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2021.

Caderno Sistematizado
Caderno Sistematizado
Fazenda Pública
Direito Constitucional –
em
Parte II
Juízo

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CONSTITUCIONAL – PARTE II
APRESENTAÇÃO.............................................................................................................................. 12
DIREITOS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE ............................................................................................ 13
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................................... 13
2. DESTINATÁRIOS ....................................................................................................................... 13
3. DIREITO À VIDA ........................................................................................................................ 14
PREVISÃO CONSTITUCIONAL E CONSIDERAÇÕES .................................................... 14
ÂMBITO DE PROTEÇÃO ................................................................................................... 14
INVIOLABILIDADE x IRRENUNCIABILIDADE .................................................................. 16
RESTRIÇÕES AO DIREITO À VIDA .................................................................................. 17
3.4.1. Pena de morte no caso de guerra declarada .............................................................. 17
3.4.2. Aborto ........................................................................................................................... 17
3.4.3. Interrupção da gravidez de feto com anencefalia ....................................................... 18
3.4.4. Aborto e microcefalia causada pelo Zika Vírus ........................................................... 19
3.4.5. Pesquisas com células-tronco embrionárias ............................................................... 20
4. DIREITO À IGUALDADE ............................................................................................................ 20
PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 20
EVOLUÇÃO HISTÓRIA ...................................................................................................... 21
CONCEPÇÃO MATERIAL .................................................................................................. 21
ÂMBITO DE PROTEÇÃO E INTERVENÇÃO .................................................................... 22
DESTINATÁRIOS DO DEVER DE IGUALDADE ............................................................... 24
4.5.1. Igualdade perante a lei ................................................................................................ 24
4.5.2. Igualdade na lei ............................................................................................................ 24
IGUALDADE COMO RECONHECIMENTO ....................................................................... 25
AÇÕES AFIRMATIVAS ....................................................................................................... 25
4.7.1. Conceito ....................................................................................................................... 25
4.7.2. Modalidades ou exemplos de ações afirmativas empregadas em vários países ...... 26
4.7.3. Sistemas de cotas ........................................................................................................ 26
4.7.4. Lei Maria da Penha ...................................................................................................... 27
5. DIREITO À PRIVACIDADE ........................................................................................................ 28
PREVISÃO .......................................................................................................................... 28
GRAU DE PROTEÇÃO ....................................................................................................... 28
5.2.1. Locais públicos e reservados ...................................................................................... 28
5.2.2. Pessoas públicas e comuns ........................................................................................ 28
5.2.3. Fatos de interesse público e de mero interesse público ............................................. 29
5.2.4. Teoria das Esferas ....................................................................................................... 29
5.2.5. Honra............................................................................................................................ 29
5.2.6. Imagem ........................................................................................................................ 29
DISTINÇÕES CONCEITUAIS............................................................................................. 30
5.3.1. Interceptação ambiental............................................................................................... 30
5.3.2. Gravação clandestina .................................................................................................. 31
5.3.3. Quebra de sigilo de dados ........................................................................................... 32
5.3.4. Interceptação de comunicações .................................................................................. 35
INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO ................................................................................... 40
6. DIREITO DE LIBERDADE.......................................................................................................... 43
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................. 43

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 1
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LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO ................................................... 44
6.2.1. Previsão constitucional ................................................................................................ 44
6.2.2. Âmbito de proteção ...................................................................................................... 44
6.2.3. Restrições .................................................................................................................... 46
LIBERDADE DE INFORMAÇÃO ........................................................................................ 47
6.3.1. Conceito ....................................................................................................................... 47
6.3.2. Liberdade de informação jornalística........................................................................... 48
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO ..................................................... 48
6.4.1. Conceitos ..................................................................................................................... 48
6.4.2. Escusa de consciência (art. 5º, VIII) ............................................................................ 49
6.4.3. Dever de neutralidade do Estado ................................................................................ 51
LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO .................................................................... 53
6.5.1. Conceito ....................................................................................................................... 53
6.5.2. Reunião X Associação (diferenças e semelhanças) ................................................... 54
6.5.3. Reunião ........................................................................................................................ 54
6.5.4. Associação ................................................................................................................... 54
6.5.5. Sindicato....................................................................................................................... 56
7. DIREITO DE PROPRIEDADE .................................................................................................... 57
ÂMBITO DE PROTEÇÃO ................................................................................................... 57
REGIME JURÍDICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE .................................................... 57
RESTRIÇÕES ..................................................................................................................... 57
7.3.1. Função social (art. 5º, XXII) ......................................................................................... 58
7.3.2. Requisição.................................................................................................................... 59
7.3.3. Desapropriação (art. 5º, XXIV) .................................................................................... 59
7.3.4. Expropriação-sanção e Confisco (art. 243, “desapropriação confiscatória”) ............. 61
7.3.5. Usucapião .................................................................................................................... 62
GARANTIAS INDIVIDUAIS ............................................................................................................... 64
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................................... 64
2. FINALIDADE ............................................................................................................................... 64
3. GARANTIAS RELACIONADAS À SEGURANÇA JURÍDICA .................................................... 64
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ............................................................................................ 64
3.1.1. Previsão legal............................................................................................................... 64
3.1.2. Objetivo ........................................................................................................................ 64
3.1.3. Significado .................................................................................................................... 64
3.1.4. “Lei” .............................................................................................................................. 65
3.1.5. Restrições expressas................................................................................................... 65
3.1.6. Princípio da Reserva Legal.......................................................................................... 65
PRINCÍPIO DA NÃO RETROATIVIDADE DAS LEIS ........................................................ 66
3.2.1. Objetivo ........................................................................................................................ 66
3.2.2. Previsão ....................................................................................................................... 66
3.2.3. Abrangência da eficácia retroativa .............................................................................. 67
3.2.4. Direito adquirido ........................................................................................................... 67
3.2.5. Ato jurídico perfeito ...................................................................................................... 69
3.2.6. Coisa julgada ............................................................................................................... 69
4. GARANTIAS DE NATUREZA PENAL ....................................................................................... 70
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA .......................................................................................... 70
4.1.1. Finalidade ..................................................................................................................... 71
4.1.2. Disposições normativas ............................................................................................... 71

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 2
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4.1.3. Posição do STF............................................................................................................ 72
4.1.4. Presunção de inocência e eliminação de concurso público ....................................... 74
5. MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE NÃO CRIMINALIZAÇÃO ............................................. 74
CONCEITO.......................................................................................................................... 75
CRIMES INAFIANÇÁVEIS E IMPRESCRITÍVEIS ............................................................. 75
CRIMES INAFIANÇÁVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA ....................... 75
6. AÇÕES CONSTITUCIONAIS ..................................................................................................... 76
CONSIDERAÇÕES ............................................................................................................. 76
HABEAS DATA ................................................................................................................... 76
6.2.1. Considerações e previsão ........................................................................................... 76
6.2.2. Legitimidade ativa ........................................................................................................ 77
6.2.3. Legitimidade passiva ................................................................................................... 77
6.2.4. Objeto ........................................................................................................................... 78
6.2.5. Objetivo ........................................................................................................................ 78
6.2.6. Hipóteses de cabimento .............................................................................................. 78
6.2.7. Interesse de agir .......................................................................................................... 79
6.2.8. Decisão liminar............................................................................................................. 79
6.2.9. Decisão de mérito ........................................................................................................ 79
AÇÃO POPULAR ................................................................................................................ 80
6.3.1. Considerações ............................................................................................................. 80
6.3.2. Legitimidade ativa ........................................................................................................ 80
6.3.3. Legitimidade passiva ................................................................................................... 81
6.3.4. Objeto ........................................................................................................................... 82
6.3.5. Objetivo ........................................................................................................................ 82
6.3.6. Requisitos específicos ................................................................................................. 83
6.3.7. Competência ................................................................................................................ 83
6.3.8. Decisão liminar............................................................................................................. 84
6.3.9. Decisão de mérito ........................................................................................................ 85
DIREITOS SOCIAIS .......................................................................................................................... 87
2. FINALIDADE ............................................................................................................................... 87
3. EFICÁCIA ................................................................................................................................... 87
4. INTERVENÇÃO JUDICIAL......................................................................................................... 89
PRIMEIRA FASE: AUSÊNCIA DE NORMATIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS
CONSAGRADOS EM NORMAS PROGRAMÁTICAS. ................................................................. 89
SEGUNDA FASE: INTERVENÇÃO ATUANTE DO PODER JUDICIÁRIO, MAS SEM O
ESTABELECIMENTO DE CRITÉRIOS. ........................................................................................ 89
TERCEIRA FASE: CONSOLIDAÇÃO DE PARÂMETROS. .............................................. 89
ARGUMENTOS CONTRA INTERVENÇÃO JUDICIAL ..................................................... 89
4.4.1. Separação dos poderes/legislador positivo................................................................. 90
4.4.2. Ausência de legitimidade democrática ........................................................................ 90
4.4.3. Desenho e capacidades institucionais ........................................................................ 90
4.4.4. Acesso restrito ao Poder Judiciário ............................................................................. 91
4.4.5. Custo dos direitos e reserva do possível .................................................................... 91
PARÂMETROS PARA A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE (STF)...... 91
5. NORMAS CONSTITUCIONAIS PROGRAMÁTICAS ATRIBUTIVAS DE DIREITOS SOCIAIS E
ECONÔMICOS .................................................................................................................................. 92
6. RESERVA DO POSSÍVEL ......................................................................................................... 94
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................. 94
DIMENSÕES ....................................................................................................................... 94

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 3
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6.2.1. Possibilidade Fática ..................................................................................................... 94
6.2.2. Possibilidade Jurídica .................................................................................................. 95
6.2.3. Razoabilidade da exigência e proporcionalidade da prestação ................................. 95
QUEM ALEGA A RESERVA DO POSSÍVEL? ................................................................... 96
NÃO APLICAÇÃO ............................................................................................................... 96
7. MÍNIMO EXISTENCIAL .............................................................................................................. 97
CONCEITO.......................................................................................................................... 97
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA E O MÍNIMO EXISTENCIAL ............................... 98
RESERVA DO POSSÍVEL X MÍNIMO EXISTENCIAL ....................................................... 98
8. VEDAÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL ................................................................................... 99
NOMENCLATURAS E CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................ 99
FUNDAMENTOS ................................................................................................................. 99
DEFINIÇÃO ......................................................................................................................... 99
ACEPÇÕES....................................................................................................................... 100
DIREITOS DE NACIONALIDADE ................................................................................................... 101
NACIONALIDADE PRIMÁRIA OU ORIGINÁRIA ............................................................. 101
NACIONALIDADE SECUNDÁRIA OU ADQUIRIDA ........................................................ 102
1.2.1. Naturalização tácita ................................................................................................... 102
1.2.2. Naturalização expressa ............................................................................................. 102
1.2.3. Naturalização especial ............................................................................................... 103
1.2.4. Naturalização provisória ............................................................................................ 104
2. “QUASE NACIONALIDADE” .................................................................................................... 104
3. DIFERENÇAS DE TRATAMENTO ENTRE BRASILEIRO NATO E NATURALIZADO .......... 104
CARGOS PRIVATIVOS .................................................................................................... 105
CONSELHO DA REPÚBLICA........................................................................................... 105
PROPRIEDADE DE EMPRESA JORNALÍSTICA E DE RADIODIFUSÃO SONORA..... 105
EXTRADIÇÃO ................................................................................................................... 106
4. PERDA DA NACIONALIDADE................................................................................................. 110
AÇÃO DE CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO ..................................................... 110
NATURALIZAÇÃO VOLUNTÁRIA .................................................................................... 110
DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................................................... 112
2. DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS ........................................................................................ 112
SUFRÁGIO ........................................................................................................................ 112
ALISTABILIDADE .............................................................................................................. 113
ELEGIBILIDADE ............................................................................................................... 114
3. DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS ...................................................................................... 115
INELEGIBILIDADES ......................................................................................................... 115
PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS ................................................... 119
4. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL ..................................................................... 120
CONCEITO........................................................................................................................ 120
FINALIDADE ..................................................................................................................... 120
CLÁUSULA PÉTREA ........................................................................................................ 120
5. PARTIDOS POLÍTICOS ........................................................................................................... 121
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ........................................................................................................ 124
FORMAS DE GOVERNO ................................................................................................. 124
SISTEMAS DE GOVERNO............................................................................................... 124
FORMAS DE ESTADO ..................................................................................................... 126
2. TIPOS DE FEDERALISMO ...................................................................................................... 127
QUANTO AO SURGIMENTO ........................................................................................... 127

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 4
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2.1.1. Federalismo por agregação ....................................................................................... 127
2.1.2. Federalismo por segregação ..................................................................................... 127
QUANTO À CONCENTRAÇÃO DE PODER.................................................................... 127
2.2.1. Federalismo centrípeto ou centralizador ................................................................... 127
2.2.2. Federalismo centrífugo .............................................................................................. 127
2.2.3. Federalismo de equilíbrio .......................................................................................... 128
QUANTO À REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS........................................................... 128
2.3.1. Federalismo dualista ou dual ..................................................................................... 128
2.3.2. Federalismo por integração ....................................................................................... 128
2.3.3. Federalismo cooperativo............................................................................................ 128
QUANTO À HOMOGENEIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ................ 128
2.4.1. Federalismo simétrico ou homogêneo ...................................................................... 128
2.4.2. Federalismos assimétrico ou heterogêneo ............................................................... 129
QUANTO ÀS CARACTERÍSTICAS DOMINANTES ........................................................ 129
2.5.1. Federalismo simétrico ................................................................................................ 129
2.5.2. Federalismo assimétrico ............................................................................................ 129
QUANTO ÀS ESFERAS DE COMPETÊNCIA ................................................................. 130
2.6.1. Federalismo típico (bidimensional, bipartite ou de segundo grau) ........................... 130
2.6.2. Federalismo atípico (tridimensional, tripartite ou de terceiro grau) .......................... 130
3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA FEDERAÇÃO ........................................................... 130
DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA FIXADA PELA CONSTITUIÇÃO
130
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO ...................................................................................... 130
AUTO-ORGANIZAÇÃO POR MEIO DE CONSTITUIÇÕES PRÓPRIAS (PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA)............................................................................................................................... 130
REQUISITOS PARA A MANUTENÇÃO DA FEDERAÇÃO ............................................. 131
4. SOBERANIA X AUTONOMIA .................................................................................................. 131
5. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA ........................................................................................ 132
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 132
CRITÉRIOS PARA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ............................................... 132
5.2.1. Campos específicos de competências administrativas e legislativas ...................... 132
5.2.2. Possibilidade de delegação ....................................................................................... 136
5.2.3. Competências comuns .............................................................................................. 136
5.2.4. Competências correntes ............................................................................................ 137
6. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA ..................................................................... 140
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL ................................................................................ 140
ESTADOS ......................................................................................................................... 141
6.2.1. Limites à autonomia ................................................................................................... 142
6.2.2. Princípios constitucionais sensíveis .......................................................................... 142
6.2.3. Princípios constitucionais extensíveis ....................................................................... 143
6.2.4. Princípios constitucionais estabelecidos ................................................................... 144
DISTRITO FEDERAL ........................................................................................................ 144
MUNICÍPIOS ..................................................................................................................... 145
TERRITÓRIOS .................................................................................................................. 149
7. CRIAÇÃO DE ESTADOS E MUNICÍPIOS ............................................................................... 149
INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS .................. 149
7.1.1. Previsão ..................................................................................................................... 149
7.1.2. Distinções ................................................................................................................... 150

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 5
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7.1.3. Requisitos................................................................................................................... 150
7.1.4. Procedimento ............................................................................................................. 151
CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS ..... 151
7.2.1. Previsão e considerações .......................................................................................... 151
7.2.2. Requisitos................................................................................................................... 153
8. INTERVENÇÃO ........................................................................................................................ 153
CONCEITO........................................................................................................................ 153
CARACTERÍSTICAS......................................................................................................... 153
INTERVENÇÃO FEDERAL............................................................................................... 153
8.3.1. Pressupostos materiais.............................................................................................. 154
8.3.2. Pressupostos formais ................................................................................................ 154
8.3.3. Casuísticas ................................................................................................................. 155
8.3.4. Espécies de intervenção ............................................................................................ 155
8.3.5. Controle ...................................................................................................................... 156
INTERVENÇÃO ESTADUAL ............................................................................................ 156
8.4.1. Pressupostos materiais.............................................................................................. 157
8.4.2. Pressupostos formais ................................................................................................ 157
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................................................... 158
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................... 158
2. IMPROPRIEDADE DA EXPRESSÃO TRIPARTIÇÃO DOS PODERES ................................ 158
3. FINALIDADE DA SEPARAÇÃO DE PODERES ...................................................................... 159
LIMITAR O PODER DO ESTADO .................................................................................... 159
LEGITIMAR O EXERCÍCIO DO PODER E MELHORAR O DESEMPENHO DO PODER
O ESTADO ................................................................................................................................... 159
PODER LEGISLATIVO .................................................................................................................... 160
1. ATRIBUIÇÕES DO LEGISLATIVO: FISCALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA.
COMISSÕES PARLAMENTARES .................................................................................................. 160
FISCALIZAÇÃO PELO LEGISLATIVO ............................................................................. 160
CLASSIFICAÇÕES DAS COMISSÕES PARLAMENTARES .......................................... 160
1.2.1. Quanto à duração da comissão ................................................................................. 160
1.2.2. Quanto à composição ................................................................................................ 161
2. ESPÉCIES DE COMISSÃO PARLAMENTAR......................................................................... 161
COMISSÃO TEMÁTICA OU EM RAZÃO DA MATÉRIA (ART. 58, §2º) ......................... 161
COMISSÃO REPRESENTATIVA OU DE REPRESENTAÇÃO ....................................... 162
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI) ...................................................... 162
3. ESTUDOS DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI) .................................... 162
CPI E OS “PODERES PRÓPRIOS DAS AUTORIDADES JUDICIAIS”........................... 162
MANDADO DE SEGURANÇA OU HABEAS CORPUS EM FACE DA CPI .................... 163
OBJETIVOS DA CPI ......................................................................................................... 163
COMPOSIÇÃO DA CPI .................................................................................................... 164
SUJEITOS DA INVESTIGAÇÃO PELA CPI ..................................................................... 164
REQUISITOS PARA A INSTAURAÇÃO DA CPI ............................................................. 164
3.6.1. Requerimento de 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou senadores ............ 165
3.6.2. Apuração de ato determinado ................................................................................... 166
3.6.3. Prazo certo de duração.............................................................................................. 166
PODERES DA CPI ............................................................................................................ 167
3.7.1. Notificar testemunhas e determinar sua condução coercitiva .................................. 167
3.7.2. Busca e apreensão .................................................................................................... 168
3.7.3. Requisitar perícias, exames, vistorias, documentos ................................................. 168

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 6
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3.7.4. Afastar sigilo bancário, fiscal e telefônico (dados), sem necessidade de autorização
judicial 168
LIMITES DA CPI ............................................................................................................... 168
3.8.1. Cláusula de Reserva de Jurisdição (jurisprudência do STF) .................................... 168
3.8.2. Autonomia federativa e separação de poderes ........................................................ 169
3.8.3. Direitos e Garantias Individuais ................................................................................. 170
3.8.4. Medidas acautelatórias .............................................................................................. 170
3.8.5. Acusações .................................................................................................................. 170
QUADRO CPI .................................................................................................................... 170
CPI NO ÂMBITO ESTADUAL ........................................................................................... 171
3.10.1. Requisitos................................................................................................................... 171
3.10.2. Poderes da CPI estadual ........................................................................................... 172
3.10.3. HC e MS ..................................................................................................................... 172
CPI NO ÂMBITO MUNICIPAL .......................................................................................... 172
3.11.1. Fundamentos ............................................................................................................. 172
3.11.2. Poderes ...................................................................................................................... 172
3.11.3. HC e MS ..................................................................................................................... 172
TÉRMINO DOS TRABALHOS DA CPI ............................................................................. 172
4. GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO ................................................................................ 173
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ....................................................................................... 173
SENADORES E DEPUTADOS FEDERAIS ..................................................................... 174
4.2.1. Foro por prerrogativa de função ................................................................................ 174
4.2.2. Imunidade material .................................................................................................... 176
4.2.3. Imunidade formal ....................................................................................................... 178
4.2.4. Outras garantias......................................................................................................... 181
DEPUTADOS ESTADUAIS E DISTRITAIS ...................................................................... 181
4.3.1. Previsão legal e considerações ................................................................................. 181
4.3.2. Foro por prerrogativa de função ................................................................................ 182
IMUNIDADES DOS VEREADORES................................................................................. 183
4.4.1. Foro por prerrogativa de função ................................................................................ 183
4.4.2. Imunidade material .................................................................................................... 183
4.4.3. Imunidade formal ....................................................................................................... 184
5. PERDA DE MANDATO ............................................................................................................ 184
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 184
CASSAÇÃO DO MANDATO ............................................................................................. 185
5.2.1. Conceito ..................................................................................................................... 185
5.2.2. Hipóteses de cassação .............................................................................................. 186
EXTINÇÃO DO MANDATO .............................................................................................. 187
RENÚNCIA DO PARLAMENTAR ..................................................................................... 188
6. PROCESSO LEGISLATIVO ..................................................................................................... 188
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 188
ESPÉCIES DE PROCESSOS LEGISLATIVOS ............................................................... 189
6.2.1. Processo legislativo ordinário .................................................................................... 189
6.2.2. Processo legislativo sumário ..................................................................................... 189
6.2.3. Processos legislativos especiais ............................................................................... 190
7. PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO ...................................................................... 190
FASE INTRODUTÓRIA (INICIATIVA) .............................................................................. 190
FASE CONSTITUTIVA...................................................................................................... 193

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 7
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7.2.1. Discussão ................................................................................................................... 194
7.2.2. Votação ...................................................................................................................... 194
7.2.3. Aprovação .................................................................................................................. 195
7.2.4. Sanção/Veto do Poder Executivo .............................................................................. 198
FASE COMPLEMENTAR ................................................................................................. 199
8. MEDIDAS PROVISÓRIAS (MP’s) ............................................................................................ 200
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 200
EFEITOS IMEDIATOS DA MEDIDA PROVISÓRIA ......................................................... 200
PRAZO DA MEDIDA PROVISÓRIA ................................................................................. 201
REGIME DE URGÊNCIA .................................................................................................. 202
TRÂMITE DA MEDIDA PROVISÓRIA .............................................................................. 203
REVOGAÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA ...................................................................... 205
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS ............... 205
8.7.1. Aspectos formais........................................................................................................ 205
8.7.2. Aspectos materiais ..................................................................................................... 206
LIMITES MATERIAIS ........................................................................................................ 207
MEDIDA PROVISÓRIA NOS ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS .......... 209
9. LEIS DELEGADAS ................................................................................................................... 210
CONCEITO........................................................................................................................ 210
PROCESSO LEGISLATIVO DE LEIS DELEGADAS ....................................................... 210
ESPÉCIES DE DELEGAÇÃO ........................................................................................... 211
LIMITAÇÕES MATERIAIS ................................................................................................ 211
10. DECRETO LEGISLATIVO x RESOLUÇÕES....................................................................... 212
PODER EXECUTIVO ...................................................................................................................... 216
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................... 216
2. SISTEMAS OU REGIMES DE GOVERNO ............................................................................. 216
SISTEMA DE “ASSEMBLEIA” .......................................................................................... 216
PARLAMENTARISMO ...................................................................................................... 217
PRESIDENCIALISMO ....................................................................................................... 217
PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO ............................................................................. 218
3. REQUISITOS PARA SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA .................................................... 218
4. ELEIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ..................................................................... 219
5. POSSE DO PRESIDENTE ....................................................................................................... 221
6. SUCESSÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ................................................................... 222
7. ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ............................................................... 225
8. MANDATO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ..................................................................... 227
9. VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA ..................................................................................... 228
10. MINISTROS DE ESTADO .................................................................................................... 229
REQUISITOS .................................................................................................................... 229
COMPETÊNCIA ................................................................................................................ 229
CRIAÇÃO DE CARGOS ................................................................................................... 230
CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DE DEFESA NACIONAL ........................ 230
11. CRIMES DE RESPONSABILIDADE .................................................................................... 232
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 232
DIPLOMAS NORMATIVOS QUE TIPIFICAM CRIMES DE RESPONSABILIDADES .... 233
SUJEITOS QUE PODEM PRATICAR CRIMES DE RESPONSABILIDADE E
COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO ...................................................................................... 233
12. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ......................... 235
NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 235
COMPETÊNCIA ................................................................................................................ 235

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 8
.
SANÇÃO............................................................................................................................ 235
CONDUTAS QUE IMPORTAM CRIME DE RESPONSABILIDADE ................................ 236
DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO ............................................................................... 236
PROCEDIMENTO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS ..................................................... 237
12.6.1. Oferecimento da denúncia ......................................................................................... 237
12.6.2. Acolhimento do pedido .............................................................................................. 237
12.6.3. Instalação da Comissão Especial.............................................................................. 238
12.6.4. Notificação do Presidente da República ................................................................... 238
12.6.5. Votação do relatório final ........................................................................................... 238
12.6.6. Decisão do Plenário ................................................................................................... 238
PROCEDIMENTO NO SENADO FEDERAL .................................................................... 238
12.7.1. Instauração................................................................................................................. 238
12.7.2. Rito ............................................................................................................................. 239
12.7.3. Presidência................................................................................................................. 239
12.7.4. Absolvição .................................................................................................................. 239
12.7.5. Condenação ............................................................................................................... 240
12.7.6. Renúncia .................................................................................................................... 240
13. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS GOVERNADORES DE ESTADO ..................... 240
INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS ................................................................. 240
PROCEDIMENTO ............................................................................................................. 240
JULGAMENTO .................................................................................................................. 241
SANÇÕES ......................................................................................................................... 242
14. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS MUNICIPAIS ............................... 243
PREVISÃO CONSTITUCIONAL ....................................................................................... 243
TIPOS DE INFRAÇÕES QUE PODEM SER COMETIDAS POR PREFEITOS .............. 243
PROCEDIMENTO DOS CRIMES “DE RESPONSABILIDADE” DO PREFEITO NA LEI
201/67 (NATUREZA PENAL)....................................................................................................... 243
CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS NO DL 201/67 (NATUREZA
POLÍTICO-ADMINISTRATIVA – “VERDADEIRO” CRIME DE RESPONSABILIDADE!) ........... 246
15. PROCESSO E JULGAMENTO CRIMES COMUNS ............................................................ 246
PRATICADOS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA .................................................... 246
15.1.1. Irresponsabilidade penal relativa ............................................................................... 246
15.1.2. Competência .............................................................................................................. 248
15.1.3. Necessidade de autorização ..................................................................................... 248
15.1.4. Procedimento ............................................................................................................. 248
15.1.5. Crimes abrangidos pela expressão “infração penal comum” ................................... 250
PRATICADOS PELO GOVERNADOR ............................................................................. 251
PRATICADOS PELO PREFEITO ..................................................................................... 252
16. RECALL ................................................................................................................................ 253
CONSIDERAÇÕES E CONCEITO ................................................................................... 253
RECALL x IMPEACHMENT .............................................................................................. 253
PODER JUDICIÁRIO ....................................................................................................................... 254
1. GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO ................................................................................... 254
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 254
GARANTIAS FUNCIONAIS DOS MAGISTRADOS ......................................................... 254
1.2.1. Garantias de INDEPENDÊNCIA................................................................................ 254
1.2.2. Garantias de IMPARCIALIDADE ............................................................................... 256
GARANTIAS INSTITUCIONAIS ....................................................................................... 257

