Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
1. ITER CRIMINIS
2 Iter criminis é o caminho do crime, cuidando-se das etapas percorridas pelo agente para
a prática de um fato previsto em lei como infração penal.
Possui duas fases: interna e externa.
Interna é a cogitação.
Externa é a preparação, execução e, por fim, a consumação.
1.1. Cogitação
É uma fase interna. Nesta fase o agente apenas forma a ideia de entrar em alguma
empreitada criminosa. Não é punível, pois não há qualquer possibilidade de ofensa ao bem
jurídico. Assim, ninguém pode ser punido exclusivamente pelos seus pensamentos.
1.2. Preparação
Cuida-se dos atos indispensáveis à prática da infração penal, municiando-se o agente dos
meios necessários para a concretização da sua conduta ilícita. Ex: comprar um revólver, construir
um cativeiro.
Em regra, não são puníveis, nem na forma tentada, uma vez que não se realizou o núcleo
do tipo penal. Entretanto, é possível a punição de atos preparatórios nas hipóteses em que a lei
optou por incriminá-los de forma autônoma. São os chamados crimes-obstáculo. Ex: fabricação,
fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico ou asfixiante, (art. 253,
CP), petrechos para falsificação de moeda (art. 291, CP).
Outra exceção recente é a prática de atos preparatórios de terrorismo, que não se exige
nenhum ato de execução, tipificado no art. 5° da Lei 13.260/16.
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
1.3. Execução
Nesta fase externa, inicia-se a agressão ao bem jurídico, por meio da realização do núcleo
do tipo penal, tornando o fato punível. Portanto, há a incidência do Direito Penal, configurando
no mínimo um crime tentado. O ato de execução precisa ser idôneo e inequívoco.
Idôneo é o ato que possui capacidade lesiva ao bem jurídico penalmente tutelado. Ex: não
é idôneo matar com uma arma de festim. Ato inequívoco é o que se direciona ao ataque do bem
jurídico, almejando a consumação da infração penal e fornecendo certeza acerca da vontade
ilícita. Ex: atirar para cima não é inequívoco, mas atirar em alguém é.
1.4. Transição entre preparação e execução
Ainda não se construiu um método infalível para distinguir entre preparação e execução,
nos casos de dúvida sobre se o ato constitui um ataque ao bem jurídico ou apenas uma
predisposição para esse ataque. Para tanto, surgiram algumas teorias:
Teoria subjetiva: só interessa o plano interno do autor, a vontade criminosa existente em
quaisquer atos que compõem o iter criminis. Assim, para esta teoria tanto a preparação como a
execução importariam em punição do agente. Não é adotada no Brasil.
Teoria objetiva: os atos executórios dependem do início da realização do núcleo do tipo
penal. O agente não pode ser punido pelo seu querer interno. É imprescindível a realização de
atos idôneos e inequívocos para a produção do resultado lesivo. Subdivide-se em:
a) Teoria da hostilidade ao bem jurídico: só haverá início da execução quando o bem
jurídico for ofendido ou exposto a perigo concreto – NÃO É APLICADA NO BRASIL.
3 b) Teoria objetivo-material: o início da execução pressupõe a pratica do verbo nuclear do
tipo e ato imediatamente anterior a ele, segundo o critério de um terceiro observador – NÃO É
APLICADA NO BRASIL
c) Teoria objetiva-formal: haverá início da execução quando for praticado o verbo nuclear
do tipo. É a preferida pela doutrina.
Teoria objetiva-individual: haverá início da execução com a prática do verbo nuclear do
tipo e de ato imediatamente anterior a ele, segundo o critério subjetivo e individual do agente
– tem a ver com o dolo do próprio agente.
A teoria objetiva-individual se aproxima mais do finalismo. No entanto, a teoria
objetiva-formal da mais segurança jurídica – o princípio da reserva legal ensina que só constitui
crime o fato expressamente previsto em lei, logo, somente se caracterizará o início da execução
o ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito, ou seja, o verbo do tipo (o sujeito tem
de começar a matar, a subtrair, a constranger e outros).
Somente há execução quando praticado o primeiro ato capaz de levar ao resultado
consumativo (idôneo) e não houver dúvida (inequívoco) que tal ato destina-se a consumação:
verbo do tipo = ato idôneo + inequívoco.
