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Caso Prático 1

Comunicabilidade das dívidas no casamento


A, vendedor de automóveis casado com B no regime supletivo, adquiriu a C, seu fornecedor habitual, um
automóvel que pretende oferecer à sua filha no dia em que a mês a mesma fizer 18 anos. De acordo com
o combinado, o pagamento do preço devia ser efetuado no prazo de 90 dias. Decorrido o dito prazo, o
pagamento não foi efetuado. Que bens respondem pela liquidação?
R.: Nos termos do art. 1717º CC o regime supletivo é o da comunhão de adquiridos. O artigo 1691º/d) CC
refere que as dívidas contraídas por um dos cônjuges no exercício da atividade comercial, em proveito
comum do casal, são da responsabilidade de ambos, e desse modo responderiam os bens de ambos os
cônjuges pela liquidação da dívida. Temos assim de verificar se cumpre os requisitos desta alínea, ficando a
cargo do cônjuge devedor ilidir uma das presunções para afastar a liquidação dos bens de ambos os
membros do casal. Basta ilidir um dos pressupostos visto que são cumulativos.
Visto que o individuo pretende adquirir o automóvel para a filha, está preenchido o requisito do proveito
comum do casal. Além disso, pelo art. 15º do CCom. presume-se que as dividas de um comerciante foram
contraídas no exercício do comércio, cabendo ao comerciante ilidir essa presunção de modo a evitar a
comunicabilidade dos bens. Também para que o credor possa beneficiar da presunção do exercício do
comercio deve fazer prova de facto que o sujeito é comercial e que a divida provém de um ato de comercio,
sendo uma situação mais facilitada visto que basta que o facto caiba no artigo 13º CCom., ou seja, que o
sujeito é comerciante. De atentar que o sujeito é efetivamente comerciante, visto que é vendedor de
automóveis, tem capacidade para praticar atos de comércio (art. 7º CCom.), praticando reiteradamente atos
objetivos de comércio (art. 2º, 1ª parte CCom.) através da compra para revenda (art. 463º CCom.), sendo
assim comerciante à luz do art. 13 CCom.. Apesar de tudo não estamos perante um ato objetivo de comercio.
Quanto aos requisitos do art. 2º CCom., verifica-se que o contrário do ato resulta visto que o homem médio
no lugar de C, tenderia a considerar o ato comercial.
Assim, ter-se-ia o ato como comercial e teria C o benefício da comunicabilidade dos bens podendo liquidar
a sua dívida com os bens de ambos os cônjuges e não só de A. A, para evitar esta situação, teria de ilidir a
presunção do art. 15 CCom. e desse modo os bens próprios de B não responderiam pela dívida.
Caso Prático 2
Solidariedade nas obrigações comerciais
A empresa A construções conjuntamente com a B construções, edificaram um prédio em regime de
propriedade horizontal.
Nessa sequência contrataram a empresa C, para lhes decorar o andar modelo integrante do dito prédio.
De acordo com o combinado, o pagamento da decoração contratada, devia ocorrer no prazo de 120 dias
e seria, além do mais, afiançada por D. Decorrido o dito prazo o pagamento não foi efetuado.
a) Pode o credor reclamar a totalidade da quantia em dívida à empresa A?
b) Pode o credor reclamar o pagamento da totalidade da quantia em dívida a D?
c) Qual seria a taxa de juro aplicável à mora verificada?
R.: a) É relevante avaliar se estamos perante uma divida comercial ou não, tendo para tal de resultar de um
ato de comércio e ser qualificado à luz do art. 2º do CCom. (objetivamente ou subjetivamente comercial);
no caso concreto, estamos perante um ato objetivamente comercial pois estamos a falar de um ato essencial

