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25 de Janeiro de 2023

[MODELO] Ação Revisional de Contrato de empréstimo c/c


pedido de Tutela de Urgência (Depósito em juízo).

Modelo para ação de revisão de contrato de empréstimo bancário com


juros abusivos, inclusão de taxas administrativas e encargos ilegais
(comissão de permanência).

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE


DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA COMARCA DE
______________/UF.

EMPRESA LTDA, pessoa jurídica de direito privado inscrita


no CNPJ sob o nº XX.XXX.XXXX/XXXX-XXX, com sede à
(endereço da sede), por intermédio de seus procuradores que
a esta subscreve (instrumento de mandato em anexo), com
escritório profissional (endereço), local indicado para receber as
intimações e notificações de praxe, vem perante Vossa
Excelência, propor AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO
c/c TUTELA DE URGÊNCIA (DEPÓSITO EM JUÍZO) em
face (instituição financeira) pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ sob o nº XX.XXX.XXXX/XXXX-
XXX, com sede (endereço), pelos motivos fáticos e jurídicos a
seguir articulados.

1. DO FATOS

Em __ de____ de ____, a parte autora firmou contrato


(descrever modalidade contratual), junto ao (instituição
financeira), ora requerido, no valor de R$ (valor do
 BAIXAR   
 COPIAR MODELO
 COPIAR MODELO
empréstimo), em xx (número de parcelas) parcelas
mensais, iguais e sucessivas de R$ (valor da parcela)

Até o presente momento a parte autora arcou com o pagamento


de xx (número de parcelas pagas) parcelas do referido
financiamento, totalizando o montante de R$ (valor das
parcelas pagas).

O montante a ser pago ao final do contrato seria no valor de R$


(valor total do financiamento), aplicando-se uma taxa
mensal de juros de XX% (taxa mensal do contrato) ao mês
e XX% (taxa ao ano do contrato) ao ano, utilizando, ainda,
o Sistema Price de Amortização. (verificar sistema de
amortização utilizado)

Entretanto, após a realização de análise contábil – financeira


(laudo pericial elaborado pelo Perito-Contador Fulano
de tal, CRC/__: xxxxxx– em anexo), a empresa autora
detectou inúmeras ilegalidades e irregularidades praticadas pela
instituição financeira ré, quando da contratação e cumprimento
das obrigações ajustadas entre as partes.

Houve imposição de cláusulas e condições desproporcionais e


descabidas, a requerente vem sendo obrigada ao pagamento de
valores maiores e indevidos em favor do Banco Réu, trazendo
inúmeros danos e prejuízos à empresa.

Ao proceder ao recálculo das parcelas conforme informações do


contrato detectou-se que o Requerido incluiu no pacto
entabulado irregularmente a TAXA DE ABERTURA DE
CRÉDITO, no valor do financiamento, aumentando
consideravelmente o valor da à taxa de juros aplicada no
contrato para XX% (indicar a o valor da taxa
administrativa incluída) e, consequentemente o total
financiado, conforme será demonstrado ao longo desta exordial.
Além disso, cumpre-nos observar que foi aplicado TAXA
MÉDIA DE JUROS ACIMA DA PERMITIDA pelo Banco
Central, para empréstimos da mesma natureza e período do
contrato em objeto da lide. (Laudo Pericial)

O resultado da perícia comprovou, explicitamente, conforme


planilhas anexadas a esta peça, bem como no estudo jurídico
desenvolvido, que o instrumento formalizado, opõe-se
frontalmente à legislação pátria em vigor.

Restando-lhe, assim, buscar o Poder Judiciário, para declarar a


cobrança abusiva, ilegal e não contratada. Nesse enfoque,
pretende-se a revisão dos termos do que fora pactuado (e
seus reflexos), os quais importem na remuneração e nos
encargos contratuais.

2. DO DIREITO

2.1 DA NECESSÁRIA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR

A presente peça exordial fundamenta-se - dentre outros


dispositivos legais aplicáveis à espécie – nas normas do Código
de Defesa do consumidor (Lei nº 8.078/90), todavia, nunca é
demais esclarecer quais os princípios norteadores desse sistema
legal.

Para saber se as normas contidas no Código de Defesa do


Consumidor são aplicáveis ou não ao presente caso, impõe-se,
antes de qualquer coisa, a identificação das pessoas (físicas e
jurídicas) que fazem o uso dos serviços bancários, não poderá
existir qualquer dúvida. Vale dizer, ocorrendo uma prestação de
serviços bancários, onde figurem, de um lado, na qualidade de
fornecedor, um determinado banco comercial e, de outro, na
qualidade de consumidor, uma pessoa qualquer, que contrate
com esse agente financeiro, é evidente que essa relação jurídica
se caracterizará como relação de consumo.

Já quanto à inclusão ou não das pessoas jurídicas como


consumidores, segundo alguns autores, dependeria sua
caracterização, da finalidade consignada à relação de consumo,
isto é, da destinação dessa contratação bancária e a partir daí,
da análise a ser realizada pelo Poder Judiciário de sua
vulnerabilidade, que deveria ser perquirida caso a caso.

Primeiramente, ressalva-se que a conceituação de consumidor,


no sistema brasileiro, não está vinculada à constatação ou não
de vulnerabilidade das partes envolvidas na relação de
consumo. Aliás, para os efeitos de aplicação do CPC, o
consumidor é presumivelmente considerado vulnerável frente
ao fornecedor (o que não se pode confundir é vulnerabilidade
com hipossuficiência. A vulnerabilidade é geral e decorre de
simples situação do consumidor, já a hipossuficiência decorre
de condições pessoais e relativas a cada consumidor em
confronto com as condições pessoais do respectivo fornecedor.
Assim, a hipossuficiência dever ser analisada caso a caso, ao
passo que a vulnerabilidade do consumidor é inerente a sua
própria condição).

Mais ainda, devemos lembrar que o CDC não contempla em seu


texto somente a conceituação do consumidor.

Neste sentido, cabe demonstrar o que dispõe os arts. 2º, 3º e 3º


§ 2º, do Código de Defesa do Consumidor, quanto ao conceito
de consumidor, fornecedor e serviço:

Art. 2º - “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica


que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final. ”
Art. 3º - “Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como
os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade
de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição
ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços. ”

§ 2º - “Serviço é qualquer atividade fornecida no


mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive
as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista. ”

Em se tratando de relação que envolve instituição financeira, a


ADI nº 2591, em julgamento proferido em 07 de junho de 2006,
o STF decidiu que:

“As instituições financeiras estão, todas elas alcançadas pela


incidência das normas veiculadas pelo Código de Defesa do
Consumidor. 2. “Consumidor”, para efeitos do Código de Defesa
do Consumidor, é toda pessoa física ou jurídica que utiliza,
como destinatário final, atividade bancária, financeira e de
crédito. ”

Restada extreme de dúvidas a aplicabilidade do CDC às


instituições bancárias, em face da decisão definitiva do STF em
controle abstrato, o disposto no artigo 29 deste código vem
espancar toda e qualquer dúvida ao sustentar que: “Para fins
deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores
todas as pessoas determináveis ou não, expostas ás práticas nele
previstas”

Além disso, ressalta-se que a hipótese deu origem a súmula nº


297, do STJ:
Súmula nº 297, STJ – O código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

Portanto, conforme conceituação de consumidor, fornecedor e


serviço, a luz do Código de Defesa do Consumidor, inequívoco é
o fato de que este código deve ser aplicado no presente caso, por
claramente se ter uma relação consumerista em tela.

2.2. RESISTÊNCIA QUANTO AO CARÁTER DE


ADESÃO – HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR

Os contratos bancários são instrumentos adotados nas relações


de consumo, elaborados por uma das partes (proponente), pois,
garantem agilidade e execução dos negócios.

A característica predominante em tais contratos, é que não se


resultam do livre debate entre as partes, mas provêm de fato de
uma delas aceitar tacitamente as cláusulas e condições
previamente estabelecidas pela outra, o que se denomina de
contrato de adesão.

