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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 5ª.

VARA JUDICIAL
DO FORO REGIONAL DE VILA MIMOSA DA COMARCA DE CAMPINAS – SP.

Distribuição por dependência do


Processo nº ...

Mefistófeles, empresário, estado civil, com endereço na Rua....., portador do RG n.º .... e
do CPF n.º ....., endereço eletrônico.... vem, muito respeitosamente, perante Vossa
Excelência, por seu advogado infra-assinado, conforme procuração anexa, opor os
presentes

EMBARGOS À EXECUÇÃO

em face de Atacadista Central Ltda., Razão Social, pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ sob o n.º....., com sede na Rua....., endereço eletrônico...., pelos fatos
e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.
1. DOS FATOS

O Embargante e o Sr. Aristides são sócios da Sociedade Limitada


Comércio de Alimentos Peloponeso Ltda., cujos os atos constitutivos foram
assinados, porém, não foram registrados junto à Junta Comercial do Estado de São
Paulo – JUCESP.

O Sr. Aristides, um dos administradores e sócio da empresa, negociou,


junto a embargada, gêneros alimentícios o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Todavia, não honrou com o pagamento, apesar da sociedade possuir recursos em
caixa para tal.

Ocorre que os cheques utilizados para o pagamento foram apresentados


junto ao Banco, porém, restaram não pagos, por insuficiência de fundos.

Os respectivos cheques estão sendo executados, uma vez que foram


emitidos no de julho do ano de 2018.

Diante da sociedade ser irregular, a execução foi movida contra os sócios.

Recentemente, o embargante for citado e intimado e descobriu que foi feito


a penhora do bem que serve de moradia a sua família para pagamento integral da
dívida, que perfazem o valor de R$40.000,00 (quarenta mil reais).

Em que pese a necessidade do adimplemento da obrigação, a execução,


contudo, não merece prosperar, conforme restará demonstrado.

2. DO DIREITO

2.1 PRELIMINARMENTE

2.1.1 Da ausência de pressuposto processual específico

Para a propositura da ação de execução, o art. 798 do CPC apresenta condições


da ação específicas. Dentre elas, destaca-se o disposto no inc. I, alínea “b”, de
mencionado dispositivo legal, que exige:
Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:

I - instruir a petição inicial com:

(...)

b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação,


quando se tratar de execução por quantia certa;

Ocorre que o exequente, ao propor ação de execução em face do ora embargante


e de seu sócio, apresentou simples cálculos no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil
reais), sem haver sequer juntado aos autos o demonstrativo dos débitos que o levaram
ao valor supostamente devido, conforme exigido pelo dispositivo legal em epígrafe.
Dessa forma, a petição inicial apresentada pelo exequente, ora embargado,
mostra-se deficiente, já que a propositura e prosseguimento da ação de execução
dependem do preenchimento dos requisitos previstos no art. 798 do CPC.
Assim, a ação de execução proposta em face do ora embargante deverá ser
julgada extinta, sem a apreciação de seu mérito, como decorrência do necessário
indeferimento da petição inicial, conforme mandamento contido do art. 801 do CPC, já
que o exequente, ora embargado, deixou de instruí-la com documento indispensável à
propositura da ação de execução, inviabilizando a defesa do executado e a apreciação
da demanda pelo Poder Judiciário.

2.2 NO MÉRITO

2.2.1 Do cabimento dos embargos à execução

Dispõe o art. 914 do CPC:

Art. 914. O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução,


poderá se opor à execução por meio de embargos.
§ 1º Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados em
apartado e instruídos com cópias das peças processuais relevantes, que
poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua
responsabilidade pessoal.

Nos moldes do “caput” do dispositivo legal em epígrafe, infere-se que os embargos


à execução são a medida apropriada à impugnação da execução, ainda que os bens do
executado não tenham sido objeto de penhora.
Assim, não se vislumbra outra medida processual adequada a resguardar os
direitos do embargante, senão a oposição dos presentes embargos à execução, tendo
em vista que este é executado em ação de cobrança, em razão do inadimplemento de
dívida assumida pela sociedade que integra, tendo sido vítima, inclusive, de penhora de
seu bem de família, em total ofensa à sua dignidade humana e em evidente desrespeito
ao seu direito fundamental de moradia.
Por isso, tem cabimento os presentes embargos, com amparo no art. 917 do CPC,
que prevê:

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:

(...)

II – penhora incorreta ou avaliação errônea;

(...)

VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de
conhecimento.

