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COMARCA DE _____,.
1. DA JUSTIÇA GRATUITA
2. DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO
A autora é pessoa idosa, com mais de 60 (sessenta) anos de idade, razão pela qual
requesta a prioridade na tramitação da presente demanda, nos termos do art. 71 e seus parágrafos, da
Lei nº 10.741/2013 (Estatuto do Idoso) e do art. 1.048, inciso I, do Código de Processo Civil.
3. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
A autora opta pela realização de audiência conciliatória, razão qual requer a citação da
empresa ré, por meio dos Correios, para comparecer à audiência designada para essa finalidade, nos
termos dos arts. 309, inciso VII, 247, caput, e 334, caput c/c §5º.
4. DOS FATOS
O direito de indenização por dano encontra-se contemplado nos mais diversos diplomas
legais, estando, especialmente, amparado por nossa Carta Magna/1988 que, expressamente,
estabelece: “Art. 5º (omissis): X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;”
Outrossim, os arts. 186, 927 e seu parágrafo único, e 402 do Código Civil de 2002, assim
instituem:
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pela Autora do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Art. 402 – Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao
credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar.
Quanto à conduta ilícita do réu, está afirmada pelo fato de promover descontos mensais
nos proventos da autora, com base em um Contrato de Empréstimo Consignado, supostamente,
celebrado entre as partes; bem como, pelo fato de que o réu, por meio de seus funcionários, ao
procurar a autora — que é pessoa não-alfabetizada — para lhe oferecer empréstimos consignados,
não cumpriu com a sua obrigação de informar acerca das implicações acessórias pela contratação dos
mencionados empréstimos; sobretudo, acerca dos juros cobrados pela concessão dos mesmos.
Quanto aos danos apontados na narrativa fática, resta demonstrado, pela documentação
juntada, que a autora os tem sofrido, eis que, mensalmente, são/foram efetuados descontos
decorrentes de Contrato de Empréstimo Consignado nos benefícios previdenciários da autora,
comprometendo uma parcela considerável dos seus proventos.
Portanto, há cristalino nexo causal entre a conduta ilícita do réu e os danos sofridos pela
autora.
Quanto à reponsabilidade do réu de indenizar a autora, trata-se de responsabilidade
objetiva “fundamentada no risco, na qual basta a existência do nexo causal entre a ação e o dano,
porque, de antemão, aquela ação ou atividade, por si só, é considerada potencialmente perigosa”
(Maria Helena Diniz, in Código Civil Comentado, Da Obrigação de Indenizar, Art. 927 - Doutrina).
Sim, responsabilidade Objetiva! É bem assim que o Código de Defesa do Consumidor
classifica a responsabilidade dos Bancos, ao tratá-los como prestadores de serviços. Com efeito,
dispõe o art. 14 do aludido diploma:
Art. 14 – o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre a fruição e riscos.
No §1º se esclarece que:
§1º. O serviço é defeituoso quando não oferece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstancias relevantes, entre as quais:
I – modo de seu fornecimento;
II – os resultados e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
Conforme a doutrina jurídica, a responsabilidade objetiva está assentada na teoria do
risco, segundo a qual “não se cogita da intenção ou do modo de atuação do agente, mas apenas da
relação de causalidade entre a ação lesiva e o dano.” (Carlos Alberto Biliar, in Responsabilidade
Civil nas Atividades Nucleares, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985).
Nesse sentido, Caio Mário da Silva Pereira, complementa: “Nesta teoria não se cogita de
proveito ou vantagem para aquele que exerce a atividade, mas da atividade em si mesma que é
potencialmente geradora de risco a terceiros.” (Responsabilidade Civil, 9ª ed., Rio de Janeiro:
Forense, 1998, p. 284 e 285).
Para o respeitável expositor do direito cível pátrio, Carlos Roberto Gonçalves: “o que se
requer, em essência, para a configuração da responsabilidade são estas três condições: o dano, o ato
ilícito e a causalidade, isto é, o nexo de causa e efeito entre os primeiros elementos.” (Direito Civil
Brasileiro, Responsabilidade Civil, ed. 4º, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 27)
Ora, Excelência, que a autora está sofrendo danos resultantes da conduta do réu, é fato
demonstrado por meio dos documentos anexos, mormente o extrato com o Histórico de
Consignações. Noutras palavras, por meio do Histórico de Consignações juntado, resta cristalino que
há nexo causal entre os danos reais sofridos pela autora e a conduta ilícita do réu, pois é inegável que
a autora sofre com a redução dos seus proventos em razão dos descontos mensais promovidos pelo
réu, desinentes de Contrato de Empréstimo Consignado, supostamente, celebrado entre o réu e a
autora.
Demostrado o nexo de causalidade necessário, ainda que tenha havido a participação de
terceiros, resta em favor da autora o direito líquido e certo à devida indenização por conta do réu,
conforme entendimento jurisprudencial, in verbis:
47109371 - DIREITO CIVIL. CONSTITUCIONAL E DIREITO DO CONSUMIDOR.
APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE INADIMPLENTES
EM VIRTUDE DE DÍVIDA NÃO CONTRAÍDA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO DENTRO DO
PARÂMETRO ADOTADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1. Em razão da
responsabilidade objetiva prevista no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, a
ocorrência de fraude proveniente de ato de terceiro não é considerada excludente de
responsabilidade capaz de elidir o nexo de causalidade entre a conduta e o dano sofrido pelo
consumidor. Portanto, é devida a indenização por danos morais postulada. 2. Precedentes do
Superior Tribunal de Justiça orientam no sentido da proporcionalidade e razoabilidade da
fixação da indenização nestes casos em torno de R$ 10.000,00 (dez mil reais). 3. Apelação
cível e recurso adesivo conhecidos e não providos. 4. Sentença mantida. (TJ-CE; APL
0423922-14.2010.8.06.0001; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Francisco Barbosa Filho; DJCE
28/05/2014; Pág. 26)
O art. 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, instituiu, como direito básico
do consumidor: “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência”.
É cediço, que nas relações consumeristas, a verossimilhança deve ser aferida, pelo juiz,
diante de um juízo de probabilidade extraído do material probatório que nos autos se apresenta, onde
possa firmar sua opinião de ser provável a versão apresentada pelo consumidor.
In casu, a verossimilhança das alegações da autora resta demostrada por meio dos
documentos probatórios que conseguiu anexar, notadamente o Extrato com o Histórico das
Consignações, pelo qual se conhece acerca da existência de uma relação contratual havida entre as
partes, com detalhes precisos, tais como: o número do suposto contrato, o banco responsável pelos
recolhimentos, a data da suposta contratação, o valor do suposto crédito liberado, a data de início dos
descontos, o valor das parcelas a serem descontadas, a quantidade total de parcelas a serem
descontadas, e a quantidade de parcelas que já foram descontadas até a data da emissão do extrato em
comento. Portanto, afirmada está a verossimilhança das alegações da autora e, por conseguinte,
demostrada está a prova mínima dos fatos constitutivos do direito da autora, o que já seria suficiente
para ensejar a decretação da inversão do ônus da prova a seu favor.
Cabe, porém, ao réu, fazer prova de que, ao ofertar o crédito consignado para a autora,
cumpriu com o seu dever de apresentar todas as informações pertinentes, bem como que a autora
devidamente informado acerca das cláusulas contratuais e das implicações acessórias pela
contratação de Empréstimo Consignado; notadamente, acerca dos juros cobrados pela concessão do
mesmo —, contratou e recebeu o crédito pelo qual tem pago, através dos descontos mensais em seus
proventos previdenciários.
De outro lado, tendo em vista que ao réu exerce o monopólio sobre a tecnologia e
organização necessárias para reunir e apresentar as informações pertinentes ao negócio existente
entre as partes, esta figura como parte autossuficiente na presente relação processual, de maneira que
a autora figura como parte hipossuficiente, fazendo assim, jus ao direito da inversão do ônus da prova
a seu favor.
Ressalte-se que a hipossuficiência, para possibilitar a inversão do ônus da prova, não
significa só a fragilidade econômica do consumidor, mas, também, sua fragilidade técnica, de
desconhecimento técnico e informativo do produto ou do serviço em questão.
Neste sentido, o precedente jurisprudencial, “in verbis”:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - ESTABELECIMENTO BANCÁRIO -
APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - PERÍCIA -
HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - ART.
6º, VIII, DO CDC - RECURSO NÃO PROVIDO - DECISÃO POR MAIORIA. - O Código
de Defesa do Consumidor aplica-se aos contratos bancários, pois os bancos são fornecedores
de créditos e serviços e os seus clientes meros consumidores. - Evidenciada a
hipossuficiência do consumidor perante a instituição financeira, deve ser aplicada a inversão
do ônus da prova, a fim de que a perícia seja realizada às expensas do estabelecimento de
crédito que compõe a lide. (TJ-PR - AI: 1211209 PR Agravo de Instrumento - 0121120-9,
Relator: Antonio Lopes de Noronha, Data de Julgamento: 11/09/2002, 6ª Câmara Cível, Data
de Publicação: 30/09/2002 DJ: 6218).
Finalmente e, oportunamente, merece ser trazido à baila o entendimento da ilustre
doutrinadora Sandra Aparecida Sá dos Santos, a qual ensina que:
A norma estabelecida no inciso VIII do art. 6º é clara, ou seja, é necessária a presença de
apenas um dos requisitos, porque, se assim não o fosse, o legislador, à evidência, teria
utilizado a conjunção aditiva ‘e’. É princípio basilar do direito que onde o legislador
restringe, não é permitido ao intérprete ampliar. (A inversão do ônus da prova: como garantia
constitucional do devido processo legal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 71).
Quanto ao dano moral, é pacífico o entendimento de que ocorre quando alguém se sente
lesado em seu patrimônio abstrato, como por exemplo, a dignidade pessoal, a liberdade, a honra, o
crédito, a boa fama e a consideração pública.
