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MARCOS QUADROS
QUADROS SILVA
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RODADA 02
criminologia
SUMÁRIO
1. A sociologia criminal ................................................................................................................ 3
1.1 A virada sociológica................................................................................................................ 3
1.2 Teorias do consenso ............................................................................................................... 3
1.3 Teorias do conflito .................................................................................................................. 3
2. A escola de Chicago .................................................................................................................. 4
2.1 Histórico .................................................................................................................................. 4
2.2 Conceitos essenciais .............................................................................................................. 5
2.2.1 Desorganização social ......................................................................................................... 5
2.2.2 Áreas de criminalidade ....................................................................................................... 6
2.3 Propostas ................................................................................................................................ 7
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2.4 Críticas .................................................................................................................................... 7


3. A teoria da anomia ................................................................................................................... 8
3.1. Teorias estruturais-funcionalistas e negação do princípio do bem e do mal..................... 8
3.2. Teoria da Anomia de Durkheim ............................................................................................ 9
3.3. Teoria da Anomia de Robert Merton..................................................................................... 11
3.4. Críticas ................................................................................................................................... 12
4.Teoria da subcultura delinquente ............................................................................................ 13
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4.1 Conceito .................................................................................................................................. 13


4.3 Teoria da subcultura delinquente e teoria da anomia ......................................................... 14
4.4 Críticas .................................................................................................................................... 15
4.5 Outros autores relevantes...................................................................................................... 15
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4.6 Questões de fixação ............................................................................................................... 15


5.Teoria da associação diferencial ............................................................................................... 16
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5.1 Conceito .................................................................................................................................. 16


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5.2 Teoria da identificação diferencial ........................................................................................ 18


5.3 Teorias do condicionamento operante e do reforço diferencial .......................................... 18
5.4 Teoria da neutralização .......................................................................................................... 18
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5.5 Críticas .................................................................................................................................... 19


5.6 Questões de fixação ............................................................................................................... 19
6. teoria da rotulação social ........................................................................................................ 20
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6.1 Introdução .............................................................................................................................. 20


6.2 Conceitos ................................................................................................................................ 21
6.3 Críticas .................................................................................................................................... 23
6.4 Questões de fixação ............................................................................................................... 23

2
1. A sociologia criminal

1.1 A virada sociológica

A sociologia criminal representou uma evolução em relação às escolas penais, já


que se afastou do estudo do crime como resultado de fatores biológicos ou antropológicos.
Assim, podem ser chamadas de teorias sociológicas todas aquelas que não tentam explicar a
criminalidade a partir de fatores patológicos individuais. Tais teorias elevam a sociedade ao
patamar de fator criminógeno, deixando de se concentrar exclusivamente no homem delin-
quente, razão pela qual são denominadas de teorias macrossociológicas da criminalidade.1

Baratta afirma que a teoria estrutural-funcionalista da Anomia representa a virada


em direção sociológica efetuada pela criminologia contemporânea, que foi sucedida por ou-
tras escolas.2 Foi, pois, a primeira alternativa à concepção biopsicológica da delinquência, que
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predominava entre os positivistas criminológicos.

O estudo da sociologia criminal pode ser dividido em duas grandes teorias: do


consenso e do conflito.

1.2 Teorias do consenso


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As teorias criminológicas do consenso, também chamadas de teoria da integração,


são representadas pela escola de Chicago, pela associação diferencial, pela teoria da anomia e
pela teoria da subcultura delinquente.
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Pela teoria do consenso, a estrutura social em funcionamento é resultado do con-


senso entre seus membros sobre seus valores. Ou seja, a sociedade é resultado das associa-
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ções voluntárias de pessoas que partilham certos valores e criam instituições, com vistas a
assegurar que a cooperação funcione regularmente. As teorias do consenso têm cunho funcio-
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nalista, já que justificam e legitimam o sistema que está posto.

1.3 Teorias do conflito


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Por outro lado, segundo as teorias criminológicas do conflito, não há acordo entre
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os membros da sociedade sobre seus valores. Na verdade, a coesão e a ordem na sociedade


são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e sujeição de outros. Ou seja,
não seria a associação voluntária das pessoas que faz com que as organizações sociais tenham
coesão, e sim a coerção imposta.

A criminologia do conflito tem como pilares as teorias do labelling approach e da


criminologia crítica.

RESUMO

1) As teorias criminológicas do consenso aceitam o sistema que está posto, estudando o


fenômeno criminal a partir dessa aceitação. Ou seja, sem questionar a organização da so-
ciedade, as teorias do consenso analisam o crime e buscam soluções para evitá-lo.

2) As teorias do conflito, por outro lado, questionam as bases da sociedade em que vive-
1 Viana 193
2 Baratta, 59.

3
mos, propondo mudanças estruturais como forma de combate à criminalidade.

2. A escola de Chicago

2.1 Histórico

Na segunda metade do Século XIX, os Estados Unidos passaram por diversas trans-
formações, com a consolidação da industrialização e o intenso processo migratório para os
centros urbanos. Nesse contexto, as ciências sociais encontraram ambiente propício para seu
desenvolvimento, especialmente na cidade de Chicago, com a criação da Universidade de Chi-
cago em 1892.

A Universidade de Chicago foi resultado do trabalho conjunto de diversos milioná-


rios americanos, especialmente John Rockefeller. Esta instituição revolucionou o meio acadê-
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mico norte-americano, com o intenso investimento em pesquisas científicas.3

O resultado foi a produção de trabalhos em diversas áreas, como criminalidade e


organização urbana, o que era explicado pelo fato de que Chicago havia experimentado recen-
te crescimento urbanístico e econômico na segunda metade do Século XIX, o que ocasionou a
explosão dos índices de criminalidade.4
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Os índices criminais, por sua vez, eram mais acentuados na região periférica, e se
buscou identificar as razões de tal circunstância.

Percebe-se, assim, que a Escola de Chicago relacionou a desorganização urbana


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com o incremento da criminalidade, razão pela qual também é conhecida como Escola Ecoló-
gica.
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É de se salientar, contudo, que os autores da Escola de Chicago não se restringiram


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a analisar como o crime se distribuía pela cidade. Em verdade, também foram feitos estudos
de casos individuais, necessários para o conhecimento das carreiras delinquentes.5
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Como principais expoentes da Escola de Chicago, podemos citar William I. Thomas,


Ernest Burgess, Clifford Shaw e Robert Ezra Park.6
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De William Thomas, a Escola de Chicago recebe o conceito de “desorganização so-


cial”, essencial para sua compreensão, como será visto abaixo.

Por meio de Park, advém a ideia de cidade como organismo vivo, sendo importante
entender os conceitos criados pelo autor, por já terem sido objeto de questão em concurso
público.

ATENÇÃO!

No estudo dos espaços urbanos, Robert Ezra Park desenvolveu alguns importantes con-
ceitos:7

3 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 130.
4 Ibid, 131.
5 Ibid, 136.
6 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 197.
7 https://periodicos.ufsm.br/cienciaenatura/article/download/26613/pdf

4
• Fluidez: desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação.
• Concentração: reunião, em massa, de seres humanos e utilidades, em áreas
favoráveis à satisfação de suas necessidades.
• Centralização: integração de seres humanos e facilidades, ao redor de certos
pontos. Na área central, se concentrariam as atividades econômicas e sociais,
• Segregação: a distribuição dos diversos grupos pelos bairros de uma socieda-
de de acordo com a condição econômica. É a concentração de pessoas em cer-
tos territórios por sua capacidade financeira, ocupando o que se denominou
de “área natural”;
• Invasão: penetração de uma área por um grupo diferente do que a ocupa.
• Sucessão: resultado final de um ciclo de invasão.

O processo de crescimento da cidade descrito por Park foi utilizado por Burgess
para desenvolver o famoso gráfico de círculos concêntricos de divisão da cidade, que será es-
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tudado abaixo.

