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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE


DE LISBOA
Frequência de Direito Processual Civil III
(4.º TA)
12 de maio de 2022 - 90 minutos
Regência: Professor Doutor Rui Pinto

Em fevereiro de 2012, Aurora, celebrou um contrato de mútuo com o BancarrotaBank, no


valor de € 100.000,00, para aquisição de um novo espaço para os seus projetos de influencer
digital, o qual foi autenticado pela sua secretária. Nos termos do contrato celebrado, Aurora
comprometeu-se a restituir o valor em 10 (dez) prestações anuais, a vencer no segundo mês de
cada ano, acrescidas de juros. Para garantia da dívida, Carolina, irmã de Aurora, hipotecou o
seu imóvel em Coimbra.
O BancarrotaBank, não satisfeito com os termos do negócio, exigiu garantias adicionais,
tendo-se constituído Diana, outra irmã de Aurora, como fiadora da obrigação.
Aurora cumpriu o pagamento das prestações até ao ano de 2018, inclusive, não tendo pago mais
nenhuma prestação até à presente data.
Em janeiro de 2022, o BancarrotaBank propôs ação executiva contra Diana, pretendendo obter
todos os valores que lhe eram devidos.

Devidamente citada, Diana opõe-se à execução, passados 25 dias, com os seguintes


fundamentos:
i. Existência de um contracrédito sobre o BancarrotaBank, no valor de € 50.000,00, a título de
reembolso de um depósito a prazo, solicitando a condenação do BancarrotaBank no
pagamento de eventual remanescente.
ii. Opõe-se à excussão dos seus bens enquanto não se esgotarem os bens de Aurora e Carolina.

Na pendência da execução, e em absoluta desconsideração da indicação de bens feita pelo


BancarrotaBank no requerimento executivo foi realizada a penhora dos seguintes bens:
i. Uma coleção de canecas de Friends, a série televisiva que Aurora idolatrava desde a
faculdade.
ii. O recheio da casa de Aurora em Lisboa onde vive com o seu marido, Eduardo e os três
filhos.
iii. A totalidade do salário de Aurora no valor de € 900,00.

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Tópicos de Correção
(não esgotam em absoluto as possibilidades de resolução e valoração)

1. Pronuncie-se sobre a exequibilidade extrínseca e intrínseca da pretensão do BancarrotaBank.


(4 valores)
Exequibilidade extrínseca: afere-se nos termos do artigo 703.º CPC (e, eventualmente, seguintes).
Seria necessário discutir recondução ao artigo 703.º, n.º 1, al. b) do CPC.
• Prevê-se celebração de contrato de mútuo - título constitutivo - em que Aurora assume de
imediato o valor da dívida como sendo de 100.000,00€, os quais recebe (diferente de
abertura de crédito, por exemplo, em que ab initio a quantia disponibilizada pode não
coincidir com a solicitada), pelo que estamos perante um contrato em que se “constitui
obrigação”. Concluir pela verificação do artigo 703.º, n.º 1, b), in fine, do CPC.
• Quanto à forma, cabe atender a que o artigo 703.º, n.º 1, alínea b) do CPC exige que se
trate de documento autêntico ou autenticado. Sucede que a autenticação apenas vale
quando realizada por entidade competente para o efeito, não sendo o caso de uma
secretária nos termos descritos (artigo 363.º do CC), motivo pelo qual a autenticação não
é válida e estamos verdadeiramente perante um documento particular simples, não se
verificando a primeira parte do artigo 703.º, n.º 1, alínea b) do CPC.
• Concluir pela não aplicação do artigo 703.º, n.º 1, alínea b) do CPC nem por qualquer
outra alínea do mesmo preceito.
• No caso releva ainda o facto de o contrato ser celebrado antes de 2013, porquanto se
coloca a questão da necessária sobrevigência do artigo 46.º, alínea c) do ACPC que
reconhecia força executiva aos documentos particulares simples. Neste sentido Acórdão
do Tribunal Constitucional n.º 408/2015, de 23 de setembro de 2015, com força
obrigatória geral, em aproximação do que já defendia o Professor Rui Pinto, pugna pela
não aplicação do artigo 6.º, n.º 3 da Lei 41/2013, de 26.6, na parte que elimina os
documentos particulares, aos documentos constitutivos de obrigações, assinados pelo
devedor antes de 31.8.2013, e que à data da sua elaboração dispunham de exequibilidade,
sob pena de inconstitucionalidade por violação do princípio da proteção da confiança
(artigo 2.º da CRP). Contra a referida solução, criticando a solução como sendo uma de
“títulos executivos forever”1, o Professor Miguel Teixeira de Sousa.
• Contudo, e ainda que se atendesse à sobrevigência do referido artigo 46.º, alínea c)
(revogado) seria relevante atender ao valor do mútuo, na medida em que o artigo 1143.º
do CC exige para a celebração de mútuo no valor superior a 25.000,00 € a forma de
escritura pública, a qual é preterida in casu.
• A invalidade formal do negócio jurídico afeta não só a constituição do próprio dever de
prestar, como a eficácia do respetivo documento como título executivo, segundo o
Professor Miguel Teixeira de Sousa, mas também Lebre de Freitas e Lopes
Cardoso. Quando a lei substantiva exige determinadas condições formais para a
constituição ou prova da obrigação, o título que não as cumpra não serve de título
executivo ao pagamento coativo da mesma.
• Concluir pela inexequibilidade extrínseca.