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 9
.
1.3.1. Garantia de autonomia orgânico-administrativa ....................................................... 257
1.3.2. Garantia de autonomia financeira/orçamentária ....................................................... 258
2. ÓRGÃO ESPECIAL DO PODER JUDICIÁRIO ....................................................................... 259
3. QUINTO CONSTITUCIONAL ................................................................................................... 259
4. FUNÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO ...................................................................................... 261
FUNÇÕES TÍPICAS .......................................................................................................... 261
4.1.1. Exercício da jurisdição ............................................................................................... 261
4.1.2. Proteção de direitos fundamentais ............................................................................ 261
4.1.3. Defesa da força normativa da Constituição .............................................................. 262
4.1.4. Edição da “legislação judicial” ................................................................................... 262
FUNÇÕES ATÍPICAS ....................................................................................................... 262
4.2.1. Administrativa ............................................................................................................. 262
4.2.2. Legislativa .................................................................................................................. 262
5. ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO ............................................................................. 262
6. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ........................................................................................... 263
ATRIBUIÇÕES DO STF .................................................................................................... 263
COMPOSIÇÃO E REQUISITOS PARA SER MEMBRO DO STF ................................... 263
7. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA...................................................................................... 265
ORIGEM E OBJETIVO DO STJ ....................................................................................... 265
COMPOSIÇÃO DO STJ .................................................................................................... 265
PROCEDIMENTO DE ESCOLHA .................................................................................... 266
7.3.1. Desembargadores...................................................................................................... 266
7.3.2. Advogados ................................................................................................................. 266
7.3.3. Ministério Público ....................................................................................................... 266
8. JUSTIÇA COMUM FEDERAL .................................................................................................. 266
2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS ................................ 266
1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUÍZES FEDERAIS ............................................................. 267
9. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL ............................................................................................... 268
2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS DE JUSTIÇA ................................................... 268
1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUIZ DE DIREITO ............................................................... 268
10. JUSTIÇA ELEITORAL .......................................................................................................... 268
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL................................................................................ 268
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL ................................................................................ 269
JUÍZES ELEITORAIS ........................................................................................................ 270
JUNTAS ELEITORAIS ...................................................................................................... 270
11. JUSTIÇA MILITAR ................................................................................................................ 270
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR ..................................................................................... 270
12. JUSTIÇA DO TRABALHO .................................................................................................... 271
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO ......................................................................... 271
TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO ....................................................................... 271
JUÍZES DO TRABALHO ................................................................................................... 272
13. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ................................................................................ 272
NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 272
ATRIBUIÇÕES .................................................................................................................. 272
COMPOSIÇÃO .................................................................................................................. 273
COMPETÊNCIAS DO CNJ ............................................................................................... 275
AÇÕES PROPOSTAS CONTRA O CNJ .......................................................................... 277
14. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO ........................................................ 280
COMPOSIÇÃO .................................................................................................................. 280

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 10
.
DIFERENÇAS NAS REGRAS DE NOMEAÇÃO E DESTITUIÇÃO DO PROCURADOR-
GERAL DA REPÚBLICA E DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA .................................... 281
CONFLITOS DE ATRIBUIÇÕES ...................................................................................... 282
15. RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL.................................................................................... 286
ORIGEM ............................................................................................................................ 287
NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 287
OBJETO DA RECLAMAÇÃO............................................................................................ 287
15.3.1. Preservação de competência .................................................................................... 288
15.3.2. Garantir a autoridade das decisões........................................................................... 288
LEGITIMIDADE ATIVA...................................................................................................... 290
16. SÚMULA VINCULANTE ....................................................................................................... 290
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 290
FUNDAMENTOS NORMATIVOS ..................................................................................... 291
NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 291
OBJETO ............................................................................................................................ 291
REQUISITOS .................................................................................................................... 292
16.5.1. Reiteradas decisões sobre matéria constitucional .................................................... 292
16.5.2. Iniciativa ..................................................................................................................... 292
16.5.3. Quórum ...................................................................................................................... 293
16.5.4. Publicação .................................................................................................................. 293
16.5.5. Efeito vinculante ......................................................................................................... 293
CANCELAMENTO ............................................................................................................ 294
17. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E RECURSOS ESPECIAIS ........................................ 294
CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................ 294
PREQUESTIONAMENTO................................................................................................. 298
PRÉVIO ESGOTAMENTO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS ........................................ 299
IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS ........................................... 300
REPERCUSSÃO GERAL ................................................................................................. 300
HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RE ............................................................................. 301
HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RESP ........................................................................ 302
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS ............................................... 305
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................... 305
2. NORMAS GERAIS COMUNS AO SISTEMA CONSTITUCIONAL DAS CRISES .................. 305
TEMPORARIEDADE......................................................................................................... 305
PROPORCIONALIDADE .................................................................................................. 306
DELIMITAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ......................................................... 306
MOTIVAÇÃO ..................................................................................................................... 307
3. ESTADO DE DEFESA ............................................................................................................. 308
CONCEITO........................................................................................................................ 308
EFEITOS ........................................................................................................................... 309
CONTROLE DOS ATOS DO PODER EXECUTIVO ........................................................ 309
4. ESTADO DE SÍTIO................................................................................................................... 312
CONCEITO........................................................................................................................ 312
EFEITOS ........................................................................................................................... 312
RESPONSABILIZAÇÃO PELAS MEDIDAS EXECUTIVAS ............................................. 313

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 11
.
APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Sistematizado de Direito Constitucional, está dividido em Parte I e Parte II, possui
como base as aulas do Prof. Marcelo Novelino (G7), complementadas com as aulas do Prof.
Bernardo Fernandes, com o intuito de deixar o material mais completo, utilizados as seguintes
fontes complementares: a) Constituição Federal para Concursos, 2019, (Marcelo Novelino e Dirley
da Cunha Jr.); b) Curso de Direitos Constitucional, 2018, (Dirley da Cunha Júnior) e c) Curso de
Direito Constitucional, 2020, Bernardo Gonçalves Fernandes.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!!

Equipe Cadernos Sistematizados.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 12
.
DIREITOS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Serão analisados o direito à vida, o direito à igualdade, o direito à privacidade, o direito de


liberdade e o direito à propriedade. Pertinente destacar que o direito à privacidade não está previsto
no caput do art. 5º, mas pode ser extraído de seus incisos, conforme veremos.

Destaca-se, ainda, que o direito à segurança, previsto no caput do art. 5º, refere-se à
segurança jurídica, que não é um direito individual, mas sim uma garantia para que os direitos sejam
protegidos, a exemplo do habeas corpus que protege o direito de liberdade. Portanto, será analisada
em tópico separado.

Obs.: A segurança pública, prevista no art. 6º da CF, será analisada na parte dos direitos sociais.

2. DESTINATÁRIOS

Observe a redação do art. 5º da CF:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

De acordo com a interpretação literal (José Afonso da Silva) do dispositivo, percebe-se


que apenas os brasileiros natos e naturalizados (pessoas físicas e jurídicas) e apenas os
estrangeiros residentes no Brasil são os titulares dos direitos e garantias individuais. Contudo, não
prevalece tal entendimento, isso porque, de acordo com a melhor doutrina, os direitos e garantias
fundamentais visam a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana (qualidade intrínseca
de todo ser humano, independentemente de qualquer condição).

Para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para a esmagadora doutrina, deve ser dada uma
interpretação extensiva ao art. 5º da CF, ou seja, os direitos e garantias INDIVIDUAIS possuem
como destinatários os brasileiros (pessoas físicas – natos e naturalizados – e as pessoas jurídicas),
os estrangeiros residentes no país e, também, os estrangeiros não residentes. Em razão da
dignidade da pessoa humana e da primazia dos direitos humanos nas relações internacionais (art.
4º, II da CF).

STF – HC 94.016/SP: O súdito estrangeiro, mesmo aquele sem domicílio no


Brasil, tem direito a todas as prerrogativas básicas que lhe assegurem a
preservação do status libertatis e a observância, pelo Poder Público, da
cláusula constitucional do due process. [...] A condição jurídica de não
nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir
domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de
qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 13
.
As pessoas jurídicas (inclusive de direito público) também são destinatárias dos direitos e
garantias fundamentais, tendo em vista que em um Estado Democrático de Direito não podem ser
admitidas condutas arbitrárias. Obviamente, não serão todos os direitos e garantias, na maioria dos
casos estão relacionadas a garantias procedimentais.

STF - AC 2.395 MC/PB: A imposição de restrições de ordem jurídica, pelo


Estado, quer se concretize na esfera judicial, quer se realize no âmbito
estritamente administrativo (como sucede com a inclusão de supostos
devedores em cadastros públicos de inadimplentes), supõe, para legitimar-se
constitucionalmente, o efetivo respeito, pelo Poder Público, da garantia
indisponível do ‘due process of law’, assegurada, pela Constituição da
República (art. 5º, LIV), à generalidade das pessoas, inclusive às próprias
pessoas jurídicas de direito público, eis que o Estado, em tema de limitação
ou supressão de direitos, não pode exercer a sua autoridade de maneira
abusiva e arbitrária. Doutrina. Precedentes

3. DIREITO À VIDA

PREVISÃO CONSTITUCIONAL E CONSIDERAÇÕES

O Direito à Vida está consagrado no caput do art. 5º da CF, é o mais importante dos direitos
fundamentais, tendo em vista que é pressuposto para o exercícios dos demais direitos. Afinal, para
que seja possível exercer qualquer outro direito individual (igualdade, propriedade, privacidade e
liberdade) o direito à vida deve ser assegurado.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do DIREITO À VIDA, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:...

ÂMBITO DE PROTEÇÃO

Todos os direitos fundamentais, salvo o direito à igualdade, possuem um âmbito de proteção,


ou seja, protegem determinado bem jurídico.

Em relação ao direito à vida, o bem jurídico protegido é APENAS a vida humana em sentido
biológico. Perceba, portanto, que a vida espiritual não recebe proteção do art. 5º da CF, será
protegida pelo direito de liberdade religiosa.

Ressalta-se que o direito à vida compreende duas acepções, uma negativa e outra positiva.
Vejamos:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 14
.
ACEPÇÃO NEGATIVA ACEPÇÃO POSITIVA

Corresponde ao dever de respeito, é o direito Corresponde ao dever de proteção e


de permanecer vivo. Portanto, impede que o promoção do direito à vida, impondo ao
Estado ou terceiros ceifem a vida humana. Estado o dever de agir.

Vedação da pena de morte (salvo em caso Proteção de testemunhas;


de guerra declarada).
Proteção contra violência doméstica e
familiar;

Promoção de condições dignas de existência


(mínimo existencial).

Além disso, o direito à vida (como todo e qualquer direito fundamental) possui duas
dimensões, quais sejam:

DIMENSÃO SUBJETIVA DIMENSÃO OBJETIVA

É a perspectiva do indivíduo, titular do direito. Consagração de valores, de fins importantes


Por exemplo, o indivíduo possui direito à para a sociedade como um todo.
vida, à liberdade, à igualde, à propriedade.

Analisando os votos da ADI 3510, que tinha como objeto a Lei de Biossegurança por permitir
a pesquisa com células-tronco embrionárias, pode-se perceber a adoção das duas dimensões. O
Ministro Ayres Britto analisou o direito à vida em sua dimensão subjetiva e o Ministro Ricardo
Lewandowski analisou o direito à vida em sua dimensão objetiva.

De acordo com Ayres Britto, a Constituição não se refere ao exato momento em que a vida
humana tem o seu início. Porém, toda vez que se refere à inviolabilidade do direito à vida, trata do
direito à vida das pessoas que já nasceram, e não da vida do embrião ou do feto (interpretação
sistemática da Constituição). Garante-se a inviolabilidade à vida aos brasileiros natos ou
naturalizados, bem como aos estrangeiros residentes no país, perceba que todos são pessoas que
já nasceram. Portanto, o embrião e o feto não têm o direito à vida protegido pela CF. A legislação
infraconstitucional, a exemplo do Código Penal, é que protege o direito à vida do embrião e do feto.

STF - ADI 3.510 (Ayres Britto): o Magno Texto Federal não dispõe sobre o
início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não faz de
todo e qualquer estádio (etapa) da vida humana um autonomizado bem
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque
nativiva (teoria ‘natalista’, em contraposição às teorias ‘concepcionista’ ou da
‘personalidade condicional’).

Por outro lado, para Ricardo Lewandowski o direito à vida tem que ser analisado não em
sua dimensão subjetiva (perspectiva do titular do direito), mas na perspectiva da coletividade, já que
é um valor extremamente importante.

STF - ADI 3.510 (Lewandowski): Creio que o debate deve centrar-se no direito
à vida entrevisto como um bem coletivo, pertencente à sociedade ou mesmo

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 15
.
à humanidade como um todo, sobretudo tendo em conta os riscos potenciais
que decorrem da manipulação do código genético humano.

INVIOLABILIDADE x IRRENUNCIABILIDADE

O direito à vida é, além de inviolável, irrenunciável.

INVIOLABILIDADE IRRENUNCIABILIDADE

Proteção contra violação por parte de Protege contra o PRÓPRIO TITULAR. Em


TERCEIROS e do ESTADO princípio, a pessoa não possui o direito de
renunciar sua própria vida.

De acordo com a doutrina, todos direitos fundamentais são irrenunciáveis. Em outras


palavras, não pode haver renuncia definitiva do direito (embora possa não ser exercido
temporariamente).

Importante consignar que nenhum direito fundamental é absoluto, nem mesmo o direito à
vida. Há hipóteses em que, apesar da inviolabilidade, outros valores de peso maior, no caso
concreto, irão prevalecer, justificando sua a restrição.

Poderá, ainda, haver conflito entre o direito à vida e outro direito fundamental, a exemplo do
direito à liberdade religiosa. É o que ocorre, por exemplo, com as Testemunhas de Jeová. Em razão
de sua fé, não aceitam receber transfusões de sangue, mesmo que isso coloque sua vida em risco.
Havendo tratamentos alternativos, não há dúvidas de que não podem ser obrigadas a receber
transfusão de sangue. Contudo, quando a transfusão for a única forma de mantê-la vida, segundo
Novelino deve-se observar a plena capacidade para renunciar ao seu direito à vida em razão da
liberdade religiosa, não poderá o Estado impor o recebimento da transfusão quando a pessoa
plenamente capaz manifesta a sua vontade.

Destaca-se que caso a pessoa esteja gravemente ferida, por exemplo em coma, e tenha
deixado documento escrito negando o recebimento de sangue de terceiros, a transfusão poderá
ocorrer, eis que não pode manifestar sua vontade no exato momento. Isso vale em relação aos
menores, o pai/a mãe, por seus crenças religiosas, não possuem o direito de impedir a transfusão
de sangue no filho.

O Conselho da Justiça Federal criou um enunciado a respeito do tema e adotou uma diretriz
que considerada adequada:

Enunciado n. 403 (CJF): O direito à inviolabilidade de consciência e de


crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à
pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue,
com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde
que observados os seguintes critérios:
a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou
assistente;
b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e
c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do
declarante

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 16
.
RESTRIÇÕES AO DIREITO À VIDA

Consistem em intervenções, constitucionalmente previstas (expressa ou implicitamente),


que permitem a limitação do direito à vida.

Ressalta-se que a restrição não pode ser confundida com violação, que é uma intervenção
inconstitucional no direito à vida.

3.4.1. Pena de morte no caso de guerra declarada

Trata-se da única restrição expressa na Constituição (art. 5º, XLVII, a). Observe:

CF, art. 5º, XLVII –“não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

É o Código Penal Militar que regulamenta o dispositivo constitucional, prevendo que a pena
de morte será executada por fuzilamento.

Veja como foi cobrado:

PC/GO (2018): Constituição (CRFB) admite como possível a pena de morte em caso de guerra declarada.
Correto!

3.4.2. Aborto

O aborto em algumas hipóteses é admitido no ordenamento jurídico brasileiro, seja por


previsão legal expressa (art. 128 do CP) seja pela jurisprudência do STF.

CP, art. 128: Não se pune o aborto praticado por médico:


I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Não há óbice para o legislador infraconstitucional limitar um direito fundamental consagrado


na CF, pois a restrição está fundamentada em outro direito fundamental, passando, obviamente,
pelo crivo da proporcionalidade. Desta forma, se a medida adotada for apta a atingir o fim almejado,
necessária e proporcional em sentido estrito, é constitucional.

Diante disso, o legislador ponderou entre o direito à vida e outros direitos, criando duas
hipóteses em que o direito à vida sofrerá restrições legítimas.

1º ABORTO TERAPÊUTICO OU NECESSÁRIO – há colisão entre dois direitos à vida, de


um lado o feto e do outro a mãe. O Estado não pode obrigar a mãe a colocar sua vida em risco,
seria caso de estado de necessidade ou de legítima defesa.

2º ABORTO SENTIMENTAL – é o abordo decorrente de estupro. Há ponderação entre


direito à vida do feto e a dignidade da pessoa humana da mãe, além de sua liberdade sexual. Seria
uma espécie de tortura psicológica obrigar a mulher, que sofreu o ato violento, gerar uma criança
contra a sua vontade.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 17
.
Há alguns autores, no entanto, que sustentam que o direito à vida é inviolável e a dignidade
é um direito absoluto, portanto o art. 128, II não teria sido recepcionado pela Constituição Federal.

Obs.: Embora o CP criminalize o aborto, a 1ªTurma do STF (voto condutor de Luís Roberto Barroso)
adotou o entendimento de que o CP deve ser interpretado à luz da CF, a fim de que o aborto
realizado no primeiro trimestre de gestação não pode ser criminalizado.

STF – HC 124.306/RJ (1ª Turma): “[...] 3. Em segundo lugar, é preciso conferir


interpretação conforme a Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do Código
Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de
incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro
trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos
fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade
[...] 7. Anote-se, por derradeiro, que praticamente nenhum país democrático
e desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante o primeiro
trimestre como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido,
Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.”

A questão está sendo analisada no julgamento da ADPF 442, proposta pelo PSOL.

Argumentos (PSOL): os dois dispositivos do Código Penal afrontam postulados


fundamentais como a dignidade da pessoa humana, a cidadania, a não discriminação, a
inviolabilidade da vida, a liberdade, a igualdade, a proibição de tortura ou o tratamento desumano e
degradante, a saúde e o planejamento familiar das mulheres e os direitos sexuais e reprodutivos.

Marcelo Novelino destaca que o argumento mais importante está relacionado à saúde. Há
estudos que comprovam que o Brasil realiza um milhão de abortos clandestinos por ano, gerando
inúmeras consequências, principalmente, para as mulheres de baixa renda, que colocam em risco
sua própria vida.

Observe os itens considerados corretos na questão cobrada na prova da DPE/SP, em 2019:

Uma mulher, no primeiro mês de gestação de uma gravidez indesejada, procura orientação jurídica na
Defensoria Pública a respeito da possibilidade de realização de aborto. Nesse contexto:
III. Explicar as hipóteses previstas no Código Penal e pela interpretação do STF (ADPF 54), nas quais o aborto
não é punido, e que está pendente de julgamento no STF a ADPF 442, que busca dar interpretação conforme
a Constituição aos artigos 124 e 126 do Código Penal, a fim de que se declare a sua não recepção parcial,
para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção da gestação indesejada e voluntária realizada nas
primeiras 12 semanas. Correto!
IV. Esclarecer que há um precedente na decisão proferida no HC 124.306/RJ, julgado pelo STF, em que não
se manteve prisão preventiva de réus que respondiam criminalmente pela prática de aborto por se considerar
fato não típico por violação da Constituição (direitos fundamentais das mulheres à vida, à liberdade, à
integridade física e psicológica, à igualdade de gênero, à autonomia, à saúde e ao planejamento familiar) e
da regra da proporcionalidade, o que viabilizaria a impetração em favor dela de um habeas corpus preventivo
com os mesmos fundamentos. Correto!

3.4.3. Interrupção da gravidez de feto com anencefalia

Anencefalia consiste na malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela ausência parcial


do encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural durante o
desenvolvimento embrionário.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 18
.
O CFM, mediante a Resolução 1.752/2004, considera os anencéfalos natimortos cerebrais.
Desse modo, segundo o Min. Marco Aurélio, os fetos anencéfalos jamais se tornariam pessoa.
Assim, não se trata de vida em potencial, porém, seguramente, de morte.

Para o STF (ADPF 54), é inconstitucional a interpretação segundo a qual a interrupção da


gravidez de feto anencéfalo seria conduta tipificada nos arts. 124, 126 e 128, I e II, do CP. A
interrupção da gravidez de feto anencéfalo é atípica. Não se exige autorização judicial para que o
médico realize a interrupção de gravidez de feto anencefálico. Assim, médicos que fazem a cirurgia
e as gestantes que decidem interromper a gravidez não cometem crime de aborto. Esta conduta é
considerada atípica (atipicidade formal).

Por fim, não há conflito entre o direito à vida dos anencéfalos e o direito da mulher à
dignidade. Isso porque, segundo o Min. Relator, direito à vida de anencéfalo seria um termo
antitético considerando que o anencéfalo, por ser absolutamente inviável, não seria titular do direito
à vida. Assim, o alegado conflito entre direitos fundamentais seria apenas aparente. Assentou que
o feto anencéfalo, mesmo que biologicamente vivo, porque feito de células e tecidos vivos, seria
juridicamente morto, de maneira que não deteria proteção jurídica, principalmente a jurídico-penal.
Corroborou esse entendimento ao inferir o conceito jurídico de morte cerebral da Lei 9.434/97, de
modo que seria impróprio falar em direito à vida intra ou extrauterina do anencéfalo, natimorto
cerebral. Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria crime contra a
vida, porquanto se revelaria conduta atípica

3.4.4. Aborto e microcefalia causada pelo Zika Vírus

Em razão do Zika Vírus muitas crianças nasceram com microcefalia, a Anadep então ajuizou
uma ADPF para que o STF, apontando omissão do poder público quanto à possibilidade de
interrupção da gravidez nas políticas de saúde para mulheres grávidas infectadas pelo zika. Além
disso, requereu a inconstitucionalidade do enquadramento de mulheres nessa situação ao art. 124
do Código Penal.

Veja a notícia do dia 01 de maio de 2020 retirada do site do STF:

STF julga prejudicada ação sobre lei de combate a doenças transmitidas pelo
Aedes aegypti. Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal
(STF), em sessão virtual concluída nesta quinta-feira (30)), julgou prejudicada
a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5581, ajuizada pela Associação
Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) contra dispositivos da Lei
13.301/2016, que trata de medidas de vigilância em saúde relativas aos vírus
da dengue, da chikungunya e da zika. O colegiado acompanhou a relatora,
ministra Cármen Lúcia, pela perda do objeto da ação, diante da revogação
do principal ponto questionado pela Medida Provisória 894/2019, que institui
pensão vitalícia a crianças com microcefalia decorrente do zika vírus.
A ADI foi ajuizada juntamente com ação de arguição de descumprimento de
preceito fundamental (ADPF). A entidade alegava diversas omissões do
Poder Público no acesso à informação, a cuidados de planejamento familiar
e aos serviços de saúde e pedia a declaração de inconstitucionalidade do
enquadramento da interrupção da gestação em relação à mulher infectada
pelo zika vírus no artigo 124 do Código Penal. Para a relatora, a Anadep não
tem legitimidade para a propositura da ADPF. A ministra ressaltou que a
jurisprudência do STF somente reconhece a legitimidade das entidades de
classe nacionais para o ajuizamento de ação de controle abstrato se houver

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 19
.
nexo de afinidade entre os seus objetivos institucionais e o conteúdo dos
textos normativos. No caso, ela não constatou interesse jurídico da
associação de procuradores nas normas e políticas públicas questionadas.

Importante consignar que o Ministro Barroso fez ressaltou que a Anadep possui legitimidade
para ajuizar ADPF afirmando “ter direito de questionar normas que afetam os interesses de pessoas
hipossuficientes, que sentem, de forma mais acentuada, os impactos tanto da epidemia do Zika
vírus quanto da criminalização da interrupção da gestação”. Além disso, fez a seguinte reflexão:

“A extinção das ações adia a discussão de um tema que as principais


supremas cortes e tribunais constitucionais do mundo em algum momento já
enfrentaram: o tratamento constitucional a ser dado à interrupção de
gestação, aos direitos fundamentais da mulher e à proteção jurídica do feto.
A reflexão que se segue, portanto, parece-me necessária e, em rigor,
transcende a questão da Zika e da microcefalia, alcançando os direitos
reprodutivos das mulheres de maneira geral. O aborto é um fato indesejável,
e o papel do Estado e da sociedade deve ser o de procurar evitar que ele
ocorra, dando o suporte necessário às mulheres. Essa é a premissa sobre a
qual se assenta o raciocínio aqui desenvolvido. Reitero, porém, o meu
entendimento, já manifestado em decisão anterior (HC 124.306), de que o
tratamento do aborto como crime não tem produzido o resultado de elevar a
proteção à vida do feto. Justamente ao contrário, países em que foi
descriminalizada a interrupção da gestação até a 12ª semana conseguiram
melhores resultados, proporcionando uma rede de apoio à gestante e à sua
família. Esse tipo de política pública, mais acolhedora e menos repressiva,
torna a prática do aborto mais rara e mais segura para a vida da mulher

3.4.5. Pesquisas com células-tronco embrionárias

O STF adotou o entendimento de que as pesquisas podem ser realizadas porque promovem
outros direitos consagrados no texto constitucional, como o direito à saúde.

ADI 3.510/DF: A Lei de Biossegurança não veicula autorização para extirpar


do corpo feminino esse ou aquele embrião. Eliminar ou desentranhar esse ou
aquele zigoto a caminho do endométrio, ou nele já fixado. Não se cuida de
interromper gravidez humana, pois dela aqui não se pode cogitar. A
‘controvérsia constitucional em exame não guarda qualquer vinculação com
o problema do aborto.’ (Ministro Celso de Mello)

4. DIREITO À IGUALDADE

PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

O direito à igualdade, assim como o direito à vida, encontra-se previsto no art. 5º, caput, da
CF.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, À IGUALDADE, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:...