De Clifford Shaw, advém a análise estatística da delinquência juvenil, constatando-


-se a correlação entre a localização da residência e o respectivo índice de criminalidade.

Um exemplo de aplicação prática das ideias desenvolvidas pela Escola de Chicago são os
Mapas de Riscos de Violência Urbana, desenvolvidos pelo Ministério da Justiça, em 1997,
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os quais analisem os índices de criminalidades nos diferentes bairros dos principais cen-
tros urbanos. Neste Mapa, atribuiu-se Nota socioeconômica aos diversos bairros, com-
posta por referências como “acesso precário à rede de água”; “acesso precário à rede de
esgoto”; “acesso precário à coleta de lixo”. Percebeu-se que, quanto menor a Nota Socio-
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econômica, maior a taxa de homicídios.8


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Feitas tais considerações preambulares, cumpre esclarecer quais foram os resulta-


dos encontrados pelos estudiosos da Escola de Chicago, bem como quais foram suas conclu-
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sões.

2.2 Conceitos essenciais


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Como dito, a Escola de Chicago, em suas pesquisas, discute múltiplos aspectos da


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vida humana, todos eles relacionados com a vida da cidade.

Dois conceitos são essenciais para compreensão do seu pensamento: a ideia de


desorganização social e a de identificação de áreas de criminalidade.

2.2.1 Desorganização social

A ideia de desorganização parte da premissa de que, em uma cidade organizada,


existe uma relação de aproximação entre as pessoas, com a vizinhança se conhecendo.

Esse mecanismo solidário de mútuas relações funcionaria como verdadeiro con-


trole informal, na medida em que um “toma conta” do outro.9

O crescimento desordenado das cidades faz desaparecer esse controle informal,


pois as pessoas vão se tornando anônimas, de modo que a família, a igreja, os vizinhos, etc,
8 http://www.cedec.org.br/files_pdf/Mapasderiscodeviolencia.pdf
9 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 146.

5
não dão mais conta de impedir os atos antissociais.

No mesmo sentido, a ausência do Estado gera uma sensação de anomia, potencia-


lizando o surgimento das denominadas gangues, ou bandos armados.

2.2.2 Áreas de criminalidade

Por sua vez, o conceito de “áreas de criminalidade” consiste no fato de que, em toda
cidade, existe regiões mais propensas ao cometimento de delitos do que outras, geralmente
aquelas mais próximas ao centro. As áreas mais distantes do centro tendem a ser ocupadas
pelas camadas altas, e, por isso, encontram-se mais distantes das áreas de criminalidade.

Para melhor elucidação, cumpre analisarmos a ilustração dos círculos concêntri-


cos, que representam as zonas sucessivas de extensão urbana10:
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O “Loop” representa a zona comercial, com bancos, armazéns, fábricas etc. A se-
gunda zona, denominada de Zona de Transição, é uma zona intermediária, sujeita à invasão
do crescimento econômico, mas também servindo à moradia das pessoas com menor poder
aquisitivo, as quais normalmente desejam abandonar o local, pela proximidade com o baru-
lho e poluição do “Loop”. Nesta área, concentram-se bordéis, pensões baratas e albergues. Em
Chicago, a segunda zona concentrou os imigrantes, formando os guetos.11.

A terceira zona concentra trabalhadores pobres, que conseguiram deixar a Zona de


Transição, mas têm interesse em residir próximo ao local de trabalho. A Zona Quatro concentra
moradias de classe média, enquanto a Quinta Zona é habitada pelas classes mais abastadas,
conhecidas como “commuters” (viajantes, em tradução livre), que são pessoas que se deslo-
cam ao centro urbano apenas para trabalhar.12

10 FAGUDES. Andréa Lucas. A municipalização da Segurança Pública: Estudo de caso em São Leopoldo/RS: Acesso
em https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/12090/000618768.pdf?sequence=1F
11 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p., p. 149.
12 Ibid, p., 149.

6
A partir da divisão acima, concluiu-se que os índices de criminalidade eram maio-
res próximos ao “Loop”, o que poderia ser explicado pela desorganização social destas regiões,
o que fragilizava o controle informal.

Assim, a maioria dos crimes ocorriam nos mesmos bairros, independentemente da


composição étnica.

Frise-se, contudo, que não se trata de determinismo ecológico, mas apenas de re-
lacionar a distribuição da criminalidade com a organização urbana.13 A Escola de Chicago iden-
tificou que o crescimento industrial e a expansão do emprego geraram aglomeração de traba-
lhadores em áreas mais pobres, o que fragilizou o controle social, o que leva à desorganização
e à proliferação de valores delinquentes.

2.3 Propostas
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A Escola de Chicago prioriza a ação preventiva, minimizando a atuação repressiva.


Além disso, defende que qualquer intervenção na cidade deve ser planejada. Deve ser busca-
da, também, a comunhão de esforços dos diferentes segmentos sociais.

Além disso, programas comunitários devem ser priorizados, com a utilização de


atividades recreativas de larga escala, justamente com o objetivo de reforçar os elos, criando
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o controle informal.

Os princípios que devem orientar esta intervenção foram consolidados no Chicago


Area Project, projeto fundado por Clifford Shaw, baseado na “crença inafastável no poder de a
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comunidade se auto-organizar e prevenir ela própria qualquer problema social”.14 Buscava-se,


assim, o desenvolvimento da comunidade como eficaz método de prevenção da criminalida-
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de.
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2.4 Críticas

Critica-se a Escola de Chicago por ter substituído um determinismo positivista para


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um determinismo ecológico. Ou seja, relaciona-se as áreas deterioradas e pobres com a crimi-


nalidade, e as áreas nobres com a ausência de crimes, quando se sabe que nas áreas nobres
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também ocorrem delitos.

Outra crítica que se faz concerne na limitação da investigação dos delitos. Estudos
atuais permitem compreender que alguns delitos são realizados nas áreas de moradias dos cri-
minosos, enquanto outros não. Ou seja, um bairro nobre possui o menor índice de homicídios,
mas possui maior índice de furtos.

A teoria ecológica, igualmente, nunca questionou o conceito de delito, partindo


daquilo que era convencionado no período como ato antissocial.

JÁ CAIU!

Ano: 2018 . Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: DPE-PE Prova: CESPE - 2018 - DPE-PE - De-
fensor Público (ADAPTADA)
13 Ibid, p. 150.
14 FAGUDES. Andréa Lucas. A municipalização da Segurança Pública: Estudo de caso em São Leopoldo/RS: Acesso
em https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/12090/000618768.pdf?sequence=1F

7
Com relação às escolas e às teorias jurídicas do direito penal, assinale a opção correta.15

Na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de Chicago, a chama-


da teoria ecológica ou da desorganização social, que considerava o crime um fenômeno
ligado a áreas naturais.

Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público (ADAP-
TADA)
Sobre as escolas criminológicas, é correto afirmar:

A Escola de Chicago fomentou a utilização de métodos de pesquisa que propiciou o conhe-


cimento da realidade da cidade antes de se estabelecer a política criminal adequada para
intervenção estatal.16
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Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2014 - PC-SP - Médico Legista

São propostas da Escola de Chicago (“ecologia criminal”) para o controle da criminalida-


de:
17

A) política de tolerância zero; criação de programas comunitários com intensificação das


atividades recreativas; aumento das áreas verdes.
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B ) prevalência do controle social formal sobre o informal; criação de comitês de apoios


de pais e mães para a educação das crianças; melhoria das condições das residências e
conservação física dos prédios.
C) aumento das penas para o cometimento de delitos simples; criação de zonas de ex-
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clusão para isolamento das áreas mais perigosas; disseminação de atividades recreativas
como escotismo e viagens culturais.
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D) mudança efetiva nas condições econômicas e sociais das crianças; reconstrução da


“solidariedade social” por meio do fortalecimento das forças construtivas da sociedade
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(igrejas, escolas, associações de bairros); apoio estatal para redução e diminuição da po-
breza e desemprego.
E) controle individualizado, ou seja, controle específico e rígido sobre cada indivíduo; po-
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líticas uniformes em toda a cidade, diante do fracasso das estratégias “por vizinhança”;
implantação de escolas e postos de saúde.
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3. A teoria da anomia

3.1. Teorias estruturais-funcionalistas e negação do princípio do bem e do mal

A teoria da anomia se insere no grupo das teorias estruturais-funcionalistas, que


se notabilizam, especialmente, por entender o crime como fenômeno social, normal e funcio-
nal18. Esta ideia refuta diretamente o “princípio do bem e do mal”, próprio da ideologia social.