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Direito comercial
da atividade das empresas de construção – art. 230º par. 6. O ato está previsto na lei comercial e nessa
medida entende-se preenchido o requisito legal para estarmos perante um ato objetivamente comercial.
Aplica-se o regime da solidariedade nos termos do art. 100 do CCom., e visto estarmos perante um ato
bilateralmente comercial aplica-se o regime regra do direito comercial, a solidariedade, podendo reclamar-
se a totalidade do pagamento a um dos devedores, que terá posteriormente direito de regresso dos
coobrigados.
b) Tratando-se, assim, de uma fiança comercial não há benefício da excussão prévia do fiador como no
direito civil – art. 639º CC -, podendo o fiador ser demandado mesmo antes dos codevedores, tendo depois
direito de regresso de todo o crédito, nos termos do art. 101º CCom..
c) Estamos perante uma transação comercial entre empresas (como qualificado anteriormente) e, desse
modo, à luz do art. 102º par. 5º CCom. e do DL 62/2013 no seu art. 11º nº 5, aplica-se a taxa de juro supletiva
de 8%, visto não haver convenção das partes quanto à taxa de juro.
Caso Prático 3
Juros comerciais
A, construtor civil, adquiriu a B, vendedor de equipamentos industriais, uma grua destinada a facilitar os
processos de edificação dos prédios objeto da atividade do primeiro. De acordo com o combinado, o preço
de 30000 deveria de ser pago em 3 prestações iguais, mensais e sucessivas de 10000, convencionaram
ainda as partes que, em caso de mora, à taxa de juro legal aplicável acresceriam componente de 5 pontos
percentuais.
a) Identifique a taxa de juro aplicável;
Estamos perante uma transação comercial entre empresas e, desse modo, à luz do art. 102o par. 5o CCom.
e do DL 62/2013 no seu art. 11º nº 5, aplica-se a taxa de juro supletiva de 8%. Não há dúvida de que o ato é
comercial, artigos 2º e 230º.
Aplica-se o número 5 sendo a taxa de juro aplicável aplicada é de 8%. No fundo temos de saber se a taxa é
civil ou comercial, de seguida, caso seja de comercial termos de recorrer ao decreto 62/2013, 10 de maio e
depois desenvolver a reposta.
b) Qual a data relevante para o início do compto dos juros vencidos;
Estamos a tratar do momento em que começa a mora, ou seja, entra em mora o devedor em que ele falhe
com a sua obrigação, dado ela ser de prazo certo, artigo 4/2 do decreto-lei 62/2013, 10 de maio.
c) Aprecie a taxa convencional estipulada;
Em princípio esta taxa de juro não é usurária, ou seja, seria de 12%, já sabemos que a sobretaxa convencional
será de 3 pontos percentuais. Se porventura ultrapassasse estes valores seria objeto do número 3 do artigo
102, ou seja, seria aplicado o regime supletivo.
Arrendamento comercial
Visa viabilizar a instalação da empresa/estabelecimento comercial. Há quem entenda que estes conceitos
divergem ligeiramente, porém na vertente prática são bastantes semelhantes, apesar da referência a
empresa se reporta à representação interna na obrigação, enquanto o estabelecimento comercial reporta-
se mais à forma se expressa externamente.

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Direito comercial
A empresa há de ser necessariamente uma realidade que resulta da conjugação organizada e articulada de
diversos elementos de natureza corpórea e incorpórea. A diversidade da composição pode ser menor ou
maior consoante a realidade empresarial evidenciar complexidade maior ou menor. Um pequeno café é uma
empresa, resulta do agregado doa equipamentos, das mesas, cadeiras, elementos decorativos, imóvel em
que está instalado, os direitos emergentes dos contratos de trabalho, os sinais de propriedade industrial
afetos à exploração do estabelecimento, as marcas que o estabelecimento utilize para transacionar o que
comercializa. A empresa não é o somatório individual de todos elementos afetos a exploração da empresa,
mas sim a realidade unitária que nasce duma determinada forma de conjugar aqueles elementos, o
empresário organizou-os e articulou os de determinada forma e aquela multiplicidade de elementos
transformou-se numa empresa/ estabelecimento comercial. traduz uma verdadeira manifestação ou
exemplo paradigmático do conceito de universalidade de direito, que é objeto unitário de negócios. Se o
café for transacionado aquela empresa será adquirido como um ato jurídico e o comprador adquire a
titularidade das diversas posições jurídicas.
A empresa está constituída no momento que o empresário organiza os elementos e nesse momento passam
a revelar a estrutura suscetível de funcionar e aí a empresa está aviada, pronta para concorrer no mercado.
Para alem destes valores de organização, a partir do momento que passa a funcionar, passa a ser valorizada
pelos valores de exploração – capacidade que vai demonstrando de contratar clientela. A clientela em si
mesmo não é um elemento do estabelecimento comercial, mas é um elemento que gravita em torno do
estabelecimento e é determinante, em certos casos, o elemento mais determinante, para fixação do valor
do mesmo.
O estabelecimento/empresa é uma coisa, heterogénea, mas nunca pretendemos significar sociedade
comercial, apesar da confusão da linguagem. A sociedade comercial é a pessoa jurídica que detém e explora
a empresa.
Os elementos essenciais que permitem identificar uma empresa não estão todos no mesmo plano de
relevância e ficam sujeito a determinados aspetos a regimes diversos. Podemos falar em elementos no
âmbito mínimo ou necessário, âmbito natural, e elementos do âmbito máximo. Tem sobretudo que ver com
a problemática do amito de entrega a propósito da existência da empresa enquanto objeto de negócios.
Nem sempre é fácil a delimitação do âmbito de entrega da empresa ou seja, quais são os elementos do
estabelecimento que alguém adquire no âmbito duma compra, que tem de ser entregues, para que o
comprador possa dizer que adquiriu a empresa, e qual é o regime e a forma que tem de observar as
convenções que determinam a transmissão ou não dos elementos que transmitem a empresa; isto pois
podemos adquirir uma certa empresa sem adquirir todos os elementos, e não deixa de ser empresa por sere
subtraídos alguns elementos.
Os elementos do âmbito mínimo são os imprescindíveis para a identificação do estabelecimento comercial,
aqueles que tem de adquirir se pretender adquirir a empresa, pois não existem sem alguns daqueles
elementos, tendo obrigatoriamente de ser aferidos em concreto. So em face dum determinado
estabelecimento comercial podemos aferir quais são os elementos do âmbito mínimo daquele
estabelecimento comercial.
Entre os elementos do âmbito natural e máximo utilizamos um critério distinto: os de natural são aqueles
que acompanham a transmissão independentemente dessa transação ser prevista, transmitem-se
naturalmente com a empresa, os do âmbito máximo são aqueles cuja transmissão depende de previsão
expressa. Nada impede que um elemento seja do âmbito mínimo e do âmbito natural ou do âmbito máximo.