Pablo Stolze o define da seguinte maneira: “o contrato onde um


dos pactuantes predetermina (ou seja, impõe) as cláusulas do
negócio jurídico.

Igualmente, o vigente Código de Defesa do Consumidor, em seu


art. 54, traz previsão específica de um conceito legal de contrato
de adesão para as relações consumeristas:

Art. 54. Contrato de Adesão é aquele cujas cláusulas


tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou
estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa
discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
Na presente lide, fica evidenciada a posição de vantagem do
requerido (superioridade material), em face da hipossuficiência
técnica, jurídica e econômica da autora, tendo em vista a
desigualdade fática que faz com que possa ditar as cláusulas do
contrato objeto da lide (cédula de crédito bancário).

A vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo (art.


4º, I, do CDC), se traduz na realidade de que o consumidor
bancário não detém os conhecimentos jurídicos suficientes, ao
passo que a autora não foi esclarecida a respeito dos ônus e das
restrições que viria a suportar, colocando-a em uma situação de
desvantagem exagerada (art. 51, IV, do CDC) e viciando seu
consentimento pela falta de informação clara e adequada
sobre o produto-serviço contratado (art. 6º, III, do CDC).

Nesse cenário, o art. 54, § 4º, do CDC, determina: “as cláusulas


que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser
redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil
compreensão”.

O REsp 814.060/RJ, da relatoria do Min. Luis Felipe Salomão,


entendeu que:

Os artigos 6º, III, e 54, § 4º, do CDC, estabelecem que é


direito do consumidor a informação plena do objeto do
contrato, garantindo-lhe, ademais, não somente uma
clareza física das cláusulas limitativas – o que é
atingindo pelo simples destaque destas -, mas,
sobretudo, clareza semântica, um significado unívoco
dessas cláusulas, que deverão estar infensas a duplo
sentido”.

Contudo, fica evidente que no contrato de empréstimo bancário


objeto da lide, as restrições aos direitos dos consumidores não
são regidas de modo ao permitir ao consumidor sua imediata e
fácil compreensão.

Destarte, sendo a compreensão lacrada ao consumidor, resta


aplicar-se o que determina o art. 46, do CDC: “Os contratos que
regulam as relações de consumo não obrigarão os
consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar
conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos
instrumentos forem regidos de modo a dificultar a
compreensão”.

2.3 DA REVISÃO DO CONTRATO DE


FINANCIAMENTO ATRAVÉS DAS NORMAS DO CDC –
AUSÊNCIA DE VINCULAÇÃO DAS PARTES (ART. 46,
CDC)– ABUSIVIDADE (ART. 51, DO CDC).

Depois das breves considerações acima, cumpre-nos frisar que a


possibilidade de revisão das cláusulas contratuais está inserida
no contexto do CDC, que conforme vimos é aplicável à espécie:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

(...)

V – a modificação das cláusulas contratuais que


estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
revisão em razão dos fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas;

(...)

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive


com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo
as regras ordinárias de experiências; (grifo nosso).
Uma vez sepultada a celeuma sobre a aplicação ou não do
Código de Defesa do Consumidor aos contratos realizados entre
as instituições financeiras e suas clientes – consumidores e a
possibilidade de sua revisão nos termos do art. 6º, inciso V,
passamos a elencar os dispositivos aplicáveis ao presente caso,
no escopo de proteger os direitos da autora, notadamente
pisoteados pela requerida ao impor tarifas administrativas,
capitalização de juros bem como a aplicação do sistema
francês de amortização.

O Art. 46 do CDC diz que “os contratos que regulam as relações


de consumo não obrigarão os consumidores se não lhes for dada
a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo,
ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a
dificultar a compreensão de seu sentido e alcance”.

CLÁUDIA LIMA MARQUES manifesta-se da seguinte forma a


respeito do assunto:

O art. 46 do CDC surpreende pelo alcance de sua


disposição. Assim, se o fornecedor descumprir este seu
novo dever de “dar oportunidade” ao consumidor de
“de tomar conhecimento” do conteúdo do contrato, sua
sanção será ver desconsiderada a manifestação de
vontade do consumidor, a aceitação, mesmo que o
contrato já esteja assinado e o consenso formalizado.
Em outras palavras, o contrato não tem seu efeito
mínimo, seu efeito principal e nuclear que é o obrigar,
vincular as partes. Se não vincula, não há contrato, o
contrato de consumo como que não existe, é mais do
que ineficaz, é como que inexistente, por força do art.
46, e enquanto a oferta, por força do art. 30, continua
a obrigar o fornecedor! (MARQUES, C.L.Contratos no
Código de Defesa do Consumidor. 3ª ed.rev.atual e
ampl. São Paulo: RT,1998, p.335.)
E essa prática se dá, por óbvio, como forma de não ter o
consumidor ciência dos abusos que no futuro serão praticados
pela instituição financeira. Além disso, a taxa de juros é
modificada, sem qualquer aviso, a exclusivo critério do Réu. Ao
consumidor, não se faculta ao menos a possibilidade de tomar
conhecimento prévio da alteração nos juros, quanto mais
negociá-los.

Com efeito, rezam os artigos 47 e 51 do CDC, in verbis:

Art. 47 – As cláusulas contratuais serão interpretadas


de maneira mais favorável ao consumidor.

Art. 51 (in omissis)

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a


vantagem que:

III – se mostra excessivamente onerosa para o


consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do
contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias
peculiares ao caso.

Nesse diapasão, é basilar o que Nelson Nery Júnior diz


no comentário ao art. 51, do CDC:

“Inclui-se na proibição do dispositivo comentado a


alteração unilateral das taxas de juros e outros
encargos.”

Ademais, tratando-se de operações financeiras prevê art. 52,


CDC, que “no fornecimento de produtos ou serviços que
envolva outorga de crédito ou concessão de
financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre
outros requisitos, informa-lo prévia e adequadamente sobre:
II – montante dos juros de mora e da taxa efetiva
anual de juros”.

Esse artigo é regra especial que complementa o art. 46


(anteriormente citado). O consumidor deve ser prévia e
adequadamente informado a respeito das taxas de juros
praticadas, o que não foi feito pelo requerido.

Pelo até aqui exposto, tem-se que a autora não teve


oportunidade de tomar conhecimento prévio das condições
contratuais a que estava se submetendo, pelo que o contato não
a vincula (art. 46, do CDC).

Não obstante, cláusula que deixa a fixação de taxa juros a mero


arbítrio de uma das partes é nula de pleno direito.

Para que se confirme o que aqui se afirma, eis a posição da


melhor doutrina:

“O CDC escolheu, o art. 51, a nulidade absoluta como


sanção para as cláusulas abusivas, deixando claro o
caráter destas cláusulas como gravemente ofensivas ao
novo espírito social do direito brasileiro”.

Uma vez que a nulidade absoluta deverá ser decretada ex officio


pelo Poder Judiciário, cria o CDC, na prática, um novo controle
incidente do conteúdo e da equidade de todos os contratos de
consumo submetidos à apreciação do Judiciário brasileiro. (...)

O juiz examinará, inicialmente, a manifestação de vontade do


consumidor, verificando se foi respeitado o seu novo direito de
informação sobre o conteúdo das obrigações que está se
assumindo (art. 46), sob pena de declarar o contrato como
inexistente; (...)
E outro lado, os arts. 51 a 53 do CDC impõem um controle do
conteúdo do contrato, coibindo especialmente as cláusulas
abusivas, sob pena de nulidade absoluta. ”

“(...) No entanto, quando a conservação do contrato


configura ônus excessivo a qualquer das partes,
haveria desequilíbrio em desrespeito ao art. 4º, III, do
Código, de sorte que o dispositivo sob comentário
permite dar-se outra solução ao problemas, qual seja a
de possibilitar a resolução do contrato. Não teria
sentido a manutenção do contrato em detrimento de
uma das partes, quando essa desvantagem lhe
trouxesse ônus excessivo no cumprimento das
prestações contratuais”. (MARQUES, C.L. obra citada,
p.549/550.).

