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Direito Processual Civil – Teóricas 2º Semestre

Semana 3 – 26.02 a 01.03


Nota: Para a generalidade dos casos se durante a ação é corrigido o valor da causa, a solução
mais simples será a aplicação do regime do art. 310º CC. Se o valor da causa for reduzido o
tribunal competente pode manter a competência. Se o valor for aumentado e o tribunal perder a
competência de acordo com art. 310º nº1 CPC o processo é remetido oficiosamente para o
tribunal competente.
Despacho liminar
O despacho liminar, via de regra, não tem lugar na ação declarativa. Só terá nos casos
especialmente previstos na lei. Eventualmente, pode ser determinado pelo juiz que a secretaria
apresente despacho liminar em certa situações em que suspeite da viabilidade da ação.
A petição inicial, sendo apresentada ao tribunal, pode ser objeto de despacho liminar.
O juiz apreciando da petição inicial pode tomar as seguintes decisões:
1. Caso conclua que da petição inicial não resulta nenhuma irregularidade deverá
determinar a prossecução da ação. Qual ao to subsequente da ação? Quando o despacho
liminar tem um conteúdo positivo o juiz ordena a citação do réu (art. 226º nº4 CPC e
290º nº1 CPC a contrário). O despacho da citação, uma vez que, é proferido sem
audição prévia do réu, não tem qualquer valor de caso julgado em relação a questões
que nele sejam apreciadas.
2. Caso exista manifesta inadmissibilidade ou improcedência da ação – se o juiz,
perante o despacho liminar, se apercebe de uma existência de uma exceção dilatória
insanável, isto é, se apercebe da total inutilidade daquela concreta ação não havendo,
portanto, que praticar atos posteriores à ação ou se o juiz imediatamente conclui pela
total improcedência da ação a partir do que for alegado pelo autor, então poderá
liminarmente indeferir a petição inicial.
Neste caso, a ação termina definitivamente neste momento. Uma vez indeferida a
petição inicial poderá, todavia, o autor apresentar uma nova petição inicial dando
origem a uma nova ação, nos termos do art. 560º CPC.
Nota: Quando o juiz ordena a citação do réu – a ação prossegue; quando o juiz ordena o
indeferimento – a ação não prossegue.
O indeferimento liminar pode ser parcial, por exemplo no caso de cumulação de pedidos. (ex.:
O autor faz cumulação de pedidos, o pedido A e o pedido B. Apenas o pedido B é indeferido =
indeferimento parcial).
Embora estes sejam os dois únicos desfechos possíveis do despacho liminar, é possível que,
provisoriamente, seja tomada uma diferente decisão. Tal ocorre quando o juiz se aperceba da
falta de um pressuposto processual sanável ou de uma imperfeição da petição inicial passível de
regularização.
Em qualquer um destes casos, o juiz, em lugar de indeferir liminarmente a petição inicial,
deverá convidar o autor a sanar um eventual pressuposto processual em falta ou a aperfeiçoar a
petição inicial naquilo que convenha.
Correção de pressuposto processual sanável
Não estando verificado um determinado pressuposto processual o juiz convida a sanação nos
termos do art 6º nº2 CPC.

