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Aulas práticas

de Direito
Processual
Civil
Ano letivo 2023/2024

bmalheiro@direito.up.pt
Horário de atendimento: 3.ª
feira, das 11h às 13h (gabinete
3.07).
Caso prático n.º 1
Classifique as seguintes ações, atendendo ao seu fim e ao(s) pedido(s) formulado(s):

a) Ação em que A, alegando ser proprietário de um imóvel e que o referido imóvel se encontra na
detenção de B, requer que o bem lhe seja entregue;

b) Ação em que a “Electro Portuga, S.A.”, pede que o R. pague as faturas de eletricidade relativas
a meses anteriores e aquelas que se vençam no decurso da causa;

c) Ação em que o A. requer que o R. não o impeça de utilizar um dado caminho que passa pelo
prédio do R. e cuja servidão legal de passagem já havia sido constituída por sentença com trânsito
em julgado;
Caso prático n.º 1
a) Ação em que A, alegando ser proprietário de um imóvel e que o referido imóvel
se encontra na detenção de B, requer que o bem lhe seja entregue;

Resolução:
- Classificação das ações declarativas por referência ao artigo 10.º, n.ºs 1, 2 e 3 do
CPC.
- No caso, ação declarativa de condenação (“[…] pressupondo […] a violação de
um direito”, art. 10.º, n.º 3 b) do CPC)
- Em concreto, uma ação de reivindicação (art. 1311.º do CC)
Caso prático n.º 1
a) Ação em que A, alegando ser proprietário de um imóvel e que o referido imóvel
se encontra na detenção de B, requer que o bem lhe seja entregue;

(Cont.) Resolução:
Artigo 1311.º do CC - (Acção de reivindicação)
1. O proprietário pode exigir judicialmente de qualquer possuidor ou detentor
da coisa [i] o reconhecimento do seu direito de propriedade e [ii] a consequente
restituição do que lhe pertence.
2. Havendo reconhecimento do direito de propriedade, a restituição só pode ser
recusada nos casos previstos na lei.
Caso prático n.º 1
a) Ação em que A, alegando ser proprietário de um imóvel e que o referido imóvel
se encontra na detenção de B, requer que o bem lhe seja entregue;

(Cont.) Resolução:
- Ação de reivindicação enquanto ação de “dupla vertente”: ação de simples
apreciação positiva + ação declarativa condenatória.
- Classificação da ação pelo efeito jurídico principal que dela se pretende obter:
ação declarativa condenatória.
- A satisfação do interesse do proprietário pressupõe a entrega da coisa pelo R.
Caso prático n.º 1
b) Ação em que a “Electro Portuga, S.A.”, pede que o R. pague as faturas de
eletricidade relativas a meses anteriores e aquelas que se vençam no decurso da
causa;

Resolução:

- Artigo 10.º, n.ºs 1, 2 e 3 do CPC


- No caso, ação declarativa de condenação (“[…] prevendo a violação de um
direito.”, artigo 10.º, n.º 3 b) do CPC);
Caso prático n.º 1
b) Ação em que a “Electro Portuga, S.A.”, pede que o R. pague as faturas de
eletricidade relativas a meses anteriores e aquelas que se vençam no decurso da
causa;

(Cont.) Resolução:
- Quanto às faturas que se vençam no decurso da causa: artigo 557.º do CPC
(pedido de prestações vincendas);
“1 - Tratando-se de prestações periódicas, se o devedor deixar de pagar, podem
compreender-se no pedido e na condenação tanto as prestações já vencidas como
as que se vencerem enquanto subsistir a obrigação.”
Caso prático n.º 1
b) Ação em que a “Electro Portuga, S.A.”, pede que o R. pague as faturas de eletricidade
relativas a meses anteriores e aquelas que se vençam no decurso da causa;

(Cont.) Resolução:

- O art. 557.º do CPC e a lógica da “economia processual”;

- Quanto às faturas “que se vençam no decurso da ação”:

Vencimento (que não ocorreu pela interposição da ação e dedução do pedido)

≠ Exigibilidade da obrigação (pela sentença condenatória que seja proferida, o credor


passa a dispor de título executivo – art. 703.º, n.º 1 a) do CPC; a título de nota, art.
713.º do CPC)
Caso prático n.º 1
c) Ação em que o A. requer que o R. não o impeça de utilizar um dado caminho que passa
pelo prédio do R. e cuja servidão legal de passagem já havia sido constituída por sentença
com trânsito em julgado;

Resolução:
- Servidão legal de passagem: art. 1550.º (n.º1) do CC

“Os proprietários de prédios que não tenham comunicação com a via pública, nem
condições que permitam estabelecê-la sem excessivo incómodo ou dispêndio, têm a
faculdade de exigir a constituição de servidões de passagem sobre os prédios rústicos
vizinhos.”
Caso prático n.º 1
c) Ação em que o A. requer que o R. não o impeça de utilizar um dado caminho que passa pelo
prédio do R. e cuja servidão legal de passagem já havia sido constituída por sentença com trânsito em
julgado;
Antes de constituída a servidão Depois de constituída a servidão
Resolução:
-Proprietário beneficiário da
-Proprietário do prédio
servidão: direito subjetivo/absoluto,
“encravado”: direito potestativo
direito real de gozo (cuja violação
constitutivo;
importa R.C.);

- Proprietário vizinho: encontra-se - Proprietário vizinho (onerado


num “estado de sujeição”; com a servidão): dever jurídico;
Caso prático n.º 1
c) Ação em que o A. requer que o R. não o impeça de utilizar um dado caminho que passa pelo prédio do
R. e cuja servidão legal de passagem já havia sido constituída por sentença com trânsito em julgado;

Resolução:

- No caso, temos uma ação declarativa de condenação (na modalidade de “tutela


inibitória”) – art. 10.º, n.º 3 b) do CPC (“[…] prevendo a violação de um direito [real de
servidão]”);

- O R. é condenado a um “non facere” (que se abstenha de impedir o uso do caminho


onerado pela servidão) = prestação de facto negativo.
Caso prático n.º 1
Classifique as seguintes ações, atendendo ao seu fim e ao(s) pedido(s) formulado(s):

d) Ação em que a “Associação de Defesa dos Consumidores do Porto” pede a abstenção do uso ou
recomendação de uma cláusula inserta nos contratos de fornecimento propostos por uma empresa, na
medida em que tal cláusula limita a responsabilidade da empresa pelos atos dos seus auxiliares;

e) Ação em que os AA. requerem a declaração de nulidade de um contrato de compra e venda


celebrado com os RR., em virtude de simulação absoluta;

f) Ação em que o A. pede a anulação de um contrato de mútuo celebrado com o R., devido à atuação
dolosa deste último;
Caso prático n.º 1
d) Ação em que a “Associação de Defesa dos Consumidores do Porto” pede a abstenção do uso ou
recomendação de uma cláusula inserta nos contratos de fornecimento propostos por uma empresa, na
medida em que tal cláusula limita a responsabilidade da empresa pelos atos dos seus auxiliares;

Resolução:

- Em causa, DL n.º 446/85, 25 de outubro (relativo a contratos de adesão).

- Novamente, uma ação declarativa de condenação, de “tutela inibitória”: art. 10.º, n.º 3 b)
do CPC;

- Pretende-se um “non facere”, a prestação de um facto negativo.


Caso prático n.º 1
d) Ação em que a “Associação de Defesa dos Consumidores do Porto” pede a abstenção
do uso ou recomendação de uma cláusula inserta nos contratos de fornecimento propostos
por uma empresa, na medida em que tal cláusula limita a responsabilidade da empresa
pelos atos dos seus auxiliares;

(Cont.) Resolução:

- Tem uma função cautelar, mas de caráter definitivo (diferentemente do que


sucede com as providências cautelares);
Caso prático n.º 1
e) Ação em que os AA. requerem a declaração de nulidade de um contrato de compra e venda
celebrado com os RR., em virtude de simulação absoluta;

Resolução:

- Simulação (art. 240.º, n.ºs 1 e 2 [“O negócio simulado é nulo.”] do CC)

- Nulidade (art. 286.º [+289.º, quanto aos efeitos] do CC)

“A nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer interessado e pode ser declarada
oficiosamente pelo tribunal.”

