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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA

COMARCA DE _____,.

FULANO, brasileira, maranhense, aposentada, inscrita no CPF sob o nº


ZZZZZZZZZZZ, portadora do RG nº ZZZZZZZZZZZZZ SSP/MA, residente e domiciliada no
Povoado Boca da Mata, nº 22, XXXXX/MA, por intermédio de seu advogado subscrito, com
endereço profissional à __________________, e endereço eletrônico
______________@hotmail.com, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no art.
5º, inciso X, da Constituição Federal c/c art. 319 e seguintes do Código de Processo
Civil (Lei 13.105/2015) e na Lei nº 9.099/95, ajuizar

AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO C/C DANOS


MORAIS C/C PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Em face do BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A., Sociedade Anônima


Fechada, inscrita no CNPJ sob o nº 07.207.996/0001-50, com endereço sito à Nuc. Cidade de
Deus, s/n, Andar 4, Pred. Prata, Vila Yara, Osasco/SP, CEP: 06029-900, nesta urbe, pelo
procedimento sumaríssimo, o que faz de acordo com os fatos e fundamentos jurídicos, a seguir
delineados.

1. DA JUSTIÇA GRATUITA

A autora não tem condições econômicas de pagar as custas do processo e os honorários


de advogado, sem prejuízo do seu próprio sustento ou da sua família. Portanto, na forma do art. 4º, da
Lei nº 1.060/50, declara, na exordial, sua hipossuficiência, o que faz, por meio de seu advogado, na
forma do art. 1º da Lei nº 7.115/83.
Por tais razões, pleiteia-se os benefícios da Justiça Gratuita, assegurados
pela Constituição Federal, art. 5º, inciso LXXIV, e pelo Código de Processo Civil, art. 98 e seguintes.

2. DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO
A autora é pessoa idosa, com mais de 60 (sessenta) anos de idade, razão pela qual
requesta a prioridade na tramitação da presente demanda, nos termos do art. 71 e seus parágrafos, da
Lei nº 10.741/2013 (Estatuto do Idoso) e do art. 1.048, inciso I, do Código de Processo Civil.

3. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

A autora opta pela realização de audiência conciliatória, razão qual requer a citação da
empresa ré, por meio dos Correios, para comparecer à audiência designada para essa finalidade, nos
termos dos arts. 309, inciso VII, 247, caput, e 334, caput c/c §5º.

4. DOS FATOS

A autora é titular do Benefício Previdenciário (documento em anexo) e, no período de


abril de 2014, vem sofrendo descontos indevidos, os quais tiveram como origem uma suposta
contratação de empréstimo(s) de natureza consignada.
Quanto ao suposto contrato de empréstimo, a autora não contratou, como também, não
autorizou alguém a contratar em seu nome.
Somente agora, analisando os históricos das consignações em seus benefícios
previdenciários, a autora veio a ter conhecimento de que fora realizado, em seu nome, junto ao réu,
um empréstimo no valor de R$ 991,57 (novecentos e noventa e um reais e cinquenta e sete
centavos), de maneira que já houve 37 (trinta e sete) descontos em seus benefícios, à título de
parcela mensal para pagamento do empréstimo, cada uma no valor de R$ 30,60 (trinta reais e
sessenta centavos), totalizando o montante de R$1.132,20(hum mil cento e trinta e dois reais e
vinte centavos) descontado (Histórico de Consignações, em Anexo).
Ressalte-se, ainda, Nobre Julgador, que a autora não assinou e/ou recebeu qualquer
documento (nem mesmo o Contrato) atinente ao empréstimo em questão. Em verdade, não teve,
sequer, conhecimento de quaisquer cláusulas contratuais, ainda mais pelo fato de ser pessoa não-
alfabetizada.
Desta feita, inconformada com os descontos indevidos em seu benefício — os quais têm
comprometido substancialmente sua renda mensal —, bem como com os juros exorbitantes a ela
cobrados, a autora roga ao Poder Judiciário, a fim de que sejam cancelados todos e quaisquer
contratos, supostamente, celebrados com o réu, em especial, o constante no extrato em anexo.
Salienta-se, por oportuno, que a autora vem sofrendo substancial dificuldade de ordem
financeira, haja vista que os indigitados empréstimos comprometem uma grande parcela de sua única
renda, e de todos os seus dependentes.
Destarte, outra opção não restou a promovente, senão ajuizar a presente ação para ver
cancelados os contratos irregulares antes que se efetuem outros descontos nos seus vencimentos junto
ao INSS, bem como para receber o devido ressarcimento do montante descontado.

5. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS


Analisando-se, pois, o caso em tela, de logo se constata que estão manifestamente
presentes os requisitos necessários a ensejar o dever de indenizar, eis que configurados o dano —
gerado pelos espúrios descontos mensais no benefício da autora, comprometendo uma parcela
considerável de sua única renda e de sua família, causando-lhe, ante às estratosféricas taxas de juros
cobradas nos mesmos, um endividamento desproporcional e uma onerosidade excessiva —, e o nexo
de causalidade — posto que os descontos são oriundos do Contrato ilegal e imoral firmado junto ao
réu.

