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MULTIVIX CARIACICA
NULIDADES
1.CONCEITO
Há grande divergência a respeito do conceito de nulidade na doutrina e
jurisprudência.
Jose Frederico Marques: nulidade como sanção que atinge o ato processual que não
está de acordo com as condições de validade impostas pelo direito objetivo.
2. SISTEMAS
Usados para o reconhecimento de um ato viciado.
a) Sistema formalista: predomina o meio sobre o fim. Se o ato não for praticado
da forma determinada em lei, estará viciado. Não importa se atingiu seu
objetivo.
b) Sistema legalista: nulos são os atos que assim a lei considerar expressamente.
c) Sistema instrumental: o fim do ato deve prevalecer sobre a forma como é
praticado. Adotado no Brasil (arts. 563 e 566, CPP). Ainda que desobedeça à
forma legal, o ato poderá ser validado se alcançar seu objetivo.
Não se decreta nulidade relativa e não se declara a nulidade absoluta sem que haja
resultado prejuízo para qualquer das partes.
Nulidades relativas: o prejuízo deve ser provado pela parte que as invocar (deve
ser concreto ou provável).
OBS:
Não procede: seja nulidade relativa ou absoluta, a existência de prejuízo deve ser
um dos fundamentos da decisão que reconhecer a mácula.
A diferença é que na nulidade absoluta o prejuízo se presume, nas relativas, deve ser
provado.
EXEMPLO: réu com endereço certo nos autos, foi citado por edital. Haverá nulidade
absoluta, pois o vício afeta a garantia de ampla defesa. Porém, se o acusado, mesmo
com o erro, constituir defensor e apresentar a resposta à acusação (396 e 396-A,
CPP), a nulidade não será reconhecida.
O ato citatório é nulo, mas não será declarada a nulidade dada a falta de prejuízo.
Ninguém pode arguir nulidade a que deu causa ou para a qual concorreu.
O caput do art. 572 deve ser interpretado com cautela, pois faz referência a apenas
algumas nulidades.
Hoje nem todas estas nulidades são consideradas relativas pela jurisprudência e há
outras que são relativas e não estão no artigo.
Exemplo: a violação de formalidade essencial do ato (art. 564, IV) é tratada como
nulidade sanável, mas é considerada absoluta quando garantias ou preceitos
constitucionais.
EXEMPLO 2: provas obtidas a partir de outras cuja ilicitude seja reconhecida (teoria
dos frutos da árvore venenosa – art.157, §1º, CPP).
QUESTÃO CONTROVERTIDA (até entre turmas do STJ): consequências da nulidade
do interrogatório do réu frente aos demais termos processuais.
Decisões:
-em sentido oposto: tal nulidade, de natureza absoluta, contamina todos os atos
decisórios a partir de então.
Doutrina clássica:
a) nulidade absoluta;
b) nulidade relativa;
a) inexistência
b) nulidade absoluta
c) nulidade relativa
d) anulabilidade
e) irregularidade
a) Inexistência:
É o maior e mais grave de todos os vícios que podem macular um ato, atingindo-lhe
elementos essenciais.
Ato inexistente: não se fala em “nulidade”, pois não pode ser nulo algo que não existe.
Desnecessário pronunciamento judicial declaratório da inexistência.
Como regra, não produz efeitos, mas se produziu deve ser declarado nulo.
Como identificar?
De modo geral, entende-se como inexistente aqueles atos que não possuem a
subscrição da autoridade que os edita e os praticados por quem não detenha ou
esteja privado, mesmo que temporariamente, de capacidade objetiva para praticá-
los.
Exemplos:
-Nova sentença prolatada pelo juiz, nulificando, por sua iniciativa, sentença anterior
de mérito proferida no mesmo processo ( STJ).
-Sentença proferida por juiz impedindo em razão dos motivos do art. 252 do CPP.
STF e STJ: não há lei que proíba que o juiz trabalhe durante as férias, não havendo
impedimento, mesmo que houver substituto.
b) Nulidade Absoluta:
É o vício que atinge normas de ordem pública, ou seja, aquelas de tutelam garantias
ou matérias tratadas direta ou indiretamente pela CF. Violação de normas
constitucionais.
O ato existe, porém, reconhecido o vício, não poderá ser avaliado e eficaz.
Gera prejuízo presumido às partes. Presunção júris tantum (não jure et jure): admite
prova em contrário.
A parte que alega não precisa provar o prejuízo sofrido, mas a parte contrária pode
mostrar a inexistência do prejuízo. Se demonstrar, a mácula não será declarada
(princípio do prejuízo).
Exemplos:
Falta de defesa: nulidade absoluta (ex: : falta de citação do réu, que não compareceu
em juiz).
c) Nulidade relativa:
Aquelas que atingem normas que não tutelam o interesse público, mas o interesse
privado da parte. Violação de normas infraconstitucionais, afetando elementos de
índole processual.
