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#costurandoatoga

 Direito Penal
 Iter Criminis
 Apostila 06
 Dia: 12/01/2019

ITER CRIMINIS.TENTATIVA. DESISTÊNCIA E


ARREPENDIMENTO. CRIME IMPOSSÍVEL
Resumo feito com base no livro do Cleber Masson de 2018. Créditos a ele. Eu só compilei
e teci alguns comentários.
ITER CRIMINIS.TENTATIVA. DESISTÊNCIA E ARREPENDIMENTO. CRIME IMPOSSÍVEL .................. 1
1. ITER CRIMINIS ................................................................................................................... 2
1.1. COGITAÇÃO............................................................................................................................ 2
1.2. PREPARAÇÃO.......................................................................................................................... 2
1.3. EXECUÇÃO ............................................................................................................................. 3
1.4. TRANSIÇÃO ENTRE PREPARAÇÃO E EXECUÇÃO................................................................................ 3
1.5. CONSUMAÇÃO........................................................................................................................ 3
1.6. EXAURIMENTO........................................................................................................................ 4
2. TENTATIVA ........................................................................................................................ 4
2.1. NATUREZA JURÍDICA ................................................................................................................ 5
2.2. TEORIAS SOBRE A PUNIBILIDADE DA TENTATIVA ............................................................................. 5
2.3. TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL ....................................................................................... 5
2.4. CRITÉRIO PARA DIMINUIÇÃO DA PENA .......................................................................................... 5
2.5. TENTATIVA E CRIMES DE COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS ...................................................... 5
2.6. ESPÉCIES DE TENTATIVA ............................................................................................................ 5
2.7. INADMISSIBILIDADE DA TENTATIVA .............................................................................................. 6
1 3. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ .................................................. 6
3.1. FUNDAMENTO ........................................................................................................................ 7
3.2. NATUREZA JURÍDICA ................................................................................................................ 7
3.3. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA......................................................................................................... 7
3.4. ARREPENDIMENTO EFICAZ ......................................................................................................... 7
3.5. REQUISITOS............................................................................................................................ 8
3.6. EFEITOS ................................................................................................................................. 8
3.7. INCOMPATIBILIDADE COM CRIMES CULPOSOS ................................................................................ 8
3.8. ADIAMENTO DA PRÁTICA DO CRIME ............................................................................................ 8
3.9. COMUNICABILIDADE DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E DO ARREPENDIMENTO EFICAZ .............................. 8
3.10. TENTATIVA QUALIFICADA ...................................................................................................... 9
3.11. LEI DE TERRORISMO ............................................................................................................. 9
4. ARREPENDIMENTO POSTERIOR ........................................................................................ 9
4.1. EXTENSÃO DO BENEFÍCIO .......................................................................................................... 9
4.2. FUNDAMENTOS ...................................................................................................................... 9
4.3. REQUISITOS.......................................................................................................................... 10
4.3.1. Natureza do crime ................................................................................................... 10
4.3.2. Reparação do dano ou restituição da coisa ............................................................. 10
4.4. COMUNICABILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS ......................................................................... 10
4.5. CRITÉRIO PARA REDUÇÃO DA PENA............................................................................................ 10
4.6. RECUSA DO OFENDIDO EM ACEITAR A REPARAÇÃO DO DANO OU A RESTITUIÇÃO DA COISA .................... 11
4.7. DISPOSITIVOS ESPECIAIS ACERCA DA REPARAÇÃO DO DANO ............................................................ 11
4.7.1. Peculato culposo ...................................................................................................... 11
4.7.2. Juizados Especiais Criminais .................................................................................... 11
4.7.3. Apropriação indébita previdenciária ....................................................................... 11
5. CRIME IMPOSSÍVEL ......................................................................................................... 12
5.1. NATUREZA JURÍDICA .............................................................................................................. 12
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5.2. TEORIAS SOBRE O CRIME IMPOSSÍVEL ........................................................................................ 12


5.2.1. Teoria objetiva ......................................................................................................... 12
5.2.1.1. Teoria objetiva pura ......................................................................................................... 12
5.2.1.2. Teoria objetiva temperada ou intermediária ................................................................... 12
5.2.2. Teoria subjetiva ....................................................................................................... 13
5.2.3. Teoria sintomática ................................................................................................... 13
5.3. ESPÉCIES DE CRIME IMPOSSÍVEL................................................................................................ 13
5.3.1. Crime impossível por absoluta ineficácia do meio ................................................... 13
5.3.2. Crime impossível por impropriedade absoluta do objeto ........................................ 13
5.4. MOMENTO ADEQUADO PARA AFERIÇÃO DA INIDONEIDADE ABSOLUTA ............................................. 13
5.5. ASPECTOS PROCESSUAIS INERENTES AO CRIME IMPOSSÍVEL ............................................................ 13
5.6. CRIME PUTATIVO E CRIME IMPOSSÍVEL ....................................................................................... 14
5.6.1. Espécies de crime putativo ...................................................................................... 14
5.6.1.1. Crime putativo por erro de tipo ....................................................................................... 14
5.6.1.2. Crime putativo por erro de proibição (delito de alucinação ou de loucura) .................... 14
5.6.1.3. Crime putativo por obra do agente provocador .............................................................. 14
5.6.2. Diferença de crime impossível e crime putativo ...................................................... 15
6. ANOTAÇÕES DO MEU CADERNO E JURISPRUDÊNCIA ...................................................... 16
6.1. CRIME IMPOSSÍVEL ................................................................................................................ 16
6.2. DESISTÊNCIA E ARREPENDIMENTO............................................................................................. 17

1. ITER CRIMINIS
2 Iter criminis é o caminho do crime, cuidando-se das etapas percorridas pelo agente para
a prática de um fato previsto em lei como infração penal.
Possui duas fases: interna e externa.
Interna é a cogitação.
Externa é a preparação, execução e, por fim, a consumação.
1.1. Cogitação
É uma fase interna. Nesta fase o agente apenas forma a ideia de entrar em alguma
empreitada criminosa. Não é punível, pois não há qualquer possibilidade de ofensa ao bem
jurídico. Assim, ninguém pode ser punido exclusivamente pelos seus pensamentos.
1.2. Preparação
Cuida-se dos atos indispensáveis à prática da infração penal, municiando-se o agente dos
meios necessários para a concretização da sua conduta ilícita. Ex: comprar um revólver, construir
um cativeiro.
Em regra, não são puníveis, nem na forma tentada, uma vez que não se realizou o núcleo
do tipo penal. Entretanto, é possível a punição de atos preparatórios nas hipóteses em que a lei
optou por incriminá-los de forma autônoma. São os chamados crimes-obstáculo. Ex: fabricação,
fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico ou asfixiante, (art. 253,
CP), petrechos para falsificação de moeda (art. 291, CP).
Outra exceção recente é a prática de atos preparatórios de terrorismo, que não se exige
nenhum ato de execução, tipificado no art. 5° da Lei 13.260/16.