Além da fixação e modificação da taxa de juros, também o


sistema de cálculo utilizado pela Ré na contagem dos juros
cobrados pela utilização do crédito é ilegal.

No caso em questão, a cláusula contratual que estabelece a


aplicação da Tabela Price, que deriva da aplicação de juros
compostos é exagerada, pois, gera locupletamento sem causa da
instituição financeira.

A previsão de nulidade para esta espécie de cláusula contratual


tem uma razão de ser: é mais do que comum que as instituições
financeiras, como o requerido, aproveitaram-se da ansiedade e
aflição a quem está em dificuldades financeiras ou ansiando por
comprar um bem e impingirem ao contratante de financiamento
uma série de cláusulas abusivas e sem destaque algum no texto,
frequentemente, estas cláusulas sequer são lidas no momento
da assinatura do contrato.
É por esta razão que o Código de Defesa do Consumidor ao
tratar dos contratos de adesão elucida que as cláusulas que
implicarem em limitação de direito do consumidor deverão ser
redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil
compreensão (art. 54, caput, § 3º e § 4º, do CDC).

No presente caso, à autora não foi dada nenhuma oportunidade


de discutir a taxa de juros a aplicada, bem como o sistema de
amortização aplicado pelo Banco. Apenas após a contratação
de um perito contábil, que com base no valor do
financiamento, número de parcelas e valor da parcela imposta
pelo banco requerido, a autora soube da aplicação da taxa de
juros acima da permitida pelo BACEN e da aplicação
Tabela Price, que ocasionou a onerosidade excessiva do
contrato.

De todo o exposto, fundamentadamente, ante a possibilidade de


REVISÃO do contrato, nos termos do art. 6º, V, do CDC a fim
de que se evite o locupletamento indevido do requerido,
passaremos a relacionar as cláusulas abusivas e irregularidades,
nos termos do CDC, requerendo-se ao final o que de direito.

2.4 DAS CLÁUSULAS E PRÁTICAS ABUSIVAS - Da


violação ao princípio da boa-fé e direito de informação.

No caso, houve antes de tudo a violação do princípio da boa-fé


objetiva pela instituição financeira requerida, vez que não
atendeu à norma implícita de conduta consistente em informar
previamente a consumidora sobre as consequências da
contratação a prazo, pelo sistema de amortização de juros
compostos.

O princípio da boa-fé objetiva é o fundamento jurídico do


direito à informação plena, inclusive sobre o preço que é pago
pelo produto/serviço que se adquire.
A boa-fé é norma de comportamento positivada nos artigos 4º,
III, e 51, IV, ambos do Código de Defesa do Consumidor, que
cria três deveres principais: um de lealdade e dois de
colaboração, que são, basicamente, o de bem informar o
candidato a contratante sobre o conteúdo do contrato e do não
buscar da outra parte.

Antônio Junqueira de Azevedo ensina:

“(...) a admissão da boa-fé, no nosso ordenamento, não


se limita, pois, ao microssistema do direito do
consumidor, mas a norma deve ser aplicada pela
jurisprudência, no seu papel de agente intermediário
entre a lei e o caso, a todo o direito (inclusive ao direito
público). A boa-fé objetiva é, do ponto de vista do
ordenamento, o que os franceses denominam “notion-
quadre”, isto é, uma cláusula geral que permite ao
julgador a realização do justo concreto, sem deixa de
aplicar a lei” (“Responsabilidade pré-contratual no
Código de Defesa do Consumidor: estudo comparativo
com a responsabilidade pré-contratual no direito
comum”, in Revista de Direito do Consumidor nº 18,
abril/junho 1996.)

No presente caso, o banco requerido em momento algum


alertou a parte autora sobre os percentuais de juros aplicados na
operação, tampouco, sobre a aplicação da Tabela Price e suas
consequências, desse modo, o aludido comportamento contraria
a boa-fé objetiva, que é um princípio geral de direito
incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro, por meio do
art. 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil, assim como pelo
art. 4º, III, do Código de Defesa do Consumidor.
2.5. DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE TARIFAS
BANCÁRIAS (TAC e TEC). RESOLUÇAÕ CMN Nº
3.518/2017.

É notório que a instituição financeira cobra um “preço” pelo


capital posto à disposição do consumidor. E assim, carece de
razão a cobrança de tarifas administrativa, não havendo vínculo
lógico jurídico a respaldar sua cobrança, posto que, como dito
capital já está remunerado pela cobrança de juros, tornando-se,
portanto, ilegal e abusiva a incidência de tal encargo.

Afigura-se totalmente descompassada com os princípios da boa-


fé, por retratar encargo que reflete uma vantagem exagerada da
instituição financeira, posto que transferir ao consumidor, parte
hipossuficiente na relação jurídica, o custo administrativo da
operação, o que justifica a devolução pretendida.

In casu, A Requerida cobrou do autor tarifas administrativas no


momento da concessão do crédito não nomeadas, no importe de
R$ (valor das taxas administrativas), no momento da concessão
do crédito, vejamos:

(Juntar quadro do contrato demonstrando a inserção


de tarifas administrativas)

Todavia, conforme entendimento firmado pelo Conselho


Monetário Nacional (CMN) é proibido à cobrança de tais tarifas.
Nos termos dos arts. 4º e 9º da Lei nº 4.595/1964, recebida pela
Constituição como lei complementar, compete ao Conselho
Monetário Nacional dispor sobre taxa de juros e sobre a
remuneração dos serviços bancários, e ao Banco Central do
Brasil fazer cumprir as normas expedidas pelo CMN.
Com o início da vigência da Resolução CMN nº 3.518/2017, em
34.04.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para
as pessoas físicas e jurídicas ficou limitada às hipóteses
taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pelo
Banco Central.

Contudo, a Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e a Tarifa de


Emissão de Carne (TEC) não foram previstas na Tabela anexa à
circular BACEN 3.371/2007 e atos normativos que a sucederam,
de forma que não mais é VALIDA sua pactuação em contratos
posteriores a 30/04/2008.

Portanto, as cobranças de tais tarefas (TAC e TEC) somente são


permitidas em contratos celebrados até 30/04/2008 (fim da
vigência da Resolução CMN 2.303/96.

Com a vigência da CMN nº 3.518/2007, em 30/04/2008, a


cobrança por serviços bancários prioritários ficaram limitados
às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora
pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo
legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da
Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação
para o mesmo fato gerador.

Nesse sentido, é o entendimento consolidado do STJ:

"CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA
DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. COMPENSAÇÃO/REPETIÇÃO
SIMPLES DO INDÉBITO. RECURSOS REPETITIVOS.
TARIFAS BANCÁRIAS. TAC E TEC. EXPRESSA
PREVISÃO CONTRATUAL. COBRANÇA.
LEGITIMIDADE. PRECEDENTES. FINANCIAMENTO
DO IOF. POSSIBILIDADE.
(...)

3. Nos termos dos arts. 4º e 9º da Lei 4.595/1964,


recebida pela Constituição como lei complementar,
compete ao Conselho Monetário Nacional dispor sobre
taxa de juros e sobre a remuneração dos serviços
bancários, e ao Banco Central do Brasil fazer cumprir
as normas expedidas pelo CMN.

4. Ao tempo da Resolução CMN 2.303/1996, a


orientação estatal quanto à cobrança de tarifas pelas
instituições financeiras era essencialmente não
intervencionista, vale dizer,"a regulamentação
facultava às instituições financeiras a cobrança pela
prestação de quaisquer tipos de serviços, com exceção
daqueles que a norma definia como básicos, desde que
fossem efetivamente contratados e prestados ao cliente,
assim como respeitassem os procedimentos voltados a
assegurar a transparência da política de preços
adotada pela instituição."

5. Com o início da vigência da Resolução CMN


3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços
bancários prioritários para pessoas físicas ficou
limitada às hipóteses taxativamente previstas em
norma padronizadora expedida pelo Banco Central do
Brasil.