1
Cfr. DE SOUSA, MIGUEL TEIXEIRA, “Títulos executivos forever?”, in Blog do IPPC, de 25.05.2015.

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Exequibilidade intrínseca: afere-se nos termos do artigo 713.º CPC.


• exigibilidade: faltou ao pagamento de 3 prestações no valor de 10.000,00 € cada, e no
global de 30.000,00€ (3 prestações que se venceram em fevereiro de 2019, 2020 e 2021).
Apesar do benefício do prazo (artigo 780.º CC) cabe atender à perda de benefício do prazo
nos termos do artigo 781.º do CC, por se tratar de pagamento fracionado. Em todo o caso,
sempre seria necessário atender ao artigo 715.º do CPC para efeitos de demonstração da
perda do benefício do prazo podendo bastar-se com a invocação e prova em sede do
próprio requerimento executivo (artigo 724.º, n.º 1, alínea h) do CPC), caso em que além
das 3 prestações vencidas podia o BancarrotaBank pedir a execução por todas as
restantes prestações inclusive a de fevereiro de 2022 (perda do benefício do prazo em
relação a esta).
(Igual se o aluno considerar que faltava em 2023 apenas muda o valor da obrigação
exequenda para € 50.000,00)
• certeza: a prestação é certa por ser uma prestação pecuniária (artigo 550.º CC).
• liquidez: liquidez dependente de simples cálculo aritmético nos termos do artigo 716.º, n.º
1 e 724.º, n.º 1, alínea h) do CPC quanto a somatório de prestações em falta e cômputo
dos juros.

2. Pronuncie-se sobre a legitimidade de Carolina e Diana para a ação executiva. (3 valores)

In casu cabe aferir da legitimidade passiva.


Carolina:
• na qualidade de terceira com garantia real tem legitimidade ao abrigo da cláusula de
extensão de legitimidade (legitimidade aberta) do artigo 54.º, n.º 2 do CPC, reflexo
do artigo 818.º do CC.
• cabe mencionar que na posição do Professor Rui Pinto, impõe-se interpretar o artigo
54.º, n.º 2 e 3 do CPC à luz do artigo 686.º e 818.º do CC, na medida de se ter de
permitir, no que concerne à legitimidade passiva três hipóteses:
o demanda inicial conjunta de devedor e terceiro; ou
o demanda inicial de terceiro e posterior de devedor; ou
o demanda inicial de devedor e posterior de terceiro (no limite, por
interpretação extensiva do artigo 54.º, n.º 3 do CPC), não impondo o artigo
54.º, n.º 2 do CPC nenhum litisconsórcio necessário passivo ab initio se se
pretender demandar primeiro o devedor sem renunciar à garantia real
(renúncia nos termos do artigo 640.º CC apenas).
Diana:
• enquanto fiadora terá a qualidade de devedora subsidiária (artigo 627.º e seguintes
do CC) (responsabilidade subjetiva subsidiária).
• não se trata de terceira à dívida, mas sim de uma devedora efetiva, ainda que
subsidiária (contando que não renuncie ao benefício da excussão prévia), motivo pelo
qual a sua legitimidade advém do próprio contrato de fiança que terá de constar do