- No caso, ação declarativa de simples apreciação positiva (art. 10.º, n.º 3 a) do CPC)
Caso prático n.º 1
e) Ação em que os AA. requerem a declaração de nulidade de um contrato de
compra e venda celebrado com os RR., em virtude de simulação absoluta;

(Cont.) Resolução:

- A reter: a nulidade opera “ipso jure” (o contrato nunca produz efeitos, ainda que
[a nulidade] tenha de ser declarada por sentença do tribunal);
Caso prático n.º 1
f) Ação em que o A. pede a anulação de um contrato de mútuo celebrado com o R., devido
à atuação dolosa deste último;

Resolução:

- Nota prévia: contrato de mútuo (arts. 1142.º e ss. do CC, contrato real quanto à
constituição [1144.º do CC]);

- Anulabilidade: artigo 287.º do CC


Caso prático n.º 1
f) Ação em que o A. pede a anulação de um contrato de mútuo celebrado com o R., devido
à atuação dolosa deste último;

(Cont.) Resolução:

(art. 287.º/1 do CC) “Só tem legitimidade para arguir a anulabilidade as pessoas em cujo
interesse a lei a estabelece, e só dentro do ano subsequente à cessação do vício que lhe
serve de fundamento.”

Portanto, a anulabilidade NÃO É de conhecimento oficioso (tem de ser arguida);


Caso prático n.º 1
f) Ação em que o A. pede a anulação de um contrato de mútuo celebrado com o R., devido
à atuação dolosa deste último;

(Cont.) Resolução:

- No caso, ação declarativa constitutiva (“autorizar uma mudança na ordem jurídica


existente”, art. 10.º, n.º 3 c) do CPC), com efeitos extintivos.
Caso prático n.º 1
Classifique as seguintes ações, atendendo ao seu fim e ao(s) pedido(s) formulado(s):

g) Ação em que a “Construções Lima, S.A.”, requer que o tribunal se substitua ao promitente-
comprador na emissão de uma declaração de vontade destinada à celebração de um contrato de
compra e venda;

h) Ação em que António pede a declaração de ineficácia de um contrato de mútuo celebrado entre o
seu devedor, Bento, e um terceiro, Carlos, realizado por forma a delapidar o património de Bento, de
modo que este não tenha bens suficientes para cumprir a obrigação a que está adstrito para com
António;

i) Ação em que Danilo requer que seja declarado que não apôs a sua assinatura num determinado
documento que o R. afirma, pelo contrário, ter sido assinado pelo A.;
Caso prático n.º 1
g) Ação em que a “Construções Lima, S.A.”, requer que o tribunal se substitua ao
promitente-comprador na emissão de uma declaração de vontade destinada à celebração de
um contrato de compra e venda;

Resolução:

- Contrato-promessa (arts. 410.º a 413.º do CC) é o contrato pelo qual as partes, ou uma
delas, se obrigado a celebrar novo contrato – o contrato definitivo.

- Art. 830.º do CC: execução específica do contrato-promessa


Caso prático n.º 1
g) Ação em que a “Construções Lima, S.A.”, requer que o tribunal se substitua ao
promitente-comprador na emissão de uma declaração de vontade destinada à celebração de
um contrato de compra e venda;

(Cont.) Resolução:

(art. 830.º/1 do CC) “Se alguém se tiver obrigado a celebrar certo contrato e não cumprir
a promessa, pode a outra parte, na falta de convenção em contrário, obter sentença que
produza os efeitos da declaração negocial do faltoso, sempre que a isso não se oponha a
natureza da obrigação assumida.”
Caso prático n.º 1
g) Ação em que a “Construções Lima, S.A.”, requer que o tribunal se substitua ao
promitente-comprador na emissão de uma declaração de vontade destinada à celebração de
um contrato de compra e venda;

(Cont.) Resolução:

- Emissão da declaração negocial em falta = celebração do contrato prometido (ação


declarativa constitutiva – art. 10.º, n.º 3 c) do CPC).

