Você está na página 1de 8

Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0701472-66.2018.8.07.0010


APELANTE(S) CARLOS ROBERTO SOARES
APELADO(S) FRANCINALDO ALVES FIGUEREDO
Relatora Desembargadora LEILA ARLANCH

Acórdão Nº 1208473

EMENTA

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COMINATÓRIA. COMPRA E VENDA DE


AUTOMÓVEL. CERCEAMENTO DE DEFESA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
TRANSFERÊNCIA DO BEM PERANTE O DETRAN. ÔNUS DA PROVA.

1 - Obrigação de fazer em que se discute a responsabilidade pelo registro de transferência de


propriedade de automóvel, e os ônus advindos de sua ausência, em suposta venda do bem.

2 - A possibilidade de apreciação antecipada da lide nos casos em que a matéria for unicamente de
direito ou o feito encontrar-se suficientemente instruído consubstancia previsão constante do artigo
355, I, do Código de Processo Civil. Além disso, o juiz é o destinatário da prova e a ele cabe decidir a
respeito dos elementos necessários à formação do seu convencimento, inclusive, indeferindo as
diligências que reputar inúteis ou meramente protelatórias.

3 - Embora o Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 134, impute obrigação ao antigo proprietário
de encaminhar ao órgão executivo de trânsito do Estado comprovante de transferência de propriedade
do bem automotor, sob pena de ter que se responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas, a
jurisprudência do colendo Superior Tribunal de Justiça, ao mitigar a aplicação do dispositivo ora
citado, afasta a sua responsabilidade no caso de não haver dúvidas de que as infrações foram cometidas
quando o antigo proprietário não tinha mais a propriedade do veículo.

4 - O ordenamento jurídico pátrio estatui que a propriedade de bem móvel é adquirida com a simples
tradição. Portanto, operada a tradição de automóvel, é obrigação do adquirente transferir a titularidade
do veículo para o seu nome, bem como seus ônus, consoante determinação do artigo 123, inciso I e §
1º, do Código de Trânsito Brasileiro.

5 - Não se desincumbe do ônus da prova a parte autora que se limita em alegar a venda de automóvel
sem apresentar nos autos qualquer documento que a comprove.

6 - Negou-se provimento ao recurso.


ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, LEILA ARLANCH - Relatora, GISLENE PINHEIRO - 1º Vogal e FÁBIO
EDUARDO MARQUES - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora , em proferir a
seguinte decisão: CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. IMPROVIDO. UNÂNIME., de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 09 de Outubro de 2019

Desembargadora LEILA ARLANCH


Relatora

RELATÓRIO

Trata-se de ação de conhecimento, subordinada ao procedimento comum, proposta por CARLOS


ROBERTO SOARES em face de FRANCINALDO ALVES FIGUEIREDO.

Na inicial, o autor alega, em síntese, ter vendido um automóvel para o réu, que não transferiu o bem
para si e deixou de pagar seguro obrigatório e multas por infrações de trânsito por ele cometidas.
Diante do exposto requereu a antecipação da tutela para que o réu fosse compelido a registrar no
DETRAN/DF e na Secretaria de Fazenda do DF a transferência do veículo em questão para si. No
mérito pede a sua confirmação, e a condenação do réu (i) a transferência da pontuação referente as
infrações de trânsito cometidas, e a (ii) quitação dos tributos em aberto. Sucessivamente, postulou a
intimação do DETRAN para registrar a comunicação de venda do bem para o réu, observada a data da
assinatura do DUT.

O pedido de antecipação da tutela foi indeferido (ID 10170276).

O réu foi citado por edital e passou a ser representado pela Defensoria Pública no exercício da
Curadoria Especial, que apresentou contestação por negativa geral (ID 10170311).

A instância prima entendeu que o autor não comprovou a celebração de qualquer negócio jurídico com
o réu, julgando improcedentes os pedidos, nos seguintes termos (ID 10170322 - pág. 02):

Forte em tais razões, com fundamento no art. 487, I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos
formulados pelo autor. Condeno o requerente em despesas processuais e honorários advocatícios,
esses que ora fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atribuído à causa, com base no art. 85, §2º,
do CPC, considerando, para tanto, o grau de zelo dos profissionais envolvidos, o lugar de prestação
do serviço, a natureza e importância da causa, bem como sua duração.

Diante da gratuidade concedida ao autor, as obrigações decorrentes da sucumbência “ficarão sob


condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de
existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade,
extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário” (art. 98, §3, CPC).
Inconformado, o autor apela suscitando preliminar de cerceamento de defesa em virtude da ausência de
deferimento de produção de prova testemunhal (ID 10170327). No mérito defende que o réu é o
responsável pelo pagamento dos tributos e multas por infrações de trânsito após a tradição do veículo.