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1.3. Execução
Nesta fase externa, inicia-se a agressão ao bem jurídico, por meio da realização do núcleo
do tipo penal, tornando o fato punível. Portanto, há a incidência do Direito Penal, configurando
no mínimo um crime tentado. O ato de execução precisa ser idôneo e inequívoco.
Idôneo é o ato que possui capacidade lesiva ao bem jurídico penalmente tutelado. Ex: não
é idôneo matar com uma arma de festim. Ato inequívoco é o que se direciona ao ataque do bem
jurídico, almejando a consumação da infração penal e fornecendo certeza acerca da vontade
ilícita. Ex: atirar para cima não é inequívoco, mas atirar em alguém é.
1.4. Transição entre preparação e execução
Ainda não se construiu um método infalível para distinguir entre preparação e execução,
nos casos de dúvida sobre se o ato constitui um ataque ao bem jurídico ou apenas uma
predisposição para esse ataque. Para tanto, surgiram algumas teorias:
Teoria subjetiva: só interessa o plano interno do autor, a vontade criminosa existente em
quaisquer atos que compõem o iter criminis. Assim, para esta teoria tanto a preparação como a
execução importariam em punição do agente. Não é adotada no Brasil.
Teoria objetiva: os atos executórios dependem do início da realização do núcleo do tipo
penal. O agente não pode ser punido pelo seu querer interno. É imprescindível a realização de
atos idôneos e inequívocos para a produção do resultado lesivo. Subdivide-se em:
a) Teoria da hostilidade ao bem jurídico: só haverá início da execução quando o bem
jurídico for ofendido ou exposto a perigo concreto – NÃO É APLICADA NO BRASIL.
3 b) Teoria objetivo-material: o início da execução pressupõe a pratica do verbo nuclear do
tipo e ato imediatamente anterior a ele, segundo o critério de um terceiro observador – NÃO É
APLICADA NO BRASIL
c) Teoria objetiva-formal: haverá início da execução quando for praticado o verbo nuclear
do tipo. É a preferida pela doutrina.
Teoria objetiva-individual: haverá início da execução com a prática do verbo nuclear do
tipo e de ato imediatamente anterior a ele, segundo o critério subjetivo e individual do agente
– tem a ver com o dolo do próprio agente.
A teoria objetiva-individual se aproxima mais do finalismo. No entanto, a teoria
objetiva-formal da mais segurança jurídica – o princípio da reserva legal ensina que só constitui
crime o fato expressamente previsto em lei, logo, somente se caracterizará o início da execução
o ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito, ou seja, o verbo do tipo (o sujeito tem
de começar a matar, a subtrair, a constranger e outros).
Somente há execução quando praticado o primeiro ato capaz de levar ao resultado
consumativo (idôneo) e não houver dúvida (inequívoco) que tal ato destina-se a consumação:
verbo do tipo = ato idôneo + inequívoco.
1.5. Consumação
Dá-se a consumação (summatum opus) quando nele se reúnem todos os elementos de
sua definição legal (art. 14, I, CP). É um crime completo ou perfeito, pois o autor concretiza todas
as elementares do preceito primário.
Nos crimes materiais ou causais (aí se inserindo os culposos e omissivos impróprios,
espúrios ou comissivos por omissão), aperfeiçoa-se a consumação com a superveniência do
resultado naturalístico. Nos crimes formais, de resultado cortado ou de consumação

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antecipada, e nos crimes de mera conduta ou de simples atividade, a consumação ocorre com a
mera prática da conduta, não importando se houve resultado.
Nos crimes qualificados pelo resultado, incluindo os preterdolosos, a consumação se
verifica com a produção do resultado agravador, doloso ou culposo. Ex: lesão com resultado
morte, consuma-se com a morte do ofendido.
Nos crimes de perigo concreto a consumação se dá com a efetiva exposição do bem
jurídico a uma probabilidade de dano. Ex: direção de veículo automotor sem habilitação.
Nos crimes de perigo abstrato ou presumido a consumação se dá com a mera prática da
conduta, independente da efetiva comprovação da situação de perigo.
Em relação aos crimes permanentes, a consumação se arrasta no tempo com a
manutenção da situação contrária ao direito, permitindo a prisão em flagrante em qualquer
momento enquanto não encerrada a atuação criminosa. Já os crimes habituais a consumação
se dá com a reiteração de atos que revelam o estilo de vida do agente, pois cada um deles,
isoladamente, consideram-se um indiferente penal.
1.6. Exaurimento
Também chamado de crime exaurido ou esgotado, é o delito em que, após a consumação,
subsistem os efeitos lesivos derivados da conduta. Ex: entregar o resgate no crime de extorsão
mediante sequestro não é necessário para completar a tipicidade.
O exaurimento não faz parte do iter criminis, que se encerra com a consumação.
Entretanto, influi na dosimetria da pena, nos termos do art. 59, CP, que elegeu as consequências
4 do crime à condição de circunstância judicial. Em alguns casos o exaurimento pode ser
considerado como qualificadora ou como causa de aumento da pena.

2. TENTATIVA
Art. 14. Diz-se o crime:
...
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa
com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1 (um)
a 2/3 (dois terços).
Assim, tentativa é o início de execução de um crime que não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente. O ato de tentativa é um ato de execução, exigindo-
se que o sujeito tenha praticado atos executórios, não sobrevindo a consumação por forças
estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipicidade não finalizada, sem conclusão.
Denominam como conatus, crime imperfeito, crime manco ou crime incompleto.
Como elementos, possui (1) o início da execução do crime; (2) ausência de consumação
por circunstâncias alheias à vontade do agente; (3) dolo de consumação.
O dolo na tentativa é igual ao dolo da consumação, mas que não foi obtido em razão de
circunstâncias alheias à vontade do agente, pois ele realmente queria alcançar seu objetivo.
Verifica-se, portanto, um dolo perfeito na esfera subjetiva e imperfeito na esfera objetiva
(mundo dos fatos), que somente foi obstado em razão de circunstâncias alheias.

