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Petição Inicial Pessoa Coletiva Requerida

Exmo. Senhor

Dr. Juiz de Direito do

Tribunal Judicial do Comércio de […]

[…], pessoa coletiva matriculada na Conservatória do Registo Comercial de […] sob o número
único […], com sede em […], vem, nos termos do disposto do nº1 do artigo 3, da alínea a) do nº1
do artigo 2 e das alíneas a), b) e e) do nº1 do artigo 20º, todos do CIRE, aprovado pelo DL nº
53/2004 de 8 Março, com as alterações introduzidas pelo DL nº 200/2004 de 18 agosto, pelo DL
nº 282/2007 de 7 agosto, e pela Lei nº 16/2012 de 20 abril, requer a

DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA

[…] pessoa coletiva matriculada na Conservatória do Registo Comercial de […] sob o número
único […], com sede […];

O que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

I- Da legitimidade da Requerente

1.

A requente […] é credora da […].

2.

Nos termos do disposto no nº1 do artigo 20º CIRE “a declaração de insolvência de um devedor
pode ser requerida por quem for legalmente responsável pelas suas dividas, por qualquer
credor, ainda que condicional e qualquer que seja a natureza do seu crédito, ou ainda pelo
Ministério Público, em representação das entidades cujos interesses lhe estão legalmente
confiados …”, verificando-se algum dos facto-índice de insolvência aí constantes. (Sublinhado
nosso)

3.
Assim, tem a requerente […] legitimidade para, nos presentes autos, e ao abrigo do citado artigo
20º, bem como do artigo 2/1º alínea a) do mesmo diploma legal, requerer a declaração de
insolvência da requerida […].

4.

Para tanto, deverá a requerente […] alegar e provar, cumulativamente:

I. A sua qualidade de credora, pelo que deverá justificar a “origem, natureza e


montante do seu crédito” (cf. Artigo 25º do CIRE) - donde resulta o seu interesse
processual na proposição da presente ação; e
II. A verificação de pelo menos um dos factos-índice de insolvência previsto nas
diversas alíneas do nº1 do artigo 20º do CIRE (cf. Neste sentido, entre outros, os
acórdãos do Tribunal da Relação do Porto de 3.11.2005, proc. 0534960 e de
26.10.2006, proc. 0634585, ambos disponíveis in www.dgsi.pt).

5.

Tais requisitos, que deverão constar do requerimento de declaração de insolvência, com vista
ao posterior decretamento da situação de insolvência da […] encontram-se verificados no caso
concreto, como se passa a demonstrar.

II- DA JUSTIFICAÇÃO DO CRÉDITO DA REQUERENTE

6.

A requente tem como objeto e funções […].

7.

Em […] a requerente […] celebrou com a requerida […] por […] um contrato de […] com um valor
de […] - cf. Cópia que se junta (doc. 1) e que aqui se dá como totalmente reproduzida para os
devidos efeitos legais.

8.

Assumiu e garantiu o bom e pontual cumprimento de todas as obrigações a requerida […],


previstas ou decorrentes do referido contrato, cujos termos e condições tem cabal
conhecimento.

9.

O contrato foi efetuado pelo prazo de […] meses/ano, com início na data […] e termino …/…/….

10.

Nos termos das Cláusulas […] do referido contrato foi estipulado que:

a) […]
b) […]
c) […]
11.

Nesse ato a requerida […] obrigou-se a favor da Exequente […] para garantir o bom e pontual
cumprimento:

a) […]
b) […]
c) […]

12.

O contrato tem por objeto o seguinte:

[…]

13.

O contrato assinado por […] por si e na qualidade de […] da sociedade […], importa a
confissão da divida e serve como justificação do (s) presente (s) crédito (s).

14.

Mais se convencionou ainda que, vencida e ainda não cumprida qualquer uma das
prestações, considerando-se que a falta de pagamento de qualquer uma delas implicaria o
imediato e automático vencimento.

15.

Ora, a requerida […] não procedeu ao pagamento da prestação vencida em […] no valor de
[…] € - Cf. Se junta como Doc. 2 para todos os devidos e legais efeitos.

16.

Face ao incumprimento verificado, a requerente […] considerou antecipadamente vencido


o capital do empréstimo a partir daquela data.

17.

Assim, a requerente […] é credora da requerida […] pelas seguintes importâncias:

a) […]

b) […]

18.

Instados para proceder à regularização da divida, a […] nada fez até hoje, não obstante as
insistências feitas pela requerente […] nesse sentido, pelo que se encontra desembolsada de
tais quantias.

19.

E o pagamento em Direito não se assume.

20.
Em …/…/…. a requerente […] após ter sido citada, deduziu reclamação de créditos no âmbito do
processo executivo nº […], e que corre termos juntos do Juízo de Execução de […], em que a
requerida […] é executada- Cf. Doc. 3 que se junta e se reproduz para todos os devidos e legais
efeitos.

21.