6. A Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e a Tarifa de


Emissão de Carnê (TEC) não foram previstas na
Tabela anexa à Circular BACEN 3.371/2007 e atos
normativos que a sucederam, de forma que não mais é
válida sua pactuação em contratos posteriores a
30.4.2008.
7. A cobrança de tais tarifas (TAC e TEC) é permitida,
portanto, se baseada em contratos celebrados até
30.4.2008, ressalvado abuso devidamente comprovado
caso a caso, por meio da invocação de parâmetros
objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto,
não bastando a mera remissão a conceitos jurídicos
abstratos ou à convicção subjetiva do magistrado.

8. Permanece legítima a estipulação da Tarifa de


Cadastro, a qual remunera o serviço de"realização de
pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de
dados e informações cadastrais, e tratamento de dados
e informações necessários ao inicio de relacionamento
decorrente da abertura de conta de depósito à vista ou
de poupança ou contratação de operação de crédito ou
de arrendamento mercantil, não podendo ser cobrada
cumulativamente"(Tabela anexa à vigente Resolução
CMN 3.919/2010, com a redação dada pela Resolução
4.021/2011).

(...)

10. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª


Tese: Nos contratos bancários celebrados até
30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN
2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de
abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC),
ou outra denominação para o mesmo fato gerador,
ressalvado o exame de abusividade em cada caso
concreto.
- 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN
3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços
bancários prioritários para pessoas físicas ficou
limitada às hipóteses taxativamente previstas em
norma padronizadora expedida pela autoridade
monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a
contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da
Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra
denominação para o mesmo fato gerador. Permanece
válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada
em ato normativo padronizador da autoridade
monetária, a qual somente pode ser cobrada no início
do relacionamento entre o consumidor e a instituição
financeira.

11. Recurso especial conhecido e parcialmente provido".


(REsp 1255573/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
28/08/2013, DJe 24/10/2013)

Na mesma esteira firma-se a interpretação sistemática do art.


39, V, do Código de Defesa do Consumido, banindo a
abusividade cobrança de vantagens manifestamente excessivas
ao consumidor.

2.6 DA DISPARIDADE DA TAXA APLICADA NO


CONTRATO EM FACE DA TAXA PREVISTA PELO
BANCO CENTRAL.

Inicialmente, é importante retratar que a instituição financeira,


ora requerida cobrou da Autora, ao longo do contrato (número
do contrato), celebrado em (data da celebração), TAXAS
REMUNERATÓRIAS BEM ACIMA DA MÉDIA DO
MERCADO. Sendo tais argumentos, facilmente constatados
com uma simples análise junto ao site do Banco Central do
Brasil (BACEN).

Cumpre-nos observar que a taxa média de juros mensal para


empréstimos da mesma natureza, no mesmo período do
contrato, praticada pelo mercado foi de XX,XX% (verificar
tabela do Banco Central com juros aplicados no dia da
contratação, para a operação do seu contrato).

Ocorre que, o banco Requerido, fixou no contrato objeto da lide


taxas remuneratórias bem acima da média do mercado. Consta
no referido instrumento, que foi aplicada taxa de (taxa de
juros anual do contrato) ao ano, correspondente a (taxa
de juros mensal) ao mês, vejamos:

(Verificar quadro descrito do empréstimo no contrato)

É cediço o entendimento assentado no Superior Tribunal de


Justiça, que as instituições financeiras não se sujeitam à
limitação dos juros remuneratórios estipulado na Lei de Usura
(Decreto 22.626/33), observando a Súmula 596, do STF. Assim,
como a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao
ano, por si só, não indica abusividade, nos exatos termos da
Súmula nº 382, do STJ.

TODAVIA, a abusividade na cobrança de juros remuneratórios


deve ser episodicamente demonstrada, desde que caracterizada
a relação de consumo e que tal abusividade coloque o
consumidor em desvantagem exagerada (art. 51, do § 1º, do
CDC), examinando-se os diversos componentes do custo final
do dinheiro emprestado, competindo à demonstração do lucro
exorbitante auferido pelo ente financeiro, como se fez no
presente caso.
Nesse sentido, a abusividade dos juros remuneratórios,
contratados com instituições financeiras integrantes do Sistema
Financeiro Nacional, deve-se levar em consideração a taxa
média de mercado estabelecida pelo Banco Central,
bem como as regras do Código de Defesa do
Consumidor (Súmula n.297, do STJ), no sentido de não
permitir a vantagem excessiva dos bancos em desfavor dos
consumidores (arts. 39, IV e 51, IV, ambos do CDC).

Sobre o assunto o STJ já decidiu:


“STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL AgRg NO AREsp 42668 RS
2011/0113190-9 (STJ).Data de publicação:
22/05/2013. Ementa: PROCESSUAL CIVIL.
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECUSO ESPECIAL. REVIÃO DE CONTRATO
BANCÁRIO. JUROS REMUNERATÓRIOS.
ABUSIVIDADE. REDUÇÃO À TAXA MÉDIA DE
MERCADO. POSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO
DE JUROS. NECESSIDADE DE PACTUAÇAÕ.
TAXA DE JUROS ANIUAL SUPERIOR AO
DUODÉCUPLO DA MENSAL. CONTRATAÇÃO
DEMONSTRADA. DECISÃO PROVIDA
PARCIALMENTE. 1. As taxas de juros
remuneratórios devem ser fixadas à taxa média
de mercado quando verificada, pelo Tribunal
de origem, a abusividade do percentual
contratado. Dissentir das conclusões do acórdão
recorrido, que entendeu ser abusiva a taxa contratada,
é inviável em recurso especial ante o óbice das Súmulas
n. 5 e 7 do STJ. 2. “A capitalização dos juros em
periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de
forma expressa e clara. A previsão no contrato
bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a
cobrança da taxa efetiva anual contratada” (REsp
n.973827/RS, Relatora para o Acórdão Ministra
MARIAISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 8/8/2012, DJe 24/9/2012). Precedente
representativo da controvérsia (art. 543 – C do CPC).
3. No caso, o acórdão recorrido aludiu expressamente
aos percentuais das taxas anula e mensal de juros.
Dessa forma, é possível a cobrança de juros
capitalizados na forma contratada. 4. “Agravo
regimental a que se dá parcial provimento.” – Grifo
nosso.
“CONTRATOS BANCÁRIOS. JUROS
REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE
RECONHECIDA. LIMITAÇÃO A 12% AO ANO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 382/STJ. 1. A
estipulação de juros remuneratórios acima de 12% ao
ano, por si só, não configura abusividade (Súmula
382/STJ). Isso porque os juros remuneratórios
cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a
limitação imposta pelo Decreto n.º 22.626/33 ( Lei de
Usura), nos termos da Súmula 596/STF. Com feito,
eventual abusividade na cobrança de juros
remuneratórios deve ser episodicamente
demonstrada, sempre levando-se em
consideração a taxa medida cobrada no
mercado.

2. Reconhecida a abusividade no caso concreto,


os juros remuneratórios devem ser fixados à
taxa média do mercado.

3. Recurso especial parcialmente provido". (REsp


618918/RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. em
20/5/2010).

