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Petição inicial
Esta é o articulado que o autor utiliza para formular a sua pretensão de tutela jurisdicional e alegar os respetivos
fundamentos de facto e de direito, esta é a base de todo o processo, pois sem petição, não existe processo, é com a
apresentação da petição inicial que se dá o momento do início da instância (259º, nº1), impedindo também a
caducidade relativamente aos direitos cujo exercício implique via judicial (333º, nº1 CC)
1. Estrutura e conteúdo da petição inicial
A sua estrutura está definida por lei, no art. 552º, que estabelece requisitos a observar na elaboração da
petição inicial:
Endereço – tal como dispõe a 1ª parte, do nº1 da alínea a), o endereço contém a designação do
tribunal e do juízo onde a ação é proposta (tem que haver prévia determinação do tribunal
competente)
Intróito/Cabeçalho – deve o autor identificar as partes (nomes, domicílios ou sedes, identificação
civil e fiscal, profissões e locais de trabalho) é o que consta da 2ª parte do nº1, alínea a). Também
deve identificar o estado civil do autor e do reu, se for um menor temos de ver se estamos no
âmbito da representação, também a questão da capacidade judiciária. Outra indicação é quanto á
forma do processo, o autor deve indicar se a ação é comum ou especial.
Narração – constituiu a parte nuclear da petição. O autor deve “expor os factos essenciais que
constituem a causa de pedir e as razoes de direito que servem de fundamento á ação” (552º, nº1, d)
isto tem conexão com o art. 5º, nº1, dispõe que cabe ás partes alegar os factos essenciais que
constituem a causa de pedir e aqueles em que se baiam as exceções, isto é, o autor deve dar
cumprimento ao ónus de alegar os factos essenciais da causa de pedir na petição – o art. 5º
consagra o ónus de alegação que impende sobre as partes e o art. 552º diz qual é o momento e o
modo em que esse ónus há de ser observado. Quanto ao ónus de alegação (art. 5º)
o Factos instrumentais, isto é, factos que não integrando a previsão normativa apenas permitem a
prova indiciária dos factos essenciais, têm uma função meramente probatória dos factos
essenciais – estes factos não são sujeitos ao ónus de alegação (art. 5º, nº2, alínea a)
o O art. 5º, nº1, relativamente ao ónus de alegação respeita aos factos essenciais, quer os
nucleares quer os complementares ou concretizadores. A função do nº2, alínea b) é de sinalizar
que a falta de alegação de factos (essenciais) que sejam complemento ou concretização dos
factos (essenciais) alegados não gera preclusão (o processo não termina por causa disto) mas
deve ser resolvida por convite ao aperfeiçoamento (590º, nº4).
O que são factos essenciais? São factos relativamente aos quais existe ónus de alegação (5º,
nº1) e são aqueles de cuja verificação depende a procedência da ação. Os factos essenciais
serão os que têm correspondência com a previsão normativa de que o autor pretende
prevalecer.
Esta alegação deve ser o mais objetiva possível, a narração em artigos contribui para isso, pois a
petição serve para dar a conhecer a nossa versão de uma realidade, se estiver bem (se se conseguir
perceber essa mesma realidade), estamos a assegurar: o adequado exercício do contraditório por
parte do reu (se este não entender o que o autor pretende não consegue defender-se, porque não
sabe do que se trata o processo); que o juiz perceba o que aconteceu, para que possa proferir uma
sentença a seu respeito.
Depois de apresentados os factos, o autor deve enquadrar qual a previsão normativa, ou seja, o que
respeita ao enquadramento jurídico da pretensão deduzida (552º, nº1 alínea d) – esta não tem tanta
importância relativamente á vertente fáctica.
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Conclusão – destina-se á formulação do pedido, ou seja, o autor começou por dizer o que
aconteceu (factos), enquadrou juridicamente tais factos, e agora diz a consequência que pretende
daí retirar (552º, nº1, alínea e) – formular o pedido, este também é um elemento fundamental da
petição inicial, na medida em que é por ele que se estabelecem desde logo os limites da sentença
caso a ação venha a ser julgada procedente (609º, nº1), ou seja delimita-se a intervenção do próprio
juiz– o pedido deve ser estritamente formulado na conclusão. O que dá identidade a um processo
judicial são estes 3 elementos: causa de pedir, pedido e sujeitos;
Ou seja, o pedido vai ter uma consequência logica daquilo que foi relatado pelo autor
anteriormente, se não houver esta conexão entre o pedido e a causa de pedir (conjunto de factos),
temos a ineptidão da petição.
Alem do que se referiu, a petição deve conter a indicação do valor da causa (552º, nº1, alínea f):
O valor da causa representa a utilidade económica imediata do pedido, e também para determinar a
competência do tribunal e a relação da causa com a alçada do tribunal (296º, nº1 e 2). Para fixar o valor da
causa há diversos critérios, previstos nos arts. 297º e ss.
Nos termos do art. 552º, nº7 o autor deve ainda juntar á petição documento comprovativo do prévio
pagamento da taxa de justiça ou da concessão do benefício de apoio judiciário.
Características do pedido:
há de ser expressamente referido na petição inicial;
deve ser apresentado de forma clara e inteligível;
deve ter um conteúdo determinado ou determinável;
deve ser coerente relativamente à causa de pedir ou pedidos cumulados;
deve ser lícito;
deve representar uma forma de tutela de um direito ou de um interesse juridicamente relevante;
1. Modalidades do pedido
Para alem da hipótese do autor formular um pedido único, podem ser formulados vários pedidos, ou seja,
uma pluralidade de pedidos que se encontra regulada nos arts. 552º e ss:
a. Pedido fixo (não está regulado no CPC) – ex: pede A, apenas, pede unicamente determinada prestação.
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improceder tendo eu instaurar outra ação em que deduza outra pretensão, deduz o pedido alternativo
(vantagens: proteção das partes; economia processual) Aqui o autor tem preferência por um pedido, o
que vai formular em 1º, sendo esse que o tribunal vai analisar em 1º, e só no caso da improcedência
deste é que subsidiariamente se analisa o 2º pedido.
Exemplo: peticiono uma execução especifica de um contrato promessa, se esta não for possível,
quero a restituição do sinal em dobro, sendo o 1º preferencial.
Distinção de pedidos subsidiários e pedidos alternativos: o que têm em comum é que existe mais do
que um pedido, sendo que o autor apenas espera a procedência de um. No entanto, nos subsidiários
há um 2º pedido que só é atendido na eventualidade do 1º improceder, aqui o autor manifesta a sua
preferência, não existe equivalência jurídica.
Quanto aos requisitos para a formulação de pedidos subsidiários, o nº2 do art. 554º remete para as
circunstâncias que impedem a coligação de autores e réus (37º).
Artigo 297.º nº3 – no âmbito dos pedidos subsidiários o valor da ação corresponde ao pedido deduzido
em primeiro lugar. Se o autor pretende em primeiro lugar a execução especifica o valor da causa será o
relativo à execução especifica.
a. Pedidos genéricos (556º) – ex: pede A, mas A ainda não está determinado, porque o autor quando
intentou a ação não conseguiu. No entanto só é admissível quanto às 3 situações previstas no artigo, é
uma exceção, porque em regra os pedidos devem ser específicos. É permitido formular pedido
genérico quando:
Alínea a) “universalidade de facto” – o autor limita-se a indicar a universalidade de facto ou de
direito a que pertencem os elementos (p.ex. o autor pretende a condenação do reu na entrega de
uma biblioteca, se não souber os livros todos que lá tem, pede que seja entregue a universalidade, a
biblioteca) ou (p.ex. no caso da herança, um herdeiro pretende que 3º que está na posse de todos os
bens da herança lhos entregue, se não souber quais são os bens, formula um pedido genérico
pedindo a entrega da herança)
Alínea b) foi proposta a ação não seja ainda possível fixar de modo definitivo as consequências do
facto ilícito – p.ex. num acidente de viação ou de trabalho, em que as lesões não estão
definitivamente avaliadas ou não se consegue perceber bem a extensão das lesões, nestes casos, o
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autor pode pedir que o reu seja condenado em indemnização cujo montante se liquidará
posteriormente.
Alínea c) a fixação do quantitativo estiver dependente de prestação de contas ou de outro ato que
deva ser praticado pelo reu – o autor sabe que tem direito a algo, e não consegue qualificar, então
pede que se entregue o que se vier a liquidar na prestação de contas.
Como é que se deduz na prática, um pedido genérico? “condenação da ré no pagamento do que se vier a
liquidar”.
Em que momento e por que meio se procede á respetiva concretização ou liquidação? (nº2)
Se a liquidação puder ser feita até ao início da discussão da causa , o autor deduzirá o incidente da
liquidação, nos termos dos artigos 358.º a 360.º do CPC
Vamos ter o chamado incidente de liquidação e neste vamos proceder à liquidação do pedido
genérico – quantificação ou qualificação do pedido (de forma absolutamente determinada).
Quando não for possível fazer a liquidação na ação declarativa , o tribunal condenará no que vier a
ser liquidado (cfr. O nº2 do artigo 609.º). Nesse caso, a liquidação irá efetuar-se nos termos do nº2
do artigo 358.º e nos termos do nº3 e do nº4 do artigo 360.º do CPC.
Pode acontecer que não haja condições de determinar o pedido do ponto de vista quantitativo ou
qualitativo – se não houver condições temos a sentença de condenação genérica (609º, nº2). Depois
de proferida a sentença, logo que haja condições para o efeito, o autor irá deduzir o incidente de
liquidação. Esse incidente irá importar a renovação da instância e será no processo onde foi
proferida a sentença de condenação genérica que se irá proceder à liquidação. A liquidação será
operada pelo mesmo tribunal que proferiu a sentença de condenação genérica.
a. Pedidos de prestações vincendas (557º) – quando o autor pede a condenação do reu no pagamento
de prestações futuras, prestações ainda não vencidas. Quais são as situações em que é permitido pedir
a condenação de prestações futuras:
Nº1: quando o devedor está obrigado a efetuar prestações periódicas e deixa de cumprir uma delas,
aqui o autor pode pedir a condenação do reu não só na prestação vencida como nas que se
vencerem enquanto persistir a obrigação.
p.ex. contrato de arrendamento, o inquilino está obrigado a pagar uma renda mensal, se não
pagar uma delas, o senhorio pode pedir a condenação no pagamento dessa renda, como das
que se vencerem enquanto se mantiver o arrendamento (estas ultimas é uma condenação
para o futuro), em que o reu so tem que pagar cada uma das rendas futuras quando chegar o
respetivo vencimento delas, em contrapartida evita que o autor tenha que intentar uma
nova ação cada vez que o inquilino deixe de pagar uma delas, pois já está antecipadamente
condenado.
Nº2: p.ex. suponhamos que eu dei de comodato uma casa a um jovem universitário que acabaria o
curso em julho de 2022. Não vai acabar. Volto de Timor e preciso da casa, e ele diz que não vai
restituir a casa. Intento uma ação contra ele e peço que ele seja condenado hoje a entregar-me a
casa em julho de 2022 para quando chegar a data eu ter um título executivo que me permite agir
rapidamente para diminuir o meu prejuízo. Ou seja, o que se pretende aqui é que face ao receio de
que o reu não cumpra ou retarde o cumprimento, se obtenha antecipadamente um título executivo
(sentença), suscetível de realizar coercivamente a obrigação este artigo é quando o
incumprimento da obrigação ainda não vencida possa vir a causar grave prejuízo ao credor.