5.1 Da Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor

Antes de adentrarmos propriamente na questão meritória, faz-se necessário enfatizar a


perfeita aplicabilidade do sistema protetivo previsto no Código de Defesa do Consumidor à presente
demanda.
No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 2.591), em julgamento
proferido em 07 de junho de 2006, o Supremo Tribunal Federal decidiu que:
As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas
veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor. 2. ‘Consumidor’, para os efeitos
do Código de Defesa do Consumidor, é toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como
destinatário final, atividade bancária, financeira e de crédito.
Registre-se que a hipótese deu origem à Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, nos
seguintes termos: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.”
Destarte, Vossa Excelência, não subsiste a menor dúvida acerca da aplicação do Código
Brasileiro do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), às relações contratuais firmadas entre as instituições
financeiras e os seus clientes.

5.2 Da Responsabilidade Objetiva do(a) Ré(u)

O direito de indenização por dano encontra-se contemplado nos mais diversos diplomas
legais, estando, especialmente, amparado por nossa Carta Magna/1988 que, expressamente,
estabelece: “Art. 5º (omissis): X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;”
Outrossim, os arts. 186, 927 e seu parágrafo único, e 402 do Código Civil de 2002, assim
instituem:
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pela Autora do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Art. 402 – Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao
credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar.
Quanto à conduta ilícita do réu, está afirmada pelo fato de promover descontos mensais
nos proventos da autora, com base em um Contrato de Empréstimo Consignado, supostamente,
celebrado entre as partes; bem como, pelo fato de que o réu, por meio de seus funcionários, ao
procurar a autora — que é pessoa não-alfabetizada — para lhe oferecer empréstimos consignados,
não cumpriu com a sua obrigação de informar acerca das implicações acessórias pela contratação dos
mencionados empréstimos; sobretudo, acerca dos juros cobrados pela concessão dos mesmos.
Quanto aos danos apontados na narrativa fática, resta demonstrado, pela documentação
juntada, que a autora os tem sofrido, eis que, mensalmente, são/foram efetuados descontos
decorrentes de Contrato de Empréstimo Consignado nos benefícios previdenciários da autora,
comprometendo uma parcela considerável dos seus proventos.
Portanto, há cristalino nexo causal entre a conduta ilícita do réu e os danos sofridos pela
autora.
Quanto à reponsabilidade do réu de indenizar a autora, trata-se de responsabilidade
objetiva “fundamentada no risco, na qual basta a existência do nexo causal entre a ação e o dano,
porque, de antemão, aquela ação ou atividade, por si só, é considerada potencialmente perigosa”
(Maria Helena Diniz, in Código Civil Comentado, Da Obrigação de Indenizar, Art. 927 - Doutrina).
Sim, responsabilidade Objetiva! É bem assim que o Código de Defesa do Consumidor
classifica a responsabilidade dos Bancos, ao tratá-los como prestadores de serviços. Com efeito,
dispõe o art. 14 do aludido diploma:
Art. 14 – o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre a fruição e riscos.
No §1º se esclarece que:
§1º. O serviço é defeituoso quando não oferece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstancias relevantes, entre as quais:
I – modo de seu fornecimento;
II – os resultados e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
Conforme a doutrina jurídica, a responsabilidade objetiva está assentada na teoria do
risco, segundo a qual “não se cogita da intenção ou do modo de atuação do agente, mas apenas da
relação de causalidade entre a ação lesiva e o dano.” (Carlos Alberto Biliar, in Responsabilidade
Civil nas Atividades Nucleares, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985).
Nesse sentido, Caio Mário da Silva Pereira, complementa: “Nesta teoria não se cogita de
proveito ou vantagem para aquele que exerce a atividade, mas da atividade em si mesma que é
potencialmente geradora de risco a terceiros.” (Responsabilidade Civil, 9ª ed., Rio de Janeiro:
Forense, 1998, p. 284 e 285).
Para o respeitável expositor do direito cível pátrio, Carlos Roberto Gonçalves: “o que se
requer, em essência, para a configuração da responsabilidade são estas três condições: o dano, o ato
ilícito e a causalidade, isto é, o nexo de causa e efeito entre os primeiros elementos.” (Direito Civil
Brasileiro, Responsabilidade Civil, ed. 4º, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 27)
Ora, Excelência, que a autora está sofrendo danos resultantes da conduta do réu, é fato
demonstrado por meio dos documentos anexos, mormente o extrato com o Histórico de
Consignações. Noutras palavras, por meio do Histórico de Consignações juntado, resta cristalino que
há nexo causal entre os danos reais sofridos pela autora e a conduta ilícita do réu, pois é inegável que
a autora sofre com a redução dos seus proventos em razão dos descontos mensais promovidos pelo
réu, desinentes de Contrato de Empréstimo Consignado, supostamente, celebrado entre o réu e a
autora.
Demostrado o nexo de causalidade necessário, ainda que tenha havido a participação de
terceiros, resta em favor da autora o direito líquido e certo à devida indenização por conta do réu,
conforme entendimento jurisprudencial, in verbis:
47109371 - DIREITO CIVIL. CONSTITUCIONAL E DIREITO DO CONSUMIDOR.
APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE INADIMPLENTES
EM VIRTUDE DE DÍVIDA NÃO CONTRAÍDA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO DENTRO DO
PARÂMETRO ADOTADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1. Em razão da
responsabilidade objetiva prevista no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, a
ocorrência de fraude proveniente de ato de terceiro não é considerada excludente de
responsabilidade capaz de elidir o nexo de causalidade entre a conduta e o dano sofrido pelo
consumidor. Portanto, é devida a indenização por danos morais postulada. 2. Precedentes do
Superior Tribunal de Justiça orientam no sentido da proporcionalidade e razoabilidade da
fixação da indenização nestes casos em torno de R$ 10.000,00 (dez mil reais). 3. Apelação
cível e recurso adesivo conhecidos e não providos. 4. Sentença mantida. (TJ-CE; APL
0423922-14.2010.8.06.0001; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Francisco Barbosa Filho; DJCE
28/05/2014; Pág. 26)

