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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 767.766 - SP (2015/0205987-4)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. TRANSPORTE
DE CARGA. VALE-PEDÁGIO. PAGAMENTO ANTECIPADO (LEI
10.209/2001, ART. 8º). DOBRA DO FRETE.
CONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELO STF. NÃO
COMPROVAÇÃO DO ADIANTAMENTO. REEXAME (SÚMULA
7/STJ). CABIMENTO DA DOBRA. AGRAVO PARCIALMENTE
PROVIDO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
1. A Lei 10.209/2001 tornou obrigatório o pagamento, pelo embarcador, do
vale-pedágio de forma adiantada e em separado, sendo que, em caso de
descumprimento, o art. 8º da Lei prevê a penalidade denominada "dobra
do frete", pela qual o embarcador será obrigado a indenizar o transportador
em quantia equivalente a duas vezes o valor do frete contratado.
2. O eg. Supremo Tribunal Federal, em sede de controle direto (ADI
6.031/DF), reconheceu a constitucionalidade do referido dispositivo legal.
3. No caso, o eg. Tribunal de origem, com base nos elementos
fático-probatórios dos autos, concluiu que a transportadora comprovou o
pagamento do frete pelo embarcador sem o devido adiantamento de
vale-pedágio, de modo a incidir a dobra do frete prevista no art. 8º da Lei
10.209/2001. A alteração desse entendimento esbarra no óbice da Súmula
7/STJ.
4. Resta, então, apenas proceder-se à liquidação para obtenção do correto
valor devido, quando será necessária a análise dos documentos juntados aos
autos, demonstrativos dos valores despendidos a título de pedágio,
conferindo-se rigorosamente o montante custeado pelas agravadas em cada
frete realizado, como base de cálculo para o pagamento da multa legal.
5. Agravo interno a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Após o voto-vista do Ministro Marco Buzzi acompanhando o relator, a


Quarta Turma, por unanimidade, decide negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do
relator. A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti e os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco
Buzzi (voto-vista) e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 13 de dezembro de 2022 (Data do Julgamento)

Documento: 2213499 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/02/2023 Página 1 de 9
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MINISTRO RAUL ARAÚJO
Relator

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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 767.766 - SP (2015/0205987-4)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RAUL ARAÚJO (Relator):


Cuida-se de agravo interno interposto por COMPANHIA BRASILEIRA DE
DISTRIBUIÇÃO contra decisão de fls. 827/831, que negou provimento ao recurso especial.

Historiam os autos que as transportadoras agravadas ajuizaram ação de cobrança


contra a agravante buscando o reembolso dos valores de pedágio despendidos durante o transporte
de carga pertencente à agravante (vale-pedágio), com imposição da penalidade prevista no art. 8º da
Lei 10.209/2001.
Nas razões do recurso especial, a parte agravante alegou, preliminarmente, violação
aos arts. 131, 458 e 535, I e II, do CPC/73, sob os fundamentos de que: (I) o Tribunal a quo não
teria sanado as omissões apontados na petição dos embargos de declaração, mormente no que diz
respeito à inconstitucionalidade material da Lei 10.209/2001, pois acarreta grave violação à liberdade
de contratar das partes e ao princípio da razoabilidade; e (II) o acórdão carece de fundamentação,
pois se baseou em meras presunções.
Apontou, ainda, violação aos arts. 333, I, do CPC/73, e 113, 187 e 422 do CC/2002,
sustentando, em síntese: (a) ausência de comprovação dos fatos constitutivos do direito da parte
autora; e (b) a pretensão de pagamento do vale-pedágio vai contra o princípio da boa-fé objetiva,
porque "as partes, exercendo a autonomia da vontade, livre e conscientemente estabeleceram
que o valor do frete contemplaria e abarcaria o valor do pedágio, e que o pagamento se
daria de urna única vez, após a prestação do serviço de transporte rodoviário, por ocasião
da quitação da respectiva fatura" (fl. 660).

Em decisão monocrática de minha lavra (fls. 827/831), conheceu-se do agravo para


negar provimento ao recurso especial, sob os fundamentos:
(a) ausência de violação aos arts. 131, 458 e 535, I e II, do Código de Processo Civil
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de 1973;
(b) incidência da Súmula 7/STJ; e
(c) ausência de prequestionamento.
Por sua vez, nas razões do presente agravo interno, a agravante sustenta que:
1) Houve o efetivo prequestionamento dos arts. 113, 187 e 422 do CC, sendo
contraditório afastar a alegação de violação ao art. 535 do CPC/73 e não conhecer da violação aos
mencionados dispositivos por ausência de prequestionamento, uma vez que houve a devida oposição
de embargos de declaração.
Alega que, "Frente à omissão do v. aresto quanto às violações aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade, a AGRAVANTE separou um capítulo exclusivamente
dedicado à matéria em seus embargos de declaração (cf. fls. e-STJ 631/632). No entanto, ao
julgar o recurso, o E. Tribunal a quo o fez de forma genérica, sem devidamente enfrentar as
questões suscitadas nos aclaratórios, o que motivou a interposição deste recurso especial
com base, entre outros fundamentos, na violação ao art. 535, I e II do CPC" (fl. 838) e que tais
questões são de altíssima relevância, "pois perfilham-se com precedente desta C. Quarta Turma
do E. Superior Tribunal de Justiça especificamente sobre a hipótese em tela, tendo decidido
essa C. Corte, naquela oportunidade, pela diminuição da penalidade pelo não adiantamento
de pedágio, em razão dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade" (fl. 839).
Sustenta "a necessidade de compatibilizar a cláusula penal prevista no art. 8º
da Lei de Vale-Pedágio com o disposto nos arts. 412 e 413 do Código Civil, que preveem a
limitação dos valores da cominação daquela cláusula em relação ao da obrigação principal"
(fl. 839), uma vez que a cláusula penal se baseia no valor do frete, e não do vale-pedágio.
Defende que "(...) o valor do frete é consideravelmente superior ao valor do
pedágio. Dessa forma, a disparidade entre os montantes faz com que, havendo a ocorrência
de infração aos dispositivos da Lei 10.209/2001, como posto no artigo 8º da mesma lei,
“torna-se notória a desproporcionalidade entre a obrigação principal e a penalidade
imputada” (fl. 840);
2) Inaplicabilidade da Súmula 7/STJ, porque "(...) a simples leitura do r. decisum
atacado, por si só, já demonstra que o pedido indenizatório foi acatado sem que tenha
havido qualquer comprovação no curso da demanda, fundando-se em verdadeira presunção
de que todos os veículos utilizados no transporte de cargas seriam da frota das ora
AGRAVADAS" (fl. 841);

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3) A fundamentação do acórdão é deficiente, pois "(...) assentou-se em meras
presunções, tendo reconhecido que não foram analisadas detidamente as provas carreadas
nos autos" (fl. 842).
Ao final, requer a reconsideração da decisão agravada ou, se mantida, seja o
presente feito levado a julgamento perante a eg. Quarta Turma.
Apresentada impugnação do agravo interno às fls. 889/974.
É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RAUL ARAÚJO (Relator):