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2.1. Natureza jurídica


O art. 14, II, do CP é uma norma de extensão ou de ampliação da conduta. Opera-se uma
ampliação temporal da conduta, pois o alcance do direito penal em razão da norma descrita no
art. 14, II, antecipa-se para abarcar os atos executórios prévios à consumação. Assim, se um
policial percebe alguém apontando uma arma para um sujeito que estavas prestes a atirar, não
será necessário o disparo para que o Direito Penal seja aplicado. Assim, verifica-se que na
tentativa o Direito penal é aplicado antes da consumação do crime, incidindo a tutela penal nos
atos executórios prévios à consumação.
2.2. Teorias sobre a punibilidade da tentativa
Teoria subjetiva: o agente é punido pela sua intenção, pois o que importa é o desvalor da
ação, sendo irrelevante o desvalor do resultado.
Teoria sintomática: pune-se em razão da periculosidade subjetiva, do perigo revelado
pelo agente. Permite a punição de atos preparatórios, pois a manifestação de periculosidade já
pode ser enquadrada como tentativa.
Teoria objetiva: a tentativa é punida em face do perigo proporcionado ao bem jurídico
tutelado pela lei penal. Sopesam-se o desvalor da ação e o desvalor do resultado: a tentativa
deve receber punição inferior à do crime consumado, pois o bem jurídico não foi atingido
integralmente.
2.3. Teoria adotada pelo Código Penal
Quando o CP diz que a pena da tentativa deve corresponder à pena do crime consumado,

5 diminuída de 1 a 2/3, ele adota a teoria objetiva. Como o desvalor do resultado é menor quando
comparado ao crime consumado, o conatus deve suportar uma punição mais branda.
Excepcionalmente, em razão de o parágrafo único ter previsto “salvo disposição em
contrário”, aceita-se a teoria subjetiva, como nos delitos de atentado ou de empreendimento.
Ex: evasão mediante violência – evadir-se ou tentar evadir-se.
2.4. Critério para diminuição da pena
A tentativa é uma causa obrigatória de diminuição da pena, incidindo na terceiera fase de
aplicação da pena privativa de liberdade. Para aplicar a fração de diminuição, o magistrado deve
analisar a distância percorrida do iter criminis.
Segundo o STF: a quantificação da causa de diminuição de pena relativa à tentativa há de
ser realizada conforme o iter criminis percorrido pelo agente: a redução será inversamente
proporcional à maior proximidade do resultado almejado.
Assim, se o agente pouco executou o iter criminis, maior será a diminuição da pena. Se
quase chegou a consumar, menor será a diminuição da pena.
2.5. Tentativa e crimes de competência dos juizados especiais
Para saber se o crime tentado será de competência do juizado especial criminal, deve-se
aplicar a menor fração de diminuição de pena sobre a pena máxima cominada. Se o resultado
advindo daí for superior a dois anos, o Juizado não é competente para o julgamento da causa.
2.6. Espécies de tentativa
Branca ou incruenta: o objeto material não é atingido pela conduta criminosa.
Vermelha ou cruenta: o objeto material é alcançado pela atuação do agente.
Perfeita, acabada ou crime falho: o agente esgota todos os meios executórios que
estavam à sua disposição, e mesmo assim não sobrevém a consumação por circunstâncias
alheias à vontade do agente.
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Imperfeita, inacabada ou tentativa propriamente dita: o agente não esgota todos os


meios que tinha ao seu alcance e o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
2.7. Inadmissibilidade da tentativa
Em geral, os crimes dolosos são compatíveis com a tentativa, pouco importando sejam
materiais, formais ou de mera conduta. A admissibilidade de tentativa está relacionada com a
possibilidade de fracionamento da conduta em diversos atos executórios. Assim, os crimes
formais comportam a tentativa desde que o crime seja plurissbsistente (necessita mais de um
ato).
Assim, na extorsão mediante sequestro, que é um crime formal, é possível a tentativa. Já,
por exemplo, no crime de ato obsceno, quando a pessoa começa a se despir é possível pará-la,
impedindo-a por circunstâncias alheias à vontade do agente, de modo que este crime de mera
conduta admite a tentativa. A regra, portanto, é a possibilidade da tentativa em todos os
crimes. Entretanto, algumas espécies de infrações penais não admitem a tentativa. Vejamos:
a) Crimes culposos: o resultado naturalístico é involuntário, contrário à intenção do
agente. Se não é desejado pelo agente, não tentou o crime.
b) Crimes preterdolosos: o resultado agravador é culposo, não desejado pelo agente.
c) Crimes unissubsistentes: a conduta é exteriorizada mediante um único ato, suficiente
para alcançar a consumação. Não há divisão do iter criminis, sendo incabível a
tentativa.
d) Crimes omissivos próprios ou puros: são unisubssistentes, de modo que não cabe a
6 tentativa. Ex: omissão de socorro.
e) Crimes de perigo abstrato: são unisubssistentes. Ex: porte de arma de fogo.
f) Contravenções penais: não é punível por força legal, pois a lei de contravenções diz
não ser punível a tentativa de contravenção.
g) Crimes condicionados: a punibilidade está sujeita à produção de um resultado
legalmente exigido, tal qual a participação em suicídio (art. 122, CP), em que só há
punição se resultar morte ou lesão corporal grave.
h) Crimes habituais: são compostos pela reiteração de atos que demonstram um estilo
de vida do agente. Cada ato, isoladamente considerado, é um indiferente penal. Ex:
curandeirismo.
i) Crimes-obstáculo: são os atos preparatórios tipificados de forma autônoma pelo
legislador. Se a preparação já é punida, não há como punir de forma tentada uma
tentativa de crime.
j) Crimes de atentado ou empreendimento: o próprio tipo penal pune a tentativa como
delito consumado: a pena é a mesma para forma tentada ou consumada.

3. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ


Dispõe o artigo 15 do Código Penal:
“O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução OU impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
Pois bem. A doutrina ensina que a desistência voluntária e arrependimento eficaz são
formas de tentativa abandonada ou qualificada, uma vez que a consumação do crime não
ocorre em razão da vontade do agente, que interrompe o processo executivo do delito ou,
esgotada a execução, emprega diligências eficazes para impedir o resultado. Assim, diferencia-
se da tentativa em razão de que nesta, a consumação não ocorre por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
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3.1. Fundamento
Fundamenta-se no estímulo ao agente para evitar a produção do resultado de um crime
cuja execução já se iniciou, em relação ao qual lhe é perfeitamente possível alcançar a
consumação. Franz Von Liszt se referia a estes institutos como ponte de ouro pois, através deles,
era possível retornar à seara da licitude. Cuida-se, portanto, de um direito premial, uma vez que
o Estado concede ao criminoso um tratamento mais favorável.
3.2. Natureza Jurídica
Há três correntes:
a) Extinção da punibilidade: a desistência voluntária e o arrependimento eficaz retiram
o ius puniendi estatal no tocante ao crime inicialmente desejado pelo agente.
b) Exclusão da culpabilidade: se o agente não produziu, voluntariamente, o resultado
inicialmente desejado, afasta-se em relação a este o juízo de reprovabilidade.
Responde, entretanto, pelo crime cometido mais brando.
c) Exclusão da tipicidade: afasta-se a tipicidade do crime inicialmente desejado pelo
agente, subsistindo apenas a tipicidade dos atos já praticados. Majoritária.
3.3. Desistência voluntária
Nesta, o agente, por ato voluntário, interrompe o processo executório do crime,
abandonando a prática dos demais atos necessários e que estavam à sua disposição para a
consumação.
Conforme a fórmula de Frank, a desistência voluntária se caracteriza quando o

7 responsável pela conduta diz a si próprio: “posso prosseguir, mas não quero”. Entretanto,
estaremos diante da tentativa se o raciocinou for outro: “quero prosseguir, mas não posso”.
É de se ressaltar que, nos crimes omissivos impróprios (que exigem um dever de cuidado
do agente), eles reclamam uma atuação positiva do agente para que haja a desistência
voluntária. Ex: a mãe, desejando eliminar o filho, deixa de alimentá-lo por algum dia. Quando o
pequeno está à beira da morte, a genitora muda de ideia a passa a nutri-lo.
Não se admite: nos crimes unissubsistentes, pois a conduta não pode ser fracionada,
exteriorizando-se por um único ato, de modo que é impossível desistir da sua execução, que já
se aperfeiçoou com a atuação do agente.
3.4. Arrependimento eficaz
Também conhecida como respisciência, depois de já praticados todos os atos executórios
suficientes à consumação do crime, o agente adota providências aptas a impedir a produção do
resultado. Ex: depois de dar veneno à vítima, este lhe oferece o antídoto, impedindo a eficácia
causal de sua conduta.
Nesta, o agente esgota todos os meios necessários, como ocorre na tentativa perfeita ou
acabada, porém, posteriormente ele utiliza-se de meios a impedir a produção do resultado.
Observação importante deve ser feita: o arrependimento eficaz só é cabível em relação
aos crimes materiais, pois em análise do artigo 15 verifica-se que há a exigência de impedimento
do resultado, que só é exigido para a consumação dos crimes materiais: “ou impede que o
resultado se produza. ”
Ademais, nos crimes formais a realização da conduta implica na automática consumação
do delito, aperfeiçoando-se a tipicidade do fato, embora seja dispensável, para a consumação,
o resultado naturalístico.

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Nos crimes de mera conduta, por sua vez, jamais ocorrerá resultado naturalístico, motivo
pelo qual não se admite a sua interrupção. Com a simples atividade o delito já estará
consumado, com a tipicidade concluída e imutável.
3.5. Requisitos
#VAICAIR. Pessoal, isso aqui cai igual água, OK?! Tentarão te confundir na prova, mas você
irá acertar, porque aprendeu no #costurandoatoga!
Pois bem, são requisitos comuns da desistência voluntária e do arrependimento eficaz a
voluntariedade e a eficácia.
Voluntáriedade: devem ser livres de coação física ou moral, pouco importando se são
espontâneos ou não. A iniciativa pode emanar de um terceiro ou mesmo da própria vítima,
bastando que o agente pense: “posso prosseguir, mas não quero”. As provas tentarão te
enganar, dizendo que precisa de espontaneidade, mas não precisa, ok? Somente a
voluntariedade. A espontaneidade significa que a ideia tenha sido originada na mente do próprio
agente, como fruto de sua mais honesta vontade, mas isso é desnecessário! Basta que ele
desista no meio do caminho e pronto, pouco importando a origem ou o motivo de sua vontade
de desistir da consumação do resultado.
Eficácia: é necessário que a atuação do agente seja realmente capaz de evitar a produção
do resultado. Se buscar impedir a ocorrência e mesmo assim o resultado ocorrer, subsistirá a
sua responsabilidade pelo crime consumado, incidindo a atenuante genérica prevista no artigo
65, III, alínea “b”, do Código Penal.

8 3.6. Efeitos
Na desistência voluntária e no arrependimento eficaz o efeito é o mesmo: o agente não
responde pela forma tentada do crime desejado, mas somente pelos atos já praticados.
3.7. Incompatibilidade com crimes culposos
São incompatíveis com os crimes culposos, onde não há o desejo pelo resultado. Nos
crimes culposos o resultado naturalístico é involuntário. Assim, se não há vontade, não há do
que desistir. Na culpa o agente não deseja, nunca desejou o resultado.
3.8. Adiamento da prática do crime
Prevalece o entendimento de que há desistência voluntária no adiamento da
empreitada criminosa com o propósito de repeti-la em ocasião mais adequada. Ex: ia matar
João com um tiro hoje, mirei nele e acertei de raspão. Quando eu ia dar o segundo tiro, eu pensei
melhor e decidi matar ele amanhã.
Entretanto, não há desistência voluntária na hipótese de execução retomada, em que a
pessoa deseja dar sequência, no futuro, a atividade criminosa que precisou adiar, utilizando-se
dos atos anteriormente praticados. Ex: sequestrei Mariazinha e a torturei. No meio do
sequestro, o meu filho nasceu. Deixei ela amarrada e voltei no outro dia para matá-la.
3.9. Comunicabilidade da desistência voluntária e do arrependimento
eficaz
Os efeitos da desistência voluntária e do arrependimento eficaz são comunicáveis no
concurso de pessoas?
1ª Corrente: há a manutenção da responsabilidade do partícipe no tocante à tentativa
abandonada.