1.5. Consumação
Dá-se a consumação (summatum opus) quando nele se reúnem todos os elementos de
sua definição legal (art. 14, I, CP). É um crime completo ou perfeito, pois o autor concretiza todas
as elementares do preceito primário.
Nos crimes materiais ou causais (aí se inserindo os culposos e omissivos impróprios,
espúrios ou comissivos por omissão), aperfeiçoa-se a consumação com a superveniência do
resultado naturalístico. Nos crimes formais, de resultado cortado ou de consumação
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
antecipada, e nos crimes de mera conduta ou de simples atividade, a consumação ocorre com a
mera prática da conduta, não importando se houve resultado.
Nos crimes qualificados pelo resultado, incluindo os preterdolosos, a consumação se
verifica com a produção do resultado agravador, doloso ou culposo. Ex: lesão com resultado
morte, consuma-se com a morte do ofendido.
Nos crimes de perigo concreto a consumação se dá com a efetiva exposição do bem
jurídico a uma probabilidade de dano. Ex: direção de veículo automotor sem habilitação.
Nos crimes de perigo abstrato ou presumido a consumação se dá com a mera prática da
conduta, independente da efetiva comprovação da situação de perigo.
Em relação aos crimes permanentes, a consumação se arrasta no tempo com a
manutenção da situação contrária ao direito, permitindo a prisão em flagrante em qualquer
momento enquanto não encerrada a atuação criminosa. Já os crimes habituais a consumação
se dá com a reiteração de atos que revelam o estilo de vida do agente, pois cada um deles,
isoladamente, consideram-se um indiferente penal.
1.6. Exaurimento
Também chamado de crime exaurido ou esgotado, é o delito em que, após a consumação,
subsistem os efeitos lesivos derivados da conduta. Ex: entregar o resgate no crime de extorsão
mediante sequestro não é necessário para completar a tipicidade.
O exaurimento não faz parte do iter criminis, que se encerra com a consumação.
Entretanto, influi na dosimetria da pena, nos termos do art. 59, CP, que elegeu as consequências
4 do crime à condição de circunstância judicial. Em alguns casos o exaurimento pode ser
considerado como qualificadora ou como causa de aumento da pena.
2. TENTATIVA
Art. 14. Diz-se o crime:
...
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa
com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1 (um)
a 2/3 (dois terços).
Assim, tentativa é o início de execução de um crime que não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente. O ato de tentativa é um ato de execução, exigindo-
se que o sujeito tenha praticado atos executórios, não sobrevindo a consumação por forças
estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipicidade não finalizada, sem conclusão.
Denominam como conatus, crime imperfeito, crime manco ou crime incompleto.
Como elementos, possui (1) o início da execução do crime; (2) ausência de consumação
por circunstâncias alheias à vontade do agente; (3) dolo de consumação.
O dolo na tentativa é igual ao dolo da consumação, mas que não foi obtido em razão de
circunstâncias alheias à vontade do agente, pois ele realmente queria alcançar seu objetivo.
Verifica-se, portanto, um dolo perfeito na esfera subjetiva e imperfeito na esfera objetiva
(mundo dos fatos), que somente foi obstado em razão de circunstâncias alheias.
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
5 diminuída de 1 a 2/3, ele adota a teoria objetiva. Como o desvalor do resultado é menor quando
comparado ao crime consumado, o conatus deve suportar uma punição mais branda.
Excepcionalmente, em razão de o parágrafo único ter previsto “salvo disposição em
contrário”, aceita-se a teoria subjetiva, como nos delitos de atentado ou de empreendimento.
Ex: evasão mediante violência – evadir-se ou tentar evadir-se.
2.4. Critério para diminuição da pena
A tentativa é uma causa obrigatória de diminuição da pena, incidindo na terceiera fase de
aplicação da pena privativa de liberdade. Para aplicar a fração de diminuição, o magistrado deve
analisar a distância percorrida do iter criminis.
Segundo o STF: a quantificação da causa de diminuição de pena relativa à tentativa há de
ser realizada conforme o iter criminis percorrido pelo agente: a redução será inversamente
proporcional à maior proximidade do resultado almejado.
