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Nulidades Absolutas e Relativas

1.0 CONCEITO DE NULIDADE


É a sanção aplicável ao processo, ou ao ato processual, realizado com
inobservância da forma devida, ou em forma proibida pela lei processual. É
um defeito.
2.0 NATUREZA JURÍDICA
Para uns é vício ou defeito, ou seja, uma falha, uma imperfeição que pode
tornar ineficaz o processo, no todo ou em parte. Para outros a nulidade é uma
sanção, importando em que o ato irregular declarado nulo se considera em si e
para todos os efeitos como não realizado.
Há, porém, na nulidade, os dois aspectos: um para indicar o motivo que torna
o ato imperfeito, outro para exprimir a conseqüência que deriva da imperfeição
jurídica do ato ou sua inviabilidade jurídica. A nulidade, portanto, é sob um
aspecto, vício e, sob outro, sanção.
Os motivos para a existência das nulidades advêm da necessidade de que a
marcha processual transcorra em consonância com as formalidades exigidas
para os atos processuais, já que elas exprimem garantias às partes de um
processo apto e regular para alcançar seu desiderato supremo que é trazer a
lume a verdade substancial.

3.0 NULIDADE RELATIVA E ABSOLUTA


3.1 Nulidade relativa
Viola exigência estabelecida pelo ordenamento legal (infraconstitucional),
estabelecida no interesse predominante das partes. A formalidade é essencial
ao ato, pois visa resguardar interesse de um dos integrantes da relação
processual, não tendo um fim em si mesma. Por esta razão, seu
desatendimento é capaz de gerar prejuízo, dependendo do caso concreto. O
interesse, no entanto, é muito mais da parte do que de ordem pública, e, por
isso, a invalidação do ato fica condicionada à demonstração do efetivo prejuízo
e à argüição do vício no momento processual oportuno.

São estas, portanto, suas características básicas:


 formalidade estabelecida em ordenamento infraconstitucional;
 finalidade de resguardar um direito da parte;
 interesse predominante das partes;
 possibilidade de ocorrência das partes;
 necessidade de provar a ocorrência do efetivo prejuízo, já que este pode ou
não ocorrer;
 necessidade de argüição oportuno tempore, sob pena de preclusão;
 necessidade de pronunciamento judicial para o reconhecimento desta
 espécie de eiva.
As hipóteses de nulidades relativas são as seguintes:
1) em regra, verificam-se nas “nulidades não-cominadas” violadoras de norma
protetiva de interesse da parte (ou seja, a lei estabelece a forma no interesse
da parte, mas não prescreve a nulidade para sua inobservância).
Por exemplo: não notificação da expedição da carta precatória instrutória,
para oitiva de testemunhas em outra comarca (nulidade não-cominada,
violadora de norma protetiva de interesse da parte).

Obs: Quanto a este exemplo, o Superior Tribunal de Justiça, conforme sua


Súmula 273, entende que, “Intimada a defesa da expedição da carta precatória,
torna- se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado”.

2) nos casos de “nulidades cominadas” com previsão de sanação. Em geral,


estão sujeitas às impeditivas e sanatórias. Por exemplo: hipóteses do
art. 572 do CPP (nulidades cominadas com previsão de sanação).

3.2 Nulidade absoluta


Nesse caso, a formalidade violada não está estabelecida simplesmente em lei,
havendo ofensa direta ao Texto Constitucional , mais precisamente aos
princípios constitucionais do devido processo legal (ampla defesa,
contraditório, publicidade, motivação das decisões judiciais, juiz natural etc).

As exigências são estabelecidas muito mais no interesse da ordem pública do


que epropriamente no das partes, e, por esta razão, o prejuízo é presumido e
sempre ocorr.

A nulidade absoluta também prescinde de alegação por parte dos litigantes


e jamais preclui, podendo ser reconhecida ex officio pelo juiz, em qualquer fase
do processo. São nulidades insanáveis, que jamais precluem. A única exceção é
a Súmula 160 do STF, que proíbe o Tribunal de reconhecer ex officio
nulidades, absolutas ou relativas, em prejuízo do réu.

Para ser reconhecida, a nulidade absoluta exige um pronunciamento judicial,


sem o qual o ato produzirá seus efeitos.

Suas características: nulidade absoluta


 Deve ser reconhecida de ofício pelo juiz – vício atinge um interesse
público.
 há ofensa direta a princípio constitucional do processo;
 a regra violada visa garantir interesse de ordem pública, e não mero
interesse das partes;
 o prejuízo é presumido e não precisa ser demonstrado;
 não ocorre preclusão; o vício jamais se convalida, sendo desnecessário
argüir a nulidade no primeiro momento processual; o juiz poderá
reconhecê-la ex officio a qualquer momento do processo;
 depende de pronunciamento judicial para ser reconhecida. (trecho
retirado da obra de Fernando Capez, p. 605)
As hipóteses de nulidade absoluta são as seguintes:

1) em regra, verificam-se nas ‘nulidades cominadas’ (ou seja, a própria lei


prescreve a nulidade) sem previsão de sanação. Por exemplo: hipóteses
do art. 564 do CPP não mencionadas no art. 572 do CPP (nulidades
cominadas sem previsão de sanação);

2) também podem ocorrer por violação de modelo legal, mesmo sem


previsão de nulidade, quando a norma que institui o modelo o fez para
proteção de interesse de ordem pública. Por exemplo:
impedimento do juiz (nulidade não-cominada, mas violadora de interesse
de ordem pública);

3) também ocorrem quando há violação de normas constitucionais,


mesmo sem previsão de nulidade, como é o caso de violação de princípios
e regras constitucionais.