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 20
.

Há inúmeros termos referentes à igualdade:

o Igualdade perante a lei e igualdade na lei

o Igualdade formal e igualdade material

o Igualdade jurídica (ou de direito) e igualdade fática (ou de fato)

EVOLUÇÃO HISTÓRIA

ETAPAS DA EVOLUÇÃO

ANTIGO REGIME Os direitos e deveres dos indivíduos eram decorrentes do grupo social
ao qual pertenciam. Não decorriam da simples condição de ser um ser
humano.

REVOLUÇÕES Consagraram a igualdade formal, extirparam privilégios de origem


LIBERAIS estamental e afirmaram a igualdade de todos perante a lei.

Exigência de tratamento isonômico a todos os seres de uma mesma


categoria essencial. Exige que todas aquelas pessoas que se encontrem
em uma mesma situação devem receber o mesmo tipo de tratamento.
Não exige, porém, que todas as pessoas recebam o mesmo tratamento.

Não havia preocupação com o conteúdo da igualdade, apenas a forma


de tratamento deveria ser isonômica, não importava se justa ou injusta.
Por isso, tratava os senhores e os escravos de forma diferente, já que
pertenciam a categorias distintas.

ESTADOS SOCIAIS Constatou-se que o mero dever de tratamento formal ocasionava


diferenciações arbitrarias e injustas. Com isso, passou-se a dotar a
igualdade na sua concepção material, defendia um conteúdo justo e a
redução das desigualdades existentes.

CONCEPÇÃO MATERIAL

A concepção material propõe dois tipos de igualdade. Observe:

PRINCÍPIO DA IGUALDADE JURÍDICA PRINCÍPIO DA IGUALDADE FÁTICA

Impõe o dever de tratar igualmente os iguais Impõe ao Estado uma atuação positiva
e desigualmente os desiguais, na medida de visando a igualização dos desiguais, por meio
suas desigualdades. da concessão de direitos sociais substanciais
(Direitos fundamentais de 2ª Geração, direitos
Para Dworkin, a isonomia exige um de prestacionais, status positivus ou civitatis,
tratamento de todos com igual respeito e
consideração, é um reconhecimento das

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 21
.
diferenças. Isto é, para se tratar todos com conforme Jellinek). O objetivo é reduzir a
igual respeito e consideração, é preciso desigualdade fática existente.
reconhecer que as pessoas são diferentes.
Políticas de cunho Políticas de ações
Para Boaventura de Souza Santos, temos o universalista afirmativas
direito de ser iguais quando a diferença nos
inferioriza e temos o direito de ser diferentes Destinadas a Destinadas a atingir
quando a igualdade nos descaracteriza. número grupos sociais
indeterminado de determinados, por
pessoas meio da atribuição
de certas
vantagens, por
tempo limitado, para
atingir a
suplantação de
desigualdades
ocasionadas por
situações históricas
particulares.

Ex: melhoria do Ex.: cotas raciais


ensino universal em universidades.
gratuito.

Obs.: A CF consagrou a igualdade jurídica (alguns, de forma equivocada, consideram sinônimo de


igualdade formal), em seu art. 5º, e a igualdade fática, em seu art. 3º.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, À IGUALDADE, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação

ÂMBITO DE PROTEÇÃO E INTERVENÇÃO

Ao contrário dos demais direitos, a igualdade não possui um âmbito de proteção material
específico, é um conceito relacional. Ou seja, é necessário analisar a situação e as pessoas
envolvidas, a fim de averiguar se o tratamento é justo ou não. Ocorre uma comparação entre
indivíduos, grupos, coisas e situações.

Imagine, por exemplo, que um edital para concurso de agente de penitenciária feminina,
preveja que apenas mulheres podem realizar a inscrição. Existem dois critérios básicos como meio
de averiguar a constitucionalidade de determinada discriminação (ou distinção):

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 22
.
1º Critério: Identificar o elemento de distinção, a exemplo da cor da pele, da idade, do sexo;

2º Critério: Verificar se o elemento de distinção é OBJETIVO, RAZOÁVEL e


PROPORCIONAL ao fim buscado pelo ato discriminatório (no caso o edital). Aqui, examinando o
exemplo, tem-se que o objetivo do edital é o provimento de agente de penitenciária feminina, logo
não há nada mais razoável e proporcional que a limitação de inscrições a mulheres. Vale dizer ainda
que a limitação foi objetiva, ou seja, a todas as mulheres, sem qualquer distinção de caráter
subjetivo.

Haverá intervenção quando o tratamento for igual para situações essencialmente desiguais
ou desigual para situações essencialmente iguais. Além disso, deverá haver justificação
constitucionalmente adequada para ser legítima. Mas caso seja justificada em critérios arbitrários,
preconceituosos e discriminatórios será ilegítima.

Obs.: Em razão disso, parcela da doutrina entende que a igualdade jurídica corresponde a uma
proibição de arbítrio. Portanto, o que a igualdade jurídica proíbe não é o tratamento desigual, mas
o tratamento desigual arbitrário, sem justificação constitucional legítima.

Importante consignar que o STF entende que é possível estabelecer determinados requisitos
nos editais de concurso público, desde que sejam observadas algumas regras. Vejamos:

1ª Regra – é necessária a existência de uma lei que preveja tais requisitos. O edital, sem
embasamento legal anterior, não pode estabelecer.

RE 307.112: “Concurso público para policial militar. Limitação de idade. Edital


que fixa idade limite para o ingresso na corporação, o que a Lei ordinária (L.
7.289/84), não restringiu. Jurisprudência assentada”

2ª Regra – o requisito deve ser justificado pela natureza do cargo. Nesse sentido, a Súmula
683 do STF:

STF SÚMULA 683 - O limite de idade para a inscrição em concurso público


só se legitima em face do art. 7º, x, da Constituição, quando possa ser
justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

3ª Regra – grau mínimo de objetividade e de publicidade para evitar arbitrariedades.

STF - RE 417.019 AgR: “Concurso público: além da necessidade de lei formal


prevendo-o como requisito para o ingresso no serviço público, o exame
psicotécnico depende de um grau mínimo de objetividade e de publicidade
dos atos em que se desdobra: precedentes.”

Veja como foi cobrado:

TRF2 (2018): Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo
situações excepcionais, em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. Correto! STF RE 8984520
(Info 835).

TRF2 (2018): A adoção de critérios diferenciados para o licenciamento dos militares temporários, em razão
do sexo, não viola o princípio da isonomia. Correto!

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 23
.
Por fim, o STF (ADI 3541 – Info 735) entende que a lei que veda o exercício da atividade de
advocacia por aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o
princípio da isonomia.

Veja como foi cobrado:

MPE/PR (2019): Viola o princípio da isonomia a norma que veda o exercício da atividade de advocacia por
aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, serviço de caráter policial. Errado!

DESTINATÁRIOS DO DEVER DE IGUALDADE

Em virtude da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, o princípio da igualdade aplica-


se aos particulares e aos poderes públicos.

Há, na doutrina, uma diferenciação entre igualdade na lei e igualdade perante a lei.

4.5.1. Igualdade perante a lei

Interpretação literal do art. 5º da CF, fórmula tradicionalmente usada em todas as


Constituições. É dirigida não ao legislador, mas aos intérpretes e aplicadores da lei (executivo e
judiciário), vedando que apliquem os enunciados jurídicos de forma a tratar desigualmente quem a
lei tratou como iguais.

Esse entendimento foi adotado até a década de 1950, na Europa, ainda não havia o pleno
reconhecimento da força normativa da Constituição. Entendia-se que as declarações de direitos
fundamentais não vinculavam o legislador, que era visto como um amigo desses direitos, e não
como um inimigo. Com o passar do tempo, verificou-se que muitas das violações de direitos
fundamentais vinham do próprio Parlamento. Posteriormente, com o reconhecimento definitivo da
força normativa da Constituição, todos os Poderes, inclusive o Legislativo, passaram a ser
vinculados por ela.

4.5.2. Igualdade na lei

A igualdade deve ser observada tanto na aplicação da lei quanto na elaboração da lei pelo
legislador. Trata-se do sentido moderno, no qual todos os Poderes Públicos encontram-se
vinculados ao texto constitucional.

É destinado precipuamente ao legislador, a quem seria vedado usar-se da lei para realizar
tratamentos discriminatórios entre pessoas que mereçam o mesmo tratamento. A igualdade, aqui,
deve ser aplicada no momento de elaboração da lei.

STF - AI 360.461 Agr/MG: “O princípio da isonomia - que vincula, no plano


institucional, todas as instâncias de poder - tem por função precípua,
consideradas as razões de ordem jurídica, social, ética e política que lhe são
inerentes, a de obstar discriminações e extinguir privilégios (RDA 55/114),
devendo ser examinado sob a dupla perspectiva da igualdade na lei e da
igualdade perante a lei (RTJ 136/444-445)”

No Brasil, essa distinção não tem muita utilidade, pois apesar de a CF falar em “perante a
lei”, todo o poder legislativo é vinculado aos preceitos constitucionais. Assim, todos os poderes

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 24
.
públicos são destinatários do princípio da igualdade (eficácia vertical), e além deles os particulares
também são destinatários do princípio da igualdade (eficácia horizontal).

IGUALDADE COMO RECONHECIMENTO1

A igualdade como reconhecimento significa o respeito que se deve ter para com as minorias,
sua identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras. A injustiça
a ser combatida nesse caso tem natureza cultural ou simbólica. Ela decorre de modelos sociais de
representação que, ao imporem determinados códigos de interpretação, recusariam os “outros” e
produziriam a dominação cultural, o não reconhecimento ou mesmo o desprezo.

Determinados grupos são marginalizados em razão da sua identidade, suas origens,


religião, aparência física ou opção sexual, como os negros, judeus, povos indígenas, ciganos,
deficientes, mulheres, homossexuais e transgêneros.

O instrumento para se alcançar a igualdade como reconhecimento é a transformação cultural


ou simbólica. O objetivo é constituir um mundo aberto à diferença (“a difference-friendly world”).

A igualdade como reconhecimento encontra-se também prevista no art. 3º, IV, da CF/88,
que determina que um dos objetivos fundamentais da República é o de “promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Vale ressaltar que, em muitos casos, alguns grupos sofrem tanto uma desigualdade material
como uma desigualdade quanto ao reconhecimento. As mulheres e os negros, por exemplo, sofrem
injustiças cujas raízes se encontram tanto na estrutura econômica, quanto na estrutura cultural-
valorativa, exigindo ambos os tipos de remédio.

AÇÕES AFIRMATIVAS

4.7.1. Conceito

Consistem em políticas públicas ou programas privados, em geral de caráter temporário,


desenvolvidos com a finalidade de reduzir desigualdades decorrentes de discriminações, ou de uma
hipossuficiência econômica ou física, por meio de concessão de alguma vantagem. Ações
afirmativas são medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a proteção de
certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos
do homem e das liberdades fundamentais. (Art. 2°, II, da Convenção para a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial, da Organização das Nações Unidas, ratificada pelo Brasil em
1968).

Veja como foi cobrado:

DPE/PE (CESPE – 2018): As medidas de discriminação reversa que, com o objetivo de proteger grupos
historicamente discriminados ou vulneráveis, promovem políticas compensatórias focais são denominadas
ações afirmativas. Correto!

1 Márcio Cavalcante.
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3202111cf90e7c816a472aaceb72b0df?cat
egoria=1&subcategoria=1&assunto=2

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 25
.
A transformação do direito à isonomia em igualdade de possibilidades, sobretudo no tocante
a uma participação equitativa nos bens sociais, apenas é alcançado, segundo John Rawls, por meio
da aplicação da denominada “justiça distributiva”. A “justiça distributiva” permite a superação das
desigualdades no mundo dos fatos por meio de intervenção estatal que realoque bens e
oportunidades existentes na sociedade em benefício de todos. O modelo constitucional pátrio
incorporara diversos mecanismos institucionais para corrigir distorções resultantes da incidência
meramente formal do princípio da igualdade. No caso concreto, a aplicação desse preceito consiste
em técnica de distribuição de justiça, com o objetivo de promover a inclusão social de grupos
excluídos, especialmente daqueles que, historicamente, teriam sido compelidos a viver na periferia
da sociedade.

4.7.2. Modalidades ou exemplos de ações afirmativas empregadas em vários países

a) Levar em consideração critérios como a raça, o gênero ou outros aspectos que


caracterizem grupos minoritários para promover sua integração social;

b) Afastar requisitos de antiguidade para a permanência ou promoção de membros de


categorias socialmente dominantes em determinados ambientes profissionais;

c) Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes
distritos eleitorais; e

d) Estabelecer cotas ou reserva de vagas para integrantes de setores marginalizados.

4.7.3. Sistemas de cotas

O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial, é


CONSTITUCIONAL. No entanto, as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial possuem
natureza transitória.

ADPF 186 (Cotas – UNB): “I – Não contraria - ao contrário, prestigia – o


princípio da igualdade material, previsto no caput do art. 5º da Carta da
República, a possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de cunho
universalista, que abrangem um número indeterminados de indivíduos,
mediante ações de natureza estrutural, seja de ações afirmativas, que
atingem grupos sociais determinados, de maneira pontual, atribuindo a estes
certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a permitir-lhes a
superação de desigualdades decorrentes de situações históricas. II – O
modelo constitucional brasileiro incorporou diversos mecanismos
institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação
puramente formal do princípio da igualdade. III – Esta Corte, em diversos
precedentes, assentou a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa.
IV – Medidas que buscam reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico
de desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais e sociais em
nosso País, não podem ser examinadas apenas sob a ótica de sua
compatibilidade com determinados preceitos constitucionais, isoladamente
considerados, ou a partir da eventual vantagem de certos critérios sobre
outros, devendo, ao revés, ser analisadas à luz do arcabouço principiológico
sobre o qual se assenta o próprio Estado brasileiro. V - Metodologia de
seleção diferenciada pode perfeitamente levar em consideração critérios
étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a assegurar que a comunidade

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 26
.
acadêmica e a própria sociedade sejam beneficiadas pelo pluralismo de
ideias, de resto, um dos fundamentos do Estado brasileiro, conforme dispõe
o art. 1º, V, da Constituição (...)VII – No entanto, as políticas de ação
afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são legítimas se a sua
manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de
exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam
converter-se benesses permanentes, instituídas em prol de determinado
grupo social, mas em detrimento da coletividade como um todo, situação [...]
incompatível com o espírito de qualquer Constituição que se pretenda
democrática, devendo, outrossim, respeitar a proporcionalidade entre os
meios empregados e os fins perseguidos.”

STF – ADC 41/DF: “[...] a desequiparação promovida pela política de ação


afirmativa em questão está em consonância com o princípio da isonomia. Ela
se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda
existente na sociedade brasileira, e garantir a igualdade material entre os
cidadãos, por meio da distribuição mais equitativa de bens sociais e da
promoção do reconhecimento da população afrodescendente [...] Tese de
julgamento: “É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos
concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos
no âmbito da administração pública direta e indireta. É legítima a utilização,
além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o
contraditório e a ampla defesa”.

É importante ressaltar que as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial


possuem natureza transitória já que as desigualdades entre negros e brancos não resultam, como
é evidente, de uma desvalia natural ou genética, mas decorrem de uma acentuada inferioridade em
que aqueles foram posicionados nos planos econômico, social e político em razão de séculos de
dominação dos primeiros pelos segundos.

Assim, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são


legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de
exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se em
benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da
coletividade como um todo, situação incompatível com o espírito de qualquer Constituição que se
pretenda democrática.

4.7.4. Lei Maria da Penha

Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei 11.340/06 ser


voltada apenas à proteção das mulheres.

O STF entendeu que que a Lei Maria da Penha promove a igualdade em seu sentido
material, sem restringir de maneira desarrazoada o direito das pessoas pertencentes ao gênero
masculino. O legislador utilizou meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado pelo
referido preceito constitucional. Aduziu-se não ser desproporcional ou ilegítimo uso do sexo como
critério de diferenciação, visto que a mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a
constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 27
.
5. DIREITO À PRIVACIDADE

PREVISÃO

O direito à privacidade, como já mencionado, é o único dos direitos fundamentais que não
está previsto no caput do art. 5º, é encontrado em seus incisos X, XI e XII.

Art. 5º,
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

O direito à privacidade (gênero) engloba quatro espécies fundamentais de direitos: direito à


intimidade, direito à vida privada, direito à imagem e direito à honra.

GRAU DE PROTEÇÃO

5.2.1. Locais públicos e reservados

Os locais públicos e reservados possuem grau de proteção diversos. Um fato ocorrido em


local reservado (residência, escritório) possui uma proteção maior do que um fato ocorrido em local
público.

Assim, por exemplo, uma câmera escondida colocada na residência viola a privacidade em
um grau mais elevado do que uma câmera de vigilância de rua, em que não há expectativa de
privacidade.

5.2.2. Pessoas públicas e comuns

A proteção de privacidade de uma pessoa pública, em virtude da sua atividade, possui uma
proteção menor do que as pessoas comuns. Além disso, os políticos possuem uma proteção menor
do que outras pessoas públicas, como um artista por exemplo.

Obs.: as pessoas públicas, por se submeterem voluntariamente à exposição pública (artistas,


esportistas e políticos), renunciam a uma parcela de sua privacidade, sendo menor a intensidade
de proteção (esfera privada e íntima). Entretanto, ainda podem se opor à propagação da imagem
ou divulgação de uma informação sem o consentimento quando envolverem questões domésticas,
familiares ou íntimas, hipóteses nas quais, geralmente, a divulgação é abusiva. A proteção à
privacidade de agentes políticos eleitos pelo voto popular deve ocorrer apenas na esfera íntima, em
razão de um interesse geral na obtenção de certas informações de caráter pessoal.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 28
.
5.2.3. Fatos de interesse público e de mero interesse público

A liberdade de informação abrange apenas fatos verdadeiros. Portanto, as chamadas “fake


news” não podem ser amparadas pela liberdade de informação, de impressa, não podendo afetar
a intimidade dos indivíduos.

Fatos de interesse público são aqueles relevantes para a sociedade, possuem proteção
menor. Por outro lado, os fatos de mero interesse público são aqueles em que as pessoas possuem
curiosidade, portanto, são protegidos em um grau maior pelo direito à intimidade.

5.2.4. Teoria das Esferas

A Teoria das Esferas, de origem alemã, pode ser adaptada à realidade brasileira e para o
que está previsto no art. 10, X, CF. Quanto mais próxima das características de identificação do
indivíduo, maior deve ser o grau de proteção ao direito à privacidade.

PÚBLICA/PUBLICIDADE PRIVADA ÍNTIMA

Abrange os atos praticados Abrange relações com o meio Abrange informações


em local público ou com o social, sem o interesse de confidenciais e segredos
desejo de torná-los públicos. tornar público. Por pessoais. Por exemplo,
A vontade pode ser expressa exemplo, frequentar clube mensagens no WhatsApp
(reality show) ou tácita recreativo
(pessoa pública
em um evento público)

5.2.5. Honra

A Constituição protege a honra subjetiva (estima de si próprio) e a honra objetiva (reputação


perante o meio social).

Importante consignar que se protege a honra objetiva das pessoas jurídicas, nos termos do
art. 52 do CC e da Súmula 227 do STJ.

CC, art. 52: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos
direitos da personalidade.

Súmula 227 STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral

5.2.6. Imagem

Observe o disposto nos arts. 20 e 21 do CC:

CC, art. 20: Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da


justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem
prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou
a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 29
.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas
para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

CC, art. 21: A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a


requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

Percebe-se que a proteção à imagem é autônoma em relação à honra, porque, mesmo


quando a utilização da imagem não atinge a honra da pessoa, haverá a proteção à sua imagem.

Os dispositivos acima, ao protegerem a privacidade, acabaram por intervir nas liberdades


de informação, expressão, artística e científica. Tal fato ocorre porque para se publicar
determinadas obras envolvendo pessoas, inclusive públicas, seria necessária a autorização, da
própria pessoa ou de seus familiares, caso morto. Todavia, o STF entendeu que esses dispositivos
precisariam passar por uma interpretação conforme à Constituição, ou seja, precisariam de uma
filtragem constitucional, pois estariam violando as liberdades de informação, artística e intelectual,
na forma como eles foram elaborados.

STF – ADI 4.815/DF: EMENTA: [...] APARENTE CONFLITO ENTRE


PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DE
INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E CULTURAL, INDEPENDENTE DE CENSURA
OU AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX, XIV; 220, §§ 1º E 2º) E
INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM
DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X). ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA
PONDERAÇÃO PARA INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL. PROIBIÇÃO DE CENSURA (ESTATAL OU
PARTICULAR). GARANTIA CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE
DIREITO DE RESPOSTA. ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA PONDERAÇÃO
PARA INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL. PROIBIÇÃO
DE CENSURA (ESTATAL OU PARTICULAR). GARANTIA
CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE DIREITO DE RESPOSTA. (...)
9. Ação direta julgada procedente para dar interpretação conforme à
Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para,
em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e
de sua expressão, de criação artística, produção científica, declarar inexigível
autorização de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias
ou audiovisuais, sendo também desnecessária autorização de pessoas
retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas
falecidas ou ausentes)

DISTINÇÕES CONCEITUAIS

5.3.1. Interceptação ambiental

É a captação ambiental (feita no ambiente) de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos


feita por terceiros sem o conhecimento dos interlocutores.

Destaca-se que a interceptação pressupõe a participação de um terceiro, sem o


conhecimento de um ou de todos os interlocutores. Quando um dos interlocutores grava a conversa,
haverá gravação clandestina, pois ausente a terceira pessoa.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 30
.
Será considerada ilícita quando violar:

a) Expectativa de privacidade

Obs.: não há expectativa de privacidade quando o ato é praticado na rua, nem quando captado por
câmeras de vigilância.

b) Confiança decorrente das relações interpessoais ou profissionais.

A Lei de Organizações Criminosas, em seu art. 3º, trata da interceptação ambiental.

Lei n. 12.850/13, art. 3º: Em qualquer fase da persecução penal, serão


permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de
obtenção da prova: (...)
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos.

A Lei de Organizações Criminosas não estabelece a forma como a captação ambiental deve
ocorrer. A doutrina, por analogia, entende que o procedimento a ser observado é o mesmo das
interceptações telefônicas (Lei 9.296/96).

5.3.2. Gravação clandestina

Consiste na captação de uma conversa, que pode ser telefônica, pessoal (gravador de bolso)
ou ambiental (câmera escondida) feita por um dos interlocutores, e não por uma terceira pessoa,
sem o conhecimento dos demais.

Nem sempre a gravação é ilícita, podendo ser utilizada como prova se houver uma justa
causa para tal. A definição de justa causa depende de uma ponderação. Mas que fique claro:
qualquer limitação de direito fundamental só é justificada para salvaguardar outro direito
constitucional, que no caso concreto mereça ser sobreposto em relação aquele.

As gravações realizadas clandestinamente não são admitidas como prova no processo


(ilícitas) – art. 5º LVI -, salvo quando justificáveis com base em outros princípios constitucionalmente
consagrados, como no caso de uma gravação clandestina utilizada pelo réu, no processo penal,
para provar sua inocência (direito de liberdade e garantia de ampla defesa).

Vejamos alguns casos que o STF entendeu haver “justa causa”:

Gravação feita pelo réu no Prevalece o direito à liberdade e ampla defesa do réu sobre o
processo penal para sua direito à privacidade.
defesa

Gravação feita em legítima Gravação feita contra sequestrador, chantagista, estelionatário


defesa etc.

Gravação feita contra agente Fundamento nos princípios da Administração (publicidade e


público moralidade). Novelino: Na realidade o ato do agente não estaria
protegido pela privacidade, pois estaria na esfera da
publicidade

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 31
.
Gravação feita para Para impedir de o sujeito negar o que tinha afirmado.
documentar conversas e
serem utilizadas
futuramente como prova
(direito de defesa)

A gravação clandestina sem justa causa é vedada pelo art. 5º, X (privacidade).

STF – AI 560.223 AgR/SP: “1. A gravação ambiental meramente clandestina,


realizada por um dos interlocutores, não se confunde com a interceptação,
objeto cláusula constitucional de reserva de jurisdição. 2. É lícita a prova
consistente em gravação de conversa telefônica realizada por um dos
interlocutores, sem conhecimento do outro, se não há causa legal específica
de sigilo nem de reserva da conversação. Precedentes...”.

5.3.3. Quebra de sigilo de dados

Consiste no acesso ao registro de determinadas informações privadas, tais como: extratos


bancários, declarações de imposto de renda, registro de ligações telefônicas e dados constantes
de arquivos de computador.

Pode ocorrer a quebra de sigilo:

o Bancário: acesso às transações bancárias;

o Fiscal: acesso às informações declaradas ao fisco;

o Telefônico: acesso ao registro das ligações telefônicas, não há acesso às conversas


da pessoa. Apenas se sabe os números, o tempo de ligação. O conteúdo das
conversas não fica gravado.

o Informático: acesso a dados de computador, pendrive.

Existe uma divergência sobre o enquadramento destes direitos. Para alguns, estariam
protegidos pelo direito à privacidade (art. 5º, X). No entanto, há quem entenda, inclusive dentro do
STF, que estariam protegidos pelo art. 5º, XII.

Art. 5º
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

A quebra do sigilo de dados será considera ilícita quando:

a) For desprovida de uma justificação constitucional (pressuposto material)

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 32
.
A quebra do sigilo afeta a privacidade, mas outros direitos consagrados na CF, como a
segurança pública, podem ser utilizados como justificativa.

b) Autoridade competente (pressuposto formal)

Em regra, apenas os órgãos do Poder Judiciário e as Comissões Parlamentares de Inquérito


(federal e estadual) são competentes para determinar a quebra do sigilo de dados. A CPI, em
âmbito municipal, não pode determinar a quebra do sigilo de dados, eis que não existe Poder
Judiciário nos municípios.

Entende o STF que, em regra, o MP e o TCU não podem solicitar diretamente a quebra de
sigilo bancário, salvo quando houver verba pública envolvida.

STF - MS 21.729/DF: “[...] 5. Não cabe ao Banco do Brasil negar, ao Ministério


Público, informações sobre nomes de beneficiários de empréstimos
concedidos pela instituição, com recursos subsidiados pelo erário federal,
sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de requisição de
informações e documentos para instruir procedimento administrativo
instaurado em defesa do patrimônio público.”