De fato, como visto anteriormente, a ideologia da defesa social, que permeou as


Escolas Clássica e Positiva, pode ser explicada a partir de alguns princípios. Um destes é o do
bem e do mal, segundo o qual o delito é um dano para a sociedade e o delinquente é um ele-

15 Gabarito: Certo.
16 Gabarito: Certo.
17 Gabarito: D.
18 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 208.

8
mento negativo do sistema19.

Com a virada sociológica20, elevou-se a sociedade ao patamar de fator criminóge-


no, de modo que os princípios da ideologia da defesa social passaram a ser refutados.

Cada teoria sociológica rebateu com maior ênfase algum dos princípios da ideolo-
gia da defesa social, sendo que, como afirmado, a teoria da anomia refutou o “princípio do
bem e do mal”. Foram dois seus principais pensadores: Émile Durkheim e Robert Merton, cada
um com sua própria concepção.

3.2. Teoria da Anomia de Durkheim

Para Durkheim, existem dois tipos de sociedade, uma primitiva e a contemporânea.


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Na sociedade primitiva, vige uma solidariedade mecânica, no sentido de que exis-


tem poucas diferenças entre os membros que a compõem, partilhando dos mesmos valores.
Na sociedade contemporânea, por outro lado, a solidariedade é orgânica, visto que os indiví-
duos, por conta da divisão do trabalho, não compartilham dos mesmos valores, e esta distin-
ção entre eles pode ocasionar a desintegração dos valores e o enfraquecimento da consciência
coletiva, o que caracteriza a anomia.21
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Assim, a teoria da anomia representa a ausência ou desintegração das normas so-


ciais, que acarreta uma ruptura dos padrões sociais de conduta, produzindo uma situação de
pouca coesão social. Para o sociólogo francês, haverá anomia sempre que os mecanismos ins-
titucionais não estiverem cumprindo o seu papel. Exemplo: a ideia de impunidade favorece a
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criminalidade. Nessas hipóteses, o indivíduo começa a flexibilizar as regras socialmente acei-


tas (ex: é proibido roubar) e começa a praticar comportamentos delituosos.
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Segundo Durkheim, o crime, até certo ponto, seria um fenômeno normal e útil, ten-
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do a pena a função de reforçar a consciência coletiva a respeito dos valores que devem ser pre-
servados. Ou seja, quando um indivíduo pratica um roubo e é devidamente punido, o Estado
transmite a mensagem a todos os cidadãos de que roubar é errado, e de que o patrimônio é
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um bem jurídico tutelado e preservado pelo Estado. É justamente por conta dessa ideia de que
o crime exerceria um papel funcional na sociedade que a teoria da anomia é caracterizada de
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funcionalista.

Contudo, a partir do momento em que os mecanismos institucionais não mais


cumprem seu papel, ou seja, no nosso exemplo, a partir do momento em que o Estado não
mais puna o indivíduo que roube, os cidadãos recebem a mensagem de que o patrimônio não
é mais um bem jurídico importante e tutelado pelo Estado, e é justamente nessa situação que
surge a anomia, pois tais indivíduos não se veem mais obrigados a seguir padrões sociais de
conduta.

Para definir a teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade segundo


Durkheim, valemo-nos das palavras de Alessandro Baratta:

19 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito
penal; tradução Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Editora Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 6ª
edição, outubro de 2011, 3ª reimpressão, agosto de 2016, p. 42.
20 Revisar na Rodada 5.
21 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 208.

9
1) As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropo-
lógicos e naturais (clima, raça), nem em uma situação patológica da estrutura
social.
2) O desvio é um fenômeno normal de toda estrutura social
3) Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do
desvio é negativo para a existência e o desenvolvimento da estrutura social,
seguindo-se um estado de desorganização, no qual todo o sistema de regras
de conduta perde valor, enquanto um novo sistema ainda não se afirmou (esta
é a situação de “anomia”). Ao contrário, dentro de seus limites funcionais, o
comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o de-
senvolvimento sociocultural.22

Importante esclarecer que, para Durkheim, não se poderia considerar o delito como
um sinal de patologia social, tendo em vista que o crime está presente em todas as sociedades.
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O delito, portanto, faria parte da fisiologia e não da patologia da vida social. Em verdade, uma
sociedade sem delitos seria primitiva, como visto anteriormente. Dessa forma, somente nas
hipóteses em que a criminalidade seja excessiva é que pode ser considerada anormal23.

Durkheim verifica, inclusive, uma função positiva no delito, pois provoca e estimula
a reação social, mantendo vivo o sentimento coletivo que a fundamenta24. Não bastasse isso,
conforme Durkheim, o crime desempenha um papel no desenvolvimento moral de uma socie-
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dade, preparando as transformações necessárias.

ATENÇÃO.
Durkheim afirma que o delito seria a antecipação da moral futura, o que pode ser consta-
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tado na realidade, como, por exemplo, na superação do crime de adultério, anteriormen-


te previsto no art. 240 do Código Penal. Foi justamente o desrespeito a esta norma penal
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que antecipou a moral dos dias atuais, que considera absurda a ideia de criminalizar esta
conduta.
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A finalidade da pena, para Durkheim, não seria ressocializar o indivíduo, tampouco


exercer papel de intimação, mas, na verdade, o seu autêntico sentido seria a manutenção da
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coesão e harmonia social, a afirmação da consciência comum e a conservação da solidarieda-


de social. Assim, como afirma Patrick Cacicedo, ao reparar o mal que o crime causa à socieda-
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de, reafirmam-se os valores fundantes da consciência comum.25

Durkheim também elaborou monografia estudando o suicídio, concluindo que, em


tempos de anomia, haveria o aumento das taxas de suicídio. Esta situação anômica, segundo
o autor, poderia ocorrer não somente em momentos de depressão econômica, mas, também,
de expansão acelerada, tendo em vista o descompasso entre o possível sucesso econômico e
os meios lícitos para obtê-lo.26

22 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito
penal; tradução Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Editora Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 6ª
edição, outubro de 2011, 3ª reimpressão, agosto de 2016, p. 59.
23 Ibid, 60.
24 Ibid, 60
25 CACICEDO, Patrick. Pena e Funcionalismo: uma análise crítica da prevenção geral positiva. Rio de Janeiro:
Revan, 2017, p. 89.
26 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito
penal; tradução Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Editora Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 6ª
edição, outubro de 2011, 3ª reimpressão, agosto de 2016, p. 62.

10
Foi justamente desenvolvendo esta última ideia de Durkheim que Robert Merton
elaborou a sua teoria, conforme será abaixo demonstrado.

Ano: 2018. Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público – Re-
aplicação

O funcionalismo na criminologia27:

A) surge com a dogmática contemporânea alemã e suas inovações em matéria de preven-


ção do delito.
B) reúne as escolas que se enquadram na crítica à guerra às drogas e o consequente con-
trole social da pobreza que engendra.
C) opôs-se à Escola Positivista ao propor um modelo social baseado no conflito e no papel
do sistema penal na luta de classes.
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D) fundamenta os movimentos de lei e ordem e de tolerância zero surgidos na Europa na


década de 1980.
E) defende que a pena tem como função a manutenção da coesão e harmonia social em
um quadro social caracterizado pelo consenso.