Por exemplo: violação do princípio constitucional do contraditório e violação


do princípio da fundamentação das decisões judiciais (nulidade não-
cominada, mas violadora de norma constitucional).
(trecho retirado da obra de Denilson Feitoza Pacheco, p. 1193)

4.0 MOMENTO PARA ARGUIÇÃO DA NULIDADE


Em se tratando de nulidade absoluta, poderá ela ser arguida a qualquer
momento. Em se tratando de nulidade de atos não essenciais, sua preterição
deve ser arguida na oportunidade do art. 571 do CPP.
Se arguida a nulidade, porém esta não causou prejuízo às partes, o ato não será
anulado.

Não deve ser acolhida nulidade contra o réu, que não tenha sido arguida pela
acusação, conforme estabeleceu a Súmula 160 do STF, “É nula a decisão do
Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.”.

Esta Súmula tem o propósito de evitar nulidades em prejuízo do réu, bem


como que Tribunais reconheçam nulidades em pequenas irregularidades ou em
vícios de atos que não sejam essenciais.

Observa CAPEZ (2006, p. 692) que, “Há um único caso em que o tribunal,
excepcionando o disposto na Súmula 160, deverá reconhecer a nulidade
absoluta de ofício, haja ou não prejuízo à defesa: quando se tratar de
incompetência absoluta. Nesse caso, o vício é tão grave que não há como deixar
de reconhecê-lo, mesmo que prejudique o acusado e que a acusação nada tenha
falado em seu recurso..”.
Não arguida nulidade em recurso do réu, poderá o Tribunal conhecê-la, bem
como se o recurso for necessário.

Em princípio, cabe à parte prejudicada alegar a nulidade. É o princípio do


interesse adotado pelo art. 565, em sua parte final. Mas pode, sempre, ser
reconhecida, de ofício, pelo juiz, em homenagem ao princípio do prejuízo, da
instrumentalidade e da conservação.

Nenhuma das partes poderá argüir a nulidade referente à formalidade cuja


observância só à parte contrária interesse (art. 565, 2a parte). E, também,
quando tiver dado causa à nulidade ou concorrido para que acontecesse (art.
565, 1a parte).

4.1 Poderá o Juiz, sem provocação, conhecer da nulidade?


Sim, pois deverá ele prover a regularidade do processo, proclamando qualquer
irregularidade que venha a encontrar, porém, deve ele observar se tal
irregularidade causou prejuízo às partes (art. 563 do CPP), bem como, se esta
irregularidade influiu na decisão da causa (art. 566 do CPP).

4.2 Quem pode arguir a nulidade?


A nulidade pode ser arguida por qualquer das partes, bem como pelo assistente
de acusação, porém, deve observar não ser ela a parte que deu causa à
nulidade, ou que ela não tenha concorrido para a imperfeição do ato, e que esta
tenha interesse se seja observada a formalidade preterida, ou seja, deve-se
observar o princípio do interesse, conforme dispõe o art. 565 do CPP,
“Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para
que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só a parte
contrária interesse.”.

5.0 PRINCÍPIOS
Princípio do prejuízo (art. 563). Não existe nulidade, desde que da preteric ̧ão
legal não haja resultado prejuízo para uma das partes.

5.1 Princípio geral das nulidades

5.1.1 Princípio “pas de nullité sans grief”: É o princípio pelo qual não se
declara nulidade desde que da preterição da forma legal não haja resultado
prejuízo para uma das partes. É o mesmo princípio do prejuízo, que é princípio
geral das nulidades. Não se pode olvidar quando se trate de atos estruturais ou
essenciais, eventual prejuízo ocasionado a uma das partes é irrelevante para
determinar a nulidade ou não (p. Ex: art. 564, I e II). A sua ocorrência é causa
inarredável de nulidade.
Pas de nullité sans grief (francês-inglês): No nullity without complaint.
Pas de nullité sans grief: (francês-português): literalmente, fica sem/não
nulidade sem reclamação/queixa.
O prejuízo deve ser provado nas nulidades relativas, mas é presumido nas
absolutas.* Não se declara nulidade, ainda que absoluta, diante da proibic ̧ão da
revisão pro societate, quando o réu foi absolvido por sentença transitada em
julgado. Se a decisão for condenatória, é permitida a declaração de nulidade,
mesmo que transitada em julgado (626, in fine).

5.2 Outros princípios


5.2.1 Princípio da tipicidade das formas: Prevendo o Código quais os
atos que devem ser praticados e como devem ser praticados, impõe-se o
respeito a esse modelo. A afronta constitui nulidade (564, IV). Ademais,
importante atentar para as palavras de Vicente Greco Filho, na medida em que
a previsão de uma sanção (nulidade) pela inobservância à forma típica do ato
processual consiste “... Num mecanismo para compelir os sujeitos do processo
ao cumprimento do modelo típico legal, ou seja, ou se cumpre o modelo legal
ou o ato será ou poderá ser declarado inválido”.
5.2.2 Princípio da instrumentalidade: Se o processo ou o ato, mesmo
contendo defeito acidental, atingir seus fins, sem prejuízo para as partes, a
nulidade não será aplicada (566 e 572, II).

5.2.3 Princípio da permanência da eficácia dos atos processuais: O


ato processual, desde que existente, produz os efeitos que a lei prevê para
aquele tipo de ato, e os produzirá até que haja outro ato que o declare inválido
(573 e §§).