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Se o autor regularizar no prazo devido, o tribunal ordena a citação do réu. Se, pelo contrário, o
autor não o fizer, o tribunal indefere a petição inicial.
Caso muito parecido da falta de pressuposto processual, é o da petição inicial ser irregular por
não observar certos requisitos legais ou não ser acompanhada de documento cuja apresentação a
lei exija para a apresentação da própria petição inicial – é o caso da petição irregular, em que
vale igual regime, o juiz convida o autor a apresentar o documento em falta, ou seja, cumprir o
requisito em falta, se acontecer o juiz ordena a citação do réu, em caso contrário, indefere
liminarmente a petição inicial.
Insuficiência ou imprecisão na concretização da matéria de facto
No caso da insuficiência ou imprecisão na concretização da matéria de facto, o juiz, de novo,
convida o autor a aperfeiçoar a respetiva petição inicial. Ao réu será dada a possibilidade
contraditória na contestação.
Esta possibilidade vale apenas, expressamente, para o aperfeiçoamento das alegações factuais,
ou seja, matéria de facto (ex.: o autor afirma “o réu causou um acidente de viação” esta alegação
tem de ser aperfeiçoada pelo autor porque não concretiza os termos em que o réu causou o
acidente. Diante disto, o tribunal irá convidar o autor a concretizar de modo preciso como se
deu o acidente – horas, local, quais as circunstâncias, etc.).
Em princípio, portanto, no momento do despacho liminar, teremos três hipóteses de atuação do
juiz, mas apenas dois desfechos. Em função do comportamento do autor, o tribunal ordenará a
citação do réu ou indeferirá liminarmente a petição inicial. No limite, tudo terminará neste
binómio.
Citação
Se a ação for de prosseguir, procede-se à citação do réu. A citação do réu é o momento no qual,
através de um ato dirigido a essa finalidade, se dá a conhecer ao réu que uma ação foi contra ele
proposta (art. 219º nº1 1ª parte CPC).
Trata-se, portanto, de um ato notificativo, isto é, destinado a dar conhecimento da prática de um
facto. É, na verdade, a modalidade mais relevante que há do ato notificativo atendendo ao
conteúdo que comunica ao réu e às consequências que sobre o reu se podem fazer sentir da
propositura de uma ação. Por essa razão, a lei é especialmente cautelosa na definição do regime
legal que tenta garantir, com alta probabilidade, que este ato processual seja bem conseguido.
Uma vez que a citação é o ato pelo qual o autor dá a conhecer ao réu que uma ação foi proposta
contra ele, deve ela ser acompanhada de todos os elementos que permitam compreender o seu
conteúdo (art. 219 nº3 CPC). Tais elementos serão, nomeadamente, aqueles que constam do art.
227º CPC. No essencial, dá-se conta de qual a ação que foi proposta contra o réu e de quais os
meios de defesa que se encontram ao seu dispor.
A citação é feita, via de regra, por via postal num envelope com selo oficial e, no seu interior,
encontra-se um documento no qual se participa ao réu a ação que foi contra si proposta e os seus
direitos de defesa, adicionalmente é enviada, também, uma copia da petição inicial.
A partir deste momento o réu passa a ter todos os elementos através dos quais pode proceder à
sua defesa.
Uma dificuldade deste regime da citação é que, porventura, o destinatário típico deste ato terá
muita dificuldade em conhecer o respetivo conteúdo. Um cidadão português normal que leia
este documento, que sentido é que dele extrai? Supostamente, no ato da citação, este
esclarecimento deveria ser dado em termos pessoais, ou seja, quem realiza a notificação deveria

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esclarecer o seu destinatário sobre quais as eventuais consequências de não apresentar a