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2ª Corrente: a desistência voluntária e o arrependimento eficaz possuem caráter misto –


objetivo e subjetivo – havendo a aplicação da regra do artigo 30 do Código Penal, excluindo a
responsabilidade penal do partícipe.
A última é majoritária. Assim, se um mandante (partícipe) desiste de matar e ordena ao
seu capanga (autor) que pare imediatamente a execução do crime, haverá a comunicabilidade
dos institutos. Se o capanga não comete nenhum crime é impossível a punição do mandante.
3.10. Tentativa qualificada
Como dito anteriormente, é chamado de tentativa qualificada porque pode ser que, em
seu bojo, subsista outro delito de menor gravidade já consumado. Ex: eu ia matar, atiro e não
acerto. Desisto. Só subsiste o delito de disparo de arma de fogo.
3.11. Lei de terrorismo
#CAIUEVAICAIR! Prestem atenção aqui, pois recentemente fiz uma questão sobre isso!
A lei de terrorismo (art. 13.260/16) tipifica, de forma autônoma, os atos preparatórios em
seu artigo 5°. Entretanto, o artigo 10 da mesma lei dispõe que é aplicável a sistemática da
desistência voluntária e arrependimento eficaz, mesmo antes de iniciada a execução dos atos
preparatórios”.
Assim, se a lei pune de forma independente os atos preparatórios de terrorismo, é preciso
adaptar a desistência voluntária e o arrependimento eficaz à fase de preparação do delito,
inclusive com a finalidade de mudar no campo psicológico a vontade do terrorista, fazendo com
que queira evitar seu propósito ilícito e preservar os bens jurídicos ameaçados pela conduta
9 criminosa.

4. ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Trata-se causa obrigatória de diminuição de pena (natureza jurídica) que ocorre quando
o responsável pelo crime praticado sem violência à pessoa ou grave ameaça, voluntariamente e
até o recebimento da denúncia ou queixa, restitui a coisa ou repara o dano provocado por sua
conduta.
Art. 16, Código Penal: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de 1 a 2/3.
4.1. Extensão do benefício
Alcança qualquer crime que com ele seja compatível, e não apenas os delitos contra o
patrimônio. Basta que exista um “dano” causado em razão da conduta ilícita. É o caso, por
exemplo, do crime de peculato doloso. Cuida-se de crime que admite o arrependimento
posterior.
No que toca ao “dano” causado, prevalece o entendimento de que a reparação do dano
moral enseja a aplicação do arrependimento posterior. Ex: crimes contra a honra.
Evidentemente que o instituto não se aplica nos delitos em que não há dano a ser
reparado ou coisa a ser restituída. Assim, o arrependimento posterior é cabível em crimes
patrimoniais e diversos, desde que apresentem efeitos de índole patrimonial (STJ).
4.2. Fundamentos
Com raízes em política criminal, funda-se em um duplo aspecto: proteção da vítima, que
deve ser amparada em relação aos danos sofridos; fomento do arrependimento por parte do

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agente, que se mostra mais preocupado com as consequências de seu ato, reduzindo as chances
de reincidência.
4.3. Requisitos
4.3.1. Natureza do crime
O crime deve ser praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa. Qualquer que seja
o crime que contenha violência ou grave ameaça à pessoa, pouco importa a quantidade de pena,
o instituto é inaplicável.
A violência contra coisa não exclui o benefício.
Em caso de violência culposa, é cabível o arrependimento posterior. Isto porque não
houve violência na conduta, mas sim no resultado. Ex: lesão corporal culposa.
No tocante aos crimes perpetrados com violência imprópria (redução do sujeito à
incapacidade de resistir – ex: amarrar), há divergência. A primeira corrente diz que é possível o
arrependimento posterior, pois a lei só excluiu a violência própria. Se quisesse afastar teria feito
expressamente, como fez no artigo 157 do CP. A segunda corrente não admite o benefício, pois
a violência imprópria é dolosa. É grave a tal ponto que, havendo violência imprópria para
subtrair coisa alheia, o crime deixa de ser furto para ser roubo, delito muito mais grave.
4.3.2. Reparação do dano ou restituição da coisa
Deve ser voluntária, pessoal e integral.
Voluntária: deve ser realizada sem coação física ou moral, não necessitando ser
espontânea.
10 Pessoal: deve ser feita pelo próprio agente, salvo em hipótese de impossibilidade
comprovada, e terceira pessoa, representando-o, procede à reparação do dano ou restituição
da coisa.
Integral: o artigo 16 exige que seja integral, sendo que a reparação parcial não se encaixa
no conceito apresentado pelo artigo. Entretanto, a completude deve ser analisada no caso
concreto, ficando ao encargo da vítima, principalmente, a sua constatação.
O Supremo Tribunal Federal, todavia, já admitiu o arrependimento posterior na reparação
parcial do dano. Nessa linha de raciocínio, o percentual de diminuição da pena (uma dois terços)
existe para ser sopesado em razão da extensão da reparação e da presteza com que ela ocorre.
Limite temporal: deve ser efetuada até o recebimento da denúncia. É irrelevante o
momento em que oferecida a denúncia. Se for após o recebimento da denúncia, mas antes do
julgamento, aplica-se a atenuante genérica prevista no art. 65, III, “b”.
4.4. Comunicabilidade no concurso de pessoas
A reparação do dano ou a restituição da coisa tem natureza objetiva e,
consequentemente, comunica-se com os demais coautores e partícipes do crime, na forma
definida pelo artigo 30 do Código Penal (STJ). Logo, havendo a reparação do dano por um dos
agentes a todos se estende o benefício.
4.5. Critério para redução da pena
Deve o percentual de um a dois terços ser calculado com base na celeridade e na
voluntariedade da reparação do dano ou da restituição da coisa. Lado outro, o STF, em análise
de restituição parcial, já decidiu que o percentual deve ser analisado com base na extensão do
ato reparador.