5.2.4 Princípio da restrição processual à decretação da


invalidade: A invalidade dos atos processuais somente pode ser decretada se
o sistema processual previr instrumento para decretá-la, e somente poderá ser
decretada no momento em que a lei admitir.

5.2.5 Princípio da alegação adequada: Não sendo a nulidade absoluta, ela


depende da vontade e da atuação das partes; nesta hipótese, deve ser alegada
em determinados momentos processuais, sob pena de preclusão.

5.2.6 Princípio da convalidação: Detectado um ato processual anulável


(violação de norma dispositiva de interesse da parte), permeia-se a
possibilidade de saneamento. Vislumbra-se em casos como a preclusão,
quando o ato atinge a finalidade normativa (sem prejuízo na apuração da
verdade real), além da aceitação tácita dos efeitos do ato anulável (art. 572, I,
II, e III).

5.2.7 Princípio da conservação: Quando a nulidade é aplicada, ela só deve


alcançar o ato inválido e os que dele decorreram ou dependem como efeito,
permanecendo os restantes íntegros (573, § 1o).

5.2.8 Princípio da formação da certeza: Este princípio, ligado ao da


instrumentalidade, estabelece que não se declara a nulidade de ato processual
que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da
causa (566). Também pode ser conhecido como princípio da irrelevância do
ato.

5.2.9 Princípio do interesse: Só a parte prejudicada é que pode argüir


nulidade. Não se declara nulidade se a parte prejudicada não a argüir (565),
tampouco dê causa ou concorra para a ocorrência da nulidade. Lembrar que tal
princípio só vale para as nulidades relativas, pois as absolutas o juiz pode
declarar de ofício.

6.0 SISTEMAS DE NULIDADES


a) Formalista: Rígido à tipicidade. Toda violação a prescrição legal acarreta a
inviabilidade dos atos processuais; b) Instrumentalista: Sem a rigidez do
anterior, dá valor à finalidade do ato. Adota o sistema da instrumentalidade
das formas. O CPP adota os dois sistemas em conjunto

7.0 INEXISTÊNCIA, NULIDADE E IRREGULARIDADE DO ATO

7.1 Ato inexistente


É o ato que não tem vida. É um não ato (Carnelutti). O ato inexistente não é
ato típico nem atípico. Não se cogita de nulidade de ato inexistente – prescinde
de decretação judicial – não produz efeitos jurídicos. Parte da doutrina chama
de “atos absolutamente nulos”.

Quando a atipicidade do ato for tal que o desnature, de molde a torná-lo


impotente para produzir consequências jurídicas, sem necessidade de
provimento judicial para que se torne ineficaz, estamos em face de um ato
inexistente (p. Ex: sentença sem assinatura do juiz competente).

A inexistência pode ser material ou jurídica.

Inexistência material: Se o ato não foi realizado, ele não existe. Ex: a
citação de um homônimo. (crime que deixa vestígio, sem exame de corpo de
delito direto ou indireto – haverá nulidade –564, III, b – anula-se o
procedimento ou o processo, e não o exame de corpo de delito que não existiu).

Inexistência jurídica: Se o ato foi realizado, mas desprovido de elementos


essenciais de sua constituição, de molde a não ter nenhum valor para o direito,
ele existe materialmente, mas não tem existência jurídica – se confunde com
omissão de formalidade essencial. Ex: extinção da punibilidade pela morte de
agente vivo, que passou por morto; sentença proferida por um músico, etc.

7.2 Ato irregular


É ato igualmente não previsto na lei processual, mas eficaz porque irrelevante
a atipicidade. Basicamente, é aquele ato cuja imperfeição que não gera prejuízo
quando o seu objetivo é atingido e, por isso, não se reconhece a nulidade
(sanção de ineficácia). Ex: realização de alegações finais por memoriais ao
invés de debates orais, no processo sumário (538, § 2o). Carnelutti – ato
irregular é aquele “afetado por um vício que não exclui sua eficácia”.

7.3 Ato nulo


É o ato que produz efeitos enquanto não sofrer a sanção da ineficácia. Não
admite sanatória.
A qualidade de defeito determina o tipo de invalidade, no sentido de que define
um regime próprio de decretação. E essa qualidade depende do tipo de
exigência legal que foi descumprida.

Se a exigência é imposta pela lei em função do interesse público, a situação é


de nulidade absoluta. Se a exigência descumprida é imposta pela lei no
interesse da parte, há nulidade relativa. No caso de nulidade absoluta não é
possível convalidar o ato. Já a nulidade relativa admite convalescimento.

8.0 DISTINÇÃO
8.1 Nulidade absoluta: a norma violada tutela interesse público

8.2 Nulidade relativa: a norma violada tutela interesse da parte, de forma


cogente. Deve ser decretada de ofício, pois o Juiz deve velar pelo cumprimento
das normas de garantias das partes – expedição de precatória sem intimação
da defesa. Se o momento ordinário de verificação da regularidade processual e
da decretação está ultrapassado, a nulidade só será decretada se houver
prejuízo – a defesa deverá demonstrar que a realização do ato, sem a
formalidade, trouxe prejuízo (se o testemunho nada trouxe de novo ou se
sequer foi colhido).