Assim, se o agente pouco executou o iter criminis, maior será a diminuição da pena. Se
quase chegou a consumar, menor será a diminuição da pena.
2.5. Tentativa e crimes de competência dos juizados especiais
Para saber se o crime tentado será de competência do juizado especial criminal, deve-se
aplicar a menor fração de diminuição de pena sobre a pena máxima cominada. Se o resultado
advindo daí for superior a dois anos, o Juizado não é competente para o julgamento da causa.
2.6. Espécies de tentativa
Branca ou incruenta: o objeto material não é atingido pela conduta criminosa.
Vermelha ou cruenta: o objeto material é alcançado pela atuação do agente.
Perfeita, acabada ou crime falho: o agente esgota todos os meios executórios que
estavam à sua disposição, e mesmo assim não sobrevém a consumação por circunstâncias
alheias à vontade do agente.
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
3.1. Fundamento
Fundamenta-se no estímulo ao agente para evitar a produção do resultado de um crime
cuja execução já se iniciou, em relação ao qual lhe é perfeitamente possível alcançar a
consumação. Franz Von Liszt se referia a estes institutos como ponte de ouro pois, através deles,
era possível retornar à seara da licitude. Cuida-se, portanto, de um direito premial, uma vez que
o Estado concede ao criminoso um tratamento mais favorável.
3.2. Natureza Jurídica
Há três correntes:
a) Extinção da punibilidade: a desistência voluntária e o arrependimento eficaz retiram
o ius puniendi estatal no tocante ao crime inicialmente desejado pelo agente.
b) Exclusão da culpabilidade: se o agente não produziu, voluntariamente, o resultado
inicialmente desejado, afasta-se em relação a este o juízo de reprovabilidade.
Responde, entretanto, pelo crime cometido mais brando.
c) Exclusão da tipicidade: afasta-se a tipicidade do crime inicialmente desejado pelo
agente, subsistindo apenas a tipicidade dos atos já praticados. Majoritária.
3.3. Desistência voluntária
Nesta, o agente, por ato voluntário, interrompe o processo executório do crime,
abandonando a prática dos demais atos necessários e que estavam à sua disposição para a
consumação.
Conforme a fórmula de Frank, a desistência voluntária se caracteriza quando o
7 responsável pela conduta diz a si próprio: “posso prosseguir, mas não quero”. Entretanto,
estaremos diante da tentativa se o raciocinou for outro: “quero prosseguir, mas não posso”.
É de se ressaltar que, nos crimes omissivos impróprios (que exigem um dever de cuidado
do agente), eles reclamam uma atuação positiva do agente para que haja a desistência
voluntária. Ex: a mãe, desejando eliminar o filho, deixa de alimentá-lo por algum dia. Quando o
pequeno está à beira da morte, a genitora muda de ideia a passa a nutri-lo.
Não se admite: nos crimes unissubsistentes, pois a conduta não pode ser fracionada,
exteriorizando-se por um único ato, de modo que é impossível desistir da sua execução, que já
se aperfeiçoou com a atuação do agente.
3.4. Arrependimento eficaz
Também conhecida como respisciência, depois de já praticados todos os atos executórios
suficientes à consumação do crime, o agente adota providências aptas a impedir a produção do
resultado. Ex: depois de dar veneno à vítima, este lhe oferece o antídoto, impedindo a eficácia
causal de sua conduta.
Nesta, o agente esgota todos os meios necessários, como ocorre na tentativa perfeita ou
acabada, porém, posteriormente ele utiliza-se de meios a impedir a produção do resultado.
Observação importante deve ser feita: o arrependimento eficaz só é cabível em relação
aos crimes materiais, pois em análise do artigo 15 verifica-se que há a exigência de impedimento
do resultado, que só é exigido para a consumação dos crimes materiais: “ou impede que o
resultado se produza. ”
Ademais, nos crimes formais a realização da conduta implica na automática consumação
do delito, aperfeiçoando-se a tipicidade do fato, embora seja dispensável, para a consumação,
o resultado naturalístico.
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
Nos crimes de mera conduta, por sua vez, jamais ocorrerá resultado naturalístico, motivo
pelo qual não se admite a sua interrupção. Com a simples atividade o delito já estará
consumado, com a tipicidade concluída e imutável.