Recurso isento de preparo (ID 10170276).

O réu apresentou contrarrazões pugnando a manutenção do decisum (ID 10170330).

É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - Relatora

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Cuida-se de ação de ação de obrigação de fazer, onde o autor alega, em síntese, ter vendido um
automóvel para o réu, que não transferiu o bem para si e deixou de pagar seguro obrigatório e multas
por infrações de trânsito por ele cometidas. Diante do exposto requereu a antecipação da tutela para
que o réu fosse compelido a registrar no DETRAN/DF e na Secretaria de Fazenda do DF a
transferência do veículo em questão para si. No mérito pede a sua confirmação, e a condenação do réu
(i) a transferência da pontuação referente as infrações de trânsito cometidas, e a (ii) quitação dos
tributos em aberto. Sucessivamente, postulou a intimação do DETRAN para registrar a comunicação
de venda do bem para o réu, observada a data da assinatura do DUT

O pedido de antecipação da tutela foi indeferido (ID 10170276).

O réu foi citado por edital e passou a ser representado pela Defensoria Pública no exercício da
Curadoria Especial, que apresentou contestação por negativa geral (ID 10170311).

A instância prima entendeu que o autor não comprovou a celebração de qualquer negócio jurídico
com o réu, julgando improcedentes os pedidos, nos seguintes termos (ID 10170322 - pág. 02):

Forte em tais razões, com fundamento no art. 487, I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos
formulados pelo autor. Condeno o requerente em despesas processuais e honorários advocatícios,
esses que ora fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atribuído à causa, com base no art. 85, §2º,
do CPC, considerando, para tanto, o grau de zelo dos profissionais envolvidos, o lugar de prestação
do serviço, a natureza e importância da causa, bem como sua duração.

Diante da gratuidade concedida ao autor, as obrigações decorrentes da sucumbência “ficarão sob


condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos
subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de
existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade,
extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário” (art. 98, §3, CPC).
Em suas razões recursais, o autor suscita preliminar de cerceamento de defesa em virtude da ausência
de deferimento de produção de prova testemunhal (ID 10170327). No mérito defende que o réu é o
responsável pelo pagamento dos tributos e multas por infrações de trânsito após a tradição do veículo.

PRELIMINAR - CERCEAMENTO DE DEFESA

Inicialmente, impõe-se o exame da preliminar de nulidade da sentença, suscitada sob a alegação de


cerceamento de defesa por não ter sido deferida a produção de prova testemunhal.

A ausência de oitiva das testemunhas arroladas pelo autor não violou, no caso concreto, os princípios
do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal inscritos no artigo 5º, XXXV e LV, da
Constituição da República. O julgamento antecipado da lide não afronta os princípios de observância
obrigatória pelo julgador se, como no caso em questão, o feito se encontrar maduro e não houver
necessidade de produção de outras provas, possibilidade que consubstancia previsão constante do
artigo 355, I, do CPC:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito,
quando:

I - não houver necessidade de produção de outras provas;

Além disso, o juiz continua sendo o destinatário da prova e a ele cabe decidir a respeito dos elementos
necessários à formação do seu convencimento, inclusive, indeferindo as diligências que reputar inúteis
ou meramente protelatórias, nos termos do artigo 370 do CPC[1], inclusive em respeito ao princípio
da celeridade processual.

In casu, não há violação ao contraditório, ampla defesa ou ao acesso à justiça, haja vista prescindir, no
caso particular, de produção de prova testemunhal, pois, conforme bem explicitado em sentença “não
bastaria, para o julgamento do caso a mera oitiva de testemunhas, porque o negócio de valor
relevante e grande responsabilidade deveria estar minimamente demonstrado por meio escrito. Não
há nos autos cópia do documento de transferência, de qualquer contrato assinado pelas partes, de
mensagens trocadas entre eles” (ID 10170322 - pág. 02).

Tem-se, portanto, que o julgamento antecipado da lide atendeu aos princípios do contraditório, da
ampla defesa e do devido processo legal, preceitos inscritos no artigo 5º, LIV e LV, da Constituição
da República.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL. INOVAÇÃO RECURSAL.


CONHECIMENTO PARCIAL. PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA. RECOLHIMENTO DO
PREPARO. PRECLUSÃO. APLICAÇÃO DO ART. 285-A DO CPC. PRELIMINAR DE
CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEIÇÃO. INCIDÊNCIA DO CDC. CLÁUSULAS ABUSIVAS.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL. POSSIBILIDADE. JULGADO DO STJ EM SEDE DE RECURSO
REPETITIVO.