8.3 Anulabilidade: a norma violada tutela interesse da parte, de forma


dispositiva (não tem cominação expressa de nulidade ou não concerne às
garantias essenciais das partes no contraditório – haverá preclusão). Ex. Arts.
499 e 500 – não há cominação de nulidade pela falta de intimação, já que o
prazo corre independentemente dela – porém, havendo prejuízo (não há
indicação do início do prazo para a defesa, já que o MP pode devolver os autos
fora do prazo).
Magalhães Noronha apresenta a seguinte distinção:

A) ato relativamente nulo – a validade está subordinada à condição suspensiva


– nasce ineficaz, porém, pode adquirir validade, convalescido que seja por
qualquer fato ou circunstância

B) ato anulável – a validade está subordinada à condição resolutiva – nasce


válido, mas pode perder a eficácia se for anulado. (Eduardo Couture e Galeno
Lacerda, citados por José Frederico Marques)
9.0 EFEITOS
Havendo nulidade absoluta ou nulidade relativa não sanada, deve o juiz fazer
com que o ato seja novamente praticado ou corrigido (art. 573).

Por outro lado, conforme soa o § 1o do art. 573, “a nulidade de um ato, uma vez
declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam
conseqüência” (p. Ex: nula a citação, os seus efeitos alcançam o interrogatório
e demais atos subseqüentes).

10.0 NULIDADES EM ESPÉCIE

I- POR INCOMPETÊNCIA, SUSPEIÇÃO OU SUBORNO DO JUIZ


Nulidade por incompetência do juiz (564, I): A incompetência do juízo anula
somente os atos decisórios (567, 1a parte). Apesar da disposição legal, em se
tratando de incompetência absoluta (ratione materiae e ratione personae), a
nulidade pode ser alegada a qualquer momento e anula o processo desde o
início. Assim, o princípio do aproveitamento dos atos processuais só diz
respeito às nulidades relativas, as quais devem ser alegadas oportunamente.
Registre-se que o recebimento da denúncia, mesmo em casos de incompetência
absoluta, pode ser ratificado pelo juízo competente.

Nulidade por suspeição do juiz (564, I): A suspeição do juiz torna


absolutamente nulos os atos por ele praticados, não incidindo os arts. 566 e
567. Tendo o juiz interesse na causa (impedimento) ou sendo vinculado às
partes (suspeição), são nulos os atos por ele praticados no processo. As causas
de suspeição estão contidas no art. 254 do CPP.

Nulidade por suborno do juiz (564, I): O suborno diz respeito à infidelidade do
juiz no processo, constituindo, conforme o caso, crime de concussão (316, CP),
corrupção passiva (317, CP), ou prevaricação (319, CP).

O primeiro caso de nulidade absoluta, exposto no art. 564, I do Código


de Processo Penal, é da possibilidade de o juiz que preside o processo penal ser
incompetente, suspeito ou haver sido subornado.

A incompetência tem caráter objetivo e consiste na inaptidão do juiz por


força da matéria, da função ou de hierarquia para julgar a ação penal, posto
que, são atribuídas as jurisdições pela Constituição da Republica Federativa do
Brasil e leis. Sendo ignorado esse sistema, caberá ao juiz declarar-se
incompetente de ofício ou ao Tribunal reconhecê-la.

A incompetência pode ainda se tratar de conexão direta entre o magistrado e


alguma parte do processo, ou da mesma forma, das outras hipóteses
estabelecidas no art. 252 do Código de Processo Penal.
O impedimento faz com que o magistrado tenha sua imparcialidade
prejudicada, caracterizando-se uma nulidade, pois se presume a influência no
convencimento e decisão do mesmo, resultando-se a sentença parcial.

"Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha


reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;

II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido


como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou
de direito, sobre a questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado
no feito."

Dessa forma, os atos praticados pelo juiz que tem parentesco sanguíneo com
uma das partes em linha reta até o terceiro grau ou que tenha atuado como
membro do Ministério Público, serão absolutamente nulos e deverá ser
declarada de ofício a nulidade pelo Tribunal ou reconhecida pelo magistrado.

A suspeição é um fato de ordem subjetiva e complexo de provar, como, por


exemplo, no caso de existir relação de amizade entre o juiz e uma das partes ou
quando prestar aconselhamento a mesma. Ocorrido tal fato, cabe ao juiz
declarar-se suspeito, mas se ele não reconhecer a suspeição deverá a parte
contrária demonstrar a mesma, o que não será possível em todos os casos,
visto a dificuldade na busca de provas.

Assim, elenca o art. 254 do Código de Processo Penal , os tipos de suspeição do


magistrado:
"Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado
por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a
processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro
grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser
julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no
processo."
Restando configurada uma dessas disposições, na qual o juiz atua mesmo
ciente da suspeição, será decretada a nulidade absoluta.

O suborno ocorrerá quando o juiz praticar ato que se desvirtua do


que lhe foi incumbido, “é a expressão de desonestidade funcional, por
corrupção passiva ou prevaricação. Além de afastar o juiz sem dignidade,
sujeita-o à sanção penal”, causando a nulidade absoluta do ato.

II - POR ILEGITIMIDADE DE PARTE


Ilegitimidade de parte (564, II): É absoluta quando se trata de ilegitimidade ad
causam, seja ordinária ou extraordinária. Ex: oferecimento de denúncia em
crime apurável mediante queixa; denúncia contra menor de 18 anos de idade.

Sendo ad processum, a ilegitimidade pode ser sanada por ratificação (art.


568). Logo, é relativa. De se notar que a ilegitimidade da ação penal privada
deve ser sanada dentro do prazo decadencial de seis meses (art. 38).

A ilegitimidade do assistente de acusação constitui mera irregularidade, só


devendo anular-se o processo mediante comprovação do prejuízo (268).

Existem dois tipos de ilegitimidade a ad causam e a ad processum , como


o Código de Processo Penal não especifica se abrange as duas hipóteses ou
apenas uma, a doutrina considera os vícios dos dois tipos como geradores de
nulidade.
Entretanto, no sistema de nulidades absolutas apenas a ilegitimidade ad
causam é acolhida, sendo aquela decorrente da falta de alguma das condições
da ação penal.

