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UNIVERSIDADE DO PORTO — FACULDADE DE DIREITO

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL


Exame (prova 1)— 15.01.2021

Critérios de Correcção
I (10 valores)

Qualificar o contrato de promessa de prestação de serviços de advogado como um


contrato de adesão celebrado com recurso a cláusulas contratuais gerais (DL n.º
446/85, de 25 de outubro).
- A celebração de contratos de adesão configura uma limitação ao princípio da
liberdade contratual (artigo 405.º do CC), em particular à liberdade de modelação
contratual.
- A celebração de um contrato de promessa configura, igualmente, uma limitação
ao princípio da liberdade contratual na medida em que os promitentes vinculam-se
a celebrar o contrato prometido. Assim, o exercício da liberdade contratual é
voluntariamente limitado para futuro.
- Referir as caraterísticas dos contratos de adesão com recurso a cláusulas
contratuais gerais.
- Explicar os meios de controlo do DL n.º 446/85: prevê dois patamares, o
controlo de inclusão (ónus de informação e dever de informação) e de conteúdo.
O litígio entre as partes prende-se com o controlo de conteúdo, pois A defende a
nulidade das cláusulas contratuais.
- Identificar, quanto ao âmbito subjetivo de aplicação diploma, que estamos na
presença de uma relação enquadrada pelo artigo 17.º do DL (relações entre
profissionais liberais).
- Identificação das cláusulas proibidas: a cláusula que prevê a possibilidade de X
denunciar o contrato com um pré-aviso de 3 dias úteis sem compensação, poderia
enquadrar-se no artigo 19.º/f) do DL, qualificando-se como relativamente
proibida. Todavia, parece não estar verificada a última parte da disposição
“quando este tenha exigido à contraparte investimentos ou outros dispêndios
consideráveis”. A cláusula que prevê a obrigatoriedade de A não prestar serviços
de advogacia findo o contrato “pelo tempo que X determinasse” qualifica-se como
absolutamente proibida nos termos do artigo 18.º/j) do DL.
- A(s) cláusula(s) proibida(s) é(são) nula(s) nos termos do artigo 12.º pelo que A
teria razão. A nulidade de certas cláusulas que compõe o contrato não determina a
nulidade de todo o contrato, o qual poderia subsistir nos termos do artigo 13.º.
Todavia, resulta do enunciado que A não pretende a manutenção do contrato.
- Se as cláusulas que compõem o contrato de adesão não forem consideradas nulas
a recusa de celebração do contrato prometido por A fá-lo incorrer em
responsabilidade civil obrigacional, nos termos do artigo 798.º do CC.
- X alega que a intenção demonstrada por A, que levou ao investimento de X na
sua formação profissional, é contrária ao comportamento agora adotado pelo A,
apelando assim ao instituto do abuso do direito (artigo 334.º do CC). Todavia,
considerando que A tem o direito à invocação da nulidade das cláusulas, não
exerce abusivamente o seu direito.

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II (10 valores)

Localização da questão no âmbito da aquisição derivada. Selecção dos dados


relevantes do problema
Sentido e extensão da regra “nemo plus iuris”. Excepções a esta regra no direito
positivo português.
Identificação da transmissão AB como sucessão mortis causa.
Transmissão AC do lote de terreno:
Contrato de compra e venda sujeito a forma – art. 875, CC. Invalidade por
inobservância de forma legal – art. 220, CC.
Transmissão CG do lote de terreno:
Afectação pela nulidade precedente.
Consideração de G como possível terceiro de boa-fé e consequente desvio da
regra nemo plus iuris. Aplicabilidade do art. 291º, CC. Problematicidade dos
requisitos de aplicação do art. 291, CC. O jogo temporal da antecedência da
propositura da acção de invalidade. O art. 291 como efeito lateral do registo
predial. Dependência da aquisição por G da não propositura de acção de nulidade
no prazo de 3 anos.
Constituição de usufruto entre BE:
Nulidade por inobservância da forma legal.
Arrendamento EH:
Consideração de H como possível terceiro de boa-fé e consequente desvio da
regra nemo plus iuris. Afastamento da possível aplicação do art. 291, CC, devido
ao não preenchimento dos requisitos de aquisição que retiram a qualidade de
terceiro a H. O arrendamento como direito de crédito. Arrendamento de coisa
alheia. Ilegitimidade do locador.
Relativamente à empresa cedida a D: propriedade da empresa cedida. Propriedade
da coleção de pratas em F, por força da transmissão operada por compra e venda.

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