Igualmente, vem decidindo as Câmaras Cíveis deste Egrégio


Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
APELAÇÃO CÍVEL - UNIRRECORRIBILIDADE -
AÇÃO REVISIONAL - CONTRATO BANCÁRIO -
JUROS REMUNERATÓRIOS ACIMA DA MÉDIA
DE MERCADO - REDUÇÃO - CAPITALIZAÇÃO -
ENCARGOS DE MORA - REPETIÇÃO SIMPLES
DO INDÉBITO - ÔNUS SUCUMBENCIAL. Porque
prevalece a unirrecorribilidade, enquanto princípio a
ser observado em matéria recursal, o manejo
concomitante de dois recursos pela mesma parte
contra uma única decisão implica preclusão
consumativa com relação ao segundo, já que a
oportunidade para insurgência esgotou-se quando da
interposição do primeiro. O princípio da boa-fé
objetiva impõe que os juros remuneratórios
cobrados pelas instituições financeiras estejam
em consonância com as taxas médias
praticadas pelo mercado financeiro, segundo a
modalidade avençada, por isso, quando abusivos, a
sua redução é medida eficaz de justiça e equilíbrio
contratual. Na cédula de crédito bancário a
capitalização de juros devidamente contratada denota
encargo financeiro regular. Não se cogita de
abusividade da comissão de permanência que, apesar
de infirmada, denota encargo contratual inexistente
para o período de inadimplemento. Revisto o contrato,
as diferenças cobradas a maior deverão ser
compensadas e, havendo saldo, devolvidas de forma
simples já que, ante a ausência de comprovação de má-
fé do credor, inaplicável a repetição em dobro a que
alude o artigo 42, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor e o artigo 940 do Código Civil. A
derrota parcial de ambos os litigantes atrai
distribuição recíproca e proporcional dos encargos
financeiros do processo. Os honorários advocatícios
obstam minoração quando ausente a alegada feição
exorbitante. (Apelação Cível n. 1.0241.17.001339-
5/001, Rel. Des. Saldanha da Fonseca, DJe 08-
08-2018, grifo meu)

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e dos


Tribunais de Justiça vem firmando o entendimento que a taxa
média de mercado, pode ser mitigada, admitindo-se a variação
até 1,5% (um e meio por cento), acima da prevista pelo BACEN.

Contudo, no presente caso, nota-se VISIVELMENTE, que as


taxas estão (verificar quanto a porcentagem prevista no
contrato está acima da permitida) acima da permitida pelo
Banco Central, logo, é cristalina a ABUSIVIDADE, uma vez
que está em completa dissonância com a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, vejamos:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL -


CONTRATO BANCÁRIO - JUROS REMUNERATÓRIOS
ACIMA DA MÉDIA DE MERCADO - REDUÇÃO -
POSSIBILIDADE. Consideram-se abusivos os juros
remuneratórios fixados em percentual superior a
uma vez e meia da taxa média de mercado.
(TJMG - Apelação Cível 1.0000.19.160377-8/001,
Relator (a): Des.(a) Domingos Coelho , 12ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 22/01/2020, publicação da
sumula em 23/01/2020)

De tal sorte, há de existir, redução da taxa ao mínimo até a


média aplicada no mercado no período da contratação,
conforme foi apurado laudo técnico juntado pela parte autora
(Documento em anexo).

Com efeito, aplicando-se a taxa média de juros permitida pelo


Banco Central de (indicar a taxa prevista pelo Banco
Central), pode-se perceber que o valor da parcela mensal da
autora REDUZIRIA para R$ (descrever o valor da
parcela com aplicação da taxa do Banco Central),
totalizando uma diferença de R$ (indicar a diferença no
valor final do financiamento)– Laudo pericial, em
anexo.

Desta feita, ilícita, pois, a cobrança de juros superiores taxa


média de mercado, haja vista que o Requerido - como acima
demonstrado - estipulou os juros acima dos permitidos pelo
Banco Central, sendo, pois, CABÍVEL A REVISÃO
CONTRATUAL.

Diante disso, a condenação do Requerido a RESTITUIR OU


COMPENSAR a diferença a ser apurada nas XX (número de
parcelas) parcelas adimplidas, autora, em face da abusividade
nas clausulas contratuais.

2.7. DA ILEGALIDADE DO SISTEMA PRICE DE


AMORTIZAÇÃO – DA PRÁTICA DE ANATOCISMO.

Nota: (A discussão sobre ilegalidade do sistema de


amortização Price vem sendo superada majoritariamente
pela jurisprudência dos Tribunais de Justiça e STJ).

O contrato de concessão de crédito firmado entre as partes


utilizou como metodologia de saldar a dívida o sistema francês
de amortização, popularmente, conhecido por Tabela Price. O
autor da tabela Price, o inglês Richard Price, afirma em sua
obra que a tabela é constituída por juros compostos. Esta
afirmativa se repete ao ponto de vista de diversos matemáticos e
estudiosos, que confirmam a aplicação de destes.

O método Price constitui tradicional mecanismo de pagamento


de dívidas, destinando-se as parcelas iniciais ao abatimento
dos juros e as parcelas finais à amortização do valor
principal. Trata-se de método de financiamento em que cada
prestação é composta de duas parcelas distintas, um referente
aos juros e a outra ao capital emprestado, sendo que de início a
dos juros é maior que a do capital, invertendo-se essa equação
ao longo do contrato.

O sistema de amortização pela Tabela Price parte do conceito de


juros compostos, daí decorrente um plano de amortização em
prestações periódicas e sucessivas, considerando o termo
vencido. Com isso, a aplicação de juros sobre juros é inerente do
próprio sistema.

A este respeito, preceitua o art. 4º, do Decreto 22.626/1993: “É


proibido contar juros dos juros”.

A capitalização de juros (juros sobre juros), aplicada no contrato


em discussão, é vedada pelo nosso direito, mesmo quando
expressamente convencionada. Não se admite a capitalização de
juros, ainda que pactualmente convencionada em contrato, não
se excluindo de tal proibição, as operações realizadas por
instituições bancárias.

A capitalização dos juros praticada pelas instituições financeiras


torna as prestações devidas pelos consumidores
excessivamente onerosas. Logo, permitir que os juros
remunerem os próprios juros é colocar o consumidor em
situação de inequívoca inferioridade, submissão.

Sobre o tema já se manifestou o Colendo Supremo Tribuna


Federal (STF), conforme súmula nº 121, in verbis:

Súmula nº 121, STF: É vedada a capitalização de juros,


ainda que expressamente convencionada”
Pela ilegalidade da aplicação da CAPITALIZAÇÃO,
ANATOCISMO E JUROS COMPOSTOS, também se
posicionaram os Tribunais Pátrios:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO PARA
FINANCIAMENTO DE BENS GARANTIDO POR
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. INCIDÊNCIA DO CDC. (…).
JUROS REMUNERATÓRIOS. Não merecem
manutenção os juros remuneratórios pactuados em
taxa superior a 12% ao ano, conforme limitação
constante no Decreto 22.626/33, no CDC, e diante de
ausência de prova de que o financiador tenha
autorização do CMN para praticar taxas superiores.
CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. A capitalização mensal
dos juros, mesmo quando expressamente pactuada, em
contratos como o presente, não é admitida, pois o
artigo591 do atual Código Civil permite, como regra
geral, apenas a capitalização anual dos juros. (…).
(…).” (Apelação Cível Nº 70034481028, Décima
Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Lúcia de Castro Boller, JULGADO EM
18/03/2010)
PROCESSO CIVIL. REVISÃO CONTRATUAL. CDC.
APLICAÇÃO. CAPITALIZAÇÃO. TABELA PRICE. Cabe
ao Estado, observados os princípios protetivos do
Código de Defesa do Consumidor, coibir os abusos
cometidos no âmbito da esfera contratual
consumerista, implicando na atenuação do princípio
da pacta sunt servanda, eis que possíveis a revisão e a
anulação das obrigações excessivamente onerosas
(arts. 6º, item V e 45, do CDC). Não é possível a prática
da capitalização mensal dos juros. O disposto no artigo
5º, da Medida Provisória 2.170-36, teve sua
inconstitucionalidade declarada, incidenter tantum,
pelo egrégio Conselho Especial desta Corte (AIL
2006.00.2.001774-7). Deve ser comprovada a
ocorrência de capitalização mensal de juros em razão
da utilização da Tabela Price. Não se conheceu do
agravo retido. (20080110872005 APC, Relator LÉCIO
RESENDE, 1ª Turma Cível, JULGADO EM 09/12/2010,
DJ 16/12/2010 p. 76)

É ilegal, além da fixação de juros que excede aos percentuais


máximos fixados em lei, o ANATOCISMO. Anatocismo é a
contagem de juros vencidos ao capital ou sobre outros juros
vencidos, nas relações pecuniárias. A lei proíbe, portanto, o
acréscimo de juros ao capital, para contabilização de novos
juros.

Nesse diapasão, Lacerda de Almeida aduz:


“O anatocismo é a acumulação dos juros vencidos ao
capital para por sua vez vencerem juros, ou melhor, é a
contagem de juros compostos. Proibidos no cível, são
igualmente proibidos no comercial, onde o art. 253 do
Código expressamente os condena, admitindo apenas a
acumulação de juros no encerramento anual das
contas.