A ad processum é considerada relativa. Ocorrerá ilegitimidade ad causam


quando o autor da ação penal não for parte legítima para propor a ação ou
quando a denúncia proposta se deu contra pessoa que não concorreu para a
infração penal.

Portanto, quando a demanda for proposta contra pessoa indevida, como no


caso de a ação ser iniciada em desfavor de delegado de polícia que não permite
à parte ter acesso ao inquérito policial, sendo que a ordem de sigilo proveio de
juiz criminal, caracteriza-se a ilegitimidade para responder à ação, não sendo
legítimo o delegado e sim o juiz de direito.

De tal modo, equivocando-se a parte autora em considerar como réu pessoa


adversa, ou ingressando com a ação penal pessoa imprópria, deve ser
decretada a nulidade absoluta por ausência de legitimidade ad causam.
III- NULIDADE POR FALTA DE FÓRMULAS OU TERMOS DO
PROCESSO
Nulidade por falta de fórmulas ou termos do processo (564, III): A palavra
fórmula está empregada como regra e a termo, como ato. Quando o ato for
praticado, mas com omissão de formalidade essencial, deve a nulidade ser
regida pela regra do artigo 564, IV.

A ausência de "a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos


processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão
em flagrante;"
As peças acusatórias são de suma importância, visto que além de iniciarem a
relação jurídica processual, é por meio delas que a acusação é formulada,
apontando determinada pessoa pela prática de um crime e pedindo sua
condenação.

De acordo com NUCCI, “a falta de denúncia ou queixa impossibilita o início da


ação penal, razão pela qual este inciso, na realidade, refere-se à ausência das
fórmulas legais previstas para essas peças”.

Daí a necessidade que se observe o previsto na legislação processual, sobretudo


os requisitos constantes no artigo 41 do CPP para que o réu possa saber do que
é acusado e possa se defender de forma ampla.
Segundo TÁVORA, no caso de falta de representação, que é a estabelecida para
as ações condicionadas, se não for rejeitada a denúncia, ter-se-á um vício
ensejador de nulidade absoluta, pois: A ausência da representação leva a
nulidade insanável, não admitindo que a vítima supra a omissão, oferecendo
representação no curso do processo. A regra vale ainda que não decorrido o
prazo decadencial, isto é, o processo iniciado indevidamente deve ser extinto
sem resolução do mérito, por ausência de condição de procedibilidade para a
ação penal, sem possibilidade de convalidação do vício.

Quando houver inobservância dos requisitos indispensáveis da denúncia ou da


queixa, e dessa inobservância resultar prejuízo a defesa do réu,
impossibilitando-a, será decretada a nulidade absoluta.

Pela ausência de "b) o exame do corpo de delito nos crimes que


deixam vestígios..."
O artigo 158 do CPP afirma que se tratando de crime que deixa vestígios, é
essencial o exame de corpo de delito, não podendo supri-lo a confissão do
acusado.
Salvo nos casos de impossibilidade de sua realização, sendo o crime não
transeunte e se essa falta não for suprida por outras provas como a
testemunhal, o exame de corpo de delito é imprescindível, sob pena de ter-se
hipótese de nulidade absoluta, insanável.

Se constatado o vício e declarada a nulidade absoluta, diante da


impossibilidade de se realizar novo exame de corpo de delito, pois os vestígios
já estarão desaparecidos, TÁVORA, citando HERÁCLITO MOSSIN, afirma que
“a solução processual mais racional é a absolvição do acusado por falta de
prova”.

Dessa forma, verificada a ausência de exame de corpo de delito na infração que


deixou vestígios, considerando que era possível a realização do referido exame
à época do crime, não há que se falar em regularidade processual, pois notório
é o vício manifestado.

A ausência de "c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o


não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos;"
Há casos em que o réu não procura um advogado por falta de conhecimento do
andamento processual, por não possuir condições econômicas ou por não se
fazer presente no processo e na audiência de instrução e julgamento. Nessas
situações será designado pelo juiz um advogado no ato da instrução, em
virtude da observância aos princípios do contraditório e ampla defesa e da
mesma forma, para não ocorrer cerceamento de defesa.

Conforme explana EDILSON MOUGENOT BONFIM:


"A Constituição Federal, no art. 5º, LV, assegura ao réu a ampla defesa, que
abrange tanto a autodefesa quanto a defesa técnica. A assistência de um
advogado tecnicamente habilitado é requisito indeclinável para o
desenvolvimento válido do processo penal, em decorrência do princípio da
igualdade das partes. A falta de defesa é causa de nulidade absoluta, pois, em
sede penal, nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado
ou julgado sem defensor (art. 261 do CPP)."
Destarte, quando forem praticados atos ou dada a sentença sem ter o réu
constituído advogado ou o juiz lhe nomeado um, serão aqueles e a decisão
absolutamente nulos.

A última parte do art. 564, III, c do Código de Processo Penal , trata da


nomeação de curador ao acusado maior de 18 (dezoito) anos e menor de 21
(vinte e um) anos. Restou prejudicado esse dispositivo pela vigência do Novo
Código Civil de 2002, o qual diminuiu a capacidade civil plena para 18
(dezoito) anos, igualando-a com a estabelecida pelo Código Penal em seu
art. 27, caput. Por fim, foi revogada tacitamente essa parte final do art. 564, III,
c pela Lei 10.792/2003.
A ausência de "d) a intervenção do Ministério Público em todos os
termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte
ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;"
Tem-se a exigência da presença do Ministério Público na ação penal pública,
bem como na ação penal privada subsidiária da pública (prevista no
art. 29 do CPP).

