portador.
Como compatibilizamos isto com o art. 76º? Prof. Alexandre Sobral Martins e Prof. Engrácia
Antunes, entendem que o campo pode não estar preenchido, mas havendo um acordo de
preenchimento, a letra ou livrança é válida como uma livrança em branco. O documento tem,
então de ter: a palavra “livrança”, assinatura do subscritor ou sacador (Pedro Pais Vasconcelos),
um acordo de preenchimento.
Logo, de acordo com o entendimento da doutrina, a livrança é válida.

- Hoje, o portador do título de crédito é o banco, por força da transmissão da livrança por via do endosso
(art. 11º e ss., por força do art. 77º LULL).

Relação subjacente à aquisição da livrança pelo atual portador


- Portanto, o banco fez um contrato de desconto bancário.

b) Caso a livrança não seja paga no vencimento, o que pode o portador fazer?
São requisitos desta fase: o protesto por falta de pagamento. O portador pode acionar qualquer um deles.

Há vários tipos de vencimento que a livrança pode ter. Neste caso, estaria em causa um certo termo de
data (art. 33º).
- Tendo a data de vencimento ficado por preencher, mas dizendo a hipótese que havia uma data
de vencimento a 3 meses da data, seria um vencimento a certo termo de data, por ser um termo
depois de uma data (3 meses depois de uma determinada data).

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Como funciona isto de apresentar a livrança a pagamento?


- A letra pode ser apresentada no dia do vencimento, ou nos dois dias úteis seguintes (art. 38º LULL).

Ocorrendo uma recusa de pagamento pelo obrigado (art.78º, co subscritores), que seriam A e C, a livrança
entra na fase de regresso.
Fase de regresso - pressupostos:
§ Apresentação pontual a pagamento (dentro do prazo).
§ Recusa de pagamento pelo obrigado
§ Lavrar um protesto também dentro do prazo (art.º 44.º).
- Prazo de 2 dias uteis seguintes aos dias em que a letra é pagável
Ex.: A letra vence-se 2.ª feira. Nos termos do art.º 38.º, temos o dia do vencimento mais dois dias
úteis. Logo, o prazo para lavrar o protesto é 5.ª e 6.ª, podendo fazer-se até esse último dia. 3 + 2
dias = 5 dias. Se fizer o protesto até sexta-feira não haverá problema. O protesto é um ato notarial.
Nota: No entanto, em bom rigor não é assim. Entende-se que pagável é a data de vencimento, pelo que
o prazo para lavrar o protesto será o mesmo prazo do art.º 38.º, os 3 dias iniciais (pelo que seria na 4.ª
feira). O problema é que se se deixar até ao último momento do último dia pode ocorrer que já não haja
um notário disponível.
è A doutrina entende (Prof. Pinto Furtado): letras emitidas e pagadas em Portugal, poderá ser feita
a interpretação até 6ª feira.

- O banco poderia protestar a falta de pagamento, constituindo-se um direito sobre os subscritores.


Remissão do art.º 77.º.
- Pode acionar todos eles e solidariamente e individualmente, pelos arts.º 47.º e 48.º (o sacador, o sacado,
avalistas e endossantes anteriores).

Ou seja, o que pode o portador fazer?


Tem de fazer todos estes passos bem para entrar em fase de regresso e depois pede ao sacado, se não
pagar, o pagamento da letra e juros e despesas (art.º 48.º) – a quantia que está na letra, juros de mora e
despesas (ex.: despesas para fazer o protesto).

Ex.: Um endossante paga. O que é que depois pode fazer? Exigir aos outros o direito de regresso – art.º
49.ºDespesas que tiver feito por causa daquele pagamento que teve de fazer.
O art.º 45.º prevê obrigação de avisos – quando se vai ao notário lavrar o protesto, em regra, levam-se
estas cartas de avisos. A falta de aviso tem como consequência a eventual responsabilidade civil, mas
mantêm-se os direitos.
O art.º 52.º refere-se ao direito de ressaque.

Ter em conta: obrigação de avisos do art. 45º. Art. 52º (direito de ressaque).

c) Supondo que CRISTINA paga a livrança ao portador, que direitos lhe assistem
contra ARMINDO?

