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Acórdão Nº 1208473
EMENTA
2 - A possibilidade de apreciação antecipada da lide nos casos em que a matéria for unicamente de
direito ou o feito encontrar-se suficientemente instruído consubstancia previsão constante do artigo
355, I, do Código de Processo Civil. Além disso, o juiz é o destinatário da prova e a ele cabe decidir a
respeito dos elementos necessários à formação do seu convencimento, inclusive, indeferindo as
diligências que reputar inúteis ou meramente protelatórias.
3 - Embora o Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 134, impute obrigação ao antigo proprietário
de encaminhar ao órgão executivo de trânsito do Estado comprovante de transferência de propriedade
do bem automotor, sob pena de ter que se responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas, a
jurisprudência do colendo Superior Tribunal de Justiça, ao mitigar a aplicação do dispositivo ora
citado, afasta a sua responsabilidade no caso de não haver dúvidas de que as infrações foram cometidas
quando o antigo proprietário não tinha mais a propriedade do veículo.
4 - O ordenamento jurídico pátrio estatui que a propriedade de bem móvel é adquirida com a simples
tradição. Portanto, operada a tradição de automóvel, é obrigação do adquirente transferir a titularidade
do veículo para o seu nome, bem como seus ônus, consoante determinação do artigo 123, inciso I e §
1º, do Código de Trânsito Brasileiro.
5 - Não se desincumbe do ônus da prova a parte autora que se limita em alegar a venda de automóvel
sem apresentar nos autos qualquer documento que a comprove.
RELATÓRIO
Na inicial, o autor alega, em síntese, ter vendido um automóvel para o réu, que não transferiu o bem
para si e deixou de pagar seguro obrigatório e multas por infrações de trânsito por ele cometidas.
Diante do exposto requereu a antecipação da tutela para que o réu fosse compelido a registrar no
DETRAN/DF e na Secretaria de Fazenda do DF a transferência do veículo em questão para si. No
mérito pede a sua confirmação, e a condenação do réu (i) a transferência da pontuação referente as
infrações de trânsito cometidas, e a (ii) quitação dos tributos em aberto. Sucessivamente, postulou a
intimação do DETRAN para registrar a comunicação de venda do bem para o réu, observada a data da
assinatura do DUT.
O réu foi citado por edital e passou a ser representado pela Defensoria Pública no exercício da
Curadoria Especial, que apresentou contestação por negativa geral (ID 10170311).
A instância prima entendeu que o autor não comprovou a celebração de qualquer negócio jurídico com
o réu, julgando improcedentes os pedidos, nos seguintes termos (ID 10170322 - pág. 02):
Forte em tais razões, com fundamento no art. 487, I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos
formulados pelo autor. Condeno o requerente em despesas processuais e honorários advocatícios,
esses que ora fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atribuído à causa, com base no art. 85, §2º,
do CPC, considerando, para tanto, o grau de zelo dos profissionais envolvidos, o lugar de prestação
do serviço, a natureza e importância da causa, bem como sua duração.
É o relatório.
VOTOS
Cuida-se de ação de ação de obrigação de fazer, onde o autor alega, em síntese, ter vendido um
automóvel para o réu, que não transferiu o bem para si e deixou de pagar seguro obrigatório e multas
por infrações de trânsito por ele cometidas. Diante do exposto requereu a antecipação da tutela para
que o réu fosse compelido a registrar no DETRAN/DF e na Secretaria de Fazenda do DF a
transferência do veículo em questão para si. No mérito pede a sua confirmação, e a condenação do réu
(i) a transferência da pontuação referente as infrações de trânsito cometidas, e a (ii) quitação dos
tributos em aberto. Sucessivamente, postulou a intimação do DETRAN para registrar a comunicação
de venda do bem para o réu, observada a data da assinatura do DUT
O réu foi citado por edital e passou a ser representado pela Defensoria Pública no exercício da
Curadoria Especial, que apresentou contestação por negativa geral (ID 10170311).
A instância prima entendeu que o autor não comprovou a celebração de qualquer negócio jurídico
com o réu, julgando improcedentes os pedidos, nos seguintes termos (ID 10170322 - pág. 02):
Forte em tais razões, com fundamento no art. 487, I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos
formulados pelo autor. Condeno o requerente em despesas processuais e honorários advocatícios,
esses que ora fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atribuído à causa, com base no art. 85, §2º,
do CPC, considerando, para tanto, o grau de zelo dos profissionais envolvidos, o lugar de prestação
do serviço, a natureza e importância da causa, bem como sua duração.
A ausência de oitiva das testemunhas arroladas pelo autor não violou, no caso concreto, os princípios
do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal inscritos no artigo 5º, XXXV e LV, da
Constituição da República. O julgamento antecipado da lide não afronta os princípios de observância
obrigatória pelo julgador se, como no caso em questão, o feito se encontrar maduro e não houver
necessidade de produção de outras provas, possibilidade que consubstancia previsão constante do
artigo 355, I, do CPC:
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito,
quando:
Além disso, o juiz continua sendo o destinatário da prova e a ele cabe decidir a respeito dos elementos
necessários à formação do seu convencimento, inclusive, indeferindo as diligências que reputar inúteis
ou meramente protelatórias, nos termos do artigo 370 do CPC[1], inclusive em respeito ao princípio
da celeridade processual.
