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Profª.

Janaina Daniel Varalli


Obs: apenas material de auxilio. Este roteiro não dispensa o estudo da
doutrina especializada já indicada aos alunos e não limita o conteúdo
da prova.

Roteiro- Nulidades
- natureza jurídica: vício, falha, uma imperfeição que pode tornar ineficaz o
processo no todo ou em parte; para outros, é sanção que torna o ato processual
como não realizado.

-pode ser do processo, atingindo-o todo, desde o início (“ab initio”), como
suspeição do juiz, ou da parte do procedimento, quando atinge somente parte
da atividade processual, anulando apenas o ato, parte dele, ou alguns atos.

- A ausência da nulidade é condição para o regular desenvolvimento do


processo.

Classificação:
- nulidades absolutas e relativas
- As nulidades relativas devem ser argüidas no momento oportuno e somente
serão declaradas se houver prejuízo à parte. As absolutas podem ser argüidas
a qualquer tempo, não são sanáveis e o prejuízo é presumido.

- Pas de nullité sans grief


O CPP adotou um meio termo entre o sistema formalista e o da
instrumentalidade das formas no tocante à apreciação das nulidades.

- Sistema da prevalência dos impedimentos de declaração ou argüição de


nulidades (art. 563 CPP); é o princípio pas de nullité sans grief, pelo qual não
existe nulidade se da irregularidade formal não haja prejuízo para as partes.
(prejuízo presumido nas nulidades absolutas e que deve ser alegado e provado
pela parte nas relativas)
-art. 566, CPP – a nulidade só é declarada se influir na apuração da verdade, na
decisão da causa.

- art. 572, II, CPP: algumas nulidades (564, III, d, e 2ª parte, g,h, e IV, CPP)
são sanadas se o ato tiver atingido seu fim.

Nulidades em espécie:
Refere-se ao juízo: incompetência, suspeição ou suborno do juiz e falta de
quorum nos julgamentos dos tribunais (564, I e III, p, CPP)
a) ilegitimidade de partes (564, II, CPP)
b) à falta de fórmulas ou termos (564, III, a e o, CPP)
c) omissão de formalidades que seja essencial ao ato (564, IV e §único, CPP).

I) Incompetência, suspeição e suborno – 564, I do CPP


- desobediência aos critérios de competência
- a incompetência do juízo anula somente os atos decisórios (567, 1ª parte,
CPP) – aqueles que dizem respeito ao mérito, ainda que em parte (em caso de
competência “ratione loci”)
- Entretanto, a competência "ratione material" e "ratione personae" são de
caráter absoluto e podem ser alegadas a qualquer momento, anulando o
processo "ab initio".

- recebimento da denúncia, apesar de ter cunho decisório é ratificável pelo juízo


competente, podendo ser aproveitado.
- Momento oportuno: prazo da resposta preliminar (396 e 396-A, CPP), por meio
da exceção. Se não argüida, está sanada a nulidade, mas isto não impede que
o juiz reconheça a incompetência e remeta os autos.

- Caso de suspeição do juiz: nulidade é absoluta, havendo presunção absoluta


de prejuízo pela parcialidade.
- também é absoluta a nulidade nas hipóteses de incompatibilidade e
impedimento do juiz (os atos são inexistentes, não podem ser sanados, obstam
o exercício da jurisdição naquele processo).

- Suborno do juiz: tem se entendido que deve ser feita uma interpretação
extensiva (como infidelidade ao dever de ofício e não cumprimento de suas
obrigações). Acarreta nulidade absoluta e constitui crime (de corrupção ou de
concussão ou de prevaricação).

II) Ilegitimidade de parte:


- nulidade absoluta se ilegitimidade "Ad causam" ; (ex: oferecimento da
denúncia em ação privada); ação é anulada "ab initio". Se for "ad processum"
(vítima menor de 18 anos, falta capacidade postulatória), ou seja, falta de
capacidade para estar em juízo, pode ser sanada a qualquer tempo pela
ratificação dos atos (568, CPP).
- Obs: caso de ação privada - os defeitos da procuração devem ser sanados no
prazo do artigo 38, CPP.