Cristina é a subscritora. Art. 47º solidariedade


No final dos ciclos, vai sempre dar ao subscritor ou ao aceitante, alguém terá sempre que pagar no fim.
Depois resolve-se pela relação material subjacente.
- A subscrição de uma livrança é um ato de comércio formal. Logo, é uma obrigação comercial, sendo
solidária se for comerciante. O art.º 100.º do CCom determina que haverá solidariedade quando estejam
em causa comerciantes.

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Mas se praticarem um ato de comércio, mas não forem comerciantes, aplica-se? É solidário?
A solidariedade do art.º 47.º determina que são todos solidariamente responsáveis para com o portador.
Em bom rigor, o 1.º obrigado é o aceitante ou subscritor e não o endossante – é neste sentido que se
utiliza a solidariedade imprópria. O aceitante ou o subscritor serão solidários entre si.
Necessidade de protesto para demandar o avalista.

Com base no art. 100º, tendo em conta a situação do caso, esta obrigação é solidária.

d) E se o pagamento for feito por BELA?

Significa que os obrigados ao pagamento da livrança não pagaram e nesse sentido, pelo direito de regresso,
a responsabilidade seria de B (art.47º), mediante a verificação dos pressupostos. Porém, esta
responsabilidade está dependente dos pressupostos desta obrigação de regresso.

Está em causa uma livrança, as disposições são aplicáveis igualmente nos termos do art.77º.
Discute-se se é necessário entrar em fase de regresso.
- Porém, parte da doutrina diz que não é necessário, visto o avalista poder responder nos mesmos termos
que o aceitante;
- Outra parte da doutrina (Fátima Gomes) diz que deve ser dado tratamento unitário ao aval e para ser
acionado qualquer avalista, terá de ser no âmbito da fase de regresso.

Bela deu o seu aval a A e C. Em suma, B poderia ser responsabilizada solidariamente.


Se ela pagar, é sub-rogada nos direitos emergente do título (32º, 3º parte e 49º). Se houver protesto há
lugar ao pagamento de despesas, juros.

Será que o avalista pode invocar a violação do preenchimento?


- parte da jurisprudência tem entendido que quando o avalista seja parte nesse acordo de preenchimento,
é possível ao avalista invocar o abuso do preenchimento. O problema aqui é um problema de prova, sendo
que o avalista terá de provar que era parte e provar ainda o preenchimento abusivo, o que pode não ser
fácil.

e) Explique em que consiste o aval, em favor de quem ele é dado e a sua diferença
face à fiança
O aval consiste numa garantia pessoal cambiária, sendo que, ao contrário da fiança, só incide em dívidas
cambiárias. É dado a favor de quaisquer dos signatários, sendo que o pagamento é garantido por dada
pessoa. Uma das caraterísticas do aval é a autonomia em relação à obrigação (p.e., é sacada uma letra para
garantir uma obrigação decorrente de certo contrato e o contrato é nulo, logo a obrigação não existe. O
avalista fica obrigado, nos termos do âmbito da letra).

Na falta e verificação do resultado, mediante protesto (fazer prova de que não foi paga a letra em tempo,
havendo recusa), o avalista fica obrigado a pagar a quantia indicada na letra. A responsabilidade do avalista
está dependente da constituição em favor do portador de uma relação obrigacional de regresso. É uma
garantia pessoal cambiária (só incide sobre dívidas cambiárias, ao contrário da fiança). É também
autónomo face à obrigação.

A doutrina e a jurisprudência dominantes têm defendido a desnecessidade de protesto, com base no art.
32º/1, reconduzindo o aval a uma fiança, sendo uma garantia acessória do crédito.

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A fiança é acessória da obrigação principal. O fiador goza em princípio do benefício da excussão prévia,
exceto se for uma obrigação comercial (art. 101º).

f) Se, em vez de uma livrança, fosse uma letra, sacada por Charlie, Lda e aceite por
ARMINDO e CRISTINA, com aval de BELA, sem indicação do avalizado, a
resposta d) seria igual?

Se não há indicação do avalizado, presume-se a favor do sacador (Charlie, Lda), segundo o


art. 31º, e os sacados seriam A e C.
Se há um aval sem indicação, presume-se que este pertence ao sacador (no caso da livrança
seria subscritor) – 77º
O regime da livrança remete para o regime da letra, exceto nesta situação.