contestação ao pedido que contra si foi dirigido.
Daí o risco da citação, apesar do seu intuito notificativo, não conseguir cumprir a sua finalidade.
É enviada uma determina missiva ao destinatário, mas, porventura, este não consegue retirar o
sentido juridicamente relevante de que ela decorre.
O CPC não é indiferente a esta dificuldade. No seu art. 9º-A veio a prever-se o chamado
princípio da utilização da linguagem simples e clara que resolve este problema de uma forma
simples, que é sempre que haja uma comunicação direta do tribunal a uma parte, sem a
intervenção de um mandatário judicial, deve privilegiar-se a linguagem simples e clara.
É o caso paradigmático da citação judicial, esta dirige a alguém que ainda não tem mandatário
constituído, logo, essa comunicação deve ser feita de tal modo a que o destinatário se deva
aperceber do significado do ato de que é destinatário.
Como é que este princípio se concretiza no regime da citação? Com o documento da citação
(formal e com linguagem juridicamente precisa) vai um segundo documento de “perguntas e
respostas” em linguagem simples e clara, que é um auxiliar interpretativo.
A partir deste momento, constituindo-se um mandatário, já não é necessário que as
comunicações sejam tão simples porque a parte passa a estar acompanhada de alguém que faz,
justamente, a tradução/mediação da linguagem técnica para a linguagem corrente.
Uma vez realizada a citação, a partir daí os demais atos notificativos seguem a forma prevista
nos art. 247º e ss. CPC relativos às notificações em processos pendentes.
Para concluir, o ato de citação é um ato de importância central para o processo, com efeito, é por
intermédio dele que se garante a possibilidade de exercício do contraditório por parte do réu.
Ora, uma ação civil pode decorrer validamente sem contestação, mas obrigatoriamente tem de
incluir a possibilidade de oposição, daí que o art. 3º nº1 CPC preveja que o tribunal não possa
resolver a ação sem que uma das partes o peça e sem que a parte contrária seja chamada para se
opor. Não pode haver ação sem citação embora possa haver ação sem contestação.
Efeitos da citação
A citação produz efeitos processuais e efeitos materiais.
Efeitos processuais
1. Com a citação a instância fica perfeita/completa. De facto, a partir do momento da
citação, a propositura da ação passar a ser oponível ao réu (art. 259º nº2 CPC), portanto,
a partir deste momento pode deduzir-se a exceção de litispendência (art. 580º e 581º
CPC), sendo propostas duas ações com o mesmo objeto, considera-se para efeitos de
litispendência que foi proposta em segundo lugar, aquela em que o réu foi citado
posteriormente (art. 582º nº3 CPC);
2. A citação torna a instância estável, é o chamado princípio da estabilidade da instância
(art. 260º CPC e 564º b) CPC). A estabilidade da instância significa que os elementos
delimitativos do objeto do processo deverão manter-se estáveis, isto é, a regra é de que
doravante o pedido, a causa do pedido e as partes deverão manter-se as mesmas até à
decisão da controvérsia, naturalmente que este princípio tem exceções, será de admitir a
modificação dos elementos, quer objetivos quer subjetivos, nos regimes previstos na lei
(ex.: intervenção de terceiros).
3. Realizada a citação tem início a contagem do prazo para a apresentação da contestação
pelo réu, prazo esse que via de regra é de 30 dias (art. 569º nº1 CPC). A este prazo

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perentório de 30 dias poderão acrescer prazos dilatórios que diferem no início da