O anatocismo é absolutamente proibido, estipulado ou não.

A taxa de juros e o modo de contá-los dependem de convenção


das partes ou de determinação legal. Isto, porém, não obsta a
que a obrigação de pagar juros esteja sujeita a certas restrições
destinadas a coibir frequentes abusos. Assim, é proibido o
anatocismo, isto é, o acumular os juros vencidos ao capital ou
conta-los sobre os juros vencidos.

Chegando a soma dos juros vencidos a igualar a quantia do


capital, cessa o curso deles, até serem recebidos no todo ou em
parte, se são moratórios; não assim; se são compensatórios, pois
estes em regra extinguem-se pelo efeito embolso da dívida.

A rescisão por lesão enorme e o freio que coíbe os possíveis


absurdos, é o corretivo que restabelece a igualdade nos
contratos comutativos, e a ancora, o ponderador da justiça nesta
ordem de relações (“Obrigações”, Rio, Revista dos Tribunais, 2ª
edição, 1916, p.176, 179, 180, 394 e 395).

No caso em caso em voga, ficou estabelecida a ocorrência de


anatocismo na aplicação desta forma de cálculo, o que não pode
se permitir já que tal prática (composição de juros) é repudiada
pela Legislação e pelos Tribunais.
Tem-se, a configuração da prática de anatocismo no contrato
objeto da lide, posto que os do laudo em anexo, detectou-se há
cobrança de juros sobre juros remuneratórios, ao passo que, ao
aplicarmos os juros simples, chegaríamos a uma enorme
diferença em favor da parte autora.

Dessa forma, deve-se determinar a nulidade da cláusula


contratual permissiva da aplicação do sistema francês de
amortização, determinando a adequação das parcelas referentes
ao financiamento contratado pela autora, com a aplicação de
juros simples para amortização.

2.8 ANÁLISE DA MORA

Ainda, também não há que se falar em mora da autora. A mora


representa uma inexecução de obrigação diferenciada,
maiormente quando representa o injusto retardamento ou o
descumprimento culposo da obrigação. Assim, na espécie incide
a regra estabelecida no artigo 394 do Código Civil, com a
complementação disposta no artigo 396 desse mesmo Diploma
Legal.

Art. 394 - Considera-se em mora o devedor que não


efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-
lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção
estabelecer.

Art. 396 - Não havendo fato ou omissão imputável ao


devedor, não incorre este em mora

Do mesmo teor a posição do Superior Tribunal de Justiça:


1. É vedado aos juízes de primeiro e segundo graus de
jurisdição julgar, com fundamento no art. 51 do CDC,
sem pedido expresso, a abusividade de cláusulas nos
contratos bancários. 2. A estipulação de juros
remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não
indica abusividade. 3. Os juros remuneratórios
incidem à taxa média de mercado em operações
da espécie, apurados pelo Banco Central do
Brasil, quando verificada pelo tribunal de
origem a abusividade do percentual contratado
ou a ausência de contratação expressa. 4.
Admite-se a capitalização mensal dos juros nos
contratos bancários celebrados a partir da publicação
da MP 1.963-17 (31.3.00), desde que seja pactuada. 5. É
admitida a incidência da comissão de permanência
desde que pactuada e não cumulada com juros
remuneratórios, juros moratórios, correção monetária
e/ou multa contratual. 6. Reconhecida a
abusividade dos encargos exigidos no período
de normalidade contratual, descaracteriza-se a
mora. 7. A repetição simples e/ou compensação dos
valores pagos a maior, nos contratos bancários,
independe da prova de que o devedor tenha realizado o
pagamento por erro. 8. A abstenção da
inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes,
requerida em antecipação de tutela e/ou medida
cautelar, somente será deferida se, cumulativamente:
a) a ação for fundada em questionamento integral ou
parcial do débito; b) houver demonstração de que a
cobrança indevida se funda na aparência do bom
direito e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ;
c) houver depósito da parcela incontroversa ou for
prestada a caução fixada conforme o prudente arbítrio
do juiz. 9. O reexame de fatos e a interpretação de
cláusulas contratuais em Recurso Especial são
inadmissíveis. 10. Recurso Especial parcialmente
conhecido e provido. (STJ - REsp 1.430.348; Proc.
2014/0008686-5; RS; Relª Minª Nancy Andrighi; DJE
14/02/2014). (grifo nosso).

Na mesma linha de raciocínio, Silvio Rodrigues averba: “Da


conjunção dos arts. 394 e 396 do Código Civil se deduz que sem
culpa do devedor não há mora. Se houve atraso, mas o
mesmo não resultar de dolo, negligência ou imprudência do
devedor, não se pode falar em mora. “ (In, Direito civil: parte
geral das obrigações. 32ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.
245).

Nesse sentido é a doutrina de Washington de Barros Monteiro:


“A mora do primeiro apresenta, assim, um lado objetivo e um
lado subjetivo. O lado objetivo decorre da não realização do
pagamento no tempo, lugar e forma convencionados; o lado
subjetivo descansa na culpa do devedor. Este é o elemento
essencial ou conceitual da mora solvendi. Inexistindo fato ou
omissão imputável ao devedor, não incide este em mora. Assim
se expressa o art. 396 do Código Civil de 2002. “ (MONTEIRO,
Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 35ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 2010, vol. 4. Pág. 368)

Como bem advertem Cristiano Chaves de Farias e Nélson


Rosenvald: “Reconhecido o abuso do direito na cobrança do
crédito, resta completamente descaracterizada a mora
solvendi. Muito pelo contrário, a mora será do credor, pois a
cobrança de valores indevidos gera no devedor razoável
perplexidade, pois não sabe se postula a purga da mora ou se
contesta a ação. “ (FARIAS, Cristiano Chaves de;
ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. 4ª Ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2010. Pág. 471).
Em face dessas considerações, conclui-se que a mora cristaliza o
retardamento por um fato, quando imputável ao devedor. É
dizer, quando o credor exige o pagamento do débito, agregado
com encargos excessivos, retira-se do devedor a
possibilidade de arcar com a obrigação assumida. Por
conseguinte, não pode lhes ser imputados os efeitos da mora.

Entende-se, uma vez constatado a cobrança de encargos


abusivos durante o “período da normalidade” contratual,
restará afastada eventual condição de mora do Promovente.

O Superior Tribunal de Justiça, ao concluir o julgamento de


recurso repetitivo sobre revisão de contrato bancário (REsp nº.
1.061.530/RS), quanto ao tema de “configuração da mora”
destacou que:

a) O reconhecimento da abusividade nos encargos


exigidos no período da normalidade contratual (juros
remuneratórios e capitalização) descaracteriza a
mora;

b) Não descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de


ação revisional, nem mesmo quando o reconhecimento
de abusividade incidir sobre os encargos inerentes ao
período de inadimplência contratual. “

E do preciso acórdão em liça ainda podemos destacar


que: “Os encargos abusivos que possuem potencial
para descaracterizar a mora são, portanto, aqueles
relativos ao chamado ‘período da normalidade’, ou
seja, aqueles encargos que naturalmente incidem antes
mesmo de configurada a mora. “
Por todo o exposto, de rigor o afastamento dos encargos
moratórios, comissão de permanência, multa contratual e juros
moratórios.

2.9 – DA CUMULAÇÃO IRREGULAR DE COBRANÇA


COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA OS
DEMAIS ENCARGOS.

O contrato objeto da lide há previsão de que o débito apurado


ficará sujeito a cobrança de comissão de permanência por
atraso. Em relação à cumulação da comissão de permanência
com diversos encargos moratórios, como, por exemplo, juros
moratórios e multa estão pacificados que a cobrança da
comissão de permanência exclui quaisquer outros
encargos moratórios.

Em outras palavras, admite-se a cobrança de comissão e


permanência, desde que calculada pela taxa média do mercado,
contudo, não obstante a possibilidade da incidência da comissão
de permanência aos débitos veda-se a sua cumulação com
outros encargos - como juros remuneratórios,
moratórios e multa contratual – pois tal rubrica
(comissão e permanência), já contém embutida parcela
de cada um dos mencionados encargos.