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4.6. Recusa do ofendido em aceitar a reparação do dano ou a restituição


da coisa
É direito subjetivo do agente, de modo que caso a vítima não aceite a reparação, o agente
terá direito ao benefício do arrependimento posterior.
4.7. Dispositivos especiais acerca da reparação do dano
4.7.1. Peculato culposo
Dispõe o art. 312, §3°, do código penal que, no peculato culposo, a reparação do dano, se
anterior à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade, e, se lhe for posterior, reduz a metade
da pena imposta.
Se for doloso, aplica-se as regras da parte geral do CP: antes do recebimento da denúncia,
diminui a pena, aplica-se o artigo 16; depois do recebimento da denúncia, atenuante genérica
do artigo 65, III, “b”.
4.7.2. Juizados Especiais Criminais
A composição dos danos civis entre o autor do fato e o ofendido, em se tratando de crimes
de ação penal privada ou ação penal pública condicionada à representação, acarreta na renúncia
ao direito de queixa ou de representação, com a consequente extinção da punibilidade (art. 74,
parágrafo único, Lei 9.099/95).
4.7.3. Apropriação indébita previdenciária
Art. 168-A: É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e
efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas
11 à previdência social, na forma definida em lei ou regulamente, antes do início da ação fiscal.
Risquei ali porque o STF entende que pago o tributo devido, a qualquer tempo, ainda que
após o trânsito em julgado, extingue-se a punibilidade, pois o art. 9º da Lei nº 10.684/2003 não
estabeleceu qualquer restrição quanto ao momento ideal para realização do pagamento. Logo,
não cabe ao intérprete, por isso, impor limitações ao exercício do direito postulado.. Vejam:
Recurso ordinário em habeas corpus. Apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, §
1º, I, CP). Condenação. Trânsito em julgado. Pagamento do débito tributário. Extinção da
punibilidade do agente. Admissibilidade. Inteligência do art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/03.
Precedentes. Ausência de comprovação cabal do pagamento. Recurso parcialmente
provido para, afastado o óbice referente ao momento do pagamento, determinar ao juízo
das execuções criminais que declare extinta a punibilidade do agente, caso venha a ser
demonstrada, por certidão ou ofício do INSS, a quitação do débito. 1. Tratando-se de
apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, § 1º, I, CP), o pagamento integral do
débito tributário, ainda que após o trânsito em julgado da condenação, é causa de
extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/03.
Precedentes. 2. Na espécie, os documentos apresentados pelo recorrente ao juízo da
execução criminal não permitem aferir, com a necessária segurança, se houve ou não
quitação integral do débito. 3. Nesse diapasão, não há como, desde logo, se conceder o
writ para extinguir sua punibilidade. 4. De toda sorte, afastado o óbice referente ao
momento do pagamento, cumprirá ao juízo das execuções criminais declarar extinta a
punibilidade do agente, caso demonstrada a quitação do débito, por certidão ou ofício do
INSS. 5. Recurso parcialmente provido.
(RHC 128245, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 23/08/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-225 DIVULG 20-10-2016 PUBLIC 21-10-2016)

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5. CRIME IMPOSSÍVEL
Em continuidade, o Código Penal dispõe em seu artigo 17:
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
5.1. Natureza Jurídica
O crime impossível guarda relação com o instituto da tentativa, por isso estamos
estudando nesta aula. Em ambos, o agente inicia, em seu plano interno, a execução da conduta
criminosa que não alcança a consumação.
Porém, há diferenças.
Na tentativa, é possível atingir a consumação, pois os meios empregados pelo agente são
idôneos, e objeto material contra o qual se dirige a conduta é um bem jurídico suscetível de
sofrer lesão ou perigo de lesão, havendo a exposição efetiva do bem a dano ou perigo.
No crime impossível, também conhecido como crime oco, o emprego de meios ineficazes
ou o ataque a objetos impróprios inviabilizam a produção do resultado, inexistindo situação de
perigo ao bem jurídico penalmente tutelado.
Assim, o crime impossível é uma causa de exclusão da tipicidade, eis que o fato praticado
pelo agente não se enquadra em nenhum tipo penal.
Outros nomes: tentativa inadequada, tentativa inidônea, tentativa impossível, tentativa
irreal ou tentativa supersticiosa e, ainda, quase crime.
12 5.2. Teorias sobre o crime impossível
5.2.1. Teoria objetiva
A responsabilização de alguém pela prática de determinada conduta depende de
elementos objetivos e subjetivos (dolo e culpa).
O elemento objetivo consubstancia-se em perigo de lesão para bens jurídicos penalmente
tutelados, de modo que, em não havendo perigo, seja em razão do meio empregado pelo
agente, seja pelas condições do objeto material, não se configura a tentativa. É a inidoneidade
do meio ou do objeto, que pode ser absoluta ou relativa.
Inidoneidade absoluta é aquela em que o crime jamais poderia chegar à consumação;
relativa, por seu turno, aquela em que a conduta poderia ter consumado o delito, o que somente
não ocorreu em razão de circunstâncias estranhas à vontade do agente.

5.2.1.1. Teoria objetiva pura


Ensina que o direito penal só pode proibir condutas lesivas a bens jurídicos, devendo
apenas se preocupar com os resultados produzidos no mundo dos fatos. Assim, quando a
conduta é incapaz, por qualquer razão, de provocar a lesão, o fato deve permanecer impune.
Aqui a impunidade independe do grau de inidoneidade da ação, pois nenhum bem jurídico foi
lesado ou exposto a perigo de lesão.

5.2.1.2. Teoria objetiva temperada ou intermediária


Para a configuração do crime impossível, afastando a tentativa, os meios empregados e o
objeto do crime devem ser absolutamente inidôneos a produzir o resultado idealizado pelo
agente. Caso a inidoneidade for relativa, haverá tentativa.
É a teoria adotada pelo Código Penal no artigo 17. O STJ já decidiu nesse sentido.

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5.2.2. Teoria subjetiva


Leva em consideração a intenção do agente, manifestada por sua conduta, pouco
importando se os meios por ele empregados ou o objeto do crime eram ou não idôneos para a
produção do resultado. Basta o aspecto psíquico, pouco importando o mundo fático.
5.2.3. Teoria sintomática
Leva em consideração a periculosidade do autor, e não o fato praticado. A tentativa e o
crime impossível são manifestações exteriores de uma personalidade temerária do agente,
incapaz de obedecer às regras jurídicas a todos impostas. Justifica-se, em qualquer caso, a
aplicação de medida de segurança.

