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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 620.932 - SP (2014/0306847-1)

RELATOR :
MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
AGRAVANTE :
MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO
PROCURADOR :
ANDERSON CARNEVALE DE MOURA E OUTRO(S)
AGRAVADO :
MELISSA DE SOUZA RIBEIRO
ADVOGADO :
LEANDRO TIMOTEO PEREIRA
EMENTA
ADMINISTRATIVO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO
FISCAL. MULTAS DE TRÂNSITO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
ALIENAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. LEGITIMIDADE DO ANTIGO
PROPRIETÁRIO. ARTS. 257, 134, 123, § 1º, DO CTB. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. AGRAVO NÃO
CONHECIDO.

DECISÃO
Trata-se de agravo interposto por Município de São Bernardo do Campo, contra decisão
que inadmitiu recurso especial aos seguintes fundamentos: "os argumentos expendidos não são
suficientes para infirmar as conclusões do v. aresto combatido que contém fundamentação
adequada para lhe dar respaldo, tampouco ficando evidenciado o suposto maltrato à norma
legal enunciada, isso sem falar que rever a posição da Turma Julgadora importaria em
ofensa à Súmula nº 7 do Superior Tribunal de Justiça .".
O apelo nobre obstado enfrenta acórdão, assim ementado (fl.101/107):
EXECUÇÃO FISCAL - Multas de trânsito-Exercícios de 1998 a 2002 - Oposição de
exceção de pré-executividade -- Preliminar de ilegitimidade passiva e, no mérito,
alegada prescrição do crédito - Indeferimento - O posição de agravo de instrumento -
Documentos juntados que se prestam a confirmar a ilegitimidade da agravante --
Preliminar acolhida - Agravo provido para extinguir-se a execução.
No apelo especial, a parte recorrente alega que o acórdão recorrido "contraria a Legislação
Federal em vigor, pois vai contra o que dispõe o código de Trânsito Brasileiro, em seu artigos 257,
134 e 123, § 1º.". Defende a legitimidade passiva da ora recorrida (ex-proprietária do veículo) para
responder pelas penalidades cometidas, haja vista que, omitiu-se de enviar ao órgão de trânsito cópia
do comprovante de transferência de propriedade. Ainda, argumenta que, não obstante a venda do
veículo e o bloqueio, a executada é responsável solidária pelo pagamento das multas de.trânsito. Por
fim, insurge-se contra a condenação em honorários advocatícios, ao argumento de que infundados
haja vista que foi a recorrida que deu causa ao ajuizamento da execução fiscal contra si.
Contrarrazões às fls. 121/122, e-STJ.
Neste agravo afirma que seu recurso especial satisfaz os requisitos de admissibilidade e
que não se encontram presentes os óbices apontados na decisão agravada.
Oferecida contraminuta (fls. 150/155, e-STJ).
É o relatório decido.
A irresignação não merece prosperar.
Primeiramente, as matérias referentes aos dispositivos tidos por contrariados (arts. 134,
123, § 1º e 257, § 2º, do CBT) não foram objeto de análise pelo Tribunal de origem. Desse modo,
carece o tema do indispensável prequestionamento viabilizador do recurso especial, razão pela qual
não merece ser apreciado, a teor do que preceitua a Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal,
respectivamente transcritas:
"É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão

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recorrida, a questão federal suscitada."
Nesse sentido, confira-se o seguinte precedente:
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL -
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE - ANÁLISE DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS - SÚMULA 7/STJ -
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO - SÚMULAS 282 E 356 DO STF
E 211 DO STJ - INOVAÇÃO RECURSAL.
1. A falta de prequestionamento da matéria suscitada no recurso especial, a despeito
da oposição de embargos de declaração, impede o seu conhecimento (Súmula 211 do
STJ), bem como é manifestamente inadmissível o recurso especial em relação às
teses que configuram inovação recursal e, por isso, não foram apreciadas pelo
acórdão recorrido.
2. Inviável análise de pretensão que demanda o revolvimento do conjunto
fático-probatório dos autos. Incidência da Súmula 7/STJ.
3. É inadmissível o recurso especial se o dispositivo legal apontado como violado
não fez parte do juízo firmado no acórdão recorrido e se o Tribunal a quo não emitiu
qualquer juízo de valor sobre a tese defendida no especial (Súmulas nºs 282 e
356/STF).
4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp n. 15.180/PR, Rel. Ministra
Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 10/5/2013)
Ainda que assim não fosse, o Tribunal a quo, no que diz respeito à responsabilidade pelas
infrações de trânsito e a consequente legitimidade passiva da recorrente, registrou: ..."a
ilegitimidade passiva restou configurada , colhendo-se dos documentos de fls. 15 e 17 que a
agravante, efetivamente transferiu o veículo para terceiro ." e ..."conforme constante no
documento de fls. 15, o veículo foi vendido anteriormente àquela data e, diante da inércia da
compradora, Sra. Doraci, em efetivar a transferência, coube à vendedora, aqui agravante,
providenciar a restrição junto ao 73º CIRETRAM de São Bernardo do Campo em 15 de
setembro de 1997." e, ..."cristalina a sua ilegitimidade para figurar no pólo passivo da
execução fiscal já que a primeira multa lavrada corresponde a infração cometida em
23/11/1998 , quase um ano após a venda, o que afasta a incidência do art. 134 do CTB.".
Como se vê, a Corte de origem, não deixa dúvida de que as infrações não foram
cometidas no período em que tinha a recorrida a propriedade do veículo, e em sendo assim, não
deve ela sofrer qualquer tipo de sanção, irrefutável, portanto, a ilegitimidade da recorrida.
Verifica-se, portanto, que o entendimento da Corte de origem não diverge do
posicionamento da jurisprudência pacífica do STJ, cujo posicionamento assevera que: "Comprovada
a transferência da propriedade do veículo, afasta-se a responsabilidade do antigo
proprietário pelas infrações cometidas após a alienação, mitigando-se, assim, o comando do
art. 134 do Código de Trânsito Brasileiro" (AgRg no REsp 1.024.8687/SP, Rel.
Min. César Asfor Rocha, Segunda Turma, DJe de 6/9/11).
Nesse mesmo sentido, sobressaem os seguintes precedentes:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. MULTAS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ALIENANTE.
INTERPRETAÇÃO DO ART. 134 DO CTB. RELATIVIZAÇÃO. PRECEDENTES.
1. Há nos autos prova de que a ora agravada transferiu a propriedade do veículo
antes da ocorrência dos fatos geradores das obrigações, ou seja, as infrações de
trânsito ocorreram quando o veículo já estava em propriedade do novo comprador.
2. O art. 134 do Código de Trânsito Brasileiro dispõe que, no caso de transferência
de propriedade de veículo, deve o antigo proprietário encaminhar ao órgão de
trânsito, dentro do prazo legal, o comprovante de transferência de propriedade, sob

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pena de se
responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas.
3. Ocorre que tal regra sofre mitigação quando ficar comprovado nos autos
que as infrações foram cometidas após aquisição do veículo por terceiro,
mesmo que não ocorra a transferência, nos termos do art. 134 do CTB,
afastando a responsabilidade do antigo proprietário. Precedentes. Súmula
83/STJ. [...] Agravo regimental improvido. (AgRg nos EDcl no AREsp 299.103/RS,
Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 30/8/2013). grifamos.

ADMINISTRATIVO. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. MULTAS.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ALIENANTE. RESPONSABILIDADE
MITIGADA. INTERPRETAÇÃO DO ART. 134 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO.
1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que, alienado veículo automotor sem que
se faça o registro, ou ao menos a comunicação da venda, estabelece-se entre o novo
e o antigo proprietário vínculo de solidariedade pelas infrações cometidas, só
afastadas quando a alienação é comunicada ao Detran.
2. Ocorre que o STJ tem mitigado a regra prevista no art. 134 do CTB quando
comprovada a impossibilidade de imputar ao antigo proprietário as infrações
cometidas, como ocorreu no caso dos autos.
3. Assim, inexistindo dúvida de que as infrações não foram cometidas no
período em que tinha o recorrido a propriedade do veículo, não deve ele sofrer
qualquer tipo de sanção.
4. Agravo Regimental não provido. (AgRg no REsp 1323441/RJ, Rel. Ministro
Hermann Benjamin, Segunda Turma, DJe 27/8/2012). grifamos.
Assim, mesmo que se pudesse ultrapassar o óbice da Súmula 282/STF, ainda assim o
recurso não mereceria trânsito, pois ausente a comprovação da necessidade de retificação a ser
promovida na decisão agravada, proferida com fundamentos suficientes e em consonância com
entendimento deste Tribunal, não há prover o agravo em recurso especial que contra ela se insurge.
Ante o exposto, não conheço do agravo, com fundamento no art. 544, § 4º, I, do CPC.
Publique-se. Intime-se.
Brasília (DF), 19 de junho de 2015.

MINISTRO BENEDITO GONÇALVES


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