De tal sorte, o credor deve optar pela cobrança de tais encargos


ou pela cobrança exclusiva da comissão de permanência, em
face da proibição do “bis in idem”.Nesse diapasão, dispõe a
súmula n.º 472 do STJ:

Súmula nº 472, STJ: A cobrança de comissão de


permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma
dos encargos remuneratórios e moratórios previsto no
contrato – exclui a exigibilidade dos juros
remuneratórios, moratórios e da multa contratual.
Vale, a respeito, trazer também à colação, mutatis mutandis:

" Segundo o entendimento pacificado na 2ª Seção, a


comissão de permanência não pode ser cumulada com
quaisquer outros encargos remuneratórios ou
moratórios. "(REsp 973827 / RS)

Nesse sentido, destaca-se que é abusiva a cobrança da comissão


de permanência cumulada com outros encargos
moratórios/remuneratórios, ainda que expressamente
pactuada.

Em verdade, a comissão de permanência já possui a dupla


finalidade de corrigir monetariamente o valor do débito e de
remunerar o banco pelo período de mora contratual.

Perceba que no pacto há estipulação contratual pela cobrança


de comissão de permanência com outros encargos moratórios.
Desse modo, os mesmos devem ser afastados pela via judicial.

Admite-se a capitalização mensal dos juros nos contratos


bancários celebrados a partir da publicação da MP 1.963-17
(31.3.00), desde que seja pactuada. 2. É admitida a incidência
da comissão de permanência desde que pactuada e não
cumulada com juros remuneratórios, juros moratórios, correção
monetária e/ou multa contratual. 3. Afastada a abusividade dos
encargos exigidos no período de normalidade contratual,
caracteriza-se a mora. 4. Reconhecida a mora, a posse do bem
dado em garantia deve ser atribuída ao credor. 5. O reexame de
fatos e provas em Recurso Especial é inadmissível. 6. A
alteração do valor fixado a título de compensação por danos
morais somente é possível, em Recurso Especial, nas hipóteses
em que a quantia estipulada pelo tribunal de origem revela-se
irrisória ou exagerada. 7. Agravo conhecido. Recurso Especial
parcialmente provido. (STJ - Ag-REsp 437.833; Proc.
2013/0389376-0; GO; Terceira Turma; Relª Min. Nancy
Andrighi; DJE 13/03/2014)

Segundo o entendimento pacificado na 2ª seção (agrg no RESP


n. 706.368/rs, Rel. Ministra nancy andrighi, unânime, DJU de
8.8.2005), a comissão de permanência não pode ser cumulada
com quaisquer outros encargos remuneratórios ou moratórios,
nem com correção monetária, o que retira o interesse na
reforma da decisão agravada. 2. A jurisprudência consolidada
por intermédio do Enunciado nº 322 da Súmula do STJ admite
a compensação/repetição simples quando verificada a cobrança
de encargos ilegais, tendo em vista o princípio que veda o
enriquecimento sem causa do credor, independentemente da
comprovação do equívoco no pagamento. 3. Agravo regimental
a que se nega provimento. (STJ - AgRg-REsp 1.411.822; Proc.
2013/0350266-7; RS; Quarta Turma; Relª Minª Isabel Gallotti;
DJE 28/02/2014).

Diante disso, novamente, se vislumbra a necessidade de perícia


contábil para analisar os encargos incluídos no contrato objeto
da lide, com o intuito de se afastar as ilegalidades, o que se
requer desde já.

2.10 DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Uma vez comprovado que no contrato objeto da lide houve


aplicação de juros acima da média permitida pelo Banco
Central, bem como há incidência de utilização do sistema price
para amortização das parcelas do financiamento contratado
pela autora, o banco requerido vem recebendo indevidamente
os valores indevidos, infringindo mais uma vez disposição do
CDC, agora no parágrafo único, do art. 42:

Art. 42 (...)
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia
indevida tem direito à a repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável.

Além disso, a própria Lei de Usura – Decreto 22.626/33, aliás,


em seu artigo 11, prescreve a repetição do indébito:

Art. 11.O contrato celebrado com infração desta lei é


nulo de pleno direito, ficando assegurado ao devedor a
repetição do que houver pago a mais.

O STJ em algumas decisões interpretou que a norma em


questão possui natureza objetiva, bastando à sua incidência que
o credor haja apenas com culpa quando da cobrança indevida
(imprudência, negligência ou imperícia), alargando seu alcance
para além das hipóteses de má-fé. Nesse sentido:
CONSUMIDOR. REPETIÃO DE INDÉBITO. ART. 42,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC.ENGANO
JUSTIFICÁVEL. NÃO – CONFIGURAÇÃO. 1.Hipótese
em que o Tribunal de origem afastou a repetição dos
valores cobrados indevidamente a título de tarifa de
água e esgoto, por considerar que não se configurou a
má-fé na conduta da SABESP, ora recorrida. 2.A
recorrente visa à restituição em dobro da quantia sub
judice, ao fundamento de que basta a verificação de
culpa na hipótese para que se aplique a regra do art.
42, parágrafo único, do Código de Defesa do
Consumidor. 3.O engano, na cobrança indevida, só é
justificável quando não decorrer do dolo (má-fé) ou
culpa na conduta do fornecedor do serviço. Precedente
do STJ. 4.Presume-se das premissas fáticas do acórdão
recorrido que a concessionária agiu com culpa, pois
incorreu em erro no cadastramento das unidades
submetidas ao regime de economias.

Igualmente, vem entendendo o TJMG:

APELAÇÂO CÍVEL- REPETIÇÃO DO INDÉBITO –


CARTÃO DE CRÉDITO – ANUIDAE – COBRANÇA
INDEVIDA. O consumidor cobrado em quantia
indevida tem direito à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
atualização monetária e juros, salvo hipótese de
engano justificável. Inteligência do parágrafo único, do
artigo 42, do CDC. (TJ-MG – AC: 10394120102683001
MG, Relator: Marcos Henrique Caldeira Brant, Data
de Julgamento: 03/05/2017, Câmaras Cíveis/ 16ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 12/05/2017)
Como é corriqueiro nas operações que envolvem a instituições
financeiras como parte, em vista da adesividade dos contratos
bancários, a autora foi submetida pela instituição financeira à
aplicação do sistema francês de amortização sem qualquer
possibilidade de contestação.

As condições contratuais, tais como taxas de juros, indexador


monetário, encargos de inadimplência, foram obliquamente
impostas pelo Banco-Réu, de modo que a autora efetuou o
pagamento sem saber que estava a pagar parcela onerada em
excesso através de capitalização de juros que é vedado pela
legislação.

Porém, após a realização da perícia por contador, percebeu que


as parcelas haviam sido calculadas a mais, gerando um valor de
R$ (indicar a diferença encontrada nos cálculos),
pagando indevidamente ao Banco-Réu o valor apurado de R$
(indicar diferença do valor pago e valor encontrado),
motivo pelo qual deseja exercer seu direito à repetição de
indébito nos termos do art. 42,, parágrafo único do CDC e art. 11
do Decreto nº 22.626/33.

Dessa forma, em virtude da prática de cálculos ilegais por parte


do Réu, sob pena de enriquecimento ilícito, a presente lide
objetiva a repetição do valor pago indevidamente, o que será
requerido ao final.

3. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA –


DEPÓSITO DA PARCELA INCONTROVERSA – ART.
330, CPC – AFASTAMENTO DA MORA.

No presente caso, a pretensão cinge-se à revisão das cláusulas


tidas como abusivas no contrato de financiamento, em razão das
abusividade nos encargos incluídos no momento da pactuação.
Pois bem, a pretensão da ação é a revisão de cláusulas abusivas
do contrato, de modo que o impedimento à negativação e o
depósito dos valores (pagamento) destina-se a resguardar o
direito da parte enquanto pendente o julgamento a causa, pois,
caso verificada as abusividades, a constituição em mora e,
eventual, restrição de seu crédito, terão sido injustas.