Ano: 2019. Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: DPE-DF Prova: CESPE - 2019 - DPE-DF - De-
fensor Público
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Acerca dos modelos teóricos da criminologia, julgue o item que se segue.

Estabelecida por Durkheim, a teoria da anomia, que analisa o comportamento delinquen-


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cial sob o enfoque estrutural-funcionalista, admite o crime como um comportamento


normal, ubíquo e propulsor da modernidade.28
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3.3. Teoria da Anomia de Robert Merton


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Para Robert Merton, a sociedade possuía duas estruturas.


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A estrutura cultural consiste no conjunto de valores que orientam a vida dos in-
divíduos (objetivos culturais), ou seja, as metas almejadas pelos membros da coletividade,
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normalmente relacionadas a sucesso financeiro.

A estrutura social representa as oportunidades reais conferidas para alcançar tais


objetivos.

Segundo o autor, haveria anomia na hipótese de forte dissociação entre os objeti-


vos culturais e os mecanismos institucionais disponíveis para alcance desses objetivos.

Essa dissociação provocaria o isolamento social desses indivíduos, exercendo


pressão para que sigam condutas não conformistas (criminosas).

Exemplo: a sociedade atual é extremamente consumista; contudo, boa parte da


população não tem possibilidade de acesso a esses bens de consumo, o que estimula compor-
tamentos criminosos. Segundo o autor, o crime seria uma forma de o delinquente conseguir
alcançar os tais objetivos culturais.
27 Gabarito: E.
28 Gabarito: certo.

11
Vale frisar que não é qualquer desproporção entre os objetivos culturais e a estru-
tura social que representa anomia. Somente no caso de forte discrepância entre tais elemen-
tos é que se pode cogitar uma situação anômica.29

Havendo desproporção entre os objetivos culturais e a estrutura social, Robert Merton


elenca cinco tipos de comportamento:

1) Conformidade: aceitação dos objetivos culturais e dos meios institucionais


2) Inovação: adesão aos objetivos culturais, sem respeito aos meios institucio-
nais
3) Ritualismo: respeito meramente formal aos meios institucionais, sem a per-
secução dos objetivos culturais. Exemplo citado por Shecaira: tímido funcioná-
rio público que mantém ritual diário e burocrático de vinculação às normas e
que não almeja grandes objetivos.30
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4) Apatia ou retraimento: negação dos objetivos e dos meios. Exemplo: alcóo-


latras.
5) Rebelião: além da negação dos objetivos e dos meios, atitude de substitui-
ção destes.

Ano: 2018 .Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Delegado de Po-
lícia
CPF: 061.323.335-25

No tocante às teorias da subcultura delinquente e da anomia, assinale a alternativa cor-


reta.
31

A) Uma das principais críticas às teorias da subcultura delinquente é a de que ela não con-
SILVA -- CPF:

segue oferecer uma explicação generalizadora da criminalidade, havendo um apego ex-


clusivo a determinado tipo de criminalidade, sem que se tenha uma abordagem do todo.
QUADROS SILVA

B) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Durkheim, define-se a partir do sintoma


do vazio produzido no momento em que os meios socioestruturais não satisfazem as
MARCOS QUADROS

expectativas culturais da sociedade, fazendo com que a falta de oportunidade leve à


prática de atos irregulares para atingir os objetivos almejados.
C) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Merton, define-se a partir do momento em
GERSON MARCOS

que a função da pena não é cumprida, por exemplo, instaura-se uma disfunção no corpo
social que desacredita o sistema normativo de condutas, fazendo surgir a anomia. Por-
GERSON

tanto, a anomia não significa ausência de normas, mas o enfraquecimento de seu poder
de influenciar condutas sociais.
D) O utilitarismo da ação é um dos fatores que caracterizam a subcultura deliquencial sob
a perspectiva de Albert Cohen.
E) O sentimento de impunidade vivenciado por uma sociedade é antagônico ao conceito
de anomia identificado sob a ótica de Durkheim.

3.4. Críticas

Critica-se a teoria da anomia, dentre outros motivos, pelo fato de que esta não ex-
plica adequadamente o fato de inúmeras pessoas se encontrarem em situações sociais des-
vantajosas e não praticam crimes.

29 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito
penal; tradução Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Editora Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 6ª
edição, outubro de 2011, 3ª reimpressão, agosto de 2016, p. 63.
30 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 197.
31 Gabarito: A

12
Além disso, a teoria da anomia não explica adequadamente os delitos que não per-
seguem o lucro, tampouco os crimes de colarinho branco.

Por fim, os teóricos da anomia partem de um consenso coletivo acerca dos valores
que importam para determinada sociedade, sendo que, na verdade, este consenso nada mais
é do que um critério imposto pelos grupos que detém o poder e que simplificam as divergên-
cias em benefício dos seus interesses.

4.Teoria da subcultura delinquente

4.1 Conceito

Por cultura, entenda-se os mecanismos de conhecimento, artes, costumes, crenças


de uma sociedade. As subculturas, conforme explica Shecaira, aceitam certos aspectos dos
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sistemas de valores dominantes, mas também expressam sentimentos e crenças exclusivas de


seu próprio grupo. Assim, em boa medida, a subcultura representa os valores da cultura domi-
nante com polaridade negativa.32

Eduardo Viana traz interessante conceituação para as subculturas:33

1) É um grupo com marcas distintas em relação à sociedade oficial por sua par-
CPF: 061.323.335-25

ticular forma de ver o mundo ou cosmovisões


2) Seu código de valores tem certa autonomia, sem chegar, contudo, a despren-
der-se por completo da cultura dominante.
3) Tem uma organização interna que regula as relações de seus membros
SILVA -- CPF:

4) Surge em um modelo de sociedade e plural e heterogênea. É um mecanismo


de “minissociedade” para certas minorias e em alguns casos preparam o jo-
QUADROS SILVA

vem para a carreira criminal adulta.


MARCOS QUADROS

Nesse contexto, válido diferenciar subcultura de contracultura. Enquanto a primei-


ra acolhe parte dos valores da cultura dominante, a contracultura representa a completa nega-
ção dos padrões de comportamentos dominantes.
GERSON MARCOS

Como exemplo de subculturas, podemos citar os hooligans, skinheads e gangues em geral.


GERSON

Como exemplo de contracultura, Shecaira menciona os hippies.34

Dito isso, a teoria da subcultura delinquente encontrou seu maior desenvolvimen-


to com Albert K. Cohen, no livro Delinquent Boys: The Culture of the Gang (1955).

O contexto histórico em que Albert Cohen elaborou os seus estudos é o da decadên-


cia do american dream. Isto é, apesar de os objetivos culturais consistirem basicamente em
metas de enriquecimento, boa parte da juventude (especialmente negra) não possuía ao seu
alcance a estrutura social que permitisse a concretização de tais metas.

A cultura dominante nos Estados Unidos, neste contexto, era definida pela sigla
WASP (White Anglo-Saxon Protestant), ou seja, branco, protestante e anglo-saxão, o que ex-
cluía boa parte da sociedade.

32 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 214.
33 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 228.
34 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 216.

13
Diante dessa situação de exclusão, algumas minorias altamente desfavorecidas se
unem em “gangues”, que possuem uma subcultura criminal, ou seja, um conjunto de valores e
padrões de comportamento que, apesar de acolherem parte dos valores dominantes, são, em
grande medida, a sua negação.

Assim, pode-se dizer que essas “gangues” formam subculturas criminais, sendo
uma reação necessária de algumas minorias altamente desfavorecidas diante da exigência de
sobreviver, de orientar-se dentro de uma estrutura social, apesar das limitadíssimas possibili-
dades legitimas de atuar.