Na espécie, não há dúvidas de que o acontecimento narrado nos fatos é uma violação
flagrante aos princípios e normas legais que regem as relações de consumo em nosso país, bem como
não restam dúvidas de que esse acontecimento causou/tem causado desequilíbrio à normalidade
psíquica da autora, acarretando-lhe sofrimento e outras sensações dolorosas que afetam/afetaram os
valores íntimos de sua subjetividade, sendo, portanto, razoável a fixação do devido montante
indenizatório.
A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, incisos V e X, dispõe:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem;
(...) omissis
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
O Código de Defesa do Consumidor, ao listar os direitos básicos do consumidor, também
prevê o dever de reparação de danos morais em seu art. 6º, incisos VI e VII:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...) omissis
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;
(...) omissis
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação
de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção
jurídica, administrativa e técnica aos necessitados.
Como claramente se ver, a legislação pátria assegura que a pessoa que sofrer um dano
moral tem direito à devida reparação. Evidentemente que, aproveitar-se da vulnerabilidade, em todos
os sentidos, de uma pessoa idosa, analfabeta, trabalhadora rural, aposentada, para celebrar contrato de
empréstimo com nítida vantagem para o lado mais forte e poderoso, inclusive podendo resultar em
enriquecimento sem causa, repercute, no mínimo, em humilhação à pessoa contratante, configurando
o dano moral a ser reparado por meio de indenização.
Assim sendo, deve a empresa ré ser condenada a pagar indenização por danos morais a
autora, levando-se em conta a situação econômica do réu e a lesão causada a autora.
Precedente do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão:
PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO SEM
AUTORIZAÇÃO DE APOSENTADO. EMBUSTE. PROVA SUFICIENTE. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. PROVIMENTO PARCIAL. 1. A realização de descontos
indevidos em conta corrente de aposentado, decorrentes de empréstimo consignado sem
sua autorização, acarreta dano de ordem moral. 2. Necessidade de redução do valor
indenizatório, fixado de maneira exacerbada na origem. 3. Apelação parcialmente provida”.
(Processo: Apelação Cível nº 241212009; Acórdão: 0922722010; Relator: LOURIVAL DE
JESUS SEREJO SOUSA; Data 11/06/2010.
O art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, estabelece que: “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil: “A tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo.”
Com efeito, Excelência, no caso em lide, é notória a necessidade de concessão da tutela
de urgência, em caráter antecipado, tendo em vista o preenchimento dos requisitos.
A narrativa fática — pela qual a autora informa que, em seu nome, mas indevidamente,
fora feito um empréstimo bancário junto à empresa ré, cujo pagamento se dá por meio de descontos
mensais em seus proventos previdenciários —, acompanhada dos documentos anexos, notadamente
do Extrato com o Histórico de Consignações, demonstra a probabilidade do direito da autora
(fumus boni iuris), restando preenchido o primeiro requisito para a concessão da tutela de urgência.
Tendo em vista que a autora não contratou o empréstimo pelo qual vem pagando por
meio dos descontos mensais havidos em seu benefício e, considerando que tais descontos vêm
comprometendo substancialmente sua capacidade de manutenção pessoal e familiar — causando-lhe
lesão concreta, bem como prejudicando a fruição dos seus direitos —, a demora na tutela
jurisdicional, inevitavelmente, acarretará a autora um dano irreparável ou de difícil reparação,
restando demonstrado o perigo de dando ao resultado útil do processo (periculum in mora).
Ora, Excelência, se os descontos decorrentes do “falso empréstimo” junto à empresa ré,
continuarem sendo efetuados, a autora terá sua renda mensal substancialmente diminuída, passando
por situação financeira difícil, sendo necessária a vedação antecipada dos contínuos descontos.
Ademais, se a providência cautelar não for de já assegurada, o futuro provimento tutelado no
processo poderá restar ineficaz. Sendo assim, preenchido está o segundo requisito.
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento dos renomados
professores, Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, que prelecionam:
Demonstrados o fumus boni iuris e o periculum in mora, ao juiz não é dado optar pela
concessão ou não da cautela, pois tem o dever de concedê-la. É certo que existe certa dose de
subjetividade na aferição da existência dos requisitos objetivos para a concessão da cautelar.
Mas não menos certo é que não se pode falar em poder discricionário do juiz nesses casos,
pois não lhe são dados pela lei mais de um caminho igualmente legítimo, mas apenas um.
(Código de Processo Civil Comentado, 3ª ed. - São Paulo: RT, 1997, pág. 918).
6. DO PEDIDO
A autora protesta provar o alegado por toda espécie de prova admitida (art. 5º, inciso LV,
da Constituição Federal), nomeadamente pelo depoimento do representante legal do réu, sob pena de
confesso, oitiva de testemunhas a serem arroladas opportuno tempore, juntada posterior de
documentos como contraprova, e exibição de documentos; tudo, desde logo, requerido.
8. DO VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa, nesse momento, o valor de R$ 6. 132,20(seis mil cento e trinta e dois
reais e vinte centavos), nos termos do art. 292, inciso VI, do Código de Processo Civil.
Nestes Termos,
Pede e aguarda deferimento.