MS 33.340/DF: TCU “não está autorizado a, manu militari, decretar a quebra


de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida cautelar condicionada à
prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais, do Poder
Legislativo. [...]. 8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às operações
financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito privado da
Administração Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente
porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem
pública.”

Veja como foi cobrado:

CESPE – Procurado do Município JP (2018): Não viola o direito à intimidade a requisição, pelo Ministério
Público, de informações bancárias de titularidade de órgão e entidades públicas, a fim de proteger o
patrimônio público. Correto!

Autoridade administrativa, em 2001 editou-se uma lei complementar (105/01), que dava
poderes às autoridades fazendárias, ao fisco para requisitar dados bancários diretamente, sem
necessidade de ordem judicial. A lei foi objeto de diversas ações de inconstitucionalidades, o tema
foi pacificado em fevereiro de 2016, pelo STF. Vejamos o que foi decido:

O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser
chamado de "quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas para o Fisco
(ex: Receita Federal) em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na Administração
Tributária. Logo, é uma tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser acessível a
terceiros, não pode ser considerado violação (quebra) do sigilo.

Assim, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/2001 faz não é quebra de sigilo bancário,
mas somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos pelo
sigilo bancário, prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Pode parecer um eufemismo, no entanto,
é importante ficar atento porque isso pode ser exigido nas provas de concurso.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 33
.
Para o STF, o simples fato de o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte não
viola a garantia do sigilo bancário. Só haverá violação se esses dados "vazarem" para pessoas
estranhas ao órgão fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a
intimidade do contribuinte para terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/2001 prevê punições
ao responsável, que estará sujeito à pena de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de
responsabilização civil, culminando com a perda do cargo (art. 10).

Veja como foi cobrado:

CESPE – Procurado do Município JP (2018): A inviolabilidade domiciliar não afasta a possibilidade de


agentes da administração tributária, no exercício da autoexecutoriedade, ingressarem em estabelecimento
comercial ou industrial, independentemente de consentimento do proprietário ou de autorização judicial.
Errado!

Quadro-resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem
autorização judicial)2:

SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
MP NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje
19/09/2011).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações
bancárias de contas de titularidade de órgãos e entidades públicas, com
o fim de proteger o patrimônio público, não se podendo falar em quebra
ilegal de sigilo bancário (STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em
20/10/2015).
TCU NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de
9/5/2012).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito
originárias de recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF.
MS 33340/DF, j. em 26/5/2015).
Receita Federal SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das informações dos
bancos para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo
bancário".
Fisco estadual, SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de
distrital, municipal competência, o art. 6º da LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto
Federal 3.724/2001.
CPI SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/2001).
Prevalece que CPI municipal não pode.

Veja como foi cobrado:

TRF2 (2018) - Viola o direito fundamental à intimidade o fornecimento, pelas instituições financeiras, de
informações bancárias dos contribuintes à administração tributária, sem a intermediação do Poder Judiciário.
Errado!

2 Márcio Cavalcante.
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/17e62166fc8586dfa4d1bc0e1742c08b?cat
egoria=1&subcategoria=1&assunto=4

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 34
.
PC/GO (2018): O sigilo bancário pode ser levantado independentemente de autorização judicial, mas de
forma devidamente regulamentada, pela Receita Federal, pelo Fisco Estadual e pela CPI federal, estadual ou
distrital. Correto!

MPE/BA (2018): A quebra do sigilo fiscal, bancário e de registros telefônicos de investigados pode ser
validamente decretada por Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que haja deliberação fundamentada e
indicação da necessidade objetiva da adoção de tal medida extraordinária. Correto!

5.3.4. Interceptação de comunicações

É a intromissão em uma comunicação, feita por um terceiro, sem o conhecimento dos


interlocutores.

O direito ao sigilo das comunicações é previsto no art. 5º, XII da CF/88, e abrange o sigilo
das comunicações telefônicas, telegráficas, dados e correspondências.

Art. 5, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;

Apesar de o dispositivo proteger o direito de comunicação, também é corolário do direito à


privacidade. Entretanto, nem sempre uma violação a esse dispositivo (direito de comunicação)
obrigatoriamente traduzirá uma violação à privacidade do indivíduo. Ex.: Violação de
correspondência que contém apenas uma nota de 10 reais e nada mais.

a) Interceptação de correspondência (comunicações epistolares)

Art. 5, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;

Apesar de o sigilo ser um direito, sabemos que nenhum direito é absoluto, podendo, no caso
concreto ser limitado. Ou seja, se no caso concreto, em um juízo de ponderação e
proporcionalidade, for verificada a necessidade de mitigar o direito à privacidade ou sigilo de
correspondência em benefício de outro direito, nada impede que seja feito.

O STF admitiu, excepcionalmente, que poderia a direção de presídio violar a


correspondência de preso, tendo em vista o uso da correspondência para práticas ilícitas. O preso
tem direito à inviolabilidade de correspondência, todavia, no caso de suspeita deve ser violada.
Aqui, o princípio de peso maior (segurança pública) justifica a violação.

STF - HC 70.814/SP: “A administração penitenciária, com fundamento em


razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da
ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a
norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei n. 7.210/84, proceder à
interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a
cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir
instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.”

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 35
.
‘Topos’ do STF: Direitos fundamentais não podem ser usados como escudos para práticas
ilícitas. Ou seja, o objeto dos direitos fundamentais não é proteger os indivíduos que praticam atos
ilícitos, mas sim proteger os indivíduos dos abusos do Estado.

Correios: Se houver suspeita de prática de crime ou perigo, também pode violar.

Vale lembrar que a CF prevê, expressamente, a possibilidade de violação de


correspondências na ocorrência de Estado de Defesa ou Estado de Sítio. Art. 136, §1º, I, b e art.
139, III, ambos da CF – estados de legalidade extraordinária.

CF, Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da


República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar ESTADO DE DEFESA
para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e
iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes
proporções na natureza.
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e
limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
b) sigilo de correspondência;

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art.


137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa,
radiodifusão e televisão, na forma da lei;

b) Sigilo da comunicação de dados

Art. 5º
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Tércio Sampaio Ferraz Jr. e Manuel Gonçalves Ferreira Filho entendem que esses dados
seriam apenas informáticos.

Entre os Ministros do STF também não há um consenso, entendem que:

- Os dados bancários ou telefônicos estariam protegidos pelo inciso XII.

- A proteção a esses outros dados seria dada pelo inciso X.

- Os dois dispositivos estariam protegendo esse tipo de sigilo: o inciso X protegeria o


conteúdo dos dados e o inciso XII a transmissão ou comunicação desses dados. Segundo essa
posição, o artigo 5º, inciso XII não protegeria os dados em si, mas apenas a liberdade de

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 36
.
comunicação. Entendimento do Sepúlveda Pertence, costuma ser reproduzido em algumas
decisões.

STF - MS 21.729 (voto do rel. min. Sepúlveda Pertence): “Da minha leitura,
no inciso XII da Lei Fundamental, o que se protege, e de modo absoluto, até
em relação ao Poder Judiciário, é a comunicação ‘de dados’, e não os ‘dados’,
o que tornaria impossível qualquer investigação administrativa, fosse qual
fosse”.

A inviolabilidade dos dados constantes de arquivos pessoais ou privados (“não transmitidos”


ao contrário dos “transmitidos” – constantes no art. 5º XII), deverá ser assegurada apenas quando
estiver em jogo uma invasão indevida na privacidade - art. 5º X.

Consequência: dados que estão em um computador de uma empresa, por exemplo, estão
sujeitos a serem ‘violados’, isto porque não há direito à privacidade, não há intimidade aqui a ser
protegida.

O Ministro Gilmar Mendes, no HC 168.052, entendeu que a comunicação e os dados em si


devem ser protegidos. Sugere que ocorra mutação constitucional.

STF – HC 168.052/SP (voto do rel. min. Gilmar Mendes): Naquela


oportunidade, foi assentada a impossibilidade de interpretar-se a cláusula do
art. 5º, XII, da CF no sentido de proteção aos dados como registro, depósito
registral, porquanto a proteção constitucional seria da comunicação, e não
dos dados a modificação das circunstâncias fáticas e jurídicas, a
promulgação de leis posteriores e o significativo desenvolvimento das
tecnologias da comunicação, do tráfego de dados e dos aparelhos
smartphones levam, contudo, nos dias atuais, a solução distinta, em um típico
caso de mutação constitucional.

c) Interceptação de comunicações telefônicas

Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;

O âmbito de proteção das comunicações telefônicas abrange a transmissão, a emissão ou


a receptação de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer
natureza realizadas não só por telefone, mas também por e-mail, “SMS”, “WhatsApp”.

Há restrições à liberdade de comunicação telefônica, a própria Constituição estabelece


requisitos para que possa ocorrer. Antes de analisarmos, é importante diferenciar:

INTERPRETAÇÃO TELEFÔNICA EM ESCUTA


SENTIDO ESTRITO

Não há conhecimento de nenhum dos Conversa está sendo gravada por terceira
interlocutores pessoa e um dos interlocutores sabe que está
ocorrendo

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 37
.
Lei n. 9.296/96, art. 1º: A interceptação de comunicações telefônicas, de
qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução
processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do
juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática (conjunto de
tecnologias que resultam da junção entre os recursos das telecomunicações
(telefonia, satélite, cabos, fibras ópticas) e da informática (computadores,
periféricos, softwares)).

É o único que recebeu tratamento especial da CF no art. 5º, o qual estabeleceu três
requisitos para ser violada em estados de normalidade:

1º Requisito: Ordem judicial

STF: Interceptação é uma matéria que obedece à chamada cláusula de reserva de


jurisdição. Ou seja, cabe somente ao poder judiciário determinar a interceptação. Assim, é defeso
ao MP e às CPI’s determinarem a interceptação telefônica.

STF - MS 23.452/RJ: O postulado da reserva constitucional de jurisdição


importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática
de determinados atos cuja realização, por efeito de explícita determinação
constante do próprio texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz, e
não de terceiros, inclusive daqueles a quem se haja eventualmente atribuído
o exercício de ‘poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. A
cláusula constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobre
determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), a
interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação da prisão de qualquer
pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) - traduz a noção
de que, nesses temas específicos, assiste ao Poder Judiciário, não apenas o
direito de proferir a última palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de dizer,
desde logo, a primeira palavra, excluindo-se [...] a possibilidade do exercício
de iguais atribuições, por parte de quaisquer outros órgãos ou autoridades
(...)

A cláusula de reserva de jurisdição, segundo o STF, comporta as matérias de:

Inviolabilidade de domicílio A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


(art. 5º, XI) penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial.

Interceptação das É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


comunicações telefônicas telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo,
(art. 5º, XII) no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal.

Prisão (art. 5º, LXI) Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 38
.
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei.

Sigilo legalmente imposto a A CPI não pode pedir para ter acesso às informações quando o
processo judicial juiz determina que o processo esteja em sigilo.

MS 27.483 MC-REF/DF: Comissão Parlamentar de


Inquérito não tem poder jurídico de, mediante
requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de
decisão nem de mandado judicial de interceptação
telefônica, quebrar sigilo imposto a processo
sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a
Comissão Parlamentar de Inquérito, representando
expressiva limitação aos seus poderes
constitucionais.

2º Requisito: Na forma da lei (Lei 9.296/96)

Obs.: antes da lei, não poderia haver interceptação telefônica.

Veda a realização da interceptação de comunicações telefônicas se inexistentes indícios


razoáveis da autoria ou participação em infração penal ou quando a prova puder ser feita por outros
meios disponíveis e menos gravosos. Outrossim, só admite a interceptação para casos em que o
crime seja punido com pena de reclusão (art. 2º)

LIT, Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas


quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena
de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos
investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

A interceptação poderá ser determinada pelo juiz ex officio, a requerimento da autoridade


policial ou do MP, podendo ter duração máxima de 15 dias – renovável uma única vez – deve ser
processada em autos apartados, a fim de ser garantido o sigilo.

As provas decorrentes da escuta telefônica não autorizada são igualmente ilícitas por
aplicação da doutrina “fruits of a poisonous tree”.

O sigilo profissional do advogado impede a interceptação da comunicação telefônica entre


o acusado e seu defensor, exceto se este também estiver envolvido na atividade criminosa.

3º Requisito: Fim de investigação criminal ou instrução processual penal

IMPORTANTE: A prova obtida com interceptação telefônica (para fins penais) pode ser
usada em PAD contra os mesmos acusados no processo penal ou até mesmo contra outros
servidores (prova emprestada) INQ (QO-QO) 2424/RJ. Na primeira decisão, o STF tinha admitido
somente contra os mesmos réus da investigação criminal. Logo após, mudou o entendimento.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 39
.
STF - Inq. 2.424 QO-QO/RJ: “Dados obtidos em interceptação de
comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente
autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução
processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais
foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam
despontado à colheita dessa prova”.

STF - RMS 28.774/DF: “[...] 4. A jurisprudência desta Corte admite o uso de


prova emprestada em processo administrativo disciplinar, em especial a
utilização de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente para
investigação criminal. Precedentes.”

STF - HC 129.678: “O ‘crime achado’, ou seja, a infração penal desconhecida


e, portanto, até aquele momento não investigada, sempre deve ser
cuidadosamente analisada para que não se relativize em excesso o inciso XII
do art. 5º da CF. A prova obtida mediante interceptação telefônica, quando
referente a infração penal diversa da investigada, deve ser considerada lícita
se presentes os requisitos constitucionais e legais.

INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Observe a redação do art. 5º, XI, da CF:

Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito
ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;

Domicílio é a projeção territorial da privacidade, abrangendo não só residência, como


também consultórios, escritórios, quartos de hotel habitados, estabelecimentos comerciais e
industriais, entre outros aposentos. Em suma, abrange espaços privados em que não há acesso ao
público. Exceção das partes abertas ao público.

STF – HC 93.050/RJ: “... o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente


e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao público,
onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III),
compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna não
acessível ao público), os escritórios profissionais, inclusive os de
contabilidade, ‘embora sem conexão com a casa de moradia propriamente
dita’ (NELSON HUNGRIA). Doutrina. Precedentes.”

Veja como foi cobrado:

DPE/RN (2015 – CESPE): A inviolabilidade domiciliar refere-se à residência que o indivíduo ocupa com
intenção de moradia definitiva, mas não alcança seu escritório profissional ou outro local de trabalho. Errado!

Vale dizer que violar domicílio significa adentrar ou permanecer na casa sem o
consentimento do dono.

Veículo é considerado casa?

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 40
.
O veículo, em regra, pode ser examinado mesmo sem mandado judicial.

Exceção: quando o veículo é utilizado para a habitação do indivíduo, como ocorre com
trailers, cabines de caminhão, barcos etc.

STF - RHC 117.767/DF: “As apreensões de documentos no interior de


veículos automotores, por constituírem hipótese de busca pessoal —
caracterizada pela inspeção do corpo, das vestes, de objetos e de veículos
(não destinados à habitação do indivíduo) —, dispensam autorização judicial
quando houver fundada suspeita de que neles estão ocultados elementos
necessários à elucidação dos fatos investigados, a teor do disposto no art.
240, § 2º, do CPP”

Não havendo consentimento, só poderá ocorrer a inviolabilidade em duas situações:

1ª Situação: Emergencial: São situações nas quais há um perigo e não é possível esperar
ordem judicial para invadir a casa. São os casos de desastre, prestação de socorro e flagrante delito
(mesmo para fugir). Nessas situações, a casa pode ser invadida em qualquer horário.

ATENÇÃO!

OBS: Flagrante em sentido estrito (não o sentido amplo do Direito processual penal).

Veja como foi cobrado:

CESPE – Procurado do Município JP (2018): Mesmo em caso de flagrante delito, o ingresso forçado de
autoridade policial em domicílio, independentemente de autorização judicial, é condicionado à demonstração
de fundada suspeita de ocorrência de crime no local. Correto!

2ª Situação: Por determinação judicial: somente durante o dia. Está sujeita à cláusula de
reserva de jurisdição.

Resumindo3:

Existem três critérios que definem o que seria dia:

3
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c74d97b01eae257e44aa9d5bade97baf?c
ategoria=1&subcategoria=1&assunto=7

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 41
.
• Critério temporal (cronológico): Período entre às 06h e às 18h (J. A. Silva).

Obs.: No CPC pode ser cumprido até às 20h, desde que não seja necessário
invadir.

• Critério físico-astronômico: Período entre a aurora (nascer do sol) e o


crepúsculo (pôr do sol).

• Critério misto (Alexandre Moraes, antes de tornar-se Ministro do STF): Seria a


conjugação dos dois anteriores, sempre na perspectiva de dar mais efetividade
à inviolabilidade. Dessa forma, o início do dia pode ocorrer tanto às 06h quanto
no momento do aurora, adotando-se o evento que ocorrer posteriormente. No
mesmo raciocínio, o dia terminaria às 18h ou quando do crepúsculo, sendo
aplicada aquela que ocorrer primeiro.

Mandado começou a ser cumprido durante o dia e se prolongou durante a noite. As provas
ali colhidas têm validade? Em geral, se for operação de grande complexidade, pela razoabilidade,
deve-se considerar válida a prova. Agora, se o mandado começou a ser cumprido pouco tempo
antes das 18 e se prolongou, haveria uma violação à finalidade constitucional. Não seria razoável.
Seria prova ilícita.

Dentro de uma casa, o consentimento sobre a entrada cabe ao chefe (marido ou mulher).
Os dependentes e subordinados tem poder somente sobre proporções da casa que lhe são
destinadas (quartos, por exemplo), não quedando, no entanto, o chefe da casa de adentrar em
quaisquer dos recintos.

Na discordância entre consentimentos deve prevalecer aquele que proíbe a entrada na casa.

Fiscal tributário pode entrar à força no estabelecimento? Há legislação antiga que


permitia, dizendo que o fiscal podia requisitar a força policial. No entanto, o STF diz que tal lei não
foi recepcionada neste ponto. A autoexecutoriedade da Administração Tributária cedeu lugar
diante da inviolabilidade do domicílio. Deve requisitar autorização judicial. Isso é em relação tão
somente em fiscalização para fins de tributo. Se o fiscal assim o fizer, a prova obtida será tida como
ilícita.

STF – HC 103.325 MC/RJ: “O atributo da autoexecutoriedade dos atos


administrativos [...] não prevalece sobre a garantia constitucional da
inviolabilidade domiciliar, ainda que se cuide de atividade exercida pelo Poder
Público em sede de fiscalização tributária”.

Salienta-se que a arrecadação do Estado não é uma justificação legítima para a invasão de
uma residência ou de um estabelecimento comercial. Contudo, a saúde pública pode justificar a
invasão de um determinado domicílio, como entendeu o legislador quando houver suspeita de casos
de dengue, Chikungunya por exemplo:

Lei n. 13.301/16, art. 1º: “Na situação de iminente perigo à saúde pública pela
presença do mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus chikungunya
e do vírus da zika, a autoridade máxima do Sistema Único de Saúde - SUS
de âmbito federal, estadual, distrital e municipal fica autorizada a determinar
e executar as medidas necessárias ao controle das doenças causadas pelos
referidos vírus, nos termos da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, e

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 42
.
demais normas aplicáveis, enquanto perdurar a Emergência em Saúde
Pública de Importância Nacional – ESPIN.
§ 1º: Entre as medidas que podem ser determinadas e executadas para a
contenção das doenças causadas pelos vírus de que trata o caput, destacam-
se:
(...)
IV - ingresso forçado em imóveis públicos e particulares, no caso de situação
de abandono, ausência ou recusa de pessoa que possa permitir o acesso de
agente público, regularmente designado e identificado, quando se mostre
essencial para a contenção das doenças.

Escritório vazio e busca e apreensão realizada à noite por ordem judicial:

No Inquérito 2.424/RJ, o STF considerou válida a instalação de escuta ambiental por


policiais, no escritório de advocacia de um advogado suspeito da prática de crimes. A colocação
das escutas ocorreu no período da noite por determinação judicial.

STF – Inq 2.424/RJ: “8. PROVA. Criminal. Escuta ambiental e exploração de


local. Captação de sinais óticos e acústicos. Escritório de advocacia. Ingresso
da autoridade policial, no período noturno, para instalação de equipamento.
Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de domicílio. Não
caracterização. Suspeita grave da prática de crime por advogado, no
escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Situação não acobertada
pela inviolabilidade constitucional”

O STF afirmou que a CF/88, no seu art. 5º, X e XI, garante a inviolabilidade da intimidade e
do domicílio dos cidadãos, sendo equiparados ao domicílio, para fins dessa inviolabilidade, os
escritórios de advocacia, locais não abertos ao público, e onde se exerce profissão (art. 150, § 4º,
III, do CP). No entanto, apesar disso, entendeu-se que tal inviolabilidade pode ser afastada quando
o próprio advogado seja suspeito da prática de crime concebido e consumado, sobretudo no âmbito
do seu escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Neste caso, os interesses e valores
jurídicos, inviolabilidade do domicílio, que não tem caráter absoluto, deve ser ponderada e
conciliada com o direito de puir, à luz da proporcionalidade.

Assim, apesar de ser possível a equiparação legal da oficina de trabalho com o domicílio,
julgou-se ser possível a instalação da escuta, por ordem judicial, no período da noite, principalmente
porque durante esse período o escritório fica vazio, não sendo, portanto, possível sua equiparação
neste caso ao domicílio, que pressupõe a presença de pessoas que o habitem.

6. DIREITO DE LIBERDADE

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Observe a redação do art. 5º, caput, da CF:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 43
.

Liberdade não é sinônimo de arbitrariedade. Liberdade pressupõe responsabilidade.

As liberdades não são absolutas, porém para que o poder público possa restringi-las, alguns
limites devem ser observados (limites dos limites). Não pode haver restrição que viole núcleo
essencial do direito, que não obedeça à reserva legal etc. Se isso não for observado, não há
legitimidade da restrição.

Importante a distinção entre liberdade negativa e liberdade positiva, feita por Benjamim
Constant, observe:

LIBERDADE NEGATIVA LIBERDADE POSITIVA

Também chamada de liberdade civil, dos Também chamada de liberdade política, dos
modernos e do agir. antigos e do querer.

É a situação na qual um indivíduo tem a Situação na qual um indivíduo tem a


possibilidade de agir sem ser impedido, ou de possibilidade de orientar seu próprio querer no
não agir sem ser obrigado por todos. Em sentido de uma finalidade, sem ser
suma: consiste em uma ausência de determinado pelo querer dos outros. Consagra
constrangimento. a autonomia da vontade.

LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO

6.2.1. Previsão constitucional

Prevista no art. 5º, IV da CF.

Art. 5º, IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato;

6.2.2. Âmbito de proteção

A finalidade da liberdade de manifestar o pensamento é permitir a livre competição no


“mercado de ideias”. Em outras palavras, é permitir que as pessoas digam aquilo que pensam para
que as melhores ideias possam prevalecer.

A CF não protege apenas o pensamento em si (e nem precisa, pois qualquer um pode pensar
o que bem entender sem necessidade de qualquer previsão), mas sim a liberdade de manifestar ou
expressar o pensamento.

A interferência estatal no pensamento da pessoa não ocorre. Contudo, ao analisarmos a


dimensão objetiva dos direitos fundamentais, para uma pessoa ter um pensamento realmente livre
precisa ter acesso a determinados bens (saúde, educação) e determinadas informações, pois uma
pessoa que não possui este acesso não tem condições de pensar livremente e ter
autodeterminação. Segundo Novelino, citando um filósofo russo, “assegurar salvaguardas políticas
ou ampliar a liberdade de indivíduos desnutridos, doentes, seminus é zombar de sua condição”.

Segundo o STF, na ADPF 187 (“Marcha da maconha”), defender, no plano de ideias, que o
uso de drogas deve ser descriminalizado é diferente da prática do delito e é diferente da apologia

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 44
.
ao fato criminoso. Isso porque a liberdade de manifestação do pensamento deve ser assegurada,
principalmente, quando o indivíduo tem ideias contrárias às da maioria. Além disso, a democracia
em sentido material não se confunde apenas com a premissa majoritária, sendo que ela deve ser
aliada à proteção dos direitos básicos de todos, inclusive, o direito das minorias.

STF - ADPF 187/DF: O DIREITO À LIVRE MANIFESTAÇÃO DO


PENSAMENTO: NÚCLEO DE QUE SE IRRADIAM OS DIREITOS DE
CRÍTICA, DE PROTESTO, DE DISCORDÂNCIA E DE LIVRE CIRCULAÇÃO
DE IDEIAS - ABOLIÇÃO PENAL (“ABOLITIO CRIMINIS”) DE
DETERMINADAS CONDUTAS PUNÍVEIS - DEBATE QUE NÃO SE
CONFUNDE COM INCITAÇÃO À PRÁTICA DE DELITO NEM SE
IDENTIFICA COM APOLOGIA DE FATO CRIMINOSO - DISCUSSÃO QUE
DEVE SER REALIZADA DE FORMA RACIONAL, COM RESPEITO ENTRE
INTERLOCUTORES E SEM POSSIBILIDADE LEGÍTIMA DE REPRESSÃO
ESTATAL, AINDA QUE AS IDEIAS PROPOSTAS POSSAM SER
CONSIDERADAS, PELA MAIORIA, ESTRANHAS, INSUPORTÁVEIS,
EXTRAVAGANTES, AUDACIOSAS OU INACEITÁVEIS. A PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE PENSAMENTO COMO
SALVAGUARDA NÃO APENAS DAS IDEIAS E PROPOSTAS
PREVALECENTES NO ÂMBITO SOCIAL, MAS, SOBRETUDO, COMO
AMPARO EFICIENTE ÀS POSIÇÕES QUE DIVERGEM, AINDA QUE
RADICALMENTE, DAS CONCEPÇÕES PREDOMINANTES EM DADO
MOMENTO HISTÓRICO-CULTURAL, NO ÂMBITO DAS FORMAÇÕES
SOCIAIS - O PRINCÍPIO MAJORITÁRIO, QUE DESEMPENHA
IMPORTANTE PAPEL NO PROCESSO DECISÓRIO, NÃO PODE
LEGITIMAR A SUPRESSÃO, A FRUSTRAÇÃO OU A ANIQUILAÇÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS, COMO O LIVRE EXERCÍCIO DO DIREITO DE
REUNIÃO E A PRÁTICA LEGÍTIMA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, SOB
PENA DE COMPROMETIMENTO DA CONCEPÇÃO MATERIAL DE
DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL. INADMISSIBILIDADE DA “PROIBIÇÃO
ESTATAL DO DISSENSO” - NECESSÁRIO RESPEITO AO DISCURSO
ANTAGÔNICO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE CIVIL COMPREENDIDA
COMO ESPAÇO PRIVILEGIADO QUE DEVE VALORIZAR O CONCEITO DE
“LIVRE MERCADO DE IDEIAS” – [...] A IMPORTÂNCIA DO CONTEÚDO
ARGUMENTATIVO DO DISCURSO FUNDADO EM CONVICÇÕES
DIVERGENTES - A LIVRE CIRCULAÇÃO DE IDEIAS COMO SIGNO
IDENTIFICADOR DAS SOCIEDADES ABERTAS, CUJA NATUREZA NÃO
SE REVELA COMPATÍVEL COM A REPRESSÃO AO DISSENSO E QUE
ESTIMULA A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS DE LIBERDADE EM
OBSÉQUIO AO SENTIDO DEMOCRÁTICO QUE ANIMA AS INSTITUIÇÕES
DA REPÚBLICA.