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Caso nº2
AXL, Lda, titular de uma empresa de confeções, encomendou à ZCK, SA 6 rolos de fio de
algodão egípcio, com pagamento a 90 dias, no valor de 50 000 euros. Para representação do
negócio, a Z sacou sobre A uma letra de câmbio neste valor, com vencimento a 90 dias da
data. A letra foi aceite e descontada no banco XLI, SA.
No momento do vencimento, A não pagou, porque o fio tinha defeito, partindo facilmente
e não permitindo que o tecido ficasse completamente liso.

Quid iuris? Caindo a letra no regresso, qual a taxa de juros moratórios aplicável?

As letras são títulos de crédito abstrato, pelo que o que serve de título económico à ordem de pagamento
é o direito de crédito (que justifica a ordem de pagamento e que a mesma seja aceite).
Se o negócio constitutivo do direito de crédito, estiver por algum motivo viciado, tal é irrelevante, porque
o saque é válido, independentemente da existência de causa ou não, o que demonstra que este título é
abstrato.
A lei Uniforme não referencia isto em parte nenhuma, mas a lei relativa ao cheque, afirma no art. 3º que
a validade do mesmo não é afetado.

Quanto aos juros, há que distinguir entre:


- Juros remuneratórios (art. 5º da LULL)
- Juros moratórios (art. 48º).

A letra é devida. Em caso de cumprimento tardio, a lei impõe o pagamento de juros de mora, solução
acolhida no art. 48º da LULL, que fixa uma taxa de juro de 6%.
- Porém o artigo remete para a portaria de 2013, pelo que nas letras e livranças pode-se aplicar taxas de 7-
8%. Tal justificava-se pelo facto de que se devia considerar estas normas revogadas, porque a norma do
art. 48º era de 1934 e havia taxas atuais superiores. Para além disso, a convenção europeia (?) que dispôs
sobre isto afirma que os EM poderiam optar, sendo que Portugal optou pela segunda vertente.

- O professor acha que para o comum das letras se aplica a taxa geral, mas suscita a questão de saber
se não se aplica a taxa do art. 102º/3 do Código Comercial.
A jurisprudência diverge quanto a este tema.
O art. 52º confere um direito de ressaque, que é uma faculdade atribuída ao portador a quem a letra
não foi paga pontualmente de emitir uma nova letra sobre o obrigado da letra não paga e protestada.

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Caso nº3
Comente a seguinte frase: “o emitente de uma letra não está obrigado pela mesma quando
demonstre que o título é de favor”.

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Caso nº4
Sentido que estava próximo da morte, A doou a um de três filhos, B, um lote de ações
tituladas nominativas de uma sociedade da qual B era administrador, assinando um
documento nesse sentido, informando-o de que os títulos estavam depositados no banco Z.
Falecido o A, os irmãos de B incluíram as ações na partilha, por considerarem que elas não
estavam «endossadas» a favor deste e portanto o papel que ele exibia não tinha valor.
Quid iuris?

Segundo o art.1º, CVM, falando a hipótese em ações, aplica-se a alínea a). Não há nenhuma forma legal
exigida, segundo o art.4º, logo não há qualquer problema na assinatura do documento para transmissão
da ação. No caso de uma ação titulada, é feito o endosso e é necessário ainda enviar um requerimento à
sociedade a dizer que foi feita a transmissão das ações, para que a sociedade atualize o registo de ações.
• A jurisprudência tem entendido que as formalidades de transmissão são essenciais, no caso de
ações tituladas. Ou seja, requerimento de registo e endosso.

Nos termos do art. 46º, face à forma de representação do valor mobiliário, nada indica que haja registo,
logo está em causa um valor mobiliário titulado. A transmissão faz-se nos termos dos arts. 95º e segs.
Houve uma declaração de transmissão inscrita no título (endosso) a favor do transmissário, mas nada
indica que alguém procedeu ao registo. Porém, não houve endosso nem requerimento.