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Direito comercial
Caso Prático 4
Arrendamento comercial
A que pretende instalar um estabelecimento comercial e restauração no Porto decide tomar de
arrendamento a B um imóvel que julga ter a localização adequada para o efeito.
Em face da dita pretensão A e B acordaram o seguinte:

• A tomaria de imediato posse do imóvel


• A renda seria de 1000 euros
• O contrato seria formalizado no prazo de 1 semana.
Decorrido o dito período, e não obstante as insistências de A, B tem recusado a outorga do contrato.
A preocupado consulta um advogado procurando obter esclarecimentos em relação ao seguinte:

• Validade do contrato
• Duração do contrato
Quid Iuris.
R.: a forma para o contrato de arrendamento é nos termos do art. 1069º CC, contrato particular escrito. O
regime prevê uma salvaguarda destinada a proteger o arrendatário quando este não foi reduzido a escrito,
nos termos do 1069º nº 2, podendo este fazer prova do título recorrendo a qualquer meio permitido no
direito, demonstrando a ocupação do imóvel por mais de 6 meses e o pagamento das rendas. Assim, a falta
de redução a escrito do proprietário não é responsabilidade do arrendatário, e há forma do arrendatário
provar a sua prevalência. A invalidade, sendo invocada, pode ser sanada pela invocação destes meios,
constituindo um abuso de direito por parte do senhorio. Além disto, qualquer meio admitido em direito
pode comprovar esta existência.
Sendo que o contrato poderá ser convalidado nestes termos temos, temos de olhar a duração do contrato.
Nesse sentido, o artigo 1110º CC nº 2, estipula um contrato certo de 5 anos, não podendo ser denunciado
pelo arrendatário antes do período de um ano. Este é o regime supletivo.
NOTA: arrendamento é uma modalidade de locação – locação de bens imoveis. A logica regulatória do
arrendamento comercial pressupõe uma escada de caminho progressivo de especialização, ou seja, temos
a regulação mais ampla que e prevista para a locação, regulação especializada para o arrendamento em geral
e uma ainda mais especializada que se aplica apenas ao arrendamento comercial. a circunstância de insistir
em regras especificas não significa que vários aspetos do contrato não sejam regulados por normas previstas
para a locação e para o arrendamento em geral, visto que a regra especial existe para fazer face a situações
que a lei geral não dá resposta. A locação é legislada a partir do art. 1022º CC, onde se seguem as regras
gerias do arrendamento e etc.
Caso Prático 5
Arrendamento comercial
A pretende instalar uma farmácia no prédio de B. O referido prédio tinha sido inicialmente licenciado para
habitação e na sequência da reunião mantida em A e B ficaram assentes as seguintes previsões
contratuais:

• O contrato seria celebrado por 5 anos


• A renda mensal seriam 1000 euros
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Direito comercial
• O atraso no pagamento da renda impunha indemnização correspondente a 50% do valor da renda.
A, tendo algumas dúvidas em relação as condições construais estabelecidas e as consequências das
mesmas, pretende ser esclarecido em relação ao seguinte:
Os termos do licenciamento do prédio poe em causa a validade do contrato
a) Quais são as principais obrigações regentes do contrato?
b) É válida a cláusula indemnizatória prevista?
c) Em que circunstâncias pode o senhorio resolver o contrato?
R.: Lei 160/2006 relativa ao arrendamento comercial. O artigo 5º prevê várias hipóteses. Há a necessidade
absoluta do licenciamento como condição de validade. É particularmente grave se um imóvel licenciado para
habitação for objeto e arrendamento comercial, causando a nulidade. Falta de licenciamento é motivo para
rescisão de contrato por par te do arrendatário.
As obrigações quer do senhorio quer do arrendatário são as previstas para o locador e locatário – artigo
1308º do Código Civil. As obrigações do senhorio estão essencialmente no 1031º CC.
O problema mais específico da renda, encontra-se fundamentalmente no art. 1041º CC. refere a entrada
em mora, vencimento da renda, consequências da mora e da cessação da mora. O incumprimento definitivo
quando tem por base situação de mora apenas ocorre na sequência de um facto que a lei pré-determina –
em regra interpelação admonitória. Em regra, a renda fica venida no dia 1 de cada mês. Se o pagamento não
for efetuado nessa data, cria-se um período para fazer cessar a mora nos 8 dias subsequentes para a entrada
em mora – mora irrelevante. Durante os dias subsequentes a mora não tem significado. A mora pode ser
irrelevante para além de dia 9, desde que a data acordada para vencimento da renda seja após o dia 1. A
mora torna-se relevante findo este prazo. No contrato de arrendamento, a consequência e para a fazer
cessar a partir daí, o arrendatário tem de pagar mais 20% do valor da renda, cessando assim a mora. O
senhorio tem direito a recusar o vencimento das rendas subsequentes enquanto o inquilino não tiver
cessado a mora. De qualquer forma, se aceitar as rendas vicentes, o assunto da mora de renda anterior não
fica vencida, podendo resolver igualmente o contrato com base nesse incumprimento.
No contrato de arrendamento, pela sua importância social e empresarial, passou a haver a possibilidade de
resolução do contrato extrajudicial – art. 1083º e 1084º CC.
Resolução do contrato de arrendamento
O fim do contrato de arrendamento pode comprometer a sobrevivência da empresa instalada o imóvel,
procurando assim a lei a subsistência deste contrato, evitando a extinção da empresa.
O artigo 1083º ao elaborar as causas de resolução restringe o modo de resolução, sendo necessário que o
incumprimento detetado pela sua gravidade ou pelas consequências que provoque torne inexigível ao
senhorio a manutenção das condições do contrato de arrendamento. Podem deste modo, existir situações
de incumprimento que não configurem gravidade bastante para que o senhorio deixa de disponibilizar o seu
imóvel. Deste modo é necessário que o senhorio prove o incumprimento e que demonstre essa
inexigibilidade para que o contrato seja resolvido judicialmente.
O artigo 1083º nº 3 CC estabelece uma presunção inilidível, ou seja, que naquelas condições presume-se
sem admissão de prova em contrário que deixa de ser exigível ao senhorio disponibilizar o seu imóvel.
Sempre que seja preciso fazer prova de algum facto temos de recorrer a via judicial, porem com a facilidade
que esta presunção nos dá, não sendo admitida prova, torna-se possível a via extrajudicial.