No entanto até ao momento, nada recebe a requerente no âmbito do referido processo


executivo, nem extrajudicialmente.

22.

Pretende ainda a requerida […] receber, além da quantia supramencionada de […] € os juros de
mora à taxa contratual e legal sobre o capital em divida de, que se venceram até efetivo e
integral pagamento.

23.

Até à presente data, a requerente não logrou receber qualquer quantia por conta da referida
divida.

III- DOS FUNDAMENTOS DA SITUAÇÃO DE INSOLVÊNCIA

24.

A requerida […] é uma sociedade comercial com objeto social de […] - Cf. Certidão comercial que
aqui de junta como doc. 4 e se reproduz para todos os devidos e legais efeitos.

25.

Estabelece o disposto do nº1 do artigo 3º do CIRE que “é considerado em situação de insolvência


o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas”.

26.

Já o disposto no nº1 do artigo 20º do CIRE estabelece que:

“A declaração de insolvência de um devedor pode ser requerida (…) por qualquer credor (…)
verificando-se algum dos seguintes factos:

1. Suspensão generalizada do pagamento das prestações vencidas;


2. Falta de cumprimento de uma ou mais obrigações que, pelo seu montante ou pelas
circunstâncias do cumprimento, revele a impossibilidade de o devedor satisfazer
pontualmente a generalidade das suas obrigações. “

27.

No direito nacional a insolvência é definida, em termos genéricos, como a impossibilidade de


cumprimento das obrigações vencidas- Cf. nº1 do artigo 3º do CIRE- sendo este o critério
principal para a definição da situação de insolvência.
Assim,

28.

A requerente […], após ter constatado que a requerida […], para além de não conseguir liquidar
as suas obrigações vencidas, não dispõe de bens, livres e desonerados passiveis de satisfazerem
as suas dividas.

29.

O património da requerida […] é manifestamente insuficiente para responder pelas suas dividas
conhecidas, ou seja, o seu passivo é muito superior ao ativo existente.

30.

Da análise do disposto no nº1 do artigo 3º do CIRE verificamos, entre nós, vigora o denominado
critério do fluxo de caixa (cash flow).

31.

De acordo com este critério o devedor está insolvente no momento em que se torna incapaz,
por ausência de liquidez, suficiente, de satisfazer as suas dividas no momento em que estas se
vencem.

32.

Aliás, de outro modo não seria de esperar pois, caso contrário, estar-se-ia a prejudicar de
sobremaneira os direitos dos credores,

33.

Dado que, perante uma cessação de pagamentos por parte do devedor, os credores teriam de
esperar que este último procedesse à liquidação dos seus bens,

34.

Algo que, além de poder demorar bastante tempo, o que só por si prejudicaria os direitos do
credor,

35.

Não salvaguardaria a liquidação da divida, dado que nada garante que o valor patrimonial do
ativo seja suficiente.

36.

Ademais, se atendermos à crise económico-financeira atual que, como sabemos, tem operado
ajustes em grande défice sobre o real valor de bens, não será expectável a verificação de liquidez
suficiente para fazer face ao passivo exigível.

37.

Ensina o acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 02.03.2010, relativamente ao critério


do fluxo de caixa:
“ (…) basta-se com a falta de liquidez, não pagamento das dividas; trata-se de um critério simples
que toma por indicio seguro de insolvência a falta de pagamento, independentemente do
confronto entre o ativo e o passivo (…), tomando em linha de conta que o credor na insolvência
não pode estar à espera que o devedor cobre os seus créditos para honrar os seus
compromissos.”

38.

Para efeitos de situação de insolvência não releva o facto de o ativo da requerida ser superior
ao seu passivo, sendo considerada em situação de insolvência desde que se encontre
impossibilitada de cumprir as suas obrigações vencidas, como acontece no caso SUB Júdice.

39.

Sendo a insolvência uma situação de natureza económica, revela-se sobre a forma de


insuficiência de liquides, num determinado momento, para solver as obrigações a que os
devedores se encontram adstritos.

40.

Mais incisivamente, é referido no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 24.01.2006 que:


“o devedor pode ser titular de bens livres e disponíveis de valor superior ao ativo, e mesmo
assim, estar insolvente por esse ativo não ser líquido e o devedor não conseguir com ele cumprir
pontualmente as suas obrigações.”

41.

Portanto, o que verdadeiramente caracteriza a insolvência não é o mero confronto entre ativo
e passivo.

42.

Mas sim a insuficiência do ativo líquido face ao passivo exigível.

43.

A requerida na presente data, não exerce qualquer atividade passível de cumprir com as suas
obrigações.

44.

Sendo certo que a atual conjuntura económica não permite prever que, a curto prazo, a situação
seja invertida.

45.

A requerida não tem, assim, rendimentos para pagar o passivo supra descrito, nem tão pouco
possibilidade, como demonstrado, de o vir a libertar, pois não dispõe de dinheiro ou crédito.

46.