(...)

Cuidando-se de matéria unicamente de direito e presentes os demais parâmetros de incidência do art.


285-A do CPC, não afronta a lei o julgamento liminar da demanda, tampouco caracteriza
cerceamento de defesa, a ensejar a cassação da r. sentença.

(...)

(Acórdão n.952866, 20150111097068APC, Relator: CARMELITA BRASIL 2ª TURMA CÍVEL,


Data de Julgamento: 06/07/2016, Publicado no DJE: 08/07/2016. Pág.: 183/201)

Desta feita, rejeito a preliminar de cerceamento de defesa.

No tocante à responsabilidade pela transferência de propriedade do automóvel, o art. 134 do Código


de Trânsito Brasileiro impute obrigação ao antigo proprietário de encaminhar ao órgão executivo de
trânsito do Estado comprovante de transferência de propriedade do bem automotor, sob pena de ter
que se responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas[2]. No entanto, a jurisprudência do
colendo Superior Tribunal de Justiça, ao mitigar a aplicação do dispositivo ora citado, afasta a
responsabilidade no caso de não haver dúvidas de que as infrações foram cometidas quando o antigo
proprietário não tinha mais a propriedade do veículo.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO. MULTAS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA


DO ALIENANTE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 134 DO CTN.

Comprovada a transferência da propriedade do veículo, afasta-se a responsabilidade do antigo


proprietário pelas infrações cometidas após a alienação, mitigando-se, assim, o comando do art. 134
do Código de Trânsito Brasileiro. Precedentes do STJ.

Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no REsp 1204867 / SP - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL -


2010/0136677-1 - Relator(a) Ministro CESAR ASFOR ROCHA (1098) - Órgão Julgador T2 -
SEGUNDA TURMA - Data do Julgamento 09/08/2011 - Data da Publicação/Fonte DJe 06/09/2011)

ADMINISTRATIVO. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. MULTAS.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ALIENANTE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 134 DO
CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. AUTORIZAÇÃO PARA TRANSFERÊNCIA.
SUBSCRIÇÃO. AUSÊNCIA. NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO. COMUNICAÇÃO DA
TRANSFERÊNCIA DO BEM. INEXISTÊNCIA. FUNDAMENTOS NÃO ATACADOS. SÚMULA
283/STF.

1. "Alienado veículo automotor sem que se faça o registro, ou ao menos a comunicação da venda,
estabelece-se, entre o novo e o antigo proprietário, vínculo de solidariedade pelas infrações cometidas,
só afastadas quando é o Detran comunicado da alienação, com a indicação do nome e endereço do
novo adquirente. Não havendo dúvidas, in casu, de que as infrações não foram cometidas no período
em que tinha o recorrido a propriedade do veículo, não deve ele sofrer qualquer tipo de sanção" (REsp
965.847/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 14.03.08). Incidência da Súmula 83/STJ.

(...)

3. Recurso especial nãoconhecido.


(STJ, REsp 1126039 / SP - RECURSO ESPECIAL 2009/0134249-5 - Relator(a) Ministro CASTRO
MEIRA (1125) - Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA - Data do Julgamento 08/06/2010 - Data
da Publicação/Fonte - DJe 22/06/2010)

Desta forma, o ordenamento jurídico pátrio menciona que a propriedade de bem móvel é adquirida
com a tradição. Nessa linha de raciocínio, no momento em que o comprador recebe o automóvel e o
respectivo instrumento de mandato, que possibilita a transferência do veículo, perante a autoridade de
trânsito, adquire a propriedade do referido bem, devendo arcar com os ônus dela advindos.

Por isso mesmo, a jurisprudência deste Egrégio Tribunal confere a responsabilidade pela transferência
do veículo ao adquirente após comprovada a tradição, com fundamento no art. 123, I e § 1º, do CTB
[3]. Anote-se:

APELAÇÃO. DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULO JUNTO AO


DETRAN PELO COMPRADOR. AUSÊNCIA. IPVA. RESSARCIMENTO. NEGATIVAÇÃO. DÍVIDA
ATIVA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.

1. Segundo disposto no artigo 132, §1º, do Código de Trânsito Brasileiro, cabe ao comprador a
incumbência de efetivar a transferência de propriedade do veículo no órgão de trânsito.

(...)

5. Recurso conhecido e provido.

(Acórdão n.847880, 20120710291944APC, Relator: ANA CANTARINO, Revisor: GILBERTO


PEREIRA DE OLIVEIRA, 3ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 04/02/2015, Publicado no DJE:
19/02/2015. Pág.: 291)

Veículo. Transferência da propriedade. Regularização no Detran. Danos morais. Inscrição indevida


do nome em dívida ativa. Indenização.