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Direito comercial
Mesmo na resolução extrajudicial, o mecanismo não prescinde em absoluto duma intervenção fiscalizadora
do tribunal, visto que se na sequência da resolução o inquilino não concordar com a mesma, aquando do
processo especial de despejo terá desse modo oportunidade de se defender.
Caso Prático 6
Resolução do contrato de arrendamento comercial
A tomou de arrendamento a B um prédio destinado à instalação de um supermercado. O contrato foi
assinado e entrou em vigor no dia 1 de fevereiro de 2022. O contrato foi celebrado por tempo
indeterminado e a renda prevista ascendia a 2000 euros. Em março a renda foi paga no dia 14, em maio
no dia 16, em agosto no dia 15, em julho no dia 18 e em setembro no dia 24. B desagradado com o
comportamento de A pretende resolver o contrato.
a) Existem fundamentos para a resolução pretendida?
b) Pode até a promoção da resolução, A fazer cessar a mora? Como?
c) De que forma pode B resolver o contrato
d) Pode A impedir o efeito da resolução requerida?
a) em cada um dos atrasos referidos existe mora relevante em que, pelo artigo 1083º nº 3 CC, o senhorio
pode resolver o contrato ao fim de 3 meses de mora relevante. Pode, também, com base no número 4 do
artigo 1083º CC, cessar o contrato visto que o inquilino se atrasou no pagamento da renda devida por mais
de 4 vezes.
b) até o senhorio promover a resolução com base nas rendas individuais, o arrendatário pode pagar as
indemnizações correspondentes aos períodos de mora, correspondentes a 20% do valor do crédito de modo
a cessar a mora e caducando o direito à resolução do senhorio, apenas o podendo fazer 1 vez – art. 1083º
nº 3 e 4 CC. Na segunda opção após a comunicação ao inquilino este já não pode fazer cessar a mora. A
hipótese do nº 4 do art. 1083º CC, no mesmo ano e no mesmo contrato, tem uma visão mais negativa por
constituir continuidade na mora das rendas, e então o nº 3 do art. 1084º CC já não prevê que se possa fazer
cessar esta situação nem impedir a resolução.
Caso Prático 7
Cedência da posição contratual e resolução do contrato de arrendamento comercial
A toma de arrendamento a B um imóvel com o propósito de instalar uma oficina de automóveis. De
acordo com o previsto no contrato, competia a A o pagamento das prestações devidas ao condomínio. Em
janeiro de 2022, A não procedeu ao pagamento da dita prestação.
a) ainda antes da instalação do estabelecimento comercial, A cedeu a sua posição contratual a C, sem
autorização e sem o conhecimento do senhorio. Quid Iuris.
A cessão de posição contratual depende sempre de autorização da contraparte – art. 424º nº 1 CC. O artigo
1038º CC prevê especificamente a impossibilidade de cessão contratual de qualquer tipo no caso de não ser
autorizada e não ser notificada. Não basta somente a autorização, exige-se a comunicação no prazo de 15
dias quando se concretiza a transmissão. O incumprimento destas normas resulta na resolução do contrato
– art. 1083º nº2/e) CC por cessação ilícita.
NOTA: será ineficaz quando não seja comunicada ao senhorio no prazo estabelecido.
b) Admita agora que de qualquer forma, o senhorio recebeu e aceitou as rendas pagas por C. Quid
Iuris.

