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Luciano Ferraz
Cronograma da matéria:
1. Restrições da Administração à propriedade privada
1.1. Limitações administrativas
1.2. Ocupação temporária
1.3. Requisições administrativas
1.4. Servidões administrativas
1.5. Tombamento e registro
1.6. Desapropriações
Bibliografia:
Tomo III de Direito Administrativo – Di Pietro e Luciano Ferraz
Controle e consensualidade – Luciano Ferraz
Avaliações:
1ª 2 a 3 provas = 70 pontos
2ª prova final = 30 pontos
3ª prova de reposição
1. Restrições da Administração à propriedade privada
Conforme expressamente disposto na CF/88, a propriedade é garantida apenas
quando preenche a função social que a ela se vincula, fundamentando a limitação das
prerrogativas de dispor, gozar, usar e reivindicar do bem, à luz de processo de socialização
da propriedade consolidado no âmbito do paradigma do Estado Democrático de Direito,
também denominado de ‘dinamização da propriedade privada’.
Neste ponto, demonstra-se relevante a exposição acerca do poder polícia,
consistente na prerrogativa do Poder Público de condicionar e limitar o exercício de
determinados direitos individuais pelo particular, promovendo a dinamização do
exercício de tais direitos frente aos interesses públicos tutelados pela Administração.
Ainda, importante ressaltar que, tal como esposado por Bandeira de Mello, existe
na doutrina brasileira a distinção entre interesses públicos primários e secundários, a qual
já foi superada pela melhor doutrina italiana, tal como explicitado pelo professor.
1.1.Limitações administrativas
Decorrem de atos de natureza legislativa, mormente a lei, ainda que sejam
pormenorizados pelo poder normativo da Administração, a fim de torná-lo
fielmente aplicável. Os quais impõem condicionamentos ao exercício do direito
de propriedade, de forma geral, em princípio gratuita, unilateral e de ordem
pública, impondo obrigações públicas aos destinatários, as quais podem consistir
em obrigações de fazer, de não fazer ou de suportar. No tocante à ausência de
indenização, cabe ressaltar que inexistirá a não ser que um dos particulares se
sujeite a encargos e ônus maiores que o restante da coletividade, havendo ruptura
do equilíbrio de encargos e ônus e ocorrendo o esvaziamento do conteúdo
econômico do direito de propriedade.
Segundo o entendimento assentado no STJ, o prazo prescricional para a
ação do particular para requerer indenização em decorrência de limitação
administrativa é de 5 (cinco) anos, previsto no art. 10, § único, do Decreto-Lei n.
3.365/41.
Cabe ressaltar que a Súmula 119 do STJ dispõe que, in verbis, “A ação de
desapropriação indireta é ação real e o proprietário só perde o direito de
reivindicar o seu imóvel com a perda da propriedade que lhe é garantida pela
Constituição Federal. O prazo de prescrição é de 20 (vinte) anos”. Devendo ser
o entendimento, no regime do CC atual, de prazo de 15 anos, que pode ser
reduzido para 10, no entanto, cabe ressaltar que a limitação administrativa com
esvaziamento do conteúdo econômico não configura desapropriação indireta, a
qual requer a ocorrência de esbulho possessório da Administração em desfavor do
particular.
1.2. Ocupação temporária
Ocupação provisória ou temporária é a modalidade de intervenção do
Estado na propriedade de bens particulares em ajuda à realização de obras públicas
ou à prestação de serviços públicos, mediante utilização discricionária,
autoexecutável, remunerada ou gratuita e transitória. Pode ter como objeto bem
móvel ou imóvel, pessoas ou serviços, além do mais, não tem natureza real.
São requeridos pressupostos objetivos, sendo tais hipóteses previstas na
Lei, sendo manejadas pela Administração de acordo com as suas demandas. O art.
36 do Decreto-Lei 3.365/41, ipsis litteris, “É permitida a ocupação temporária,
que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não edificados,
vizinhos às obras e necessários à sua realização. O expropriante prestará caução,
quando exigida”. Cabendo ressaltar que a caução somente será exigida quando o
particular discordar da indenização ofertada pelo poder público, bem como que a
indenização será paga posteriormente à ocupação provisória do bem, serviço ou
pessoal pelo poder público.
De mesmo modo, o art. 58, V, da Lei n. 8.666, bem como o art. 104, V, da
Lei n. 14.133, dispõe acerca da ocupação temporária nos contratos
administrativos, in verbis, “Art. 104. O regime jurídico dos contratos instituído
por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, as prerrogativas de: [...]
V - ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços
vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de: a) risco à prestação de
serviços essenciais; b) necessidade de acautelar apuração administrativa de
faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato”..
1.5.1. Tombamento
O Decreto-Lei n. 25/37 dispõe acerca do procedimento do
tombamento. Existe divergência doutrinária acerca da natureza do instituto
i. A primeira corrente compreende o tombamento enquanto espécie
de servidão administrativa, a qual é refutada pela inexistência de coisa
dominante e coisa serviente; ii. a segunda corrente compreende enquanto
uma espécie de limitação administrativa, refutada pela existência, em
regra, de interesse público específico vinculado ao bem tombado; iii. e,
finalmente, a última corrente compreende o tombamento enquanto
instituto sui generis devido à características próprias que a diferem de
outros institutos de intervenção da Administração na propriedade, corrente
à qual o prof. Luciano Ferraz e a doutrina majoritária se filiam.
Nos termos do art. 4º de referido DL, são 4 livros do Tombo, quais
sejam, i. arqueológico, etnográfico e paisagístico; ii. histórico; iii. belas
artes; iv. artes aplicadas.
Pode ser instituído por qualquer das esferas federativas, em âmbito
federal encontra-se na competência do IPHAN, inexistindo a limitação ao
tombamento em graus, tal como em relação à desapropriação, v.g. a
possibilidade de tombamento de bem da União por Município.
Inobstante a regulamentação geral pelo Decreto Lei n. 25, a
Constituição dispõe acerca da competência concorrente dos entes para
legislar sobre proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico
e paisagístico, bem como sobre responsabilidade por dano ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico, nos termos dos incisos VII e VIII do art.
24 do texto constitucional.
No entanto, em relação aos Municípios existe controvérsia, vez que
o art. 30, II, da CF/88, dispõe que a estes entes compete suplementar a
legislação federal e estadual, no que couber; enquanto o inciso IX de
mesmo dispositivo consagra que compete aos Municípios promover a
proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a
ação fiscalizadora federal e estadual.
Nesse sentido, surge divergência entre duas concorrentes acerca da
possibilidade de exercício de legislação concorrente pelos Municípios no
tocante à proteção do patrimônio histórico-cultural local. Sendo prevalente
a corrente que assenta a impossibilidade de legislação pelos Municípios,
sendo cabível a utilização dos institutos previstos nas legislações federal e
estadual.
Podem ser objeto de tombamento bens móveis e imóveis; materiais
e imateriais; público e privados; singularizados e coletivos; devendo se
enquadrar dentro do conceito legal de patrimônio histórico e artístico
nacional, definido no art. 1º do DL n. 25/37.
Quanto aos destinatários, o tombamento pode ser individual ou
específico; bem como coletivo ou geral. Quando recaí sobre bens imóveis,
existe a necessidade de transladação do Tombo para a escritura no Registro
de Imóveis.
Quanto à eficácia, o tombamento pode ser provisório, quando
ingressa no procedimento de tombamento com fins de cautelaridade; bem
como definitivo. Nos termos do art. 10º do DL, será considerado provisório
ou definitivo, conforme esteja o respectivo processo iniciado pela
notificação ou concluído pela inscrição dos referidos bens no competente
Livro do Tombo. Enquanto o § único de mesmo dispositivo prevê que,
para todos os efeitos, salvo a disposição do art. 13, o tombamento
provisório se equipara ao definitivo.
Quanto ao procedimento, tem-se o tombamento de ofício quando
recair sobre bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios, por
ordem do diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda
estiver a coisa tombada, a fim de produzir os necessários efeitos, nos
termos do art. 5º do DL; o tombamento voluntário se dá, nos termos do art.
7º, sempre que o proprietário o pedir e a coisa se revestir dos requisitos
necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e
artístico nacional, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo
proprietário anuir, por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para a
inscrição da coisa em qualquer dos Livros do Tombo; finalmente, tem se
o tombamento compulsório quando o proprietário se recusar a anuir à
inscrição da coisa.
O art. 9º prevê o procedimento do tombamento compulsório, ipsis
litteris:
1) o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por
seu órgão competente, notificará o proprietário para anuir ao
tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a contar do
recebimento da notificação, ou para, si o quisér impugnar,
oferecer dentro do mesmo prazo as razões de sua impugnação.
2) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado.
que é fatal, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional mandará por símples despacho que se
proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo.
3) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-
se-á vista da mesma, dentro de outros quinze dias fatais, ao
órgão de que houver emanado a iniciativa do tombamento, afim
de sustentá-la. Em seguida, independentemente de custas, será o
processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que proferirá decisão
a respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a contar do seu
recebimento. Dessa decisão não caberá recurso.
1.5.2. Registro
Aplica-se essencialmente aos bens imateriais integrantes do
patrimônio histórico-cultural, diferindo-se do tombamento o qual impõe
regime jurídico próprio de obrigações ao proprietário e ao Poder Público,
enquanto o registro não impõe, sendo basicamente mecanismo de
consolidação simbólica da memória histórico-cultural nacional.
O Decreto n. 3.551/2000 dispõe acerca do registro dos bens
imateriais do patrimônio histórico-cultural brasileiro, devendo ser inscritos
em livro de registro próprio.
Por sua natureza, notória a inexistência de direito à indenização ao
proprietário do bem objeto de registro.
1.6. Desapropriação
Configura-se enquanto a única modalidade de intervenção supressiva da
propriedade pela Administração Pública, podendo chegar a transferi-la
compulsoriamente ao Poder Público em nome do interesse público, sob a condição
de indenização justa e prévia.
No ordenamento pátrio, o Decreto-Lei n. 3.365/41 assume a posição de lei
geral das desapropriações, dispondo sobre as desapropriações por utilidade
pública. De mesmo modo, iremos estudar a Lei n. 4.132/62, a qual dispõe sobre
as hipóteses de desapropriação por interesse social.
O art. 5º, XXIV, da CF/88 dispõe que “a lei estabelecerá o procedimento
para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos
nesta Constituição”.
Diante do exposto, tem-se que a desapropriação se consubstancia em
procedimento administrativo, a qual pode se impor baseada em três hipóteses,
quais sejam, i. necessidade pública; ii. utilidade pública; e iii. interesse social.
Necessidade pública integra a noção de premência e urgência, enquanto a
utilidade pública carrega a noção de oportunidade e conveniência para o interesse
público; e, finalmente, o interesse social diz respeito a interesse de setores da
sociedade.
Os dispositivos do DL 3.365 não fazem a distinção entre necessidade e
utilidade públicas, no entanto, isto não obsta a recepção do diploma pela
Constituição de 1988. Nesse sentido, o art. 4º dispõe sobre “casos de utilidade
pública” incluindo também hipóteses de necessidade, v.g. a) a segurança nacional;
b) a defesa do Estado;
c) o socorro público em caso de calamidade;
Ainda, em relação às hipóteses de desapropriação por interesse social, uma
delas está disposta na Lei n. 4.132, enquanto as outras duas estão previstas no
próprio texto da CF/88, nos arts. 182, §4º, e 184.
Ambas as hipóteses previstas na Constituição, reclamam expressamente
regulamentação por lei, as quais competem privativamente à União, possuindo
caráter nacional, nos termos do art. 22, II, da CF/88. Por outro lado, a efetivação
das desapropriações, com base nas determinações legais dispostas na legislação
nacional. integra o âmbito de competência administrativa de todos os entes
federados.
Nos termos do §4º do art. 182 da CF/88:
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica
para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado,
que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente,
de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo
no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública
de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de
resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
4. Desapropriação indireta
Constitui ação judicial, a qual pode ser movido pelo particular em
detrimento do Poder Público quando este o tenha esbulhado a posse de bem,
agregando finalidades públicas a este, a fim de obter indenização das perdas e
danos decorrentes do esbulho sofrido pela Administração Pública, conforme
previsto no art. 35 do DL 3.365. Recebe este nomen juris vez que é desapropriação
que não seguiu o devido procedimento administrativo, essencialmente a ausência
de declaração por Decreto expropriatório.
O prazo prescricional para o exercício da ação de desapropriação indireta
pelo privado será o prazo para a ocorrência da usucapião extraordinária, nos
termos da Súmula 119 do STJ, a qual se refere ao prazo previsto no CC/16, no
entanto, alterado pelo CC/02 que prevê, em seu art. 1238, o prazo de 15 (quinze)
anos, o qual reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel
a sua moradia habitual ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
Mesmo no caso de destinação ao particular pelo Poder Público do bem
desapropriado indiretamente, o privado esbulhado de seu bem deverá interpor
ação de desapropriação indireta em desfavor do Poder Público.