Qual a diferença do 557º para o 610º onde se prevê o caso da instauração de uma ação pedindo o
cumprimento de uma obrigação não vencida, mas que, todavia, o reu pode vir a ser condenado a efetuar a
prestação no momento próprio, ou seja, quando essa se tornar exigível? Há aqui uma aparente contradição
de regimes, no entanto o art. 557º é o regime regra que prevê que só é permitido formular pedidos
relativamente a obrigações vencidas e por isso exigíveis, no entanto ele mesmo prevê situações excecionais
em que se pode formular pedidos de condenação quanto a obrigações ainda não vencidas, fora disto um
pedido de condenação de prestações futuras deve ser rejeitado. O 610º temos que ter em conta o momento
processual em que o juiz se deu conta dessa inexigibilidade da prestação: se foi no despacho saneador (595º)
deve aí ser proferida decisão de absolvição do reu da instancia, se foi reconhecida depois desse, então
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entrará em funcionamento o art. 610º, e o reu vai ser condenado a efetuar a prestação quando esta se
vencer, isto tem uma ideia subjacente de salvar o processo quando este entra numa fase mais onerosa e
pesada, sendo que já se trabalhou imenso no processo, e por isso o regime do 610º é de recurso e não de
principio geral
2. Apresentação da petição inicial e atos subsequentes
A petição deve ser apresentada em juízo, só assim se marca o início da instância (259º, nº1)
O momento da propositura da ação é determinante para o efeito de interromper a caducidade do direito
de agir (331º CC)
Deve conter a indicação do valor da causa (552.º nº2 f)) – 296.º valor da causa. Não é possível uma ação
judicial não ter valor. O valor determina-se segundo os critérios dos artigos seguintes.
O autor deve na PI indicar os meios de prova de que pretende fazer uso nesta ação tendo em vista
convencer o juiz – requerimento probatório. Quais são os meios de prova que existem e que podem ser
utilizados?
o Prova documental
o Prova testemunhal
o Prova por confissão
o Prova pericial
o Prova por inspeção
o Prova por verificações não judiciais qualificadas
o Prova por declarações das partes
Chegada ao tribunal a petição inicial, o que sucede? A petição observa os requisitos exigidos?
1. Se desrespeitar – recusa da petição pela secretaria (558º).
Quando é que recusa? Quando ocorra alguma das causas mencionadas no artigo. A secretaria vai
ponderar a olho nu sobre a petição inicial, ou seja, p.ex. se numa ação eu disser o valor que é
manifestamente errado, o que interessa é que o valor está indicado, e por isso a secretaria não pode
recusar. Hoje em dia estas causas raramente acontecem, porque eu preencho o formulário na
plataforma Citius, acontece mais quando na ação não é preciso constituir advogado e vai fazer a
petição em papel.
Quando o autor entenda que a recusa foi injustificada, pode reclamar para o juiz, nos termos do nº1
do 559º, se o juiz atender á reclamação, a mesma é recebida e a ação segue, caso o juiz confirme a
recusa, o autor pode recorrer para a Relação, ainda que o valor da causa não ultrapasse a alçada da 1ª
instância, ou seja, independentemente do valor da causa (nº2).
Nos casos de ações em que não seja obrigatório o patrocínio de advogado, havendo recusa
confirmada pelo juiz ou no recurso, o 560º permite apresentar nova petição em 10 dias.
2. Se observar, está em condições de ser recebida, sendo a petição inicial apresentada á distribuição
(203º)
O que é a distribuição? permite a individualização da ação e visa garantir a distribuição aleatória e
automática dos processos, a existência do juiz natural, visa garantir ainda a distribuição equitativa dos
processos pelos diferentes serviços do tribunal.
A designação do juiz há de ser feita por critérios aleatórios e objetivos – princípio do juiz natural. O juiz
natural é o juiz titular do processo que é designado por métodos aleatórios e objetivos.
Feita a distribuição, é designado o juiz, e o que segue é que cada juiz tem a sua secção e é a secção
correspondente que vai passar a gerir burocraticamente aquele processo. O primeiro ato é a citação.
Artigo 208.º - é feita 2x por dia de forma automática
Artigo 216.º - é integralmente efetuada por meios eletrónicos (…)
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1. Quando o pedido seja manifestamente improcedente, ou seja, quando o juiz conclui que não assiste razão
ao autor, levando a um julgamento antecipado do mérito da causa;
2. Quando se mostrem violados prossupostos processuais em termos de gerar exceções dilatórias
insuscetíveis de sanação e que o juiz possa conhecer oficiosamente (p.ex. ilegitimidade singular;
incompetência absoluta; ineptidão da petição inicial)
Este despacho admite sempre recurso até á relação, independentemente do valor da causa (629º, nº3 alínea c)
O autor pode apresentar nova petição substituindo a que foi alvo de indeferimento, mas apenas nas causas em que
não seja obrigatória a constituição de advogado (590º, nº1 – 560º).
O juiz pode ainda convidar o autor ao aperfeiçoamento da petição quando se mostrem desrespeitados pressupostos
processuais suscetíveis de sanação ou haja outras irregularidades supríveis, desde que sejam de conhecimento
oficioso, se o vicio for sanado a ação prosseguirá, se o vicio persistir a ação devera ser julgada extinta pela prolação
de um despacho de indeferimento (subsequente).
A lei prevê que existem situações em que antes da citação o juiz haja de proferir um despacho. Este pode ser um
de 3:
1. Despacho de citação. Despachos mais comuns. (citação – arts. 562.º e 226.º nº4 e 590.º nº1)
2. Despacho de indeferimento. O juiz ou verificou que o pedido é manifestamente improcedente, não
havendo viabilidade material da petição apresentada, ou verificou a existência (cumulativamente) de falta
de pressupostos processuais de conhecimento oficioso e que não podem ser sanados.
3. Despacho de aperfeiçoamento. O juiz pode logo no despacho de pedir (por notificação) ao autor que
proceda ao aperfeiçoamento de factos dos articulados. Pode ser um aperfeiçoamento material ou
processual.
Citação do reu
1. Enquadramento
Apresentada a petição inicial é feta a distribuição (208º e 216º), dá-se o recebimento da petição inicial pela
secretaria (558º) e apos isto dá-se a citação, este é o primeiro ato que a secretaria leva a cabo oficiosamente
(562º e 226º, nº1). Esta prevista nos artigos 219º e seguintes.
O art. 561º prevê a citação urgente, traduzida na circunstância da mesma ter prioridade sobre as restantes,
nomeadamente quanto as diligencias a realizar pela secretaria nos termos do art. 562º. O autor deve formular
o pedido de citação urgente na petição inicial, cabendo ao juiz determinar a urgência da citação quando
considere justificado o requerimento do autor. Quais as razoes? P.ex. o receio de ausência do reu para parte
incerta, a citação sera mais demorada e o efeito cominatório para a eventual falta de contestação sera nulo;
p.ex a prescrição de um direito substantivo so se interrompe com a citação do reu, o que é compreensível que
se faça a citação com a maior brevidade.
2. Citação e notificações
A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao reu de que foi proposta contra ele determinada açao e se
chama ao processo para ele se defender (219º, nº1, 1ª parte), e assim assegura-se o cumprimento do princípio
do contraditório (destina-se a dar conhecimento ao réu do que é que se pode defender) e o inerente exercício
do direito de defesa (art. 3º, nº1 e nº2). Por regra a proposição da aça oso produz efeito em relação ao reu a
partir do momento da citação (259º, nº2). A citação tem ainda uma outra função (219º, nº1, 2ª parte) destina-
se a chamar ao processo alguma pessoa interessada na causa (p.ex. A intenta ação contra B e essa ação
também deveria ser intentada por C, permitida a intervenção de C pelo 319º, vai ser chamado ao processo por
via da citação)
No ato de citação, devem ser disponibilizados ao reu: (art. 219º, nº3 e 227º)
o Duplicado da petição inicial e as copias dos documentos que a acompanhem
o Deve ser informado dos elementos identificativos da açao para a qual é citado (tribunal, juízo, secção
e número de processo)
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o Do prazo de que dispõe para contestar (30 dias)
o Da necessidade de constituir advogado
o E deve ainda ser advertido das consequências que terá no caso de não ter contestado, revelia
Por outro lado, as notificações destinam-se a dar conhecimento de um facto ou a chamar alguém a juízo,
aplicando-se a todos os casos em que não haja lugar á citação.
1. Modalidades da citação (225º)
a. (nº1) citação de pessoas singulares:
i. Citação pessoal (nº2), é a que é feita na própria pessoa do citando pelos modos seguintes (esta é a
regra)
a) Por via eletrónica (esta não existe atualmente)
b) Pelo correio
Como é que isto se processa? Este é o regime regra e está regulada no art. 228º.
o faz-se por carta registada com aviso de receção, dirigida ao reu e endereçada para a
sua residência ou local de trabalho.
A carta pode ser enviada para casa ou local de trabalho (nº1)
O carteiro deve identificar a pessoa que recebe a carta (nº3):
A carta é entregue ao próprio citando (está a citação realizada)
A carta é entregue a pessoa diversa do citando, a terceiro (presume-
se que o citando teve conhecimento da carta – presunção relativa,
admite prova em contrário) – nº2; nº4
Nos termos do art. 230º, nº1 a citação feita nos termos do 228º
considera-se por via pessoal mesmo que tenha sido feita a pessoa
diferente do citando.
Se não for possível a entrega da carta – é deixado aviso (nº5) – o
citando tem 8 dias para levantar a carta
Se não procedeu ao levantamento da carta – dá-se a frustração do
envio postal
se for indicado ao distribuidor do serviço postal novo endereço do
citando, o expediente é devolvido ao tribunal com a indicação de
nova morada (228.º nº7) a secretaria repete a citação (228.º nº8),
mas se a ausência do citado for em parte incerta (nº9)
o Citação em casos de “domicilio convencionado” (229º) – há aqui um regime
particular da citação por via postal, e tem de existir 4 pressupostos (comulativos)
para haver esta modalidade de citação:
O próprio contrato prevê a necessidade de alguém proceder ao
pagamento de um preço, alguém para cumprir o contrato tem que
realizar uma prestação pecuniária
É necessário que o próprio contrato esteja reduzido a escrito
As partes estipulam um endereço para efeitos da citação
O valor da ação não pode exceder a alçada do tribunal, salvo exceção
prevista no artigo
Quais são as diferenças relativamente á via postal (normal):
Se o citando não receber a carta – repete-se enquanto na via postal há
frustração.
o Se foi possível deixar a carta – a citação considera-se realizada;
o Se não for possível o depósito – deixa-se aviso e no 8º dia posterior o
citando considera-se citado;
Se houver recusa pelo citando – o carteiro abre nota do incidente da recusa,
e perante a certificação dessa o citando considera-se citado;
Recusa de terceiro – repete-se a citação e envia-se nova carta.
o Se for possível deixar a carta – o citando considera-se citado
o Se não for possível – no 8º dia considera-se citado
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** aplica-se subsidiariamente o regime do 228º ao 229º, quando encontramos um
ato de recusa ou de não levantamento do aviso de receção é que encontramos as
diferenças.
Nota: Se não houver caixa de correio (nas hipóteses em que seja necessário) – não é possível o deposito –
frustração da citação
a) Por contacto pessoal do agente de execução ou do funcionário judicial (231º e 232º):
Este modo de citação tem carater residual, pois só ocorrera quando se fruste a via
postal;
Em regra, é realizado por agente de execução (nº1) a quem compete transmitir os
elementos referidos no art. 227º
Mas há uma exceção no nº8, o autor declarar que quer desde logo que seja feita por
esta via a citação, na petição inicial.