Se a Constituição estabeleceu que cabe ao MP promover a ação penal pública, a


ausência de intervenção é causa de nulidade absoluta; Se o não
comparecimento for justificado, não houver outro promotor para substituí-lo e,
dependendo do caso concreto, poderá a audiência ser adiada, porém, se o não
comparecimento for injustificado, ou então, o ato não poder ser adiado e nem
houver outro promotor para substituí-lo, estar-se-á diante de uma nulidade
insanável.

Destaca-se que, ao se tratar de ausência em ação penal privada subsidiária da


pública, a nulidade é sanável, conforme art. 572 do CPP, a não ser que traga
prejuízo para a acusação, pois neste caso não poderá ser declarada a nulidade,
conforme art. 563 do CPP.

A ausência de "e) a citação do réu para ver-se processar, o seu


interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação
e à defesa;"
A citação do réu, segundo o art. 213 do Código de Processo Civil é o ato pela
qual se chama o mesmo a juízo a fim de se defender, restando completa a
relação processual com ela.
Ainda relacionada ao princípio do contraditório, a falta de citação do réu é
motivo de nulidade absoluta, pois ele deve ter conhecimento da acusação para
poder defender-se, além de envolver a notificação do dia e hora em que deve
comparecer em juízo para ser interrogado.

Porém, se o réu não for citado, mas vier a saber e comparecer em juízo, deverá
o Juiz proceder ao interrogatório, ou então marcar dia e hora para o mesmo.
Segundo JESUS (2002, p. 423), “Convalida a falta de citação, intimação ou
notificação, ainda que ele compareça somente para alegar a nulidade
decorrente da omissão.”.

Em se tratando de falta de interrogatório do réu no processo penal, não há


consenso na doutrina, pois, segundo certos autores será caso de nulidade
absoluta e para outros restará configurada nulidade relativa.
Conforme discorre EDILSON MOUGENOT BONFIM:
"O interrogatório apresenta natureza dúplice: é tanto meio de defesa quanto
meio de prova. Sua falta, quando presente o réu, induz à nulidade do feito.
Para alguns autores trata-se de nulidade absoluta. Para outros, cuida-se de
nulidade relativa."
Em virtude do princípio da ampla defesa deve ser decretada nulidade absoluta
quando não realizado interrogatório do réu no processo crime.
A falta de concessão de prazo à acusação e à defesa, ou mesmo o encurtamento
deles, implica em nulidade. Segundo TOURINHO FILHO (2006, p. 139) ocorre
quando:
“[…] o Juiz não concede prazo para a defesa prévia, ou faculta fazê-la em um
dia; se determina que os debates, na audiência de instrução e julgamento,
firam-se no prazo de 5 minutos para cada uma das partes; se restringe o
tempo para debates na sessão do Júri etc.”.

Da mesma forma, quanto à redução ou não observância dos prazos processuais


às partes, não existe consenso sobre qual tipo de nulidade será gerada.
Levando-se em conta o princípio da ampla defesa, igualmente, e do
cerceamento provocado ao réu ou à acusação é possível que seja declarada a
prática de nulidade absoluta.

A ausência da "f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da


respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o
Tribunal do Júri;"
A decisão de pronúncia é aquela feita na primeira fase do rito dos crimes
dolosos contra a vida, é ela que determina, de forma neutra, se o réu vai a
julgamento no Tribunal do Júri. Portanto, sua existênciae regularidade são de
suma importância, visto que não se pode permitir o julgamento pelo júri de um
réu, sem que se tenha a decisão de pronúncia.

O vício da pronúncia compromete a isenção do julgamento pelos jurados. Por


isso, a decisão de pronúncia, por expressa disposição legal, não deve entrar no
mérito da causa, nem fazer argumentação que favoreça alguma das partes,
muito menos fazer menção a circunstâncias agravantes ou atenuantes,
situações privilegiadoras ou continuidade delitiva, enfim, a decisão de
pronúncia deve ser neutra, de modo que, evidenciado que essa é tendenciosa,
se faz imperioso o reconhecimento de nulidade absoluta.

A ausência de "g) a intimação do réu para a sessão de julgamento,


pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à
revelia;"
Esta alínea estava se referindo ao antigo procedimento do júri onde o art. 451
exigia a presença do réu no plenário caso pronunciado por crime inafiançável.
Se o julgamento fosse realizado sem a sua presença haveria nulidade. Com a
reforma do CPP de 2008, o art. 457 permite o chamado julgamento de cadeiras
vazias, ou seja, réu solto que foi regularmente intimado e não compareceu
poderá ser julgado à revelia e o réu preso poderá optar em estar ou não
presente no plenário. Desta forma, a alínea g não tem mais aplicação.

A ausência de "h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e


na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei;"
O STJ diz que "constitui causa de nulidade a falta de intimação das
testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos
pela lei. Não podendo o juiz deixar de fazê-lo, ainda que, para tanti, tenha de
expedir precatória, como no caso, a testemunha residir em lugar distante."

Ha controvérsias, mas o entendimento geral feito pela maior parte dos


tribunais de justiça é que a ausência de intimação das testemunhas constantes
na denúncia arroladas na contrariedade ao libelo, mesmo com a alegação de
imprescindibilidade - sem demonstração desta - constitui-se em nulidade
relativa e deve ser manifesta no momento oportuno, havendo preclusão ao ser
abordada apenas no recurso. Não se pode falar em julgamento contrário às
provas dos autos quando o agente apresenta versões indignas de crédito,
mormente quando a decisão encontra sustentação razoável nas provas dos
autos.

