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PARECER JURÍDICO

PROCESSO : PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO N.º 001/2023


PROPONENTE : EXECUTIVO MUNICIPAL

PARECER : Nº 001/2023
REQUERENTE : PREFEITO

1. RELATÓRIO:

Veio a esta Procuradoria, para parecer, consulta jurídica solicitada pelo Prefeito
Municipal de Parauapebas -PA, no tocante à desapropriação de dois terrenos:
1- Terreno particular, que cumpre função social, no bairro Nova Carajás, com a
finalidade de construção de conjunto habitacional vertical, a qual beneficiaria
moradores do assentamento Céu Azul.
2 - Terreno pertencente ao Estado do Pará, para fins de construção de um Hospital
Maternidade que atenderá as gestantes da cidade.

2. MÉRITO:

Preliminarmente, na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello:


desapropriação se define como o procedimento através do qual o Poder
Público, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse
social, compulsoriamente despoja alguém de um bem certo, normalmente
adquirindo-o para si, em caráter originário, mediante indenização prévia,
justa e pagável em dinheiro, salvo no caso de certos imóveis urbanos ou
rurais, em que, por estarem em desacordo com a função social legalmente
caracterizada para eles, a indenização far-se-á em títulos da dívida pública,
resgatáveis em parcelas anuais e sucessivas, preservado o seu valor real.[1]
A desapropriação, em tese, deve ocorrer por prévia e justa indenização em
dinheiro como dispõe o art. 5.º, XXIV, da Constituição Federal de 1988. Podendo
ocorrer por acordo ou pela via judicial, não havendo acordo.
O instituto que melhor se adapta ao 1º caso em análise, é a desapropriação
indireta, pois não obedece ao procedimento (expropriatório). Não havendo ato
declaratório, nem fase executória, mas o Poder Público expropriante entra na posse do
bem e passa a agir como se fosse seu proprietário. Descreve DI PIETRO, Maria Sylvia
Zanella, [2]: “desapropriação indireta é a que se processa sem observância do
procedimento legal; costuma ser equiparada ao esbulho e, por isso mesmo, pode ser
obstada por ação possessória.”.

[1] BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 15ª ed. S. Paulo: Malheiros, 2002.
[2] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14ª ed. S. Paulo: Atlas, 2002 .
[3] CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é, em
regra, de 10 anos; excepcionalmente, será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços
públicos no local. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/
2adcfc3929e7c03fac3100d3ad51da26>. Acesso em: 25 de março de 2023.
BRASIL. DF. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3365.htm>. Acesso em: 25 de março de 2023.
2.1. Da desapropriação indireta
No 1º caso supra, é cabível desapropriação, ou melhor, concretiza o que a
doutrina e a jurisprudência brasileira definem como desapropriação indireta, que
“ocorre quando o Estado (Poder Público) se apropria do bem de um particular sem
observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação, dentre as quais a
declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia[3]”, constituindo esbulho
possessório.
Na modalidade de desapropriação indireta, o Poder Público se apossa
administrativamente de imóvel particular sem concretizar as formalidades
exigidas pela legislação para a desapropriação (declaração de utilidade/necessidade
pública ou interesse social e prévia indenização justa e em dinheiro). São soluções
possíveis ao caso de apossamento administrativo: 1) se o bem não estiver afetado a uma
finalidade pública, caberá ação possessória para que o prejudicado possa retomar a
posse; 2) se o bem estiver afetado a uma finalidade pública, considera-se ocorrido
fato consumado e só caberá ao particular uma indenização pela expropriação
indireta.
A indenização ao particular privado de seu bem por força do apossamento
administrativo decorre de condenação do Estado (lato sensu) em “ação de
desapropriação indireta”, que consiste em demanda proposta contra o Poder Público
pelo fato de ter se apossado indevidamente de um bem sem observar as formalidades
exigidas para a desapropriação. O fundamento para a ação de desapropriação indireta
encontra-se no art. 35 do Decreto-Lei nº 3.365/1941, que assim dispõe:
Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem
ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de
desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas
e danos.[4]

A Súmula 119 do Superior Tribunal de Justiça prevê que a ação de


desapropriação indireta prescreve em 20 anos. Ocorre que tal verbete foi estabelecido na
época em que vigente o Código Civil de 1916, que previa, como regra geral, a
prescrição em 20 anos. O Código Civil de 2002, por outro lado, reduziu a regra geral do
prazo prescricional para 10 anos (art. 205), fato que lançou dúvidas entre os juristas
sobre a prescrição da referida demanda.
Recentemente, no REsp nº 1.575.846-SC, o STJ definiu que, na vigência do
Código Civil de 2002, o prazo prescricional para a ação de desapropriação indireta é,
como regra, de 10 anos, aplicando-se o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil,
que trata da usucapião extraordinária com prazo reduzido, pela presunção de que, ao
apossar-se administrativamente de imóvel, o Poder Público nele teria realizado obras ou
serviços públicos. A presunção, contudo, é relativa, de forma que, existindo prova
concreta de que não foram feitas obras ou serviços públicos no local, o prazo
prescricional para a ação de desapropriação indireta será de 15 anos, pela regra geral da
usucapião extraordinária:

[1] BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 15ª ed. S. Paulo: Malheiros, 2002.
[2] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14ª ed. S. Paulo: Atlas, 2002 .
[3] CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é, em
regra, de 10 anos; excepcionalmente, será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços
públicos no local. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/
2adcfc3929e7c03fac3100d3ad51da26>. Acesso em: 25 de março de 2023.
BRASIL. DF. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3365.htm>. Acesso em: 25 de março de 2023.
Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por
desapropriação indireta é de 10 anos porque existe uma presunção relativa de que
o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local. Admite-se,
excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada
comprove, concreta e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local,
afastando a presunção legal.
Feito esse esclarecimento teórico, cabe mencionar, ainda, a norma de transição
prevista no art. 2.028 do Código Civil de 2002, acerca dos prazos prescricionais:
“Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data
de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.” Nesses termos, sendo de 10 ou, excepcionalmente, 15
anos o prazo prescricional da ação de desapropriação indireta no Código Civil de 2002,
inegável que houve redução em comparação ao Código Civil de 1916, que previa a
prescrição geral em 20 anos.
As maquinas da prefeitura poderão ficar no terreno desapropriado da
construção dos prédios, devido ser uma desapropriação indireta. De acordo com o
Decreto-Lei 3365 de 1941, A desapropriação indireta abrange qualquer imóvel, terrenos
rurais, urbanos, prédios, edifícios, espaço comerciais etc.

Já no 2 caso, não é admissível desapropriação, em razão que o bem pertence ao


Estado, conforme previsão legal, Súmula do Supremo Tribunal Federal nº 157. Ao
contrário, seria possível.

3. CONCLUSÃO

Diante do exposto, considera-se possível a desapropriação do terreno particular,


no bairro Nova Carajás, com a finalidade de construção de conjunto habitacional
vertical, para beneficiar moradores do assentamento Céu Azul. Haja visto, estamos
diante de uma desapropriação indireta, em que tem por modalidade Comum Ordinária,
com fundamento constitucional no art. 5º, XXIV, da CF/88.
Com requisito para a propositura da ação desapropriação indireta: a
comprovação de que o autor seja o titular do domínio da área apossada, demonstrando
de forma clara e precisa quem é o proprietário, para fins de recebimento da indenização
devida. Caso comprovada a condição de posseiro, ainda que não exista o respectivo
registro no cartório de imóveis, também faz jus à indenização, conforme sólida
jurisprudência.
Proposta a desapropriação indireta e cumpridos os requisitos da petição inicial
preconiza o art. 319, Código de Processo Civil de 2015, será o Poder Público citado, por
mandado, dispõe o art. 247, III, CPC/15, para apresentar contestação com prazo em
dobro, no total de trinta dias contados a partir da citação pessoal, preceitua o art. 183,
CPC/15.
[1] BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 15ª ed. S. Paulo: Malheiros, 2002.
[2] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14ª ed. S. Paulo: Atlas, 2002 .
[3] CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é, em
regra, de 10 anos; excepcionalmente, será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços
públicos no local. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/
2adcfc3929e7c03fac3100d3ad51da26>. Acesso em: 25 de março de 2023.
BRASIL. DF. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3365.htm>. Acesso em: 25 de março de 2023.
No curso da instrução processual, será elaborado laudo pericial, que levará em
consideração preço de aquisição e interesse auferido pelo proprietário; estado de
conservação e segurança; valor venal dos da mesma espécie nos últimos cinco anos;
valorização ou depreciação da área, dentre outros. Ao final da instrução processual, a
sentença fixará o valor da indenização, geralmente conforme o laudo pericial, cuja
vinculação irrestrita não é obrigatória por ser o magistrado destinatário da prova. Caso
cumpridos os requisitos do artigo 496, §3º, CPC/15, a sentença estará sujeita ao duplo
grau de jurisdição e só produz efeitos depois de confirmada pelo respectivo Tribunal.
Em relação ao valor fixado da indenização, deverá incidir: atualização monetária
a partir do laudo pericial de avaliação até o efetivo pagamento da indenização fixada,
remunerada pelo índice IPCA-E (STF - RE: 870.947); juros moratórios ao percentual de
6% ao ano (art. 15-B, decreto-lei 3.365/41), a partir do trânsito em julgado, existindo
respeitável corrente doutrinária que entende ser cabível a partir da citação, pois a
desapropriação indireta, ao contrário da direta, é movida contra a pessoa do próprio
devedor (Poder Público expropriante) e já o coloca em mora (art. 240, Código Civil),
devendo seguir as regras do Código Civil; e juros compensatórios ao percentual de 12%
ao ano (súmula 618, STF), incidentes a partir da imissão na posse (súmula 114, STJ).
O pagamento deverá ocorrer de forma justa, prévia e em dinheiro, recompondo o
patrimônio de quem foi expropriado.
Tratando do 2º caso em epígrafe, conforme prenuncia Súmula do STF nº 157,
não é admissível que Município desaproprie bem pertencente ao Estado. Ao contrário, é
admissível.

É o parecer.

Parauapebas - PA, 30 de março de 2023.

GABRIELLY CASSIANA DOS SANTOS


RAIMUNDA VIEIRA DA SILVA
ROSANA VIEIRA DA SILVA
SANDRA MARIA DE ARAUJO
SIVALDO DIAS DA SILVA JUNIOR

Discentes (Procuradores-gerais)

[1] BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 15ª ed. S. Paulo: Malheiros, 2002.
[2] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14ª ed. S. Paulo: Atlas, 2002 .
[3] CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é, em
regra, de 10 anos; excepcionalmente, será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços
públicos no local. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/
2adcfc3929e7c03fac3100d3ad51da26>. Acesso em: 25 de março de 2023.
BRASIL. DF. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3365.htm>. Acesso em: 25 de março de 2023.

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