contagem. Também pode haver uma prorrogação deste prazo, isto é, ele pode ser
prolongado, nomeadamente, quando a ação tenha especial complexidade. Com o início
do prazo para a contestação, constitui-se, igualmente, o ónus de conectar (art. 577º
CPC). O réu é livre de contestar, mas apresentar a contestação não é indiferente. Se
porventura não a apresentar está sujeito a certas consequências desfavoráveis que o
próprio pode aceitar ou não.
Efeitos Materiais – efeitos que respeitam ao próprio regime jurídico material que tem relevância
naquela concreta controvérsia)
1. A citação faz cessar a eventual boa fé do possuidor (art. 564º a) CPC).
Ex.: Imaginemos que C, é possuidor do bem X, estando, absolutamente, convencido de
que é proprietário. O verdadeiro proprietário, B, propõe uma ação de reivindicação da
coisa. O possuidor de boa-fé goza de um regime especial de proteção, enquanto a boa-fé
se mantenha. Frutro desta solução processual a partir do momento em que ele é
chamado para a ação o regime da boa-fé deixa de se aplicar porque aqui ele tem
conhecimento que pode lesar um possível direito de terceiro, neste caso, do proprietário.
2. A citação interrompe o prazo de prescrição (art. 323 nº1 CC) e o prazo da usucapião
(art. 1292º CC). Contudo, a prescrição ter-se-á sempre por interrompida no prazo de 5
dias a contar da propositura da ação (art. 323º nº2 CC).
Ex.: A ação é proposta no dia 1 de janeiro. De acordo com o art. 323º nº2 CC, no dia 6
de janeiro está interrompido o prazo de prescrição. Contudo, se a citação do réu ocorrer
antes, a interrupção tem lugar nesse momento. Se a citação for posterior não prejudica o
autor.
Quando se interrompe a prescrição todo o período decorrido é inutilizado voltando a
contar-se o prazo a partir do zero. O prazo volta a contar-se desde a data do trânsito em
julgado da decisão que ponha termo ao processo (art. 326º CPC), ou seja, desde o zero,
valendo a regra de que quando há uma decisão judicial, o prazo passa sempre a
ordinário (art. 311º CPC). Por isso, produzido o seu efeito material ainda dentro do
prazo prescricional, o réu já não pode invocar este meio de defesa – o prazo recomeça a
contar a partir do zero desde o transitado em julgado da decisão.
A citação interrompe o prazo prescricional. Por isso, se a citação for feita ou melhor
produzir o seu efeito dentro do prazo o réu já não pode apresentar a sua defesa.
Nota: Não se conta o que já decorreu entretanto porque foi interrompido.
3. A citação provoca o vencimento de uma obrigação pura (art. 610º nº2 b) CPC e 805º nº1
CC).
O que é uma obrigação pura? Obrigação não sujeita a prazo.
As obrigações puras, nos termos da lei substantiva, são exigíveis a todo o momento,
mas só vencem mediante interpelação, isto é, o devedor só está em mora a partir do
momento em que a obrigação é exigida.
Ex.: Prevê-se, no regime do comodato, que a obrigação da restituição da coisa é exigida
a todo o momento. Quando alguém comodata um bem a outro, pode exigir a todo o
momento a sua restituição? Pode, a partir do momento em que foi pedido.
Quando, previamente, em relação à ação declarativa, o credor não exigiu obrigação,
mas apenas a reclama no âmbito de uma ação declarativa, este efeito do vencimento
produz-se o momento da citação, uma vez que, a citação faz saber ao réu que o titular
do direito pretendeu exigir o seu crédito contra ele. Uma vez que neste caso, o réu não
foi interpelado em data anterior à ação declarativa, pode eventualmente a
responsabilidade pelas custas da ação e dos honorários do réu recair sobre o autor (art.
610º nº3 CPC). Do ponto de vista do autor, ele tem a máxima conveniência em

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interpelar a ação, mas se não o faz a ação é na mesma admitida, com estas duas
implicações supramencionadas.
Por identidade de razão com o regime das obrigações puras, poderemos admitir, embora
haja divergência, que a citação do réu possa ter também o efeito material de notificação
de uma cessão de créditos (art. 583º nº1 CC).
Quem tem responsabilidade para promover a citação?
Na ação declarativa a responsabilidade de promover a citação é da secretaria (art. 226º nº1 CPC
e 562º nº1 CPC). Quando é que acontece? Se houver despacho liminar é na sequência de
despacho do juiz, se não houver a secretaria promove a citação logo que receba a petição inicial,
devendo fazê-lo oficiosamente.
O autor pode, porém, alegando causas justificativas, requerer que se proceda a citação urgente
(art. 561º nº1 CPC), quando assim seja ela é tramitada prioritariamente (art. 561º nº2 CPC).
Uma vez que, a citação urgente carece de situação justificativa, ela carece de despacho liminar
(art. 226 nº4 f) CPC). Ex.: o autor alegar o risco de o réu de ausentar para parte incerta.
A citação, se não for efetuada no prazo de 30 dias, deverá conduzir a secretaria a informar o
autor das razões pelas quais ela não se concretizou (art. 226º nº2 CPC), corridos novos 30 dias o
processo será apresentado ao juiz (art. 226º nº3 CPC) para tomar as providências que tenha por
convenientes.
Só nestes casos patológicos é que o processo será enviado para despacho do juiz.
Modalidades da Citação
A primeira distinção fundamental que deveremos fazer que é a divisão fundamental, adotada
pela lei, entre citação pessoal e citação edital (art. 225º nº1 CPC), sendo que, na verdade há uma
sub-modalidade de citação pessoal que é a chamada citação quase pessoal que tem um regime
muito próximo da citação pessoal, mas com algumas diferenças.
1. Citação Pessoal
Quando é que a citação é pessoal? A citação é pessoal, quando o ato de citação implica um
contacto com a pessoa do réu.
Existem, porém, casos especiais, a citação também será pessoal quando seja feita em
mandatário do réu com poderes especiais para receber a citação conferidos à menos de 4 anos
(art. 225º nº5 CPC).
Tratando-se de pessoas coletivas ou patrimónios autónomos a citação é feita na pessoas dos
representantes legais (art. 223º nº1 CPC). Havendo pluralidade de representantes bastará que um
deles seja citado (art. 223º nº2 CPC).
No caso de pessoa coletiva ou de sociedade a entidade está também citada na pessoa de
qualquer funcionário que se encontre na sede ou no lugar onde funciona a administração (art.
223º nº3 CPC). Este funcionário não tem de ter nenhum vínculo laboral basta que se entenda
que tem o dever funcional de comunicar à administração da pessoa coletiva em causa o
conteúdo das notificações ou citações que receba.
Ex.: Uma sociedade que se dedica à construção civil tem a sede no Porto e tem uma obra na
Maia. Esta sociedade pode ser citada na Maia? Não. Na sede poderá ser citada na pessoa do
segurança que se encontra na portaria? Pode porque estamos no local de funcionamento da
administração.
1.1 Citação Quase-Pessoal