Conforme relatado, trata-se de ação de cobrança ajuizada pelas transportadoras, ora
agravadas, em face da embarcadora, ora agravante, sob o fundamento de que não foram
ressarcidas dos valores pagos a título de pedágio, requerendo a condenação da agravante ao
pagamento da importância, bem como a aplicação da penalidade da "dobra do frete".
Nas razões do presente agravo, a agravante reitera a alegação de negativa de
prestação jurisdicional, sob a alegação de que o acórdão recorrido não se teria manifestado sobre o
comportamento contraditório das agravadas, que teriam violado os princípios da boa-fé objetiva e da
razoabilidade e proporcionalidade, mesmo após a oposição de embargos de declaração. Defende
que, embora o acórdão "(...) tenha entendido pela constitucionalidade da lei nº 10.209/2001,
deixou de se manifestar sobre os efeitos da sua aplicação, vicio esse que deve ser sanado" (fl.
632).
Não obstante, no presente caso, o recurso especial, de fato, não se viabiliza pela
indicada violação dos arts. 131, 458 e 535, I e II, do CPC/73, uma vez que, embora os embargos de
declaração tenham sido rejeitados, o Tribunal de origem indicou adequadamente os motivos que lhe
formaram o convencimento, analisando de forma clara, precisa e completa as questões relevantes
do processo e solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que entendeu cabível à
hipótese, manifestando-se expressamente sobre a questão acerca da constitucionalidade da Lei
10.209/2001 e seus efeitos, inclusive a sua aplicabilidade no tempo, considerando a data da sua
entrada em vigência.
Conforme se demonstrará a seguir, não há falar, portanto, em prestação jurisdicional
lacunosa ou deficitária.
Assiste razão à agravante, contudo, no que tange ao prequestionamento das teses de

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comportamento contraditório e violação da boa-fé objetiva pelas autoras, ora agravadas, tendo tal
alegação sido rechaçada pela Corte local com base nos seguintes fundamentos:
"Some-se a isso o fato de que a pretensão das recorridas, dirigida à
recuperação dos valores correspondentes ao "vale-pedágio", não deva
ser compreendida como violadora do dever de boa-fé objetiva, haja visto
que o dever ético que se impõe nas relações contratuais, não possa ser
erigido em pedestal inalcançável, sob pena de se impor ao contratante,
tido como prejudicado, a impossibilidade de obtenção da tutela
jurisdicional, o que, diga-se de passagem, não se pode admitir, por força
do dogmático princípio da inafastabilidade da jurisdição.
Não é demais lembrar, também, que o princípio da boa-fé objetiva exige
que o credor exerça comportamento dirigido a impedir o agravamento de
seu próprio prejuízo, sendo este, inclusive, o entendimento consagrado
pelo enunciado 169, da lil Jornada de Direito Civil promovida pelo
Conselho da Justiça Federal, que assim diz: "O princípio da boa-fé
objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio
prejuízo." (fl. 622, g.n.)

Dessa forma, afasta-se o óbice das Súmulas 282 e 356 do STF, no ponto, e passa-se
ao exame do mérito recursal.
A Lei 10.209/2001 instituiu o vale-pedágio obrigatório sobre o transporte
rodoviário de carga, dispondo, em seu art. 1°, § 1º, que "O pagamento de pedágio, por veículos de
carga, passa a ser de responsabilidade do embarcador".
Os §§ 2º e 3º do mesmo artigo consideram como embarcador o contratante do
transporte, seja ele proprietário originário da carga ou não, enquanto o art. 2º da Lei veda
expressamente que o valor do vale-pedágio integre o valor do frete.
Consoante dispõe o art. 3º e parágrafos da referida Lei, o embarcador deve
antecipar o valor do vale-pedágio obrigatório ao transportador nas hipóteses de transportador
autônomo ou de empresa comercial que realizar o transporte de forma exclusiva para um único
embarcador, sendo que, em caso de inadimplemento dessa obrigação legal, nos termos do art. 8º do
mesmo diploma, o embarcador deve pagar ao transportador indenização equivalente ao dobro do
valor do frete, comumente chamada de "dobra do frete":
Art. 8º Sem prejuízo do que estabelece o art. 5º, nas hipóteses de
infração ao disposto nesta Lei, o embarcador será obrigado a indenizar
o transportador em quantia equivalente a duas vezes o valor do frete.

Da leitura do v. acórdão recorrido, verifica-se que o eg. Tribunal a quo se


manifestou sobre a constitucionalidade da Lei 10.209/2001, afastando expressamente as alegações
de inconstitucionalidade formal e material feitas pela recorrente, nos seguintes termos:
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"Primeiramente, interessante asseverar que, diferentemente da tese
defendida pela recorrente, dúvidas não pairam acerca da
constitucionalidade da Lei n° 10.209/01, uma vez não verificados
quaisquer indicios de violação ao processo legislativo que implicou na
sua edição, ou mesmo em relação à matéria tratada em seu bojo, posto
que, como bem observou a D. Procuradora oficiante em 2° Grau, a
referida lei tem por finalidade "regularizar a situação dos
transportadores em face do preço dos pedágios praticados no território
nacional, a fim de desonerar os profissionais autônomos e evitar a perda
no valor do frete", razão pela qual não deva vingar o argumento da
recorrente, deduzido no sentido de que a lei em comento se apresente
como sendo violadora da ordem constitucional vigente.
Neste sentido assevera o professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho, em
seu consagrado Curso de Direito Constitucional que "o controle de
constitucionalidade é, pois, a verificação da adequação de um ato
jurídico (particularmente da lei) à Constituição. Envolve a verificação
tanto dos requisitos formais - subjetivos, como a competência do órgão
que o editou - objetivos, como a forma, os prazos, o rito, observados em
sua edição - quanto dos requisitos substanciais - respeito aos direitos e
às garantias consagrados na Constituição - de constitucionalidade do ato
jurídico". (pág.60. Editora Saraiva, São Paulo, 2012).
Diga-se, além do mais, que a lei regulametadora do vale-pedágio, já teve
sua constitucionalidade afirmada por outros Tribunais, sendo caso de se
transcrever, para complemento do entendimento ora adotado, ementa da
V. Decisão emanada da 4a Turma do Tribunal Regional Federal da 4a
Região, quando do julgamento do Recurso de Apelação AC 30893 RS
200471.00.036983-5, e que foi relatada pelo Desembargador Federal
Edgard Antônio Lilppmann Júnior, conforme ocorrido em 26/03/2008, e
que assim diz:
"ADMINISTRATIVO. AÇÃO DECLARATORIA. LEGALIDADE DO
VALE -PEDÁGIO. LEI N.10.209/2001. LEGITIMIDADE PASSIVA.
ANTT.
Reconhecida a legitimidade passiva da ANTT para integrar feito em que
se discute a aplicação das penalidades por infrações relativas à
implantação do vale-pedágio obrigatório. reconhecida a validade do
vale-pedágio instituído pela Lei n° 10.209/2001, sendo de
responsabilidade do embarcador - proprietário da mercadoria
transportada por terceiro - o custo da aquisição antecipada em modelo
próprio, até como forma de evitar que haja o repasse, ao transportador,
do custo dos pedágios" (fls. 620/621, g.n.)

Sobre a questão, o eg. Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 6.031/DF,


em 27/03/2020, de relatoria da Exma. Ministra CÁRMEN LÚCIA, declarou a
constitucionalidade do art. 8º da Lei 10.209/2001, consignando não haver, no caso, violação ao
princípio da proporcionalidade, tampouco conflito de normas ou princípios apto a afastar a validade

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do dispositivo legal, in verbis:
"Na espécie, não verifico princípios constitucionais em conflito a
ensejarem a ponderação e a análise na dimensão do peso para se
integrar a norma com fundamento na proporcionalidade. Na dimensão da
validade, não há normas conflitantes aptas a afastarem a aplicabilidade
do dispositivo legal impugnado."