Assim, requer que os presentes embargos à execução sejam distribuídos por


dependência aos autos principais, e recebidos com as cópias das peças processuais
anexas (doc.), nos moldes do que estabelece o §1º do art. 914 do CPC.
2.2.2 Da ausência de apresentação de demonstrativo de débitos
Conforme amplamente demonstrado em sede de preliminar, para a propositura da
ação de execução, o art. 798 do CPC exige, dentre outras condições, a apresentação,
pelo exequente, de demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação,
quando se tratar de execução por quantia certa, requisito não preenchido pelo ora
embargado.
Em atendimento ao princípio da eventualidade, diante da remota probabilidade de
não acolhimento da preliminar arguida, passa-se à discussão do mérito da demanda.
Resta evidente que a atitude adotada pelo exequente, ora embargado, ao não
apresentar documento essencial à propositura da ação de execução, mostra-se
totalmente incompatível com os princípios da ampla defesa e devido processo legal, uma
vez que torna impossível ao embargante a constatação da origem e forma de apuração
do valor atribuído ao débito, cerceando-lhe, consequentemente, da possibilidade de
impugnação dos valores apurados, que inclusive mostram-se demasiadamente
exorbitantes se comparados ao valor original da dívida, de R$ 10.000,00 (dez mil reais),
ainda que se considere todas as atualizações monetárias e consequências moratórias
legalmente impostas no caso de inadimplemento.
Diante do exposto, requer, no caso de não acolhimento da preliminar arguida para
extinguir a ação de execução, que seja o embargado compelido a apresentar o
demonstrativo contendo a forma de apuração dos débitos, a fim de que o embargante
possa dispor de subsídios para impugnar os valores apresentados, como corolário da
garantia constitucional de pleno exercício de seu direito de defesa.

2.2.3 Da ilegalidade da constrição

2.2.3.1 Do benefício de ordem


Conforme amplamente demonstrado, o embargante foi vítima de constrição em
ação de execução na qual figura no polo passivo juntamente com seu sócio, Aristides,
em razão de dívida assumida pela sociedade que integram.
Embora seja cediço que os sócios possuem responsabilidade pelos atos
praticados pela sociedade, sobretudo enquanto não levados a registro perante a Junta
Comercial seus atos constitutivos, a penhora dos bens do embargante não pode ser
admitida da forma como ocorreu no caso em tela.
Preconiza o art. 986 do CC:

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade,


exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas,
subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade
simples.

Do texto de mencionado dispositivo legal, infere-se que a ausência de registro dos


atos constitutivos da sociedade não constitui, por si só, meio hábil a legitimar a
expropriação de bens pessoais dos sócios a qualquer custo. Isso porque, enquanto não
registrados os atos constitutivos, a sociedade rege-se pelas normas da sociedade em
comum, aplicando-se, subsidiariamente, as regras aplicáveis à sociedade simples.
Quanto à sociedade em comum, a qual o ilustre doutrinador Ricardo Negrão
afirma tratar-se de sociedade despersonalizada, já que a personalidade jurídica decorre
de sua constituição por documento inscrito no Registro Público, aplica-se o disposto no
art. 990 do CC, que garante:
Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que
contratou pela sociedade.

Assim, embora a ausência de registro da sociedade não garanta aos seus sócios
toda a proteção decorrente da aquisição de personalidade jurídica, o Código Civil lhes
assegura o chamado benefício de ordem, que impõe a necessidade de execução dos
bens sociais antes do alcance dos bens pessoais dos sócios para o adimplemento de
dívidas contraídas pela sociedade.
Nesse sentido, o art. 1.024 do CC:
Art. 1024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas
da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

O disposto no art. 990 do CC demonstra com clareza que não se aproveita do


benefício de ordem tão somente o sócio que contratou pela sociedade.
Ocorre que, conforme amplamente demonstrado, Aristides foi quem negociou, em
nome da sociedade, gêneros alimentícios junto à embargada, originando o débito que
restou inadimplido, uma vez que os cheques fornecidos pelo sócio não foram saldados
no prazo oportuno, apesar de a sociedade possuir recursos em caixa para tal.
Pelo exposto, resta claro que antes de alcançar os bens do embargante, a
execução deve direcionar-se primeiramente aos bens de Aristides, contratante dos
serviços de fornecimento dos gêneros alimentícios e único responsável pelo
inadimplemento do débito adquirido pela sociedade.

2.2.3.2 Da impenhorabilidade do bem de família

A proteção à família e a moradia são direitos fundamentais consagrados pelo texto


constitucional.
Assim dispõe o art. 6º da Carta Magna:

Art. 6°- São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Como corolário do aperfeiçoamento das garantias fundamentais previstas na


Constituição visando à proteção da família e do direito de moradia, o imóvel residencial
próprio da entidade familiar passou a ser legalmente protegido.
Nesse sentido, a Lei 8.009/91, visando dar efetividade aos direitos fundamentais
resguardados pela Constituição Federal, impõe, logo em seu art. 1º, que:
Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é
impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou
filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas
nesta lei.