O contacto pessoal também pode ser feito por funcionário judicial (nº9), só quando a
parte goza do benefício de apoio judiciário.
Pode acontecer que:
Conseguido o contacto pessoal, lavra-se a nota de citação que é assinada pelo citando (nº3)
no entanto pode acontecer que ele recuse (nº4 e nº5);
Não sendo possível encontrar o citando, porque quando foi lá ele não estava, mas é apurado
que ele reside ou trabalha no local indicado, é feita a citação com hora certa (232º), deixa lá
uma nota qual é o dia e a hora que o citando será citado nesse local, se nesse dia e hora o
agente aparece no local, se encontrar a citação dá-se por realizada (232º, nº2, a) e nº6), se
não encontrar (232º, nº2 b) e nº6) / (232º, nº4 e nº6)
Quando é que é passível de se frustrar o contacto pessoal? Quando se descubra que a pessoa
efetivamente não mora ali ou não trabalha ali.
a) Por mandatário judicial (nº3) exige indicação nesse sentido na petição inicial.
i. Citação edital (nº6) – é excecional, não é uma modalidade normal, só recorremos a ela em ultimo
recurso, 1º recorremos á citação pessoal.
Quando é que esta tem lugar (quais são essas situações de exceçao):
Ausência do citando em parte incerta : situações em que o carteiro ou o agente não sabem
do paradeiro do citando, situações que acontecem depois da secretaria tentar apurar onde
está o citando nos termos do 236º.
Citação de pessoas incerta: p.ex. chego a casa e tenho uma serie de pessoas que me
invadiram a casa e não sei efetivamente quem são.
Formalidades a observar – como é que se procede a esta citação (240º a 244º):
Publicação edital (240º, nº2) – é afixado na porta da casa da última residência ou sede que
o citando teve no país; se for pessoa incerta (243º) o edital não será publicado;
Publicação de anúncio – numa página da internet (na plataforma CITIUS)
O que é que o edital e o anúncio tem de conter (241º)? 1. A açao a que respeita; 2. Identificação
do autor; 3. Qual é o pedido; 4. O tribunal em que o processo corre; 5. O prazo para defesa, dilação
e cominação; 6. A data da afixação;
No 242º diz-nos que a citação se considera feita no dia da publicação do anúncio.
a. Citação de pessoas coletivas (246º)
Por via postal:
(nº1) aplicam-se as regras relativas á citação de pessoas singulares (228º e ss.)
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A 1º diferença é relativa ao envio da carta – não são enviadas para onde ao autor indica, mas
para a sede do citando inscrita no ficheiro central de pessoas coletivas no Registo nacional
de pessoas coletivas (nº3)
Em caso de recusa – acontece o mesmo que nas pessoas singulares, o carteiro lavra nota do
incidente e apos a certificação da recusa, considera-se a citação efetuada;
Pode acontecer ainda que haja outros casos de devolução do expediente (nº4) – é repetida a
citação enviando-se nova carta c/ aviso de receção.
NOTA: este regime não se aplica aos citados cuja inscrição no ficheiro central de PC do registo
nacional de PC não seja obrigatória (246º, nº5) – ex: condomínios e patrimónios autónomos
Ainda é possível que a citação seja feita por via eletrónica, mas apenas em 3 casos:
o Fazenda publica
o O instituto da segurança social
o O instituto de gestão financeira da segurança social
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Contestação
A citação visa garantir o contraditório e permite ao reu apresentar a sua defesa, essa defesa é feita na
contestação (contestação defesa). Sucede que em certas circunstâncias o reu pode ainda aproveitar a
contestação para deduzir pedidos contra o autor “contra-ataque” (contestação reconvenção).
1. Contestação defesa (571º, nº1 e nº2)
O reu opõe-se ao pedido formulado contra si pelo autor, esta oposição pode ser:
o Direta – o reu contradiz os factos alegados pelo autor, ou afirma que tais factos têm um
significado jurídico diferente do pretendido pelo autor (defesa por impugnação)
o Indireta – alega factos que inibem o tribunal de conhecer o mérito da causa, alega factos que
impeçam, modifiquem ou extingam o direito invocado pelo autor (impugnação por exceção)
NA DEFESA POR IMPUGNAÇÃO O RÉU SÓ SERÁ CONDENADO SE ASSIRTIR RAZÃO AO AUTOR (os factos
alegados forem provados ou o direito inovado pelo autor for reconhecido)
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O art. 578º estabelece que o tribunal deve conhecer oficiosamente de todas as exceções
dilatórias, salvo incompetência absoluta decorrente da violação de pacto privativo de
jurisdição e á preterição de tribunal arbitral voluntário (estas duas são convenções
celebradas pelas partes que o autor desrespeitou) e incompetência relativa nos casos não
abrangidos pelo 104º, nestes casos tem de ser invocada pelo reu.
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processo, é possível dar-se como provado o que o autor disse mas também o
que o réu disse, sendo factos compatíveis, provando-se ambos, há como
consequência o reu ser absolvido de pagar 100 e só paga 75.
Como é que sabemos que a defesa é por exceção? Pelo modo como reu contesta, pois são
utilizadas expressões como “mas”, “entretanto”.
Existe uma proximidade entre a defesa por exceção perentória e a defesa por impugnação,
pois em ambos os casos o propósito do reu é ser absolvido do pedido, no entanto, a
impugnação do reu assenta no entendimento de que não assiste razão ao autor, seja de
facto ou de direito, já na defesa por exceção perentória o reu não rejeita os factos
apresentados pelo autor, mas opõe factos que têm por efeitos impedir, modificar ou
extinguir o direito invocado pelo autor, direito esse que seria reconhecido se não existisse
essa exceção perentória.
A absolvição do pedido a que conduz a procedência das exceções perentórias pode ser total
ou parcial, em função do alcance com que a exceção atinge o direito do autor – p.ex. numa
ação para cobrança de um crédito, o reu diz que já pagou 1/3 da divida, ou que o credor lhe
perdoou essa parte, a ser procedente esta exceção só ira absolver parcialmente o pedido,
sendo o reu condenado na restante parte. Já se estivermos a falar da alegação de uma
prescrição, caducidade, pagamento total da divida, aqui já estamos a falar de uma exceção
que ao ser procedente atinge toda a dimensão do direito, e a absolvição será total.
O tribunal conhece oficiosamente das exceções perentórias se o tiver de conhecer á luz do
direito substantivo (579º), as nulidades (286º CC), caducidade em matéria exclusiva da
disponibilidade das partes (333º, nº1 CPC) o pagamento, a novação e a dação em
cumprimento.
Pergunta de oral: houve um acidente, e o autor intenta uma ação destinada á efetivação de
responsabilidade civil, o réu é citado 6 anos depois do acidente, o reu contestação e não
invoca a prescrição, e mais á frente, olhando melhor para o processo repara que na verdade
não invocou a prescrição na contestação. O reu pode vir a invocar na audiência previa ou na
audiência final? Não, porque os argumentos defensionais devem ser invocados na
contestação, a não ser que seja matéria de conhecimento oficioso, e a matéria da prescrição
não é.
NA DEFESA POR EXCEÇÃO, AO CONFIRMAR-SE A EXCEÇÃO INVOCADA PELO RÉU, PERMITE-LHE LIBERTAR-SE DO
PROCESSO.
O reu tem oportunidade de se defender por diversos meios. Quando se defende por:
Impugnação – visa rejeitar o ponto de vista do autor, e por isso visa que não seja reconhecida pelo tribunal a
pretensão do autor, e então ser absolvido do pedido.
Exceção perentória – visa a absolvição do pedido, mas num plano diferente, pois traz ao processo factos
novos que podem ter eficácia impeditiva, modificativa ou extintiva relativamente aos efeitos a que
conduziriam os factos alegados pelo autor, pretende ser absolvido do pedido, mas neste caso por mérito seu.
Exceção dilatória – aqui o que se está a discutir não são questões de fundo mas sim questões de índole
processual, e o que o reu pode esperar é a absolvição da instancia ou a remessa do processo de um tribunal
para o outro se estivermos perante uma incompetência relativa.
1. Princípios estruturantes da defesa – 573º e 574º CPC
PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO DA DEFESA NA CONTESTAÇÃO:
a. Princípio da concentração da defesa na contestação – 573º, nº1 CPC
O art. 573º, nº1 consagra que “toda a defesa deve ser deduzida na contestação”, isto é, o reu deve
incluir na contestação todos os meios de defesa de disponha seja direta ou indireta, p.ex. se
admitíssemos que o reu dispõe de vários meios de defesa e fosse autorizado a utilizá-los quando lhe
fosse conveniente, que os usaria no caso de improcedência dos meios de defesa que invocasse, e
isso não é possível. Assim o reu esta vinculado a concentrar a sua defesa na contestação, deve
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apresentar de uma só vez todos os meios de defesa, isto para que o reu abra logo o jogo quanto aos
seus argumentos na contestação e para que o autor possa saber quais são os argumentos, e
contribui para a rapidez processual para que o reu não possa utilizar a sua defesa para retardar o
processo.
Associados a este princípio, encontramos o:
Princípio da preclusão: todos os meios de defesa não invocados pelo reu na contestação
não podem ser alegados mais tarde.
Princípio da eventualidade: eu devo concentrar e esgotar na contestação todos os
argumentos de defesa e por causa disse devo apresentá-los cada um para a eventualidade
do anterior não ter o resultado que eu esperava, ou seja, para a eventualidade do anterior
improceder.
Ma há desvios a esta regra que o próprio art. 573º refere – exceções (circunstâncias em que é
permitido ao reu não ter de concentrar e esgotar todos os argumentos na contestação):
Defesa separada (nº1, 2ª parte): é aquela que por imposição legal, deve ser deduzida no
prazo da contestação, mas fora desta, isto é, em separado, não incluir os argumentos na
contestação.
Temos como exemplo a questão da suspensão do juiz (119º e ss.) o art. 121º refere
que o reu pode deduzir suspensão no mesmo prazo que lhe é concedido para a
defesa, mas fora da contestação. Mas quando é manifestada pelo autor não é um
caso de defesa – são situações em que se questiona a imparcialidade do juiz.
Defesa posterior (nº2): é aquela que pode ser deduzida apos a apresentação da contestação,
mais tarde. Tem 3 modalidades:
o Defesa superveniente: 588º - é a defesa fundada em factos supervenientes, de que o
reu teria utilizado caso já tivesse acontecido ou ele tivesse conhecimento.
o Defesa autorizada por lei: a lei prevê expressamente que certos tipos de argumentos
sejam invocados apos a contestação – p.ex. incompetência absoluta (97º
o Defesa oficiosa: há matérias que são de conhecimento oficioso, e por isso o juiz pode
invocar sem que as partes invoquem, e, portanto, o reu pode não invocar esse
argumento logo na contestação na medida em que como o juiz pode conhecer
oficiosamente, eu não posso ficar impedido de invocar mais tarde (p.ex. a
caducidade ás vezes é de conhecimento oficioso 333º CC), ou seja, as exceções
dilatórias e maior parte das exceções perentórias são de conhecimento oficioso.