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Caso extra 1
Felisberto é docente do secundário e está casado com Etelvina, que trabalha num centro
comercial a promover negócios de adesão a cartões de crédito de uma conhecida Instituição
bancária. Insatisfeitos com o que auferem, decidiram abrir um restaurante, e Felisberto
abandonou o ensino, aproveitando a oportunidade oferecida pelo Estado português de
«rescisões» amigáveis.
Um amigo do casal, Guido, que tem uma pequena exploração agrícola, fornece-lhes os bens
necessários à preparação das refeições, a pagar a 180 dias.
Para desenvolver o negócio, Felisberto contraiu crédito de 20.000 euros junto de um
fornecedor (Hélder), tendo sido acordado que o reembolso seria feito a partir de 2 de
Dezembro de 2013.
Felisberto e Hélder combinaram que o negócio seria acompanhado da emissão e subscrição
de títulos de crédito em branco, pelo que Felisberto entregou a Hélder uma letra e uma
livrança, autorizando-o a preencher cada um dos títulos até ao valor máximo de 10.000 euros,
e a por neles como data de vencimento em 3 dezembro de 2013.
Hélder, que, entretanto, enfrentava dificuldades no seu negócio, em Setembro de 2013,
preencheu a letra por 15.000 euros e descontou-a no Banco do Fomento.
Hélder preencheu também a livrança e endossou-a à sua prima Chiquinha, tendo ambos
combinados que iriam inserir o valor de 12.000 euros, com vista a poderem retirar algum
proveito de Felisberto.
Chiquinha, com o título na sua posse, endossou-o a David, já que assim liquidava a dívida
que tinha para com ele pela emissão do certificado energético da sua casa., que também se
vencia em 3 Dezembro de 2013.

Quid Iuris?

Nota prévia: O desconto bancário é uma operação de banco (art. 362º C.C.), mas consubstancia-se como
um endosso em favor do banco.

A hipótese diz respeito à letra, que tem o seu regime definido na LULL. No art. 1º estão estabelecidos os
respetivos requisitos.
- Há requisitos que podem ficar por preencher, e ficando por preencher, estamos perante uma letra em
branco. A emissão de uma letra em branco é acompanhada de subscrição de acordo de preenchimento.
As letras em branco acarretam um risco de preenchimento abusivo. Aqui temos de excluir estarmos
perante uma letra meramente incompleta.

Diferença entre letra em branco e incompleta:


• Letra incompleta à Não se quis pôr a letra em circulação.
o Teoria da emissão à na letra incompleta, a pessoa não preencheu o valor da letra e é
desapossado. É preciso um ato voluntário de colocar o título em circulação, que não
haverá numa letra incompleta.
• A letra em banco é aposta em circulação - não contém alguns elementos: tipicamente, para
vermos que é uma letra em branco existe um acordo de preenchimento. A letra incompleta não,
porque ainda não se queria colocar em circulação.

Através do art. 10º, F só podia opor ao banco o preenchimento abusivo da letra. Só se o banco estivesse
de má fé é que poderia opor a F. Neste caso não parece haver má fé do banco, podendo opor a F.

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Neste caso temos uma letra e uma livrança.


• A letra é uma ordem de pagamento do sacador (sacador é quem faz o saque) para o sacado. O
sacador diz ao sacado que pague a um terceiro (tomador) ou ao próprio sacador. Quem assina a
letra é o sacador. Da letra deve constar a data de vencimento, o nome de quem ou à ordem de
quem deve ser paga, etc. (art. 1º LULL). A assinatura do sacado, normalmente, figura o aceite.
Só depois do aceite é que o sacado fica obrigado. A letra é uma relação triangular entre o sacador,
sacado (que depois, como aceite se torna em aceitante – sendo a partir deste momento que está
obrigado) e o beneficiário.

- No caso que se nos afigura, o sacador é o Helder (credor da relação substantiva) e o sacado é
Felisberto. O banco não foi indicado como beneficiário. O Helder endossa isto ao banco. O
banco passa a ser o portador, sendo ele que pode exigir ao F o pagamento do montante que está
inscrito na letra. Helder não sai da relação, ficando como garante da ordem que deu. Quando
endossa o banco, está a dizer ao banco que F pagará. Isto no fundo, é uma cessão de créditos,
não se regendo pelo seu regime do Código Civil.
o O endosso pode ser feito até ao momento da apresentação ao pagamento.
o Neste caso, o banco passa a ser o portador.
o O H endossou a letra ao banco, e, admitindo que o valor da letra era 15 mil (fez um
desconto bancário). O Helder não vai receber 15 mil euros, mas sim 15 mil menos a
taxa que o banco lhe vai cobrar. É o benefício que o banco retira. É o preço do serviço
do banco. O banco é portador legítimo nos termos do art. 16º LULL. Uma série
ininterrupta de endossos = correspondência entre os nomes e assinaturas (não se tem
de verificar se a assinatura é verdadeira).
o Se o endosso for em branco = o sacador ou portador assina, mas não indica o nome a
favor da qual vai fazer o endosso. Não consigo olhar para o documento da letra e ver
se a pessoa é ou não titular. Quando há um endosso em branco, presume-se que é
portador legítimo quem tem a letra nas suas mãos.

