Você está na página 1de 12

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E

CRIMINAL DA CIDADE (PR)

JOÃO DE TAL, casado, empresário, inscrito no CPF(MF) sob o nº.


111.222.333-44, residente e domiciliado na Rua X, nº. 0000, nesta Capital, com endereço
eletrônico ficto@ficticio.com.br, ora intermediado por seu patrono ao final firmado – instrumento
procuratório acostado –, esse com endereço eletrônico e profissional inserto na referida
procuração, o qual, em obediência à diretriz fixada no art. 106, inc. I c/c art. 287, ambos do CPC,
indica-o para as intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à presença
de Vossa Excelência, apoiada no art. 39, inc. I, do Código de Defesa do Consumidor c/c art. 876
do Código Civil, a presente

AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO,

contra

( 01 ) BANCO XISTA FINANCIAMENTOS S/A, instituição financeira de direito privado,


estabelecida na Rua Z, nº. 0000, 15º andar, em São Paulo (SP) – CEP nº. 55333-444,
8
inscrita no CNPJ(MF) sob o nº. 22.333.444/0001-55, endereço eletrônico
xista@xista.com.br,

em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

(1) – CONSIDERAÇÕES FÁTICAS

O Autor celebrou com a Ré, na data de 00/11/2222, o contrato de


financiamento nº. 112233, com o propósito de empréstimo da quantia de R$ 00.000,00 (.x.x.x.),
consoante prova ora acostada. ( doc. 01) O mútuo em referência fora garantia por alienação
fiduciária do bem móvel, na hipótese o veículo de placas HZZ,0011/PR.

Em face do aludido financiamento, a Promovida cobrara tarifas


bancárias pertinentes ao empréstimo e, mais, outras, tidas por ilegais, de cunho administrativo.

Verifica-se que, como situação “ casada” para o empréstimo em liça,


a Demandada impôs o pagamento de R$ 000,00 ( .x.x.x. ) a título de Registro de Contrato e,
mais, Tarifa pela Avaliação do Bem, essa última no importe de R$ 000,00 ( .x.x.x. ), conforme
prova de pagamentos de já carreadas. (docs. 02/03)

Dessarte, entende o Autor que referidas tarifas bancárias, impostas a


esse como condição de celebração do pacto, devem ser tidas por ilegais e, por conseguinte,
serem devolvidas corrigidas ao mesmo.

8
( 2 ) – NO MÉRITO

2.1. – VENDA CASADA – ILÍCITO CONTRATUAL – REPETIÇÃO DE INDÉBITO

Na hipótese sub judice, caracterizados os requisitos legais para


configuração da relação de consumo (art. 2º e 3º do CDC).

A Ré se enquadra perfeitamente no conceito de fornecedor, dado


pelo art. 3º do CDC, que diz:

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


Art. 3º - "Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

(...)
§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
trabalhista.

E o Autor também se enquadra, como antes afirmado, no conceito de


consumidor, ditado pelo mesmo ordenamento:

8
Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
final.

Ademais, o tema já se encontra pacificado no Superior Tribunal de


Justiça. (Súmula nº. 297, do STJ)

Urge asseverar, antes de tudo, que a hipótese ora tratada não é de


cobrança de tarifas pela prestação de serviços, as quais previstas na Resolução nº. 3.518/2007,
do Banco Central do Brasil. (alterada pela Resolução nº. 3.693/2009, do Bacen ). As tarifas
estipuladas na Resolução ora tratada, destarte, dizem respeito, verbi gratia, à exigência de TAC.
Não é o caso, Excelência.

Ao revés disso, a questão em debate aponta para cobrança de


encargos de cunho administrativo , em proveito tão só da Ré, maiormente para segurança do
empréstimo em tablado. São despesas que representam, com nitidez, repasse ao consumidor de
serviços administrativos inerentes à própria atividade da instituição financeira.