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título executivo ou ser junto com o contrato de mútuo (título executivo complexo),
fundando-se a sua legitimidade no artigo 53.º do CPC (regra de equiparação), reflexo
do artigo 817.º CC.

3. Analise a admissibilidade, fundamentos e efeitos da oposição à execução apresentada.


(5,5 valores)

Admissibilidade:
• oposição à execução é meio de reação do executado à ação executiva contra si proposta
e encontra-se consagrada nos artigos 728.º e seguintes do CC.
• in casu, fundando-se a ação executiva em título executivo extrajudicial e existindo uma
fiança sem renúncia ao benefício da excussão prévia (nada no enunciado o indicia), a
ação seguiria a forma ordinária, nos termos do artigo 550.º, n.º 3 do CPC.
• sucede que, in casu, é-nos dito que devidamente citada, Diana apenas se opõe ao fim de
25 dias, pelo que seguindo a execução forma ordinária e sendo o prazo de 20 dias nos
termos do artigo 728.º, n.º 1 do CPC, teremos uma oposição à execução extemporânea.
• nos termos do artigo 726.º, n.º 2, alínea a) do CPC a oposição à execução extemporânea
daria lugar a indeferimento liminar.

Quanto aos fundamentos e efeitos em si:


i) Compensação: in casu trata-se de uma compensação que se pretende judicial, i.e., não foi
realizada extrajudicialmente e, por isso, não configura um facto extintivo da obrigação.
• Considerando tratar-se de uma ação executiva baseada num título executivo extrajudicial
(se o título fosse válido) os fundamentos não obedecem a um sistema restritivo, antes se
admitem os “especificados no artigo 729.º, na parte em que sejam aplicáveis” e
“quaisquer outros que possam ser invocados como defesa no processo de declaração”,
nos termos do artigo 730.º do CPC.
• Ao pretender a condenação no remanescente Aurora pretende operar não apenas a
compensação, mas uma verdadeira compensação reconvenção, logo convoca-se a
referida problemática em articulação com o caso julgado da sentença de procedência de
oposição à execução.
• Como fundamento de oposição à execução, a compensação sempre é compensação
exceção e nunca de uma compensação reconvenção (artigo 266.º do CPC). Os embargos
de executado não admitem reconvenção por serem uma ação materialmente especial e
instrumental, com um único pedido – o de extinção da ação executiva.
• Ora, assim não pode a devedora pedir condenação do seu credor exequente no
remanescente à compensação, nunca o exequente termina a ação executiva com um
“novo” título executivo do executado contra si.
• Articular com força de caso julgado: a sentença é extintiva da ação executiva, tendo efeito
de caso julgado formal, contudo, dado o teor do atual n.º 6 do artigo 732.º do CPC, a
extinção da obrigação por compensação fará caso julgado material quanto à existência
da dívida exequenda, mas apenas para efeitos de simples apreciação da dívida que se

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executa, i.e., a extinção, parcial ou total, do crédito exequendo que será declarada com
valor de caso julgado oponível em qualquer futura ação judicial.
• porém, a mesma sentença que julgou extinta a execução por compensação não faz caso
julgado quanto à existência do contracrédito do executado, por integrar uma questão que
pertence aos fundamentos da sentença final de oposição à execução, mas já não a parte
dispositiva (exclui-se, por isso, do n.º 6 do artigo 732.º do CPC). Isto, sob pena de termos
de reconhecer um “caso julgado reflexo”.
• assim, o pedido de condenação do exequente no remanescente ou a sua simples declaração
sempre exigiria que a oposição à execução permitisse a reconvenção a qual não permite.
• fundamento admissível, nos termos do artigo 730.º do CPC, mas improcedente quanto ao
pedido de condenação no remanescente.
[não era título executivo judicial não se colocavam exigências quanto a superveniência
objetiva e prova documental. Outras posições doutrinárias seriam devidamente
valoradas.]