Ressalta-se que a parte autora estará depositando em Juízo as


prestações vincendas nas datas previstas no contrato, no valor
INCONTROVERSO de R$ (descrever valor da parcela
incontroversa, verificada através de cálculos) e, dessa
forma, deverá ser afastada a mora para que seja inibido o Réu
de realizar protestos e/ou inscrições perante os órgãos
restritivos de crédito.

Nesse sentido, importante destacar a previsão expressa do art.


330, do Código de Processo Civil, que traz tal possibilidade,
veja:

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:

(...)

§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de


obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento
ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de
inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as
obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, além de quantificar o valor incontroverso
do débito.

§ 3º Nas hipóteses do § 2º, o valor incontroverso


deverá continuar a ser pago no tempo e modo
contratados.
Nos termos do art. 300, do CPC/2015 “a tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo”. No presente caso tais requisitos são
perfeitamente caracterizados, vejamos.

O periculum in mora – o risco da demora fica demonstrado


uma vez que, considerando o depósito integral, o perigo da
demora é evidente, pois, enquanto pendente de julgamento a
demanda em que se discute a existência de débito, é abusiva a
constituição em mora e a inscrição/protesto do nome do Autor
nos órgãos restritivos de crédito, ainda mais por tratar-se de
Pessoa Jurídica que necessita do crédito no mercado de
consumo.

Quanto ao fumus boni iuris - a probabilidade do direito fica


perfeitamente demonstrada diante da comprovação por meio de
LAUDO PERICIAL PARTICULAR (ANEXO) evidenciando
que a instituição financeira, cobrou ao longo do contrato
(descrever número do contrato), taxas remuneratórias
bem acima da média do mercado.

Observa-se que a taxa média de juros mensal para empréstimos


da mesma natureza, no mesmo período do contrato, praticada
pelo mercado foi de xx% (taxa de juros prevista pelo
Banco Central). Ocorre que, conforme amplamente
demonstrado, o Requerido, fixou no contrato taxas de
(descrever taxas mensal e anual prevista no contrato).

Nota-se que o montante do empréstimo a ser pago ao final do


período contratado com os juros aplicados, totalizaria R$
(diferença apurada no saldo devedor final), ou seja,
montante este SUPERIOR ao valor originalmente contratado.
Noutro ponto, percebe-se que haverá uma diminuição
significativa no valor da parcela do financiamento passando de
R$ (parcela prevista no contrato), para R$ (cálculo da
parcela com juros corretos)

Além disso, observa-se que não há perigo de irreversibilidade do


provimento antecipado, e que a medida não causará nenhum
prejuízo à instituição financeira.

O depósito do valor incontroverso das parcelas é medida que


atesta a boa-fé do devedor em sua pretensão de rever o contrato.
Afinal, estando depositadas as parcelas em juízo, os eventuais
prejuízos do Réu serão mínimos (em caso de improcedência
integral do pedido).

Por outro lado, caso exista procedência, ainda que parcial, do


pedido formulado, a solução do litigio será facilitada, porque
estando depositada boa parte do valor discutido é provável que
por simples cálculo aritmético, e simples levantamento dos
depósitos, os direitos de ambas as partes serão satisfeitos.

Assim sendo, não há que falar em afronta ao enunciado 380, do


STJ, porquanto não será o simples ajuizamento da lide
revisional, que afastará a mora ou seus efeitos, mas sim o
depósito do montante incontroverso da prestação. Nesse
sentido, o entendimento do TJMG:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE
CONTRATO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA
TUTELA. DETERMINAÇÃO DE EXCLUSÃO, OU NÃO
INCLUSÃO, DO NOME DA PARTE DEVEDORA NOS
ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. DEPÓSITO
DO VALOR INTEGRAL DA PRESTAÇÃO DEVIDA.
POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. Deve
ser mantida a determinação judicial concernente à
retirada, ou não exclusão, do nome do devedor nos
cadastros de restrição ao crédito, quanto, a despeito do
debate acerca de eventual abusividade das cláusulas
contratuais, o requerente se propõe a depositar o
valor integral da parcela contratada, vencidas
e vincendas, em juízo. 2. Recurso desprovido.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.18.121401-
6/001, Relator (a): Des.(a) Otávio Portes , 16ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 03/04/2019,
publicação da sumula em 05/04/2019)

Diante do exposto, requer seja concedida antecipação dos


efeitos da tutela de urgência, autorizando-se o depósito judicial
das parcelas incontroversas vincendas, no valor de R$ (valor
da parcela incontroversa) em juízo, afastando-se a mora,
inibindo-se o Réu de realizar a negativação da autora juntos aos
órgãos de proteção ao crédito, nos termos do art. 300 c/c art.
330, ambos do Código de Processo Civil.

4. DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer:

A. A concessão do pedido liminar, autorizando-se o


depósito judicial das parcelas incontroversas vincendas no
valor de R$ (valor da parcela incontroversa) no curso do
processo em juízo, nos termos do art. 3000 c/c art. 3300§§ 1ºº
e2ºº, ambos doCódigo de Processo Civill;

B. Em decorrência do deferimento da liminar acima, seja


afastada a mora, inibindo-se o Réu de inscrever os dados do
autor junto aos órgãos e proteção ao crédito, inclusive
Tabelionatos de títulos, notas e protestos até o final do
provimento jurisdicional, com fixação de multa em caso de
descumprimento;

C. a citação postal da parte Requerida, no endereço citado no


preâmbulo desta inicial, para que querendo no prazo legal
venha a contestar a presente Ação Revisional, sob pena de
revelia;

D. No mérito, seja a presente ação JULGADA


TOTALMENTE PROCEDENTE, revisando-se o contrato,
desde o início da relação contratual, observando-se o que segue:

d.1 seja declarada a nulidade e exclusão da Tarifa


Bancária (TAC), inserida irregularmente no momento da
contratação do crédito, condenando-se a requerida a restituir o
valor de R$ ____________;

d.2 Seja reconhecida a abusividade nas taxas de juros aplicadas


no contrato nº (descrever número do contrato), haja vista que
estão muito superior a taxa média permitida pelo Banco
Central, determinando-se a REDUÇÃO dos juros aplicados ao
percentual de xx%(percentual do Banco Central no dia da
contratação), conforme taxa média do mercado à época da
contratação, CONDENANDO-SE o requerido à restituir ou
compensar a diferença a ser apurada nas parcelas adimplidas,
no valor de R$ , em favor da parte autora;
d.3 seja reconhecida a abusividade na capitalização de juros,
haja vista a aplicação do método Price, configurando a prática
de anatocismo, aplicando-se juros simples ao contrato objeto da
lide, condenando-se a requerida à compensação do crédito ou
pagamento da diferença favorável ao autor

d.4 Seja excluída a incidência de comissão de permanência,


visto que esta foi cumulada com outros encargos;

d.5 seja determinada a REPETIÇÃO DO INDÉBITO dos


valores acima indicados, que o requerido recebeu
indevidamente, em dobro, nos termos artigo 42, do CDC e
940, CC, com juros e correção monetária de acordo com a tabela
do TJMG;

E. A inversão do ônus da prova, nos termos do Código de


Defesa do Consumidor, diante da hipossuficiência evidente da
autora ante a instituição financeira requerida, nos termos do
art. 6º, VIII, do CDC;

F. A condenação do requerido ao pagamento de custas e


honorários advocatícios, fixados no percentual de 20% sobre o
valor da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC;

Requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos


em direito, especialmente, pela prova pericial visando
confirmar os valores e a capitalização e as taxas reais de juros,
documentos, depoimento pessoal, sem prejuízo de outas provas.

Dá-se a causa o valor de R$


_______________________.

Nestes termos,

Pede deferimento.
(cidade/UF, ___ de _____ de 20__.

Advogado/MG

Disponível em: https://thiagomarinho1992.jusbrasil.com.br/modelos-


pecas/843348336/modelo-acao-revisional-de-contrato-de-emprestimo-c-c-pedido-de-tutela-
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