Estamos perante uma situação clara de inexistência de património, livre e desonerado ou de


qualquer fonte de rendimento por parte da requerida que permita fazer faco a um tão elevado
passivo.
47.

A divida total para com a requerente […] revela a situação de insolvência em que a requerida se
encontra e é suscetível de preencher a previsão do nº1 do artigo 3º da alínea a), do nº1 do artigo
2º e das alíneas a) e b) do nº1 do artigo 20º, todos do CIRE.

48.

Pois a requerida […] não se mostra capaz de pagar, nem a “pronto”, nem faseadamente as
dividas que tem para com a requerente, sendo isto indicativo da impossibilidade para satisfação
e cumprimento das obrigações assumidas por aquela,

49.

Encontrando-se assim preenchida a previsão da alínea b) do artigo 20º CIRE.

50.

Igualmente, a falta de cumprimento das obrigações da requerida para com a requerente revela,
pelo seu montante e pelas circunstâncias em que se deu o incumprimento, nomeadamente o
tempo entretanto decorrido, a impossibilidade desta em satisfazer pontualmente as suas
obrigações para com a generalidade dos seus credores.

51.

Nos termos do disposto no artigo 3º do CIRE, há factos que evidenciam a insusceptibilidade do


devedor cumprir as suas obrigações, “Estes factos estão enunciados nas diversas alíneas do nº1
do artigo 20º do CIRE e são correntemente designados por factos-índices ou presuntivos de
insolvência (…). Por isso a verificação de qualquer um deles permite presumir a situação de
insolvência do devedor (...) a verificação, pelo menos de um daqueles factos, e condição
necessária para a iniciativa processual dos sujeitos mencionados no mesmo normativo.” – AC
Tribunal Relação do Porto nº 0731360 de 12/04/2007 in http://www.dgsi.pt.

52.

Com efeito, por força da suspensão generalizada do pagamento das suas obrigações vencidas,

53.

Bem como por força da insuficiência do seu património nos termos já referidos, a situação da
requerida, sem qualquer dúvida, a previsão das alíneas a) e b) do nº1 do artigo 20º do CIRE,
encontrando-se, desta forma, impossibilitada de cumprir as suas obrigações em resultado da
carência de meios próprios e de crédito.

Por outro lado,

54.

“O que caracteriza a situação de insolvência é a impossibilidade de satisfazer as obrigações que,


pelo seu significado, no conjunto do seu passivo, ou pelas circunstância do incumprimento
revelem a impossibilidade de satisfazer pontualmente a generalidade- considerada pela
ponderação articulada, quantidade e volume- das obrigações ao devedor.”- AC Supremo
Tribunal de Justiça 18.12.2001 disponível in www.dgsi.pt
55.

Por tudo quanto supra exposto, é evidente que a requerida […] encontra-se numa clara situação
liquida negativa, não sendo possível perspetivar a sua melhoria de forma a ser possível o
cumprimento das suas obrigações juntos dos credores, no que se inclui a ora requerente […].

56.

A situação de insolvência da requerida […], será, o único meio de os credores puderem,


eventualmente, ver os seus créditos satisfeitos e obstar a que mais débitos sejam contraídos.

Nestes termos e nos demais de direito, requer-se a V. Exa


se digne deferir o presente requerimento e declarar a
insolvência da requerida […].

Para tanto, requer-se a V. Exa que, nos termos do disposto


no artigo 29º do CIRE se digne mandar citar pessoalmente
a requerida, na pessoa dos seus representantes legais,
[nome], NIF […], residente em […], e os seus credores
reconhecidos e desconhecidos para, querendo deduzir
oposição, seguindo-se os ulteriores termos até final.

Requer-se ainda a V. Exa se digne notificar a requerida […]


para identificar os seus […] maiores credores, nos termos
da alínea b) do nº2 do e do nº3 do artigo 23º CIRE.

IV- NOMEAÇÃO ADMINISTRADOR DA INSOLVÊNCIA

Nos termos do disposto do nº1 do artigo 32º do CIRE, a requerente propõe para
administrador da insolvência o […], com escritório […], pessoa que se julga conhecida em
juízo e que declarou à requerente […] aceitar o encargo, se para o mesmo vier a ser
nomeado.

O administrador de insolvência proposto é a pessoa que merece respeito à requerente […]


e os maiores encómios, quer no aspeto técnico, quer no aspeto moral, de indiscutível
idoneidade moral, dando-lhes garantias de condução eficaz e honesta do desempenho das
suas funções.

V- Prova

Documental

1- A dos autos;
2- A que vier a ser junta pela requerida, nomeadamente:
a) Relação de todos os credores e respetivos domicílios, créditos, data de vencimento e
garantias;
b) Relação de todas as ações e execuções pendentes contra a requerida

Testemunhal

[Nome; morada; estado civil; profissão]

Valor: […]

Junta: [nº de documentos], comprovativo de pagamento da taxa de justiça inicial,


procuração forense.

Advogado

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