NOTA: a desistência do pedido é livre, porque o direito é do autor e ele abdica dele livremente, a desistência da
instância já não é livre, porque imaginemos p.ex. A propõe ação contra B, B contesta e esgota na contestação todos
os seus argumentos, o autor fica a saber de todos esses argumentos e desiste da instância, no entanto o reu não fica
a salvo de ser reu de novo mais tarde caso A venha a propor uma nova açao, isto não pode ser possível, porque o reu
ao cumprir com o 573º expõe-se, no entanto o reu pode aceitar a desistência da instancia quando p.ex. perceba que
os seus argumentos não garantem o sucesso da sua parte no processo.
a. Ónus de impugnação – 574º
Nos termos do art. 574º, nº1, na contestação, o reu há de “tomar posição definida perante os factos
que constituem a causa de pedir invocada pelo autor”, como já sabemos não é indiferente agir ou não
dizer nada, porque se eu não impugnar os factos alegados pelo autor resulta que esses factos se
admitem por acordo (nº2), existe, portanto, o ónus de tomar posição, de adotar um determinado
comportamento que a lei impõe. Quanto mais factos forem impugnados, mais factos estão sujeitos a
prova pro parte do autor, no entanto o reu não pode impugnar factos para dar trabalho ao autor, para
lhe colocar pedras no caminho, porque corre o risco de vir a ser condenado por litigância de má-fé
(542º, nº2).
Exceções ao ónus de impugnação – apesar de os factos não serem impugnados, não se considerarão
admitidos por acordo nas seguintes circunstâncias (nº2, 2ª parte). Quais são?
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Factos contantes da petição que estejam em oposição com a defesa considerada no seu
conjunto – não se pode considerar um facto como admitido só porque ele não foi
concretamente impugnado, quando a analise da contestação nos permite concluir que o reu
não aceita esse facto como exato. Tem de ser analisado caso a caso.
Factos que não são passíveis de confissão – é o que sucede com os chamados “factos
inconfessáveis” do art. 354º CC, há casos em que a lei proíbe a confissão expressa e portanto
não é a confissão tacita, o silencio do reu, não é por o reu não ter impugnado esse facto que
esse mesmo seja admitido.
Factos que só se podem provar por documento escrito: há certos negócios juridicos em que
a lei exige documento escrito ou forma mais solene, sob pena de nulidade, por isso mesmo
que o reu não impugne, não fica admito por acordo porque é necessário provar por
documento escrito.
P.ex. A e B são casados, o facto do reu não impugnar esse facto, não o prova
também, é necessário que se prove com a certidão de casamento emitida.
Quanto á previsão do art. 574º, nº2, última parte “a admissão de factos instrumentais pode ser
afastada por prova posterior” – as partes podem alegar na petição e na contestação factos
instrumentais, se o reu não os impugnar consideram-se admitidos por acordo? Sim, mas a título
provisório, porque essa admissão pode ser afastada por prova posterior, enquanto que os factos
essenciais não impugnados se consideram admitidos por acordo em definitivo, porque é sobre estes
que recai um ónus de impugnação.
O que são factos instrumentais? São factos que não correspondem ao tipo legal, mas que se
verificando podem permitir ao tribunal através de um juízo típico da presunção judicial
firmar/assumir a realidade do correspondente facto essencial.
p.ex. numa ação de divorcio, em que é alegado a violação do direito de fidelidade, o qual
implica uma relação sexual com uma pessoa estranha ao casamento, na maior parte das
vezes não se consegue provar propriamente isso (a relação sexual em si), mas sim um
conjunto de outros factos (factos instrumentais) que preenchem o critério adultério (p.ex. o
cônjuge foi visto a jantar, passear, alojar-se num hotel com X) e estes factos em conjunto
levam o juiz a decidir sobre uma realidade de natureza essencial que permite afirmar que
houve adultério.
1. Contestação reconvenção
Porquê que a matéria da reconvenção nos aparece no art. 266º? Porque estamos no âmbito de artigos que
falam da modificação da instância, sejam elas subjetivas (sujeitos) ou objetivas (pedido, causa de pedir e
dedução de um pedido reconvencional)
Nos termos do art. 266º, nº1 o reu pode aproveitar a contestação para formular pedidos contra o autor, ou seja, o
reu (reconvinte) aproveita a contestação para fazer alem de se defender formular um pedido reconvencional contra
o autor (reconvindo), e como o reu poderia fazer isto numa ação proposta contra o autor (ou seja, podia deduzir o
pedido numa ação própria, separada – reconvenção facultativa, em regra) estamos perante uma ação cruzada com
a ação original, é o que chamamos de cruzamento de ações, temos a partir daqui tudo em duplicado, autor e reu
(originais) e autor e reu (reconvencionais). No entanto existem situações (raras) em que a escolha do reu se
restringe, na medida em que a sua pretensão deve ser feita por via reconvencional – reconvenção necessária.
Reconvenção facultativa não quer dizer livre, pois a reconvenção está sujeita á verificação de determinados
requisitos:
a. Requisitos objetivos da reconvenção – 266º, nº2
Estes requisitos respeitam á natureza da reconvenção, exigindo a lei que entre o pedido original e o pedido
reconvencional se verifique uma determinada conexão, uma certa afinidade. O nº2 do 266º, indica os casos
em que o reu pode deduzir pedidos contra o autor:
Alínea a) “quando o pedido do reu emerge do facto jurídico que serve de fundamento á ação ou á
defesa” – os fundamentos do reu na reconvenção têm de ter articulação com o que serviu como
fundamento á ação ou á própria defesa;
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p.ex. A intenta uma ação contra B alegando que ambos celebraram um contrato de compra
e venda de certa coisa e que B não pagou, B contesta e diz que já pagou o preço (defesa por
exceção perentória) e que alem disse pretende a entrega da coisa vendida (pedido
reconvencional), ou seja, o ct de compra e vende é o facto jurídico que serve de fundamento
á ação e o pedido do reu emerge desse facto, ou seja a entrega da coisa vendida.
Quando é que temos um pedido reconvencional? Quando o pedido formulado pelo reu
consiste numa verdadeira pretensão autónoma formulada contra o autor.
Alínea b) “quando o reu se propõe tornar efetivo o direito a benfeitorias ou despesas relativas á coisa
cuja entrega lhe é pedida” – aqui tem que existir um nexo entre a reconvenção e a ação original, se o
reu tiver de entregar a coisa é preciso ter em conta as benfeitorias, e a coisa não é entregue ate que
lhe sejam pagas as benfeitorias/despesas.
Alínea c) “quando o reu pretende o reconhecimento de um crédito, seja para obter a compensação
seja para obter o pagamento do valor em que o crédito invocado excede o do autor” – aqui o reu
demandado para o pagamento de certa quantia se afirma simultaneamente credor do autor e
pretende que o seu credito seja reconhecido na mesma ação, dependendo do seu valor do seu
contra crédito, pode o reu obter a: se o valor do contra crédito for igual ou inferior ao credito do
autor – compensação e a absolvição total ou parcial do pedido, se o valor exceder, alem da
absolvição total do pedido, pode ainda obter a condenação do autor no pagamento do excesso do
valor.
PROBLEMÁTICA DA COMPENSAÇAO – Enquanto as figuras do 837º e ss (dação em
cumprimento, consignação em deposito, compensação, novação, remissão e confusão) que
podem ser invocadas por exceção perentória, a obrigação extingue-se por circunstâncias
relativas á própria relação jurídica, na compensação temos 2 relações jurídicas distintas e a
lei permite que haja um encontro de contas e os créditos de ambos fiquem compensados, e
como é que se faz para obter esse encontro de contas? Antes existia duas correntes
doutrinárias, que defendiam que a compensação deveria ser invocada por:
Por via de exceção perentória, e no excedente por reconvenção – permitia ao reu
invocar o seu contra crédito em qualquer circunstância
Por via de pedido reconvencional, qualquer que fosse o valor – aqui o reu sujeita-se á
figura da reconvenção e às suas exigências
Em 2013, nesta alínea o legislador consagrou a corrente da reconvenção.
Alínea d) “Quando o pedido do reu tende a conseguir, em seu beneficio, o mesmo efeito jurídico que
o autor se propõe a obter” – p.ex. o autor propõe uma ação de reivindicação dizendo que o prédio é
seu, o reu contesta e diz que o prédio é seu e não do autor e que pretende exatamente o momento
efeito jurídico que este (ser reconhecida a propriedade);
a. Requisitos processuais da reconvenção – 266º, nº3 (questão da forma do processo); 93º (questão da
competência do tribunal)
Desde logo, se uma ação “normal e própria” é necessário respeitar todos os prossupostos processuais não
fazia sentido não se impor o mesmo á reconvenção, e por isso mesmo para esta ser admitida é necessária a
verificação de certos requisitos de ordem processual.
Competência do tribunal (art. 93º) – é necessário que o tribunal onde o processo está pendente
tenha competência para questões reconvencionais, e sera competente se for competente em razão
da nacionalidade, hierarquia e da matéria, ainda que não seja competente em razão do território ou
do valor.
p.ex. se está pendente uma ação num juízo de família e menores, não é admissível um
pedido reconvencional que traga como fundamento uma questão de foro laborar – o
tribunal não é competente em razão da matéria.
Quanto á competência em razão do valor, se eu tiver p.ex. uma açao no valor de 5 mil euros
intentada no juízo local cível, e a seguir tenho uma reconvenção no valor de 5 mil euros,em
principio o valor da açao acresce ao valor da reconvenção e a ação passa a ter o valor de 10
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mil euros, o tribunal continua a ser competente, mas se p.ex. a reconvenção é de 50 mil
euros e a ação passa a ter o valor de 55 mil euros, o juízo local cível deixa de ser competente
(nº2) – aqui estamos perante uma incompetência superveniente e não originaria, porque
surgiu após da ação.
Nota: o art. 299º diz que devemos atender ao momento em que a ação é proposta para
determinar o valor da causa, salvo quando haja reconvenção ou intervenção principal, nestes
casos o valor pode aumentar (nº1) , mas só existe a soma de valores quando o pedido
formulado pelo reu ou interveniente for relativamente distinto do pedido original (nº2), e
quando é que o pedido é distinto? As situações estão descritas no nº3.
p.ex. se temos uma ação de 5.000 e o reu invoca um crédito de 4.000, ele pretende que o seu
crédito seja reconhecido e haja um encontro de contas – a ação será de 9.000 (há uma soma
dos valores)
p.ex. se temos uma ação de 5.000 e o reu invoca um crédito de 7.000, pretende um encontro
de contas integral e quer o remanescente – aqui não há soma de valores, porque apenas de
pretende o encontro de contas e depois o que falta.
Forma do processo – O 266º, nº3 estabelece que não é admissível a reconvenção quando ao pedido
do reu corresponda uma forma de processo diferente (a forma do pedido original tem que ser a
mesma do pedido reconvencional) para que não haja perturbações á normal e previsível tramitação
do processo , salvo se o juiz entender que a diferença não é significativa, autorizar nos termos do
art. 37º, nº2 e 3 (matéria da coligação). No entanto o reu não fica privado de fazer valer os seus
direitos porque intentar uma ação própria.
Outras considerações quanto á reconvenção:
O reu pode formular pedido reconvencional ainda que não se defenda e independentemente do
modo como se defenda, a única exigência é que o reu conteste, isto é, o reu olha para a petição e
pensa que o autor tem inteira razão, por isso não há razão para se defender, mas no entanto, já que
tem oportunidade de contestar aproveita para formular um pedido reconvencional.