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Direito comercial
Neste caso temos uma aceitação tácita da cessação. Caso após esta situação pretendesse tornar inválido o
contrato cairia em abuso de direito.
c) Em setembro de 2022, B, promove a resolução extrajudicial do contrato. Quid Iuris.
O direito a resolver o contrato caduca no prazo de 3 meses, tendo na mesma o direito a receber o valor da
renda e os juros de mora, mas não pode resolver judicialmente o contrato.
Estamos a falar de resolução extrajudicial a primeira pergunta será este seria em abstrato um dos motivos
que permite a resolução extrajudicial quem alguma das hipóteses da quais são as hipóteses de soluções de
judiciais resoluções do judicial são as previstas no art. 1083º CC nos efeitos dos encargos que temos do
contrato recaiam sobre o inclino, portanto, a norma é clara falta de pagamento admite a resolução
extrajudicial em abstrato e na verdade a demora de 3 meses em relação a um encargo.
Verificando o art. 1085º CC designadamente do prazo públicos. O art. 1085º CC número 2 prevê, para as
hipóteses número 3 e 4. O art. 1083º CC o direito a resolver o contrato caduca no prazo de 3 meses não
significa obviamente que não tenha direito a receber, passando 3 meses sobre a verificação digamos assim
todo o curso da mora permitia o recurso à resolução entre judicial caduca o direito do senhor e Hoje não
encontrado no fundo pretende o legislador impor nenhuma atuação rápida quiser resolver não posso ficar
indefinidamente à espera um dia porque se chateou com o inquilino, tendo este um prazo de 3 meses para
resolver.
Caso Prático 8
Trespasse do estabelecimento comercial
A deve a B 100.000 euros. Acorda com o mesmo entregar um restaurante de que é proprietário com o
propósito de liquidação da referida dívida.
O contrato celebrado entre ambos não fazia qualquer especificação a cerca dos bens que incluíam a
transmissão acordada.
O estabelecimento referido encontra-se instalado num prédio referente a C e que B pretende continuar
a utilizar.
1. Qualifique o contrato celebrado entre A e B
Quer o trespasse quer a locação são contratos que tem por objeto necessário um estabelecimento comercial.
o trespasse não é mais do que um negócio em que se promove a transferência definitiva gratuita ou onerosa
e voluntária do estabelecimento comercial, consubstancia qualquer concreta modalidade de contrato que
opere a transmissão definitiva inter vivos gratuita ou onerosa do estabelecimento comercial. se estas
características se surpreenderem no contrato em concreto que utilizamos, tenha o nome que tiver, se tiver
por objeto estabelecimento comercial será um trespasse. Pode concretizar-se através de multiplicidade
diversa de figuras contratuais; consubstanciara um trespasse qualquer contrato que na verdade viabilize a
transmissão definitiva de um estabelecimento comercial com as características referidas.
Será desde logo um trespasse a compra e venda do estabelecimento comercial, mas também será um
trespasse a doação do estabelecimento comercial. temos ainda modalidades mais complexas como a da
hipótese.
No caso concreto qualificar-se-ia o contrato como uma dação em cumprimento ou pagamento, aceitando
liquidar a divida mediante entrega duma coisa. Sendo o estabelecimento a coisa entregue ara liquidação em

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Direito comercial
divida, traduz-se na transmissão definitiva e voluntária do estabelecimento, consistindo num trespasse. Será
assim um trespasse concretizado através de dação em cumprimento.
2. Identifique os elementos do restaurante que se transmitiam para B
3. Caracterize o procedimento relativo à transmissão contratual de arrendatário determinada pela
transferência do restaurante
Uma das maiores problemáticas no trespasse relaciona-se com o âmbito de entrega, visto que a constituição
do estabelecimento como um todo, fisicamente, o estabelecimento é composto pela totalidade de
elementos continuando, porém, a ser estabelecimento ainda que alguns elementos sejam subtraídos, sendo
possível a transmissão da titularidade não procedendo a transferência de todos os elementos que num
determinado momento estão associados a existência desse estabelecimento. Não podem, no entanto, ser
excluídos elementos imprescindíveis à qualificação do estabelecimento como tal caso contrário deixaria de
ser um estabelecimento comercial. Normalmente o contrato de trespasse há de ser suficientemente
completo quanto aos elementos transferidos.
Estabelecimento comercial e o imóvel
Em regra, o imóvel é um elemento funcionalmente importante na composição do estabelecimento.
Independentemente disso, o imóvel não deixa de ser um elemento do EC, sendo que, na maioria dos casos,
o imóvel não pertence ao âmbito mínimo ou ao âmbito máximo do EC, o que significa que o trespassante e
o trespassário têm liberdade para decidirem se o imóvel acompanha ou não o EC. Porém, isto não será
possível nos caos em que o imóvel tenha uma ligação plena ao EC, por exemplo.
Em abstrato, a disponibilidade sobre o imóvel decorre sobre duas propriedades:

• O proprietário do EC é o proprietário do imóvel:


• O proprietário do EC é arrendatário o imóvel.
A transferência da posição do contrato tem de ser referida ao senhorio (1038º/f) CC). Porém, há exceções
(1112º): quando a transmissão da posição contratual de arrendatários resultar de trespasse, então,
excecionalmente, a transmissão dessa posição não depende da autorização do senhorio. Esta norma é
tipicamente comercial, garantindo a livre circulação do imóvel.
Caso Prático 9
Trespasse do estabelecimento comercial
A, proprietário de uma sapataria instalada num prédio arrendado a B, vende a mesma a C. De acordo com
o convencionado no contrato, os stocks existentes e os elementos decorativos não integram a transmissão
combinada.
Com a celebração do trespasse, A transmitiu a C a posição contratual de arrendatário que tinha.
O senhorio pretende resolver o contrato de arrendamento por entender que a transmissão da posição
contratual de arrendatário não foi por si autorizada nem sequer lhe foi comunicada. Quid iuris?
R.: Em regra, o senhorio deve tomar conhecimento da transmissão da posição contratual de arrendatário
(art. 1038º/f) CC). Porém, excecionalmente, a transmissão dessa posição não depende da autorização do
senhorio (art. 1112º CC).
Porém, se a transmissão do EC não for acompanhada por todos os elementos que lá se encontram, ou seja,
a transmissão não for plena e completa, não há transmissão.