Excussão subsidiária: o que Diana pretende é fazer-se prevalecer do benefício da excussão


prévia, o qual assiste aos devedores subsidiários nos termos do artigo 638.º do CC.
• Apesar de o enunciado não indiciar renúncia prévia e Diana poder fazer-se valer deste
benefício pois ainda que parte com legitimidade passiva é subsidiária (artigo 53.º CPC e
627.º e 638.º do CPC) tratando-se de ação executiva que segue forma ordinária o devedor
subsidiário tem o ónus de invocar o benefício da excussão prévia em 20 dias (artigo 728.º,
n.º 1 CPC ex vi artigo 745.º, n.º 1 do CPC), podendo o exequente requerer em tal caso a
execução contra o devedor principal (artigo 745.º, n.º 2 do CPC).
• Contudo este não é um fundamento de oposição à execução (remissão para o artigo 728.º
do CPC apenas quanto ao prazo), antes deveria ser exercido em sede de requerimento
autónomo e em 20 dias. Não o sendo, não poderá mais o devedor subsidiário fazer-se valer
dele, nem sequer em sede de oposição á penhora (artigo 784.º do CPC inaplicável).
• Assim o referido fundamento não só era inadmissível como improcedente (extemporânea
a invocação), não podendo Diana opor-se a que os seus bens sejam penhorados antes dos
de Aurora e Carolina.

Efeitos:
• tanto seria valorada a referência aos efeitos do recebimento da oposição à execução, que,
em princípio, não terá efeito suspensivo, salvo verificação de uma das exceções do artigo
733.º do CPC - que parecia não se verificar;
• como seria valorada a referência aos efeitos de procedência/improcedência supra
referidos a propósito da compensação.

4. Afira da legalidade e modo de penhora (i) da coleção de canecas e (ii) do recheio da casa e da
legalidade da penhora da (iii) totalidade do salário levada a cabo pelo Agente de Execução.
(4 valores)

Questão prévia: a absoluta desconsideração pelo agente de execução dos bens indicados pelo

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exequente nos termos do que admite o artigo 724.º, n.º 1, alínea i) e n.º 2 do CPC pode contender
com o dever daquele em respeitar a indicação referida, em conformidade com o que dispõe o
artigo 751.º, n.º 2 do CPC, salvo se a desconsideração for motivada pelos limites impostos pelo
princípio da proporcionalidade, por limites legais ou pela adequação e/ou maior facilidade de
penhora (artigo 751.º, n.º 1 do CPC).

[seria valorada adicionalmente qualquer relevância a um eventual problema de ilegalidade da


penhora se se interpretasse o enunciado no sentido de ter sido penhorada Aurora sem que fosse
executada. Apesar de o enunciado admitir que fossem questões autónomas e a expressão “na
pendência” já depois de Diana se ter oposto à execução, invocando o benefício da excussão
prévia, permitirem concluir que Aurora teria vindo a ser executada a posteriori, se assim não
se entendesse, poder-se-ia invocar a ilegalidade da penhora por se afetar o património de
Aurora como terceira que não foi executada. Este ponto não tem caráter obrigatório, não
merecendo penalização a sua omissão, apenas valorização adicional.]

Penhora em concreto
Coleção de canecas:
• penhora de bens móveis não sujeitos a registo, nos termos do artigo 764.º, n.º 1 do CPC
que se efetua por apreensão material efetiva, sendo depositário o agente de execução.
• impenhorabilidade absoluta por diminuto valor venal nos termos do artigo 736.º, alínea
c) do CPC (penhora ilegal).