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A esta modalidade de citação pessoal acresce a chamada citação quase pessoal, qual é a
diferença? A citação pessoal é feita com o contacto direto da pessoa citada e a quase pessoal é a
citação que é feita numa pessoa diferente do citado que assume a obrigação de transmitir o seu
conteúdo ao próprio citado. Ora, em muitos efeitos, a citação quase pessoal é equiparada à
citação pessoal (art. 225º nº4 CPC). Com efeito, vale a presunção, conforme resulta desta
norma, de que o citado veio a obter conhecimento da citação. Se o próprio pretender ilidir esta
presunção deverá convencer o tribunal de que houve falta da citação (art. 188º nº1 e) CPC).
Nestas hipóteses de citação quase-pessoal, a lei prevê uma dilação de 5 dias para o início da
contagem do prazo de defesa (art. 245º nº1 a) CPC).
A regra na citação quase-pessoal é de que a citação pode ser feita no citado ou em qualquer
pessoa que se encontre na sua residência ou local de trabalho.
Ex.: Imaginemos um determinado apartamento no qual residem 4 pessoas, cada uma com um
quarto. A citação de A pode ser feita em B, C ou D, desde que estes assuma a obrigação de
informar o citado.
Quais as formas de citação pessoal ou quase-pessoal previstas na lei (art. 225º nº2 e nº3 CPC)?
A citação postal, a citação por agente de execução ou funcionar judicial e a citação por
mandatário judicial.
Como é que se articulam estas modalidades?
A regra é de que o autor não escolhe nada. Procede-se à citação por via postal, só na
eventualidade de se frustrar a citação por via postal é que se avança para a citação por agente de
execução ou funcionário judicial ou a citação por mandatário judicial. Se continuar a não ser
possível citar o réu passamos para a outra possibilidade que é a citação edital.
Porque é que não será muito corrente essa possibilidade? Porque, normalmente, a citação por
via postal funciona e é barata as demais envolvem custos muito mais acentuados.
Nota: Trata-se de uma matéria na qual não há uniformidade entre as diferentes ordens jurídicas.
a. Citação por via postal
Consiste ela, no envio de uma carta registada com aviso de receção de modelo oficial, dirigida
ao citado e endereçada à sua residência ou lugar de trabalho.
No interior desta missiva deverão encontrar-se todos os elementos que devem acompanhar a
citação (art. 227º CPC e 228º nº1 CPC – as informações a respeito da ação, o prazo para defesa,
os efeitos da não oposição, a cópia da petição inicial e os documentos que a acompanham).
Quem materialmente executa este ato é o distribuidor de serviço postal vulgo o carteiro.
Enviada esta carta, com aviso de recessão, podemos ter vários desfechos diferentes:

 Consegue contactar-se com o citado


o O citado assina o aviso de receção depois de ter sido identificado pelo
distribuidor de serviço postal (art. 228 nº3 CPC), quando assim ocorra a citação
foi inteiramente bem executada. Sendo bem recebida, a citação considera-se
feita no dia em que o aviso da receção foi assinado (art. 230º nº1 CPC).
o Pelo contrário, o distribuidor de serviço postal contacta com o citado, mas este
recusa assinar o aviso e receber a carta, neste caso, o distribuidor de serviço
postal regista o que ocorreu antes de devolver a carta (art. 228º nº6 CPC), nesta
hipótese a citação considera-se frustrada.
 Não se consegue contactar com o citado, mas contacta-se com um terceiro que se
encontra na residência ou no local de trabalho e declara estar em condições para

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entregar a carta ao seu destinatário (art. 228º nº1 e nº2 CPC). A citação, neste caso,
como foi feita a um terceiro deverá conter a advertência que ao não entregar a carta ao
citado poderá incorrer em responsabilidade. Este é um modelo de citação quase-pessoal
em que um particular, o terceiro, é colaborador do sistema de justiça para realizar a
distribuição.
o O terceiro assina o aviso de receção e é advertido do dever de entrega ao citado
(art. 228º nº3 e nº4 CPC). Neste caso, há citação só que se prevê uma dilação
para o início de contagem do prazo de defesa de 5 dias, esta dilação serve para
quem recebeu a citação poder comunicar o citado (art. 245º nº1 a) CPC). Como
cautela inicial, é enviada uma segunda carta ao citado, mas desta feita apenas
registada (art. 233º CPC), nesta faz-se menção a quem recebeu a citação.
o Contacta-se com um terceiro, mas sem sucesso (art. 228º nº6 CPC), isto é, o
terceiro não assina ou recusa-se a receber a carta, o distribuidor de serviço
postal irá então tomar nota do incidente e devolver a carta;
 Não se contacta com ninguém, nesta hipótese é deixado um aviso, permanecendo a
carta durante 8 dias à disposição em estabelecimento postal devidamente identificado
(art. 228º nº5 CPC).
Se a carta for levantada a citação considera-se feita pela data de assinatura do aviso de
recessão, se a carta não for levantada a citação considera-se frustrada.
E se não for possível deixar nenhum aviso ao citado, por exemplo, porque não há
nenhum recetássemo para o deixar? Nesse caso, o distribuidor relata a ocorrência e
devolve o expediente ao tribunal. Na eventualidade de aquando da citação o distribuidor
de serviço apurar que o citado mudou de morada, o distribuidor deverá registá-lo para
que a citação possa ser enviada para o novo endereço (art. 228º nº8 CPC).
Este regime geral é excecionado por um regime especial que vale para as hipóteses previstas no
art. 229º CPC, isto é, para as hipóteses de domicílio convencionado e para as pessoas coletivas
sujeitas a inscrição obrigatória no registo.
Domicílio Convencionado
Quando se trate de uma ação para o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes do
contrato reduzido a escrito e o valor da ação não exceda a alçada da relação ou, excedendo, a
obrigação respeite ao fornecimento continuado de bens ou serviços. Quando tal ocorra é
possível convencionar o domicílio, isto é, fixar-se qual o domicílio válido para efeitos de citação
judicial. Neste caso, o regime da citação por via postal tem as seguintes particularidades:
1. Caso o citado se recuse a assinar o aviso de receção ou a receber a carta, a citação
condissera-se na mesma feita (art. 229º nº3 CPC);
2. Caso a recusa seja feita por um terceiro ou a carta não seja levantada nos correios é
enviada nova carta com aviso de receção sendo ela deixada com a comunicação de que
a citação se considerará feita na data certificada pelo distribuidor de serviço postal (art.
229º nº4 CPC e 230º nº2 CPC). Se não for possível deixar a carta é deixado um aviso
considerando se a citação feita no oitavo dia posterior à data em que a carta foi deixada
(art. 230º nº2 CPC). Em qualquer uma destas hipóteses prevê-se uma dilação de 30 dias
para início de contagem do prazo da contagem do prazo da apresentação da contestação
(art. 243º CPC).
Pessoas Coletivas Sujeitas a Inscrição no Registo
Tratando-se de pessoas coletiva, a carta é endereçada para a sede inscrita no registo (art. 246º
nº2 CPC), vale mutatis mutandis o regime que antes vimos (art. 246º nº3 e ss. CPC).