3.5. Requisitos
#VAICAIR. Pessoal, isso aqui cai igual água, OK?! Tentarão te confundir na prova, mas você
irá acertar, porque aprendeu no #costurandoatoga!
Pois bem, são requisitos comuns da desistência voluntária e do arrependimento eficaz a
voluntariedade e a eficácia.
Voluntáriedade: devem ser livres de coação física ou moral, pouco importando se são
espontâneos ou não. A iniciativa pode emanar de um terceiro ou mesmo da própria vítima,
bastando que o agente pense: “posso prosseguir, mas não quero”. As provas tentarão te
enganar, dizendo que precisa de espontaneidade, mas não precisa, ok? Somente a
voluntariedade. A espontaneidade significa que a ideia tenha sido originada na mente do próprio
agente, como fruto de sua mais honesta vontade, mas isso é desnecessário! Basta que ele
desista no meio do caminho e pronto, pouco importando a origem ou o motivo de sua vontade
de desistir da consumação do resultado.
Eficácia: é necessário que a atuação do agente seja realmente capaz de evitar a produção
do resultado. Se buscar impedir a ocorrência e mesmo assim o resultado ocorrer, subsistirá a
sua responsabilidade pelo crime consumado, incidindo a atenuante genérica prevista no artigo
65, III, alínea “b”, do Código Penal.
8 3.6. Efeitos
Na desistência voluntária e no arrependimento eficaz o efeito é o mesmo: o agente não
responde pela forma tentada do crime desejado, mas somente pelos atos já praticados.
3.7. Incompatibilidade com crimes culposos
São incompatíveis com os crimes culposos, onde não há o desejo pelo resultado. Nos
crimes culposos o resultado naturalístico é involuntário. Assim, se não há vontade, não há do
que desistir. Na culpa o agente não deseja, nunca desejou o resultado.
3.8. Adiamento da prática do crime
Prevalece o entendimento de que há desistência voluntária no adiamento da
empreitada criminosa com o propósito de repeti-la em ocasião mais adequada. Ex: ia matar
João com um tiro hoje, mirei nele e acertei de raspão. Quando eu ia dar o segundo tiro, eu pensei
melhor e decidi matar ele amanhã.
Entretanto, não há desistência voluntária na hipótese de execução retomada, em que a
pessoa deseja dar sequência, no futuro, a atividade criminosa que precisou adiar, utilizando-se
dos atos anteriormente praticados. Ex: sequestrei Mariazinha e a torturei. No meio do
sequestro, o meu filho nasceu. Deixei ela amarrada e voltei no outro dia para matá-la.
3.9. Comunicabilidade da desistência voluntária e do arrependimento
eficaz
Os efeitos da desistência voluntária e do arrependimento eficaz são comunicáveis no
concurso de pessoas?
1ª Corrente: há a manutenção da responsabilidade do partícipe no tocante à tentativa
abandonada.
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
4. ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Trata-se causa obrigatória de diminuição de pena (natureza jurídica) que ocorre quando
o responsável pelo crime praticado sem violência à pessoa ou grave ameaça, voluntariamente e
até o recebimento da denúncia ou queixa, restitui a coisa ou repara o dano provocado por sua
conduta.
Art. 16, Código Penal: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de 1 a 2/3.
4.1. Extensão do benefício
Alcança qualquer crime que com ele seja compatível, e não apenas os delitos contra o
patrimônio. Basta que exista um “dano” causado em razão da conduta ilícita. É o caso, por
exemplo, do crime de peculato doloso. Cuida-se de crime que admite o arrependimento
posterior.
No que toca ao “dano” causado, prevalece o entendimento de que a reparação do dano
moral enseja a aplicação do arrependimento posterior. Ex: crimes contra a honra.
Evidentemente que o instituto não se aplica nos delitos em que não há dano a ser
reparado ou coisa a ser restituída. Assim, o arrependimento posterior é cabível em crimes
patrimoniais e diversos, desde que apresentem efeitos de índole patrimonial (STJ).
4.2. Fundamentos
Com raízes em política criminal, funda-se em um duplo aspecto: proteção da vítima, que
deve ser amparada em relação aos danos sofridos; fomento do arrependimento por parte do
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
agente, que se mostra mais preocupado com as consequências de seu ato, reduzindo as chances
de reincidência.