O reu pode formular um pedido reconvencional a título subsidiário , isto é, para ser atendida no caso
da açao proceder – p.ex. A intenta uma açao de despejo contra B, mas B (inquilino) realizou
benfeitorias no imóvel, e nunca fez valer esse direito mesmo sabendo que o tem, mas como A
intentou a açao, B vai fazer valer o seu direito e formula pedido reconvencional relativo ás
benfeitorias, no entanto esse pedido só vai ser considerado se a açao de despejo for julgada
procedente.
A reconvenção pode também envolver a intervenção de terceiros (266º, nº4), no caso do litisconsórcio
voluntario o juiz pode recusar a reconvenção quanto ao terceiro e esse será absolvido da instância
reconvencional (nº5), caso ainda não tiver sido citado nem se coloca a questão.
A improcedência da ação e a absolvição do reu não obstam á apreciação do pedido reconvencional, a
não ser que esteja dependente do pedido do autor (266º, nº6)
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Nota: a art. 572º, alínea c) exige o ónus do reu especificar separadamente as
exceções deduzidas, ou seja, as exceções têm de ser especificadas articuladamente,
tem que se separar umas exceções das outras, de maneira que o autor perceba o
que é defesa por impugnação e o que é defesa por exceção. Porquê que isto é assim?
Porque o art. 587º, nº1 “a falta de apresentação da replica ou a falta de impugnação
dos novos factos alegados pelo reu tem o efeito do art. 574”, ou seja, consideram-se
admitidos por acordo, e para que este ónus e a sua consequência possam funcionar,
a boa-fé processual impõe que o reu especifique separadamente as exceções
deduzidas, porque não era aceitável o reu beneficiar da falta de impugnação dos
factos porque o autor não se tinha apercebido de tal exceção.
o Os fundamentos da reconvenção que o reu deduza contra o autor
Quanto á reconvenção, o art. 583º, nº1 impõe que a reconvenção: deve ser
expressamente identificada e deduzida separadamente; deve o reconvinte expor os
factos essenciais que constituem a causa de pedir reconvencional e as razoes de
direito que servem fundamento á reconvenção.
Como é que o reu deve organizar todos os argumentos tanto quanto á defesa como á
reconvenção? A lei não diz nada quanto a isto, e por isso deve usar-se um critério de logica e de boa
arrumação processual – critério da funcionalidade dos argumentos, ou seja, se pensarmos na
função que casa argumento de defesa tem, por lógica há uns que devem estar antes de outros:
Entre a defesa e reconvenção, logicamente a defesa deve aparecer 1º, porque essa é
a principal função da contestação;
Dentro da defesa: pela lógica o reu deve apresentar 1º a defesa por exceção
dilatória (porque respeita a questões previas, e ao confirmar-se a ação cai e o juiz já
não vai conhecer do mérito da causa), e qual é a sequência das exceções dilatórias?
Há aqui um critério da boa arrumação das coisas, oriento-me pelas alíneas do art.
577º.
De seguida – defesa por impugnação – 1º impugnamos de facto (negação direta e só
depois a indireta) e depois impugnação de direito --- porquê? Porque aqui ele
contraria e na seguinte o reu já admite os factos apresentados pelo autor, mas lança
mão de novos factos.
Defesa por exceção perentória (1º impeditivas; 2º modificativas; 3º extintivas)
Se quiser passar ao ataque, passamos á reconvenção.
Conclusão – aqui o reu deve retirar as consequências de cada um dos argumentos feitos na
narração. O que deve o reu pedir:
A procedência das exceções dilatórias e a consequente absolvição do reu da instância
Impugnação - devo pedir que a ação seja julgada improcedente e a absolvição do reu
A procedência das exceções perentórias e consequentemente a absolvição do reu do pedido
A procedência da reconvenção e a condenação do autor reconvindo, ou no caso de um
contra crédito inferior, a compensação.
Elaborada a contestação, deve o reu indicar o seu requerimento probatório, os meios de prova de que
pretende fazer uso (alínea d)
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1. Prazo da contestação – 569º
A contestação é enviada para o processo traves da plataforma CITUS e o prazo para contestar é de 30 dias a
contar da citação (569º, nº1), esta é a regra. Quais são dos desvios?
Prazo dilatório – art. 245º
Com remissão para o art. 4º do DL 269/98 e art. 15º do NRAU pois nestas duas normas não há prazo dilatório,
só perentório!
“O réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da citação, começando o prazo a correr desde o
termo da dilação, quando a esta houver lugar”, ou seja, teoricamente temos 2 prazos, o perentório
que começa a contar a partir de que o dilatório termine (139º, nº2), mas na prática os 2 prazos
contam-se como um só porque podemos contestar desde o 1º dia que fomos citados para tal, só não
o podemos fazer quando o prazo perentório se extinguir (139º, nº3).
Quando é que há dilações? 245º
o alínea a) – A citação tenha sido realizada em pessoa diversa do citando (dilação de 5 dias)
Esta alínea nunca é aplicada a pessoas coletivas (223º, nº3) (estas pessoas não existem, é
uma ficção, será uma pessoa singular a assinar a receção), só a pessoas singulares – pessoal
o alínea b) – A citação seja realizada fora da área da comarca sede do tribunal onde pende a
ação (dilação de 5 dias)
p.ex. a ação está pendente no porto e o reu reside na maia – não há dilação de 5 dias
porque o município fica na mesma comarca
p.ex. a ação está pendente no porto e a carta é enviada para paredes – há dilação de
5 dias, porque paredes pertence á comarca de Porto- Este.
Nota: quanto às comarcas ir ao DL??
prazo dilatório
prazo perentório
o Nº2 – quando a ação está pendente ou a pessoa reside nas regiões autónomas (dilação de 15
dias)
p.ex. a ação está pendente em s.miguel e o reu reside no faial – há dilação de 15
dias, porque são ilhas diferentes.
o Nº3 – aqui temos 3 situações: (dilação de 30 dias)
Citação no estrangeiro
Citação edital (p.ex. a ultima morada de A conhecida é em Barcelona, mas
não o encontram lá, e há uma citação edital – a dilação é de 30 dias)
229º, nº5
o Nº4 – quais são as cumulações possíveis?
Alinea a) + alinea b) = 5+5
Alinea a) + nº2 = 5+15
Alinea a) + nº3 (só com a situação da citação no estrangeiro) = 5+30
Se não houver dilação o prazo é de 30 dias.
Quando há vários réus, se o prazo terminar em dias diferentes, podem apresentar a contestação até
ao termo do prazo que começou a correr em último lugar (nº2). O nº3 protege o reu que está citado
há mais tempo, porque pode dar na telha ao autor desistir da instância quanto ao outro reu e o 1º fica
exposto porque estava a contar com o outro prazo.
Se o Ministério publico representar o reu admite-se que aquele prazo seja prorrogado até ao máximo
de 30 dias, nos casos previstos no nº4
Quanto á aplicação do art. 569º temos que ter em conta a forma do processo:
Processo declarativo comum – aplica-se este artigo.
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Processo especial – o art. 569º é aplicado subsidiariamente, ou seja, o próprio processo especial
ordena a aplicabilidade deste, por força do art. 549º, se não for afastado pelas regras do processo
especial, aplicamos subsidiariamente este artigo.
Apresentada a contestação e não havendo ligar á sua recusa pela secretaria, é notificada ao autor (575º). Se o reu
não contestar – revelia.
Revelia do reu
Quando citado, o reu tem o direito de contestar mas não é bem uma opção (é um ónus de contestação)
porque não é indiferente fazer ou deixar de fazer. Se não contestar, o reu entra em revelia.
Classificação quanto ao modo:
Revelia absoluta – está prevista no art. 566º
Alem do reu não ter contestado, não intervém de qualquer modo no processo nem constitui
mandatário, o reu permanece em silencio absoluto. Incide sobre o juiz um especial dever (dever de
cuidado) de verificar se existe alguma irregularidade na citação, isto é, perceber se o silencio do reu é
normal ou se foi porque a citação não foi feita como deveria, para nos certificarmos que o reu tem
conhecimento do processo. Se houver alguma irregularidade repete-se a citação, e o reu é chamado
novamente para contestar caso queira, aguarda-se novamente pelo decurso do prazo, se mesmo assim
o reu não contestar, restará fixar os respetivos efeitos.
Revelia relativa – art. 566º á contrário sensu
Embora o reu não tenha contestado, constitui mandatário no processo ou intervém de algum modo na
ação, aqui não existe uma ausência total do reu.
A diferença entre ambas não tem nada que ver com a citação, mas sim com a atuação do reu no prazo de
contestação.
NOTA: A relevância dos atos a ser praticada nos autos, só tem relevância os que foram efetuados dentro do prazo
para contestar, e têm de ser atos processuais (144º), se não forem não tem relevância.
Classificação quanto ao efeito:
Revelia operante – está prevista no art. 567º
O reu tem o ónus de contestar a ação, se não o fizer os factos articulados pelo autor consideram-se
confessados, ou seja, a revelia sendo operante vai produzir efeitos desfavoráveis ao reu, por isso
mesmo é que uma das informações a transmitir ao reu quando é feita a citação é as consequências que
incorre em caso de revelia (227º, nº2 e 563º). Ou seja, isto quer dizer que o autor está dispensado da
prova desses factos.
Os pressupostos de aplicação do art. 567º são “(…) tendo sido ou devendo considerar-se citado
regularmente na sua própria pessoa ou tendo juntado procuração a mandatário judicial no prazo da
contestação (…)”, ou seja, é preciso questionarmos 3 coisas:
1º o réu foi citado pessoalmente? Se sim, aplicamos o artigo 567º
2º se não, foi citado por via edital e juntou a procuração e está dentro do prazo de
contestação? Se sim, aplicamos o art. 567º e a revelia é operante.
Qual é o raciocínio aqui? Não é normal que o reu não conteste e por isso o legislador protege-o,
fazendo com que a revelia á partida so possa ser operante se ele tiver praticado um ato que revele
que tem conhecimento do processo, o objetivo é o reu saber da existência do processo, saber que é
réu (esse ato não precisa de ser necessariamente a constituição de advogado).
O que significa ser citado regularmente na sua própria pessoa? Quem são os réus que são citados ou
devem considerar-se citadas na sua própria pessoa? – 225º, nº4, 228º, nº2, 230º, nº1 e 232º, nº6
(fazer remissão) – são todas as situações em que o reu foi citado pessoalmente ou devemos considerar
que foi, se a citação for frustrada ainda não houve situação e passamos para a citação edital.
Não tendo o reu contestado e considerando-se os factos alegados pelo autor resta o juiz decidir a causa
“conforme for de direito”, no entanto não quer isto dizer que conduz sem mais á procedência da ação
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(567º, nº2), isto é, há confissão dos factos, mas não de direito. Daí que se fale no efeito cominatório
semipleno associado á revelia operante, porque da operancia da revelia não resulta a procedência da
ação, a operancia só tem relevância do ponto de vista factual, não podemos afirmar que a procedência
da ação seja automática por isso, ou seja, a questão factual fica resolvida, mas a de direito não – encurta
o processo, porque apenas são necessárias as alegações de direito e não de facto
Revelia inoperante – está prevista no art. 568º
É aquela que apesar do reu não ter contestado, nem por isso os factos alegados pelo autor se
consideram confessados, e por isso o autor não está dispensado de os provar.