5. Indenização e pagamento
A Constituição dispõe que a indenização no caso de desapropriação deverá
ser prévia, justa e em dinheiro. Inicialmente, a indenização deve ser prévia à
transferência da propriedade do bem nos termos da jurisprudência assentada na
jurisprudência pátrio. No entanto, existe corrente doutrinária sustenta que a partir
da perda fática da propriedade surgiria o direito à previalidade da indenização,
assim, esta deveria ser efetivada antes da ocorrência da imissão na posse do bem
pela Administração.
A indenização deverá compreender valor atual do bem, apurado pelas
vistorias pertinentes, incluindo o valor do terreno, de todas as benfeitorias e
acessões realizadas. No entanto, nos termos do art. 26, §1º, do DL 3.365, serão
atendidas as benfeitorias necessárias feitas após o decreto expropriatório, bem
como as úteis quando fitas com autorização do expropriante, outrossim, nos
termos do caput do dispositivo, não se incluirão os direitos de terceiros contra o
expropriado.
Ainda, deverá incluir lucros cessantes e danos emergentes, sendo também
aplicável a teoria da perda de uma chance, de mesmo modo, deverá ter direito a
juros compensatórios de 6% a.a. nos termos de entendimento assentado pelo STF.
De mesmo modo, deverá ter juros moratórios no caso de atraso no
pagamento, havendo divergência acerca do termo final para a efetivação do
pagamento. No tema n. 865 de Repercussão Geral, o Supremo discute a sujeição,
ao regime de precatórios, do pagamento de indenização por desapropriação
estabelecida em ação judicial. No caso de não sujeição, os juros moratórios são
devidos a partir da exequibilidade da decisão judicial, já no caso de sujeição será,
caso inscrito até o meio do ano, após o último dia do ano posterior.
Cabe ressaltar que, decorrido prazo superior a 1 (um) ano da avaliação, o
Juiz ou Tribunal, antes da decisão final, determinará a correção monetária do valor
apurado, nos termos do §2º do art. 26 do DL. 3.365.
Nos termos do §2º do dispositivo, 2/3 serão nomeados pelo Poder Legislativo,
enquanto o 1/3 restante pelo Poder Executivo, 1 dos quais de livre escolha
enquanto os outros 2 alternadamente dentre auditores e membros do Ministério
Público junto ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os
critérios de antiguidade e merecimento;
No caso dos Tribunais de Contas dos Estados, todos, com exceção de SP, possuem
7 ministros, 4 nomeados pelo Legislativo e 3 pelo Executivo, dentre os quais 1 é
livre escolha, 1 deve ser entre os Conselheiros substitutos e 1 auditor de carreira
junto ao Tribunal,
No tocante à natureza da atuação dos Tribunais de Contas, o prof. Luciano sustenta
que se trata de atuação administrativa vez que pode ser revista pelo Judiciário,
bem como as decisões constituírem títulos executivos extrajudiciais nos termos da
Constituição, inexistindo manifestação do STF sobre o tema até então.
4.2. Efeitos
Nos termos do caput do art. 22 da Lei do Mandado de Segurança, a sentença do
MS coletivo fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria
substituídos pelo impetrante; de mesmo modo, o §1º do dispositivo dispõe que “o MS
coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa
julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de
seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da
impetração da segurança coletiva”.
5. Ação popular
Nos termos do inciso LXXIII do art. 5º da CF/88, “qualquer cidadão é parte
legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou
de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência”.
5.1. Legitimados ativos
Nos termos do art. 1º da Lei n. 4.717/65, qualquer cidadão, exclusivamente a
pessoa física, é parte legítima para propor a ação popular, devendo inclusive juntar o título
de eleitor enquanto prova da cidadania, nos termos do §3º do dispositivo.
A doutrina fala do binômio ilegalidade e lesividade enquanto requisitos de
procedência da ação.
Os casos de nulidade estão previstos nos arts. 2º a 4º da Lei, sendo os casos
previstos nas alíneas do art. 2º:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as
seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições
legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular
de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação
de lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito,
em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente
inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim
diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.
De mesmo modo, nos casos do art. 4º existe presunção juris tantum de nulidade,
a qual pode ser afastada por prova em contrário:
“I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às
condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes de
instruções gerais.