III) Falta de fórmulas ou termos- o inciso enumeras as hipóteses em suas


alíneas.
- fórmula: regra; termo, como ato. Trata-se de caso em que o ato não foi
praticado (se praticado com omissão de formalidade, é caso do 564, IV)

a) Inicial e condições de procedibilidade (representação e requisição)

b) Falta de exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios – porque
é por ele que se prova a materialidade, sob pena de nulidade. Ressalte-se
porém o art. (167 – CPP) prova testemunhal pode suprir.

c) A nomeação de defensor ao réu presente que não o tiver ou ao ausente e de


curador ao menor de 21 anos: esta regra tornou-se desnecessária em razão da
vigência do novo CC (lei 10406/02)
- Curador se nomeia em caso de réu inimputável. No tocante à defesa, sua
ausência acarreta nulidade absoluta, mas sua deficiência só anula o processo se
houver prejuízo para o réu (súmula 523 STF). Há nulidade por cerceamento de
defesa se há colidência das alegações de réus defendidos pelo mesmo advogado.

d) Intervenção do Ministério Público nas ações por ele intentadas: age em nome
da Justiça Pública.
-há, na hipótese, nulidade absoluta, por quebra do princípio do contraditório.
-Há nulidade relativa na falta de intervenção do MP na ação pública, intentada
pela parte ofendida e também na ação de iniciativa privada exclusiva. É relativa
porque não há quebra do contraditório; mas a intervenção deve ser garantida,
dando-se ciência do MP dos atos do processo, por notificações e intimações
pessoais.

e) Falta de citação do réu: porque sem ela não se forma a relação processual e
o réu não tem a ciência da ação e a possibilidade de se defender. Falta de
interrogatório se presente. Desrespeito dos prazos.
- Citação: arts. 351 e segs., CPP.
- falta de citação é causa de nulidade absoluta.
-Artigo 370, CPP: pode ser sanada – desde que o interessado compareça, antes
do ato consumar-se, embora declare que o faz apenas para argüi-la. O juiz
declara a suspensão ou adiamento do ato, quando reconhece que o ato do réu
pode ser prejudicado (em caso de intimação).
- falta de interrogatório quando presente o acusado para tal (além de meio
de prova também é de defesa). Mesmo após a sentença recorrível em caso de
acusado revel, deve o juiz providenciar o ato antes da subida dos autos com
recurso (caso de nulidade absoluta)
- falta de concessão de prazos às partes – nem a defesa nem a acusação podem
ser cerceados; o prazo não pode ser suprimido ou diminuído (obs.: preclusão
consumativa se realiza o prazo antes do último dia).

f ao k) Nulidade no júri - falta de sentença de pronúncia, intimação do réu para


sessão de julgamento quando a lei não permitir revelia, intimações das
testemunhas nos termos da lei; presença de pelo menos 15 jurados; sorteio dos
jurados e sua incomunicabilidade, quesitos e respostas.
- obs: libelo: peça acusatória que não existe mais; nesta parte, a alínea
estudada foi revogada (Lei 11698/08)

- falta de acusação ou defesa: observe-se que o MP pode requerer absolvição;


a nulidade por falta de acusação significa, em verdade, falta de manifestação do
MP

m) ausência de sentença – equipara-se à ausência, por ser inexistente, a decisão


não assinada pelo prolator.
- demora não é caso de nulidade (pode acarretar soltura do réu);

n) falta de recurso de ofício nos casos em que a lei determina.


-sem tal recurso, a sentença não transita em julgado (Súmula 423, STF);
–ex: 574, I, 746, CPP.

- Parte minoritária da doutrina entende que o recurso da parte supriria o de


ofício.
- para sanar, o Tribunal pode avocar o processo de 1º grau ou considerar
interposto o recurso – já que na verdade, cuida de provocar o reexame da
questão. Considerado interposto o recurso de ofício na omissão da sentença, o
recurso é apreciado na hipótese de recurso voluntário.

o) falta de intimação para ciência das sentenças e despachos contra os quais


caiba recurso: necessária para garantir o contraditório; possibilidade de recurso.
Nos Tribunais

p) falta de "quorum" nos julgamentos – em grau de recurso de competência


originária. O número está estabelecido em lei (615, CPP) ou no Regimento
Interno de cada Tribunal.
-absoluta; recurso cabível é a Reclamação para o Presidente do Tribunal, ou,
se o caso, "hc". Neste número não se incluem os suspeitos / impedidos.