Existem 4 situações de inoperância da revelia:
Alínea a) a revelia não opera quando, havendo vários réus, algum deles contestar, relativamente aos
factos que o reu que contesta impugnar, ou seja, basta que um dos réus conteste para os factos que
por ele foram impugnados não sejam considerados como confessados relativamente a todos os réus,
para que não haja uma discrepância no processo, mas só apenas esses factos impugnados é que não
se consideram, os outros se não forem impugnados consideram-se como confessados (574º, nº2)
Alínea b) 1ª parte – a revelia é inoperante quando o reu ou algum dos réus seja incapaz e a causa
esteja no âmbito da sua incapacidade, ou seja, o demandado carece de capacidade jurídica para
aquela matéria; FAZER REMISSAO PARA O ART. 21º
p.ex. A intenta uma ação contra B que é menor de 15 anos, é incapaz e é representado pelos
seus pais, se estes não contestarem entra em revelia.
Nota: se os representantes não deduzirem oposição o menor pode ser representado pelo
MP (21º), se este mesmo assim não contestar, o incapaz está em revelia, mas essa será
inoperante, os factos não se vão considerar confessados
2ª parte – é também inoperante quando o réu ou algum dos réus tenha sido citado editalmente e
permaneça em revelia absoluta, isto é assim porque numa citação edital não existe certeza se o reu
tomou conhecimento efetivo da ação e a lei opta por não o sujeitar ao regime da revelia operando
(confissão dos factos não impugnados) – este é a única situação em que o modo determina o efeito,
ou seja, isto é, se a revelia for absoluta, a citação for edital o efeito será sempre inoperante, no
entanto esta cautela/proteção perde razão de ser quando for possível assumir que o reu tem
conhecimento efetivo da ação, ou seja quando a sua revelia for relativa
Alínea c) a revelia é inoperante quando a ação tenha por objeto relações jurídicas subtraídas ao
domínio da vontade das partes, são matérias de natureza indisponível p.ex. ações de divorcio, ações
relativas a direitos indisponíveis.
Alínea d) A revelia é inoperante quando estiver em causa factos para cuja prova exija documento
escrito – Esta tem uma amplitude menor que as outras alíneas. Aqui, a proteção reporta-se somente
aos factos que estão na PI cuja prova a lei exige documento escrito. Deste modo, os factos não se
consideram confessados.
Ex. 1. A vender um relógio por escritura publica a B, B não pagou, A intentou uma ação para
cobrar o pagamento e o reu não contesta.
Ex. 2. A vendeu a B um imóvel, B não pagou, A intenta uma ação e B não contesta.
Aplicamos este artigo nas duas situações? Não, porque na 1ª situação a lei não exige que
aquele negócio esteja sujeito a forma, por isso não há inoperância quanto a esta mas sim
quanto á 2ª situação, porque só é relevante se a lei exigir e não se as partes assim o
quiseram (364º CC), no entanto a inoperância não é quanto a tudo mas apenas aqueles
factos em que se exige a prova por documento.
Quais são as alterações na tramitação processual pela falta de contestação não gerar a confissão
dos factos alegados pelo autor:
Alínea a) aqui há sempre uma contestação, por isso a tramitação processual não sofre alterações.
Alínea b) e c) como não há contestação, também não haverá lugar á replica, e na fase intermedia do
processo não haverá audiência previa.
Alínea d) aqui pode acontecer que o juiz logo apos a falta de contestação, notifique o autor para
juntar o documento em falta, se juntar o juiz pronuncia-se sobre o mérito da causa, mas só depois do
reu exercer o contraditório, ou seja, pronunciar-se, se a revelia do reu se mantiver aplica-se o art.
567º.
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Quanto aos efeitos da revelia, o facto da revelia ser absoluta ou relativa não determina que a sua operância ou
inoperância, isto é, podemos ter uma revelia absoluta e o seu efeito ser operante, assim como uma revelia relativa
pode ser inoperante – o modo nunca condiciona o efeito, com exceção de uma única situação – art. 568º, alínea b)
Citação pessoal:
Revelia absoluta – em princípio será operante (567º), salvo se for aplicável alguma das exceções do 568º (inoperante)
Revelia relativa – em princípio será operante (567º), salvo se for aplicável alguma das exceções do 568º (inoperante)
Citação edital:
Revelia absoluta – em princípio é operante, salvo nos termos do art. 568º, alínea b) em que é a única situação que o
efeito é inoperante.
Revelia relativa – em princípio será operante (567º), salvo se for aplicável alguma das exceções do 568º (inoperante)
NOTA: se tivermos uma cumulação de pedidos fundada em relações jurídicas distintas é totalmente possível
termos dois tipos de revelia distintas:
p.ex. A e B prometeram vender um relógio a C (negócio 1), e alem disso prometeram vender um imóvel
(negócio 2), mas não venderam nenhum – quanto ao facto 1 é operante, quanto ao facto 2 é inoperante
porque é exigível documento e não existe.
p.ex. A vendeu a B uma coisa, e B não pagou, B é casado com C, no entanto se não se conseguir provar por
documento (certidão de casamento) há inoperância quanto a esse facto, mas não quanto a todos, quanto ao
facto que B não pagou é operante, não exige documento.
Quanto ás alegações, o juiz só pode decidir seja do que for, quando primeiro proporcionar ás partes o direito de se
pronunciarem sobre o que vai ser decidido (exercerem o contraditório) – 604º, nº3 alínea e).
Remeter do artigo 21º para o artigo 568º
Replica – 584º
Entrada a contestação no processo e notificada ao autor, cabe ao autor ponderar a eventual apresentação da
replica, mas esta só pode ter lugar em 2 situações:
1. Quando o reu haja formulado pedido reconvencional na contestação, servindo a réplica para o
autor deduzir toda a sua defesa quanto á matéria da reconvenção (584º, nº1), se não o fizer gera o
efeito do 574º, tais factos consideram-se admitidos por acordo (587º, nº1), a lei não lhe aplica o
critério do 567º.
2. Quando se trate de uma ação de simples apreciação negativa, servindo para o autor “impugnar os
factos constitutivos que o reu tenha alegado e para alegar os factos impeditivos ou extintivos do
direito invocado pelo reu” (584º, nº2) – aqui a replica serve para o autor impugnar os factos
constitutivos que o reu tinha alegado, é como se fosse uma contestação.
Com o novo CPC de 2013, quando o reu se defenda por exceção ou se limite á defesa por impugnação, não há
replica, no entanto quando o reu se defende por exceção, fica assegurado ao autor o exercício do contraditório
quando aos factos novos (3º, nº4).
O prazo de apresentação da réplica é de 30 dias, a contar da notificação da contestação (585º).
Quanto á estrutura da réplica, é semelhante aos articulados anteriores (endereço, introito, narração e conclusão),
valendo aqui tudo o que foi dito antes.
O autor que não apresente réplica por se defender da reconvenção estará à partida em revelia, mas é uma revelia
diferente da do reu que não apresente contestação.
Articulados supervenientes – 588º e 589º
Por regra é na petição inicial que o autor alega os factos constitutivos do seu direito, competindo ao reu alegar os
factos impeditivos, modificativos ou extintivos desse direito na contestação. No entanto, pode acontecer que esses
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factos, tanto constitutivos, como impeditivos, modificativos ou extintivos se conheçam ou surjam apos a entrada da
petição inicial ou contestação – são os factos supervenientes.
O art. 611º, nº1 diz que a sentença deve tomar em consideração os factos constitutivos, modificativos ou extintivos
do direito que se produzam posteriormente á instauração da ação, como é que se faz isto? Através dos articulados
supervenientes.
Se esses factos supervenientes ainda estiverem a tempo de ser apresentados na réplica é lá que o fazem (588º, nº1),
se não a alegação esse facto faz-se em novo articulado nos termos do art. 588º, nº3.
O articulado superveniente está sujeito a despacho liminar, podendo ser rejeitado pelo juiz (588º, nº4, 1ª parte), se
for recebido é notificada a parte contraria para exercer o contraditório.
Remissão 587.º- 592.º n.º 1 b)
FASE INTERMÉDIA
Feito os articulados, ou seja, terminada a fase inicial do processo, passamos para a 2ª etapa da ação, a fase
intermédia. Esta fase visa a verificação da regularidade da instância, caso seja detetada alguma irregularidade
suscetível de sanação promove-se ao suprimento da mesma, se for insanável, o processo termina nesta fase, salvo
se a persistência da irregularidade não implicar esse desfecho, p.ex. a falta de constituição de advogado por parte do
reu, este vicio não se repercute na instância, mas sim na defesa, esta fica sem efeito (41º).
Quando a instância se demonstrar regularizada, o mérito da causa irá ser apreciado, e pode ser feito nesta fase do
processo caso haja condições para tal, ou seja, se o processo fornecer todos os elementos necessários á decisão,
caso não forneça, a ação prossegue e esta fase destina-se á preparação da tramitação da fase final.
O despacho pré-saneador existe quando é necessário, não existe sempre, ele serve para verificar e providenciar pela
regularização da instancia.
Despacho pré-saneador – 590º
Em princípio o 1º contacto do juiz com o processo só ocorre depois de apresentados os articulados, salvo nos casos
em que haja lugar a intervenção liminar do juiz (590º, nº1). O juiz vai analisar os autos, os articulados, e daí pode
resultar a prolação de um despacho pré-saneador.
1. Casos de prolação do despacho pré-saneador
a. Suprimento da falta de pressupostos processuais ou de exceções dilatórias
590º nº2, alínea a) o juiz deve tomar as diligencias necessárias no sentido da sanação caso alguma
exceção ocorra e essa seja sanável. Na maior parte das vezes a violação de pressupostos processuais
gera exceções dilatórias, mas não é assim sempre, como acontece quando é obrigatória a
constituição de advogado e o reu não constitui.
Quanto ao art. 6º, nº2 as diligencias que o juiz deve tomar em sede do despacho pré-saneador
pode ter uma dupla natureza: o juiz deve realizar os atos necessário á regularização da instância, no
entanto quando essa regularização não possa ser alcançada diretamente pelo juiz, deve o juiz
advertir ás partes da prática de determinado ato visando a regularização.
O intuito legislativo deste artigo é de garantir condições para que o processo evolua e que venha a
ser proferida uma decisão de mérito, e que não fique condicionado por motivos de carater
processual, e por isso é que se trata de um verdadeiro poder-dever do juiz atuar, de proferir o
despacho quando o deva fazer, o juiz só pode descartar quando verifique que não há violação de
pressupostos processuais ou a ocorrência de exceções dilatórias, e de seguida proferir o despacho
saneador (595º) no qual declara tal violação ou exceção fixando as respetivas consequências
processuais (em regra, absolvição da instancia – 278º, nº1) – a omissão desse despacho gera
nulidade processual (195º) traduzida na omissão de um ato que o juiz devia praticar e não o fez,
essa nulidade está submetida ao regime dos arts. 197º e 199º. Quando é que esta nulidade pode
ser suscitada? Em que situações?