4.3. Requisitos
4.3.1. Natureza do crime
O crime deve ser praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa. Qualquer que seja
o crime que contenha violência ou grave ameaça à pessoa, pouco importa a quantidade de pena,
o instituto é inaplicável.
A violência contra coisa não exclui o benefício.
Em caso de violência culposa, é cabível o arrependimento posterior. Isto porque não
houve violência na conduta, mas sim no resultado. Ex: lesão corporal culposa.
No tocante aos crimes perpetrados com violência imprópria (redução do sujeito à
incapacidade de resistir – ex: amarrar), há divergência. A primeira corrente diz que é possível o
arrependimento posterior, pois a lei só excluiu a violência própria. Se quisesse afastar teria feito
expressamente, como fez no artigo 157 do CP. A segunda corrente não admite o benefício, pois
a violência imprópria é dolosa. É grave a tal ponto que, havendo violência imprópria para
subtrair coisa alheia, o crime deixa de ser furto para ser roubo, delito muito mais grave.
4.3.2. Reparação do dano ou restituição da coisa
Deve ser voluntária, pessoal e integral.
Voluntária: deve ser realizada sem coação física ou moral, não necessitando ser
espontânea.
10 Pessoal: deve ser feita pelo próprio agente, salvo em hipótese de impossibilidade
comprovada, e terceira pessoa, representando-o, procede à reparação do dano ou restituição
da coisa.
Integral: o artigo 16 exige que seja integral, sendo que a reparação parcial não se encaixa
no conceito apresentado pelo artigo. Entretanto, a completude deve ser analisada no caso
concreto, ficando ao encargo da vítima, principalmente, a sua constatação.
O Supremo Tribunal Federal, todavia, já admitiu o arrependimento posterior na reparação
parcial do dano. Nessa linha de raciocínio, o percentual de diminuição da pena (uma dois terços)
existe para ser sopesado em razão da extensão da reparação e da presteza com que ela ocorre.
Limite temporal: deve ser efetuada até o recebimento da denúncia. É irrelevante o
momento em que oferecida a denúncia. Se for após o recebimento da denúncia, mas antes do
julgamento, aplica-se a atenuante genérica prevista no art. 65, III, “b”.
4.4. Comunicabilidade no concurso de pessoas
A reparação do dano ou a restituição da coisa tem natureza objetiva e,
consequentemente, comunica-se com os demais coautores e partícipes do crime, na forma
definida pelo artigo 30 do Código Penal (STJ). Logo, havendo a reparação do dano por um dos
agentes a todos se estende o benefício.
4.5. Critério para redução da pena
Deve o percentual de um a dois terços ser calculado com base na celeridade e na
voluntariedade da reparação do dano ou da restituição da coisa. Lado outro, o STF, em análise
de restituição parcial, já decidiu que o percentual deve ser analisado com base na extensão do
ato reparador.
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
5. CRIME IMPOSSÍVEL
Em continuidade, o Código Penal dispõe em seu artigo 17:
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
5.1. Natureza Jurídica
O crime impossível guarda relação com o instituto da tentativa, por isso estamos
estudando nesta aula. Em ambos, o agente inicia, em seu plano interno, a execução da conduta
criminosa que não alcança a consumação.
Porém, há diferenças.
Na tentativa, é possível atingir a consumação, pois os meios empregados pelo agente são
idôneos, e objeto material contra o qual se dirige a conduta é um bem jurídico suscetível de
sofrer lesão ou perigo de lesão, havendo a exposição efetiva do bem a dano ou perigo.
No crime impossível, também conhecido como crime oco, o emprego de meios ineficazes
ou o ataque a objetos impróprios inviabilizam a produção do resultado, inexistindo situação de
perigo ao bem jurídico penalmente tutelado.
Assim, o crime impossível é uma causa de exclusão da tipicidade, eis que o fato praticado
pelo agente não se enquadra em nenhum tipo penal.
Outros nomes: tentativa inadequada, tentativa inidônea, tentativa impossível, tentativa
irreal ou tentativa supersticiosa e, ainda, quase crime.
12 5.2. Teorias sobre o crime impossível
5.2.1. Teoria objetiva
A responsabilização de alguém pela prática de determinada conduta depende de
elementos objetivos e subjetivos (dolo e culpa).