II - A operação bancária ou de crédito real, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares,
estatutárias, regimentais ou internas;
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante
de escritura, contrato ou avaliação.
III - A empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:
a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência
pública ou administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei,
regulamento ou norma geral;
b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições, que
comprometam o seu caráter competitivo;
c) a concorrência administrativa for processada em condições que
impliquem na limitação das possibilidades normais de competição.
IV - As modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem
admitidas, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos de
empreitada, tarefa e concessão de serviço público, sem que estejam previstas em
lei ou nos respectivos instrumentos.,
V - A compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não
cabível concorrência pública ou administrativa, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, ou
constantes de instruções gerais;
b) o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época
da operação;
c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época
da operação.
VI - A concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja
a sua modalidade, quando:
a) houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares
ou de instruções e ordens de serviço;
b) resultar em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador.
VII - A operação de redesconto quando sob qualquer aspecto, inclusive o
limite de valor, desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes de
instruções gerais.
VIII - O empréstimo concedido pelo Banco Central da República, quando:
a) concedido com desobediência de quaisquer normas legais,
regulamentares,, regimentais ou constantes de instruções gerias:
b) o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao
da avaliação.
IX - A emissão, quando efetuada sem observância das normas
constitucionais, legais e regulamentadoras que regem a espécie”.
5.4. Procedimento
Aplica-se o procedimento comum previsto no NCPC subsidiariamente às
disposições contidas no art. 7º da Lei n. 4.717, ipsis litteris:
“I - Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
a) além da citação dos réus, a intimação do representante do Ministério Público;
b) a requisição, às entidades indicadas na petição inicial, dos documentos que tiverem
sido referidos pelo autor (art. 1º, § 6º), bem como a de outros que se lhe afigurem
necessários ao esclarecimento dos fatos, ficando prazos de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias
para o atendimento.
§ 1º O representante do Ministério Público providenciará para que as requisições, a que
se refere o inciso anterior, sejam atendidas dentro dos prazos fixados pelo juiz.
§ 2º Se os documentos e informações não puderem ser oferecidos nos prazos assinalados,
o juiz poderá autorizar prorrogação dos mesmos, por prazo razoável.
II - Quando o autor o preferir, a citação dos beneficiários far-se-á por edital com o prazo
de 30 (trinta) dias, afixado na sede do juízo e publicado três vezes no jornal oficial do
Distrito Federal, ou da Capital do Estado ou Território em que seja ajuizada a ação. A
publicação será gratuita e deverá iniciar-se no máximo 3 (três) dias após a entrega, na
repartição competente, sob protocolo, de uma via autenticada do mandado.
III - Qualquer pessoa, beneficiada ou responsável pelo ato impugnado, cuja existência ou
identidade se torne conhecida no curso do processo e antes de proferida a sentença final
de primeira instância, deverá ser citada para a integração do contraditório, sendo-lhe
restituído o prazo para contestação e produção de provas, Salvo, quanto a beneficiário, se
a citação se houver feito na forma do inciso anterior.
IV - O prazo de contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis por mais 20 (vinte), a
requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova documental,
e será comum a todos os interessados, correndo da entrega em cartório do mandado
cumprido, ou, quando for o caso, do decurso do prazo assinado em edital.
V - Caso não requerida, até o despacho saneador, a produção de prova testemunhal ou
pericial, o juiz ordenará vista às partes por 10 (dez) dias, para alegações, sendo-lhe os
autos conclusos, para sentença, 48 (quarenta e oito) horas após a expiração desse prazo;
havendo requerimento de prova, o processo tomará o rito ordinário.
VI - A sentença, quando não prolatada em audiência de instrução e julgamento, deverá
ser proferida dentro de 15 (quinze) dias do recebimento dos autos pelo juiz.
Parágrafo único. O proferimento da sentença além do prazo estabelecido privará o juiz da
inclusão em lista de merecimento para promoção, durante 2 (dois) anos, e acarretará a
perda, para efeito de promoção por antigüidade, de tantos dias quantos forem os do
retardamento, salvo motivo justo, declinado nos autos e comprovado perante o órgão
disciplinar competente”.
5.5. Natureza
A ação popular quando julgada procedente possui caráter desconstitutivo, bem
como, eventualmente, caráter condenatório no tocante à imposição de reparação dos
danos e devolução dos proventos ilícitos do ato anulado; por outro lado, julgada
improcedente possuirá natureza meramente declaratória.