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Direito comercial
A e B simularam o trespasse com vista não a não necessitarem da autorização do senhorio do imóvel. Para
que o negócio dissimulado produza os efeitos, é necessário que tenham respeitado os requisitos legais – não
tendo havido autorização, não estão preenchidos, sendo o negócio inválido.
Caso Prático 10
Obrigação de não concorrência no trespasse de estabelecimento comercial
A detém e explora há vários anos um famoso restaurante situado em Matosinhos chamado o António do
Peixe. O dito estabelecimento encontra-se instalado num prédio arrendado a B. em janeiro de 2022, A
vendeu a C o seu estabelecimento, tendo ficado convencionado que o nome do estabelecimento não
acompanharia a transmissão.
6 meses após a realização do trespasse, A abriu em Leça da palmeira um estabelecimento comercial
similar ao que havia vendido e cujo nome era precisamente António do Peixe. Quid Iuris.
R.: muito embora não haja ressunção legal a esse ponto, presume-se uma garantia contra a evicção – a
tentativa de mantermos algo que estamos obrigados a transmitir. Quando está a fazer concorrência ao
trespassário na verdade não cumpre com as obrigações do trespasse visto que ao tentar reter a clientela
está a reter algo que deveria ter mantido no anterior estabelecimento. O comportamento revela que nunca
teve vontade de vender com a entrega plena do que pretende vender, realizando um procedimento para
receber dinheiro e continuar o mesmo negócio de antes. Não estando a obrigação prevista na lei, parte da
obrigação pode ser confrontada no contrato de trespasse por cautela do trespassário impondo um conjunto
de regras que limitem os termos de obrigação de não concorrência, caso contrário deixa sempre e aberto a
discussão. Os estabelecimentos comerciais têm zona de radiação muito diferentes e casuísticos, podendo
ser somente a rua e vizinhança e outro que a captação de clientela se estendem a regiões ou mesmo o país
inteiro, e até mesmo extranacional.
Não há nenhuma norma que preveja os seus limites quer espacial quer temporal. Em regra, a obrigação não
tem limite temporal inferior a 3 anos e dificilmente superior a 5, em linha com a jurisprudência italiana. O
caso concreto é relevante a este propósito.
Caso Prático 11
Obrigação de não concorrência no trespasse de estabelecimento comercial
A, proprietário de um stand de automóveis que se dedicar em exclusividade a venda de automóveis
clássicos, vende o seu estabelecimento a B. A, decorridos 4 meses sobre o contrato celebrado, enquanto
concessionário da marca Renault, abre, a 2 km do anterior, um novo stand destinado a venda de
automóveis da referida marca.
a) B considerando que há violação da obrigação de não concorrência pretende reagir contra a
conduta de A. Afira da viabilidade da dita pretensão
Não há violação de não concorrência visto não haver nexo objetivo de concorrência entre ambos.
b) Admita, independentemente dos dados da hipótese, que houve violação da obrigação de não
concorrência. De que meios se pode socorrer B para combater a conduta de A.
São os meios de incumprimento das obrigações. Interposição de ação declarativa de condenação onde se
peticiona o encerramento do estabelecimento comercial. cumulativamente pode haver pedido de
indemnização dos danos já provocados pela concorrência efetuada. Pode também somente ser peticionada