Assim, ao adquirir caráter de impenhorabilidade, o bem de família passa a ser


inalcançável para fins de garantia do adimplemento de dívidas de qualquer natureza,
salvo nas hipóteses excepcionais previstas no art. 3º de mencionada Lei, que não abarca
a possibilidade de penhora do bem de titularidade da unidade familiar de sócio para fins
de adimplemento de dívida adquirida pela sociedade.
A proteção garantida ao bem de família como regra trata-se de fundamento básico
do ordenamento jurídico. Tem por objetivo efetivar a promoção de dignidade à pessoa
humana, resguardando os indivíduos em uma de suas necessidades mais básicas.
Ao impor a impenhorabilidade do bem que protege e garante unidade familiar, o
ordenamento efetiva a proteção social à moradia e garante proteção especial à família,
base da sociedade, demonstrando que a dignidade deve ser assegurada em detrimento
da proteção ao crédito, em perfeita consonância com aquilo que pretende impor a
Constituição Federal, ao prever uma série de garantias fundamentais aos indivíduos.
Por isso, diante do caráter fundamental do direito que ora se discute, mostra-se
totalmente ilegal a constrição realizada sobre o bem do embargante.
Isso porque, ao ser citado e intimado da execução, o embargante foi surpreendido
com a constatação de que o imóvel no qual reside com sua família fora objeto de penhora,
a fim de garantir a satisfação da dívida contraída pela sociedade, em total contrariedade
ao disposto no art. 1º da Lei 8.009/91.
Por todo o exposto, os presentes embargos deverão ser acolhidos, a fim de afastar
a constrição operada sobre o bem que serve de moradia ao embargante e à sua família,
sob pena de grave ofensa à sua dignidade e desrespeito à própria Constituição Federal.
2.3 Da aplicação do efeito suspensivo
Sobre os efeitos dos embargos à execução, o art. 919 do CPC prevê que:

Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.

§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos


embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória
e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução
suficientes.

Diante da gravidade dos efeitos que a eventual efetivação da penhora que recaiu
sobre o bem de família do embargante pode lhe gerar, do evidente risco de expropriação
de seu bem e diante da patente probabilidade de acolhimento de sua pretensão para ver
afastada a constrição operada sobre seu imóvel, já que a lei protege o bem de família, o
embargante requer, desde já, a aplicação do quanto disposto no texto legal em epígrafe
aos presentes embargos, a fim de impedir a adoção imediata de quaisquer medidas
capazes de expropriá-lo de seu bem, haja a vista proporção dos danos que lhe podem
ser causados com a supressão de seu direito constitucional de moradia, que não pode
ser relativizado pelo mero direito do exequente à satisfação do seu crédito.
Requer, face às circunstâncias do caso em tela, que aos presentes embargos seja
atribuído liminarmente o efeito suspensivo, nos moldes do que prevê o § 1º do art. 919
do CPC, a fim de evitar o prejuízo do evidente direito do embargante.

3. DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
a) liminarmente, a concessão do efeito suspensivo aos presentes embargos à
execução;
b) o acolhimento e provimento dos presentes embargos à execução, levantando a
penhora do bem pertencente ao Embargante;
c) a extinção do processo sem resolução de mérito, em decorrência da não
demonstração dos cálculos necessários, condenando a Embargada ao
pagamento de custas e honorários advocatícios;
d) caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência, que sejam executados
primeiramente os bens da empresa Comércio de Alimentos Peloponeso Ltda.,
assim como do sócio Aristides...., administrador da pessoa jurídica em questão;
e) a intimação da Embargada, na pessoa do seu procurador, nos moldes do artigo
920, I, do CPC, para que apresente resposta, no prazo de 15 (quinze) dias;
f) provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
especialmente o depoimento pessoal do representante legal da Embargada,
apresentação de novos documentos que ainda não tenham sido obtidos até o
momento vigente e oitiva de testemunhas, tudo a fim de comprovar que a
empresa devedora possui bens a serem penhorados e que não foi o Embargante
quem contratou pela empresa;
g) sejam as intimações direcionadas ao advogado ...., inscrito na OAB sob o n.º....,
com escritório no endereço completo com CEP, endereço eletrônico.....@....

4. VALOR DA CAUSA
Dá-se a causa o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais)

Termos em que,

Pede deferimento.
Local, data.

___________________

Advogado

OAB/UF

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