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Para o registo funcionar convém que os emolumentos sejam baixos, mas são bastantes elevados
o que significa que quem consta como gerente das sociedades ou dados relativos às sociedades
estejam desatualizados para poupar dinheiro.
Quando é que se avança para a modalidade seguinte da citação? Quando a citação por via postal
se frustrou ou quando o autor dela prescindir.
b. Citação por agente de execução ou funcionário judicial
Quando se frustre a citação por via postal (art. 231º nº1 CPC) ou quando o autor declare
pretendê-lo na petição inicial (art. 552º nº1 g) CPC), a lei regula a citação por agente de
execução determinando a aplicação desse regime mutatis mutandi à citação por funcionário
judicial.
Quem é o agente de execução? É um profissional liberal inscrito numa ordem própria que se
chama Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução, que está habilitado à prática de certos
atos judiciais. É especialmente relevante esta figura no contexto da ação executiva.
Na ação declarativa a participação do agente de execução é muito reduzida.
Como se procede à citação? Desta feita, a citação não se faz por comunicação postal, mas pela
tentativa de contacto pessoal do promotor da citação com o próprio citado (art. 231º nº1 CPC)
podendo ter lugar em qualquer espaço onde o citado se encontre (art. 224º nº1 CPC). Há apenas
duas exceções:
1. A citação não pode ter lugar dentro de templos, portanto lugares de culto religioso;
2. A citação não pode ter lugar durante ato de serviço público que não possa ser
interrompido;
Como decorre a própria citação? O agente de execução, encontrando o citado, lavra uma
declaração por nele assinada considerando-se a citação feita nesse momento entregando ao
citado todos os elementos que devem acompanhar a citação (art. 231º nº3 CPC).
O agente de execução ou funcionário judicial encontrando o citado, mas este recusa assinar e
receber a citação, a citação dá-se como feita porque o agente ou funcionário ao contrário do que
ocorre com o distribuidor de serviço postal tem poderes públicos para atestar atos. Por
conseguinte, passando certidão a lavrar nota de que a carta não foi recebida temos um elemento
probatório de que o citado conheceu a ação contra si proposta tendo simplesmente optado por
não receber o expediente a ela relativa.
O agente ou funcionário deve lavrar nota de que o citado não recebeu a citação dando lhe
conhecimento de que o expediente se encontra à sua disposição em secretaria judicial (art. 231º
nº4 CPC). A secretaria procederá ainda a uma carta registada dando nota de que o expediente se
encontra à sua disposição.
Caso o agente ou funcionário não consiga contactar o citado deverá proceder ao regime da
citação com hora certa (art. 332º nº1 CPC). Como? No lugar da residência ou de trabalho do
citado deixará uma nota indicando uma hora precisa no qual realizará a citação na pessoa que
estiver em melhores condições para a entregar ao citado, nesse dia e hora comparece no lugar e
pode verificar-se algumas das seguintes hipóteses:
1. O citado está presente e a citação é imediatamente feita (art. 232º a) CPC);
2. O citado não está, mas o agente ou funcionário encontra alguém que é responsável para
entregar a citação ao citado, este assina a receção e a citação considera-se feita, o
terceiro tem o dever de proceder à entrega. Desta feita o não cumprimento deste dever
de entrega constitui crime de desobediência (art. 232º nº5 CPC e 248º CP).