A subcultura, no entanto, não é uma manifestação delinquencial isolada. Como


dito, vários indivíduos (as gangues), cada um dos quais funcionando como objeto de referên-
cia dos outros, chegam de comum acordo a um novo conjunto de critérios e aplicam estes
critérios entre si.
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Pode-se compreender a teoria da subcultura delinquente, portanto, como um com-


portamento de transgressão que é determinado por um subsistema de conhecimento, crenças
e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam formas particulares de comportamento
transgressor.35

Ou seja, os indivíduos que não possuem modelos morais tradicionais na família ou


CPF: 061.323.335-25

na comunidade em que vivem tendem a ser “contagiados” culturalmente por um grupo des-
viado, as chamadas “gangues”, sendo que estas irão impor seu próprio padrão moral.

Essa situação tende a ocorrer, principalmente, entre as classes menos favorecidas,


SILVA -- CPF:

onde é mais comum haver a fragilização dos vínculos familiares.


QUADROS SILVA

4.2 Características da subcultura delinquente


MARCOS QUADROS

Segundo Albert Cohen, a subcultura delinquente caracteriza-se por três fatores: a)


não utilitarismo da ação; b) malícia da conduta; c) negativismo.36
GERSON MARCOS

O não utilitarismo da ação significa que as condutas desviadas praticadas por esses
grupos não têm uma finalidade específica. Muitas vezes, as condutas se justificam pelo puro
GERSON

prazer de praticá-las.

A malícia da conduta, por sua vez, como o nome indica, significa que as condutas
são praticadas pela sensação de desafio em atingir algumas metas proibidas, o prazer de deli-
ciar-se com o desconforto alheio.

O negativismo significa a polaridade negativa ao conjunto de valores da sociedade


obediente às normas sociais. Ou seja, as condutas delinquentes são corretas exatamente por
serem CONTRÁRIAS às normas da cultura mais gerais. Assim, o comportamento padrão dos
grupos delinquentes representa o reverso radical da sociedade convencional.

4.3 Teoria da subcultura delinquente e teoria da anomia

A partir do exposto acima, torna-se inegável a semelhança entre a teoria da subcul-


tura delinquente e a teoria da anomia de Robert Merton, tendo em vista que ambas se fundam
35 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, 219.
36 Ibid., 222.

14
no mesmo contexto histórico, qual seja, a decadência do American Dream, diante da ausência
de iguais oportunidades para atingir os objetivos culturais desejados por todos.

4.4 Críticas

As críticas formuladas à teoria da subcultura delinquente de Albert Cohen se con-


centram principalmente na ausência uma explicação generalizadora da criminalidade, apenas
de manifestações específicas de delinquência juvenil em grandes centros urbanos.

Ou seja, não se analisou a criminalidade e suas causas em um contexto amplo, ape-


nas daquele da delinquência juvenil e formação das gangues em periferias.

4.5 Outros autores relevantes


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Apesar de a obra de Albert Cohen ser a mais comumente citada em concursos públi-
cos ao tratar de subcultura delinquente, válido citar o desenvolvimento de Richard A. Cloward
e L. E. Ohlin, para os quais não só o acesso aos meios legítimos para alcançar os objetivos cul-
turais é desigual, mas também o acesso aos meios ilegítimos.

Isso significa que as pessoas com maior poder aquisitivo têm maior facilidade de
praticar crimes de colarinho branco, enquanto têm maior dificuldade de cometer delitos típi-
CPF: 061.323.335-25

cos do estrato social inferior (crimes de rua).

4.6 Questões de fixação


SILVA -- CPF:

Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público
Sobre as escolas criminológicas, é correto afirmar: (ADAPTADA – CERTO OU ERRADO).37
QUADROS SILVA

A teoria da subcultura delinquente foi o primeiro conjunto teórico a empreender uma ex-
plicação generalizadora da criminalidade.
MARCOS QUADROS

Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: DPE-RO Prova: VUNESP - 2017 - DPE-RO - Defensor Pú-
blico Substituto.
GERSON MARCOS

É possível encontrar relatos em reportagens jornalísticas e em investigações criminais


de situações em que teoricamente o poder do Estado não alcança, exemplo é a teoria de
GERSON

que organizações criminosas mantêm “códigos de condutas” próprios e que execuções


de integrantes das facções são consideradas “justas” dada a gravidade das “infrações”
praticadas dentro das citadas “regras”. Também é possível, ao ouvir uma música com
a expressão “é melhor viver pouco como um rei do que muito como um Zé”, ter a ideia
de que o crime compensaria, pois se fossem respeitadas as regras sociais, a maioria dos
jovens não conseguiria alcançar uma condição de vida satisfatória diante da falta de
oportunidades para a ascensão social.
Os fatos sugeridos podem ser usados como exemplos de quais teorias criminológicas,
também chamadas de teorias do consenso?38

a) Ecologia do Crime e Desorganização Cultural.


b) Labbelling Approach e Reorganização Cultural.
c) Aculturação e Reação História.
d) Distanciamento e Associação Diferencial.
e) Subcultura Delinquente e Anomia.
37 Errado.
38 Resposta: E.

15
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-BA Prova: VUNESP - 2018 - PC-BA - Delegado de Polí-
cia
No tocante às teorias da subcultura delinquente e da anomia, assinale a alternativa cor-
reta.
39

a) Uma das principais críticas às teorias da subcultura delinquente é a de que ela não con-
segue oferecer uma explicação generalizadora da criminalidade, havendo um apego ex-
clusivo a determinado tipo de criminalidade, sem que se tenha uma abordagem do todo.
b)A teoria da anomia, sob a perspectiva de Durkheim, define-se a partir do sintoma do vazio
produzido no momento em que os meios socioestruturais não satisfazem as expectativas
culturais da sociedade, fazendo com que a falta de oportunidade leve à prática de atos
irregulares para atingir os objetivos almejados.
c) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Merton, define-se a partir do momento em que
a função da pena não é cumprida, por exemplo, instaura-se uma disfunção no corpo social
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que desacredita o sistema normativo de condutas, fazendo surgir a anomia. Portanto, a


anomia não significa ausência de normas, mas o enfraquecimento de seu poder de in-
fluenciar condutas sociais.
d) O utilitarismo da ação é um dos fatores que caracterizam a subcultura deliquencial sob
a perspectiva de Albert Cohen.
e) O sentimento de impunidade vivenciado por uma sociedade é antagônico ao conceito
de anomia identificado sob a ótica de Durkheim.
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5.Teoria da associação diferencial

5.1 Conceito
SILVA -- CPF:

A teoria da associação diferencial integra o grupo das teorias da aprendizagem so-


QUADROS SILVA

cial, segundo a qual o crime, como qualquer outro comportamento, é derivado de um proces-
so de aprendizagem. Além da teoria da associação diferencial, integram as teorias da aprendi-
MARCOS QUADROS

zagem social a da identificação diferencial, reforço diferencial e neutralização.40

Esta teoria teve seus aportes iniciais com o pensamento de Edwin Sutherland, o
GERSON MARCOS

qual utilizou como uma de suas principais bases teóricas a obra de Gabriel tarde, que afirmava
que o delinquente era um profissional que necessitava de um aprendizado, assim como todas
GERSON

as profissões precisam de um mestre41.

O pressuposto inicial da associação diferencial é de que o crime é um comporta-


mento que se aprendido, como qualquer outro. Não há, portanto, herança biológica do crime,
mas um processo de aprendizagem que conduz o homem à prática dos atos socialmente re-
prováveis.

A parte decisiva do processo de aprendizagem ocorreria nas relações sociais mais


íntimas. Ou seja, a influência criminógena dependeria do grau de proximidade do contato en-
tre as pessoas.