5.3. Espécies de crime impossível


O artigo 17 traz dois tipos, a saber:
5.3.1. Crime impossível por absoluta ineficácia do meio
Meio significa meio de execução. Assim, a ineficácia absoluta ocorre quando o meio de
execução utilizado pelo autor é incapaz de produzir o resultado, por mais reiterado que seja
seu emprego. É o caso daquele que quer matar alguém com uma arma de brinquedo ou então
com munição de festim.
A inidoneidade deve ser analisada no caso concreto, e jamais em abstrato. Ex: usar açúcar
no lugar do veneno é inofensivo para ampla maioria das pessoas, mas não para um diabético
13 (aqui haverá crime).
Lado outro, se a ineficácia for relativa, haverá tentativa. Ex: eu atiro em alguém de colete,
que só não morre por conta do colete a prova de balas.
5.3.2. Crime impossível por impropriedade absoluta do objeto
O objeto material é compreendido como a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta
do agente. O objeto material é absolutamente impróprio quando inexistente antes do início da
prática da conduta ou ainda quando, nas circunstâncias em que se encontra, torna impossível a
sua consumação, como nas situações em que se tenta matar pessoa já falecida, ou se procura
abortar o feto de mulher que não está grávida.
Assim, existindo o objeto material, ainda que relativamente, haverá tentativa. Não
existindo, será crime impossível. Ex: o ladrão que tentar roubar o celular de alguém, coloca a
mão no bolso esquerdo, mas o celular está no direito. Há uma impropriedade relativa do objeto,
pois o celular existia. Nesse caso haverá o crime na forma tentada (STJ).
5.4. Momento adequado para aferição da inidoneidade absoluta
Devem ser analisadas depois da prática da conduta com a qual se deseja consumar o
crime. Uma vez realizada a conduta, e só então, deve ser diferenciada a situação em que a
conduta caracteriza tentativa punível ou crime impossível. A regra não pode ser estabelecida
em abstrato, previamente, mas sim no caso concreto, após a realização da conduta.
Sobre esse tema, é importante conhecermos a redação da Súmula 567 do STJ: Sistema de
vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de
estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.
5.5. Aspectos processuais inerentes ao crime impossível
A comprovação do crime impossível enseja a ausência de tipicidade do fato. Não há crime.
Assim, o MP deve requerer o arquivamento do inquérito policial. Se oferecer denúncia, esta
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deve ser rejeitada, nos termos do artigo 395, inciso III, do CPP, pois o fato não constitui crime,
faltando condição para o exercício da ação penal.
Se a denúncia for recebida, com a instauração do processo penal, o juiz deve ao final
absolver o réu, nos termos do artigo 386, inciso III, do CPP, pelo motivo de o fato não constituir
infração penal.
Caso o crime seja da competência do Tribunal do Júri, ao final da primeira fase (judicium
accusationis), deverá o acusado ser absolvido sumariamente, nos termos do art. 415, inciso III,
do CPP, em face de o fato não constituir crime.
Habeas corpus não é instrumento adequado para trancamento de ação penal que tenha
como objeto um crime impossível, pois nessa ação constitucional não é cabível a produção de
provas para demonstrar a ineficácia absoluta do meio ou a impropriedade do objeto. Salvo
exceções flagramente teratológicas. Ex: denúncia de homicídio feita por matar um macaco.
5.6. Crime putativo e crime impossível
Putativo é aquilo que aparenta ser real, mas que na verdade não existe. Só está na psique
do agente.
Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto é o que existe apenas na mente do
agente, que acredita violar a lei penal, quando na verdade o fato por ele concretizado não possui
adequação típica, ou seja, não encontra correspondência em um tipo penal.
5.6.1. Espécies de crime putativo

14 5.6.1.1. Crime putativo por erro de tipo


É o crime imaginário que se verifica quando o autor acredita ofender uma lei penal
incriminadora efetivamente existente, mas à sua conduta faltam elementos da definição típica.
Ex: vender pó branco (farinha) pensando tratar-se de cocaína.

5.6.1.2. Crime putativo por erro de proibição (delito de alucinação ou de


loucura)
A equivocada crença do agente recai sobre a ilicitude do fato, pois supõe violar uma lei
penal que não existe. Ex: B perde o controle de seu automóvel, chocando-se em outro veículo.
Foge com meto de ser preso em flagrante pela polícia pela prática de dano culposo, não
tipificado como infração penal pela legislação comum. (fica na esfera cível).

5.6.1.3. Crime putativo por obra do agente provocador


Também denominado de crime de ensaio, crime de experiência ou flagrante provocado,
verifica-se quando alguém, insidiosamente, induz outra pessoa a cometer uma conduta
criminosa, e, simultaneamente, adota medidas para impedir a consumação.
A consumação deve ser absolutamente impossível, sob pena de configuração da
tentativa. Compõe-se de dois atos: um de indução, pois o agente é provocado por outrem a
cometer o delito, e outro de impedimento, eis que a vítima adota providências aptas a obstar a
consumação.
Caracterizado o crime putativo por obra do agente provocador, o fato resta impune, pois
o seu autor por nada responde, nem mesmo pela tentativa. Aplica-se a regra do art. 17, pois se
assemelha ao crime impossível.
O STF, inclusive, editou a Súmula 145, a qual estabelece que “Não há crime quando a
preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

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No flagrante preparado, a iniciativa do delito é do agente provocador. A vontade do


provocado é viciada, o que contamina de nulidade toda conduta. Aqui sequer há tentativa.
No flagrante esperado, a deflagração o processo executório do crime é de
responsabilidade do agente, razão pela qual é ilícito. Assim, é válido que a polícia, após receber
uma denúncia, espere o início da execução para declarar voz de prisão.
STF: não configura flagrante preparado o contexto em que a Polícia, tendo conhecimento
prévio do fato delituoso, vem a surpreender o agente que, espontaneamente, iniciara o
processo de execução do iter criminis.
Assim, se houve indução para a prática do crime, é crime impossível. Se não houve
indução, é flagrante esperado, havendo tentativa punível.
5.6.2. Diferença de crime impossível e crime putativo
Crime impossível é a situação em que o autor, com intenção de cometer o delito, não
consegue por ter se utilizado de meio de execução absolutamente ineficaz, ou então em
decorrência de ter direcionado a sua conduta a objeto material absolutamente impróprio.
Assim, o erro do agente recai sobre a idoneidade do meio ou do objeto material.
Crime putativo é aquele em que o agente, embora acredite praticar um fato típico, realiza
um indiferente penal, seja pelo fato de a conduta não encontrar previsão legal, seja pela
ausência de um ou mais elementos da figura típica, ou ainda por ter sido induzido à prática do
crime, ao mesmo tempo em que foram adotadas providências eficazes para impedir sua
consumação.