IV) omissão de formalidade essencial ao ato


- Aquilo sem o qual o ato não existe ou não produz efeitos. As formalidades não
essenciais, se ausentes, só causam nulidade se houver prejuízo para parte (ex:
inicial sem descrição dos fatos)
- se essencial, é causa de nulidade absoluta; se não essencial, relativa.

Argüição, Saneamento e Efeitos

- Nulidades relativas: art.572, I, CPP – argüição em “momento oportuno”.


- se,praticado o ato de outra forma, tiver atingido seu fim (572, II, CPP)- não
declara nulidade; e também se a parte ainda que tacitamente, tiver aceitado
seus efeitos. (572, III, CPP) - pode ocorrer se a parte não reclamar (espécie de
renúncia tácita)

- Se o réu é absolvido por falta de provas, não se deve declarar a nulidade por
ele argüida, pois caso contrário, haveria possibilidade da "reformatio in pejus",
vedada pelo CPP. (seria “reformatio in pejus” indireta)

- Em regra, momento oportuno para reclamar uma nulidade é a primeira ocasião


na qual a parte se manifestar no processo, após o ato "viciado".

- Não obstante, a lei fixa alguns momentos em que deve ser argüida, sob pena
de preclusão, o que vem disciplinado no artigo 571, CPP.
a) júri – fase das alegações finais, antes da fase de pronúncia
b) rito ordinário, juiz singular: alegações finais
c) rito sumário: resposta preliminar ou, se ocorrida a nulidade após esta fase,
logo após aberta a audiência de julgamento e apregoadas as partes.
d) art. 571, IV, - revogado;
e) julgamento em plenário, audiência ou sessão do Tribunal: logo após
ocorrerem.
- Em regra, só a parte prejudicada pode alegar nulidade, mas pode ser
reconhecida de ofício pelo juiz (251, CPP);
- em caso de nulidade relativa não reconhecida de ofício e nem alegada, está
sanada.

- art. 565, CPP: se não houver interesse da parte que está alegando (vide
súmula 160 STF). O juiz não precisa sanar o ato ou repeti-lo se puder decidir a
favor da parte a quem aproveitaria a declaração de nulidade (do contrário
estaria beneficiando o infrator da lei processual).

- nulidades que tinham prejudicado a acusação, mesmo que absolutas, só são


reconhecidas se forem invocadas por esta parte. Em recurso da defesa, não
pode o Tribunal reconhecer de ofício nulidade que tenha prejudicado a acusação,
mas julgando recurso da acusação, pode reconhecer nulidade absoluta, de
ofício, que tenha prejudicado o réu.
-Nenhuma das partes pode argüir nulidade a que tenha dado causa (565, 1ª
parte, CPP) – ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

Nulidades absolutas – por exclusão do que dispõe o art. 572 – são as do art.
564, I, II, III (a,b,c, d, e 1ª parte, f, g, i, j, k, l, m, n, o, p) Não há preclusão,
podendo ser argüidas a qualquer tempo, obedecidos os art. 565 a 569, CPP.
- Como nas relativas, podem ser reconhecidas de ofício.

Características:
a. qualquer das partes pode invocá-la, tendo interesse ou não;
b. o juiz deve declará-la de ofício
c. insanáveis
d. as partes não podem dispor

Efeitos
- Havendo nulidade não sanada, há “error in procedendo” e o juiz não pode
sentenciar se o ato não for praticado ou corrigido (573, CPP). A correção pode
se dar por renovação ou retificação. Corrige-se o ato viciado mas aproveita-se
o procedimento por economia processual.

-Como o que é nulo pode produzir efeitos e a nulidade de um ato pode viciar
atos que dele dependam ou sejam consequentemente (princípio da
causalidade), pode haver “nulidade derivada” – são nulos também (ex. vício na
resposta dos quesitos causa nulidade da sessão do júri).

- O juiz declara a extensão das nulidades (573, § 2º, CPP). A anulação do


processo ab initio acarreta o não aproveitamento de qualquer ato.

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