O julgado foi assim ementado:


"EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
REQUERIMENTO DE MEDIDA CAUTELAR. ART. 8º DA LEI N.
10.209/2001. PAGAMENTO ANTECIPADO DE VALE-PEDÁGIO NA
CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE
CARGAS. INDENIZAÇÃO AO TRANSPORTADOR, EM CASO DE
DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO PELO CONTRATANTE, EM
VALOR VINCULADO AO FRETE CONTRATADO. ALEGADA OFENSA AO
ART. 1º E AO INC. LIV DO ART. 5º DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. LIMITES DE
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE COMO
PARÂMETRO CONSTITUCIONAL DE CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE
ABUSO LEGISLATIVO. PRECEDENTES. INDENIZAÇÃO LEGAL QUE
NÃO SE DEMONSTRA DESARRAZOADA. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA IMPROCEDENTE. 1. Proposta
de conversão de julgamento de medida cautelar em julgamento definitivo
de mérito: não complexidade da questão de direito e instrução dos autos.
Precedentes. 2. Legitimidade ativa ad causam da Confederação Nacional
das Indústrias – CNI: existência de pertinência temática entre os
objetivos institucionais e o conteúdo material do texto normativo
impugnado. Precedentes. 3. A atividade legislativa sujeita-se à estrita
observância de diretriz fundamental pela qual, havendo suporte teórico
no princípio da proporcionalidade, vedam-se os excessos normativos e as
prescrições irrazoáveis do Poder Público. Precedentes. 4. Indenização,
no caso de descumprimento pelo embarcador de antecipação do
vale-pedágio ao transportador, em quantia equivalente a duas vezes o
valor do frete, que não se revela arbitrária ou irrazoável. 5. Ação direta
de inconstitucionalidade julgada improcedente para declarar
constitucional o art. 8º da Lei n. 10.209/2001."
(ADI 6031, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em
27/03/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-04-2020
PUBLIC 16-04-2020, g.n.)

No caso em exame, a demanda foi julgada procedente para condenar a


embarcadora, ora agravante, ao pagamento dos valores relativos ao vale-pedágio, acrescidos da
multa da dobra do frete.
Nas razões do recurso especial, a agravante sustenta que o Tribunal a quo, ao

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manter a procedência da demanda, decidiu com base em meras presunções de que: (I) os veículos
utilizados pela agravada eram pertencentes à frota própria; e (II) a agravante não pagou os valores
referentes ao vale-pedágio. Alega que as provas carreadas aos autos não foram analisadas
corretamente, sendo necessário, portanto, reconhecer a ausência de fundamentação do acórdão, que
não expôs os motivos que formaram o convencimento dos julgadores.
Por sua vez, o eg. TJ-SP, ao analisar as provas constantes nos autos, concluiu que as
agravadas comprovaram adequadamente a propriedade dos veículos utilizados na realização do
frete, bem como afastou expressamente a ocorrência de violação ao princípio da boa-fé objetiva,
concluindo que as transportadoras comprovaram os valores devidos a título de vale-pedágio, e que,
por sua vez, a embarcadora não comprovou que houve o seu efetivo pagamento, de forma
destacada, como exige a Lei. É o que se extrai do seguinte trecho do acórdão recorrido:
"Some-se a isso o fato de que o reconhecimento da propriedade dos
veículos utilizados pelas recorridas, conforme afirmado pelo Juízo,
resultou do adequada enfrentamento dos elementos de cognição
encartados ao todo processado, elementos estes que, muito embora não
tenham contado com a mais aprofundada análise de seu conteúdo,
permitiu a adequada elucidação da questão como posta nos autos,
circunstância esta que, ao contrário do que tentou fazer crer a ora
inconformada, não conduz à conclusão de que a R. Sentença se apresente
como sendo nula, porque fiada em suposições não demonstradas, ou
mesmo porque proferida de maneira genérica, uma vez que o Juízo não
está adstrito ao fundamento jurídico aduzido pelas partes, podendo
embasar sua decisão em fundamento jurídico diverso, posto que ao. Juiz
incumbe solucionar a contenda segundo o direito aplicável à espécie, em
consonância com os brocardos "lura novit cúria" e "da mihi factum,
dabo tibi ius", daí porque, ao contrário do que sustenta a embargante,
inexistiu qualquer ofensa ao princípio evocado.
(...)
Superados tais aspectos, necessário frisar que resultou incontroverso nos
autos, o fato narrado na peça primeira, notadamente diante da
inexistência de elementos outros de provas, inclusive quanto à ocorrência
de fato modificativo, ou mesmo extintivo do direito evocado pelas autoras,
no sentido de lhes ser devidas as verbas correspondentes às despesas
despendidas com o custeio dos pedágios existentes no curso da malha
viária percorrida pelas autoras, ora recorridas.
Nesse sentido, como bem observou a D. Prolatora da R. Decisão
alvejada:
"As notas fiscais que instruem o presente feito relatam que houve o
pagamento do frete, mas não há qualquer referência aos valores
discutidos nesta demanda, mesmo porque as autoras trouxeram aos autos
notas fiscais anteriores à entrada em vigor da legislação referente à
questão dos autos e notas posteriores, não havendo qualquer modificação
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na forma que eram realizados os pagamentos, bem como alterações
circunstanciais nos valores dos fretes, de sorte a poderem presumir que o
valor dos vale-pedágios estivessem agregados aos valores dos fretes.
Ainda, as testemunhas ouvidas em juízo não comprovaram o efetivo
pagamento desses valores pela ré, sendo certo que a testemunha das
autoras afirmou não ser possível constatar o reembolso dos valores
através das notas fiscais apresentadas. Sendo assim, não havendo
nenhum documento comprobatório do reembolso dos vale-pedágios por
parte da ré, deve-se concluir que este não foi realizado.
(...)
Some-se a isso o fato de que a pretensão das recorridas, dirigida à
recuperação dos valores correspondentes ao "vale-pedágio", não deva
ser compreendida como violadora do dever de boa -fé objetiva, haja visto
que o dever ético que se impõe nas relações contratuais, não possa ser
erigido em pedestal inalcançável, sob pena de se impor ao contratante,
tido como prejudicado, a impossibilidade de obtenção da tutela
jurisdicional, o que, diga-se de passagem, não se pode admitir, por força
do dogmático princípio da inafastabilidade da jurisdição." (fls. 618/622,
g.n.)

Conforme entendimento firmado pela eg. Terceira Turma no julgamento do REsp


1.714.568/GO, compete ao transportador comprovar o valor do vale-pedágio devido em cada frete e
que deixou de ser antecipado para, em seguida, inverter-se o ônus probatório, cabendo ao
embarcador, a partir daí, comprovar que adiantou o vale-pedágio obrigatório. Confira-se a
ementa do julgado:
"RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. VALE-PEDÁGIO. SERVIÇOS DE TRANSPORTE
RODOVIÁRIO DE CARGA PRESTADOS POR TRANSPORTADOR
EMPRESA COMERCIAL. INCIDÊNCIA DA PENALIDADE PREVISTA NO
ART. 8º DA LEI N. 10.209/2001. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO
DOS REQUISITOS. ÔNUS DA PROVA QUE INCUMBE AO
TRANSPORTADOR. COMPROVAÇÃO DO AN DEBEATUR RELEGADA
PARA A FASE DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. DESCABIMENTO.
LIQUIDAÇÃO POR ARTIGOS. INEXISTÊNCIA DE FATO NOVO.
IMPROCEDÊNCIA DA DEMANDA QUE SE IMPÕE. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO.
1. Convém destacar que o recurso especial foi interposto contra decisão
publicada quando ainda estava em vigor o Código de Processo Civil de
1973, sendo analisados os pressupostos de admissibilidade recursais à
luz do regramento nele previsto (Enunciado Administrativo n. 2/STJ).
2. A controvérsia do presente recurso especial cinge-se a estabelecer
sobre quem recai o ônus da prova (transportador ou embarcador) de
comprovar o preenchimento dos requisitos para a incidência da
penalidade prevista no art. 8º da Lei n. 10.209/2001, qual seja, o
pagamento em dobro do valor do frete proveniente do não adiantamento
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do vale-pedágio, quando realizado de forma exclusiva o transporte por
transportador empresa comercial.
3. Para que o transportador empresa comercial - hipótese dos autos -
faça jus ao recebimento da multa aplicada ao embarcador (art. 8º da Lei
n. 10.209/2001), é necessário que: i) o transporte rodoviário de carga
seja prestado exclusivamente a um embarcador (art. 3º, § 3º);
e ii) não haja a entrega, pelo embarcador, do vale-pedágio
antecipadamente, no ato do embarque da carga (art. 3º, § 2º).
3.1. Deduzida em juízo a pretensão do transportador de receber o valor
da multa do art. 8º da Lei n. 10.209/2001, deve este demonstrar a
presença dos seus pressupostos em cada frete realizado, a evidenciar a
procedência da demanda - conforme a regra geral disposta no art. 333,
I, do CPC/1973 (equivalente ao art. 373, I, do CPC/2015) -, notadamente
em virtude de o contratante do serviço de transporte não figurar como
parte nas demais relações jurídicas porventura existentes entre o
transportador e outras empresas embarcadoras que com este contratem,
a fim de denotar a aludida exclusividade, revelando-se mais custosa ao
contratante a produção de prova nesse sentido do que ao transportador.
3.2. Incumbe ao transportador, ainda, comprovar o valor total devido em
cada frete realizado e que deixou de ser antecipado, especificando as
praças de pedágio e os valores respectivos existentes no percurso entre a
origem e o destino da carga. Feito isso, inverte-se o ônus probatório (art.
333, II, do CPC/1973, atual art. 373, II, do CPC/2015), cabendo ao
embarcador a demonstração de que o vale-pedágio obrigatório foi
entregue antecipadamente ao transportador, no ato de cada embarque
que lhe era exigível tal obrigação.
4. Ademais, relegar a comprovação dos fatos atinentes à não antecipação
do vale-pedágio, em cada frete realizado, para a fase de liquidação de
sentença, afigura-se incabível, por caracterizar o próprio direito à
indenização (an debeatur), e não apenas apuração do montante devido
(quantum debeatur). Precedentes.
4.1. De outro modo, a liquidação por artigos (art. 475-E do CPC/1973) -
atualmente denominada liquidação pelo procedimento comum (art. 509,
II, do CPC/2015) -, definida pelo Tribunal de origem, pressupõe dilação
probatória referente a fato novo não discutido na ação de conhecimento,
o que não se antevê na espécie.
5. Recurso especial provido."
(REsp 1.714.568/GO, Relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, julgado em 8/9/2020, DJe de 9/9/2020, g.n.)