Se a parte violou um pressuposto processual por descuido ou errada interpretação da lei, se
não for advertida vai continuar a agir assim, por isso é necessário que o juiz profira o
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despacho pré-saneador. A parte vai continuar sem noção da falta que cometeu, pela não
advertência do juiz, e provavelmente vai continuar até que com o desenrolar do processo
lhe permita tomar consciência, existem 2 situações que isso sucede com maior
probabilidade: 1. Quando a parte for convocada para audiência prévia, e o objeto seja a
discussão da falta de um pressuposto processual ou uma exceção dilatória (591º, nº1 b),
sendo o vicio suprível, o juiz deveria ter providenciado o seu suprimento (590º, nº2 a) e 6º,
nº2), não o tendo feito, ocorre um nulidade (195º) por omissão de formalidade prescrita na
lei. A parte é notificada do despacho que convoca a audiência previa (199º, nº1) e
apercebe-se dessa nulidade, e tem 10 dias para a respetiva arguição (149º); 2. Quando não
haja lugar á audiência previa, essa perceção da nulidade ocorrerá quando a parte for
notificada do despacho saneador (595º, nº1 a) no qual o juiz tenha declarado essa violação
ou exceção e definido as correspondentes consequências, só então a parte está em
condições de arguir a nulidade, no prazo de 10 dias (149º) a contar da notificação do
despacho saneador (199º, nº1)
Em ambos os casos, tendo a parte arguido a nulidade e ouvida, terá por efeito a prolação do
despacho pré-saneador omitido, e o processo retoma o seu caminho normal.
A prolação do despacho pré-saneador para os efeitos do art. 590º, nº2 a) devera ter lugar mesmo
quando o reu se encontre em regime de revelia operante, ou seja, no momento em que se assumir
formalmente a operancia da revelia e se fixe os seus efeitos, o juiz deve começar por verificar a
regularidade da instancia, se detetar a violação de um pressuposto ou um exceção dilatória, e o seu
vicio for sanável, deve dar cumprimento ao disposto neste artigo e no art. 6º, nº2 e proferir o
despacho pré-saneador advertindo as partes, e só depois disto é que a sentença será proferida
(567º, nº2), a decisão só ira versar sobre o mérito da causa se o vicio estiver sanado, caso contrario,
o reu revel será absolvido da instancia.
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Quanto aos documentos essenciais, existe uma barreira a do 590º, nº3 em que não
permite que um processo passe para alem da fase intermédia, sem termos a certeza
de realidades que só seriam provadas por aquele documento essencial.
Documentos de que a lei faça depender a procedência da causa : em rigor, nos
dias de hoje esta norma não tem conteúdo, porque se o autor não registou a
ação, o juiz pode oficiosamente providenciar o registo, ou se o autor registou e
se esqueceu de juntar o documento comprovativo do registo, o juiz pergunta se
já fez ou não.
A prolação de despacho pré-saneador nos termos do 590º, nº3 devera ter lugar mesmo
quando o reu se encontre em regime de revelia operante, a partir daí a sequencia
processual será uma ou outra dependendo da irregularidade ter sido suprida ou não, se sim,
será firmada nos autos a operancia da revelia (567º, nº2).
Não cabe recurso do despacho pré-saneador (590º, nº7), porque se considera que este
despacho tem carater provisório, só cabe recurso do despacho saneador.
Quanto às consequências depende da situação em concreto, da natureza da irregularidade e do efeito que a
mesma tenha na lide, porem, considerando a diferente posição que as partes têm no processo é natural que
a persistência de irregularidades imputáveis:
Ao autor – tenha efeitos na instância
Ao reu – tenha efeitos somente na vertente defensional
Vamos elencar algumas possíveis consequências:
o Petição inicial (inobservância dos requisitos legais) – leva a que a instância seja
extinta, devendo ser proferido despacho nesse sentido (277º, a)
o Petição inicial (falta de documento essencial para a prova de um facto deduzido pelo
autor) – improcedência da pretensão
o Falta de documento que garanta o prosseguimento da causa – já causa fica suspensa
276º, nº1 d), com a possibilidade de mais tarde a instância se extinguir (277º d) e
281º, nº1)
o Suponhamos que o réu formula um pedido reconvencional e não cumpre o artigo
583.º que manda separar a reconvenção da defesa e na reconvenção não se
observarem as exigências do artigo 552.º. se o reu não fizer isto, mais uma vez o juiz
no despacho pré-saneador vai convidar ao aperfeiçoamento, e se não o fizer o que
acontece é que somente fica prejudicado o que diz respeito à parte da reconvenção,
não ficando prejudicado todo o processo.
o Se por exemplo o réu se defender por exceção e por impugnação, e não separar, só
será considerado o que for em matéria de impugnação, se o juiz convidar ao
aperfeiçoamento e o réu recusar.
a. Aperfeiçoamento fáctico dos articulados
590º, nº4 – o que está aqui em causa são questões do conteúdo material dos articulados,
ou seja, servindo o despacho para convidara as partes a suprirem insuficiências ou
imprecisões na matéria de facto vertida nos articulados, fixando-se um prazo para tal,
visando assim uma melhor definição dos factos. De acordo com o art. 5º, nº1 relativamente
ao ónus de alegação que incumbe às partes, em cumprimento desse ónus é necessário que
a exposição dos factos corresponda o mais possível á situação rela vivida, para que se evite
ter dois quadros fácticos que não coincidem para que a sentença final seja conforme a
realidade. Os articulados podem ser imperfeitos por duas razoes:
o São articulados facticamente insuficientes – os factos apresentados são
incompletos, insuficientes e nessa situação o juiz profere o despacho de convite ao
aperfeiçoamento dos articulados, pois no seu entender a parte omitiu factos
essenciais que era suposto ter articulado na sua alegação.
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o São articulados facticamente imprecisos – quando a alegação dos factos não é clara
e precisa ou incoerente
0 590º, nº4 não permite apresentar um novo quadro fáctico, permite aperfeiçoar dentro daquelas
balizas da causa de pedir e esses factos alegados têm que compor essa causa de pedir, ou seja,
quando apesar da insuficiência da alegação, for possível identificar a causa de pedir, justifica-se o
convite para o aperfeiçoamento, de modo a completar a sua alegação, fazendo chegar ao processo os
factos omitidos que era suposto ter alegado, quando existir falta da causa de pedir a petição inicial será
inepta, o mesmo se aplica ás exceções deduzidas pelo reu.
A intervenção do juiz, proferindo o despacho de convite ao aperfeiçoamento dos articulados, está
sempre balizada pela matriz fáctica definida pelas partes, nas suas alegações originais, o que está em
jogo é só completar ou corrigir o quadro fáctico vertido nos autos, e não ampliar, alterar ou substituir
tal quadro, isto é o autor não pode sair da causa de pedir por si invocada, assim como o reu não pode
lançar mão de novas exceções, ao abrigo desse aperfeiçoamento, porque tal como a palavra indica é um
aperfeiçoamento, e serve para arranjar, aperfeiçoar.
O nº5 e 6 do art. 590º definem os parâmetros em que o aperfeiçoamento pode desenrolar-se. O nº5
proporciona o exercício do contraditório ao réu.
O nº7 consagra que o despacho proferido nos termos do nº4 não é passível de recurso.
Caso as partes não queiram acatar este convite de aperfeiçoamento, não haver nenhuma
consequência desfavorável, nem se aplicará nenhuma sanção, tudo o que possa vir a suceder dessas
imperfeiçoes ficarão reservadas para o despacho saneador.
O art. 590º, nº4 também se aplica nos casos de revelia operante, pois pode suceder que a alegação
fáctica contida na petição inicial revele imperfeiçoes que levem a que a matéria dada como confessada
não chegue para que a ação proceda, e assim o autor deve ajustar e aperfeiçoar essa alegação dos
factos.
O regime da revelia não afasta a hipótese de aplicação do despacho pré-saneador para sanação de
vícios processuais.
Se o juiz não proferir este despacho nos termos do nº4 do art. 590º, configura a omissão de um ato
que a lei prescreve, e estaremos perante uma nulidade processual submetida ao regime do art. 195º
a. Determinação da junção de documentos
Mais uma vez está em causa a preocupação de evitar que por meras razoes documentais, se deixe
para a sentença a decisão de matérias que o juiz poderia conhecer já na fase intermedia.
Audiência prévia – 591º
A marcação da audiência e feita por meio de despacho, o qual deve indicar concretamente o seu objeto e
finalidade (nº2), isto porque o diálogo na audiência só será proveitoso se as partes souberem o que vai acontecer, e
para isso devem ser informados pelo despacho que marca a audiência, isto é, se o pretendido for a conciliação das
partes o juiz deve referir isso no despacho, etc.
Quando é que o juiz convoca audiência prévia? Quando o nº1 refere “concluídas as diligencias, se a elas houver
lugar” fala do despacho pré-saneador, este só há se houver motivo para isso, caso não haja, o juiz convoca audiência
previa para se realizar nos 30 dias subsequências ao final dos articulados.
A audiência prévia, é uma audiência no sentido de que implica a participação do juiz e dos advogados das partes que
decorre oralmente e fisicamente, e é prévia, porque antecede a outra que é a audiência final.
O legislador nada diz acerca da obrigatoriedade da audiência previa, a técnica utilizada é que no 591º o legislador
diz as finalidades que a audiência previa pode cumprir, mas no 592º tomou posição ao dizer que há 2 casos em que
não há audiência prévia:
Quando a lei assim o estabeleça nos casos indicados no art. 592º
Quando o juiz dispense a realização da audiência ao abrigo do art. 593º, nº1
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Ou seja, em princípio há audiência previa, a não ser que seja um dos casos do 592º ou que o juiz a dispense nos
termos do 593º, nº1, mas neste caso, as partes podem impor a realização da audiência (593º, nº3) – é aquilo que se
chama de audiência potestativa.
Finalidades da audiência prévia
Quando estamos nesta fase do processo a finalidade típica é o termo do processo, caso não termine por aqui o
processo, destina-se a preparar o andamento futuro do processo, o que vem adiante.
O legislador refere as finalidades da audiência previa por alíneas, seguindo um critério de lógica, mas nem
todas se cumprem, temos de verificar processo a processo, pois nos termos do art. 137º está proibida a prática
de atos inúteis.
a. Tentativa de conciliação das partes – alínea a)
Só se pode tentar a conciliação se a matéria for disponível, e não é só na audiência previa, o juiz pode tentar
em qualquer estado do processo. No entanto, as partes não podem ser convocadas para a conciliação mais
do que uma vez, isto para evitar abusos por parte do juiz.
No entanto as partes podem ainda fazer acordo no início da audiência final – 604º (atos a praticas na
audiência final).
Devemos ter atenção que as partes devem justificar o porquê de não quererem a conciliação, não que seja
uma justificação rigorosa, mas pelo menos plausível, não pode ser p.ex. porque que fazer a outra pessoa
sofrer e pagar mais pelo processo.
b. Facultar às partes a discussão de facto e de direito sobre questões a decidir no despacho saneador –
alínea b)
Em condições normais o juiz decide na sentença (audiência final), no entanto o juiz pode convocar a
audiência previa com a finalidade de proporcionar ás partes o exercício do contraditório e assim produzir
alegações sobre assuntos que o juiz em seguida vai decidir, no despacho saneador 595º, ou seja, há aqui
uma antecipação do processo que em condições normais teria lugar mais á frente na audiência final.
Podemos enunciar 3 situações em que deve ser convocada audiência previa par aos fins desta alínea:
o Quando o juiz pretenda apreciar uma exceção dilatória de conhecimento oficioso que não
tenha sido suscitada e discutida pelas partes nos articulados – evita-se que as partes sejam
confrontadas com uma decisão que não esperariam, cumprindo-se o 3º, nº3
o Quando se trate de uma exceção dilatória que uma parte tenha invocado naquele que era o
último articulado admitido no processo – respeitando-se o contraditório, ao proporcionar-se
á outra parte a resposta á exceção (3º, nº4)
o Quando o juiz entenda que embora a exceção tenha sido discutida nos articulados, se
justifica um aprofundamento dessa discussão – para melhor habilitar o juiz a decidir a
questão
Se não houver nenhum assunto que o juiz projete decidir no despacho saneador, não há razão para ter lugar
a audiência previa.