5.3 Da Resolução Contratual

Consoante previsão capitulada no inciso IV, do art. 39, do Código de Defesa do


Consumidor, tem-se que é vedado ao fornecedor valer-se da fraqueza e/ou ignorância do consumidor
para impingir-lhe produtos e/ou serviços, veja-se:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
(omissis)
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde,
conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;”
O dispositivo legal acima citado aplica-se ao caso em tela, onde se constata que o réu
incorreu em manifesta prática abusiva, haja vista que se aproveitou da hipossuficiência da autora,
para impor-lhe a contratação de mútuos, eivados de irregularidades, ilegalidades e abusividades; se é
que a autora contratou.
Destaca-se, ainda, Nobre Julgador, e por oportuno, que os consumidores, por si só, são
vulneráveis no mercado de consumo (inteligência do art. 4º, inciso I, do CDC), merecendo, portanto,
atenção ainda mais especial aqueles que não tem condições de avaliar adequadamente as “tentadoras”
ofertas formuladas pelos grandes fornecedores, como é o caso da demandante, que é pessoa de
conhecimentos limitados (não-alfabetizado(a)). Por conseguinte, em casos como o presente, cabe ao
réu o ônus de fazer prova de que a autora teve o devido e necessário conhecimento dos termos do
contrato.
In casu, a empresa ré quebrou o dever anexo de cooperação, imposto pelo princípio da
boa-fé objetiva, segundo o qual, as partes devem atuar sempre no sentido de não impedir o efetivo
cumprimento das obrigações contratuais e, por conseguinte, atuar com lealdade para que o contrato
atinja as finalidades estabelecidas pelas partes.
Neste sentido, estabelecendo a necessidade de observância do mencionado dever de
cooperação nas avenças contratuais, vale citar parte do Voto da Ministra Nancy Andrigui, no RESP
nº 595631/SC, Revista Eletrônica de Jurisprudência do STJ, in verbis:
Nesse diapasão, o ordenamento jurídico pátrio tem erigido como um dos pilares de qualquer
relação contratual, o princípio da boa-fé, de que são exemplos a Lei nº 8.078⁄90, em seus arts.
4º, III e 51, IV e, mais recentemente, o Código Civil – arts. 113, 422.
Portanto, exsurge a obrigatoriedade da empresa ré em restituir os valores retirados
indevidamente da conta corrente da demandante, acrescidos de juros e correção monetária, em vista
das irregularidades e abusividade no relacionamento financeiro que há entre as partes.
Em sentido uníssono, a jurisprudência pátria, in verbis:
DIREITO DO CONSUMIDOR – CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO
CONSUMIDOR – FALTA DE INFORMAÇÃO ADEQUADA E CLARA SOBRE
SERVIÇO – PROPAGANDA ENGANOSA – PRÁTICA ABUSIVA PREVALECENDO-
SE DA FRAQUEZA OU IGNORÂNCIA DO CONSUMIDOR – VIOLAÇÃO DE
PRINCÍPIOS CONFIGURADA – RESTITUIÇÃO DE QUANTIA PAGA – RECURSO
IMPROVIDO. Correta a sentença que determina a restituição de quantia paga pelo
consumidor, quando configuradas violações simultâneas a princípios do CDC, como a
informação inadequada, a propaganda enganosa e a prática abusiva. Dano moral não
configurado. Recurso improvido.” (20040110955315ACJ, Relator ESDRAS NEVES
ALMEIDA, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF,
julgado em 27/09/2005, DJ 16/11/2005 p. 124).
Outrossim, as lesões sofridas pela autora, decorrem sobremaneira da má-fé da empresa ré,
vez que, sem a autorização daquele, realizou empréstimo em seu nome, através de Contrato
permeado de ilegalidade. Assim sendo, Excelência, faz-se necessária sua resolução, eis que fora
firmado em manifesta desproporcionalidade e absurda lesividade para com a autora, posto que suas
cláusulas foram estabelecidas unilateralmente, sem que a autora, sequer, tivesse conhecimento de
todos os seus termos.
Em verdade, a autora, sequer, assinou qualquer tipo de contrato, o que viola as
disposições da Instrução Normativa do INSS/PRES. nº 28, de 16 de maio de 2008, que estabelece
critérios e procedimentos operacionais relativos à consignação de descontos para pagamento de
empréstimos e cartão de crédito, especialmente quanto à assinatura de contrato, condição essencial
para que haja os descontos em folha de pagamento. Vejamos o que diz os arts. 5º e 6º da referida
instrução:
Art. 5º A instituição financeira, independentemente da modalidade de crédito adotada,
somente encaminhará o arquivo para averbação de crédito após a devida assinatura do
contrato por parte do beneficiário contratante, ainda que realizada por meio eletrônico.
Art. 6º A inobservância do disposto no art. 5º implicará total responsabilidade da instituição
financeira envolvida e, em caso de reclamação registrada pelo beneficiário ou irregularidade
constatada diretamente pelo INSS, a operação será considerada irregular e não autorizada,
sendo motivo de exclusão da consignação.