Pela teoria da associação diferencial, o indivíduo se encontra na constante presen-


ça de estímulos favoráveis e desfavoráveis à prática criminosa. Ou seja, em constante choque
de valores. A pessoa se converteria em delinquente quando os estímulos favoráveis à violação
39 Resposta: A.
40 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 240.
41 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p., p. 172.

16
da lei superam os desfavoráveis.

Conforme Sutherland, o processo pelo qual o comportamento criminoso passa a existir


pode ser explicado pelas seguintes fases:

1) O comportamento criminoso se aprende (não é hereditário);


2) O comportamento criminoso é aprendido em contato com outras pessoas,
por um processo de comunicação;
3) O comportamento criminoso se aprende, com mais vigor, no interior de um
grupo, como família ou amigos íntimos. Mecanismos impessoais exerce pouca
influência na origem da conduta criminosa;
4) Quando o comportamento criminoso é aprendido, este aprendizado inclui
as técnicas de execução do crime e a sua motivação
5) Um indivíduo se faz criminoso quando as influências favoráveis à violação
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da lei superam as desfavoráveis


6) O nível de aprendizado varia por conta da frequência, duração, prioridade e
intensidade.42

Vale frisar que o termo “associações diferenciais” foi cunhado por Sutherland a
partir da percepção de que na sociedade existem diferentes interesses e valores, alguns favo-
ráveis à violação da lei, outros neutros, e outros contrários a esta violação.
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A teoria da associação diferencial, pela primeira vez, promoveu a negação do para-


digma binário crime versus pobreza43, ou seja, a vinculação da criminalidade com a condição
social do indivíduo, visto que o foco da pesquisa de Sutherland foi a criminalidade das classes
SILVA -- CPF:

mais altas – ou de colarinho branco.


QUADROS SILVA

Em 1939, Sutherland proferiu histórica palestra na Sociedade Americana de Sociologia,


sendo um marco na construção da criminalidade de colarinho branco. Para o autor, o cri-
MARCOS QUADROS

me de colarinho branco seria “cometido por pessoa respeitável e com elevado status so-
cial, no curso de seu trabalho” e o criminoso de colarinho branco seria “uma pessoa com
elevado status socioeconômico que violava leis destinadas a regular suas atividades pro-
GERSON MARCOS

fissionais”.44
GERSON

Sutherland analisava criticamente os dados oficiais de criminalidade, ao consi-


derar que estes superdimensionavam a criminalidade da pobreza, e subestimavam os crimes
de colarinho branco, especialmente porque as pessoas mais poderosas mais dificilmente são
presas e processadas, e, quando o são, recebem tratamento mais benevolente do sistema de
justiça penal.45

É possível falar em um tratamento diferencial da resposta penal para os crimes de


colarinho branco, por alguns motivos:

1) Os atores do sistema de justiça penal, além de nutrem um misto de medo e


admiração pelos criminosos;
2) As respostas aos autores dos crimes de colarinho branco geralmente são
não-penais, ao contrário dos crimes patrimoniais, com base na ideia de desne-
42 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p.249.
43 Ibid, p., 239
44 Ibid, p., 239
45 Ibid, p., 239

17
cessidade de ressocialização de tais delinquentes;
3) As consequências dos delitos não são sentidas por toda a comunidade, o que
leva a comunidade jurídica a não querer punir da mesma forma tal espécie de
crime.46

Como dito acima, o pensamento de Sutherland foi desenvolvido por diversas ou-
tras teorias, as quais são denominadas de teorias da aprendizagem social. Dentre estas, válido
citar a teoria da identificação diferencial, as teorias do condicionamento operante e do reforço
diferencial, e a teoria da neutralização.

Vejamos sucintamente cada uma delas.

5.2 Teoria da identificação diferencial


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Conforme a teoria da identificação diferencial, criada por Daniel Glaser, o compor-


tamento criminoso se relaciona com a identificação com modelos de comportamento, não
necessariamente com a associação.

Ou seja, a aprendizagem do comportamento criminoso não exige a associação


entre pessoas, basta que o potencial criminoso se identifique com um modelo de compor-
tamento ilícito e passe a adotá-lo, podendo, inclusive, haver identificação com personagens
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imaginários.

5.3 Teorias do condicionamento operante e do reforço diferencial


SILVA -- CPF:

Para a teoria do condicionamento operante, o aprendizado do comportamento


criminoso é derivado de estímulos contínuos na vida do indivíduo, ou seja, a adoção de um
QUADROS SILVA

modelo de conduta criminal decorre de experiências de vida, como abusos sofridos quando
criança, comportamentos violentos na escola etc.
MARCOS QUADROS

Para a teoria do reforço diferencial, o comportamento criminoso é resultado da re-


lação entre privação e saciedade. Ou seja, as pessoas privadas de algo respondem ao crime de
GERSON MARCOS

forma diferente daqueles saciados, seja nos crimes contra o patrimônio, seja nos crimes contra
a vida. 47
GERSON

5.4 Teoria da neutralização

Conforme a teoria da neutralização, desenvolvida por David Matza e Gresham


Sykes, os delinquentes compartilham o mesmo sistema de valores da sociedade, mas apren-
dem técnicas capazes de neutralizar e justificar o comportamento criminoso, razão pela qual
careceria de sentido a tese de que a criminalidade poderia ser explicada pela existência de
uma subcultura delinquente.

Essa neutralização ocorre por meio de cinco técnicas:48

a) Negação da responsabilidade (“Não foi minha culpa”).


b) Negação da lesão (“Eu imaginei que minha conduta não faria mal a nin-
guém”)
46 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p., 178.
47 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p 257.
48 VIANA, Eduardo. Criminologia. 5ª ed. Ver. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 259

18
c) Negação da vítima (“Ele teve o que merecia”)
d) Condenação dos condenadores (“Todo mundo pega no meu pé”)
e) Apoio à lealdade (“Eu não fiz isto por mim mesmo”)

5.5 Críticas

Uma das críticas que pode ser feita à teoria da associação diferencial é a de que é
insuficiente para explicar o fato de a preponderância de influências favoráveis à prática de cri-
mes não necessariamente induzirá ao cometimento de delitos. Ou seja, a teoria desconsidera
a incidência de fatores individuais de personalidade, ocultos e até inconscientes.49

5.6 Questões de fixação

Ano: 2013 Banca: PGR Órgão: PGR Prova: PGR - 2013 - PGR - Procurador da República
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Criminologia pode ser entendida como a ciência do ser, que visa reunir informações vá-
lidas e confiáveis sobre o “problema criminal”, sendo certo que seu objeto se divide no
estudo empírico e interdisciplinar do crime, do criminoso, da vítima e da reação social.
Diante disso, é incorreto afirmar:50
Para a teoria do crime do colarinho branco considera-se como tal o ilícito perpetrado por
pessoas de elevado status social, no âmbito de suas atividades profissionais, sendo certo
CPF: 061.323.335-25

que, por diversos motivos, tais pessoas gozam de um cinturão de impunidade. Isso não
impede a constatação de que a criminalidade perpassa todas as camadas sociais, ao con-
trário dos estudos que a associavam à pobreza ou à patologias psicológicas, biológicas ou
sociais.
SILVA -- CPF:

Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: PC-MA Prova: CESPE - 2018 -PC-MA - Delegado
QUADROS SILVA

de Polícia Civil
MARCOS QUADROS

De acordo com a teoria de Sutherland, os crimes são cometidos51

a) em razão do comportamento das vítimas e das condições do ambiente.