Na situação em apreço, a Ré cobrara, como aludido nas linhas


iniciais, despesas de “Registro do Contrato” e, mais, de “Avaliação do Bem”, sem qualquer
previsão nos normativos do Bacen. É uma imposição à compra desses serviços (Registro e
avaliação de bem), sob pena de não ter o financiamento celebrado. Obviamente, trata-se de uma
“venda casada”, como assim trata o Código de Defesa do Consumidor.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

8
Art. 39 – É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas
abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro
produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;
quantitativos;

Nesse sentido são as lições de Antônio Herman de Vasconcelos e


Benjamin:

“Na primeira delas, o fornecedor nega-se a fornecer o produto ou serviço, a nã o ser


que o consumidor concorde em adquirir também um outro produto ou serviço. É a
chamada venda casada. Só que, agora, a figura nã o está limitada apenas à compra e
venda, valendo também para outros tipos de negó cios jurídicos, de vez que o texto
fala em ‘fornecimento’, expressã o muito mais ampla.” (GRINOVER, Ada Pellegrini . .
. [ et tal ]. Código de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto.
anteprojeto.
10ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, vol. 1, p. 382)

Por conseguinte, temos que devem ser expurgadas as despesas ora


comentadas, devendo ser devolvidas com atualização monetária a partir de cada desembolso.

A corroborar o entendimento doutrinário supracitado, convém


evidenciar os seguintes julgados:

8
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE REVISÃO CONTRATUAL. CÉDULA DE CRÉDITO
BANCÁRIO. CDC. APLICABILIDADE. JUROS REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO A 12% AO
ANO. IMPOSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. PERIODICIDADE INFERIOR A UM
ANO. ADMISSIBILIDADE. MP 1.963-17/2000. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
COMPOSIÇÃO. JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL.
TARIFA DE CADASTRO. PREVISÃO CONTRATUAL. LEGITIMIDADE DA COBRANÇA.
TARIFAS DE REGISTRO DE CONTRATO E DE SERVIÇOS DE TERCEIROS. AUSÊNCIA DE
ESPECIFICAÇÃO. ILEGALIDADE DA COBRANÇA. AVALIAÇÃO DO BEM. VEÍCULO
USADO. PAGAMENTO PELO SERVIÇO. NÃO COMPROVAÇÃO. ABUSIVIDADE DA
COBRANÇA. SEGURO. PROVA DA CONTRATAÇÃO. AUSÊNCIA. COBRANÇA ABUSIVA.
I. As normas do Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis às relações
contratuais estabelecidas com instituições financeiras, nos termos da Súmula nº 297
do STJ. II. A jurisprudência há muito pacificou o entendimento de que as instituições
financeiras não estão sujeitas à limitação das taxas de juros remuneratórios prevista
no Decreto nº 22.626/33. III. Consoante já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, é
possível a capitalização de juros, em periodicidade inferior a um ano, nos contratos
bancários celebrados após a edição da Medida Provisória nº 1.963-17, de 31 de março
de 2000, reeditada pela MP nº 2.170-36/2001, desde que pactuada,. lV. Afigura-se
lícita a cobrança da comissão de permanência, no período de inadimplência, de modo
que o valor correspondente não ultrapasse o somatório dos encargos remuneratórios
e moratórios previstos no contrato, vale dizer: juros remuneratórios limitados ao
percentual contratado para o período de normalidade da operação; juros moratórios
até o limite de 12% ao ano; e multa contratual de 2% do valor da prestação, nos
termos do art. 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, estes dois últimos desde
que previstos no pacto firmado. Contudo, não cabe revisão do contrato de
8
financiamento quanto a este encargo se este sequer prevê a sua cobrança. V. É lícita a
cobrança da tarifa de cadastro, desde que prevista no instrumento e cobrada somente
uma única vez, no início do relacionamento entre os contratantes. III. A tarifa de
registro de contrato não pode ser cobrada do consumidor, pois não está prevista na
Tabela I da Resolução nº 3.919, de 2010, do Conselho Monetário Nacional. VI. Deve ser
declarada nula a cláusula que prevê a cobrança de serviços de terceiros, quando
inexistente clara especificação acerca de sua função. VII. Nos termos do art. 5º, VI, da
Resolução nº 3.919, de 2010, do Conselho Monetário Nacional, e da jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, a cobrança da tarifa de avaliação do bem não é abusiva
quando o veículo a ser dado em garantia for usado; todavia, é necessária a
comprovação nos autos do pagamento dos serviços de avaliação do veículo pela
instituição financeira. VIII. É vedado às instituições financeiras exigirem que os
contratantes celebrem o contrato de seguro com determinada seguradora, sob pena
de se caracterizar venda casada, prática vedada pelo art. 39, I, do Código de Defesa do
Consumidor. (TJMG; APCV 1.0701.13.028527-6/001; Rel. Des. Vicente de Oliveira Silva;
Julg. 08/03/2016; DJEMG 18/03/2016)