Inobstante a literalidade do art. 11 da Lei, a decretação de invalidade do ato
impugnado não implica necessariamente na condenação em perdas e danos, devendo ser
examinado no caso concreto, ressalvada a possibilidade de ação regressiva contra os
funcionários causadores do dano, nos casos de culpa. Devendo-se ressalvar a disposição
do art. 28 da LINDB, a qual requer dolo ou erro grosseiro para que ocorra a
responsabilização pessoal do agente público; definidos nos parágrafos do art. 12 do
Decreto n. 9.830:
“§1º Considera-se erro grosseiro aquele manifesto, evidente e inescusável praticado com
culpa grave, caracterizado por ação ou omissão com elevado grau de negligência,
imprudência ou imperícia.
§2º Não será configurado dolo ou erro grosseiro do agente público se não restar
comprovada, nos autos do processo de responsabilização, situação ou circunstância fática
capaz de caracterizar o dolo ou o erro grosseiro.
§3º O mero nexo de causalidade entre a conduta e o resultado danoso não implica
responsabilização, exceto se comprovado o dolo ou o erro grosseiro do agente público.
§4º A complexidade da matéria e das atribuições exercidas pelo agente público serão
consideradas em eventual responsabilização do agente público.
§5º O montante do dano ao erário, ainda que expressivo, não poderá, por si só, ser
elemento para caracterizar o erro grosseiro ou o dolo.
§6º A responsabilização pela opinião técnica não se estende de forma automática
ao decisor que a adotou como fundamento de decidir e somente se configurará se
estiverem presentes elementos suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro
grosseiro da opinião técnica ou se houver conluio entre os agentes.
§7º No exercício do poder hierárquico, só responderá por culpa in
vigilando aquele cuja omissão caracterizar erro grosseiro ou dolo”.
Ainda, nos termos do art. 12, a sentença incluirá sempre, na condenação dos réus,
o pagamento, ao autor, das custas e demais despesas, judiciais e extrajudiciais,
diretamente relacionadas com a ação e comprovadas, bem como o dos honorários de
advogado. De mesmo modo, nos termos do art. 13, a sentença que, apreciando o
fundamento de direito do pedido, julgar a lide manifestamente temerária, condenará o
autor ao pagamento do décuplo das custas.
5.6. Eficácia
Nos termos do art. 18, a sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga
omnes", exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de
prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento,
valendo-se de nova prova.
Conforme o art. 19, a sentença que concluir pela carência ou pela improcedência
da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito
suspensivo. Havendo Tema de repetitivos em julgamento no STJ sobre o duplo grau de
jurisdição.
Conforme o art. 12 da Lei, poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo; ainda, conforme o §1º do dispositivo, é
cabível o requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar
grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do
Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da
liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras,
no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.
Conforme §2º do art. 12, a multa cominada liminarmente só será exigível do réu
após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em
que se houver configurado o descumprimento.
Nos termos do art. 13, diferentemente do que ocorre na ação popular no qual a
indenização é direcionada à pessoa jurídica lesada pelo ato anulado, havendo condenação
em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um
Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o
Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.
Conforme o art. 14, o juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para
evitar dano irreparável à parte.
Tendo sido reconhecida pelo STF a inconstitucionalidade do art. 16 da Lei com
redação dada pela Lei n. 9.494, no julgamento do Tema n. 1075 da Repercussão Geral
(Info 1012), sendo repristinada sua redação original, a qual reconhece o efeito erga omnes
em processo na qual decididos direitos difusos e coletivos, tendo sido ampliado pelo art.
103 do CDC ampliado para os direitos individuais com dimensão coletiva.
Ainda, se a ACP tiver projeção regional ou nacional, dever-se-á determinar o Juízo
competente a partir do art. 93, II, do CDC, devendo a propositura ocorrer no foro, ou na
circunscrição judiciária, de capital de Estado ou no Distrito Federal. Devendo-se evitar
decisões conflitantes proferidas por juízos diversos em ações civis públicas que estejam
tramitando em comarcas diferentes a partir do art. 55, § 3º e art. 286 do CPC, além do art.
2º, parágrafo único, da Lei nº 7.347/85, os quais estabelecem que:
Art. 55. § 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que
possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias
caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.