Nesse mesmo sentido, colhem-se os seguintes julgados:


"AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. VALE-PEDÁGIO.
SERVIÇOS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGA PRESTADOS
POR TRANSPORTADOR EMPRESA COMERCIAL. INCIDÊNCIA DA
PENALIDADE PREVISTA NO ART. 8º DA LEI N. 10.209/2001.
NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DOS REQUISITOS. ÔNUS DA
PROVA QUE INCUMBE AO TRANSPORTADOR. AGRAVO INTERNO
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Superior Tribunal de Justiça
DESPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte "deduzida em juízo a
pretensão do transportador de receber o valor da multa do art. 8º da Lei
n. 10.209/2001, deve este demonstrar a presença dos seus pressupostos
em cada frete realizado, a evidenciar a procedência da demanda (...)
Incumbe ao transportador, ainda, comprovar o valor total devido em
cada frete realizado e que deixou de ser antecipado, especificando as
praças de pedágio e os valores respectivos existentes no percurso entre a
origem e o destino da carga. Feito isso, inverte-se o ônus probatório (art.
333, II, do CPC/1973, atual art. 373, II, do CPC/2015), cabendo ao
embarcador a demonstração de que o vale-pedágio obrigatório foi
entregue antecipadamente ao transportador, no ato de cada embarque
que lhe era exigível tal obrigação." (REsp 1714568/GO, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
08/09/2020, DJe 09/09/2020).
2. Agravo interno desprovido."
(AgInt nos EDcl no REsp 1.987.470/RS, Relator Ministro Raul Araújo,
Quarta Turma, julgado em 15/8/2022, DJe de 26/8/2022, g.n.)

"AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO


EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. VALE-PEDÁGIO.
SERVIÇOS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGA PRESTADOS
POR TRANSPORTADOR. EMPRESA COMERCIAL. INCIDÊNCIA DA
PENALIDADE PREVISTA NO ART. 8º DA LEI N. 10.209/2001.
NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DOS REQUISITOS. ÔNUS DA
PROVA QUE INCUMBE AO TRANSPORTADOR. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Deduzida em juízo a pretensão do transportador de receber o valor da
multa do art. 8º da Lei n. 10.209/2001, deve este demonstrar a presença
dos seus pressupostos em cada frete realizado, a evidenciar a
procedência da demanda - conforme a regra geral disposta no art. 373,
I, do CPC/2015, notadamente em virtude de o contratante do serviço de
transporte não figurar como parte nas demais relações jurídicas
porventura existentes entre o transportador e outras empresas
embarcadoras que com este contratem, a fim de denotar a aludida
exclusividade, revelando-se mais custosa ao contratante a produção de
prova nesse sentido do que ao transportador.
2. O Colegiado estadual, com base no conjunto fático-probatório,
consignou que não houve a devida comprovação entre a efetiva
prestação dos serviços em favor da agravada e os pedágios arcados pela
agravante. Rever tal conclusão esbarra no óbice da Súmula 7 desta
Corte.
3. Agravo interno a que se nega provimento."
(AgInt nos EDcl no AREsp 1.836.047/PR, Relator Ministro Marco Aurélio
Bellizze, Terceira Turma, julgado em 16/11/2021, DJe de 19/11/2021, g.n.)

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Superior Tribunal de Justiça
Nesse contexto, tendo o Tribunal a quo concluído que as transportadoras cumpriram
com seu ônus de provar os valores devidos, e que a agravante não comprovou o pagamento de tais
valores, na forma da lei, a modificação do entendimento lançado no v. acórdão recorrido, nos termos
em que pleiteada pela parte recorrente, demandaria o revolvimento de suporte fático-probatório dos
autos, o que é inviável em sede de recurso especial, a teor do que dispõe a Súmula 7 deste Pretório.
Nesse sentido:
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE
COBRANÇA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO
AO RECLAMO. INSURGÊNCIA RECURSAL DO AUTOR.
1. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que a contradição apta
a abrir a via dos embargos declaratórios é aquela interna ao julgado,
existente entre a fundamentação e a conclusão da decisão ou entre
premissas do próprio julgado. Precedentes.
2. Esta Corte Superior entende que não há como aferir eventual ofensa
ao art. 333 do CPC/73 (art. 373 do CPC/15) sem que se verifique o
conjunto probatório dos presentes autos. Incidência da Súmula 7.
3. O Tribunal a quo, depois de examinar o conteúdo do contrato firmado
entre as partes bem como a narrativa fática e as provas que instruem os
autos, concluiu por aplicar a estimativa prevista no instrumento
contratual para apuração do débito porquanto a recorrente não
apresentou provas suficientes para demonstrar a distância que
efetivamente teria percorrido. Alterar tal conclusão, encontra óbice nas
Súmulas 5 e 7 dessa Corte Superior.
4. Agravo interno desprovido."
(AgInt no AREsp 1.280.604/DF, Relator Ministro Marco Buzzi, Quarta
Turma, julgado em 21/10/2019, DJe de 23/10/2019, g.n.)

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. URV.