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO ORDINÁRIA. REVISÃO DE


CONTRATO.
1. Os negócios jurídicos bancários estão sujeitos às normas inscritas no CDC. Súmula n.
297, do STJ, com consequente relativização do ato jurídico perfeito e do princípio
pacta sunt servanda. 2. Os juros remuneratórios foram pactuados em índices que se
coadunam com a taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil,
impondo-se, assim, a manutenção da taxa livremente contratada, não merecendo
qualquer reparo, no ponto, a sentença hostilizada. 3. A capitalização mensal de juros é
8
admitida quando expressamente prevista sua incidência em contrato bancário firmado
após a vigência da medida provisória n. 1963-17/2000, mostrando-se suficiente a
indicação de juros anuais em índice superior ao duodécuplo da taxa mensal, consoante
definido pelo egrégio STJ no julgamento do RESP n. 973827/RS, submetido ao regime
dos recursos repetitivos. No contrato sob análise, não se mostra abusiva a
capitalização mensal, conforme pré-fixação dos juros mensais e a previsão de juros
anuais superiores à soma das taxas mensais no período de um ano. 4. Afigura-se
abusiva a exigência, por parte da instituição financeira, de valores a título de inserção
de gravame, registro de contrato e avaliação do bem, por cuidar-se de transferência
indevida de custo administrativo ao consumidor. Ademais, embora tenham sido tais
tarifas indicadas na avença, não estão especificados que serviços são efetivamente
remunerados em razão da cobrança de tais encargos, violando o disposto no artigo 6º,
incisos III e IV, do Código de Defesa do Consumidor. Precedentes. 5. Caracterizada a
venda casada de seguro, impõe-se o reconhecimento da nulidade da cláusula
respectiva. Relator vencido, no particular. 6. Inexistente abusividade no período de
normalidade contratual, não há falar na descaracterização da mora debendi e, por
conseguinte, no deferimento da antecipação de tutela no tocante à vedação da
inscrição do nome da parte autora em órgãos de proteção ao crédito e de manutenção
na posse do bem objeto do contrato, durante a tramitação da ação. 7. É possível a
compensação e/ou repetição simples dos valores indevidamente exigidos da parte
requerente, em razão da cobrança de encargos reputados indevidos. 8. Ônus
sucumbenciais mantidos na forma em que distribuídos na origem. Apelação
parcialmente provida, por maioria, vencido o relator que a provia em menor extensão.
(TJRS; AC 0022318-11.2016.8.21.7000; Passo Fundo; Décima Quarta Câmara Cível; Rel.
Des. Mario Crespo Brum; Julg. 03/03/2016; DJERS 10/03/2016)
8
APELAÇÃO CÍVEL.
Revisional. Contrato de financiamento para aquisição de veículo. Sentença de parcial
procedência. Apelo do banco. Insurgência quanto à declaração de nulidade das
cláusulas que tratam de serviços de terceiros, avaliação de bens, gravame eletrônico e
registro de contrato. Tarifas administrativas. Ilegalidade. Encargos inerentes aos
serviços bancários. Afronta aos princípios da informação e transparência, marcos nas
relações consumeristas. Precedentes jurisprudenciais. Sentença mantida nesta parte.
Cobrança de seguro. Reconhecimento de venda casada. Vedação do art. 39, I, do CDC.
Nulidade declarada mantida, com base no art. 51, IV, do CDC. Sucumbência
redistribuída. Autora decaiu de parte considerável de seus pedidos. Honorários
advocatícios. Valor razoável. Precedentes jurisprudenciais. Matéria prequestionada.
Apelo provido parcialmente. (TJSE; AC 201600803280; Ac. 3536/2016; Segunda
Câmara Cível; Relª Desª Áurea Corumba de Santana; Julg. 07/03/2016; DJSE
10/03/2016)