Necessário pontuar que, no caso em tela, temos um Contrato de Crédito ao Consumo,
constituindo-se em contrato de adesão, já que, a par de cláusulas específicas que exprimem a
particularidade de cada contrato, contêm cláusulas pré-determinadas destinadas à massa dos
consumidores e que não são passíveis de negociação individualizada.
Os contratos de adesão suprimem a liberdade de negociação e de estipulação, pois
correspondem a necessidades de contratação em massa, estando de um lado empresas de grande
envergadura econômica — bancos, seguradoras, sociedades financeiras —, e do outro, consumidores
mais ou menos informados. Trata-se, pois, de negociações no âmbito dos fornecimentos
massificados, ou em série, de bens ou serviços, que avultam em nossos dias.
Os clientes subordinam-se a cláusulas previamente fixadas, de modo geral e abstrato,
para uma série indefinida de efetivos e concretos negócios. De qualquer maneira, os sucessivos
clientes apenas decidem contratar ou não, sem que exerçam nenhuma influência prática na
modelação do conteúdo do negócio. Consequentemente, quando se dá à adesão as condições gerais
ao conteúdo contratual, imediatamente se cria um desequilíbrio significativo entre os direitos e
obrigações das partes.
Neste tipo de contrato em que ocorre mera aceitação — não particularmente negociada
pelo aderente —, a lei visa a proteção do usuário/cliente por ser a parte contratualmente mais fraca,
assegurando de modo efetivo o “dever de informação” a ser observado pelo proponente.
A prestação de tal informação deve abranger a totalidade das cláusulas e ser feita de
modo adequado, e com antecedência compatível com a extensão e complexidade do contrato, de
modo a tornar possível o seu conhecimento “completo e efetivo por quem use de comum diligência”.
O art.º 6º do Código de Defesa do Consumidor, impõe ao proponente o dever de
informação de acordo com as circunstâncias do contrato, ou seja, do seu conteúdo e complexidade,
de modo que o ônus da prova de que foi cumprido o dever de informação compete ao
proponente/requerido, conforme se observa no dispositivo supra citado; cabendo, portanto, à empresa
ré — ao formalizar o contrato em questão —, tomar um cuidado redobrado, com o intuito de evitar
qualquer alegação acerca de vício de consentimento ou de irregularidade nos termos da contratação.
Vejamos jurisprudência a esse respeito, emanada do Superior Tribunal de Justiça:
CARTÃO DE CRÉDITO. Contrato. Revisão. Dever de informação da Administradora.
Código de Defesa do Consumidor. É possível a revisão de contrato de cartão de crédito,
cabendo à Administradora informar o juízo sobre os valores, sua origem, taxas de
juros, comissões, despesas, e o mais que interessa para que se tenha a noção exata dos
critérios segundo os quais está sendo executado o contrato de adesão. Recurso conhecido
e provido, a fim de cassar a sentença e reabrir a instrução, determinando-se à Administradora
que informe o juízo sobre os elementos de que dispõe acerca do contrato objeto da demanda”.
(Processo Resp. 438700/ RJ; RECURSO ESPECIAL 2002/0061416-0; Relator: Ministro
RUY ROSADO DE AGUIAR (1102); Órgão Julgador: T4 - QUARTA TURMA; Data da
Publicação/Fonte DJ 26/05/2003 p. 364)
Precedente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CAUTELAR DE SUSPENSÃO DE DESCONTOS.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO. RELAÇÃO DE CONSUMO. INVERSÃO DO
ÔNUS DA PROVA. ANALFABETO. NECESSIDADE DE UM MAIOR CUIDADO NA
FORMALIZAÇÃO DO AJUSTE. Nos termos da Súmula 297, do Superior Tribunal de
Justiça, considerando tratar-se de relação de consumo, possível a inversão do ônus da prova,
mostrando-se impositivo, ao apelante, a produção de prova acerca da regularidade na
contratação em questão. O fato de o apelado ter comparecido à instituição financeira e
firmado o contrato, por livre e espontânea vontade, resta comprometido pelo fato de
tratar-se de pessoa analfabeta, sem qualquer condição de identificar o conteúdo e,
acima disso, as implicações daquilo que estava assumindo. Cumpria ao apelante, ao
formalizar o contrato em questão, tomar um cuidado redobrado, com o intuito de evitar
qualquer alegação acerca de vício de consentimento ou de irregularidade nos termos da
contratação. Sentença confirmada. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.
UNÂNIME”. (Apelação Cível Nº 70030872576; Rel: Nelson José Gonzaga; PUBLICAÇÃO:
Diário de Justiça do dia 04/01/2010).
Saliente-se que, caso exista tal contrato, para que ele seja considerado válido e capaz de
produzir seus efeitos, haveria de ser firmado pela própria autora — se capaz na forma da lei —, ou
por pessoa constituída pela mesma para assinar a rogo o contrato em seu nome, em conformidade
com o estabelecido no art. 595, do Código Civil.