GERSON MARCOS

b) por pessoas de baixa renda, exatamente em razão de sua condição socioeconômica


desprivilegiada.
GERSON

c) em razão do comportamento delinquente herdado, ou seja, de origem biológica.


d) por pessoas que sofrem de sociopatias ou psicopatias.
e) por pessoas que convivem em grupos que realizam e legitimam ações criminosas.
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: PC-SP Prova: VUNESP - 2018 - PC-SP - Auxiliar de Papi-
loscopista Policial

Segundo a teoria sociológica da criminalidade denominada associação diferencial, é cor-


reto afirmar que52

a) é o grau de autocontrole apresentado por um indivíduo que irá determinar sua maior
ou menor propensão ao crime, autocontrole esse que é adquirido por meio da socializa-
ção familiar.
b) nos termos propostos por Sutherland, a conduta criminosa não é algo anormal, não é
49 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p., p. 185.
50 Resposta: Certo.
51 Resposta: E.
52 Resposta: B.

19
sinal de uma personalidade imatura, de um deficit de inteligência, antes é um comporta-
mento adquirido por meio do aprendizado que resulta da socialização num determinado
meio social.
c) a tensão entre as metas socioculturais recomendadas pelo sistema social e as reais con-
dições de alcançá-las pelos meios legítimos, sobretudo para certos indivíduos, cria um
rompimento por meio do qual as normas sociais entram em conflito com os valores de um
indivíduo ou de uma subcultura exigindo um comportamento ilegal para alcance do fim
legítimo.
d) diferentes atos criminosos são intercambiáveis, porque estes mostram as mesmas ca-
racterísticas como o imediatismo e o baixo grau de esforço. Assim, as diferenças entre
crimes instrumentais e expressivos, ou entre crimes violentos e crimes não coercitivos,
“são sem sentido e enganosas”.
e) as diferenças de aspirações individuais e os meios disponíveis, as oportunidades blo-
queadas e a privação relativa são fatores que, articulados, ocasionam a prática de crimes.
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6. teoria da rotulação social

6.1 Introdução

Como visto anteriormente, as teorias sociológicas podem ser subdividas em do


consenso e do conflito.
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Pela teoria do consenso, a estrutura social em funcionamento é resultado do con-


senso entre seus membros sobre seus valores. Ou seja, a sociedade é resultado das associa-
ções voluntárias de pessoas que partilham certos valores e criam instituições, com vistas a
SILVA -- CPF:

assegurar que a cooperação funcione regularmente


QUADROS SILVA

Por outro lado, segundo as teorias criminológicas do conflito, não há acordo entre
os membros da sociedade sobre seus valores. Na verdade, a coesão e a ordem na sociedade
MARCOS QUADROS

são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e sujeição de outros. Ou seja,
não seria a associação voluntária das pessoas que faz com que as organizações sociais tenham
coesão, e sim a coerção imposta.
GERSON MARCOS

A teoria do labelling approach é um marco das chamadas teorias do conflito. Isso


GERSON

significa o abandono do modelo estático e monolítico de análise social, substituindo-o por


uma perspectiva dinâmica e contínua. Ou seja, segundo Shecaira, a ideia de encarar a socie-
dade como um todo pacífico, sem fissuras interiores, é substituída por uma referência que
aponta as relações conflitivas existentes dentro da sociedade.53

Como visto anterior, os objetos da criminologia são o crime, o criminoso, a vítima e o con-
trole social. Com a teoria do labelling approach, o centro da atenção do pensamento cri-
minológico se volta para o controle social e suas consequências.

O surgimento da teoria ocorreu nos Estados Unidos, de modo que é necessário


analisar o contexto histórico norte-americano para melhor compreendê-la.

Depois da 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram por uma época de rápi-
do crescimento econômico, possibilitando o sucesso financeiro, em especial, da classe média.
Essa circunstância, aliada à união política em face do inimigo comum (União Soviética, duran-
te a Guerra Fria), propiciaram um sentimento de estabilidade e integração que fundamentou
53 Ibid, p. 236

20
as teorias do consenso.54

Na década de 60, contudo, surgem diversos movimentos críticos a este estilo de


vida, dentre os quais se pode citar os hippies e o movimento de luta pela igualdade social, em-
blematizado por Marthin Luther King.

É nesse contexto, portanto, que surge a teoria do etiquetamento social.

ATENÇÃO:
A teoria do etiquetamento social também é denominada de teoria interacionista, teoria
da reação social, teoria da rotulação social, etiquetagem ou labelling approach.

Analisemos os conceitos básicos da teoria.


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6.2 Conceitos

A teoria da rotulação social elevou as instâncias formais ao patamar de fator crimi-


nógeno, de modo que o enfoque dos estudiosos se volta para a reação do Estado aos delitos
praticados.55

Foi Howard Becker, com seu livro Outsiders: studies in the sociology of deviance, o
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autor mais emblemático da teoria.

Pode-se dizer que a teoria do etiquetamento social se baseia no fato de que, após
a criminalização primária, os agentes que praticaram condutas desviantes (criminosas) são
SILVA -- CPF:

submetidos a uma resposta ritualizada e estigmatizante (a prisão), o que provoca o distan-


ciamento social e a redução de oportunidades (estigmatização), fazendo com que surja uma
QUADROS SILVA

subcultura delinquente com reflexos na autoimagem.


MARCOS QUADROS

Após a saída do cárcere, o agente sofre o estigma decorrente da institucionaliza-


ção, e inicia sua carreira criminal, o que gera a reincidência.
GERSON MARCOS

Dessa forma, a teoria do labelling approach não estuda porque as pessoas come-
tem crimes, e sim porque determinadas condutas são definidas como criminosas, e de que
GERSON

forma o controle social sobre tais condutas tem efeitos no aumento da criminalidade.

Para a teoria do labelling approach, a resposta estatal às condutas definidas como


crime tem papel direto nos índices de reincidência, tendo em vista que os agentes desviantes,
durante o período de institucionalização, são submetidos a cerimônias degradantes (corte de
cabelo, ausência de chamamento nominal e demais formas de humilhação) o que acaba por
inserir neles o sentimento de ser criminoso.

Quanto aos efeitos do período de institucionalização, cumpre referenciar a obra de Go-


ffman, o qual trouxe o conceito de instituições totais, que são locais isolados fisicamen-
te do mundo exterior, que produzem um processo de “mortificação do eu”, tendo como
resultado a assunção do estigma e da nova identidade, adquirida durante o prolongado
período de encarceramento.56

54 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p, 237.
55 Ibid., p., 251.
56 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia, 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 263.

21
Além disso, ao sair do cárcere, essas pessoas continuam sendo discriminadas, não
encontrando oportunidades, o que acaba por incentivar a reincidência.

Nesse sentido, cumpre diferenciar a desviação primária da secundária.

A desviação primária é simplesmente a contrariedade às normas, ou seja, o crime


eventual, não recebendo importância dos teóricos do etiquetamento (justamente pelo fato de
que, como dito, não ser objeto de estudo da teoria o motivo de as pessoas praticarem crimes,
e sim o controle social sobre tais condutas). As causas da desviação primária, para os teóricos
do labelling approach, se devem a uma variedade de fatores culturais, sociais, psicológicos e
sociológicos.57

A desviação secundária, por sua vez, representa os comportamentos desviantes


praticados pelo indivíduo já estigmatizado. Ou seja, a desviação secundária se refere às pes-
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soas cujos problemas são criados pela reação social ao crime, o que é justamente o objeto de
estudo da teoria do etiquetamento.

ATENÇÃO:

Os teóricos do etiquetamento social trazem importante conceito denominado de “role


engulfment”, ou seja, mergulho no papel desviante, no sentido de que quanto maior o
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mergulho do agente no estigma que lhe foi imposto, maior a possibilidade de que este se
comporte conforme este estigma.
Exemplo: aquele que foi encarcerado por longo período tem maior probabilidade de in-
corporar o estigma de criminoso do que aquele condenado a cumprir penas restritivas de
SILVA -- CPF:

direitos, exatamente porque, no primeiro caso, o mergulho no papel desviante foi maior.
QUADROS SILVA

Como consequência dos aprendizados da teoria do etiquetamento, pode-se defen-


der a chamada “Política dos quatro D-s”: Descriminalização, Diversão, Devido processo legal e
MARCOS QUADROS

Desinstitucionalização.

