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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS |FACULDADE DE DIREITO


Direito Empresarial II | 2º semestre de 2022
Prof. Álvaro A. C. Mariano
Prova N1 | Avaliação 22.12.2022

Atividade: 1,5

1. Ainda que os contratos empresariais não mantenham uma única conceituação, podem ser
compreendidos como aqueles celebrados entre empresários no bojo da atividade econômica e que
possuem como principais traços característicos e vetores o escopo de lucro, em que ambos ou todos os
polos são movidos pela busca do lucro e sua atividade é voltada para a perseguição do lucro; a função
econômica em que as partes esperam um proveito econômico, visando a função econômica dos
contratos; os custos de transação que pressupõe que a empresa contrata porque entende que o negócio
trará mais vantagens que desvantagens; a prática, pois os contratos nascem da prática dos comerciantes e
raramente de tipos normativos preconcebidos por autoridades exteriores ao mercado; o oportunismo e
vinculação em que prepõe a força obrigatória do contrato e, ao mesmo tempo, as partes permanecem
livres para deixar a relação a qualquer momento que lhes for conveniente; a racionalidade limitada e
incompletude contratual que presume que as partes não possuem todas as informações existentes sobre a
outra, sobre o futuro e sobre a própria contratação, bem como, não contêm a previsão sobre todas as
vicissitudes que serão enfrentadas pelas partes; o princípio da Pacta Sunt Servanda que expressa a força
obrigatória dos contratos, viabiliza a existência do mercado e coibi oportunismo indesejável das
empresas; as limitações à autonomia privada ressaltando que as contratações dão-se dentro dos limites
postos pelo ordenamento estatal; a tutela de crédito; a boa-fé nos contratos empresariais e, por fim, os
usos e costumes nos contratos empresariais. Por último, no que se refere ao regramento legal das
empresas no Código Civil de 2002, é introduzido a teoria da empresa, o Livro II da Parte Especial que
contém o empresário individual, EIRELI, tipos societários, estabelecimento e institutos complementares
e unificado o direito das obrigações, diversamente do código anterior, em que há um tratamento único da
teoria geral das obrigações e dos contratos e unificação dos tipos.

2,0 2. a) Conforme evidenciado no julgado da questão, notadamente no âmbito empresarial o Pacta


sunt servanda assume caráter ainda mais sólido e relevante se comparado à esfera civil: constitui
vetor de funcionamento dos contratos mercantis, viabilizando a própria existência do mercado.
Desse modo, a relativização desse vetor não deve ser facilmente admitida, devendo prevalecer
(assim como argumentado acima) o que foi pactuado entre as partes e cristalizado no tempo através
do contato, de modo que conforme o Enunciado 28 do Conselho de Justiça Federal “em razão do
profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade, os contratos empresariais
não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na inexperiência.” Não poderia ser diferente, já
que a própria natureza do contrato empresarial pressupõe a alocação de riscos e imprevisibilidades,
os quais são assumidos pelas partes (presumidamente consideradas como conhecedoras do mercado
em que atuam, já que profissionais). Logo, resta claro que a força obrigatória dos contratos, ao
coibir atitudes oportunistas indesejáveis entre os agentes, os quais devem cumprir a vontade, é
imprescindível para que previsibilidade, segurança jurídica e a própria existência das relações
empresariais sejam garantidas.

1,75 2. b) O contrato acima trata-se de um contrato de fornecimento atípico (contrato de distribuição)


que, apesar de não possuir previsão legal, é mais comum que o tipo contratual de fornecimento
típico (insumos e serviços). Isso ocorre devido a natureza única dos contratos empresariais, os quais
nascem da prática empresarial espontânea e da própria criatividade dos empresários, sendo assim, a
reiteração de práticas e comportamentos de mercado constroem uma espécie de “tipicidade social”
ainda que não haja tipicidade normativa. Dessa forma, é possível afirmar que a maioria dos
contratos empresariais decorre da própria prática e não de tipos normativos preconcebidos, estes
contratos surgem, então, na prática empresarial para depois serem acolhidos no ordenamento com
suas características e elementos constitutivos já solidificados no meio empresarial.
art. 710 e seguintes CC
2,0 3. a) A estratégia do supermercado de optar pela comercialização de ovos de Páscoa por meio da
“consignação” e não pela compra de estoque de ovos de Páscoa para revenda se dá, principalmente,
porque esse tipo de parceria com fornecedores alavancam as vendas sazonais e evitam prejuízos e
encalhes pelo caráter da operação, em que mercadorias sensíveis ao calor e ao toque não podem, por
exemplo, serem vendidas no próximo período sazonal (que, no caso, é anual).

Por lei, esse tipo de operação está prevista no Art. 534 do Código Civil, conforme a seguir:
"Art. 534 - Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica
autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido,
restituir-lhe a coisa consignada.".

Em efeitos práticos, as vantagens para a comercialização de produtos sazonais são ainda


maiores do que parecem pela previsão legal, tanto para o consignante quanto para o consignatário.
Dentre as vantagens para o consignante, estão: (a) foco na produção em larga escala para
distribuição; (b) exposição e posicionamento do nome marca no mercado, em variados
estabelecimentos, sem, necessariamente, investir em marketing e divulgação e; (c) inexistência de
necessidade de investimento em loja física, online ou similares para disponibilização dos produtos
produzidos. Já para o consignatário, têm-se: (a) custo zero para investimento em estoque para
venda; (b) diminuição dos riscos no que tange à lucratividade, tendo em vista que o que não for
vendido, pode ser devolvido, sem prejuízos; (c) despreocupação com estoque, qualidade, validade,
porque são de responsabilidade do fornecedor e, por fim; (d) ausência de necessidade de
investimento no processo produtivo e de distribuição dos produtos.

Não obstante, como podemos observar no julgado utilizado como base para
contextualização da presente questão, é possível observar que há o risco de existir ruídos no que
tange à relação consignante e consignatário, em que, no exemplo, o consignatário mostra não ter
envidado o devido zelo em formalizar e/ou registrar, de forma expressa, que o consignante forneceu
em formato de brinde parte dos ovos de páscoas envolvidos na operação comercial/empresarial
exposta.

2,0 3.b) A aceitação do consignante ao comprometimento de receber, em pagamento do preço, repasses


de “títulos de crédito e/ou outros documentos recebíveis de clientes” do consignatário se dá pela
transferência de responsabilidade caso houver inadimplemento. Em caso fortuito de inadimplência, a
quitação deve ser feita pelo consignatário, não havendo desse modo nenhum tipo de prejuízo para o
consignante. A cobrança desses créditos devidos é de total obrigação do consignatário. Além do mais,
ainda podem ser cobrados multas e acréscimos referentes ao atraso do pagamento para o próprio
consignatário. Essa questão é tratada pelo Código Civil de 2002, no Art. 535: O consignatário não se
exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa, em sua integridade, se tornar
impossível, ainda que por fato a ele não imputável. Desse modo, quando ocorre a venda, o produto está
em propriedade de clientes terceiros e o título de crédito não é cumprido, a obrigação de pagar o preço
continua com o consignatário.

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