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO CUMULADA COM DECLARATÓRIA DE


INEXIGIBILIDADE DE VALORES COBRADOS E RESTITUIÇÃO DE QUANTIA PAGA. Parcial
Procedência da ação. Recurso de ambas as partes. TARIFAS BANCÁRIAS. RECURSO
DA RÉ. CUSTO COM REGISTRO DE CONTRATO E TARIFA DE AVALIAÇÃO DO BEM.
Ausência de prova do desembolso, pela instituição financeira, das quantias
impugnadas. Violação do dever de informação. Abusividade demonstrada. Inteligência
nos artigos 6º, inciso III, 51, inciso IV, e §1º, inciso III, todos do Código de Defesa do
Consumidor. Inexigibilidade de valores. Exclusão determinada. Sentença mantida.
Recurso da ré não provido. RECURSO DO AUTOR. SEGUROS. Venda casada.
8
Reconhecimento. Prática ilegal. Artigo 39, I, do Código do Direito do Consumidor.
Inexigibilidade de valores. Exclusão determinada. Sentença reformada nesse ponto.
JUROS CONTRATUAIS. Juros remuneratórios. Valor a ser repetido. Juros. Moratórios.
Incidência. Natureza diversa dos remuneratórios. Ausência de ajuste contratual entre
as partes a justificar o cômputo dos juros contratuais. Sentença mantida. Recurso do
autor parcialmente provido. RECURSO DA RÉ NÃO PROVIDO E RECURSO DO AUTOR
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP; APL 0003670-95.2013.8.26.0291; Ac. 9204509;
Jaboticabal; Trigésima Oitava Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Spencer Almeida
Ferreira; Julg. 24/02/2016; DJESP 02/03/2016)

( 3 ) – RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO QUE FORA COBRADO A MAIOR

Tendo em vista a incidência do Código de Defesa do Consumidor no


contrato em espécie, necessário, caso haja comprovação de cobrança abusiva, que seja
restituído ao Autor, em dobro, aquilo que lhe fora cobrado em excesso durante todo o período da
relação contratual. (CDC, art. 42, parágrafo único).

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL.
Ação anulatória. Sentença parcial procedência. Cobrança indevida. Contrato já
quitado. Dano moral devido. Valores cobrados em excesso. Má fé da instituição
financeira. Restituição de forma dobrada. Art. 42 do CDC. Inversão do ônus de
sucumbência. Recurso conhecido e parcialmente provido (TJPR; ApCiv 1445023-4;
8
Prudentópolis; Décima Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Athos Pereira Jorge Junior; Julg.
24/02/2016; DJPR 21/03/2016; Pág. 342)

(4) – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Em arremate, requer o Promovente que Vossa Excelência se


digne de tomar as seguintes providências:

a) determinar a citação da Requerida, por carta, com AR, para, querendo,


apresentar defesa;

b) pede, mais, sejam os pedidos JULGADOS PROCEDENTES , declarando nulas


as cláusulas que instam que o consumidor-autor pague as tarifas bancárias em
debate e, via reflexa, condenando a Ré a restituir ao Autor:

1) a quantia de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ) a título de repetição da quantia paga,


devidamente atualizada e, referentes às tarifas ilegalmente cobradas,
devendo os valores serem devolvidas de forma dobrada, uma vez que
houve nítida má-fé na sua cobrança (CDC, art. 42);

c) com o pedido de inversão do ônus da prova, protestar provar o alegado por


todos os meios de prova em direitos admitidos, por mais especiais que sejam,
sobretudo com a oitiva de testemunhas, depoimento pessoal do representante
legal da Ré, o que desde já requer, sob pena de confesso.
8
Concede-se à causa o valor de R$ .x.x.x.x ( .x.x.x.x.), montante esse
correspondente à soma das tarifas cobradas. ( CPC, art. 292, inc. I)

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de março do ano de 0000.

Fulano de Tal
Advogado - OAB(PR) 332211

Você também pode gostar