5.4 Da Inversão do Ônus da Prova

O art. 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, instituiu, como direito básico
do consumidor: “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência”.
É cediço, que nas relações consumeristas, a verossimilhança deve ser aferida, pelo juiz,
diante de um juízo de probabilidade extraído do material probatório que nos autos se apresenta, onde
possa firmar sua opinião de ser provável a versão apresentada pelo consumidor.
In casu, a verossimilhança das alegações da autora resta demostrada por meio dos
documentos probatórios que conseguiu anexar, notadamente o Extrato com o Histórico das
Consignações, pelo qual se conhece acerca da existência de uma relação contratual havida entre as
partes, com detalhes precisos, tais como: o número do suposto contrato, o banco responsável pelos
recolhimentos, a data da suposta contratação, o valor do suposto crédito liberado, a data de início dos
descontos, o valor das parcelas a serem descontadas, a quantidade total de parcelas a serem
descontadas, e a quantidade de parcelas que já foram descontadas até a data da emissão do extrato em
comento. Portanto, afirmada está a verossimilhança das alegações da autora e, por conseguinte,
demostrada está a prova mínima dos fatos constitutivos do direito da autora, o que já seria suficiente
para ensejar a decretação da inversão do ônus da prova a seu favor.
Cabe, porém, ao réu, fazer prova de que, ao ofertar o crédito consignado para a autora,
cumpriu com o seu dever de apresentar todas as informações pertinentes, bem como que a autora
devidamente informado acerca das cláusulas contratuais e das implicações acessórias pela
contratação de Empréstimo Consignado; notadamente, acerca dos juros cobrados pela concessão do
mesmo —, contratou e recebeu o crédito pelo qual tem pago, através dos descontos mensais em seus
proventos previdenciários.
De outro lado, tendo em vista que ao réu exerce o monopólio sobre a tecnologia e
organização necessárias para reunir e apresentar as informações pertinentes ao negócio existente
entre as partes, esta figura como parte autossuficiente na presente relação processual, de maneira que
a autora figura como parte hipossuficiente, fazendo assim, jus ao direito da inversão do ônus da prova
a seu favor.
Ressalte-se que a hipossuficiência, para possibilitar a inversão do ônus da prova, não
significa só a fragilidade econômica do consumidor, mas, também, sua fragilidade técnica, de
desconhecimento técnico e informativo do produto ou do serviço em questão.
Neste sentido, o precedente jurisprudencial, “in verbis”:
AGRAVO DE INSTRUMENTO - ESTABELECIMENTO BANCÁRIO -
APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - PERÍCIA -
HIPOSSUFICIÊNCIA DO CONSUMIDOR - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - ART.
6º, VIII, DO CDC - RECURSO NÃO PROVIDO - DECISÃO POR MAIORIA. - O Código
de Defesa do Consumidor aplica-se aos contratos bancários, pois os bancos são fornecedores
de créditos e serviços e os seus clientes meros consumidores. - Evidenciada a
hipossuficiência do consumidor perante a instituição financeira, deve ser aplicada a inversão
do ônus da prova, a fim de que a perícia seja realizada às expensas do estabelecimento de
crédito que compõe a lide. (TJ-PR - AI: 1211209 PR Agravo de Instrumento - 0121120-9,
Relator: Antonio Lopes de Noronha, Data de Julgamento: 11/09/2002, 6ª Câmara Cível, Data
de Publicação: 30/09/2002 DJ: 6218).
Finalmente e, oportunamente, merece ser trazido à baila o entendimento da ilustre
doutrinadora Sandra Aparecida Sá dos Santos, a qual ensina que:
A norma estabelecida no inciso VIII do art. 6º é clara, ou seja, é necessária a presença de
apenas um dos requisitos, porque, se assim não o fosse, o legislador, à evidência, teria
utilizado a conjunção aditiva ‘e’. É princípio basilar do direito que onde o legislador
restringe, não é permitido ao intérprete ampliar. (A inversão do ônus da prova: como garantia
constitucional do devido processo legal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 71).

5.5 Da Repetição do Indébito

O art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, estabelece que:


O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável.
Da análise do caso em tela, não restam dúvidas de que a autora está sendo cobrada
indevidamente, eis que não contratou efetivamente o produto/serviço pelo qual tem efetuado
pagamentos ao réu.
Em seu art. 39, incisos II e III, o Código de Defesa do Consumidor, preceitua:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer
qualquer serviço;
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde,
conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;
A jurisprudência pátria tem consolidado o entendimento de que a cobrança de serviço
prestado à consumidor, sem a prévia solicitação deste, constitui prática abusiva. E, se prestado, sem o
pedido anterior, tal serviço equipara-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.
Ocorrendo caso que se afigure à amostra grátis, caso o consumidor seja cobrado e efetue pagamentos,
deverá ser restituído, em dobro.
É o que ocorre no caso em tela. Assim, pois, imperiosa é a aplicação do art. 42 do Código
de Defesa do Consumidor, de modo que a quantia paga pela autora ao réu deve ser restituída, em
dobro, acrescida de correção monetária e juros legais, eis que a autora não solicitou o serviço/produto
pelo qual tem pago, em parcelas mensais.
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento jurisprudencial pátrio, “in
verbis”:

CIVIL. CDC. REPETIÇÃO DE INDÉBITO CARACTERIZADA. DANO MORAL


INCOMPROVADO. SENTENÇA REFORMADA. 1. Comprovada a cobrança de quantia
indevida e efetivado o pagamento não devido, incide, sem nenhuma dúvida, a regra da
repetição do indébito do Parágrafo Único do artigo 42 do CDC. (TJDF - 2ª Turma Recursal
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais Ap. no Juizado Especial nº 2001.01.1.089940-8 -
Rel. Juiz Benito Augusto Tiezzi - j. em 25.09.02).