VIOLAÇÃO DOS ARTS. 458 E 535 DO CPC/1973 E 1.022 DO CPC/2015.
INEXISTÊNCIA. MERO INCONFORMISMO. ÔNUS PROBATÓRIO. ART.
333 DO CPC/1973. MATÉRIA DE PROVA. OFENSA AO ART. 514, II, DO
CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA. REEXAME. SÚMULA 7/STJ.
1. Deve ser rejeitada a alegada violação dos arts. 458 e 535 do CPC, na
medida em que o Tribunal de origem julgou integralmente a lide,
fundamentando seu proceder de acordo com os fatos apresentados e com
a interpretação dos regramentos legais que entendeu aplicáveis,
demonstrando as razões de seu convencimento.
2. Os argumentos apresentados pelo insurgente buscam, exclusivamente,
a inversão do ônus da prova pela Corte regional, que, diante do caso
concreto, tem a faculdade de determiná-la ou não.
3. A Jurisprudência do STJ entende que não há como aferir eventual
ofensa ao art. 333 do CPC/1973 (art. 373 do CPC/2015) sem que se
verifique o conjunto probatório dos presentes autos. A pretensão de
simples reexame de provas, além de escapar da função constitucional
deste Tribunal, encontra óbice na Súmula 7 do STJ, cuja incidência é
Documento: 2213499 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/02/2023 Página 14 de 9
Superior Tribunal de Justiça
induvidosa no caso sob exame.
4. A Corte de origem concluiu pela ausência de violação ao artigo 514,
II, CPC/73, "haja vista que o recurso impugnou satisfatoriamente os
pontos elencados na sentença", o que leva à conclusão de atendimento
dos requisitos previstos no referido dispositivo.
5. Assim, é evidente que, para modificar o entendimento firmado no
acórdão recorrido, seria necessário exceder as razões nele
colacionadas, o que demanda incursão no contexto fático-probatório dos
autos, vedada em Recurso Especial, conforme Súmula 7 desta Corte: "A
pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial".
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não
provido."
(REsp 1.665.411/MT, Relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,
julgado em 05/09/2017, DJe de 13/09/2017, g.n.)

No que tange ao pleito de redução equitativa da dobra do frete, verifica-se que, em


que pese, de fato, a matéria relativa à violação dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade
tenha sido ventilada nas razões dos embargos opostos contra o acórdão estadual, somente nas
razões do presente agravo interno foi aventada a tese de redução da indenização,
configurando verdadeira inovação recursal, o que obsta o conhecimento desta matéria. A
propósito:
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
AUSÊNCIA. LOCAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO. VALOR DO DÉBITO.
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA Nº 7/STJ. INOVAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. MULTA. NÃO
CABIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO.
INVIABILIDADE.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de
origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia
com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não
no sentido pretendido pela parte.
3. Na hipótese, rever a conclusão do aresto impugnado acerca da
correção dos valores cobrados encontra óbice na Súmula nº 7 do
Superior Tribunal de Justiça.
4. É impossível a análise de teses alegadas apenas nas razões do agravo
interno, por se tratar de evidente inovação recursal.
5. A Segunda Seção desta Corte decidiu que a aplicação da multa por
litigância de má-fé não é automática, pois não se trata de mera
decorrência lógica da rejeição do agravo interno.
6. Não é possível majorar os honorários advocatícios na hipótese de
interposição de recurso no mesmo grau de jurisdição. Precedentes.

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Superior Tribunal de Justiça
7. Agravo interno não provido."
(AgInt no AREsp 1.923.159/SC, Relator Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, julgado em 22/8/2022, DJe de 26/8/2022, g.n.)

"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO


DE FAZER - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO
AO RECURSO. INSURGÊNCIA DA DEMANDADA.
1. No âmbito do REsp 1.733.013/PR, esta Quarta Turma firmou o
entendimento de que o rol de procedimentos editado pela ANS não pode
ser considerado meramente exemplificativo.
1.1. Em tal precedente, contudo, fez-se expressa ressalva de que a
natureza taxativa ou exemplificativa do aludido rol seria desimportante à
análise do dever de cobertura de medicamentos para o tratamento de
câncer, em relação aos quais há apenas uma diretriz na resolução da
ANS.
2. Os argumentos apresentados em momento posterior à interposição do
recurso especial não são passíveis de conhecimento por importar em
inovação recursal, a qual é considerada indevida em virtude da
preclusão consumativa.
3. Agravo interno desprovido."
(AgInt no REsp 1.951.276/DF, Relator Ministro Marco Buzzi, Quarta
Turma, julgado em 22/8/2022, DJe de 26/8/2022, g.n.)

Ainda que assim não fosse, referida tese não aproveitaria à agravante.
Isso, porque, em que pese esta Corte Superior, de fato, no julgamento do REsp
1.520.327/SP (Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe de 27/05/2016), citado nas
razões do agravo interno, tenha restringido a extensão da incidência da regra do art. 8º da Lei
10.209/2001, isso ocorreu antes do pronunciamento da eg. Suprema Corte acerca da
constitucionalidade de tal indenização.
Dessa forma, afastada a violação aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade
pelo STF, em controle concentrado de constitucionalidade, com eficácia erga omnes e efeito
vinculante, descabe considerar o argumento de exorbitância da multa legal, analisado de maneira
abstrata.
Resta, então, apenas proceder-se à liquidação para obtenção do correto valor devido,
quando será necessária a análise dos documentos juntados aos autos, demonstrativos dos valores
despendidos a título de pedágio, conferindo-se rigorosamente o montante custeado pelas agravadas
em cada frete realizado, como base de cálculo para o pagamento da multa legal.
Ante o exposto, nega-se provimento ao agravo interno.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2015/0205987-4 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 767.766 / SP

Números Origem: 000051084295 91664864120088260000

PAUTA: 13/09/2022 JULGADO: 13/09/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MARCELO ANTÔNIO MUSCOGLIATI
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

ASSUNTO: DIREITO CIVIL

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do relator negando provimento ao agravo interno, PEDIU VISTA antecipada
o Ministro Marco Buzzi. Aguardam os demais.

Documento: 2213499 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/02/2023 Página 17 de 9
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2015/0205987-4 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 767.766 / SP

Números Origem: 000051084295 91664864120088260000

PAUTA: 13/09/2022 JULGADO: 08/11/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PAULO EDUARDO BUENO
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

ASSUNTO: DIREITO CIVIL

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, acolheu requerimento de prorrogação de prazo de
pedido de vista, nos termos da solicitação do Sr. Ministro Marco Buzzi.

Documento: 2213499 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/02/2023 Página 18 de 9
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2015/0205987-4 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 767.766 / SP

Números Origem: 000051084295 91664864120088260000

PAUTA: 06/12/2022 JULGADO: 06/12/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PAULO EDUARDO BUENO
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

ASSUNTO: DIREITO CIVIL

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado o julgamento para a próxima sessão (13/12/2022, às 9h).

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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 767.766 - SP (2015/0205987-4)

RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO


AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

VOTO-VISTA

O SR. MINISTRO MARCO BUZZI:

Cuida-se de agravo interno interposto por COMPANHIA BRASILEIRA DE


DISTRIBUICAO, contra decisão de fls. 827-831, da lavra do e. Ministro Raul Araújo, que
conheceu do agravo para negar provimento ao recurso especial.
Depreende-se dos autos que as transportadoras ora recorridas ajuizaram
ação de cobrança contra a agravante objetivando o reembolso dos valores de pedágio
(vale-pedágio) despendidos durante o transporte de carga pertencente à insurgente,
com imposição da penalidade prevista no art. 8º da Lei nº 10.209/2001 (indenização
correspondente ao dobro do valor de cada frete realizado).
O magistrado a quo, (sentença de fls. 448-454) julgou procedentes os
pedidos para condenar a requerida ao pagamento dos valores referentes aos
vales-pedágio dos fretes realizados pelas autoras, bem como de indenização
consistente no dobro do valor de cada frete realizado pelas demandantes no período
compreendido entre a entrada em vigor da Lei nº 10.209/01 e o término do contrato
firmado entre as partes, ocorrido em 19 de outubro de 2004, valor este corrigido pela
Tabela Prática do Tribunal desde a data da rescisão contratual, acrescidos de juros
moratórios de 1% (um por cento) ao mês contados da citação.
O Tribunal Paulista negou provimento à apelação em acórdão assim
ementado (fls. 612-622):

RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO CONTRA R.SENTENÇA PELA


QUAL FOI JULGADA PROCEDENTE AÇÃO DE COBRANÇA C/C
REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS.
PRELIMINAR DE NULIDADE DA R. SENTENÇA, POR FORÇA DE
INSUFICIENTE FUNDAMENTAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE NULIDADE -
R.SENTENÇA QUE APRECIOU, AINDA QUE DE FORMA SUCINTA,
Documento: 2213499 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/02/2023 Página 20 de 9
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TODAS AS QUESTÕES DEDUZIDAS PELAS PARTES, BEM COMO AS
PROVAS CONTIDAS NOS AUTOS - JUIZ QUE NÃO ESTÁ VINCULADO
AO DIREITO EVOCADO PELAS PARTES - NECESSÁRIA APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO BASILAR CONTIDO NO BROCARDO "JURA NOVIT
CURIA" - LIVRE EXERCÍCIO DE FUNDAMENTAÇÃO PELO JUÍZO, BEM
COMO DA ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE COGNIÇÃO, QUE NÃO
IMPLICA NA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO - PRELIMINAR REPELIDA.
ARGUIÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI 10.209, DE
23 DE MARÇO DE 2001, QUE IMPÔS AO EMBARCADOR A
RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DE DESPESAS COM
PEDÁGIO - LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL QUE SE MOSTRA
COMO SENDO DE INDISCUTÍVEL CONSTITUCIONALIDADE, POSTO
QUE NÃO VERIFICADOS QUAISQUER INDÍCIOS DE VIOLAÇÃO AO
PROCESSO LEGISLATIVO QUE IMPLICOU NA SUA EDIÇÃO, OU MESMO
EM RELAÇÃO À MATÉRIA TRATADA EM SEU BOJO - RECURSO NÃO
PROVIDO.
CONTRATO DE TRANSPORTE DE COISAS - REEMBOLSO DE
DESPESAS COM PEDÁGIO - OBRIGAÇÃO IMPOSTA AO
EMBARCADOR, POR FORÇA DA LEI 10.209, 23 DE MARÇO DE 2001,
QUE ENTROU EM VIGOR DATA DE SUA PUBLICAÇÃO - "VALE
-PEDÁGIO" INCORPORADO AO VALOR DO FRETE - AUSÊNCIA DE
PROVA NESSE SENTIDO - PRETENSÃO DOS TRANSPORTADORES EM
OBTER A RECUPERAÇÃO DOS VALORES CORRESPONDENTES AO
"VALE-PEDÁGIO", QUE NÃO SE APRESENTA CONTRÁRIA AO DEVER
DE BOA-FÉ OBJETIVA - CONDENAÇÃO IMPOSTA AO PAGAMENTO
DAS DESPESAS RELATIVAS AO "VALE-PEDÁGIO", PELA
RECORRENTE, QUE SE MOSTROU ADEQUADO - ACERTO DA
R.SENTENÇA - RECURSO NÃO PROVIDO.

Nas razões do recurso especial, a insurgente alegou, preliminarmente,


violação aos arts. 131, 458 e 535, incisos I e II, do CPC/73, aos fundamentos de que (i)
o Tribunal a quo não teria sanado as omissões apontadas na petição dos embargos de
declaração, especialmente no tocante à inconstitucionalidade material da Lei nº
10.209/2001, pois acarreta grave violação à liberdade contratual e ao princípio da
razoabilidade; e (ii) o acórdão carece de fundamentação dado que se baseou em meras
presunções.
Apontou, ainda, violação aos arts. 333, inciso I, do CPC/73, e 113, 187 e 422
do CC/2002, sustentando, em síntese: (a) ausência de comprovação dos fatos
constitutivos do direito da parte autora; e (b) a pretensão de pagamento do vale-pedágio
vai de encontro princípio da boa-fé objetiva pois, "as partes, exercendo a autonomia da
vontade, livre e conscientemente estabeleceram que o valor do frete contemplaria e
abarcaria o valor do pedágio, e que o pagamento se daria de urna única vez, após a
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prestação do serviço de transporte rodoviário, por ocasião da quitação da respectiva
fatura" (fl. 660).
Inadmitido o reclamo na origem adveio o agravo visando destrancar a
insurgência.
Em decisão monocrática (fls. 827/831) o e. relator conheceu do agravo para
negar provimento ao recurso especial, sob os fundamentos:
(a) ausência de violação aos arts. 131, 458 e 535, incisos I e II, do Código de
Processo Civil de 1973;
(b) incidência da Súmula 7/STJ; e
(c) inexistência de prequestionamento.
Irresignada, a parte interpôs agravo interno no qual aduziu, em síntese:
i) ter havido o efetivo prequestionamento dos arts. 113, 187 e 422 do CC,
sendo contraditório afastar a alegação de violação ao art. 535 do CPC/73 e não
conhecer da violação aos mencionados dispositivos por ausência de
prequestionamento, ante a oposição de embargos de declaração.
ii) inaplicabilidade da Súmula 7/STJ, porque "(...) a simples leitura do r.
decisum Superior Tribunal de Justiça atacado, por si só, já demonstra que o pedido
indenizatório foi acatado sem que tenha havido qualquer comprovação no curso da
demanda, fundando-se em verdadeira presunção de que todos os veículos utilizados no
transporte de cargas seriam da frota das ora AGRAVADAS" (fl. 841);
iii) a fundamentação do acórdão é deficiente, pois "(...) assentou-se em
meras presunções, tendo reconhecido que não foram analisadas detidamente as
provas carreadas nos autos" (fl. 842).
Ao final, requereu a reconsideração da decisão agravada ou, se mantida,
fosse o presente feito levado a julgamento perante o colegiado da Quarta Turma.
Impugnação ao agravo interno às fls. 889-974.
O e. relator, em seu judicioso voto, nega provimento ao agravo interno.
Pedi vista dos autos para melhor análise da controvérsia envolvendo o
ressarcimento de valores pagos a título de pedágio e aplicação da penalidade prevista
no art. 8º da Lei 10.209/01 atinente à "dobra do frete".
É o relatório.

Voto

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Acompanha-se o e. relator quanto aos fundamentos utilizados em seu


judicioso voto, porém diverge-se quanto ao dispositivo do julgado de modo a
acolher em parte o agravo interno, dado o efetivo prequestionamento da matéria
atinente aos arts. 113, 187 e 422 do CC, para manter, no ponto, a negativa de
provimento ao recurso especial por fundamentação diversa.
1. Conforme já referido, trata-se de ação de cobrança ajuizada pelas
transportadoras, ora agravadas, em face da embarcadora, ora agravante, ao
fundamento de que não foram ressarcidas dos valores pagos a título de pedágio, motivo
que ensejou a condenação da insurgente ao pagamento da importância, bem como a
aplicação da penalidade prevista no art. 8º da Lei nº 10.209/01 atinente à "dobra do frete"
ante o não adiantamento do vale-pedágio obrigatório.
1.1 De início, é imprescindível mencionar que a Lei nº 10.209/2001 instituiu o
vale-pedágio obrigatório sobre o transporte rodoviário de carga, dispondo, em seu art.
1°, § 1º, que o pagamento de pedágio, por veículos de carga, é de responsabilidade do
embarcador.
Os §§ 2º e 3º do mesmo dispositivo consideram como embarcador o
contratante do transporte, seja ele proprietário originário da carga ou não, e empresa
transportadora aquela que subcontratar o serviço de transporte de carga mesmo que
prestado por transportador autônomo.
O art. 2º da lei é expresso ao consignar que "o valor do vale-pedágio não
integra o valor do frete", tampouco será considerado receita operacional ou rendimento
tributável, nem constituirá base de incidência de contribuições sociais ou
previdenciárias.
Consoante dispõe o art. 3º e parágrafos do referido normativo, o embarcador
deve antecipar o valor do vale-pedágio obrigatório nas hipóteses de transportador
autônomo ou de empresa comercial que realizar o transporte de forma exclusiva para
um único embarcador, sendo que tal antecipação, a partir de 25/10/2002 deve se dar via
"modelo próprio", independente do valor do frete.
Em caso de inadimplemento dessa obrigação legal, nos termos do art. 8º do
mesmo diploma, o embarcador deve pagar ao transportador indenização equivalente ao
dobro do valor do frete, popularmente conhecida como "dobra do frete".
1.2 O Supremo Tribunal Federal, no bojo da ADI 6031, em julgamento de
ação proposta pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), julgou pela