A jurisprudência (Acórdão STJ 20/10/2015) tem distinguido a oponibilidade do acordo em duas


situações:
1. Quando há um preenchimento abusivo a sua oponibilidade tem de ser dividida quando o
portador ... quando o portador é o inicial, há sempre má fé. Logo, o sacado pode opor o
preenchimento abusivo.
2. Quando o portador que vem exigir o pagamento não é o inicial, há que ver em que termos é que
recebeu, adquiriu a letra. Se recebeu a letra já preenchida pelo portador inicial e não conhece nem
tem maneira de conhecer o acordo, então, em princípio, estará de boa fé. Por isso, nos termos
do art. 10º não lhe é oponível o preenchimento abusivo – a não ser que se prove que tinha
conhecimento do preenchimento abusivo.

Alguma doutrina tem considerado que mesmo que o portador não seja o portador inicial, mas adquiriu a
letra por mortis causa, nesse caso o preenchimento já lhe será oponível.

Portanto, F podia reagir contra H nestes termos.

Diferença da livrança:
• Na livrança não temos um triângulo. A livrança é uma
• F pode opor conhecimento abusivo contra C.
• D está de boa fé e pode pedir os 12 mil euros. Se fosse C não podia.
• Se D chegar ao pé de F e lhe pedir o pagamento dos 12 mil euros e F recusar, pode D pedir o
pagamento desta quantia a mais alguém? Sim, a C e a H. Os endossantes são sempre garantes

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dos endossatários posteriores a eles, a menos que exista uma cláusula que proíba o endosso a
partir daí.
• O D poderia exigir o pagamento ao F, ao C e ao H. O F se tivesse de pagar era a mesma lógica:
podia reagir pelos 2 mil euros a mais contra H, e eventualmente C se conseguisse provar que ela
também conhecia. Provar o conhecimento de C seria mais difícil.

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Caso extra nº2


Abc, Lda celebrou com o banco X, SA um contrato de abertura de crédito até 200 000
euros em conta corrente e com cláusula de revolving. Para reforçar a sua posição credora, o
banco solicitou à A uma livrança em branco, avalizada pelos três sócios, que lhe foi entregue.
Passados dois anos, quando a dívida da sociedade se elevava a 100 000 euros, o sócio B
comunicou ao banco a cessão da sua quota aos outros sócios, solicitando que o seu nome
fosse riscado da livrança. O banco não respondeu a B, mas solicitou à sociedade um reforço
da garantia, sob pena de não lhe conceder mais crédito. Os sócios deram-lhe em penhor a
quota que era do cedente.
Passados mais três anos, a situação económico-financeira da sociedade deteriorou-se e ela
não pagou uma parte do crédito utilizado, que ascendia agora a 190 000 euros. Em face disso,
o banco preencheu a livrança por 205 000 euros (incorporando nela os juros
convencionados) e apresentou-a a pagamento. Não tendo ela sido paga, propôs ação
executiva contra todos os subscritores, incluindo o ex-sócio.
Quid iuris?

O problema em causa é saber se a ação pode ser proposta contra o ex-sócio e se este pode ser
responsabilizado.

Acerca deste problema, AC de uniformização de jurisprudência nº4/2013. Tendo o aval sido prestado de
forma ilimitada, não é possível a sua denúncia pelo avalista, sócio da sociedade, ainda que venha a ceder a
sua participação na sociedade avalizada. Logo, mesmo que saia da sociedade terá de responder, não
podendo denunciar o aval.
• Evaristo Mendes vem dizer que este sócio que avaliza uma livrança emitida por uma sociedade,
no âmbito de financiamentos bancários, não vem de encontro à figura do aval prevista. É uma
forma que se utiliza para interessar o sócio pessoalmente no financiamento e o aval deve ser
entendido dentro desse circunstancialismo. O sócio deve ser responsabilizado pelo montante da
dívida até ao momento da sua saída da sociedade.