ADEQUADA E CLARA SOBRE SERVIÇO - PROPAGANDA ENGANOSA PRÁTICA


ABUSIVA PREVALECENDO-SE DA FRAQUEZA OU IGNORÂNCIA DO
CONSUMIDOR -VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONFIGURADA -RESTITUIÇÃO DE
QUANTIA PAGA - RECURSO IMPROVIDO. Correta a sentença que
determina a restituição de quantia paga pelo consumidor, quando configuradas violações
simultâneas a princípios do CDC, como a informação inadequada, a propaganda enganosa
e a prática abusiva. Dano moral não configurado. Recurso improvido." (200401109 55315
ACJ, Relator ESDRAS NEVES ALMEIDA, Primeira Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 27/09/2005, DJ 16/11/2005 p. 124).

5.6 Do Dano Moral

Quanto ao dano moral, é pacífico o entendimento de que ocorre quando alguém se sente
lesado em seu patrimônio abstrato, como por exemplo, a dignidade pessoal, a liberdade, a honra, o
crédito, a boa fama e a consideração pública.
Na espécie, não há dúvidas de que o acontecimento narrado nos fatos é uma violação
flagrante aos princípios e normas legais que regem as relações de consumo em nosso país, bem como
não restam dúvidas de que esse acontecimento causou/tem causado desequilíbrio à normalidade
psíquica da autora, acarretando-lhe sofrimento e outras sensações dolorosas que afetam/afetaram os
valores íntimos de sua subjetividade, sendo, portanto, razoável a fixação do devido montante
indenizatório.
A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, incisos V e X, dispõe:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem;
(...) omissis
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
O Código de Defesa do Consumidor, ao listar os direitos básicos do consumidor, também
prevê o dever de reparação de danos morais em seu art. 6º, incisos VI e VII:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...) omissis
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;
(...) omissis
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação
de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção
jurídica, administrativa e técnica aos necessitados.
Como claramente se ver, a legislação pátria assegura que a pessoa que sofrer um dano
moral tem direito à devida reparação. Evidentemente que, aproveitar-se da vulnerabilidade, em todos
os sentidos, de uma pessoa idosa, analfabeta, trabalhadora rural, aposentada, para celebrar contrato de
empréstimo com nítida vantagem para o lado mais forte e poderoso, inclusive podendo resultar em
enriquecimento sem causa, repercute, no mínimo, em humilhação à pessoa contratante, configurando
o dano moral a ser reparado por meio de indenização.
Assim sendo, deve a empresa ré ser condenada a pagar indenização por danos morais a
autora, levando-se em conta a situação econômica do réu e a lesão causada a autora.
Precedente do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão:
PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO SEM
AUTORIZAÇÃO DE APOSENTADO. EMBUSTE. PROVA SUFICIENTE. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. PROVIMENTO PARCIAL. 1. A realização de descontos
indevidos em conta corrente de aposentado, decorrentes de empréstimo consignado sem
sua autorização, acarreta dano de ordem moral. 2. Necessidade de redução do valor
indenizatório, fixado de maneira exacerbada na origem. 3. Apelação parcialmente provida”.
(Processo: Apelação Cível nº 241212009; Acórdão: 0922722010; Relator: LOURIVAL DE
JESUS SEREJO SOUSA; Data 11/06/2010.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO


NÃO PACTUADO. DESCONTO INDEVIDO DAS PARCELAS EFETUADO
DIRETAMENTE NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO PERCEBIDO PELA AUTORA.
DÍVIDA INEXISTENTE. NEGLIGÊNCIA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DEVER DE
INDENIZAR CARACTERIZADO. DANOS MORAIS PRESUMIDOS. PLEITO DE
MINORAÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS. VALOR
ADEQUADO AO GRAU DE CULPA DA APELANTE. PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE OBSERVADOS. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Configura dano moral presumido,
passível de indenização, a atitude negligente da instituição financeira que desconta do
benefício previdenciário percebido pela autora, parcela referente a empréstimo que esta não
contratou. "Comete ilícito, passível de indenização por dano moral, estabelecimento bancário
que desconta do benefício previdenciário do autor, parcela referente a empréstimo
consignado não contratado pelo consumidor. Mantém-se o valor dos danos morais arbitrados,
quando em consonância com a posição econômica e social das partes, à gravidade de sua
culpa e às repercussões da ofensa, desde que respeitada a essência moral do direito." (Ap.
2007.025411-6, de Lages, rel. Monteiro Rocha, Quarta Câmara de Direito Civil, 31/10/2008).
O quantum indenizatório arbitrado deve traduzir-se em montante que, por um lado, sirva de
lenitivo ao dano moral sofrido, sem importar em enriquecimento sem causa do ofendido; e,
por outro lado, represente advertência ao ofensor e à sociedade de que não se aceita a conduta
assumida, ou a lesão dela proveniente. (TJSP - 415765 SC 2009.041576-5, Relator: Carlos
Adilson Silva, Data de Julgamento: 08/10/2010, Quarta Câmara de Direito Civil, Data de
Publicação: Apelação Cível n. 2009.041576-5, de Blumenau).