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Direito comercial
a indemnização. Pode haver pedido de indemnização compulsório por cada dia que não cumpra a obrigação
de encerramento do estabelecimento – art. 829º A CC.
c) Partindo do pressuposto da alínea anterior, admita que o novo estabelecimento foi aberto por
uma sociedade comercial de que A é o socio maioritário. Quid Iuris.
Âmbito pessoal da obrigação de não concorrência. Se o trespassário denota a obrigação deste risco deve
inscrever no contrato de trespasse a obrigação de não concorrência, então não faz sentido que a obrigação
de não concorrência se estende a terceiros do contrato visto que não recebem benefícios pelo contrato de
trespasse.
O caso concreto procura defraudar a obrigação de não concorrência, devendo-se olhar além da
personalidade jurídica da sociedade comercial e verificar que A procura através da constituição de sociedade
comercial escapar-se ao dever de não concorrência.
Caso prático 12
Obrigação de não concorrência na locação de estabelecimento
A, proprietário de uma cervejaria cedeu a exploração da mesma a B por um período de 6 anos e contra
uma retribuição de 2000 euros por mês.
No decurso do primeiro ano de vigência do contrato, A abriu um estabelecimento similar ao dado em
locação a aproximadamente 2 km de distância do mesmo. No 2º ano de vigência do contrato B também
abriu estabelecimento similar ao de locação, desta vez situado a aproximadamente 4 km de distância
daquele. Quid Iuris
R.: ao contrário do que acontece no trespasse a obrigação de não concorrência está prevista na lei. O regime
jurídico não especifica esta obrigação visto ser um regime geral, mas das obrigações que se estabelece para
ambas as partes não deixam dúvida que a obrigação de não concorrência esta presente. No que toca ao
locador as obrigações previstas no art. 1031º impõe esta obrigação de não concorrência na locação, caso
contrário impediria que o locatário tirasse do estabelecimento todas as suas valências.
Por outro lado, uma das obrigações do locatário impõe a obrigação de não concorrência – obrigação de
restituir com as mesmas valências o estabelecimento como lhe tinha sido entregue – art. 1043º nº 1 CC.
Estas hipóteses pressupõe a existência da obrigação de não concorrência na vigência do contrato de
locação; em relação ao locatário coloca-se a questão se este fica durante algum período obrigado a não
concorrer com o estabelecimento que devolveu ao locador; é evidente que o locatário pode fazer
concorrência privilegiada, porém esse é uma consequência natural da locação, da própria natureza, e o
próprio locador obteve frutos dessa locação, portanto a relação não se estende além do cotrato. Nada proíbe
que o locador, para evitar esta concorrência privilegiada, pode estabelecer uma clausula no contrato para
durante certo período proibir a mesma.
Caso Prático 13
Locação financeira
A, construtor civil, necessitando de uma grua para o desenvolvimento da sua atividade, solicitou ao seu
banco que procedesse à aquisição do modelo que preferia com o compromisso de em seguida, lhe locar o
respetivo uso.
No decurso do 2º ano de vigência do contrato, a grua evidenciou um vício que impedia a sua utilização
para o fim a que se destina.
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Direito comercial
a) Qualifique o contrato celebrado.
Estamos perante contrato de locação financeira contando que está prevista a opção de compra por parte do
locatário. É elementos imprescindível para ser contrato de locação financeira. Qual a especificidade
conceitual da locação financeira? Na verdade, é um contrato diferente da locação, é um contrato financeiro,
consubstancia uma modalidade de financiamento alternativa ao crédito hipotecário. A intervenção do banco
e meramente financeira, mas o banco será o proprietário do bem, mas e uma propriedade estritamente
jurídica com o objetivo de constituir garantia ao reembolso do capital financiado. A montante tem
essencialmente o contrato de compra e venda ou empreitada, pressupondo uma logica tripartida. O banco
não tem nenhuma responsabilidade no que toca ao bem objeto de locação limitando se a comprar por opção
precisa do locatário.
b) Diga se, em face do vício detetado, A pode suspender o pagamento das rendas.
É o locatário quem responde pelos vícios da coisa pois corre o risco por si.
c) Pode A reclamar contra o fornecedor?
Segundo o art. 13º do DL é o fornecedor quem responde por estes vícios.
d) Admita agora que foi o próprio A a vender a grua ao banco. Quid iuris?
Este cotrato pode inclusivamente ser realizado da seguinte forma: a aquisição pode ser feita ao próprio
locatário mantendo se a obrigatoriedade do contrato a montante, mas os vértices do triangulo podem ser a
mesma parte; imagine-se que o dino da grua precisa de financiamento, vendendo a grua ao banco e
financiando-se com o produto da venda da mesma e podendo ter direito de recompra da grua mais tarde.
e) A trespassou a sua empresa de construção civil. Pode transmitir a posição de locatário financeiro?
O art. 11 e o precursor do art. 1112º do CC; em caso de trespasse pode haver a transmissão da posição de
locatário financeiro asem autorização, mas o banco pode opor-se com o fundamento na falta de garantia
proporcionada pelo transmissário

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Direito comercial

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