In casu, não há violação ao contraditório, ampla defesa ou ao acesso à justiça, haja vista prescindir, no
caso particular, de produção de prova testemunhal, pois, conforme bem explicitado em sentença “não
bastaria, para o julgamento do caso a mera oitiva de testemunhas, porque o negócio de valor
relevante e grande responsabilidade deveria estar minimamente demonstrado por meio escrito. Não
há nos autos cópia do documento de transferência, de qualquer contrato assinado pelas partes, de
mensagens trocadas entre eles” (ID 10170322 - pág. 02).
Tem-se, portanto, que o julgamento antecipado da lide atendeu aos princípios do contraditório, da
ampla defesa e do devido processo legal, preceitos inscritos no artigo 5º, LIV e LV, da Constituição
da República.
Nesse sentido:
(...)
(...)
Nesse sentido:
1. "Alienado veículo automotor sem que se faça o registro, ou ao menos a comunicação da venda,
estabelece-se, entre o novo e o antigo proprietário, vínculo de solidariedade pelas infrações cometidas,
só afastadas quando é o Detran comunicado da alienação, com a indicação do nome e endereço do
novo adquirente. Não havendo dúvidas, in casu, de que as infrações não foram cometidas no período
em que tinha o recorrido a propriedade do veículo, não deve ele sofrer qualquer tipo de sanção" (REsp
965.847/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 14.03.08). Incidência da Súmula 83/STJ.
(...)
Desta forma, o ordenamento jurídico pátrio menciona que a propriedade de bem móvel é adquirida
com a tradição. Nessa linha de raciocínio, no momento em que o comprador recebe o automóvel e o
respectivo instrumento de mandato, que possibilita a transferência do veículo, perante a autoridade de
trânsito, adquire a propriedade do referido bem, devendo arcar com os ônus dela advindos.
Por isso mesmo, a jurisprudência deste Egrégio Tribunal confere a responsabilidade pela transferência
do veículo ao adquirente após comprovada a tradição, com fundamento no art. 123, I e § 1º, do CTB
[3]. Anote-se:
1. Segundo disposto no artigo 132, §1º, do Código de Trânsito Brasileiro, cabe ao comprador a
incumbência de efetivar a transferência de propriedade do veículo no órgão de trânsito.
(...)
2 - O adquirente tem a obrigação de transferir o veículo para o seu nome, no órgão de trânsito, em
trinta dias (CTB, art. 123, §1º).
3 - Aquele que dá ensejo à inscrição indevida do nome de outrem em dívida ativa fica obrigado a
reparar o dano moral causado.
4 - Apelação provida.
1. O ordenamento jurídico pátrio estatui que a propriedade de bem móvel é adquirida com a
simples tradição.
3. O cessionário de direito sobre o veículo deve pagar as multas decorrentes das infrações de
trânsito, taxa de licenciamento, seguro obrigatório e IPVA, desde que assumida a posse do bem.
Portanto, caso restasse comprovado nos autos a tradição do automóvel, a responsabilidade pelo
registro no DETRAN/DF e na Secretaria de Fazenda do DF da transferência do veículo recairia sobre
o réu, devendo ele, ainda, arcar com os ônus advindos de sua ausência.
Contudo, facultado ao autor ampla iniciativa probatória (IDs 10170312 e 10170317), o mesmo insistiu
apenas na oitiva de testemunhas, sem acostar aos autos qualquer documento que comprovasse a
realização do negócio alegado. Nesse aspecto, cabe ressaltar que o documento de ID 10170267 não
cumpre tal mister por se tratar de procuração produzida unilateralmente, sem participação do réu.
Vale destacar, ainda, que como pedido sucessivo o autor postulou a intimação do DETRAN para
registrar a “comunicação de venda do bem para o réu, observada a data da assinatura do DUT
(29/08/2017)” (grifos nosso), sem sequer apresentar o próprio DUT para que pudesse se aferir a data
de concretização do alegado negócio jurídico.
Sendo assim, uma vez que não houve inversão do ônus probatório e o autor não se desincumbiu do
ônus que lhe cabia de comprovar a realização do negócio, conforme o previsto no art. 373, I, do CPC
[4], a manutenção da sentença é medida que se impõe.
Em face da sucumbência recursal, majoro os honorários advocatícios para 12% do valor atualizado da
causa, conforme previsão do art. 85, § 11, do CPC[5], cuja exigibilidade fica suspensa em razão da
gratuidade a que faz jus o autor (ID 10170276).
É como voto.
[1] Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias
ao julgamento do mérito.
[2] Art. 134. No caso de transferência de propriedade, o proprietário antigo deverá encaminhar ao
órgão executivo de trânsito do Estado dentro de um prazo de trinta dias, cópia autenticada do
comprovante de transferência de propriedade, devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se
responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas e suas reincidências até a data da
comunicação.
[3] Art. 123. Será obrigatória a expedição de novo Certificado de Registro de Veículo quando:
[5] Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.
(...)
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta
o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2oa
6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do
vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2oe 3 opara a fase de
conhecimento.
DECISÃO