Regra: arguir no primeiro momento em que a parte tiver oportunidade de falar nos
autos.
Não pode ser decretada de ofício e exige arguição das partes (art. 572, I).
É possível que a parte aceite tacitamente os efeitos do ato viciado (art. 572, III);
EXEMPLO: juiz concede a parte prazo inferior ao legal para memoriais substitutivos;
a parte apresenta os memoriais no prazo fixado.
Exemplos:
5. NULIDADE EM IP
Como o IP é mero procedimento administrativo, não apresenta cenário para a
proclamação de nulidade de ato produzido em seu desenvolvimento.
Se algum elemento de prova for produzido em desacordo com a lei, cabe ao juiz,
durante a instrução – e antes, se for preciso – determinar que seja refeito.
Súmula 33 do STJ supera tal atendimento: incompetência relativa não pode ser
declarada de ofício pelo juiz.
➔ Forma de arguição:
➔ Consequências:
Motivos que ensejam a suspeição: art. 254, CPP. Devem ser reconhecidos de
ofício pelo juiz.
Se o juiz não o fizer, pode ser recusado por qualquer das partes mediante exceção
de suspeição. Juiz acolhe ou não e aí encaminha os autos ao Tribunal.
Suspeição: subtrai a capacidade subjetiva do juiz (parcialidade): nulidade
absoluta.
Exemplos:
Denúncia oferecida pelo MP contra indivíduo que, na época do fato, tinha menos
de 18 anos (ilegitimidade ad causam passiva).
Exemplos:
Procuração outorgada ao advogado pelo querelante, sem os requisitos do art. 44
do CPP. Sem p instrumento de mandato assim confeccionado, não está apto o
advogado a manifestar-se em nome do ofendido na APP.
Pessoa menor de 18 anos constitui defensor e ingressa com queixa sem estar
devidamente representada por quem de direito. Ausente, nesta hipótese, a
capacidade para agir em nome próprio.
A nulidade refere-se à falta das peças processuais elencadas na alínea “a” e não à
hipótese de não preenchimento de formalidades essenciais (aí será art. 564, IV,
CPP).
Nucci afirma que trata-se de nulidade em razão da ausência de fórmulas legais para
essas peças processuais (art. 41, CPP).
Para Nucci: a natureza pode ser absoluta (quando a peça é insuficiente para garantir
a defesa do réu) ou relativa (quando proporciona a defesa, mas precisa de ajustes).
6.6 FALTA DE EXAME DE CORPO DE DELITO (ART. 564, III, “B” DO CPP).
Esse meio de prova não pode ser suprido pela confissão (isolada) do acusado, sendo
necessárias outras provas.
Número de peritos que devem subscrever o laudo (art. 159, CPP: basta um perito
oficial). Não havendo peritos oficiais, o laudo poderá ser feito por pelo menos dois
experts (art. 159 caput e § 1º).
Art. 50 da lei 11. 343/06: crime relacionado ao porte ilegal de drogas; basta o laudo
provisório para oferecimento de denúncia, que poderá ser subscrito por apenas um
perito, oficial ou leigo.
Revel citado por edital que não comparece ao interrogatório nem constitui
advogado: como há a suspensão do processo como regra (art. 366, CPP), dispensa-
se a nomeação imediata de defensor, salvo no caso de provas a serem antecipadas
pela urgência.
Ausência de alegações finais pelo defensor constituído, no caso de lhe ser concedida
oportunidade: nulidade relativa (STF); (Paccelli discorda: deveria ser absoluta)
Min. Marco Aurélio: defensor não pedir a absolvição nas alegações: causa de
nulidade absoluta por ausência de defesa.
Questões:
O réu não poderá ser processado sem defensor (ampla defesa e contraditório e
indispensabilidade do advogado, art. 133, CF).
Pode acontecer do defensor não comparecer a atos do processo para os quais tenha
sido intimado (exemplo: audiência de instrução)
6.8 FALTA DE NOTIFICAÇÃO DO MP PARA INTERVIR (ART. 564, III, “D”, C/C
ART. 572 DO CPP)
-Falta de intervenção do MP em todos os termos da ação por ele intentada (...): o que
na maioria dos casos era nulidade é a ausência de intimação para intervir na ação
pública e não propriamente a falta de intervenção do Parquet.
Feitos por ele intentados: a nulidade é absoluta (apesar do CPP dizer que é relativa)
(Tourinho Filho, Mirabete, Nucci, dizem ser absoluta).
-Falta de intervenção do MP nos termos da ação penal intentada pela parte ofendida,
quando se tratar de crime de ação pública: situações de ação penal privada
subsidiária da pública.