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constitucionalidade do artigo 8º da Lei nº 10.209/01, o qual prevê penalidade
indenizatória “equivalente a duas vezes o valor do frete”, a ser paga pelo embarcador
que não adiantar ao transportador (empresa ou autônomo) o vale-pedágio obrigatório.
Eis a ementa do referido julgado:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. REQUERIMENTO DE


MEDIDA CAUTELAR. ART. 8º DA LEI N. 10.209/2001. PAGAMENTO
ANTECIPADO DE VALE-PEDÁGIO NA CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS
DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS. INDENIZAÇÃO AO
TRANSPORTADOR, EM CASO DE DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO
PELO CONTRATANTE, EM VALOR VINCULADO AO FRETE
CONTRATADO. ALEGADA OFENSA AO ART. 1º E AO INC. LIV DO ART.
5º DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA AD
CAUSAM. LIMITES DE INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE COMO PARÂMETRO CONSTITUCIONAL DE
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. NECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DE ABUSO LEGISLATIVO. PRECEDENTES.
INDENIZAÇÃO LEGAL QUE NÃO SE DEMONSTRA DESARRAZOADA.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA
IMPROCEDENTE.
1. Proposta de conversão de julgamento de medida cautelar em
julgamento definitivo de mérito: não complexidade da questão de direito e
instrução dos autos. Precedentes.
2. Legitimidade ativa ad causam da Confederação Nacional das
Indústrias – CNI: existência de pertinência temática entre os objetivos
institucionais e o conteúdo material do texto normativo impugnado.
Precedentes.
3. A atividade legislativa sujeita-se à estrita observância de diretriz
fundamental pela qual, havendo suporte teórico no princípio da
proporcionalidade, vedam-se os excessos normativos e as prescrições
irrazoáveis do Poder Público. Precedentes.
4. Indenização, no caso de descumprimento pelo embarcador de
antecipação do vale-pedágio ao transportador, em quantia equivalente a
duas vezes o valor do frete, que não se revela arbitrária ou irrazoável.
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente para
declarar constitucional o art. 8º da Lei n. 10.209/2001
(ADI 6031, Plenário, relatora Ministra Carmem Lúcia, DJ 17/04/2020)

Ante a constitucionalidade da penalidade - "dobra do frete" - passa-se ao


exame do caso concreto.
2. Tal como referido pelo e. relator, nas razões do presente agravo, a
insurgente reitera a alegação de negativa de prestação jurisdicional, sob a assertiva de
que a Corte local, mesmo após a oposição de embargos de declaração, não teria se
manifestado sobre o comportamento contraditório das agravadas, violadores dos
princípios da boa-fé objetiva, da razoabilidade e proporcionalidade, ao cobrarem o

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reembolso dos valores de vale-pedágio.
Defende que embora o acórdão "(...) tenha entendido pela
constitucionalidade da lei nº 10.209/2001, deixou de se manifestar sobre os efeitos da
sua aplicação, vicio esse que deve ser sanado" (fl. 632).
Efetivamente não há falar em negativa de prestação jurisdicional na espécie,
pois a despeito dos embargos de declaração terem sido rejeitados, o Tribunal de origem
indicou adequadamente os motivos que lhe formaram o convencimento, analisando de
forma clara, precisa e completa as questões relevantes do processo e solucionando a
controvérsia com a aplicação do direito que entendeu cabível à hipótese, tendo
expressamente se manifestado acerca da questão envolvendo a constitucionalidade da
referida lei e os efeitos dela decorrente, inclusive a sua aplicabilidade no tempo,
considerando a data da sua entrada em vigência.
Ademais, ainda que de maneira diversa da pretendida pela parte insurgente,
houve expressa manifestação pelo Tribunal de origem acerca do alegado
comportamento contraditório e supostamente violador da boa-fé objetiva pelas autoras,
tendo tal alegação sido rechaçada pela Corte local com base nos seguintes
fundamentos:

Some-se a isso o fato de que a pretensão das recorridas, dirigida à


recuperação dos valores correspondentes ao "vale-pedágio", não deva
ser compreendida como violadora do dever de boa-fé objetiva, haja visto
que o dever ético que se impõe nas relações contratuais, não possa ser
erigido em pedestal inalcançável, sob pena de se impor ao contratante,
tido como prejudicado, a impossibilidade de obtenção da tutela
jurisdicional, o que, diga-se de passagem, não se pode admitir, por força
do dogmático princípio da inafastabilidade da jurisdição.
Não é demais lembrar, também, que o princípio da boa-fé objetiva exige
que o credor exerça comportamento dirigido a impedir o agravamento de
seu próprio prejuízo, sendo este, inclusive, o entendimento consagrado
pelo enunciado 169, da III Jornada de Direito Civil promovida pelo
Conselho da Justiça Federal, que assim diz: "O princípio da boa -fé
objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo".
Em assim sendo, não merecem vingar os reclamos exteriorizados pela
recorrente, conforme deduzidos em suas razões recursais, uma vez que
a R.Decisão guerreada deu plena e correta solução à lide, razão pela
qual deva ser mantida inalterada, com base em seus próprios, .legítimos
e, acertados fundamentos.

Sobre esse ponto em específico, verifica-se que o e. relator, em sua

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deliberação monocrática considerou ausente o devido prequestionamento da
matéria, circunstância que não se evidencia na espécie, tanto que sequer é
reiterado tal óbice no voto proposto. Por tal razão, acerca da questão acolhe-se
em parte o agravo interno para, no ponto, negar provimento ao reclamo por
fundamentação diversa.
Assim, não há falar em negativa de prestação jurisdicional na espécie, pois a
circunstância de não terem sido acolhidas as teses da parte insurgente não caracteriza
vício no julgado, notadamente quando a pretensão da parte era notadamente infringente.
3. Ademais, inviável acolher a tese de que a Corte local teria mantido a
procedência da demanda com amparo em meras presunções, bem ainda de que as
provas colacionadas aos autos teriam sido mal analisadas, porquanto suficientemente
aptas a comprovar que a ré, ora agravante teria efetuado a antecipação do pagamento
dos valores referentes ao vale-pedágio.
Isso porque, o Tribunal de origem, com amparo no acervo fático-probatório
dos autos, concluiu que as autoras comprovaram o fato constitutivo do seu direito,
notadamente a propriedade dos veículos utilizados na realização do transporte sobre os
quais foi cobrado o pedágio, bem como de que os valores devidos a título de
antecipação do vale-pedágio não foram adimplidos, principalmente por não terem sido
realizados de forma destacada como prevê a lei de regência.
Confira-se, por oportuno, o seguinte trecho do acórdão objurgado:

"Some-se a isso o fato de que o reconhecimento da propriedade


dos veículos utilizados pelas recorridas, conforme afirmado pelo
Juízo, resultou do adequada enfrentamento dos elementos de
cognição encartados ao todo processado, elementos estes que,
muito embora não tenham contado com a mais aprofundada
análise de seu conteúdo, permitiu a adequada elucidação da
questão como posta nos autos, circunstância esta que, ao contrário
do que tentou fazer crer a ora inconformada, não conduz à conclusão de
que a R. Sentença se apresente como sendo nula, porque fiada em
suposições não demonstradas, ou mesmo porque proferida de maneira
genérica, uma vez que o Juízo não está adstrito ao fundamento jurídico
aduzido pelas partes, podendo embasar sua decisão em fundamento
jurídico diverso, posto que ao Juiz incumbe solucionar a contenda
segundo o direito aplicável à espécie, em consónância com os brocardos
"lura novit cúria" e "da mihi factum, dabo tibi ius", daí porque, ao contrário
do que sustenta a embargante, inexistiu qualquer ofensa ao princípio
evocado.
Não bastasse isso, conveniente obtemperar que possa o Magistrado
apreciar livremente as provas produzidas nos autos, devendo, todavia,
indicar no corpo da Sentença, os motivos que o levaram a formar o