De acordo com o STF, a liberdade de expressão (liberdade de manifestação do pensamento


+ liberdade de imprensa) possui “posição referencial”, ou seja, não há primazia absoluta deste
direito sobre os demais (todos os direitos fundamentais estão no mesmo plano, embora haja uma
hierarquia de valores). Assim, prima facie a liberdade de expressão prevalece sobre os demais
direitos, haverá responsabilidade caso o manifeste de maneira abusiva. Em suma, deve-se evitar
as censuras prévias, permitindo a liberdade de expressão, sendo a pessoa responsabilizada quando
houver abusos (ADPF 130).

STF – ADPF 130: “Ponderação diretamente constitucional entre blocos de


bens de personalidade: o bloco dos direitos que dão conteúdo à liberdade de

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 45
.
imprensa e o bloco dos direitos à imagem, honra, intimidade e vida privada.
Precedência do primeiro bloco. Incidência a posteriori do segundo bloco de
direitos, para o efeito de assegurar o direito de resposta e assentar
responsabilidades penal, civil e administrativa, entre outras consequências do
pleno gozo da liberdade de imprensa.”
STF - Rcl 18.638 MC/CE: “[...] 33. A conclusão a que se chega, portanto, é a
de que o interesse público na divulgação de informações – reiterando-se a
ressalva sobre o conceito já pressupor a satisfação do requisito da verdade
subjetiva – é presumido. A superação dessa presunção, por algum outro
interesse, público ou privado, somente poderá ocorrer, legitimamente, nas
situações-limite, excepcionalíssimas, de quase ruptura do sistema. Como
regra geral, não se admitirá a limitação de liberdade de expressão e de
informação, tendo-se em conta a já mencionada posição preferencial
(preferred position) de que essas garantias gozam.”

6.2.3. Restrições

A vedação do anonimato é a única restrição expressa na Constituição, visa evitar


manifestações abusivas do pensamento, que podem ofender terceiros. Assim, permite-se a
responsabilização no caso de manifestações abusivas ou que violem direitos de terceiros.

A Constituição assegura o direito de resposta (art. 5º, V da CF), sendo um direito autônomo
em relação ao direito à liberdade.

Art. 5º, V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem;

Sepúlveda Pertence: a manifestação do pensamento é um direito que se exaure quando se


realiza. Ou seja, não pode ser proibida a manifestação de expressão (não pode haver censura),
mas isso não significa que a pessoa não possa ser, posteriormente, responsabilizada.

Indaga-se:

1) Disque denúncia (denúncia anônima) serve como prova processual, uma vez que a
Constituição veda o anonimato? Não se admite a denúncia anônima, pura e simples, como prova
processual. O disque denúncia serve apenas para que a autoridade investigue e colha as provas
válidas para a instauração do processo.

2) As provas colhidas a partir da denúncia anônima não seriam ilícitas por derivação?
Segundo o STF, a investigação é autônoma em relação à denúncia, ou seja, a autoridade policial
não fica impedida de realizar a investigação porque foi feita uma denúncia anônima, porque o
policial tendo conhecimento do fato iria investigar e acusaria conforme as provas da investigação.

STF - Inq 1.957 (voto do Min. Celso de Mello): “Nada impede, contudo, que o
Poder Público, provocado por delação anônima (‘disque-denúncia’, p. ex.),
adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação
sumária, ‘com prudência e discrição’, a possível ocorrência de eventual
situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a
verossimilhança dos fatos nela denunciados em ordem a promover, então,
em caso positivo, a formal instauração da ‘persecutio criminis’, mantendo-se,
assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação às
peças apócrifas”.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 46
.

Súmula 611 STJ: Desde que devidamente motivada e com amparo em


investigação ou sindicância, é permitida a instauração de processo
administrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do poder-
dever de autotutela imposto à Administração.

3) Bilhetes ou cartas apócrifos (sem assinatura) servem como prova? Em regra, não.

Exceções: O STF admite quando o bilhete constitui o próprio corpo de delito do crime (ex.:
carta injuriosa é o corpo de delito do crime contra a honra, logo é válida). Outra hipótese que o STF
admite ocorre quando o bilhete sem assinatura é produzido pelo próprio acusado (ex.: bilhete que
o sequestrador pede o resgate). Claro que a utilização do elemento como prova dependerá de
perícia etc.

Importante destacar que a igualdade e a dignidade da pessoa humana, de acordo com o


STF, são restrições implícitas à liberdade de expressão. Assim, a incitação ao ódio (hate
speech) não está protegida pela liberdade de manifestação do pensamento.

STF – RHC 146.303/RJ (2ª Turma): “A incitação ao ódio público contra


quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegida
pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. [...] A
Turma considerou que o exercício da liberdade religiosa e de expressão não
é absoluto, pois deve respeitar restrições previstas na própria Constituição.
Nessa medida, os postulados da igualdade e da dignidade pessoal dos seres
humanos constituem limitações externas à liberdade de expressão, que não
pode e não deve ser exercida com o propósito subalterno de veicular práticas
criminosas tendentes a fomentar e a estimular situações de intolerância e de
ódio público.

Também é o entendimento adotado pelo Legislador que criminalizou este tipo de conduta
(art. 20 da Lei 7.716/89)

Lei n. 7.716/89, art. 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou


preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”

LIBERDADE DE INFORMAÇÃO

6.3.1. Conceito

Art. 5º, XIV - é assegurado a todos o acesso à INFORMAÇÃO e resguardado


o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição.

Temos aqui três aspectos: direito de informar, direito de se informar e direito de ser
informado.

O direito de informar consiste em transmitir informações pelos meios de comunicação.

A Constituição reconhece esse direito no art. 220, caput, quando estatui que a informação
sob forma alguma, processo ou veículo não sofrerá qualquer restrição. Ou seja, caráter negativo, o

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 47
.
estado se compromete a não intervir, mas também não dá os meios para que a informação seja
transmitida. Excepcionalmente, neste inc. V do art. 5º, podemos enxergar o caráter positivo deste
direito, pois aqui, quando o indivíduo tem a honra maculada devido ao “direito à informação” ou
“manifestação do pensamento”, terá direito de resposta transmitida por esse mesmo meio de
comunicação.

Art. 5º, V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem;

O direito de se informar corresponde à faculdade de o indivíduo buscar as suas informações


pretendidas sem quaisquer obstáculos.

O direito de ser informado equivale à faculdade de ser mantido completa e adequadamente


informado.

6.3.2. Liberdade de informação jornalística

A CF não recepcionou o art. 4º do DL 972/69, o qual exige diploma de curso superior de


jornalismo para o exercício da profissão.

O STF decidiu, neste sentido, por encarar a liberdade de informação jornalística


umbilicalmente ligada à manifestação de pensamento e liberdade de informação, por isso, não quis
vincular o exercício do jornalismo ao diploma, para não obstar tais direitos.

Mesmo entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO

Art. 5º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei,
a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

6.4.1. Conceitos

Liberdade de CONSCIÊNCIA Liberdade de CRENÇA Liberdade de CULTO

É faculdade de aderir certos É a faculdade crer em É a exteriorização da liberdade


valores morais ou espirituais, conceitos sobrenaturais de crença, podendo ser
independentemente de proposto por alguma religião exercida tanto em locais
qualquer valor religioso. É a ou revelação, chamado de públicos quanto provados.
mais ampla delas. Pode teísmo, bem como acreditar na
referir-se ao fato de a pessoa existência de Deus, mas Os locais de realização de
ter crença ou até mesmo não rejeitar qualquer espécie de cultos são protegidos pela CF
ter crença, além de poder se revelação divina (deísmo) ou, e possuem imunidade (art.
referir à consciência política, ainda, não ter crença em Deus 150, VI, “b”).
filosófica etc. algum (ateísmo)

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 48
.
6.4.2. Escusa de consciência (art. 5º, VIII)

CF, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou
de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
fixada em lei;

É a possibilidade de a pessoa invocar o chamado imperativo de consciência, para se eximir


de determinadas obrigações. O sujeito invoca uma convicção pessoal (religiosa, política ou
filosófica) para se eximir de obrigação a todos imposta, devendo, no caso, prestar obrigação
alternativa.

Habermas: Não se pode obrigar uma pessoa praticar algo impossível.

O Estado deve criar a lei para que a pessoa tenha a opção em caso de violação de sua
consciência. Se o estado não edita a lei, não pode a pessoa ser penalizada.

Outro exemplo pertinente é o do voto obrigatório, alegando um imperativo de consciência o


indivíduo pode deixar de votar. Caso não cumpra a prestação alternativa, terá que cumprir a pena
prevista no art. 15, IV, CF (suspensão dos direitos políticos).

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa
(SOMENTE A NEGATIVA DE CUMPRIMENTO DE PRESTAÇÃO
ALTERNATIVA QUE GERA), nos termos do art. 5º, VIII;

Destaca-se que objeção de consciência deve para ser admitida deve ser baseada em
convicções seriamente arraigadas, isto é, que poderão causar grave tormento moral, caso o
indivíduo seja obrigado a fazer determinada obrigação. Em suma, deve ser um pensamento
suficientemente estruturado, coerente e sincero.

Exemplo clássico é o serviço militar obrigatório:

CF, art. 143: “(...).


§ 1º: Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo
aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de
consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de
convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter
essencialmente militar.
§ 2º: As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar
obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei
lhes atribuir”.

Observe que o legislador constituinte originário somente assegurou a escusa de consciência


no caso do serviço militar obrigatório em tempo de paz. Como essa é uma norma originária, não há
como se questionar sua constitucionalidade e nem como ponderar diante da escusa de consciência.
Além disso, aquele que alega o imperativo de consciência pode ser dispensado de atividades de
caráter essencialmente militar, podendo prestar outras atividades dentro da estrutura militar.

Indaga-se:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 49
.
1) Pode-se alegar a escusa de consciência para não se alistar e não votar? Não. Conforme
entendeu o TRF1 (AC 16.203), a obrigação de votar é meramente formal. Em outras palavras, a
pessoa é obrigada a comparecer à votação, mas não é obrigada a votar em determinado candidato
ou partido, pode optar pelo voto em branco ou anular seu voto.

TRF1 - AC 16.203: [...] 2. Não pode o autor eximir-se de comparecer à


votação expondo como argumento a inviolabilidade da liberdade de
consciência e a privação de direitos referentes à convicção filosófica ou
política (art. 5.º, VI e VIII, da CF/1988), pois aos brasileiros alfabetizados,
maiores de dezoito e menores de setenta anos, o voto é obrigatório, conforme
art. 14, § 1.º, I, da Constituição Federal. 3. A obrigatoriedade de votar é
formal, logo a liberdade está garantida pela faculdade do cidadão de
votar em branco ou anular seu voto. 4. Os pedidos de declaração da
inexistência de obrigatoriedade do voto e da desnecessidade de justificação
ou cumprimento de prestação alternativa são juridicamente impossíveis em
face do ordenamento constitucional (art. 14, § 1.º, I da CF/1988). 5. Apelação
improvida.

2) Há o direito de realizar provas ou concursos públicos em dias diferentes dos demais, com
o intuito de respeitar o seu dia de guarda (pôr do sol de sexta até o pôr do sol de sábado)? O ideal
é que o direito seja respeitado, tendo em vista que é uma convicção coerente, sincera dessas
pessoas. Contudo, não pode haver prejuízo para os demais participantes do certame. Por exemplo,
provas distintas poderiam causar quebra da isonomia, já que é impossível fazer duas questões com
o mesmo nível de dificuldade. Por isso, o ideal é que a pessoa que alegou escusa de consciência ,
fique em um local reservado, sem contato com o mundo exterior, aguardando passar o período de
guarda, para realizar a prova

O STF (STA 389 AgR/MG) não admitiu que membros de determinada religião realizassem
a prova do ENEM em dia diverso, em razão da violação do princípio da igualdade.

STA 389 AgR/MG: [...] 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão


do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat 3.
Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao
direito à educação. [...] 5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a
designação de data alternativa para a realização dos exames não se revela
em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para
um determinado grupo religioso [...]; 7. Pendência de julgamento das Ações
Diretas de Inconstitucionalidade nº 391 e nº 3.714, nas quais este Corte
poderá analisar o tema com maior profundidade. 8. Agravo Regimental
conhecido e não provido.

Obs.: tratando-se de provas em faculdades e escolas, a Lei 13.796/2019 alterou a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação permitindo que, mediante prévio e motivado requerimento, o aluno possa
ausentar-se de prova ou da aula nos dias de guarda.

Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública


ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de
consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado
requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que,
segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais
atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 50
.
o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso
VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data
alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com
sua anuência expressa;
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema,
objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.
§ 1º A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o
plano de aula do dia da ausência do aluno.
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alternativa de que trata este
artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive
regularização do registro de frequência.
§ 3º As instituições de ensino implementarão progressivamente, no prazo de
2 (dois) anos, as providências e adaptações necessárias à adequação de seu
funcionamento às medidas previstas neste artigo.
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o
art. 83 desta Lei.

6.4.3. Dever de neutralidade do Estado

Destaca-se que no Império o Brasil possuía uma religião oficial, mas desde o advento da
República tornou-se um Estado Laico, nos termos do art. 19 da CF/88.

Desde o advento da República, o Estado brasileiro é considerado um Estado LAICO, não


confessional ou secular. Ou seja, é aquele que não tem religião oficial. Há uma separação entre
Estado e Igreja.

LAICIDADE LAICISMO ATEÍSMO

Esse é o sentido de Estado É uma espécie de antirreligião, É a falta de crença em um


LAICO. o que não se coaduna com os Deus. O Estado brasileiro não
princípios constitucionais é ateu, basta ver o preâmbulo.
Laicidade é uma brasileiros
NEUTRALIDADE em relação
às concepções religiosas (art.
19). Não significa que a
religião não tem importância.
Significa que não pode haver
favorecimentos ou prejuízos
em relação à determinada
religião.

CF, art. 19: É vedado à União,


aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou
igrejas, subvencioná-los,
embaraçar-lhes o funcionamento
ou manter com eles ou seus
representantes relações de

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 51
.
dependência ou aliança,
ressalvada, na forma da lei, a
colaboração de interesse público.

A LAICIDADE fundamenta-se na neutralidade no exercício do poder, é uma condição


necessária para a garantia da simétrica da liberdade religiosa, bem como para desarmar o potencial
conflituoso da diversidade religiosa (Habermas).

Em relação à utilização de crucifixos ou outros símbolos religiosos em locais públicos,


o CNJ, após três pedidos de retirada, entendeu que os crucifixos são parte da cultura brasileiro, não
ferindo o dever de neutralidade do Estado. Na Alemanha, em um caso semelhante, foi decidido
exatamente o contrário, determinou-se a retirada das escolas públicas.

Segundo Novelino, Dworkin também corrobora com o entendimento da abstenção da


utilização de símbolos religiosos, afirma que: “Em uma sociedade secular tolerante o Estado não
deve estar oficialmente comprometido com o ateísmo nem com qualquer religião. Não deve tolerar
qualquer referência ou insinuação religiosa ou antirreligiosa em cerimônias oficiais ou em
declarações políticas. [...] Não deve considerar ilegal símbolos religiosos, mas também não deve
instalar ou permitir que se instale tais símbolos em qualquer propriedade pública”

Em relação ao ensino religioso ministrado nas escolas públicas, a CF (art. 210, §1º) e o
art. 33 da LDB preveem que o ensino religioso é uma matéria facultativa, devendo respeitar a
diversidade cultural religiosa que existe no Brasil, ficando proibido qualquer forma proselitismo
(esforço para converter alunos).

CF – Art. 210, § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá


disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

LDB - Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante


da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a
definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para
a habilitação e admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.

O Brasil possui um acordo com a Santa Sé que prevê:

Art. 11, §1º o ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de


matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis
vigentes, sem qualquer forma de discriminação.

A LDB e o Acordo Brasil-Santa Sé foram objeto de uma ação de inconstitucionalidade no


STF, em que se requereu uma interpretação conforme à Constituição para que o ensino religioso
fosse não confessional.

Importante consignar que há três espécies de ensino religioso, são elas:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 52
.
CONFESSIONAL INTERCONFESSIONAL NÃO CONFESSIONAL

É transmitido os princípios e É transmitido os princípios É transmitida uma visão neutra


dogmas de cada religião, a comuns de cada religião. de cada religião.
exemplo da Católica,
Protestante, Evangélica,
Espírita.

Na ADI 4.439/DF, por maioria de votos, o STF entendeu que haveria um esvaziamento do
ensino religioso se fosse ministrado na espécie não confessional. O ensino religioso deve ser
confessional, assegurando as várias crenças (pluralismo), substituir os dogmas de fé (núcleo do
conceito de ensino religioso) tornaria uma espécie de filosofia ou sociologia.

STF - ADI 4.439/DF: ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PÚBLICAS.


CONTEÚDO CONFESSIONAL E MATRÍCULA FACULTATIVA. RESPEITO
AO BINÔMIO LAICIDADE DO ESTADO/LIBERDADE RELIGIOSA.
IGUALDADE DE ACESSO E TRATAMENTO A TODAS AS CONFISSÕES
RELIGIOSAS. CONFORMIDADE COM ART. 210, §1°, DO TEXTO
CONSTITUCIONAL. CONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 33, CAPUT E
§§ 1º E 2º, DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
E DO ESTATUTO JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL
PROMULGADO PELO DECRETO 7.107/2010. AÇÃO DIRETA JULGADA
IMPROCEDENTE.

Contudo, Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Marco Aurélio e Celso de Mello (minoria)
concederam interpretação conforme à Constituição Federal, em razão da liberdade religiosa e o
dever de neutralidade do Estado, devendo o ensino religioso ter natureza não confessional,
transmitindo uma visão neutra de cada religião.

Em relação ao sacrifício de animais em rituais religiosos, questionou-se no STF uma lei


do Rio Grande do Sul que proibia o sacrifício de animais, salvo nos casos de livre exercício dos
cultos religiosos de matrizes africanas. O STF entendeu que a lei do RS era compatível com a
Constituição, tendo em vista que o sacrifício de animais é essencial aos rituais das religiões de
matriz africana, não se admite crueldade com o animal, empregam-se técnicas e procedimentos
para que morte ocorra rapidamente.

STF – RE 494.601/RS: É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de


resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em
cultos de religiões de matriz africana.

LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO

6.5.1. Conceito

*OBS: estão protegidos pelo art. 60 CF (cláusulas pétreas), embora se refira só a “individuais”.

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


...
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 53
.
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; voto obrigatório não é cláusula
pétrea.
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Há quem diga que são direitos coletivos, no entanto, conforme a melhor doutrina de José
Afonso da Silva, trata-se de direitos individuais de expressão coletiva.

É a expressão coletiva da liberdade de manifestação do pensamento. (Dirley da Cunha)

6.5.2. Reunião X Associação (diferenças e semelhanças)

Conforme Jean Rivero, possuem duas características em comum:

• ELEMENTO SUBJETIVO: Pluralidade de participantes.

• ELEMENTO TELEOLÓGICO: Fim previamente determinado, ou seja, a reunião ou


associação casuística, sem qualquer finalidade, não estão no âmbito de proteção da norma
constitucional.

Característica distintiva

• ELEMENTO TEMPORAL: reunião é temporária; associação é definitiva.

6.5.3. Reunião

É uma pluralidade de pessoas que se unem durante determinado tempo, em determinado


local, em defesa conjunta de determinada ideia, com o fim de protestar, expressar opinião ou
proteger interesses. Deve ser pacífica e sem armas.

Reunião não pacífica é aquela em que seus participantes põem em risco outras pessoas ou
bens alheios.

A reunião tem caráter temporário, episódico. As pessoas se reúnem, deliberam sobre o fim
proposto, e a reunião acaba (art. 5º, XVI). Não é necessário autorização de autoridade, basta o
AVISO PRÉVIO, para não frustrar outra reunião e para que a autoridade pública tome as
providências necessárias.

Art. 5º, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

O direito de reunião pode ser RESTRINGIDO em estado de defesa, e SUSPENSO em


estado de sítio, AINDA que exercido no seio de associações.

6.5.4. Associação

Art. 5º XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos (acepção


positiva), vedada a de caráter paramilitar;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 54
.
Ninguém é obrigado a associar-se, e uma vez associado, ninguém é obrigado a manter-se
nessa condição. (Acepção negativa)

As sociedades unipessoais e as fundações não estão no âmbito de proteção da norma.


Apesar disso, o termo associação deve ser entendido em sentido lato, não ficando restrita à
proteção de pessoas jurídicas regularmente constituídas. Nada impede, no entanto, que o legislador
ordinário limite às associações devidamente registradas o exercício de determinados direitos, numa
necessidade de mantença da ordem pública e defesa de terceiros.

A associação tem caráter permanente. As pessoas, geralmente, se associam com a intenção


de permanecer associadas entre si.

Art. 5º, XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,


têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Esse caso configura representação ou substituição processual? Trata-se de


REPRESENTAÇÃO, segundo o STF. Pois precisa de autorização expressa, ou seja, a autorização
não pode estar genericamente prevista no Estatuto da associação. Deve haver uma autorização
específica, podendo ser tanto individual quanto coletiva em assembleia. A representação deve ter
relação com os fins da entidade.

Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou ASSOCIAÇÃO legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;

Esses legitimados da alínea B são mais amplos que os da ADI.

Questão: Qual a natureza da impetração de MS coletivo pela associação? Aqui é hipótese


de substituição processual (legitimação extraordinária). Ou seja, não é necessária a autorização
expressa, peculiar aos casos de representação. Aqui, a associação age em nome próprio,
defendendo o interesse dos associados, não havendo necessidade de o direito violado ter relação
direta com os fins da associação.

STF: Súmula 629 - a impetração de mandado de segurança coletivo por


entidade de classe em favor dos associados independe da autorização
destes.

STF Súmula 630 - a entidade de classe tem legitimação para o mandado de


segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte
da respectiva categoria.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 55
.
De acordo com o STF4:

Em suma (conclusões feitas pelo Prof. Márcio Cavalcante – Dizer o Direito5):

1) As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados.

2) A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de


seus interesses.

3) A autorização dada pelos associados precisa ser expressa e específica para cada ação.
Assim, não é suficiente a autorização genericamente prevista no estatuto da associação.

4) Essa autorização pode ser feita de duas formas: a) por declaração individual do
associado; ou b) por aprovação na assembleia geral da entidade.

5) Vale ressaltar que, no caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a


associação não precisa de autorização específica dos filiados (Súmula 629-STF).

6) Para que seja beneficiada pela sentença favorável obtida na ação coletiva proposta pela
associação é necessário que a pessoa: a) esteja filiada à associação no momento da propositura;
b) seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador; e c) tenha autorizado o ajuizamento da
ação e seu nome esteja na lista anexada junto à petição inicial.

6.5.5. Sindicato

Art. 8º, III - ao SINDICATO cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos
ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;

4
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/07d5938693cc3903b261e1a3844590ed?p
alavra-
chave=As+associa%C3%A7%C3%B5es+podem+propor+a%C3%A7%C3%B5es+coletivas+em+favor+dos+
seus+associados
5 Idem

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 56
.

Não há necessidade de autorização expressa dos sindicalizados, logo é hipótese de


substituição processual.

O sindicato não precisa apresentar a relação nominal dos substituídos juntamente com a
petição inicial da ação proposta

OBS: Direitos que não dependem de autorização estatal

1) Liberdade de reunião;

2) Criação de associações e, na forma da lei, de cooperativas;

3) Criação de sindicatos;

4) Criação de partidos políticos.

7. DIREITO DE PROPRIEDADE

ÂMBITO DE PROTEÇÃO

O art. 5º, XXII da CF garante o direito de propriedade. Assim como os demais direito, não é
absoluto, é apenas prima facie, em algumas hipóteses sofrerá restrições. Nesse sentido, o
entendimento do STF.

STF – MS 25.284: O direito de propriedade não se revela absoluto. Está


relativizado pela Carta da República – arts. 5º, XXII, XXIII e XXIV, e 184.

Dentro do âmbito de proteção, encontra-se a impenhorabilidade da pequena propriedade


rural.

CF, art. 5º, XXVI –a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios
de financiar o seu desenvolvimento.

REGIME JURÍDICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE

José Afonso da Silva afirma que o regime é de DIREITO PÚBLICO, isso porque a base do
direito à propriedade é constitucional (já foi adoto pelo CESPE em provas).

A disciplina do direito de propriedade está consagrada na Constituição, o Código Civil


disciplina as relações civis decorrentes do direito de propriedade.

RESTRIÇÕES

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 57
.
7.3.1. Função social (art. 5º, XXII)

Função social não é apenas uma limitação; ela faz parte do próprio regime, da própria
estrutura do direito de propriedade.

Art. 5º, XXIII - a propriedade atenderá a sua FUNÇÃO SOCIAL;

Existem duas interpretações quanto à relação propriedade X função social:

1ª: Afonso da Silva: pôr a função social fazer parte da estrutura do direito de propriedade,
este só é garantido se a propriedade atender à sua função social.

Crítica: Por essa interpretação, se o MST invade uma propriedade improdutiva (sem função
social), tal atitude seria legítima. Não há como compactuar com algo assim. Mesmo não cumprindo
a função social a propriedade tem uma proteção. Ninguém pode ser privado arbitrariamente de sua
propriedade.

O STF, em jurisprudência passiva, entende que a invasão de terra (MST) é ilegítima. O


direito de propriedade, na verdade, recebe uma proteção constitucional mesmo quando não atender
a sua função social, a propriedade está protegida.

2ª: Daniel Sarmento: Se a propriedade cumpre a sua função social ela terá uma proteção
maior do que aquela que não cumpre, ou seja, não é pelo fato de não cumprir a função social que
o direito à propriedade deixa de ser garantido.

Conforme o STF, ninguém pode ser privado do direito de propriedade sem observância do
devido processo legal. STF MS 23006/PB.

Dirley: mesmo sem cumprir a função social, ainda existe proteção.