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Uma vez que a citação foi feita em alguém diferente do citado deverá ser enviada uma
segunda carta na qual se menciona quem recebeu a citação, assim como, deverá haver
uma dilação de 5 dias para a contagem do início do prazo de defesa;
3. Não se encontra ninguém, o agente deve afixar na presença de duas testemunhas a nota
de citação declarando que o duplicado e os documentos anexos estão ao dispor do
citado na secretaria judicial (art. 232º nº4 CPC);
A citação por agente de execução ou funcionário judicial frustra-se quando não foi possível
encontrar nem o local de trabalho nem o local de residência do citado.
c. Citação Promovida por Mandatário
Na citação promovida por mandatário judicial aplica-se, mutatis mutandi, o mesmo regime da
citação por agente ou funcionário conforme resulta dos art. 237º CPC e art. 238º CPC, sendo
uma modalidade de citação adotada quando assim seja solicitado pelo mandatário judicial, seja
na petição inicial (art. 237º nº2 1ª parte CPC e art. 552º nº1 b) CPC), seja posteriormente (art.
237º nº2 2ª parte CPC).
2. Citação Edital
Quando se procede? A citação edital é adotada quando não seja possível qualquer uma das
modalidades anteriores de citação pessoal.
Porque é que é admita somente em último recurso? Porque é altamente provável que ela não
permita ao réu conhecer da propositura da ação.
1. Incerteza quanto ao lugar em que o citado se encontra (art. 240º CPC) – Nesta hipótese
de sua ausência em parte incerta antes de se recorrer à citação edital devem observar-se
as diligências previstas do art. 236º nº1 CPC – consulta das mais diferentes bases de
dados para tentar encontrar a localização do citado;
2. Incerteza quanto a quem é o réu (art. 243º CPC) – a ação pode ser movida contra incerto
(art. 222º CPC);
Como se procede? A citação edital tem lugar mediante a fixação de um edital de um aviso
público (art. 240º CPC) com o conteúdo referido no (art. 241º CPC) na porta da casa da
última residência ou sede que o citado teve no país (art. 240º nº2 CPC).
É, igualmente, seguida de um anúncio em página de acesso público (art. 240º nº1 2ª parte
CPC), a citação considera-se feita no dia de publicação do anúncio (art. 242º nº1 CPC),
prevendo-se, contudo, uma dilação de 30 dias para início da contagem do prazo de defesa
(art. 245º CPC).
A citação edital tem este risco assinalável imenso de não dar efetivamente a conhecer ao
citado que uma ação foi contra si proposta, daí que ela só seja utilizada quando
realisticamente não haja nenhuma alternativa, daí que a lei preveja um conjunto de
particularidades de regime destinadas a minorar os efeitos resultantes do emprego desta
modalidade de citação.
Quais são as soluções adotadas pela lei?
1. Caso a citação adotada seja empregue indevidamente aplica-se o regime da falta de
citação (art. 188º nº1 alínea c) CPC).
2. Estando o citado ausente ou sendo a ação contra incerto (art. 21º nº1 ou art. 22º nº1
CPC), o Ministério Público assume a respetiva representação na ação.
3. Não apresentando o réu contestação não se aplicam os efeitos da revelia operante.

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Direito Processual Civil – Teóricas 2º Semestre

4. Será possível recurso ordinário de oposição ou oposição à execução (art. 729º CPC),
caso o citado alegue e prove que não conheceu da ação por facto que não lhe era
imputável, isto é, o citado editalmente poderá, quando não lhe seja censurável este
desconhecimento, pode pedir judicialmente a destruição da sentença que foi proferida
no decurso da ação em que se observou esta modalidade muito frágil de citação;
Como se articulam estas modalidades?
Temos de distinguir duas possibilidades:
1. O autor não escolhe nada, procede-se à citação por via postal a regra é a de que é
mediante este sistema de distribuição postal que se dá comunicação entre os tribunais e
as eventuais partes passivas da instância. Só, na eventualidade de se frustrar esta
modalidade, é que se avança para a próxima – a de agente de execução ou agente
judicial ou a de mandatário judicial. Se continuar a não ser possível citar o réu
avançamos para a última possibilidade – citação edital;
2. Por escolha do autor, podemos saltar o primeiro degrau, porque não será congruente
esta possibilidade? Porque a citação por via postal é extremamente barata e simples;

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