A nulidade é relativa.
OBS: a falta ou nulidade de citação ou intimação pode ser sanada, desde que o
interessado compareça em juízo com o fim de argui-la antes de o ato consumar-se
(art. 570, CPP)
Exemplo 1: o réu deixa de ser devidamente citado. Porém, camparece ao fórum para
dizer ao juiz que não teve tempo de constituir advogado para sua defesa, pois ficou
sabendo da ação penal através de terceiros. Supre-se a falta de citação, dá-se o réu
oir ciente, e o juiz concede 10 dias para o réu apresentar defesa escrita.
Exemplo 2: a parte não foi intimada da sentença condenatória, mas ainda dentro do
prazo recursal, apresenta o apelo; a falha está sanada. Se o prazo já tiver decorrido,
o juiz deve reabri-lo, anulando o que foi praticado depois disso.
Não sendo possível a citação pessoal do réu em face de sua não-localização: citação
por edital em prazo de até 15 dias (arts. 361 e 363, § 1º, CPP).
Se o réu se oculta para não ser citado, oficial de justiça deve notificar esse fato a
proceder à citação com hora certa (arts. 227 a 229 do CPC e art. 362 do CPP).
6.10 NULIDADES NO PROCEDIMENTO DO JÚRI (ART. 564, III “F” A “L”, DO CPP)
Essa causa de nulidade perdeu a razão de ser após a lei 11.689/08, pois os
julgamentos em plenário passam a admitir a ausência do acusado, conforme art. 457,
CPP (antes o acusado não poderia ser julgado, à revelia em crime doloso contra a
vida inafiançável).
Se o acusado estiver preso e não for conduzido, ver art. 457, §2º, CPP.
Távora e Nucci: nulidade absoluta, que pode ser sanada se o réu comparecer, ainda
que não intimado.
Não havendo a intimação solicitada pelas partes, o julgamento pelo júri está
prejudicado.
Art. 461, CPP: o julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer,
salvo se uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado, na hipótese
do art. 422, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua localização.
A ausência de intimação da testemunha impede a realização do julgamento, sob
pena de nulidade absoluta.
R: Aplica-se o art. 461, § 1º, CPP, juiz suspende os trabalhos e manda conduzi-la ou
adia o julgamento.
QUESTÃO: e se esta mesma testemunha não tiver sido encontrada pelo oficial de
justiça no local indicado pela parte que a arrolou?
Ausente esta condição, deve-se o juiz adiar o júri, so pena de nulidade absoluta (art.
463, CPP).
Para Norberto Avena, nulidade relativa (há julgados do STJ neste sentido.)
→ Nulidade na formulação dos quesitos aos jurados (art. 564, III, “k” e
parágrafo único)
Se o juiz elabora quesitos de difícil compreensão ou que não conté, a tese exata
esposada pela paret interessada, poderá gerar respostas absurdas dos jurados. Há
nulidade absoluta neste caso (Nucci e Távora).
Todavia, o próprio STF e o STJ vem considerando que trata-se de nulidade relativa.
6.11 NULIDADE PELA FALTA DA SENTENÇA (ART. 564, III, “M”, CPP)
Trata-se da falta da sentença enquanto fórmula processual, algo quase impossível. É
nulidade absoluta.
Para alguns doutrinadores (Avena), se faltar requisito essencial, aplica-se o art. 564,
IV.
Para Nucci e Távora, a falta de fórmulas legais é causa de nulidade absoluta (arts.
381 e 387, CPP).
6.12 NULIDADE PELA AUSÊNCIA DO RECURSO DE OFÍCIO (ART. 564, III, “N”,
CPP)
A questão, julgada em primeiro grau, deve ser revista por órgão de segundo grau. É
condição de eficácia da decisão judicial.
Exemplos:
Alguns autores (minoria) sustentam que o reexame necessário não foi recepcionado
pela CF. A maioria entende que foi recepcionado, inclusive o STF (súmula 423).
Exemplos:
É cabível habeas corpus nesse caso? A 2ª Turma do STF entendeu que sim. O
habeas corpus é instrumento legítimo para aferir procedimentos de feição penal ou
processual penal, inclusive para o reconhecimento de eventual ilicitude de provas
obtidas em inquérito policial.
• Exceção: não haverá nulidade se o próprio defensor dativo pediu para ser intimado
dos atos processuais pelo diário oficial.
Resumindo:
• Em regra, é obrigatória a intimação pessoal do defensor dativo, inclusive a respeito
do dia em que será julgado o recurso. Se for feita a sua intimação apenas pela
imprensa oficial, isso é causa de nulidade.
• Exceção: não haverá nulidade se o próprio defensor dativo pediu para ser intimado
dos atos processuais pelo diário oficial.