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Contratos de distribuição
Caso nº1
Diana está convicta de ter descoberto a pólvora. Uma pequena pastelaria em Chaves faz
umas deliciosas empadas de perdiz, totalmente desconhecidas em Lisboa. Diana
comprometeu-se perante a Empada Transmontana, Lda (“ET”) a encontrar restaurantes e
pastelarias em Lisboa, assim como boas charcutarias que comprem as deliciosas empadas.
Em contrapartida, a ET partilhará com Diana 10% do valor faturado em Lisboa. Mal Diana
começou a sua atividade, o sucesso foi estrondoso. Ao ponto de, duas semanas volvidas, a
ET deixar de atender os telefonemas de Diana, ou fornecer dados precisos sobre os
transportes de empadas. A ET tinha contratado uma outra entidade, com mais recursos
humanos e técnicos, para conquistar os mercados nacionais e internacionais e não quer saber
mais da nossa amiga.
Diana está desolada. Não formara ainda uma clientela estável para a ET, mas investira muito
nesta nova atividade: um arrendamento no centro de Lisboa, um computador, cartões-de-
visita, entre outros dispêndios. Menos mal que continua a conduzir o belíssimo carro que a
ET lhe emprestara, para visitar clientes.
Quid iuris?

Está em causa um contrato de agência. Diana é agente e a ET é principal. O contrato de agência é um


contrato típico regulado pelo DL nº 178/86 de 3 de Julho. Nos termos do art. 1º do RJCA, a agência é o
contrato pelo qual uma das partes se obriga a promover por conta da outra a celebração de contratos, de
modo autónomo e estável e mediante retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou determinado
círculo de clientes.
ü Promoção da celebração de contratos
ü Por conta de outrem (não os celebra em nome próprio, ainda que o agente tenha poderes de
representação do principal). A Diana nunca figura no contrato. A existência de poderes de
representação não é elemento essencial do contrato de agência.
ü Autonomia: exerce a atividade de promoção da celebração do contrato da forma que lhe parecer
mais conveniente. Este grau de autonomia pode ser maior ou menor, podendo o principal ser
mais ou menos intrusivo, mas nunca podendo afetar a autonomia.
ü Estabilidade: o contrato de agência visa a promoção de forma continuada da celebração de vários
contatos.
ü Mediante retribuição: é um contrato oneroso; sendo que normalmente esta retribuição são as
comissões (art. 15º).
O “podendo ser-lhe atribuída certa zona ou determinado círculo de clientes” não é um elemento essencial,
mas eventual.

2) Forma do contrato de agência.


• O contrato não tem que ser celebrado obrigatoriamente por forma escrita nos termos do art. 1º
nº2.
• Nos termos do art. 4º, a concessão de direito exclusivo depende de acordo escrito.

3) O problema no caso diz respeito ao art. 13º alínea a). Há um incumprimento desta obrigação. Sendo
um fundamento de resolução nos termos do art. 30º alínea a).

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OU SEJA:

Tendo em consideração que a pastelaria deixou de atender os telefonemas de Diana, temos de averiguar
se houve uma cessação do contrato de agência (art. 24º).
• Não parece ter havido nenhum acordo das partes
• Caducidade
• Não houve a morte de nenhum dos intervenientes
• Não há termos resolutivo nem condição
• Denúncia só é permitido nos contratos de tempo indeterminado, mas tem de haver uma
comunicação e um pré-aviso.
• Resolução do contrato (art. 30º): o contrato pode ser resolvido por qualquer uma das partes.
Devemos apurar se houve uma resolução por parte de ET. Para tanto tem que ter havido a falta
de cumprimento de alguma das obrigações com grave reiteração, o que não parece o caso; ou
circunstâncias que ponham em causa a realização do fim contratual. Não temos informação para
determinar que tenha havido uma resolução do contrato por parte de ET.

Quanto a Diana é que poderia haver um direito a resolver o contrato, tendo em consideração o art. 13º.
O principal não cumpriu a sua obrigação, havendo um incumprimento da obrigação para efeitos do art.
30º alínea a), desde que houvesse também gravidade e reiteração, mas poderíamos argumentar por aqui.