1 - Com a entrega do veículo alienado ao adquirente opera-se a transferência da propriedade que,


em se tratando de coisa móvel, ocorre com a tradição (CC, art. 1.267).

2 - O adquirente tem a obrigação de transferir o veículo para o seu nome, no órgão de trânsito, em
trinta dias (CTB, art. 123, §1º).

3 - Aquele que dá ensejo à inscrição indevida do nome de outrem em dívida ativa fica obrigado a
reparar o dano moral causado.

4 - Apelação provida.

(Acórdão n.859608, 20120111126875APC, Relator: JAIR SOARES, Revisor: JOSÉ DIVINO DE


OLIVEIRA, 6ª Turma Cível, Data de Julgamento: 08/04/2015, Publicado no DJE: 14/04/2015. Pág.:
346)
CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DÉBITOS. COMPRA E
VENDA DE AUTOMÓVEL. TRADIÇÃO. INOCORRÊNCIA DA TRANSFERÊNCIA DO
VEÍCULO JUNTO AO DETRAN. PAGAMENTO DE MULTA E INFRAÇÕES DE TRÂNSITO.
RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE.

1. O ordenamento jurídico pátrio estatui que a propriedade de bem móvel é adquirida com a
simples tradição.

2. É obrigação do adquirente transferir a titularidade do veículo para o seu nome, consoante


determinação do artigo 123, inciso I e § 1º, do Código de Trânsito Brasileiro.

3. O cessionário de direito sobre o veículo deve pagar as multas decorrentes das infrações de
trânsito, taxa de licenciamento, seguro obrigatório e IPVA, desde que assumida a posse do bem.

4. Recurso conhecido e parcialmente provido.

(Acórdão n.890157, 20100110778162APC, Relator: LEILA ARLANCH, Revisor: GISLENE


PINHEIRO, 2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 26/08/2015, Publicado no DJE: 01/09/2015. Pág.:
136)

Portanto, caso restasse comprovado nos autos a tradição do automóvel, a responsabilidade pelo
registro no DETRAN/DF e na Secretaria de Fazenda do DF da transferência do veículo recairia sobre
o réu, devendo ele, ainda, arcar com os ônus advindos de sua ausência.

Contudo, facultado ao autor ampla iniciativa probatória (IDs 10170312 e 10170317), o mesmo insistiu
apenas na oitiva de testemunhas, sem acostar aos autos qualquer documento que comprovasse a
realização do negócio alegado. Nesse aspecto, cabe ressaltar que o documento de ID 10170267 não
cumpre tal mister por se tratar de procuração produzida unilateralmente, sem participação do réu.

Vale destacar, ainda, que como pedido sucessivo o autor postulou a intimação do DETRAN para
registrar a “comunicação de venda do bem para o réu, observada a data da assinatura do DUT
(29/08/2017)” (grifos nosso), sem sequer apresentar o próprio DUT para que pudesse se aferir a data
de concretização do alegado negócio jurídico.

Sendo assim, uma vez que não houve inversão do ônus probatório e o autor não se desincumbiu do
ônus que lhe cabia de comprovar a realização do negócio, conforme o previsto no art. 373, I, do CPC
[4], a manutenção da sentença é medida que se impõe.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.

Em face da sucumbência recursal, majoro os honorários advocatícios para 12% do valor atualizado da
causa, conforme previsão do art. 85, § 11, do CPC[5], cuja exigibilidade fica suspensa em razão da
gratuidade a que faz jus o autor (ID 10170276).

É como voto.

[1] Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias
ao julgamento do mérito.

[2] Art. 134. No caso de transferência de propriedade, o proprietário antigo deverá encaminhar ao
órgão executivo de trânsito do Estado dentro de um prazo de trinta dias, cópia autenticada do
comprovante de transferência de propriedade, devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se
responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas e suas reincidências até a data da
comunicação.

[3] Art. 123. Será obrigatória a expedição de novo Certificado de Registro de Veículo quando:

I - for transferida a propriedade;

II - o proprietário mudar o Município de domicílio ou residência;

III - for alterada qualquer característica do veículo;

IV - houver mudança de categoria.

§ 1º No caso de transferência de propriedade, o prazo para o proprietário adotar as providências


necessárias à efetivação da expedição do novo Certificado de Registro de Veículo é de trinta dias,
sendo que nos demais casos as providências deverão ser imediatas.

[4] Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

[5] Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

(...)

§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta
o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2oa
6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do
vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2oe 3 opara a fase de
conhecimento.

A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. IMPROVIDO. UNÂNIME.

Você também pode gostar