Quando a propriedade cumpre sua função social?

A propriedade urbana cumpre a função social quando observa às exigências previstas pelo
plano diretor.

Art. 182, § 2º - A propriedade URBANA cumpre sua função social quando


atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no
plano diretor.

Quanto à propriedade rural, a CF já estabelece os requisitos, remetendo à lei o grau de


exigência desses requisitos, quais sejam:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade RURAL atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

Quais as penalidades em caso de descumprimento da função social?

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 58
.
Em relação à propriedade urbana, o art. 182, §4º da CF prevê uma série de penalidades,
que devem ser impostas gradativamente.

CF, art. 182, § 4º: É facultado ao poder público municipal, mediante lei
específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal,
do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.

Tratando-se de propriedade rural as penalidades estão previstas no art. 184 da CF.

CF, art. 184: Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula
de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir
do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

7.3.2. Requisição

Existem duas espécies de requisição prevista na CF:

I - Civil (art. 5º, XXV).

II - Militar (art. 139, VII).

Art. 5º, XXV - no caso de IMINENTE PERIGO PÚBLICO, a autoridade


competente poderá usar de propriedade, assegurada ao proprietário
indenização ulterior, se houver dano.

Art. 139. Na vigência do ESTADO DE SÍTIO decretado com fundamento no


art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
[...]
VII - requisição de bens.

A requisição civil ocorre quando o poder público faz uso, compulsória e temporariamente,
da propriedade particular, por motivos de iminente perigo público.

A requisição só gera a obrigação de indenizar no caso da ocorrência de dano ao particular.


Indenização, essa, que sempre será posterior à limitação do direito.

7.3.3. Desapropriação (art. 5º, XXIV)

Existem três hipóteses de desapropriação:

I - Necessidade pública: A transferência do bem é imprescindível.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 59
.
II - Utilidade pública: Não é imprescindível, mas é conveniente.

III - Interesse social: A transferência é feita para gerar benefícios sociais. É a única forma
que justifica a transferência do bem desapropriado para outro particular. Exemplo: reforma agrária.

Art. 5º, XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por


necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa
e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;

Na desapropriação SEMPRE haverá indenização. De acordo com a CF, deve ser uma
indenização justa, prévia e em dinheiro (em regra). O pagamento só não será feito em dinheiro nos
casos de “desapropriação-sanção”. São elas:

a) Imóvel urbano (art. 182, §4º, III – “desapropriação urbanística sancionatória”)

Art. 182, § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica


para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado (falta
de cumprimento da função social), que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo; (imposto extrafiscal)
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.

Percebe-se que, nesse caso, a desapropriação é a última medida para adequar a


propriedade à função social. Nesse caso, o pagamento é feito em títulos da dívida pública. É a única
hipótese de pagamento que não é em dinheiro, no que se refere à desapropriação de imóvel
urbano.

b) Imóvel rural (art. 184 – “desapropriação rural”)

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida
em lei.

Mais um caso de não cumprimento de função social. O pagamento é feito em títulos da


dívida agrária. É o único caso de desapropriação de imóvel rural que não é paga em dinheiro.

Indaga-se:

1) Operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária são


isentas de TRIBUTOS federais, estaduais e municipais? NÃO. ERRADO. Art. 184, §5º.
São isentas apenas de IMPOSTOS. Isenção aqui é o mesmo que imunidade.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 60
.
Art. 184, § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as
operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma
agrária.

2) PEQUENAS e MÉDIAS propriedades rurais e propriedades produtivas podem ser


desapropriadas? SIM. No entanto, não podem para fins de reforma agrária, pois não
haveria interesse social. Art. 185.

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária


(para outros fins pode! necessidade pública, por exemplo):
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que
seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva
e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos à sua função
social.

3) Tendo em vista o art. 184, “Compete a União...”, os Estados não poderão desapropriar
por interesse social? Os Estados podem desapropriar por interesse social, mas não para
fins de reforma agrária, sendo, neste caso, atribuição da União (JSCF).

Art. 184. Compete à UNIÃO desapropriar por interesse social, para FINS DE
REFORMA AGRÁRIA, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos,
a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em
lei.

Diferença desapropriação x requisição


DESAPROPRIAÇÃO REQUISIÇÃO
Bens Bens e serviços
Aquisição propriedade Uso da propriedade
(transferência compulsória para
o Estado ou outro particular)
Necessidades permanentes Necessidades transitórias e
urgentes.
Ex: guerra, calamidade.
Acordo ou processo judicial Auto executoriedade
Sempre indenizável (justa, Indenizável (posterior) quando
prévia –sempre-, dinheiro em há dano
regra – exceção: sanção)

7.3.4. Expropriação-sanção e Confisco (art. 243, “desapropriação confiscatória”)

No confisco e na expropriação-sanção, por terem natureza sancionatória, não há qualquer


tipo de indenização.

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde


forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a
exploração de trabalho escravo na forma da lei (norma de eficácia
limitada) serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 61
.
programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário
e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber,
o disposto no art. 5º. (EC 81/14)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da
exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo
especial com destinação específica, na forma da lei.

O STF entendeu que expropriação de terras utilizadas para o cultivo de plantas


psicotrópicas, será de toda a gleba, mesmo que a parte utilizada seja pouca e o resto seja utilizado
para cultivar outros alimentos.

Em relação à exploração de trabalho escravo, é necessária uma lei regulamentando. Trata-


se de uma norma de eficácia limitada.

A responsabilidade do proprietário, de acordo com o STF, é subjetiva. Portanto, para que a


propriedade seja expropriada é necessário que o proprietário tenha agido com dolo ou culpa (in
eligendo ou in vigilando). Ressalta-se, contudo, que o ônus da prova caberá ao proprietário provar
que não incorreu em culpa, há uma inversão do ônus da prova.

STF – RE 635.336/PE: A expropriação prevista no artigo 243, da Constituição


Federal, pode ser afastada desde que o proprietário comprove que não
incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in elegendo.

Destaca-se que para o confisco não é necessária uma lei regulamentadora, segundo
Novelino. Além disso, não se exige qualquer outro requisito para que ocorra o STF, basta que o
bem seja decorrente tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho
escravo.

STF – RE 638.491/PR: É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor


econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a
necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para
tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do
acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além daqueles
previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição
Federal (CF)

7.3.5. Usucapião

A CF/88 prevê duas formas da chamada usucapião especial ou constitucional.

a) Usucapião especial de Imóvel urbano (pró-moradia ou pro misero)

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 62
.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

O § 2º dispõe que esse direito é reconhecido apenas uma vez ao possuidor, não incidindo
sobre imóveis públicos.

b) Usucapião especial de Imóvel rural (pro labore)

Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra,
em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.

Os prazos de posse dos bens previstos na CF são menores (05 anos) que os do CC (05, 10,
15), por se tratar de modalidade especial de usucapião. Por isso, os requisitos são mais profundos
para que a pessoa adquira o imóvel.

Características comuns:

*Requisitos tradicionais: Posse por cinco anos mansa, pacífica, ininterrupta, precária (não
pode ser um comodato, por exemplo).

*Requisitos especiais:

Usar o imóvel para moradia;

Necessidade de não ter outro imóvel (urbano ou rural).

Metragem máxima: Urbano: 250m²; Rural: 50hec.

Por fim, no imóvel rural ainda é necessário que torne a propriedade produtiva com seu
trabalho ou de sua família.

Imóveis públicos não podem ser adquiridos por usucapião (art. 183, §3º e 191, parágrafo
único).

Indaga-se: A legislação municipal pode estabelecer módulos urbanos com dimensões


mínimas superiores a 250m2 . De acordo com o STF, a metragem mínima poderá ser maior, contudo,
para fins de usucapião urbano deve-se considerar os limites previstos na Constituição.

STF – RE 422.349/RS: Preenchidos os requisitos do art. 183 da CF, o


reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não pode ser obstado
por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na
respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 63
.
GARANTIAS INDIVIDUAIS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

No tópico anterior analisamos os direitos individuais (vida, igualdade, privacidade, liberdade


e propriedade), valores ou fins considerados importantes para sociedade, que receberam proteção
jurídica (consagrados no texto constitucional em normas expressas ou implícitas).

Por outro lado, garantias individuais são os instrumentos/meios para os direitos sejam
assegurados. Possuem caráter instrumental, ou seja, são consideradas um meio para proteção e
obtenção de um fim. Podem estar ligadas a um determinado valor ou a valores indeterminados.

2. FINALIDADE

Visam salvaguardar direitos para a sua proteção e sua efetividade.

Segundo Novelino, há casos em que os direitos e garantias estão consagrados em um


mesmo dispositivo constitucional, a exemplo do habeas corpus.

3. GARANTIAS RELACIONADAS À SEGURANÇA JURÍDICA

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

3.1.1. Previsão legal

Previsto no art. 5º, II, da CF.

Art. 5º, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;

Trata-se de uma garantia voltada a direitos individuais diversos, podendo estar relacionada
à liberdade, à propriedade e à segurança jurídica.

3.1.2. Objetivo

O principal objetivo do Princípio da Legalidade é limitar o poder do Estado, impedindo a


prática de ações e de medidas arbitrárias.

Cabe ao Poder Legislativo (órgão máximo de manifestação da vontade popular) a função de


criar leis restritivas aos direitos. Não significa que poderá estabelecer as restrições que bem
entender, deve observas as normas constitucionais, em especial o princípio da proporcionalidade.

3.1.3. Significado

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 64
.
O Princípio da Legalidade possui um duplo significado:

1º - Proteger os particulares contra atos arbitrários do Poder Executivo e do Poder


Legislativo;

2º - Conformar comportamentos de particulares e da administração às normas jurídicas, das


quais as leis são a suprema expressão.

3.1.4. “Lei”

A expressão “lei” deve ser interpretada em sentido amplo, abrangendo a lei ordinária e a lei
complementar (lei em sentido estrito, porque emanada do Poder Legislativo), e também:

• Emenda constitucional;

• Medidas provisórias;

• Leis delegadas;

• Decretos legislativos;

• Resoluções da Câmara, do Senado ou do Congresso Nacional (art. 59 da CF)

Obs.: Decretos emanados do Chefe do Executivo não podem limitar direitos fundamentais, tendo
em vista que não considerados lei em sentido amplo. Um decreto só poderá regulamentar, nos
termos da lei, uma obrigação. Em tese, não podem criar limitações que não estão previstas em lei.
Contudo, no caso dos decretos editados no período do Covid-19, em virtude do período excepcional
vivido e do valor “saúde pública” da coletividade, relativizou-se o Princípio da Legalidade.

3.1.5. Restrições expressas

Há casos em que a própria Constituição relativiza o Princípio da Legalidade, a exemplo do


estado de defesa (art. 136 da CF) e do estado de sítio (art. 137 da CF).

3.1.6. Princípio da Reserva Legal

Trata-se de um princípio que incide apenas em situações materiais específicas, submetidas


exclusivamente ao tratamento do Poder Legislativo. Em outras palavras, apenas a lei em sentido
estrito (lei ordinária e lei complementar) poderá tratar do tema.

Importante distinguirmos:

RESERVA LEGAL ABSOLUTA RESERVA LEGAL RELATIVA

Regulamentação integral da norma por uma lei Permite que a lei fixe os parâmetros para
emanada do Poder Legislativo (lei em sentido atuação que podem ser regulamentados por
estrito). outro ato, a exemplo de um decreto.

STF - HC 74.109/SP: ALEGADO VÍCIO NA COMPOSIÇÃO DO ÓRGÃO


JULGADOR DE SEGUNDA INSTÂNCIA – INOCORRÊNCIA [...] O sistema

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 65
.
de substituição externa nos Tribunais judiciários constitui, no plano de nosso
direito positivo, matéria sujeita ao domínio temático da lei. Subordina-se, em
consequência, ao princípio da reserva legal absoluta, cuja incidência
afasta, por completo, a possibilidade de tratamento meramente
regimental da questão.

RESERVA LEGAL SIMPLES RESERVA LEGAL QUALIFICADA

A própria CF estabelece os meios a serem


utilizados ou os fins a serem perseguidos pela
lei, a exemplo do art. 5º, XII.
A CF limita-se a prever uma intervenção
CF, art. 5º, XII – é inviolável o sigilo da
legislativa sem fazer qualquer exigência, seja correspondência e das comunicações telegráficas,
em relação ao conteúdo ou à finalidade da lei. de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual
penal;

STF - AC 2.695 MC/RS: [...] Mais expressiva, ainda, é a norma contida no §


1º desse artigo [220] ao subordinar, expressamente, o exercício da liberdade
jornalística à ‘observância do disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV’. Temos
aqui verdadeira ‘reserva legal qualificada’, que autoriza o
estabelecimento de restrição à liberdade de imprensa com vistas a
preservar outros direitos individuais, não menos significativos, como os
direitos de personalidade em geral.

Salienta-se que, em um Estado Democrático de Direito, a reserva legal deve ser


proporcional. Ou seja, além da admissibilidade constitucional da restrição, é necessário que a
medida restritiva adotada seja adequada (meio apto para tingir o fim desejado), necessária ou
exigível (dentre os meios existentes deve-se optar pelo menos gravoso) e proporcional em sentido
estrito (benefícios devem superar os ônus causados).

STF - RE 511.961/SP: No âmbito do modelo de reserva legal qualificada


presente na formulação do art. 5º, XIII5 , da Constituição de 1988, paira uma
imanente questão constitucional quanto à razoabilidade e proporcionalidade
das leis restritivas, especificamente, das leis que disciplinam as qualificações
profissionais como condicionantes do livre exercício das profissões. [...] A
reserva legal estabelecida pelo art. 5º, XIII, não confere ao legislador o poder
de restringir o exercício da liberdade profissional a ponto de atingir o seu
próprio núcleo essencial.

PRINCÍPIO DA NÃO RETROATIVIDADE DAS LEIS

3.2.1. Objetivo

Visa resguardar a incolumidade de situações definitivamente consolidadas, garantindo a


segurança jurídica.

3.2.2. Previsão

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 66
.
Foi consagrado em todas as Constituições, salvo na de 37. Contudo, já estava previsto no
art. 6º, da Lei de Introdução ao Código Civil de 1916 (atual Lei de Introdução às Normas de Direito
Brasileiro).

Indaga-se: em que se diferencia a previsão do art. 5º, XXXVI e a do art. 6º da LINDB?

CF – Art. 5º, XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;

LINDB - Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Conforme leciona Novelino, ao ser consagrado em uma lei infraconstitucional o princípio


será aplicado ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário, mas não se aplicado ao Poder Legislativo
que poderá revoga-lo total ou parcialmente. Por outro lado, quando possui previsão constitucional
aplica-se aos três poderes, não podendo, em regra, ser editada lei com eficácia retroativa.

3.2.3. Abrangência da eficácia retroativa

De acordo com o STF, para que uma lei tenha eficácia retroativa deverá ser oponível a
TODAS as espécies de lei, não poderá ser presumida, deverá ser sempre excepcional e emanar de
disposição expressa. Além disso, não poderá lesar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a
coisa julgada.

Portanto, embora a regra seja a não retroatividade da lei, há casos excepcionais em que se
admite a sua retroatividade, a exemplo de uma lei interpretativa.

STF – ADI 605 MC/DF: O princípio da irretroatividade ‘somente’ condiciona a


atividade jurídica do Estado nas hipóteses expressamente previstas pela
Constituição, em ordem a inibir a ação do Poder Público eventualmente
configuradora de restrição gravosa (a) ao status libertatis da pessoa (CF, art.
5.º, XL), (b) ao status subjectionais do contribuinte em matéria tributária (CF,
art. 150, III, “a”) e (c) a ‘segurança’ jurídica no domínio das relações sociais
(CF, art. 5.º, XXXVI). Na medida em que a retroprojeção normativa da lei ‘não’
gere e ‘nem’ produza os gravames referidos, nada impede que o Estado edite
e prescreva atos normativos com efeito retroativo. As leis, em face do caráter
prospectivo de que se revestem, devem, ‘ordinariamente’, dispor para o
futuro. O sistema jurídico-constitucional brasileiro, contudo, ‘não’ assentou,
como postulado absoluto, incondicional e inderrogável, o princípio da
irretroatividade. A questão da retroatividade das leis interpretativas.

3.2.4. Direito adquirido

Conforme o STF, não é possível alegar direito adquirido contra a mudança de regime
jurídico. Consequentemente, o regime jurídico poderá ser alterado, é o que ocorreu com a extinção
do recebimento de quinquênios, por exemplo.

Para o STF, a irredutibilidade de vencimentos é uma modalidade de direito adquirido. Não


se pode reduzir o valor total da remuneração, mas é possível que ocorra a diminuição ou a extinção
de alguma parcela dos vencimentos.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 67
.
Obs.: Não pode ocorrer a diminuição do valor nominal (R$20.000,00 para R$19.900,00), mas se
admite a redução do valor real.

Atenção para as súmulas do STF:

Súmula 654 do STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º,


XXXVI, da Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal
que a tenha editado.

Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.

É possível alegar direito adquirido em face da Constituição? Importante distinguirmos direito


adquirido e nova constituição (poder constituinte originário) e direito adquirido e emenda
constitucional.

RETROATIVIDADE MÍNIMA RETROATIVIDADE MÉDIA RETROATIVIDADE MÁXIMA

É automática, ou seja, toda nova


É necessária expressa previsão.
Constituição é dotada de É necessária expressa previsão.
retroatividade mínima. Alcança fatos consumados no
Alcança fatos passados pendentes de
passado, que já precluíram. Por
Irá atingir os efeitos futuros de fatos consumação, a exemplo de
exemplo, a prestação já foi paga, mas
passados, por exemplo alteração de prestações vencidas e não pagas.
é atingida pela nova Constituição.
regra de competência.

Exemplos

STF - RE 242.740/GO: EMENTA:


Pensão especial cujo valor é
estabelecido em número de salários- CF, art. 231, §6º: São nulos e
mínimos. Vedação contida na parte extintos, não produzindo efeitos
STF - RE 168.618/PR: A Constituição
final do artigo 7º, IV, da Carta Magna, jurídicos, os atos que tenham por
tem eficácia imediata, alcançando os
a qual tem aplicação imediata. - Esta objeto a ocupação, o domínio e a
efeitos futuros de fatos passados
Primeira Turma, ao julgar o RE posse das terras a que se refere
(retroatividade mínima). Para
140.499, que versava caso análogo este artigo, ou a exploração das
alcançar, porém, hipótese em que, no
ao presente, assim decidiu: "Pensões riquezas naturais do solo, dos rios
passado, não havia foro especial que
especiais vinculadas a salário- e dos lagos nelas existentes,
só foi outorgado quando o réu não
mínimo. Aplicação imediata a elas da ressalvado relevante interesse
mais era Prefeito - hipótese que
vedação da parte final do inciso IV do público da União, segundo o que
configura retroatividade média, por
artigo 7º da Constituição de 1988. Já dispuser lei complementar, não
estar tramitando o processo penal -,
se firmou a jurisprudência desta gerando a nulidade e a extinção
seria mister que a Constituição o
Corte no sentido de que os direito a indenização ou a ações
determinasse expressamente, o que
dispositivos constitucionais têm contra a União, salvo, na forma da lei,
não ocorre no caso.
vigência imediata, alcançando os quanto às benfeitorias derivadas da
efeitos futuros de fatos passados ocupação de boa-fé.
(retroatividade mínima). Salvo
disposição expressa em contrário - e
a Constituição pode fazê-lo -, eles
não alcançam os fatos consumados

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 68
.
no passado nem as prestações
anteriormente vencidas e não pagas
(retroatividades máxima e média).

Tratando-se de emenda constitucional, há certa controvérsia, em razão da redação do art.


5º, XXXVI, da CF. A expressão “lei” pode ser interpretada em sentido amplo, abrangendo emendas
constitucionais ou sentido estrito, abrangendo apenas lei complementar e lei ordinária. Para a
doutrina majoritária e o STF (atualmente), a emenda constitucional (lei em sentido amplo) não
poderá prejudicar o direito adquirido.

STF - ADI 2.356 MC/DF: [...] O art. 78 do ADCT, acrescentado pelo art. 2.º da
EC 30/2000, ao admitir a liquidação ‘em prestações anuais, iguais e
sucessivas, no prazo máximo de dez anos’ dos ‘precatórios pendentes na
data de promulgação’ da emenda, violou o direito adquirido do beneficiário do
precatório, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. [...] Pelo que a alteração
constitucional pretendida encontra óbice nos incisos III e IV do § 4.º do art. 60
da Constituição, pois afronta ‘a separação dos Poderes’ e ‘os direitos e
garantias individuais.

3.2.5. Ato jurídico perfeito

Antes da CF/88, a doutrina entendia que as leis de ordem pública não precisavam observar
o ato jurídico perfeito. Contudo, tal entendimento não mais prevalece, devendo toda e qualquer lei
respeitar o ato jurídico perfeito.

RE 200.514/RS: Esta Corte já firmou o entendimento (assim, entre outros


precedentes, na ADIN 493-0, de que fui relator) de que o princípio
constitucional segundo o qual a lei nova não prejudicará o ato jurídico (artigo
5º, XXXVI, da Carta Magna) se aplica, também, às leis infraconstitucionais de
ordem pública.

3.2.6. Coisa julgada

A coisa julgada poderá ser:

• Formal – produz efeitos dentro do processo (endoprocessuais), tornando a


sentença de reexame e imutável dentro do mesmo processo.

É pressuposto da coisa julgada material, ou seja, todo processo com coisa


julgada material terá coisa julgada formal. Mas nem todo processo com coisa
julgada formal terá coisa julgada material.

• Material – torna imutável os efeitos produzidos pela sentença no mesmo


processo e em qualquer outro processo.

A Constituição protege tanto a coisa julgada formal quanto a coisa julgada formal.

Indaga-se: a coisa julgada administrativa é protegida pela Constituição? De acordo com o


STF, a Constituição não protege a coisa julgada material.

STF - RE n. 144.996: A coisa julgada a que se refere o artigo 5º, XXXVI, da


Carta Magna é, como conceitua o § 3º do artigo 6º da Lei de Introdução do

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 69
.
Código Civil, a decisão judicial de que já não caiba recurso, e não a
denominada ´coisa julgada administrativa.

Já vimos que nenhum direito é absoluto, portanto, há casos em que a coisa julgada será
relativizada com fundamento na força normativa da constituição e do princípio da máxima
efetividade.

Atenção a Súmula 343 do STF não está superado. O enunciado continua sendo aplicado,
mas apenas em relação à controvérsia legal. No caso de texto constitucional, em razão dos
princípios da força normativa da constituição e da máxima efetividade, admite-se a relativização da
coisa julgada. Trata-se do chamado distinguishing.

Súmula 343 do STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo
de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de
interpretação controvertida nos tribunais.

O CPC/15, nos casos de inexigibilidade de título executivo judicial e de cabimento de ação


rescisória, prevê a possibilidade de alteração da decisão que já transitou em julgado, em
conformidade com o entendimento do STF.

CPC, art. 525:


§ 12: Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se
também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial
fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato
normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a
Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou
difuso.
(...)
§ 14: A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser
anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda.
§ 15: Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado
da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do
trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

Obs.: No entendimento de Novelino, o §15 do art. 525 do CPC é incompatível com a Constituição,
tendo em vista que prevê como prazo para a ação rescisória a data da decisão do STF e não da
decisão exequenda.

Por fim, em caso de decisão de Tribunal em conformidade com entendimento consolidado


do STF, mesmo que haja mudança de entendimento do STF, não caberá ação rescisória.

STF - RE 590.809/RS Não cabe ação rescisória quando o julgado estiver em


harmonia com o entendimento firmado pelo Plenário do Supremo à época da
formalização do acórdão rescindendo, ainda que ocorra posterior superação
do precedente.

4. GARANTIAS DE NATUREZA PENAL

PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 70
.
Também chamada de presunção de não culpabilidade.

4.1.1. Finalidade

Visa a proteção da liberdade, evitando juízos condenatórios precipitados.

4.1.2. Disposições normativas

a) Âmbito internacional

Foi consagrado na Declaração Universal de Direitos do Homem e do Cidadão: “todo homem


é inocente até que seja declarado culpado”.

A partir da Segunda Guerra Mundial, passou a ser consagrado em tratados internacionais.


Vejamos:

DUDH – art. 11.1: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se
presuma sua inocência enquanto não se prove sua culpabilidade conforme a
lei.

CADH – art. 8º, parágrafo I: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a
que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua
culpabilidade.

Tais dispositivos, no entender de Novelino, consagram o núcleo essencial do princípio da


não culpabilidade. Portanto, preservando-se o núcleo essencial seria possível que uma emenda
constitucional alterasse a redação do referido princípio.

b) Âmbito constitucional

Consagrado no art. 5º, LVII e LXI da CF. Observe:

CF, art. 5º
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

c) Âmbito infralegal

Consagrado nos arts. 283 e 637 do CPP. Vejamos:

CPP
Art. 283: Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação
ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.
Art. 637: O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez
arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à
primeira instância, para a execução da sentença.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 71
.
Interpretando-se isoladamente o art. 283 do CPP é possível afirmar que se admite a prisão
antes do trânsito em julgado. Contudo, a interpretação deve ser sistemática, analisando o
ordenamento jurídico como um todo, por isso que há divergência de intepretações acerca da
possibilidade ou não da prisão.

4.1.3. Posição do STF6

1º Período - Até fevereiro de 2009: É possível a execução provisória da pena.

Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da pena.
Desse modo, se o réu estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou recurso
extraordinário, teria que iniciar o cumprimento provisório da pena enquanto aguardava o julgamento.
Os recursos extraordinário e especial são recebidos no efeito devolutivo. Assim, exauridas estão as
instâncias ordinárias criminais é possível que o órgão julgador de segundo grau expeça mandado
de prisão contra o réu (STF. Plenário. HC 68726, Rel. Min. Néri da Silveira, julgado em 28/06/1991).

2º Período – De fevereiro de 2009 a fevereiro de 2016: NÃO é possível a execução


provisória da pena.

No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição
e passou a entender que não era possível a execução provisória da pena.

Obs.: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE preso, mas desde que
estivessem previstos os pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 do CPP).

Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente) e não como
execução provisória da pena. Principais argumentos:

• A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a


título cautelar.
• A execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação significa restrição
do direito de defesa.
• A antecipação da execução penal é incompatível com o texto da Constituição.
Esse entendimento durou até fevereiro de 2016.

3º Período – De fevereiro de 2016 a novembro de 2019: É possível a execução provisória


da pena

No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki), retornou para
a sua primeira posição e voltou a dizer que era possível a execução provisória da pena.