Na descriminalização, busca-se reduzir a quantidade de crimes punidos pelo Códi-


GERSON MARCOS

go Penal, limitando os efeitos estigmatizantes das sanções penais.


GERSON

Na diversão – ou diversificação – prioriza-se a utilização de soluções alternativa são


sistema penal, como políticas públicas.

O devido processo legal, por sua vez, se torna necessário para evitar injustas puni-
ções e garantir a adequação da sanção penal aplicada.

A desinstitucionalização, por fim, se refere à necessidade redução do encarcera-


mento, com o enfoque na aplicação de penas alternativas à prisão.

Vale frisar que o Direito brasileiro adotou ensinamentos da teoria, como, por exem-
plo, no sistema progressivo de pena, o que reduz a institucionalização, bem como no direito
ao chamamento nominal. Além disso, os métodos alternativos de solução de conflitos da Lei
dos Juizados Especiais, bem como as penas restritivas de direitos, também são tentativas de
se evitar o processo de institucionalização.

Assim, em conclusão, pode-se dizer que o foco da teoria do labelling approach é


57 Ibid., p., 264.

22
estudar o processo de estigmatização provocado pela resposta estatal à criminalidade, anali-
sando-se suas causas e consequências.

6.3 Críticas

Algumas críticas são feitas à teoria do labelling approach. Inicialmente, o fato de


ter deslocado o centro das atenções da desviação primária para a secundária deixou em se-
gundo plano as causas primeiras da criminalidade.

Da mesma maneira, pode-se dizer que o labelling approach criou um certo deter-
minismo da reação social. Ou seja, segundo os teóricos, havendo a desviação primária, e sendo
o indivíduo submetido aos processos de estigmatização, necessariamente haveria a desviação
secundária, o que não é verdade. Ora, muitos indivíduos são submetidos às humilhações do
cárcere e, mesmo assim, não voltam a delinquir. Vale frisar, contudo, que esse determinismo
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não foi defendido diretamente pelos teóricos.

Ademais, diz-se que a teoria do etiquetamento evita discutir as causas da reação da


sociedade (ou seja, porque determinadas condutas são definidas como crime), limitando-se
a analisar a influência que essa reação exerce sobre o comportamento posterior do desviado.

Por fim, importante destacar que a teoria do etiquetamento social, apesar de te-
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cer críticas às teorias do consenso, não pode ser enquadrada como uma vertente da Crimino-
logia Crítica, tendo em vista que, apesar de ter analisado criticamente as teorias do consen-
so, a teoria do labelling approach não questiona os pilares do Direito Penal e não investiga a
seletividade na criminalização primária.
SILVA -- CPF:

Por esta razão, Alessandro Baratta classifica o labelling approach como uma teoria
QUADROS SILVA

de médio alcance.
MARCOS QUADROS

6.4 Questões de fixação

Ano: 2012 Banca: FCC Órgão: DPE-SP Prova: FCC - 2012 - DPE-SP - Defensor Público. Assi-
GERSON MARCOS

nale a alternativa correta. (ADAPTADO – CERTO OU ERRADO).58


GERSON

A teoria do labelling approach dispõe-se a estudar, dentre outros aspectos do sistema pu-
nitivo, os mecanismos de reação social ao delito e a influência destes na reprodução da
criminalidade.

Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: DPE-PR Prova: FCC - 2017 - DPE-PR - Defensor Público

A criminologia da reação social59

a) concentra seus estudos nos processos de criminalização.


b) corresponde a uma teoria do consenso.
c) explica o comportamento criminoso como fruto de um aprendizado.
d) identificou as subculturas delinquentes.
e) explica a existência do homem criminoso pelo atavismo.
Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: DPE-SC Prova: FCC - 2017 - DPE-SC - Defensor Público Subs-
tituto
58 Resposta: Certo.
59 Resposta: A.

23
A teoria do labelling approach60

também é conhecida como teoria da anomia e exerceu forte influencia sobre o funciona-
lismo penal.
possui uma perspectiva transdisciplinar na discussão da questão urbana e da ecologia
criminal.
surge no Reino Unido na década de 1950 em reação à teoria da associação diferencial.
d)tem o interacionismo simbólico na sociologia como forte influência para seu desenvol-
vimento em ruptura aos modelos de consenso até então imperantes na criminologia.
e)tem sua raiz na sociologia marxista do conflito.

Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-AM Prova: FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público - Re-
aplicação
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Ficaria claro, com ele, que a maneira pela qual as sociedades e suas instituições reagem
diante de um fato é mais determinante para defini-lo como delitivo ou desviado do que a
própria natureza do fato (...).
(Adaptado de: ANITUA, Gabriel Ignacio. Histórias dos pensamentos criminológicos. Rio de
Janeiro: Revan, 2008, p. 588)61

A teoria criminológica descrita na passagem acima é conhecida por


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a) Escola de Chicago.
b) Associação Diferencial.
c) Escola Positivista.
SILVA -- CPF:

d) Reação Social.
e) Garantismo Penal.
QUADROS SILVA

Ano: 2019 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: DPE-MG Prova: FUNDEP (Gestão
MARCOS QUADROS

de Concursos) - 2019 - DPE-MG - Defensor Público


Analise o trecho a seguir.
“De acordo com o Infopen, um sistema de informações estatísticas do sistema penitenciá-
GERSON MARCOS

rio brasileiro desenvolvido pelo Ministério da Justiça, o Brasil tem a quarta maior popula-
ção carcerária do mundo. São aproximadamente 700 mil presos sem a infraestrutura para
GERSON

comportar este número. A realidade é de celas superlotadas, alimentação precária e vio-


lência. Situação que faz do sistema carcerário um grave problema social e de segurança
pública. Além da precariedade do sistema carcerário, as políticas de encarceramento e au-
mento de pena se voltam, via de regra, contra a população negra e pobre. Entre os presos,
61,7% são pretos ou pardos. Vale lembrar que 53,63% da população brasileira têm essa
característica. Os brancos, inversamente, são 37,22% dos presos, enquanto são 45,48%
na população em geral. E, ainda, de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional
(Depen), em 2014, 75% dos encarcerados têm até o ensino fundamental completo, um
indicador de baixa renda.” Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legis-
lativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/>. Acesso em: 17 jan. 2019.

Entre as Teorias Macrossociológicas da Criminalidade, qual alternativa a seguir melhor


identifica a realidade do sistema penal e carcerário brasileiro, de acordo com o trecho
60 Resposta: D.
61 Resposta: D.

24
citado?62

a) Teoria da Lei e Ordem, classificada como uma teoria de consenso. Essa teoria parte da
premissa de que os pequenos delitos devem ser rejeitados de plano, fazendo com que os
delitos mais graves sejam inibidos, atuando como prevenção geral.
b) Teoria do Labelling Approach, classificada como uma teoria de consenso. A teoria afir-
ma que o comportamento criminoso é apreendido, mas nunca herdado, criado ou desen-
volvido pelo sujeito ativo.
c) Teoria da Associação Diferencial, classificada como uma teoria de conflito. Referida te-
oria afirma ser o capitalismo a base da criminalidade, na medida em que promove o ego-
ísmo, o qual, por sua vez, leva os homens a delinquir.
d) Teoria do Etiquetamento, classificada como uma teoria de conflito. Afirma que a crimi-
nalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo
em que se atribui ao indivíduo tal “adjetivo”, principalmente pelas instâncias formais de
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controle social.
MARCOS QUADROS
GERSON MARCOS
GERSON CPF: 061.323.335-25
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QUADROS SILVA

62 Resposta: D.

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