A ausência de "i) a presença pelo menos de 15 jurados para


a constituição do júri;"
O artigo 447 do Código de Processo Penal diz que o Tribunal do Júri é
composto por um juiz togado e vinte e cinco jurados. Dos vinte e cinco jurados,
sete irão compor o Conselho de Sentença.
Para que se possa haver a aberturada da sessão plenária e o sorteio daqueles
que comporão o Conselho de Sentença, é necessária a presença de no mínimo
15 jurados. No caso de não haver o mínimo legal para abertura da sessão ou se,
devido a impedimentos, suspeição, recusa ou dispensa não for possível a
formação do Conselho, o julgamento deverá ser adiado para o primeiro dia
desimpedido, após o sorteio dos suplentes. Esse é o entendimento que se extrai
dos artigos 463 e 464 do CPP.
Se, ao arrepio da lei ocorrer o julgamento sem o mínimo legal, ter-se-á
caracterizado um vício insanável que configura a nulidade absoluta.

A ausência de "j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em


número legal e sua incomunicabilidade;"
Para se garantir a imparcialidade do Conselho de Sentença, é importante que
as disposições constantes na legislação processual sejam seguidas à risca, sob
pena de ter que ser decretada nulidade absoluta, diante do comprometimento
da neutralidade.
O mesmo inciso faz menção à incomunicabilidade dos jurados, vedando a
comunicação desses entre si e entre eles e outras pessoas quando da realização
do julgamento, sobre os fatos do processo.

Pode dar ensejo a vício os gestos feitos por um dos jurados, influenciando os
demais, como o censurar com a cabeça insistentemente a tese de uma das
partes.
Verificando o juiz que a imparcialidade do Conselho de Sentença foi
prejudicada, deverá determinar nova sessão do Júri, pois a decisão daquele
Conselho restará eivada e não será feita com base em fatos e provas, o que vai
de encontro ao ideal de justiça.

A ausência de "k) os quesitos e as respectivas respostas;"


No Tribunal do Júri deve o juiz, segundo o Código de Processo Penal  formular
as perguntas às quais os jurados responderão com seus votos, sobre a
materialidade do crime, autoria, causas especiais de diminuição de pena, se
deve ser absolvido o acusado, causas de aumento de pena ou qualificadoras,
conforme o art. 483 do Código de Processo Penal.
De acordo como entendimento da súmula 156 do Supremo Tribunal Federal:
“É absoluta a nulidade do julgamento, pelo Júri, por falta de quesito
obrigatório”.

Deve-se observar que ao ser invertida a ordem de perguntas, apenas, será caso
de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende de demonstração de
prejuízo pela parte.

Logo, quando o magistrado esquecer-se de perguntar, alguma das situações


elencadas nos incisos do art. 483 do Código de Processo Penal , deverá ser
declarada a nulidade absoluta.

A ausência de "l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;"


Na audiência de instrução e julgamento bem como na do Tribunal do Júri
devem obrigatoriamente estar presentes o membro do Ministério Público e o
advogado de defesa, tendo em vista as teses que deverão ser defendidas e a
apresentação de alegações finais, que de regra geral, segundo o procedimento
ordinário, devem ser orais. Logo, é nulo o julgamento sem a presença daqueles
e o oferecimento de alegações finais da acusação ou da defesa.

Da mesma forma, poderá o juiz declarar o réu indefeso, no caso de seu


advogado claramente não possuir ou não exprimir atributos técnicos
suficientes para o normal exercício da defesa. Caso ocorra a deficiência grave
na defesa e o magistrado não a reconheça, restará configurada nulidade
absoluta em razão do prejuízo manifesto ao acusado.
Deve-se considerar, ainda, o pedido de condenação e absolvição, conforme
EDILSON MOUGENOT BONFIM discorre:

"Em regra, caberá ao membro do Ministério Público sustentar a acusação,


pleiteando a condenação do réu [...]. Não está, contudo, obrigado a isso. Caso
entenda não existirem elementos suficientes para a condenação, ou se estiver
convencido da inocência do réu, é facultado [...] pedir a absolvição [...]."

Essa mesma liberdade não é concedida ao defensor. Deverá o advogado


defender os interesses do réu, não podendo [...] pleitear um veredicto
condenatório.

Posto isso, será a falta do representante do Ministério Público ou do advogado


do acusado, bem como a ausência de defesa técnica fato ensejador de nulidade
absoluta, diante dos princípios constitucionais anteriormente tratados.

A ausência de "m) a sentença;"


No processo, de forma geral, os litigantes buscam o provimento final, qual seja
a decisão do magistrado declarando se possuem ou não direito. No processo
penal, de forma análoga, é pretendida a decretação de imputação ou não de um
crime a determinado indivíduo e isso apenas será possível com a sentença.

A ausência de sentença é uma nulidade difícil de provar, pois, tenhamos que


apenas após a prolação dessa e respectiva intimação das partes será aberto o
prazo para a interposição de recurso de apelação.

No momento para interpor a apelação, consecutivamente haverá uma sentença


e o atraso em sua prolação será proveitoso ao réu solto, porque, a prescrição
pode ocorrer nesse ínterime ao preso será atacado por meio de habeas corpus
por excesso de prazo, mas não pela ausência de sentença em si como nulidade
absoluta. Uma vez que, para argui-la é necessário recurso de apelação, o qual,
conforme exposto, só poderá ser interposto após a existência de decisão.