Nesse ponto, é de todo oportuno trazer à baila o entendimento jurisprudencial, in verbis:


RESPONSABILIDADE CIVIL. REPARAÇÃO PELO DANO MORAL. CABIMENTO.
DANO IN RE IPSA. (...) Em específico, o dano moral traduz lesão sofrida por alguém no
respectivo patrimônio de valores ideais, como a vida privada, a honra, a intimidade, a
imagem pessoal e a integridade física. Está relacionado, pois, a sofrimentos ou sensações
dolorosas que afetam os valores íntimos da subjetividade humana. O dano moral passível de
compensação deve resultar, pois, de um ato ilícito ou abusivo, que deverá estar
correlacionado com o lesionamento de um direito ínsito à personalidade, independentemente
de repercussões patrimoniais. O dano de natureza moral não demanda prova da ocorrência de
seus prejuízos, desde que se prove a prática de ato potencialmente lesivo a direitos não
patrimoniais, entendimento este consolidado no âmbito do egrégio Superior Tribunal de
Justiça, conforme se vê do seguinte aresto: (...) 3. - De acordo com a jurisprudência desta
corte, 'o dano moral não depende de prova; acha-se in re ipsa (RESP 296.634/RN, Rel. Min.
Barros Monteiro, DJ 26.8.2002), pois 'não há falar em prova do dano moral, mas, sim, na
prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam. ' (RESP
86.271/SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes direito, DJU 9.12.97). (...) (AGRG no aresp
510041 / SP, 3ª turma, relator ministro sidnei beneti, publicação dje 01/09/2014). (TRT 3ª R.;
RO 0010276-40.2013.5.03.0030; Relª Juíza Conv. Martha Halfeld Furtado de Mendonça
Schmidt; DJEMG 17/12/2014; Pág. 110)

5.7 Do “Quantum” Indenizatório


Tratando da aferição do “quantum” indenizatório, CLAYTON REIS (in Avaliação do
Dano Moral, 1998, Editora Forense), em suas conclusões, assevera que deve ser levado em conta o
grau de compreensão das pessoas sobre os seus direitos e obrigações, pois
“quanto maior, maior será a sua responsabilidade no cometimento de atos ilícitos e, por
dedução lógica, maior será o grau de apenamento quando ele romper com o equilíbrio
necessário na condução de sua vida social”. Continua, dizendo que “dentro do preceito do ‘in
dubio pro creditori’ consubstanciada na norma do art. 948 do Código Civil Brasileiro, o
importante é que o lesado, a principal parte do processo indenizatório, seja integralmente
satisfeito, de forma que a compensação corresponda ao seu direito maculado pela ação lesiva.
Deflui-se, pois, a conclusão de que diante da disparidade do poder econômico existente
entre o réu e a autora e, tendo em vista o gravame produzido à dignidade/honra desta e, considerando
que sempre agiu honestamente, mister se faz que o “quantum” indenizatório corresponda a uma cifra
cujo montante seja capaz de trazer o devido apenamento à empresa requerida, bem como de persuadi-
la a não mais deixar que ocorram tamanhos desmandos contra as pessoas que, na qualidade de
consumidores, investem sua confiança e seu dinheiro e se relacionam com ela.
Ressalte-se, Excelência, que a importância da indenização vai além do caso concreto,
posto que a sentença tem alcance muito elevado, na medida em que traz consequências ao direito e
para toda a sociedade. Assim sendo, deve haver a correspondente e necessária exacerbação do
“quantum” da indenização tendo em vista a gravidade da ofensa à dignidade/honra da autora.
Portanto, os efeitos sancionadores da sentença só serão produzidos e só alcançarão sua finalidade se
esse “quantum” for suficientemente alto a ponto de apenar o réu e, assim, coibir a ocorrência de casos
semelhantes.
Maria Helena Diniz (in Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º vol., 9ª ed., Editora Saraiva),
ao tratar do dano moral, ressalva que a reparação tem sua dupla função, a penal
Constituindo uma sanção imposta ao ofensor, visando a diminuição de seu patrimônio, pela
indenização paga ao ofendido, visto que o bem jurídico da pessoa (integridade física, moral e
intelectual) não poderá ser violado impunemente”, e a função satisfatória ou compensatória,
pois “como o dano moral constitui um menoscabo a interesses jurídicos extra-patrimoniais,
provocando sentimentos que não têm preço, a reparação pecuniária visa proporcionar ao
prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada.

Oportunamente, impende destacar o entendimento do ínclito Ministro OSCAR CORREA


que, ao falar sobre dano moral, em Acórdão do STF (RTJ 108/287), bem salientou que
Não se trata de pecúnia ‘doloris’, ou ‘pretium doloris’, que se não pode avaliar e pagar; mas
satisfação de ordem moral, que não ressarce prejuízo e danos e abalos e tribulações
irreversíveis, mas representa a consagração e o reconhecimento pelo direito, do valor da
importância desse bem, que é a consideração moral, que se deve proteger tanto quanto, senão
mais do que os bens materiais e interesses que a lei protege.
Portanto, a autora entende ser justo, para recompensar os danos sofridos e servir de
exemplo à empresa ré na prevenção de novas condutas ilícitas, a indenização no importe de R$
5.000,00 (cinco mil reais), deixando ao entender de Vossa Excelência a possibilidade de ser
arbitrado um valor diverso.
Tal entendimento encontra eco no Enunciado nº 06 da Turma Recursal do Tribunal de
Justiça de Sergipe, transcrito:
O desconto indevido em aposentadoria/benefício previdenciário, decorrente de fraude de
terceiro, deve ter seu ônus suportado pela instituição financeira, restando a proteção aos
direitos do idoso/beneficiado assegurada mediante a responsabilização pelos danos materiais
e morais ocorridos.
5.8 Da Tutela Provisória de Urgência