15
Observações:
Ex 1: falsificação grosseira de moeda. No crime de moeda falsa do art. 289 do CP, a
falsificação grosseira da moeda afasta o crime e leva a desclassificação do delito para o
estelionato (súmula 73, STJ), visto que ela não tem a aptidão para circular como se verdadeira
fosse e seria percebida a olho nu por qualquer cidadão. Para a moeda falsa, a falsificação
grosseira seria crime impossível [pela absoluta impropriedade do objeto] e, para o estelionato,
pode-se verificar, em tese, o contexto em que ela foi empregada. Ex: nota do banco imobiliário
é falso grosseiro, pois sequer circula no meio bancário, porém, se for passado em meio a um
maço de notas, pode configurar o estelionato. Se for entregue sozinha, nem estelionato
configura, pois não é capaz de enganar ninguém, nem o mais incauto. Atenção: a súmula 73
sempre cai em prova do MPF. Súmula 73 STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente
falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.
O CP adota também, nesse caso, a teoria objetiva temperada, pois se o meio é
ABSOLUTAMENTE ineficaz ou se o objeto é ABSOLUTAMENTE impróprio, o crime será
impossível. Se for relativa a impropriedade, caberá a tentativa.
Ex 2: Uma jovem percebe que está grávida e uma amiga lhe oferece um medicamento
abortivo, ao tomar o remédio não sofre o aborto, pois o comprimido estava vencido há 2 (dois)
anos e o princípio ativo não funcionou. Nesse caso, haverá crime impossível, por absoluta
ineficácia do meio. Todavia, se o remédio estivesse vencido há pouco tempo, dependendo da
hipótese, poderia caracterizar a tentativa, havendo a relativa ineficácia do meio.
Ex 3: Há crime impossível por absoluta impropriedade do objeto quando o agente
pretende o crime de aborto sem a vítima estar grávida.
Ex 4: A súmula 145 do STF afirma que o flagrante provocado incide em crime impossível,
pois impede sua consumação de forma absoluta, não havendo tentativa. [no flagrante
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provocado há o agente provocador, o qual participa (induzindo, auxiliando) e ao mesmo tempo


impede a consumação]. Com a preparação do flagrante, ocorre o chamado crime de ensaio, pois
o agente provocador contribui com a prática criminosa, porém, impede a consumação do delito.
Ex 5: Agente provocador em crime permanente: Policial se passa por usuário de drogas e
deseja adquiri-la, quando o traficante vai ao depósito para obter a droga, o policial profere voz
de prisão. Nesse caso, não se aplica a súmula 145 do STF, pois se trata de crime permanente
(guardar, manter em depósito), já estando consumado. Não há crime impossível, em que pese
a provocação do policial.
Ex 6: O sistema de vigilância de estabelecimento comercial não torna o crime impossível,
pois não existe provocação [primeiro argumento]. Haverá flagrante esperado se o segurança da
loja perceber que houve subtração de peças de roupa, incidindo a tentativa. O sistema de
vigilância não é o impedimento absoluto para a consumação [segundo argumento], pois, mesmo
assim, é possível a subtração (STJ, HC208958, Rel. Min. Og Fernandes, p. 17/08/2011). Não se
aplica a súmula 145 para o flagrante esperado.
Ex 7: Não há tentativa se for detectada drogas no raio-x do aeroporto. O crime estará
consumado, pois o meio empregado não é infalível, visto que todo sistema de vigilância possui
falha. Mesmo que o agente não consiga sair do território nacional, estará evidenciada a
transnacionalidade. [Para caracterizar o crime de tráfico internacional basta demonstrar que a
droga era destinada para outro país, não necessitando a efetiva transposição de fronteira, e que
há ramificação do grupo criminoso em outros países. Tentar já é consumar].
Ex 8: O art. 349-A do CP independe de o agente conseguir realizar a entrega do aparelho
16 de comunicação ao preso [tentar já é consumar].

6. ANOTAÇÕES DO MEU CADERNO E JURISPRUDÊNCIA


 Como regra, o Código Penal, em seu art. 14, II, adotou a teoria objetiva quanto à punibilidade
da tentativa, pois, malgrado semelhança subjetiva com o crime consumado, diferencia a pena
aplicável ao agente doloso de acordo com o perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Nessa
perspectiva, jurisprudência do STJ adota critério de diminuição do crime tentado de forma
inversamente proporcional à aproximação do resultado representado: quanto maior o iter
criminis percorrido pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição. STJ. 5ª Turma. HC
226359/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 02/08/2016.
6.1. Crime impossível
 O Código Penal adotou a teoria objetiva moderada em relação ao crime impossível. Isso porque
o artigo 17 exige, para a caracterização do crime impossível, que o objeto seja absolutamente
impróprio ou o meio seja absolutamente ineficaz, caracterizando-se a tentativa quando os meios
sejam relativamente eficazes ou impróprios.
 Para a teoria objetiva pura, não há distinção entre inidoneidade absoluta ou relativa, já que em
ambos os casos não haveria bem jurídico em perigo, sendo o fato, portanto, impunível.
 Para a teoria subjetiva, não importa se o meio ou o objeto são absoluta ou relativamente
ineficazes ou impróprios, pois que, para a configuração da tentativa, basta que o agente tenha
agido com vontade de praticar a ação penal. O agente, no caso, seria punido apenas pela
intenção.
 Crime putativo: quando o agente acha estar cometendo um crime. Só em sua órbita subjetiva
ele acha. Espécies: erro de tipo e erro de proibição.

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6.2. Desistência e arrependimento


● A desistência voluntária e o arrependimento eficaz só ocorrem se forem capazes de romper o
nexo de causalidade e evitar o resultado. Se ocorrer o resultado, o agente responde pelo crime
consumado.
● Ponte de ouro: Trata-se da desistência voluntária e do arrependimento eficaz. São causas de
exclusão da tipicidade em relação aos crimes desejados inicialmente, por isso, é uma ponte de
OURO. Responde só pelos resultados realizados. Ex: queria matar, mas só lesiona, se houve essas
causas ele responde só pela lesão.
● Ponte de prata: trata-se do arrependimento posterior, pois sua ocorrência só diminui a pena,
na terceira fase.
● A desistência voluntária contenta-se com a voluntariedade, não se exigindo que seja
espontâneo. Ou seja, ainda que a vontade tenha nascido por circunstância que não originária na
vontade do agente, desde que não oriunda de coação física ou moral, é possível que haja a
desistência voluntária. Já a espontaneidade, não é exigida, sendo esta caracterizada pela ação
de livre coação, ou pedido, de iniciativa própria do agente, ou seja, não pode agir por sugestão
de outrem.
● Não se admite desistência voluntária em relação à prática de delito unissubsistente, admitindo-
se arrependimento eficaz apenas com relação à prática de crimes materiais. Para beneficiar-se
dessas espécies de tentativa qualificada, que, por si sós, não beneficiam os partícipes, o agente
deve agir de forma voluntária, mas não necessariamente de forma espontânea.

17

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