EDILSON MOUGENOT BONFIM prevê a possibilidade de nulidade absoluta


por falta de algum dos requisitos próprios da sentença:

"A falta de sentença, bem como a prolação de sentença que não contenha os
requisitos essenciais previstos em lei, é causa de nulidade absoluta. A
sentença deve conter o relatório, a fundamentação, o dispositivo, a data e a
assinatura do juiz prolator para que seja válida."

Portanto, a ausência da sentença, ainda que complexa de ser demonstrada ou a


inobservância das exigências contidas no art. 381 do Código de Processo
Penal resultam em nulidade absoluta pela lei processual, restando viciado o
ato.

A ausência de "n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha


estabelecido;"
Trata este inciso da hipótese de duplo grau de jurisdição necessário, que impõe
a determinados casos, como na sentença que concede habeas corpus em
primeiro grau, o reexame necessário, havendo, portanto dupla decisão sobre a
situação, sob pena de não transitar em julgado a sentença.

Tal hipótese era considerada como ensejadora de nulidade absoluta, contudo,


com a edição da Súmula 423 do STF afirmando que “não transita em julgado a
sentença por haver omitido o recurso exofficio, que se considera interposto ex
lege”, a ausência de recurso de ofício passou apenas trazer como resultado o
impedimento que a decisão transite em julgado.

Se a parte interessada apresentar o recurso, a ausência desse é suprida. Caso


não haja o recurso de ofício, a sentença não transitará em julgado.

A ausência de "o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei,


para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso;"
Nos casos estabelecidos por lei, as partes têm o direito de pleitear o reexame
das decisões, mas para que possa recorrer se faz necessária a devida intimação
da decisão que permite a ciência do que foi decidido.

O que se busca proteger nesse caso é o direito constitucional de defesa do


acusado, de modo que os atos realizados após a ausência de intimação da
sentença deverão ser declarados nulos, por conter irregularidade insanável.

A ausência de "p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de


Apelação, o quorum legal para o julgamento;"
O quórum para que a sessão de julgamento seja instalada de forma eficaz é
disciplinado pelo regimento interno de cada Tribunal, que estabelece um
número mínimo de ministros, desembargadores ou juízes para que possa ser
aberta a sessão de julgamento.

Se ocorrer a inobservância do número mínimo legal estabelecido, presente


estará o vício processual, que considerado como insanável, conduz à nulidade
absoluta.

IV - NULIDADE POR OMISSÃO DE FORMALIDADE QUE CONSTITUA


ELEMENTO ESSENCIAL DO ATO
É essencial a formalidade quando faz parte do ato, que não existe ou pelo
menos não produz efeito sem ela. Ex: quando a denúncia não descreve todos os
elementos da figura típica. Lembrar que tais omissões podem ser supridas a
qualquer momento, antes da sentença final (569).

Quanto às formalidades acidentais, a nulidade é relativa. Deve ser


demonstrado o prejuízo e a argüição deve ser feita antes da sentença, sob pena
de preclusão. Ex: vício da medida de busca e apreensão; da prisão em flagrante
delito etc.

11.0 SÚMULAS DO STF SOBRE NULIDADES


SÚMULA 155: “É relativa a nulidade do processo criminal por falta de
intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha”
SÚMULA 156: “É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de
quesito obrigatório”.
SÚMULA 160: “É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu,
nulidade não argüida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso
de ofício”.
SÚMULA 162: “É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os
quesitos da defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes”.
SÚMULA 206: “É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de
jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo”.
SÚMULA 351: “É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da
Federação em que o juiz exerce a sua jurisdição”.
SÚMULA 352: “Não é nulo o processo penal por falta de nomeação de
curador ao réu menor que teve a assistência de defensor dativo”.
SÚMULA 366: “Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei
penal, embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em
que se baseia”.
SÚMULA 431: “É nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda
instância, sem prévia intimação ou publicação da pauta, salvo em habeas
corpus”.
SÚMULA 523: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o
réu”.
SÚMULA 564: “A ausência de fundamentação de despacho de recebimento
de denúncia por crime falimentar enseja nulidade processual, salvo se já
houver sentença condenatória”.
SÚMULA 706: É RELATIVA A NULIDADE DECORRENTE DA
INOBSERVÂNCIA DA COMPETÊNCIA PENAL POR PREVENÇÃO.

12.0 ALEGAÇÕES FINAIS


O presente trabalho procurou apresentar uma análise sintetizada das nulidades
compreendidas entre os artigos 563 e 573 do CPP. Analisou-se o momento em
que as nulidades devem ser arguidas, bem como quais são sanadas.
Pode-se verificar que em alguns casos, há divergência entre os doutrinadores
para enquadrar a nulidade como absoluta (que não é sanável) ou como relativa
(que admite ser sanada).

Por fim, vale mais uma vez lembrar que as nulidades devem ser decretadas por
meio de decisão judicial, além de ter que causar prejuízo à qualquer uma das
partes.

Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.


CAUSAS DE NULIDADE ABSOLUTA
    As causas de nulidade, não somente absoluta, mas também as relativas estão previstas no
artigo 564 do Código de Processo Penal.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria
ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor
de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos
concedidos à acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos
processos perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir
o julgamento à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos
pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de
que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Parágrafo único.  Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e
contradição entre estas.
São consideradas causas que geram nulidade absoluta, as previstas no inciso I, II, III, alíneas a, b,
c, e (primeira parte), f, i, j, k, l, m, n, o, p.TA

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