Recheio da casa:
• penhora de bens móveis não sujeitos a registo, nos termos do artigo 764.º, n.º 1 do CPC
que se efetua por apreensão material efetiva, sendo depositário o agente de execução.
• em abstrato poderá tratar-se de uma penhora admissível com alguns limites,
impenhorabilidades, em concreto e eventualmente:
o os bens que sejam imprescindíveis a qualquer economia doméstica (frigorífico,
televisão, mesa de cozinha, etc.);
o os bens com reduzido valor económico;
o os bens cujo valor económico não seja suficiente para cobrir todas as despesas
necessárias com a sua liquidação (apreensão, depósito e venda executiva);
o ...
[flexibilidade dos critérios de correção nesta questão desde que adequado]

Totalidade do salário:
• quanto à legalidade apenas cabe atender a que é um dos objetos de penhora sujeitos a
limites de penhorabilidade quantitativos (impenhorabilidade parcial) nos termos do artigo
738.º, n.º 1 do CPC.
• nunca a “totalidade” do salário pode ser penhorada dado o limite de impenhorabilidade
de 2/3 do n.º 1 do artigo 738.º, n.º 1 do CPC, apenas podendo 1/3. In casu, apenas podia
abstratamente ser penhorado 1/3 de 900€, i.e., 300€.
• sucede que a penhora de 1/3, neste caso, em 300€ deixa o executado com apenas 600€

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mensais, colocando-se adicionalmente o limite do n.º 3, que restringe a regra do n.º 1, ao


valor mínimo de 705,00€ independentemente de ser 1/3.
• assim, tendo de se salvaguardar o valor do salário mínimo nacional como mínimo
impenhorável, teremos de reduzir o valor da penhora por forma a o executado manter o
valor de 705,00€ mensais, sendo este o valor que sobrará, a penhora, no caso sub judice,
só poderá ser no valor de 195,00 € (300,00 € (valor abstratamente penhorável segundo o
n.º 1) – 105,00 € (valor que falta para respeitar o limite do n.º 3)).

II
Considere a seguinte hipótese:

Imagine que, na exata situação descrita em I., o BancarrotaBank tendo executado Aurora,
pretende executar também o seu marido, Eduardo, com quem é casada no regime de
comunhão de bens adquiridos. Pronuncie-se sobre a admissibilidade, meio indicado para o
fazer e consequências considerando que Eduardo pretende negar qualquer
responsabilidade. (2,5 valores)

Dívida em causa por aquisição de espaço para os projetos de influencer digital de Aurora:
• nunca seria dívida geneticamente comum (afastado artigo 1691.º, n.º 1, alínea a), 1.ª parte
do CC).
• no limite seria comunicável se se considerar que os projetos em causa seriam a atividade
principal de Aurora (seriedade de adquirir um espaço para isso indicia que sim) e, por
isso, ainda em “proveito comum do casal” nos termos do artigo 1691.º, n.º 1, alínea c) do
CC.
• neste sentido, a dívida comunicável apenas confere ao exequente a possibilidade de
através do incidente de comunicabilidade da dívida, consagrado no artigo 741.º do CPC
comunicar a dívida ao cônjuge não devedor, o que poderá fazer no requerimento inicial
ou posteriormente [in casu] até ao início das diligências para venda ou adjudicação, nos
termos do n.º 1 do mesmo preceito.
• dado que a hipótese nos diz que pretende negar: cabe atender ao artigo 741.º, n.º 4
havendo oposição por parte do cônjuge do executado caberá aferir em sede própria
através da respetiva oposição nos termos dos n.ºs 2 e 3, alínea b) do mesmo artigo.
• sempre importa referir que por estarem casados em comunhão de bens adquiridos das
duas uma:
o se a dívida viesse a ser comum (procedência de incidente de comunicabilidade –
artigo 741.º, n.º 5 do CPC): aplicação do artigo 1695.º do CC.
o se a dívida não fosse considerada comum (improcedência de incidente de
comunicabilidade – artigo 741.º, n.º 6 do CPC): aplicação do artigo 1696.º do CC
e eventualmente do artigo 740.º do CPC (se forem penhorados bens comuns do
casal).

Ponderação global: 1 valor (capacidade de síntese, exposição e clareza).

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