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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESTADO DE SÃO


PAULO

Ref.: Agravo de Instrumento nº. 229955-66.2222.8.09.0001/4

BENJAMIM (“Agravado”), já devidamente qualificada no recurso de Agravo de


Instrumento em destaque, vem, com o devido respeito a Vossa Excelência, por
intermédio de seu patrono que ora assina, alicerçado no art. 1.019, inc. II, do Código
Processo Civil, para, tempestivamente, na quinzena legal, apresentar

CONTRAMINUTA DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

do qual figura como recorrente LINO SOL (“Agravante”), proprietário da


Empreiteira e Construtora Golpe Certo, em face da Ação Popular interposta pelo
Agravado que, entre outras medidas, pede a devolução total do valor recebido pelo
Agravante para a construção de um estádio de futebol, razão qual a fundamenta com
as Razões ora acostadas.

Respeitosamente, pede deferimento.

Paragominas, 10 de maio de 2022.

Alex Júnior de O. Bicho


11.111 OAB/PA
CONTRARRAZÕES AO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Agravante: Lino Sol – Empreiteira e Construtora Golpe Certo


Agravado: Benjamim

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PRECLARO RELATOR

1 – TEMPESTIVIDADE

A presente contraminuta ao Agravo há de ser considerada como tempestiva. O


Agravado fora intimado a manifestar-se por meio do Diário da Justiça Eletrônico,
quando esse circulou no dia 10 de maio de 2022 (terça-feira).

Portanto, à luz do que rege a Legislação Adjetiva Civil (CPC, 1.019, inc. II) é
plenamente tempestivo o arrazoado, sobretudo quando apresentado na quinzena
legal.

2 – A DECISÃO AGRAVADA NÃO MERECE REPARO

O Agravante ajuizou ação de modificação para que seja reconhecida a sua


ilegitimidade como parte passiva no processo de devolução de pagamento recebido
para construção de um estádio de futebol, feito pela Prefeitura Municipal de Taubaté,
São Paulo. Fato que motivou a sua citação na Ação Popular movida pelo Agravado
na comarca de Taubaté.

Citado, o Agravante apresentou contestação. Nessa, dentre outras aspectos,


refutou-se a possibilidade da sua ilegitimidade como parte passiva no processo e a
manutenção dos valores percebidos.
Contudo, a insatisfação do Agravante somada ao Agravo de Instrumento
interposto, não trouxeram qualquer elemento que pudesse alterar as conclusões e
fundamentos utilizados pelo Juízo singular, limitando-se a alegar sua ilegitimidade
passiva: “requer-se a exclusão da parte Lino Sol - Empreiteira e Construtora Golpe
Certo em razão de sua ilegitimidade, vez que a Ação Popular somente pode ser
dirigida ao desfazimento do ato administrativo e não ao recebimento de valores
eventualmente percebidos pela municipalidade, como ocorreu no caso presente.
Pede o deferimento de liminar para a exclusão requerida”.

Constata-se, entretanto, o equívoco do recorrente, conforme nota-se a partir da


breve análise da lei da Ação Popular.

3 – DA LEGITIMIDADE PASSIVA – DO LITISCONSÓRCIO PASSIVO E AS


VANTAGENS INDEVIDAS.

O artigo 6º da Lei nº 4.717/65 determina de forma taxativa quem são os


legitimados passivos aptos a responder à presente ação, no que pese, o prefeito, o
Município e a empresa beneficiada, assim determina:

“Art. 6º - A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as


entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado
o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e
contra os beneficiários diretos do mesmo.”

Isso posto, considera-se legítima a configuração do Agravante como polo


passivo, componente do litisconsórcio passivo necessário aqui registrado, pois com o
recebimento irregular de dinheiro oriundo dos cofres públicos, deve a empresa,
principal beneficiada, devolver todos os valores recebidos, com correção monetária e
juros desde a citação na presente ação.
Dessa forma, não há que se falar em exclusão ou reconhecer a alegação de
ilegitimidade de parte por parte do Agravante, vez que recebeu indevidamente o
valor de R$ 2,5 milhões e deve devolver esse numerário aos cofres públicos
municipais de Quiririm do Sul.

4 – DOS FATOS

Ao analisar os fatos narrados na inicial, fica clara legitimidade da parte.

Por meio do Decreto Municipal nº 123/2021, o prefeito Sr. Tomas Sol


dispensou o processo licitatório e realizou a contratação direta da Empreiteira e
Construtora Golpe Certo, de propriedade de seu irmão Lino Sol, para que construísse
o terceiro estádio municipal de futebol na cidade, em meio a uma crise sanitária
(COVID-19).

Além da ilegal, a dispensa de licitação imposta aos entes públicos para realizar
a obras pública, ele o fez sob a fundamentação de que emergência sanitária em razão
da pandemia da COVID-19, utilizando inclusive as verbas destinadas à criação de
leitos hospitalares desse.