Principais argumentos:

• É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de acórdão


condenatório em 2º grau e isso não ofende o princípio constitucional da presunção da
inocência.

6
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b89bedda1fc8a2d88c448e361194f02?pa
lavra-chave=presun%C3%A7%C3%A3o+de+inoc%C3%AAncia

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 72
.
• O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem efeito suspensivo (art. 637
do CPP). Isso significa que, mesmo a parte tendo interposto algum desses recursos, a
decisão recorrida continua produzindo efeitos. Logo, é possível a execução provisória da
decisão recorrida enquanto se aguarda o julgamento do recurso.
• Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em 2º grau, deve-se presumir a
inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade,
até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se
prestam a discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito.
• É possível o estabelecimento de determinados limites ao princípio da presunção de não
culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não impede que, mesmo antes do
trânsito em julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado.
• A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária não
compromete o núcleo essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde que o
acusado tenha sido tratado como inocente no curso de todo o processo ordinário
criminal, observados os direitos e as garantias a ele inerentes, bem como respeitadas as
regras probatórias e o modelo acusatório atual.
• É necessário equilibrar o princípio da presunção de inocência com a efetividade da
função jurisdicional penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os interesses
dos acusados, como também da sociedade, diante da realidade do intrincado e complexo
sistema de justiça criminal brasileiro.
• “Em país nenhum do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução
de uma condenação fica suspensa aguardando referendo da Suprema Corte”.

4º Período – entendimento atual: NÃO é possível a execução provisória da pena

No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou
para a sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o
esgotamento de todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena.

Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do
esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma
decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão
presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu
até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não
como execução provisória da pena.

Principais argumentos:

• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, previa que “ninguém
poderia ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada
em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária
ou prisão preventiva.”. Esse artigo era plenamente compatível com a Constituição em
vigor.
• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas
ou a controvérsias de interpretação.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 73
.
• É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência
pode obstruir as atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a
crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias
fundamentais dos investigados.
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder
Judiciário embasar suas decisões no clamor público.
Importante consignar que o Pacote Anticrime alterou a redação do art. 283 do CPP, mas o
conteúdo é basicamente o mesmo, passando a prever que:

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em
julgado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

É importante destacar que os tribunais deverão ficar atentos ao exercício abusivo do direito
de recorrer, que visa, na realidade, postergar o trânsito em julgado e afastar a execução da pena.
Como forma de coibir tal comportamento, o Pacote Anticrime incluiu o III ao art. 116 do CP que
prevê que a prescrição não corre enquanto estiverem pendentes os embargos de declaração ou os
recursos aos Tribunais Superiores, quando estes forem inadmissíveis.

CP - Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não


corre:
(...)
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais
Superiores, quando inadmissíveis; e

Por fim, a vedação da execução provisória da pena não impede a concessão antecipada
dos benefícios prisionais ao preso cautelar.

Súmula 716, STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da


pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada,
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Súmula 717, STF: Não impede a progressão de regime de execução da pena,


fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar
em prisão especial.

4.1.4. Presunção de inocência e eliminação de concurso público

De acordo com o STF, o simples fato de um candidato responder a inquérito ou a ação penal,
para que enseje a sua eliminação, deve estar previsto em lei e ser incompatível com a natureza do
cargo.

STF – RE 560.900/DF (Tema 22 - Tese): Sem previsão constitucionalmente


adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de concurso
público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de
responder a inquérito ou a ação penal.

5. MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE NÃO CRIMINALIZAÇÃO

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 74
.
CONCEITO

Trata-se de normas constitucionais que determinam a criminalização de certas condutas,


para a proteção de bens e valores especialmente relevantes para a sociedade. Por exemplo, o
direito à vida é um bem especialmente relevante, em virtude disso a própria Constituição prevê
penalidades para o caso de sua violação.

Destaca-se que não é suficiente a criminalização das condutas previstas na Constituição


pelo legislador ordinária, é preciso observar o princípio da proporcionalidade, principalmente,
considerando o seu viés da proteção insuficiente. Em outras palavras, a criminalização não pode
ser irrelevante.

STF - HC 102.087: 1.1. Mandados constitucionais de criminalização: A


Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas que, em
princípio, não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a
criminalização de condutas (CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art.
227, § 4º). Em todas essas é possível identificar um mandado de
criminalização expresso, tendo em vista os bens e valores envolvidos.
Os direitos fundamentais não podem ser considerados apenas como
proibições de intervenção (...), expressando também um postulado de
proteção (...). Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam, não
apenas uma proibição do excesso (...), como também podem ser traduzidos
em proibições de proteção insuficiente ou imperativos de tutela (...). Os
mandados constitucionais de criminalização, portanto, impõem ao legislador,
para seu devido cumprimento, o dever de observância do princípio da
proporcionalidade como proibição de excesso e proibição de proteção
insuficiente.

Ressalta-se que há na Constituição mandados de criminalização expressos (CF, art. 5º, XLI,
XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º) e também implícitos (inviolabilidade do direito à vida).

A seguir analisaremos alguns mandados de criminalização.

CRIMES INAFIANÇÁVEIS E IMPRESCRITÍVEIS

Inicialmente, é importante destacar que todos os crimes imprescritíveis são considerados


inafiançáveis.

A Constituição Federal prevê apenas o crime de racismo e a ação de grupos armados contra
ordem constitucional e o Estado Democrático como imprescritíveis.

CF, art. 5º
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito
à pena de reclusão, nos termos da lei.
XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

CRIMES INAFIANÇÁVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 75
.
Igualmente, todos os crimes insuscetíveis de graça ou de anistia são considerados
inafiançáveis.

A Constituição prevê quatro crimes como inafiançáveis e insuscetível de graça ou anistia,


são eles:

• Tortura

• Tráfico

• Terrorismos

• Crimes hediondos

CF, art. 5º
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Obs.: De acordo com o STF (decisão de 2007) possui um entendimento de que o legislador ordinário
poderia criar outras hipóteses de crimes imprescritíveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Novelino
salienta que não é possível afirmar que a atual composição do STF manteria o entendimento de
2007. Já na doutrina permanece o entendimento de que não seria possível a criação pelo legislador
ordinário.

STF - RE 460.971: Ademais, a CF se limita, no art. 5º, XLII e XLIV, a excluir


os crimes que enumera da incidência material das regras da prescrição, sem
proibir, em tese, que a legislação ordinária criasse outras hipóteses.

6. AÇÕES CONSTITUCIONAIS

CONSIDERAÇÕES

Aqui, analisaremos apenas o habeas data e a ação popular.

Recomendamos nosso CS de Constitucional I para as informações sobre o mandado de


injunção; nosso CS de Processo Penal II para o estudo do habeas corpus e o CS de Difusos e
Coletivos para o mandado de segurança.

HABEAS DATA

6.2.1. Considerações e previsão

Trata-se de ação constitucional introduzida pela CF/88, como reação ao regime anterior que
armazenava informações pessoais. Atualmente, qualquer pessoa possui o direito de obter
informações a seu respeito que constam em bancos de dados de caráter público.

Está previsto no art. 5º, LXXII, da CF. Observe:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 76
.
CF, art. 5º, LXXII – conceder-se-á habeas-data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo.

A Lei que regulamenta o habeas data prevê ainda a possibilidade de impetração para a
complementação das informações contidas no banco de dados.

6.2.2. Legitimidade ativa

A Lei que regulamenta o habeas data não traz os legitimados ativos para a sua impetração.
Diante disso, a doutrina majoritária defende uma legitimação ampla, portanto, qualquer pessoa
física ou jurídica, nacional ou estrangeiro poderá impetrá-lo, desde que seja relativa à sua pessoa
(ação personalíssima).

Perceba que, por ser uma ação personalíssima, em regra, não se admite que o habeas data
seja impetrado para que se obtenha a retificação de informações de terceiros. Apenas a própria
pessoa poderá impetrá-lo. Contudo, excepcionalmente, a jurisprudência tem admitido que herdeiros
e sucessores impetrem, desde que haja possibilidade de denegrir a imagem do falecido.

STF - HD 147/DF: É parte legítima para impetrar habeas data o cônjuge


sobrevivente na defesa de interesse do falecido.

Importante consignar que o Ministério Público não possui legitimação, tendo em vista que
se trata de uma ação personalíssima.

6.2.3. Legitimidade passiva

Está prevista no art. 2º da Lei 9.507/1997. Vejamos:

Art. 2° O requerimento será apresentado ao órgão ou entidade depositária do


registro ou banco de dados e será deferido ou indeferido no prazo de quarenta
e oito horas.
Parágrafo único. A decisão será comunicada ao requerente em vinte e quatro
horas.

Deve constar no polo passivo a própria pessoa jurídica e não a autoridade coatora que a
representa.

Em relação à natureza da pessoa jurídica, não importa se é pessoa jurídica de direito público
ou de direito privado, o que se deve considerar é a natureza da informação que deve ser de caráter
público. É o que ocorre, por exemplo, com as informações do SPC ou SERASA que são pessoas
jurídicas de direito privado, mas suas informações são de caráter público.

Art. 1º, Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou


banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser
transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou
entidade produtora ou depositária das informações.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 77
.
6.2.4. Objeto

Tutela-se o direito fundamental à privacidade e ao acesso à informação de caráter pessoal


(não se tutela a informação de interesse coletivo ou geral).

Observe a inciso XXXIII, do art. 5º da CF:

Art. 5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;

A ressalva constante no dispositivo ativa, conforme o STJ, não pode ser oposta a
informações de caráter pessoal no caso de impetração de habeas data.

STJ – REsp 781.969/RJ: o mesmo direito pode ser exercido de forma ampla,
com ressalva para as informações ‘cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado’; essa restrição não se aplica no caso do habeas
data, que protege a própria intimidade da pessoa.

6.2.5. Objetivo

O habeas data serve para assegurar o conhecimento, retificar ou complementar informações


de caráter pessoal, que constam em bancos de dados, de caráter público.

6.2.6. Hipóteses de cabimento

a) Conhecimento de informações pessoais (art. 7º, I, da Lei 9.507/97)

Art. 7º, I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa


do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;

Salienta-se que se o objetivo for outro, a exemplo da obtenção de certidões, não caberá
habeas data, mas sim outra ação constitucional (mandado de segurança, por exemplo).

STJ – REsp 781.969/RJ: A pretensão do impetrante, de obter certidão para o


cômputo do adicional por tempo de serviço, respeita ao direito de informação,
cuja previsão encontra-se no art. 5.º, XXXIII, da Carta Magna de 1988,
devendo ser pleiteada via mandado de segurança.

b) Retificação de dados (art. 7º, II, da Lei 9.507/97)

Art. 7º, II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo;

O STJ não admite a cumulação de habeas data para o conhecimento e a retificação de


dados (para a doutrina deveria ser possível, em razão da celeridade e da economia processual). O
Superior Tribunal de Justiça entende que a admissibilidade do habeas data para a retificação de
dados está condicionada ao conhecimento da informação.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 78
.
STJ – HD 160/DF: Em razão da necessidade de comprovação de plano do
direito do demandante, mostra-se inviável a pretensão de que, em um mesmo
habeas data, se assegure o conhecimento de informações e se determine a
sua retificação. É logicamente impossível que o impetrante tenha, no
momento da propositura da ação, demonstrado a incorreção desses dados
se nem ao menos sabia o seu teor. Por isso, não há como conhecer do
habeas data no tocante ao pedido de retificação de eventual incorreção
existente na base de dados do Banco Central do Brasil.

c) Complementação de informações (art. 7º, III, da Lei 9.507/97)

Art. 7º, III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de


contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que
esteja sob pendência judicial ou amigável.

A complementação ocorre apenas quando a ausência da informação for apta a gerar alguma
espécie de dano, seja material ou moral.

6.2.7. Interesse de agir

Para a impetração do habeas corpus a Lei exige que tenha havido recusa ou demora na
obtenção da informação. Não havendo, não será cabível.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a
285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os
documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na
segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias
sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias,
sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do
decurso de mais de quinze dias sem decisão.

Diante disso, surgiram questionamentos se isso não seria uma espécie de esgotamento das
vias administrativos, incompatível com o princípio do acesso à justiça. O STJ firmou entendimento
de que não há violação ao acesso à justiça, a exigência trata-se do interesse de agir.

Súmula 2 do STJ: Não cabe o habeas data se não houve recusa de


informações por parte da autoridade administrativa

6.2.8. Decisão liminar

A Lei 9.507/1997 não faz referência a decisão em liminar, tendo em vista que o procedimento
é célere, não justificando a concessão de liminar. Contudo, a doutrina entende que, em situações
excepcionais, será possível a sua concessão.

6.2.9. Decisão de mérito

Prevista no art. 13 da Lei 9.507/97.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 79
.
Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e
horário para que o coator:
I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de
registros ou bancos de dadas; ou
II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos
assentamentos do impetrante.

Em relação à natureza da decisão, há na doutrina três correntes:

1ª Corrente (Barbosa Moreira, Daniel Neves) – possui natureza mandamental. É majoritária;

2ª Corrente (Rogerio Tucci) – a decisão tem natureza constitutiva;

3ª Corrente (Vicente Greco Filho) – o habeas data cognitivo possui natureza mandamental;
já o habeas data retificatório e completivo a natureza é constitutiva.

AÇÃO POPULAR

6.3.1. Considerações

A ação popular é assim chamada em razão de sua legitimidade ativa, a qual é atribuída a
qualquer pessoa do povo ou a uma parte do povo, visando a proteção da res publica (coisa pública).
Além disso, trata-se da manifestação da soberania popular (art. 1º, parágrafo único), já que o
cidadão irá fiscalizar diretamente a atuação dos Poderes Públicos.

CF – Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

6.3.2. Legitimidade ativa

A população do Estado brasileiro compreende brasileiros natos e naturalizados, os


estrangeiros residentes e os apátridas residentes; já o povo é formado pelos brasileiros natos e
naturalizados. Os cidadãos brasileiros, conceito mais restrito, são os integrantes do povo que
possuem capacidade eleitoral, ou seja, que podem exercer seus direitos políticos (prova é feita com
título de eleitoral).

A legitimidade ativa será apenas do cidadão brasileiro.

Lei 4.717/65 Art. 1º, § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será
feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.

Importante consignar que a legitimidade ativa não se confunde com a capacidade


postulatória. Por isso, o cidadão deve ser advogado ou se fazer representar por um para que possa
ajuizar uma ação popular.

STF – AO 1.531 AgR: A Constituição da República estabeleceu que o acesso


à justiça e o direito de petição são direitos fundamentais (art. 5º, XXXIV, a, e
XXXV), porém esses não garantem a quem não tenha capacidade

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 80
.
postulatória litigar em juízo, ou seja, é vedado o exercício do direito de ação
sem a presença de um advogado, considerado ‘indispensável à
administração da Justiça’ (...), com as ressalvas legais. (...) Incluem-se, ainda,
no rol das exceções, as ações protocoladas nos juizados especiais cíveis,
nas causas de valor até vinte salários-mínimos (art. 9º da Lei 9.099/1995) e
as ações trabalhistas (art. 791 da CLT), não fazendo parte dessa situação
privilegiada a ação popular.

Em relação aos portugueses, desde que haja reciprocidade por parte de Portugal, terão
legitimidade ativa para o ajuizamento da ação popular. É o que se denomina de “quase
nacionalidade”.

O Ministério Público, embora tenha o dever de acompanhar a ação, não possui legitimidade
para propô-la.

Art. 6º, § 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar


a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que
nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do
ato impugnado ou dos seus autores.

Por fim, a pessoa jurídica não possui legitimidade para propor ação popular.

STF - Súmula 365: Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação
popular.

6.3.3. Legitimidade passiva

Há, na Lei de Ação Popular, um extenso rol exemplificativo de legitimados passivos. Observe
a redação dos arts. 1º e 6º:

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a


declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito
Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de
sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades
mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de
empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita ânua,
de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos
Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades
subvencionadas pelos cofres públicos.

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as


entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado
o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e
contra os beneficiários diretos do mesmo

Até a Itaipu, empresa binacional, já foi legitimado passivo.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 81
.
STJ – REsp 453.136/PR: A Itaipu submete-se à lei brasileira, que regula as
obrigações decorrentes dos contratos celebrados com pessoas físicas ou
jurídicas domiciliadas e residentes em território nacional. [...] Evidenciada a
utilização de dinheiro público na criação, custeio ou manutenção de empresa,
ou em qualquer outra forma de apoio, cabe Ação Popular, pouco importando
a natureza da pessoa jurídica em questão.

6.3.4. Objeto

Trata-se de atos de caráter administrativo (de efeitos concretos) ou equiparados. Além disso,
os atos poderão ser omissivos, comissivos, discricionários ou vinculados.

STJ – REsp 889.766/SP: A ação popular é o instrumento jurídico que deve


ser utilizado para impugnar atos administrativos omissivos ou comissivos que
possam causar danos ao meio ambiente. 5. Pode ser proposta ação popular
ante a omissão do Estado em promover condições de melhoria na coleta do
esgoto da Penitenciária Presidente Bernardes, de modo a que cesse o
despejo de elementos poluentes no Córrego Guarucaia (obrigação de não
fazer), a fim de evitar danos ao meio ambiente.

STF – AO 772 MC/SP: [...] Nem porque, quando praticados no desempenho


de poder discricionário, não se assujeitem os atos administrativos a controle
jurisdicional. É velha e aturada a jurisprudência desta Corte, no sentido de
que tais atos, quando insultem por via direta o ordenamento jurídico,
contrariando, por exemplo, postulados constitucionais, como o da
moralidade, ou não atendam ao interesse público específico a que é
predisposto o poder jurídico, são passíveis de fiscalização judicial.

Salienta-se que atos judiciais não podem ser objeto de ação popular, tendo em vista que se
deve utilizar os meios específicos de impugnação. Igualmente, a ação popular não serve como
instrumento de controle abstrato de constitucionalidade. Nesse sentido:

STJ – REsp 1.081/SC: Mérito – da impossibilidade jurídica do pedido da ação


popular. Sob pena de usurpação de competência do Supremo Tribunal
Federal, a ação popular não se mostra a via adequada para a obtenção de
declaração de inconstitucionalidade de lei federal, devendo haver a
comprovação da prática de aos administrativos que violem o erário
público. Precedentes

6.3.5. Objetivo

A ação popular visa defender direitos difusos que pertencem à sociedade, por meio da
invalidação de atos lesivos ao patrimônio público ou de entidades de que o estado participe. Em
suma, o objetivo é tutelar bens materiais (patrimônio público) e bens imateriais (moralidade
administrativa, meio ambiente, patrimônio histórico e cultural).

Parcela da doutrina admite a ação popular para a tutela de direitos do consumidor. Tal
entendimento, contraria a jurisprudência do STJ.

STJ – REsp 818.725/SP: Instrumento flagrantemente inadequado mercê de


evidente ilegitimatio ad causam (art. 1º, da Lei 4.717/1965 c/c o art. 5º, LXXIII,

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 82
.
da Constituição Federal) do autor popular, o qual não pode atuar em prol da
coletividade nessas hipóteses.

6.3.6. Requisitos específicos

Previstos no art. 2º da Lei da Ação Popular. Observe:

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas


no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão
as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas
atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou
irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em
violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a
fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
competência.

Para que o cabimento da ação popular o ato, há divergência acerca da necessidade de


lesividade e/ou ilegalidade do ato impugnado.

1ªC (jurisprudência dominante): há necessidade de conjugação da lesividade e da


ilegalidade;

STJ – EREsp 260.821/SP: Ação popular. Cabimento. Ilegalidade do ato


administrativo. Lesividade ao patrimônio público. Comprovação do prejuízo.
Necessidade. 1. O fato de a Constituição Federal de 1988 ter alargado as
hipóteses de cabimento da ação popular não tem o efeito de eximir o autor
de comprovar a lesividade do ato, mesmo em se tratando de lesão à
moralidade administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e
cultural.

2ªC: A lesividade, por si só, já é suficiente;

3ªC: A lesividade contém a ilegalidade.

6.3.7. Competência

O processamento e o julgamento da ação popular serão de competência do juiz de primeiro


grau (competência ordinária) estadual ou federal. Por não possuir natureza penal, não se aplica o
foro por prerrogativa de função.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 83
.
Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer
da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização
judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à União, ao
Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Distrito
Federal, do Estado ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou
mantidas por essas pessoas jurídicas de direito público, bem como os atos
das sociedades de que elas sejam acionistas e os das pessoas ou entidades
por elas subvencionadas ou em relação às quais tenham interesse
patrimonial.
§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer outra
pessoas ou entidade, será competente o juiz das causas da União, se houver;
quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Município, será
competente o juiz das causas do Estado, se houver.
§ 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações,
que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os
mesmos fundamentos.
§ 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo
impugnado

Nos casos em que a União figurar no polo passivo, a ação popular poderá ser proposta nos
seguintes locais:

• Domicílio do autor;

• Onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda;

• Onde esteja situada a coisa objeto da demanda;

• Distrito Federal.

Importante consignar que o STF, nos casos de competência originária (em razão da
competência da demanda), julgará ação popular. São eles (art. 102, I, alíneas “f” e “n”, da CF):

• Interesse, direto ou indireto, de todos os membros da magistratura;

• Quando mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou


sejam direta ou indiretamente interessados;

• Conflito entre União e Estado membro.

6.3.8. Decisão liminar

O cabimento da liminar está previsto no §4º, do art. 5º da Lei 4.717/65.

Art. 5º, § 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do


ato lesivo impugnado.

Salienta-se que as vedações da Lei de Mandado de Segurança são aplicadas à Ação


Popular.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 84
.
Lei 12.016/2009 – Art. 7º, § 2o Não será concedida medida liminar que tenha
por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias
e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de
servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens
ou pagamento de qualquer natureza.

6.3.9. Decisão de mérito

Em relação à decisão de mérito na ação popular, importante distinguirmos:

1º PEDIDO PROCEDENTE – a decisão condenará os responsáveis e/ou beneficiários em


perdas e danos, bem como determinará a nulidade (art. 2º e art. 4º) ou anulação (art. 3º) do ato.

A decisão que declara a nulidade possui natureza declaratória-condenatória.

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas


no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão
as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas
atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou
irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em
violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a
fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
competência.

Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou


celebrados por quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às
condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou constantes
de instruções gerais.
II - A operação bancária ou de crédito real, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares,
estatutárias, regimentais ou internas;
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante
de escritura, contrato ou avaliação.
III - A empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:
a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência
pública ou administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei,
regulamento ou norma geral;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 85
.
b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições, que
comprometam o seu caráter competitivo;
c) a concorrência administrativa for processada em condições que impliquem
na limitação das possibilidades normais de competição.
IV - As modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem
admitidas, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos de
empreitada, tarefa e concessão de serviço público, sem que estejam
previstas em lei ou nos respectivos instrumentos.,
V - A compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não
cabível concorrência pública ou administrativa, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, ou
constantes de instruções gerais;
b) o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época
da operação;
c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época
da operação.
VI - A concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja
a sua modalidade, quando:
a) houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares
ou de instruções e ordens de serviço;
b) resultar em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador.
VII - A operação de redesconto quando sob qualquer aspecto, inclusive o
limite de valor, desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes
de instruções gerais.
VIII - O empréstimo concedido pelo Banco Central da República, quando:
a) concedido com desobediência de quaisquer normas legais,
regulamentares, regimentais ou constantes de instruções gerias:
b) o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao
da avaliação.
IX - A emissão, quando efetuada sem observância das normas
constitucionais, legais e regulamentadoras que regem a espécie

A decisão que determinada a anulação possui natureza desconstitutiva-condenatória.

Art. 3º Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou


privado, ou das entidades mencionadas no art. 1º, cujos vícios não se
compreendam nas especificações do artigo anterior, serão anuláveis,
segundo as prescrições legais, enquanto compatíveis com a natureza deles.

2º PEDIDO IMPROCEDENTE – haverá duas consequências distintas:

• Ação manifestamente infundada – decisão fará coisa julgada e produzirá efeitos erga
omnes. Não poderá ser proposta nova ação popular;

• Improcedência por insuficiência probatória – caberá ajuizamento de nova ação popular.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 86
.
DIREITOS SOCIAIS

1. INTRODUÇÃO

Os direitos sociais são consagrados em normas de “textura aberta” (geralmente princípios),


ou seja, a sua concretização fica a cargo dos poderes públicos. Isso é próprio de uma sociedade
pluralista, como a brasileira, pois assim os poderes públicos podem concretizá-los de acordo com
a vontade da maioria.

Importante destacar que o art. 6º da CF traz os direitos sociais, já foi alterado algumas vezes.
Sempre para incluir mais algum direito social, a última alteração foi em 2015 e incluiu o transporte
como um direito social.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

Ressalta-se que os direitos sociais, na visão da doutrina majoritária, são considerados


cláusulas pétreas expressas, embora a Constituição Federal preveja como cláusula pétrea apenas
direitos e garantias individuais. Segundo Novelino, os direitos sociais não são cláusulas pétreas
expressas, mas sim implícitas, corroborando tal entendimento Daniel Sarmento, citado por
Novelino, afirma que “a liberdade é esvaziada quando não são asseguradas as condições
materiais mínimas (alimentação, saúde, educação, moradia) para que as pessoas possam
desfrutá-las de forma consciente”.

2. FINALIDADE

Direitos de segunda geração (econômicos, sociais, culturais), ligados ao valor de igualdade


(material). São direitos garantidos com o objetivo de diminuir as desigualdades existentes na
sociedade. E foi graças à atuação estatal (direitos de prestação) que os direitos sociais foram
alçados ao status de direitos fundamentais, que até então só eram reconhecidos por indivíduos
altruístas ou generosos.

Os direitos sociais têm por finalidade precípua proteger os hipossuficientes e os mais


fragilizados. Vale dizer, se todos tivessem igualdade de condições, os direitos sociais não teriam
grande utilidade. Tem a ver com igualdade material, pois permitem que sejam diminuídas ou
atenuadas as desigualdades.

3. EFICÁCIA

Qualquer direito fundamental demanda certa onerosidade para que seja efetivado. No
entanto, os direitos sociais são especialmente onerosos, visto que exigem uma atuação estatal.
Ocorre que, por conta disso, sua eficácia acaba ficando diminuída, se comparada com os direitos

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 87
.
de defesa (1ª geração). Aqui, as prestações devem obedecer ao chamado limite do financeiramente
possível (reserva do possível).

Além disso, a maioria dos direitos sociais é previsto em normas não autoaplicáveis (eficácia
limitada), normas de princípio programático. De outro lado, os direitos de defesa são quase
totalmente autoaplicáveis (eficácia plena ou contida). Daí a diferença de efetividade entre eles.