O elemento objetivo consubstancia-se em perigo de lesão para bens jurídicos penalmente
tutelados, de modo que, em não havendo perigo, seja em razão do meio empregado pelo
agente, seja pelas condições do objeto material, não se configura a tentativa. É a inidoneidade
do meio ou do objeto, que pode ser absoluta ou relativa.
Inidoneidade absoluta é aquela em que o crime jamais poderia chegar à consumação;
relativa, por seu turno, aquela em que a conduta poderia ter consumado o delito, o que somente
não ocorreu em razão de circunstâncias estranhas à vontade do agente.
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
deve ser rejeitada, nos termos do artigo 395, inciso III, do CPP, pois o fato não constitui crime,
faltando condição para o exercício da ação penal.
Se a denúncia for recebida, com a instauração do processo penal, o juiz deve ao final
absolver o réu, nos termos do artigo 386, inciso III, do CPP, pelo motivo de o fato não constituir
infração penal.
Caso o crime seja da competência do Tribunal do Júri, ao final da primeira fase (judicium
accusationis), deverá o acusado ser absolvido sumariamente, nos termos do art. 415, inciso III,
do CPP, em face de o fato não constituir crime.
Habeas corpus não é instrumento adequado para trancamento de ação penal que tenha
como objeto um crime impossível, pois nessa ação constitucional não é cabível a produção de
provas para demonstrar a ineficácia absoluta do meio ou a impropriedade do objeto. Salvo
exceções flagramente teratológicas. Ex: denúncia de homicídio feita por matar um macaco.
5.6. Crime putativo e crime impossível
Putativo é aquilo que aparenta ser real, mas que na verdade não existe. Só está na psique
do agente.
Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto é o que existe apenas na mente do
agente, que acredita violar a lei penal, quando na verdade o fato por ele concretizado não possui
adequação típica, ou seja, não encontra correspondência em um tipo penal.
5.6.1. Espécies de crime putativo
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
15
Observações:
Ex 1: falsificação grosseira de moeda. No crime de moeda falsa do art. 289 do CP, a
falsificação grosseira da moeda afasta o crime e leva a desclassificação do delito para o
estelionato (súmula 73, STJ), visto que ela não tem a aptidão para circular como se verdadeira
fosse e seria percebida a olho nu por qualquer cidadão. Para a moeda falsa, a falsificação
grosseira seria crime impossível [pela absoluta impropriedade do objeto] e, para o estelionato,
pode-se verificar, em tese, o contexto em que ela foi empregada. Ex: nota do banco imobiliário
é falso grosseiro, pois sequer circula no meio bancário, porém, se for passado em meio a um
maço de notas, pode configurar o estelionato. Se for entregue sozinha, nem estelionato
configura, pois não é capaz de enganar ninguém, nem o mais incauto. Atenção: a súmula 73
sempre cai em prova do MPF. Súmula 73 STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente
falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.
O CP adota também, nesse caso, a teoria objetiva temperada, pois se o meio é
ABSOLUTAMENTE ineficaz ou se o objeto é ABSOLUTAMENTE impróprio, o crime será
impossível. Se for relativa a impropriedade, caberá a tentativa.
Ex 2: Uma jovem percebe que está grávida e uma amiga lhe oferece um medicamento
abortivo, ao tomar o remédio não sofre o aborto, pois o comprimido estava vencido há 2 (dois)
anos e o princípio ativo não funcionou. Nesse caso, haverá crime impossível, por absoluta
ineficácia do meio. Todavia, se o remédio estivesse vencido há pouco tempo, dependendo da
hipótese, poderia caracterizar a tentativa, havendo a relativa ineficácia do meio.
Ex 3: Há crime impossível por absoluta impropriedade do objeto quando o agente
pretende o crime de aborto sem a vítima estar grávida.
Ex 4: A súmula 145 do STF afirma que o flagrante provocado incide em crime impossível,
pois impede sua consumação de forma absoluta, não havendo tentativa. [no flagrante
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
________________________________________________________________________
#costurandoatoga
Direito Penal
Iter Criminis
Apostila 06
Dia: 12/01/2019
17
________________________________________________________________________