4) Possibilidade de Diana ser indemnizada. Nos termos do art. 20º, o agente não tem direito de
reembolso das despesas pelo exercício normal da sua atividade. Logo, aqui cabem o computador e os
cartões de visita.
• Quanto ao arrendamento: Assumindo que o arrendamento foi para o exercício da sua atividade
de agente, D poderia ter direito a indemnização no caso do art. 32º se houvessem danos. Se não,
não teria direito a indemnização.
• Indemnização de clientela: Teria direito, caso estivessem verificados os pressupostos do art. 33º.
o Demonstração de angariação de novos clientes ou de aumento substancial do volume
dos negócios.
o Juízo de prognose da alínea b): o agente tenha angariado novos clientes para a outra
parte ou aumentado substancialmente o volume de negócios com a clientela já existente.
Juízo de prognose concreta, sendo que o agente tem que provar de forma concreta e
factualmente contribuiu e que o principal vai continuar a ter ganhos específicos com
estes clientes que angariou.
o O agente deixe de receber qualquer retribuição por contratos negociado ou concluídos
após a cessação do contrato, com os clientes referidos na alínea a).

Tudo analisado, poderíamos argumentar de ambas as formas. A questão do sucesso dela é um argumento
a favor, mas o facto de ainda não ter clientela é um argumento contra. A verificação dos requisitos é
cumulativa. Não é uma verdadeira indemnização porque é mais uma compensação pela remuneração que
vai deixar de auferir por via da cessação do contrato.

5) Questão da continuação da utilização do carro. Devemos ter em consideração os arts. 35º e 36º.
• Há uma obrigação de restituir nos termos do art. 36º, visto que o carro está em nome da ET.
• O art. 35º

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Caso nº2
SUZANA, TAMARA E URSULA combinaram entre si desenvolver um negócio de criação
e comercialização de um colar, a que atribuíram a marca “STU”, a qual registaram
imediatamente. O colar seria produzido, segundo as indicações das três amigas, pela titular
de uma fábrica de ornamentos, a ABC, Lda.
Considerando o sucesso da peça, em Portugal, as três amigas pensaram em internacionalizar
a sua empresa.
Nesse sentido, SUZANA fez um périplo pela Europa à procura do local ideal, identificado
no Luxemburgo. Passados alguns meses depois de se instalar por lá, SUZANA reconsiderou
a sua participação no negócio e decidiu dedicar-se ao lazer apenas.
SUZANA, TAMARA E URSULA, confrontadas com a decisão de SUZANA, decidiram
vender o seu negócio a VANESSA, que assumiu o encargo de pagar as dívidas vencidas
(100.000,00 euros) e vincendas (50.000,00 euros), no prazo de 1 ano.
Decorrido o prazo combinado, continuam por regularizar 75.000,00 de dívida a um único
fornecedor, ARMANDO.
Entretanto, SUZANA arrependeu-se da sua decisão e resolveu criar no Luxemburgo uma
nova empresa dedicada à criação e comercialização de pulseiras, sob a marca “SuzLUX”.
Tendo em conta a experiência adquirida com o negócio anteriormente exercido com as suas
amigas, SUZANA, conseguiu colocar as suas pulseiras à venda junto das lojas onde
anteriormente se vendiam os colares “STU”. Ao mesmo tempo, SUZANA mandou fazer
uma página de publicidade online, igual à usada pela VANESSA.
Simultaneamente, SUZANA celebrou um contrato com a XY, SA, com vista à
comercialização das pulseiras no mercado norte-americano. O contrato foi celebrado
oralmente de acordo com as seguintes condições: obrigação de comprar 500 pulseiras por
ano; obrigação de revender as pulseiras no mercado escolhido, de acordo com um plano de
marketing definido e revisto pela SUZANA, e com os custos repartidos entre SUZANA e a
XY, SA; direito de revenda das pulseiras com caráter de exclusividade pela XY, SA.

1. Caracterize o contrato celebrado entre SUZANA, e a XY, SA.

Está em causa um contrato de concessão. Elementos essenciais:


• Obrigação de compra do concessionário e obrigação de venda do concedente: é um contrato
quadro que serve de chapéu a uma série de compras e vendas comerciais que o concessionário
faz.
• Estabilidade: o produtor assegura a comercialização dos seus bens, mas não assume o risco da
comercialização porque os bens já foram comprados. Quem assume o risco é o concessionário.
• Onerosidade do contrato: o concessionário vai buscar o seu lucro na margem de compra e
revenda.
• Atuação em nome e conta própria do concessionário
• Autonomia do concessionário: é uma pessoa juridicamente singular e autónoma do concedente,
mas esta autonomia muitas vezes é relativa, sujeita a algumas exceções: integração na rede de
distribuição do concedente, utilização da marca e símbolos do concedente, etc.

2) Forma do contrato de concessão: é um contrato atípico. Não sendo exigida forma para o contrato de
agência não é necessária forma para o contrato de concessão.