O art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, estabelece que: “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil: “A tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo.”
Com efeito, Excelência, no caso em lide, é notória a necessidade de concessão da tutela
de urgência, em caráter antecipado, tendo em vista o preenchimento dos requisitos.
A narrativa fática — pela qual a autora informa que, em seu nome, mas indevidamente,
fora feito um empréstimo bancário junto à empresa ré, cujo pagamento se dá por meio de descontos
mensais em seus proventos previdenciários —, acompanhada dos documentos anexos, notadamente
do Extrato com o Histórico de Consignações, demonstra a probabilidade do direito da autora
(fumus boni iuris), restando preenchido o primeiro requisito para a concessão da tutela de urgência.
Tendo em vista que a autora não contratou o empréstimo pelo qual vem pagando por
meio dos descontos mensais havidos em seu benefício e, considerando que tais descontos vêm
comprometendo substancialmente sua capacidade de manutenção pessoal e familiar — causando-lhe
lesão concreta, bem como prejudicando a fruição dos seus direitos —, a demora na tutela
jurisdicional, inevitavelmente, acarretará a autora um dano irreparável ou de difícil reparação,
restando demonstrado o perigo de dando ao resultado útil do processo (periculum in mora).
Ora, Excelência, se os descontos decorrentes do “falso empréstimo” junto à empresa ré,
continuarem sendo efetuados, a autora terá sua renda mensal substancialmente diminuída, passando
por situação financeira difícil, sendo necessária a vedação antecipada dos contínuos descontos.
Ademais, se a providência cautelar não for de já assegurada, o futuro provimento tutelado no
processo poderá restar ineficaz. Sendo assim, preenchido está o segundo requisito.
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento dos renomados
professores, Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, que prelecionam:
Demonstrados o fumus boni iuris e o periculum in mora, ao juiz não é dado optar pela
concessão ou não da cautela, pois tem o dever de concedê-la. É certo que existe certa dose de
subjetividade na aferição da existência dos requisitos objetivos para a concessão da cautelar.
Mas não menos certo é que não se pode falar em poder discricionário do juiz nesses casos,
pois não lhe são dados pela lei mais de um caminho igualmente legítimo, mas apenas um.
(Código de Processo Civil Comentado, 3ª ed. - São Paulo: RT, 1997, pág. 918).

6. DO PEDIDO

Ex positis, requer o(a) autor(a) que Vossa Excelência se digne em:

a) conceder os benefícios da gratuidade judiciária, nos termos da Lei nº 1.060/50;

b) deferir a prioridade na tramitação processual, nos termos do art. 71 e seus parágrafos,


da Lei nº 10.741/2013 (Estatuto do Idoso) e do art. 1.048, inciso I, do Código de Processo Civil.
c) conceder, nos termos do art. 6º, inc. VIII, do CDC, a inversão do ônus da prova em
favor do(a) autor(a), ficando ao encargo da demandada a produção de todas as provas que se fizerem
necessárias ao andamento do feito;

d) designar audiência de conciliação, citando a empresa ré, através dos correios,


(art. 247 do Código de Processo Civil) para o seu comparecimento e, não havendo acordo, querendo,
apresente sua defesa, sob pena de incorrer contra si os efeitos da revelia;

e) conceder a Tutela de Urgência Antecipatória, sem a oitiva prévia da parte contraria


(art. 300, § 2º, do Código de Processo Civil), independente de caução (art. 300, § 1º, do Código de
Processo Civil), com a imposição de multa diária pelo descumprimento da obrigação, para que seja
determinada a abstenção do desconto mensal de R$ 30,60(trinta reais e sessenta centavos) feito
pela empresa ré, no benefício previdenciário do(a) autor(a), junto ao INSS, até que seja resolvida a
lide a respeito da inexistência do contrato em questão;

f) ao final, julgar TOTALMENTE PROCEDENTE a presente demanda,


DECLARANDO-SE A INEXISTÊNCIA DO DÉBITO do(a) autor(a) para com a empresa ré, eis que
fundado em contrato de empréstimo consignado inquinado de fraude proposta por terceiros,
CONDENADO-SE a empresa ré ao pagamento de verba indenizatória por danos morais em favor da
autora, em atenção às condições das partes, notadamente o potencial econômico-social da lesante, a
gravidade da lesão, sua repercussão, as circunstâncias fáticas e a responsabilidade objetiva do réu,
estipulada no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), bem como por danos materiais a serem
apurados no momento oportuno, mormente a repetição do indébito (repetitio indebiti) em dobro,
com a incidência dos juros e correções monetárias, na forma da lei em vigor;

g) condenar a empresa ré a pagar os ônus pertinentes à sucumbência, nomeadamente


honorários advocatícios, esses de já pleiteados no patamar máximo de 20%(vinte por cento) sobre o
proveito econômico obtido pela autora ou, não sendo possível mensurá-los, sobre o valor atualizado
da causa, nos termos do art. art. 85, § 2º, do Código de Processo Civil.

7. DOS MEIOS DE PROVA

A autora protesta provar o alegado por toda espécie de prova admitida (art. 5º, inciso LV,
da Constituição Federal), nomeadamente pelo depoimento do representante legal do réu, sob pena de
confesso, oitiva de testemunhas a serem arroladas opportuno tempore, juntada posterior de
documentos como contraprova, e exibição de documentos; tudo, desde logo, requerido.

8. DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa, nesse momento, o valor de R$ 6. 132,20(seis mil cento e trinta e dois
reais e vinte centavos), nos termos do art. 292, inciso VI, do Código de Processo Civil.

Nestes Termos,
Pede e aguarda deferimento.

LOCAL/UF, 25 de abril de 2017.


ADVOGADO
OAB/UF nº 0000

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