Ref.ª ao entendimento diferente (do maioritário) do Professor Doutor Antunes Varela


sobre a classificação da ação de execução específica do CP.
Caso prático n.º 1
h) Ação em que António pede a declaração de ineficácia de um contrato de mútuo celebrado entre o seu devedor, Bento,
e um terceiro, Carlos, realizado por forma a delapidar o património de Bento, de modo que este não tenha bens
suficientes para cumprir a obrigação a que está adstrito para com António;

Resolução:

- Ação de impugnação pauliana (art. 610.º do CC)

“Os actos que envolvam diminuição da garantia patrimonial do crédito e não sejam de natureza pessoal podem ser
impugnados pelo credor [direito potestativo do credor], se concorrerem as circunstâncias seguintes:

a) Ser o crédito anterior ao acto ou, sendo posterior, ter sido o acto realizado dolosamente com o fim de
impedir a satisfação do direito do futuro credor;

b) Resultar do acto a impossibilidade, para o credor, de obter a satisfação integral do seu crédito, ou
agravamento dessa impossibilidade.”
Caso prático n.º 1
h) Ação em que António pede a declaração de ineficácia de um contrato de mútuo celebrado entre o seu devedor, Bento,
e um terceiro, Carlos, realizado por forma a delapidar o património de Bento, de modo que este não tenha bens
suficientes para cumprir a obrigação a que está adstrito para com António;

(Cont.) Resolução:

- Ação de impugnação pauliana enquanto ação declarativa constitutiva com efeitos modificativos sobre a RJ (art. 10.º,
n.º 3 c) do CPC);

Fala-se de “ineficácia”; percebendo:

- Art. 616.º do CC (os atos impugnados são válidos, mas ineficazes perante o credor).

- O património do terceiro (que não é devedor) vai “abrir-se” para a satisfação do crédito do credor. O terceiro será,
ainda assim, tutelado consoante a sua boa ou má-fé, considerada a natureza onerosa ou gratuita do ato celebrado com
o devedor (arts. 616.º e 617.º do CC).
Caso prático n.º 1
i) Ação em que Danilo requer que seja declarado que não apôs a sua assinatura num
determinado documento que o R. afirma, pelo contrário, ter sido assinado pelo A.;

Resolução:

- Ação declarativa de simples apreciação negativa (art. 10.º, n.º 3 a) do CPC);

- Inversão do ónus da prova (art. 343.º/1 do CC – “provocatio ad agendum”):

“Nas acções de simples apreciação ou declaração negativa, compete ao réu a prova dos
factos constitutivos do direito que se arroga.”
Caso prático n.º 1
i) Ação em que Danilo requer que seja declarado que não apôs a sua assinatura num
determinado documento que o R. afirma, pelo contrário, ter sido assinado pelo A.;

Resolução:

E porque se fala aqui (nas ações declarativas de simples apreciação negativa) de inversão
do ónus da prova?

- Por regra,

- Autor: factos constitutivos do direito de ação;

- Réu: factos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito de ação;


Caso prático n.º 1
i) Ação em que Danilo requer que seja declarado que não apôs a sua assinatura num
determinado documento que o R. afirma, pelo contrário, ter sido assinado pelo A.;

Resolução:

- Tratando-se de uma ação de simples apreciação negativa, há lugar a réplica (art.


584.º/2 do CPC):

“Nas ações de simples apreciação negativa, a réplica serve para o autor impugnar
os factos constitutivos que o réu tenha alegado e para alegar os factos impeditivos
ou extintivos do direito invocado pelo réu.”

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