A convocação das partes para a audiência previa nos termos desta alínea, impede que as partes venham a
ser confrontadas com uma decisão que não estavam á espera, uma decisão-surpresa, porque o juiz não pode
decidir nenhuma questão sem antes ouvir as partes (3º, nº3); cumprindo-se ainda o contraditório á luz do
art. 3º, nº4, permitindo á parte contraria responder na audiência previa ás exceções deduzidas no ultimo
articulado admissível.
a. Discutir as posições das partes, com vista á delimitação dos termos do litígio e suprir as insuficiências ou
imprecisões na exposição da matéria de facto – alínea c)
Quanto á delimitação dos termos do litígio o que está em causa é a possibilidade do juiz entender por bem
que haja uma discussão de modo a que, do confronto de posições se clarifique ou se determine com rigor o
que cada uma das partes pretende.
Quanto á convocação da audiência previa para o aperfeiçoamento da exposição da matéria de facto, esta
alínea deve ser conjugada com o art. 590º, nº4 (mas esta alínea noa é alternativa a este artigo, é um 2º
momento de aperfeiçoamento), pois se o juiz tiver constatado as imperfeiçoes dos articulados já terá
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proferido despacho pré saneador, convidando as partes ao aperfeiçoamento, se o fizeram e supriram as
imperfeiçoes o problema fica encerrado, se mesmo assim não supriram as imperfeiçoes todas, podem ser
convocadas para a audiência previa para colmatar as imperfeiçoes que subsistam, mas se as partes não
aceitaram o convite, não fará sentido convoca-las para uma audiência previa. Ou seja, quando a lei diz
“insuficiências ou imprecisões que ainda subsistam”, só se pode dizer que ainda subsiste se anteriormente
tivermos feito algo para tentar suprir essa deficiência.
“ou que se tornem patentes na sequência do debate” – ou seja, é na sequência do próprio debate que a
questão se coloca.
b. Proferir despacho saneador – alínea d)
O juiz vai decidir sobre 2 tipos de assuntos, os que estão na alínea a) e b) do 595º: 1º vai verificar se está
tudo em ordem no que toca a questões processuais – alínea a) (há exceções dilatórias? Os pressupostos
estão todos respeitado?) se concluir que está tudo em ordem, o processo continua, se não, absolve o reu da
instância. Quando a aliena a) estiver cumprida, sem que haja absolvição do reu da instância, segue-se par a
alínea b) e o juiz vai dizer se está ou não em condições de decidir imediatamente sobre o mérito da causa,
se estiver, o processo fica por ali, se não, o processo vai avançar para as fases seguintes, vai preparar-se o
que vem a seguir
As alienas seguintes só fazem sentido quando o processo não termina neste momento processual. Sempre que o
processo prossiga há duas alíneas que são sempre de cumprimento obrigatório – alínea f) e g)
c. Determinar a adequação formal, a simplificação ou a agilização processual – alínea e)
d. Proferir despacho destinado a identificar o objeto do litígio e a enunciar os temas da prova – alínea f)
e. Programar os atos a realizar na audiência final, estabelecer o número de sessões e a sua provável duração
e designar as respetivas datas - alínea g)
Implica desde logo um acordo de agendas, de modo que as datas designadas sejam da conveniência de
todos e de modo que fiquem vinculados, o que diminui os casos em que a audiência final é adiável (603º), e
também evita o desperdício de tempo e incomodo estabelecendo um grau mínimo de previsibilidade de
quem deve ser ouvido em cada sessão e por quanto tempo.
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593º, nº2 – não vai haver audiência previa (porque foi dispensada) mas o processo vai avançar e o juiz tem de
proferir 4 despachos (alienas a), b), c) e d), mas em bom rigor, só tem de garantir 3 despachos, porque o da alínea b)
depende de cada caso, os outros são obrigatórios.
Olhando para os despachos, os advogados das partes devem pensar se estão ou não de acordo com as opções que o
juiz tomou, se nada disserem significa que concordam e ficam vinculados, não há audiência previa, no caso de
reclamarem, deverão requerer audiência previa no prazo de 10 dias a contar da notificação dos despachos para
poderem apresentar na audiência previa a reclamação (593º, nº3) – audiência previa potestativa
Despacho saneador – 595º
Este despacho é proferido em todas as ações de processo comum, com exceção dos casos de existência de revelia
operante (567º) e nas ações de valor não superior a metade da alçada da relação (597º).
Quais são as suas finalidades? São 2:
Alínea a) Tanto se destina a decidir questões de índole processual (ocorrência de exceções dilatórias) – é
feta uma triagem com vista a detetar eventuais irregularidades da instância, se o processo não terminar aí, é
porque em princípio estão reunidas as condições para que o processo siga
Alínea b) como a apreciar o mérito da causa (julgar o pedido procedente ou improcedente) – este é menos
frequente, acontece quando o processo permite que seja já decidido sobre o mérito da causa, não sendo
necessário aguardar até á sentença – é o que se pode chamar de julgamento antecipado da lide, tendo para
todos os efeito o valor de uma sentença (nº3)
CONHECIMENTO DE QUESTOES PROCESSUAIS – alínea a)
Esta é a função primordial do despacho saneador, visa evitar que o processo avance sem que todos os aspetos
formais se encontrem regulares, pois certas irregularidades podem afetar todo o processo e impedir o juiz de
conhecer o mérito da causa, é o que acontece com a maioria das exceções dilatórias, e é por isso que antes de
avançar para outra fase é importante verificar a regularidade da instancia, se isso não se verificar o processo termina
aí.
O juiz deve tomar como referência a procedência logica consagrada no art. 608º, nº1 acerca das exceções dilatórias.
O art. 595º, nº1 a) deve ser harmonizado com o despacho pré-saneador, pois uma vez tendo sido esse proferido fica
reservado para o despacho saneador a apreciação daquilo que decorrer.
Chegado o momento de proferir o despacho saneador, o juiz deve proceder á verificação da regularidade da
instância, e verificar se existem exceções dilatórias ou se estão respeitados os prossupostos processuais, se estiver
tudo certo o juiz vai declarar isso mesmo no despacho. Ou seja, não tendo sido invocada qualquer exceção dilatória,
nem sendo caso do seu conhecimento oficioso, e os pressupostos processuais se mostrem respeitados, o juiz ira
declarar isso mesmo no despacho, apesar da lei nada dizer quando á sua afirmação pela positiva, deve-o fazer.
Caso tenha sido arguida ou detetada oficiosamente uma exceção dilatória:
caso o juiz entenda que não deve proceder é isso que será declarado no despacho;
caso seja suscetível de proceder, e sendo o vicio sanável, o juiz deverá ter começado por proferir
despacho pré-saneador (590º, nº2 a) e 6º, nº2),
o se o vicio tiver sido sanado, o despacho saneador devera dar conta das medidas tomadas
para o efeito e concluir pela improcedência da exceção;
o se não tiver sido sanado, o despacho saneador deverá julgar procedente a exceção com as
consequências inerentes ao vicio da causa;
sendo uma exceção dilatória insuprível, o juiz fixa as consequências da procedência dessa exceção
no despacho saneador
Quais são as consequências da procedência/persistência de uma exceção dilatória? Abstenção do
conhecimento do mérito da causa e conduz á absolvição do reu da instância (278º, nº1)
Quando a apreciação das exceções dilatórias não conduzir á extinção da instância, deverá o juiz passar ao
conhecimento das nulidades processuais.
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Geralmente as nulidades processuais ocorrem quando não são observadas as formalidades
prescritas na lei, quando assim acontece, o juiz no despacho saneador vai verificar quais foram as
irregularidades cometidas e determina a gravidade dessas mesmas e se causaram prejuízos ao
processo, e se for caso disso, decreta a invalidade do ato viciados (195º, nº1 e nº2).
Exemplos de algumas nulidades tipificadas na lei:
o ineptidão da petição (186º) – exceção dilatória
o falta de citação (187º e 188º) – é sanável nos termos do 189º; é de conhecimento oficioso
(196º), seja como for, só se tomara em atenção a irregularidade quando daí puder resultar
prejuízo para a defesa do citado (191º, nº4)
o nulidade da citação, está feita, mas não verificou as formalidades previstas na lei (198º),
p.ex. na carta diz que o reu só tem 20 dias para contestar, mas tem 30, a citação é nula.
o erro na forma do processo (193º) – é de conhecimento oficioso (196º)
A regra é que o juiz só conhecerá as nulidades, quando estas forem arguidas, se não forem
arguidas consideram-se sanadas (196º)
Não se confunde as nulidades processuais com as nulidades da decisão ou da sentença (615º), das decisões recorre-
se enquanto das nulidades reclama-se.
O nº3, diz-nos que o despacho saneador proferido sobre as matérias da alínea a) “constitui, logo que transite, caso
julgado formal quanto às questões concretamente apreciadas”
CONHECIMENTO DO MÉRITO DA CAUSA – alínea b)
Cumprida a alínea a) e concluindo que não há fatores impeditivos do conhecimento do mérito da causa, o juiz vai
ponderar sobre a hipótese da alínea b), do conhecimento imediato do mérito da causa, ponderar se tal decisão pode
ser proferida já no despacho saneador, ou se é necessário continuar por não haver elementos necessários que
permitam por já termo ao litigio – isto não é regra acontecer, porque o normal é que ainda falte provas para
convencer o juiz de determinada decisão que ira tomar da audiência final.
Identificação do objeto do litígio e enunciação
No regime anterior que vigorava no CPC as partes é que tinham de fazer prova dos factos, na medida que o juiz
só tomava em consideração esses factos alegados e provados pelas partes e mais nenhuns, sendo a atuação do
juiz somente passiva.
O regime consagrado no nº1 do art. 596º: consagra que devendo a ação prosseguir (se não prosseguir e
terminar por ali não faz sentido falar disto), será proferido, após debate (este debate permitirá aos advogados e
ao juiz ganharem consciência do que deve ser ou não objeto da instrução), despacho destinado a identificar o
objeto do litígio e a anunciar os temas da prova.
Objeto do litígio – é definido pelos pedidos formulados pelo autor ou pelo reu se houver reconvenção.
1º é feita a identificação do objeto do litígio para sabermos o que está realmente em jogo na açao, e
depois é que se faz a enunciação dos temas da prova.
Temas da prova – 596º, o processo agora só vai terminar na sentença, e, portanto, vamos ter produção
de prova, porque se os factos já estivessem todos esclarecidos o juiz decidia pelo mérito da causa no
despacho saneador (595º, nº1 b).
Quais são as regras que as enunciações dos temas da prova deverão cumprir? No novo regime do CPC as regras
já não são tao precisas e formais, sendo que as enunciações dos temas da prova deverão ser balizadas somente
pelos limites que decorrem da causa de pedir das exceções invocadas, ou seja, os temas da prova são aqueles
que os exatos termos da lide justifiquem.
Qual é a função da prova? 341º CC, a demonstração da realidade dos factos. Para que o tribunal fique convicto
acerca daquele facto, dependendo da ação em causa, o grau de perfeição com os temas da prova varia.
O que marca os limites dos temas da prova:
• Causa de pedir
• Exceções
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Exemplo 1: num acidente de viação, poderá ser tema da prova a velocidade, sinalização existente no local, os
estragos, lesões, etc.
Alteração do requerimento probatório ou do rol de testemunhas – art. 598º
Ver aulas praticas e pag 340 – 346 livro
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