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3) A exclusividade também não é aqui uma característica essencial. É meramente eventual.

4) Não havendo um regime para o contrato de concessão, como resolvemos problemas relativos a
contratos de concessão?
Através do que foi convencionado pelas partes no contrato (a menos que seja abusivo nos termos gerais).
O juiz não se pode negar a julgar com falta de lei, logo aplica analogicamente o regime do contrato de
agência.
• NOTA: Não existe sempre analogia. Para tanto, é necessário cumprir os procedimentos e regras
do Código Civil. Por exemplo, as normas excecionais não são passíveis de aplicação analógica.

*Nota: O Prof. Coutinho de Abreu entende que há uma analogia do contrato de concessão com um ato de interposição nas
trocas, sendo necessariamente comercial (nos termos do art. 230º em geral, sem nenhuma referência em especial).

2. Admita agora que SUZANA não está satisfeita com a promoção das suas pulseiras
no mercado norte-americano, devido ao mau desempenho da XY, SA, e pretende dar
por terminado de imediato o contrato celebrado.
a) Acha que a XY, SA tem algum fundamento para reclamar uma indemnização?

Está em causa uma situação de cessação do contrato de concessão. Para resolvermos esta questão
devemos remeter para o regime do contrato de agência (art. 24º). Não parece que haja caducidade, nem
mútuo acordo. Se fosse denúncia, podíamos colocar a questão da falta de pré-aviso, se fosse resolução
tínhamos de ver se tinha fundamento para resolver.

XY tem fundamento para reclamar alguma indemnização?


• Art. 32º RJCA indemnização geral
• Art. 33º RJCA indemnização de clientela: Não é unânime na doutrina que a indemnização de
clientela se aplique no contrato de concessão. Aceitando a aplicação analógica, devemos ver se
os pressupostos do art. 33º estão ou não cumpridos.
o A hipótese aponta para que a mesma não angariou clientes novos, pelo que não
verificada a alínea a) do art. 33º não há lugar à indemnização de clientela.

Nota: na questão da indemnização de clientela temos sempre que ver, antes, se há analogia, e admitindo a
analogia se estão verificados os requisitos do art. 33º do RJCA.

b) E Pode a XY, SA, exigir a SUZANA que lhe recompre todas as pulseiras detidas
em stock que não possam ser vendidas depois do termo do contrato?

Coloca-se em questão o problema do destino dos stocks. Há quem entenda que não há direito de
retoma, porque o risco é do concessionário. Há quem entenda que poderá haver direito de retoma
consoante a quem é imputável a cessação. E há ainda quem entenda que há uma obrigação de
continuação do contrato.

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Caso nº3
Suponha que a Padaria Portuguesa celebra um contrato com Cristiano nos termos do qual
este, que vive na província produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis nas
pastelarias lisboetas, forneceria cereais à Padaria e se vinculava a comprar bolos e pão da
Padaria Portuguesa, que iria revender ao público na sua região, assumindo o compromisso
de o fazer de acordo com a política comercial da Padaria Portuguesa e sujeito ao controlo
desta.
Como qualificaria o contrato celebrado entre Cristiano e a Padaria Portuguesa?

1) Elementos essenciais do contrato de franquia:


• Obrigação de utilizar integralmente a imagem do franqueador (direitos de propriedade industrial)
• Controlo e fiscalização apertados do franqueador (franqueado está muito mais integrado na rede
do franqueador)
• Transmissão do know-how e prestação de assistência técnica
• Onerosidade: entry fee e royalties.

2) Elementos não essenciais do contrato de franquia:


• Exclusividade
• Cláusula da não concorrência
• Obrigação de adquirir estoques mínimos

A franquia de distribuição é a mais confundível com a concessão. Parte da doutrina diz que na verdade o
contrato de franquia é um contrato de concessão mais exigente, com subordinação do franqueado às
políticas do franqueador, com maior integração do franqueador.

3) Concluir se estamos perante um contrato de concessão ou de franquia


• Há argumentos de ser uma concessão: vinculava-se a comprar bolos para revender, assumindo o
compromisso de o fazer de acordo com a política comercial da Padaria Portuguesa (a franquia
exigiria mais). Não aparece nenhuma referência a royalties.
• Há argumentos de ser uma franquia: sujeita ao controlo.
O caso pende mais para o lado da concessão.

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