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convencimento, conforme regra contida no art.131, do CPC, e que assim
dispõe: "O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e
circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas
partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o
convencimento".
(...)
Superada a questão prejudicial e, no que diz respeito ao mérito, é de se
dizer que o recurso como intentado pela recorrente não deva ser
merecedor de acolhimento por parte da Turma Julgadora, posto que os
limites definidos quando da prolação da. R.Sentença hostilizada, se
mostraram plenamente adequados à realidade estampada nos autos.
(...)
Superados tais aspectos, necessário frisar que resultou
incontroverso nos autos, o fato narrado na peça primeira,
notadamente diante da inexistência de elementos outros de
provas, inclusive quanto à ocorrência de fato modificativo, ou
mesmo extintivo do direito evocado pelas autoras, no sentido de
lhes ser devidas as verbas correspondentes às despesas
despendidas com o custeio dos pedágios existentes no curso da
malha viária percorrida pelas autoras, ora recorridas.
Nesse sentido, como bem observou a D. Prolatora da R. Decisão
alvejada:

"As notas fiscais que instruem o presente feito relatam que


houve o pagamento do frete, mas não há qualquer referência
aos valores discutidos nesta demanda, mesmo porque as
autoras trouxeram aos autos notas fiscais anteriores à entrada
em vigor da legislação referente à questão dos autos e notas
posteriores, não havendo qualquer modificação na forma que
eram realizados os pagamentos, bem como alterações
circunstanciais nos valores dos fretes, de sorte a poderem
presumir que o valor dos vale-pedágios estivessem agregados
aos valores dos fretes. Ainda, as testemunhas ouvidas em juízo
não comprovaram o efetivo pagamento desses valores pela ré,
sendo certo que a testemunha das autoras afirmou não ser
possível constatar o reembolso dos valores através das notas
fiscais apresentadas. Sendo assim, não havendo nenhum
documento comprobatório do reembolso dos vale-pedágios
por parte da ré, deve-se concluir que este não foi realizado".
(fls. 618-622) - grifos nossos

Ressalte-se que, conforme entendimento sedimentado no âmbito do STJ,


"deduzida em juízo a pretensão do transportador de receber o valor da multa do art. 8º
da Lei n. 10.209/2001, deve este demonstrar a presença dos seus pressupostos em
cada frete realizado, a evidenciar a procedência da demanda", incumbindo "ao
transportador, ainda, comprovar o valor total devido em cada frete realizado e que
deixou de ser antecipado, especificando as praças de pedágio e os valores respectivos
existentes no percurso entre a origem e o destino da carga. Feito isso, inverte-se o ônus

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probatório (art. 333, II, do CPC/1973, atual art. 373, II, do CPC/2015), cabendo ao
embarcador a demonstração de que o vale-pedágio obrigatório foi entregue
antecipadamente ao transportador, no ato de cada embarque que lhe era exigível tal
obrigação." (REsp 1714568/GO, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 09/09/2020).
No mesmo sentido: AgInt nos EDcl no REsp n. 1.987.470/RS, relator Ministro
Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 15/8/2022, DJe de 26/8/2022 e AgInt nos EDcl
no AREsp n. 1.836.047/PR, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma,
julgado em 16/11/2021, DJe de 19/11/2021.
Na hipótese, tendo as instâncias ordinárias concluído que as transportadoras
cumpriram com o ônus de provar a propriedade dos veículos e os valores pagos a título
de pedágio e que a agravante, de sua vez, não comprovou o adimplemento de tais
valores, na forma da lei, a modificação do entendimento, nos termos em que pleiteado
pela parte recorrente, demandaria o revolvimento do acervo fático-probatório dos autos,
providência vedada a esta Corte Superior ante o óbice da Súmula 7/STJ.
4. Por fim, relativamente ao pleito de redução equitatitiva da penalidade
"dobra do frete", verifica-se que tal não se mostra viável, nesse momento processual,
por implicar em violação a expressa disposição de lei.
Embora já tenha esta Corte Superior, ante a aplicação do princípio da
razoabilidade/proporcionalidade restringido a extensão da incidência da regra do art. 8º
da Lei n. 10.209/2001 no bojo do REsp nº 1.520.327/SP (Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, DJe 27/05/2016), citado nas razões do agravo interno,
verifica-se que tal julgamento se deu em momento anterior ao pronunciamento da
Suprema Corte acerca da constitucionalidade da indenização, motivo pelo qual, já tendo
sido afastada pelo STF a aventada violação aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, não prevalece o argumento de exorbitância da multa, dada a aplicação
literal, pelas instâncias ordinárias, do texto normativo constante do art. 8º da Lei
10.209/2001.
Ademais, por ora, não se tem como certo o valor a ser eventualmente
custeado pela parte insurgente pois, o quantitativo ainda é de ser apurado em sede de
liquidação, não sendo possível cogitar, abstratamente, violação aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade.
Na etapa própria, será necessário proceder a uma análise completa dos
documentos considerados pela demandante como aptos a corroborar o ressarcimento

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de valores despendidos a título de pedágio, bem como uma apuração rigorosa do
montante custeado em cada frete realizado. Não é dado a esta Corte Superior, de
antemão, com base em meras estimativas apresentadas, de forma unilateral, pela
recorrente, conjecturar acerca de eventual enriquecimento indevido ou
desproporcionalidade da indenização/penalidade frente ao objeto principal
(vale-pedágio).
Certamente, se após ultimada a etapa de liquidação, verificar-se que o valor
indenizatório sobeja, de maneira irrazoável, o quantum da obrigação principal, na sede
própria, poderá o Judiciário, se devidamente provocado, revisitar a alegação de
exorbitância.
5. Do exposto, acompanha-se o e. relator quanto aos fundamentos utilizados
em seu judicioso voto, porém diverge-se no tocante ao dispositivo do julgado para
acolher em parte o agravo interno, dado o efetivo prequestionamento da matéria atinente
aos arts. 113, 187 e 422 do CC, para manter, no ponto, a negativa de provimento ao
recurso especial por fundamentação diversa.
É como voto.

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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 767.766 - SP (2015/0205987-4)

VOTO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: r. Presidente, acompanho o voto


de V. Exa. com os acréscimos feitos pelo Ministro Marco Buzzi, ressaltando que, na
própria inicial, já se afirma que são juntados documentos por amostragem.
Portanto, todos esses documentos deverão ser juntados para liquidação e
examinados cautelosamente para que se verifique a existência dos requisitos que a
jurisprudência deste Tribunal – em acórdão do Ministro Bellizze, da Terceira Turma, e
que também foi fundamento de decidir de acórdão da Quarta Turma – entende
necessários para que se aplique essa penalidade.
Recordo um deles, segundo o qual as cargas devem ser transportadas
para o mesmo embarcador. Esses documentos que, confessadamente, não foram
juntados à inicial, apenas a integraram por amostragem, deverão ser objeto de atento
escrutínio na fase de liquidação de sentença.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2015/0205987-4 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 767.766 / SP

Números Origem: 000051084295 91664864120088260000

PAUTA: 06/12/2022 JULGADO: 13/12/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ELIANE DE ALBUQUERQUE OLIVEIRA RECENA
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

ASSUNTO: DIREITO CIVIL

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR - DF007447
TOMAZ DE OLIVEIRA TAVARES DE LYRA - SP311210
DENIS KALLER ROTHSTEIN E OUTRO(S) - SP291230
AGRAVADO : TRANSPORTADORA SANZANEZI LTDA - ME
AGRAVADO : SANZITRANS TRANSPORTES GERAIS LTDA - ME
ADVOGADOS : ANTÔNIO OSMAR BALTAZAR E OUTRO(S) - SP030904
ROBSON MARCOS BALTAZAR - SP157718

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto-vista do Ministro Marco Buzzi acompanhando o relator, a Quarta Turma,
por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do relator.
A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti e os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco
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Buzzi (voto-vista) e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

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