É patente a violação de diversos princípios da Administração Pública


previstos na Constituição Federal, o que se configura como ato lesivo à moralidade
administrativa, consoante os fatos e fundamentos de direito que se passa a expor:

5 – DO CABIMENTO DA AÇÃO POPULAR

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus de
sucumbência.
É o que dispõe a Constituição Federal, em seu artigo 5º, LXXIII:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência;

Nos casos de dispensa de licitação, a municipalidade deveria utilizar as regras


da Lei n º 8.666/931 ou ainda, as novas regras previstas na recém aprovada Lei nº
14.133/2021. Como veremos:

6 – DA IRREGULARIDADE DA CONTRATAÇÃO DIRETA SEM LICITAÇÃO

A realização de obras públicas exige procedimento administrativo licitatório,


sendo absolutamente descabida a fundamentação de dispensa de licitação em razão
da pandemia para a construção de um estádio de futebol.

Além do ferimento ao artigo 37 da Constituição da República, XXI


“ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da
lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”, também foram
desrespeitadas as normas legais que exigem a realização de licitações para obras
públicas.

7 – DA FALSA EMERGÊNCIA E COMBATE AO COVID-19


Saliente-se que a forma e o motivo alegado pelo prefeito para a realização da
obra sem licitação não estão de acordo com nenhum dos mandamentos legais, pois
são absurdos e falaciosos, vez que a construção de um estádio em nada auxiliará ao
combate à pandemia, não havendo qualquer urgência em sua realização, pelo
contrário, diante das limitações sanitárias impostas em razão da doença.

Em razão da pandemia do COVID-19 que assolou o mundo e de forma ainda


mais intensa o Brasil, foi aprovada a Lei nº 13.979/2020 que carreou hipóteses de
dispensa de licitação, de caráter temporário (art. 4º, § 1º) E específica “para
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019”.

Ora, salta aos olhos que a construção de um estádio de futebol (nem que seja
para abrigar um hospital de campanha) não é uma medida temporária e nem
específica para o enfrentamento da COVID-19.

Da mais superficial análise da obra contratada é possível inferir a ausência de


imprescindibilidade diante da situação emergencial alegada. Obviamente que a
construção de um estádio em nada se adequa à situação emergencial exposta, não
sendo em nada imprescindível, indispensável a sua contratação para fim de combate
à COVID-19.

8 – DA ILEGALIDADE DA DISPENSA DE LICITAÇÃO

Na nova lei de licitações Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021, a contratação


direta exige os requisitos previstos no artigo 72:

Do Processo de Contratação Direta:

Art. 72. O processo de contratação direta, que compreende os casos de inexigibilidade


e de dispensa de licitação, deverá ser instruído com os seguintes documentos:
I - documento de formalização de demanda e, se for o caso, estudo técnico preliminar,
análise de riscos, termo de referência, projeto básico ou projeto executivo;
II - estimativa de despesa, que deverá ser calculada na forma estabelecida no art. 23
desta Lei;
III - parecer jurídico e pareceres técnicos, se for o caso, que demonstrem o
atendimento dos requisitos exigidos;
IV - demonstração da compatibilidade da previsão de recursos orçamentários com o
compromisso a ser assumido;
V - comprovação de que o contratado preenche os requisitos de habilitação e
qualificação mínima necessária;
VI - razão da escolha do contratado;
VII - justificativa de preço;
VIII - autorização da autoridade competente.
Parágrafo único. O ato que autoriza a contratação direta ou o extrato decorrente do
contrato deverá ser divulgado e mantido à disposição do público em sítio eletrônico
oficial.

Lembremo-nos de que nada disso foi feito pelo prefeito réu.

Além disso, a norma aponta a responsabilidade do agente público que deixe


de observar esse mandamento,

Art. 73. Na hipótese de contratação direta indevida ocorrida com dolo, fraude ou erro
grosseiro, o contratado e o agente público responsável responderão solidariamente
pelo dano causado ao erário, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.

9 – FERIMENTO À MORALIDADE ADMINISTRATIVA

O ato do prefeito é dotado de evidente má-fé, falta de ética e de falta de zelo


com a coisa pública, visto que transferiu fonte de renda do próprio município
destinada à saúde para a realização de uma obra desnecessária, com uma empresa de
propriedade de seu próprio irmão, Luiz Copa.

Dessa forma, cabível a presente ação, eis que tem por finalidade a preservação
da moralidade administrativa e a não realização de procedimento licitatório.

10 – DOS REQUERIMENTOS E PEDIDOS


Diante de todo o exposto, requer-se seja negado conhecimento ao presente
recurso e, no mérito, seja improvido o recurso de Agravo mantendo-se a decisão
agravada incólume pelos seus próprios e jurídicos fundamentos, com a manutenção
da Empreiteira e Construtora Funeral, por meio de seu representante legal, no polo
passivo da Ação Popular para que seja condenada a devolver os numerários
indevidamente recebidos pela municipalidade, bem como ao pagamento, ao autor,
das custas e demais despesas, judiciais e extrajudiciais, relacionadas com a ação, bem
como os honorários advocatícios na forma do art. 12, da Lei 4717/65, todos
solidariamente, na forma do artigo 73 da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021.

Termos em que, pede deferimento.

Paragominas, 10 de maio de 2022.

Alex Júnior de O. Bicho


11.111 OAB/PA

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