Essa disposição dos direitos sociais em normas programáticas não pode ser vista como
um defeito. Além disso, se explica: trata-se de uma característica da sociedade pluralista. O
constituinte deixa que o legislador ordinário (representante das maiorias) defina os direitos sociais
que devem ser priorizados a cada época, uma vez que não é possível que todos sejam priorizados
ao mesmo tempo.

O art.5º §1º da CF estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias


fundamentais tem aplicação imediata.

Art. 5º, § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais


têm aplicação imediata.

Aplica-se a todos direitos fundamentais, inclusive os DIREITOS SOCIAIS (porém aqui tem
um aspecto especial).

Aí surge a seguinte divergência na doutrina, se este dispositivo for interpretado literalmente


como uma regra jurídica que impõe resultado, chegaremos à conclusão de que qualquer direito
fundamental, seja social ou não deve ser aplicado imediatamente. Esta interpretação é adotada por
alguns autores, como por exemplo, Dirley da Cunha Jr. – não se pode exigir uma vontade
intermediadora para que eles possam ser aplicados, segundo ele, todos DF, indistintamente, devem
ter aplicação imediata. Então, essa interpretação feita por ele, é no sentido de que o art. 5º, §1º
consagra uma regra: deve ser aplicado na medida exata de suas prescrições, imediatamente.

O segundo posicionamento, mais correto para Novelino, e cobrado pelo CESPE: é o de Ingo
Sarlet – para ser compatível com a natureza de alguns DF, deve ser interpretada não como uma
regra (aplicada na medida exata de suas prescrições), mas sim como um PRINCÍPIO. As normas
devem ter aplicação imediata na maior medida do possível.

Ex: salário-mínimo. Se não existisse uma lei fixando o salário, não teria efetividade imediata
esse dispositivo.

Nem todos os direitos sociais estão consagrados em princípios, que dependem de outras
normas para terem efetividade. Muitos direitos sociais estão consagrados em regras.

Ex: art. 208, inc. I – aqui temos uma regra, a ser aplicada na medida exata de suas
prescrições.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 88
.
4. INTERVENÇÃO JUDICIAL

Implementação de políticas públicas é tarefa atribuída prioritariamente ao legislativo e ao


executivo. O que se discute é se o judiciário tem este papel, e se o executivo e o legislativo não
agirem, até onde o judiciário pode ir? Quais são os limites para a atuação do poder judiciário?

PRIMEIRA FASE: AUSÊNCIA DE NORMATIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS


CONSAGRADOS EM NORMAS PROGRAMÁTICAS.

Na década de 90, STJ tinha decisões adotando o entendimento que norma de direito social
não gerava direito subjetivo, o cidadão não podia exigir nada do estado baseado em uma norma de
princípio programático.

De repente, começa a haver uma onda de intervenções do poder judiciário.

SEGUNDA FASE: INTERVENÇÃO ATUANTE DO PODER JUDICIÁRIO, MAS SEM O


ESTABELECIMENTO DE CRITÉRIOS.

Observa-se que, hoje, a atuação do poder judiciário neste ramo é uma atuação bastante
forte, em razão da omissão deliberada do legislador, judiciário mandando entrega de medicamentos,
internações etc.

Exemplo: Daniel Sarmento comenta o caso da pessoa que na necessidade de


medicamentos, vai até o judiciário, e ganha a tutela no sentido de que “fure”, passe na frente na fila
dos medicamentos, conseguindo tais medicamentos, antes de todos outros...até que ponto um juiz
pode determinar que uma pessoa tenha seu direito sobreposto aos que não tiveram acesso ao
judiciário, deveria haver uma ponderação, no sentido de que todos que se encontram na mesma
situação, terem o mesmo direito. A justiça nesse aspecto ao invés de ser bilateral, deve ser
distributiva.

TERCEIRA FASE: CONSOLIDAÇÃO DE PARÂMETROS.

Tentativa de achar um meio termo, em que se assegure os direitos sociais, mas dentro de
critérios racionais, para que não haja distorções.

Exemplo: caso dos medicamentos, o processo não deve ser encarado pelo juiz de modo
bilateral – autor e réu - mas de forma multilateral, uma macro justiça, pois neste caso, não condiz
apenas aos envolvidos no processo, e sim a uma coletividade.

Guido Calabresi/Philip Bobbit: “Escolhas Trágicas”. A questão de adjudicação de direitos


sociais envolve escolhas trágicas. O orçamento é limitado, onde se concede uma prestação para
um, retira-se uma para outro.

Sarmento: “toda decisão alocativa de recursos, é também uma decisão desalocativa”.

ARGUMENTOS CONTRA INTERVENÇÃO JUDICIAL

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 89
.
4.4.1. Separação dos poderes/legislador positivo

Haveria uma violação da separação de poderes, tendo em vista que a intervenção do Poder
Judiciário na concretização de direitos sociais causaria uma usurpação de competências dos
Poderes Legislativos e Executivos. Baseia-se na Teoria de Montesquieu, elaborada em meados do
Século XVIII, a qual está ultrapassada.

Kelsen defendia a ideia da atuação do Poder Judiciário como “legislador negativo”, à época
as Constituições não determinavam tarefas aos poderes públicos. Atualmente, vemos a figura do
“legislador positivo”, tendo em vista que o Poder Judiciário deve suprir as omissões dos outros
poderes, a exemplo de decisões em mandado de injunção, do reconhecimento da união
homoafetiva.

Contracríticas: a Constituição é um conjunto de normas dotadas de supremacia,


consequentemente, subordinam os três poderes. Nos casos em que os Poderes Legislativo e
Executivo descumprem as normas constitucionais, caberá ao Poder Judiciário, em um Estado
Democrático de Direito, interpretar e aplicar a Constituição e as leis, assegurando a sua
normatividade. Não há que se falar em usurpação de competência.

4.4.2. Ausência de legitimidade democrática

As normas que consagram dos direitos sociais possuem uma “textura aberta”, sua
concretização só será possível por meio de políticas públicas desenvolvidas pelos Poderes
Legislativos e Executivos, os quais foram eleitos democraticamente.

Destaca-se que as políticas públicas são implementadas com os valores arrecadados pelos
tributos, os quais são provenientes do povo que elege seus representantes. Por isso, afirma-se que
o Poder Judiciário possui ausência de legitimidade democrática, já que os juízes não foram
escolhidos pelo povo.

Contracríticas: a democracia é substancial, ou seja, além de corresponder a vontade da


maioria deve respeitar os direitos básicos de todos, inclusive das minorias.

Perceba que a democracia não é apenas vontade da maioria, ou realização de eleições


periódicas. Para que haja uma vontade verdadeiramente livre, é necessário assegurar a fruição de
direitos básicos. Hoje, não tem mais aquele caráter formal, ao lado deste tem um caráter substancial
também. A fruição dos direitos básicos deve ser direito de todos e não somente da maioria. Como
uma pessoa pode escolher um governante sem ter acesso à educação, informação, se não tem
comida? A escolha não será verdadeiramente livre como deveria. Está ligada a igualdade material.

4.4.3. Desenho e capacidades institucionais

Refere-se, principalmente, à adjudicação do direito à saúde, tendo em vista que o


constituinte originário determinou que a consagração de tal direito seria por meio de políticas
públicas (art. 196 da CF) e não através de decisões judiciais.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 90
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A decisão judicial que concede medicamentos de alto custo para uma pessoa não trata de
forma igual, uma vez que nem todos que possuem a mesma doença irão receber o referido
medicamento.

4.4.4. Acesso restrito ao Poder Judiciário

Apenas a minoria da população brasileira consegue, efetivamente, ter acesso ao Poder


Judiciário. Logo, muitas vezes (apesar das boas intenções dos magistrados), acaba havendo uma
injustiça com a maioria que não consegue atuação judicial.

Através das políticas públicas a maioria será contemplada, diversamente das decisões
individuais.

4.4.5. Custo dos direitos e reserva do possível

Como vimos, todos direitos sejam de defesa ou sociais possuem um custo.

Contudo, os direitos sociais, por serem prestacionais possuem um custo muito mais elevado.
Diante da escassez de recursos, ao alocar recursos em uma área outra acaba ficando sem, haverá
sempre “escolhas trágicas”, uma vez que não é possível contemplar, ao mesmo tempo, todos os
direitos sociais.

PARÂMETROS PARA A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE (STF)7

Segundo Gilmar Mendes, em tal caso, realizando audiência pública sobre o tema -
judicialização da saúde – alvo de grandes controvérsias no âmbito dos Tribunais Pátrios, foram
fixados alguns parâmetros para as decisões judiciais:

1) Existência de política estatal

O primeiro dado a ser considerado é a existência, ou não, de política estatal que abranja a
prestação de saúde pleiteada pela parte. Isso porque, ao deferir uma prestação de saúde incluída
entre as políticas sociais e econômicas formuladas pelo SUS, o Judiciário não está criando política
pública, mas apenas determinando o seu cumprimento.

2) Medicamento registrado na ANVISA (regra)

Como regra geral a ser adotada, é vedado à Administração Pública fornecer fármaco que
não possua registro na ANVISA. Apenas em casos excepcionais, cuja verificação ocorrerá em
concreto, a importação de medicamento não registrado poderá ser autorizada pela ANVISA.

Exceção: demora irrazoável da ANVISA para apreciar o registro aliada a três requisitos.

7
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d7a968bb636e25818ff2a3941db08c1?pa
lavra-
chave=O+Poder+Judici%C3%A1rio+pode+determinar+que+o+Poder+P%C3%BAblico+forne%C3%A7a+re
m%C3%A9dios+que+n%C3%A3o+est%C3%A3o+previstos+na+lista+do+SUS

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 91
.
É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário,
em caso de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido e desde que preenchidos três
requisitos cumulativos:

a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de


medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras);

b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no


exterior; e

c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.

3) Tratamento oferecido pelo SUS (regra)

Como regra geral, deverá ser privilegiado o tratamento fornecido pelo SUS em detrimento
de opção diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for comprovada a ineficácia ou a
impropriedade da política de saúde existente; essa sistemática pressupõe, porém, a necessidade
de revisão periódica dos protocolos existentes e de elaboração de novos protocolos - uma vez que
o SUS adotou a teoria da Medicina com base em evidências conjuntamente com um Protocolo
Clínico e Diretrizes Terapêuticas;

Essa conclusão não afasta, contudo, a possibilidade, ainda que excepcional, de o Poder
Judiciário, ou de a própria Administração, decidir que medida diferente da custeada pelo SUS deve
ser fornecida a determinada pessoa que, por razões específicas do seu organismo, comprove que
o tratamento fornecido não é eficaz no seu caso. Assim, em casos excepcionais, os Protocolos
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do SUS poderão ser contestados judicialmente.

4) Tratamento não experimental

Além disso, os tratamentos experimentais (sem comprovação científica de sua eficácia) são
realizados por laboratórios ou centros médicos de ponta, consubstanciando-se em pesquisas
clínicas. A participação nesses tratamentos rege-se pelas normas que regulam a pesquisa médica
e, portanto, o Estado não pode ser condenado a fornecê-los.

5) Tratamentos novos

Quanto aos novos tratamentos (ainda não incorporados pelo SUS) é preciso muita cautela
para apreciar a matéria. Como frisado pelos especialistas ouvidos na audiência pública, o
conhecimento médico não é estanque, sua evolução é muito rápida e dificilmente suscetível de
acompanhamento pela burocracia administrativa. Se, por um lado, a elaboração dos Protocolos
Clínicos e das Diretrizes Terapêuticas privilegia a melhor distribuição de recursos públicos e a
segurança dos pacientes; por outro, a aprovação de novas indicações terapêuticas pode ser muito
lenta e, assim, acabar por excluir o acesso de pacientes do SUS a tratamento há muito prestado
pela iniciativa privada. Nesses casos, a omissão administrativa no tratamento de determinada
patologia poderá ser objeto de impugnação judicial, tanto por ações individuais como coletivas

5. NORMAS CONSTITUCIONAIS PROGRAMÁTICAS ATRIBUTIVAS DE DIREITOS SOCIAIS


E ECONÔMICOS

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 92
.
Exemplos: art. 1º, 3º e 170 CF (Min. Eros Grau).

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos
casos previstos em lei.

As normas programáticas, sobretudo as atributivas de direitos sociais e econômicos, devem


ser entendidas como diretamente aplicáveis e imediatamente vinculantes de todos os órgãos do
poder. O que temos que distinguir são as normas programáticas atributivas de direitos sociais e
econômicos das normas programáticas fixadoras de objetivos e metas puramente políticas que,
como se sabe não conferem direitos imediatos, pelo menos na sua dimensão positiva.

Tais normas são tão jurídicas e vinculativas que, na hipótese de não realização destas
normas e destes direitos por inércia dos órgãos de direção política (Executivo e Legislativo),
caracterizada estará a inconstitucionalidade por omissão.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 93
.
Reforça esse entendimento a declaração jurídica de que o estado se submete ao ideal de
uma Democracia substantiva ou material, compromissária com os propósitos da Justiça Social. Em
decorrência disso, é possível sustentar-se que, na hipótese de omissão dos órgãos de direção
política (legislativo e executivo), na realização das tarefas sociais, notadamente quando
deflagradoras de direitos sociais, deva ocorrer um sensível deslocamento do centro de decisões
destes órgãos para o plano da jurisdição constitucional (ADPF 45).

6. RESERVA DO POSSÍVEL

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A expressão “reserva do possível” foi criada pelo Tribunal Constitucional da Alemanha (TCA)
em 1972. A Constituição alemã consagrou o direito à educação como direito fundamental. No
entanto, algumas pessoas que não conseguiam acesso à universidade, recorrem ao TCA alegando
o seguinte: para elas terem a liberdade de escolha profissional, o estado alemão deveria
proporcionar vagas necessárias para todos, para a escolha ser livre.

Na sua decisão, o TCA entendeu que, embora seja desejável que todos tenham acesso à
universidade, nem sempre o acesso irrestrito será possível, em razão das limitações de recursos
do estado. Mesmo sendo um direito desejável, a reserva do possível impede que seja usufruído por
todos.

Há autores que contestam a aplicação da expressão no Brasil (Andreas Krell – Direitos


sociais uma análise no Brasil e na Alemanha). Segundo Andreas Krell, não é possível uma
transposição da reserva do possível para o direito brasileiro, devido à diferença de realidades entre
os dois países. Na Alemanha o grau de efetivação dos direitos sociais alcançou um nível muito
superior, em que já existe um padrão otimizado de bem-estar social, na medida em que o
desenvolvimento e aplicação da Reserva do Possível é mais condizente com realidade. No Brasil,
não se tem um mínimo de efetivação dos direitos sociais, por isso, o Estado brasileiro não poderia
alegar a Reserva do Possível.

Entretanto, Daniel Sarmento afirma que a reserva do possível é um conceito muito mais
necessário aqui do que na própria Alemanha, em razão da limitação orçamentária e da escassez
de recursos que temos. Aqui, a dificuldade de se implementar direitos sociais é muito maior, se não
estabelecer quais critérios, acaba-se criando mais desigualdade. Justamente, para evitar isso é que
a reserva do possível teria uma grande utilidade, para que todos possam usufruir dos mesmos
direitos.

DIMENSÕES

Existem três dimensões utilizadas quando se fala em reserva do possível (Ingo Sarlet):

6.2.1. Possibilidade Fática

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 94
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Consiste na disponibilidade de recursos necessários para satisfazer uma prestação
relacionada aos direitos sociais. Deve-se analisar se o Estado possui recursos para atender
somente aquela pessoa, ou para todas as pessoas que se encontrem naquela situação. Cita-se,
como exemplo, o direito à moradia. O Estado não pode garantir moradia apenas para algumas
pessoas, mas sim para todas as pessoas que estão da mesma situação.

Em razão do princípio da isonomia, a análise dos recursos orçamentários deve ser feita não
de forma individual, mas conforme uma universalização da demanda. Se aquela pessoa tem o
direito, todas as pessoas na mesma situação têm o direito também.

Obs.: a inexistência de recursos não se confunde com a má alocação de recursos por parte dos
Estados. Há casos em que o Estado possui recursos suficientes, mas aloca de forma errada. Por
exemplo, investe em propagandas de governo e não em educação. Em tais casos, o Poder
Judiciário deve intervir quando for provado.

Sarmento: tem se entendido que o meio mais adequado para a universalização da demanda,
o melhor caminho seriam as ações coletivas, as quais permitem essa universalização.

6.2.2. Possibilidade Jurídica

Compreende dois aspectos:

a) Existência de autorização orçamentária para cobrir as despesas: POSSIBILIDADE


FÁTICA

Obviamente, o limite deve ser analisado, mas não como algo absoluto, porque senão para
qualquer coisa poderia ser usado o argumento da falta de orçamento.

Dirley da Cunha: a liberdade orçamentária está diretamente ligada à efetivação dos direitos
fundamentais. Os DF’s devem servir de parâmetro para a elaboração de políticas públicas ou planos
econômicos. A constitucionalidade dos orçamentos públicos depende de assegurarem os recursos
para implementação das prestações materiais, objeto dos direitos sociais.

b) Análise das competências federativas: POSSIBILIDADE JURÍDICA

Além da dotação orçamentária, é necessária a análise de qual ente federativo possui a


competência para instituir.

Por exemplo, a saúde é de competência comum, pode ser exigida dos municípios, dos
estados ou da união.

6.2.3. Razoabilidade da exigência e proporcionalidade da prestação

Imagine a seguinte hipótese, dois tipos de medicamento para o mesmo tipo da doença, os
dois surtem efeitos. Porém, o medicamento B é mais eficaz que o A. Acontece que o B custa 20x
mais.

O Estado tem como fornecer o A, atendendo grande parte das pessoas, mas se for fornecer
o B, não conseguira fornecer a todas. Qual deverá ser fornecido? A análise é feita pelo juiz, em
cada caso concreto. Caberá ao Estado o ônus da prova, por exemplo, demostrando que o

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 95
.
fornecimento do medicamento A alcançaria um maior número de pessoas, sendo razoável e
proporcional sua prestação.

QUEM ALEGA A RESERVA DO POSSÍVEL?

Quem alega a reserva do possível é o Estado em sua defesa, para não cumprir determinada
prestação. Portanto, o ônus da prova lhe compete, o Estado deve demonstrar como e porque não
é possível o cumprimento da prestação, depende de uma atuação da administração. Para o juiz
considerar a reserva do possível, o Estado deverá demonstrar concretamente, não em alegações
genéricas como é geralmente observado.

O Min. Celso de Mello, na ADPF 45, estabeleceu um critério interessante quanto a isso: não
basta invocar genericamente a reserva do possível, é necessário demonstrar a ocorrência de justo
motivo objetivamente aferível.

“As normas programáticas não podem se converter em promessas


constitucionais inconsequentes, sob pena de fraudar justas expectativas
depositadas nos poderes públicos pela população”.

NÃO APLICAÇÃO

Dizer o Direito (Informativo 543 STJ)8

Não se pode invocar a teoria da reserva do possível, importada do Direito alemão, como
escudo para o Estado se escusar do cumprimento de suas obrigações prioritárias. Realmente as
limitações orçamentárias são um entrave para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, é
preciso ter em mente que o princípio da reserva do possível não pode ser utilizado de forma
indiscriminada.

Na verdade, o direito alemão construiu essa teoria no sentido de que o indivíduo só pode
requerer do Estado uma prestação que se dê nos limites do razoável, ou seja, na qual o peticionante
atenda aos requisitos objetivos para sua fruição.

De acordo com a jurisprudência da Corte Constitucional alemã, os direitos sociais


prestacionais estão sujeitos à reserva do possível no sentido daquilo que o indivíduo, de maneira
racional, pode esperar da sociedade. Ocorre que não se podem importar preceitos do direito
comparado sem atentar para Estado brasileiro.

Na Alemanha, os cidadãos já dispõem de um mínimo de prestações materiais capazes de


assegurar existência digna. Por esse motivo, o indivíduo não pode exigir do Estado prestações
supérfluas, pois isso escaparia do limite do razoável, não sendo exigível que a sociedade arque
com esse ônus. Eis a correta compreensão do princípio da reserva do possível, tal como foi
formulado pela jurisprudência germânica.

Todavia, a situação é completamente diversa nos países menos desenvolvidos, como é o


caso do Brasil, onde ainda não foram asseguradas, para a maioria dos cidadãos, condições
mínimas para uma vida digna.

8 https://www.dizerodireito.com.br/2014/09/informativo-esquematizado-543-stj_23.html

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 96
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Nesse caso, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência minimamente decente não
pode ser encarado como sem razão (supérfluo), pois garantir a dignidade humana é um dos
objetivos principais do Estado brasileiro.

É por isso que o princípio da reserva do possível não pode ser oposto a um outro princípio,
conhecido como princípio do mínimo existencial. Somente depois de atingido esse mínimo
existencial é que se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em quais outros
projetos se devem investir.

Por esse motivo, não havendo comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira


da pessoa estatal, inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário determine a inclusão de
determinada política pública nos planos orçamentários do ente político.

IMPORTANTE:

Em provas práticas do MP ou da Defensoria Pública, o candidato, ao preparar uma ação civil


pública requerendo a implementação de alguma política pública, deverá pedir que a verba
necessária para essa medida seja incluída no orçamento estatal a fim de evitar a alegação de
violação aos arts. 4º, 6º e 60 da Lei n. 4.320/64 (que preveem a necessidade de previsão
orçamentária para a realização das obras em apreço).

PRECEDENTE IMPORTANTE DO STF NO MESMO SENTIDO:

A CF/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com


Deficiência asseguram o direito dos portadores de necessidades especiais ao
acesso a prédios públicos, devendo a Administração adotar providências que
o viabilizem. O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar
que a Administração Pública adote medidas assecuratórias de direitos
constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure
violação do princípio da separação de poderes. STF. 1ª Turma. RE
440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013 (Info 726).

7. MÍNIMO EXISTENCIAL

CONCEITO

A expressão “mínimo existencial” foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal Administrativo
Federal, em uma decisão de 1953, migrando logo após para o Tribunal Constitucional Federal da
Alemanha (TCA). No Brasil, a expressão começou a ser usada após a CF/88 pelo professor Ricardo
L. Torres.

Entende-se por “mínimo existencial” o conjunto de bens e interesses indispensáveis a uma


vida humana digna. Não se trata daquilo que todos querem, mas sim de tudo que, se ausente, pode
tornar a vida indigna.

O mínimo existencial é extraído:

• Princípio da DPH;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 97
.
• Liberdade material (para ter liberdade material precisamos ter igualdade material ou
substancial);

• Princípio do Estado Social (bem estar social).

PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA E O MÍNIMO EXISTENCIAL

Como vimos, o mínimo existencial seria o conjunto de bens e utilidades indispensáveis a


uma vida humana digna da liberdade material do Estado Social, este dentro do Estado Democrático
de Direito.

Quais seriam esses bens e essas utilidades indispensáveis? Por que falar em um mínimo e
não em um máximo? O professor Ricardo Torres, entende que o mínimo existencial não teria um
conteúdo definido, específico. Segundo ele, este conteúdo é variável, depende do local, da época.
Por outro lado, Ana Paula de Barcellos, também professora da UERJ, entende que o mínimo
existencial teria um conteúdo definido, formado por:

• Educação Fundamental;

• Direito à saúde;

• Direito de assistência aos desamparados;

• Acesso à Justiça (fundamental na hipótese de esses direitos acima não serem


implementados pelo estado, a pessoa através desse instrumento possa garantir a
efetividade desses direitos);

• Direito à moradia (há quem o defenda aqui. Moradia no Brasil como mínimo existencial
– local, abrigo para pelo menos se recolher durante a noite.

Obs.: alguns direitos sociais são princípios e outros são regras; quanto a estes não se pode falar
em mínimo, pois eles devem ser resguardados na exata medida de suas prescrições.

Direitos
sociais
Mínimo
Existencial
sociais

RESERVA DO POSSÍVEL X MÍNIMO EXISTENCIAL

Daniel Sarmento: exigirá maior ônus argumentativo - de um lado temos os Direitos Sociais
de outro o Princípio Democrático/Separação dos Poderes/Direito de terceiros. Quando o Mínimo
Existencial estiver nesta ponderação, ele exigirá do Estado um ônus argumentativo ainda maior
para o caso de não cumprir o direito. Portanto, possui caráter relativo.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 98
.
Ingo Sarlet: mínimo existencial tem caráter absoluto - Seu posicionamento é que, em
relação ao mínimo existencial, o estado não pode alegar a reserva do possível. Como se o mínimo
existencial tivesse um caráter absoluto.

Obs.: STJ adotou a tese REsp 1.185.474/SC. Informativo 431, afirmando que o Estado só pode
utilizar este argumento quando se tratar da real insuficiência de recursos em razão da baixa
arrecadação, quando se tratar de falta de recursos por “escolhas trágicas”, não poderia alegar a
reserva do possível.

Ana Paula de Barcellos: orçamento deve priorizar o mínimo existencial - deve ter como
meta prioritária a sua efetivação.

STF – RE 482611/SC: “[...] Impossibilidade de invocação, pelo Poder Público,


da cláusula da reserva do possível sempre que puder resultar, de sua
aplicação, comprometimento do núcleo básico que qualifica o mínimo
existencial” (RTJ 200/191-197)

8. VEDAÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL

NOMENCLATURAS E CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Também chamado de “Efeito Cliquet”, de proibição de proibição do retrocesso, de


proibição de contrarrevolução social, de proibição de evolução reacionária, de eficácia
vedativa/impeditiva de retrocesso e de não retorno da concretização.

Obs.: A vedação de retrocesso social relativa aos direitos sociais não se confunde com a vedação
ao retrocesso dirigida ao Poder Constituinte Originário (limites materiais), que não o permite um
retrocesso dos direitos fundamentais já conquistados.

A partir do momento em que é alcançado um determinado nível de concretização de um


Direito Social, não se pode retroceder nessa conquista. Os direitos não são dados pelo Estado, eles
são conquistados pela sociedade.

FUNDAMENTOS

A vedação do retrocesso não está expressa na CF. É extraída:

• Princípio da DPH, art. 1º, III

• Princípio da Segurança Jurídica

• Princípio da Máxima Efetividade, art. 5º, §1 º

• Princípio do Estado Democrático e Social de Direito art. 1º

DEFINIÇÃO

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 99
.
Trata-se de um impedimento, dirigido aos poderes públicos, de extinguir ou reduzir, de forma
desproporcional e injustificado, o grau de concretização alcançado por um direito fundamental
prestacional.

José Carlos Vieira de Andrade (doutrinador português) – diz que a concretização de um DS,
acaba fazendo parte do conteúdo do próprio direito, se incorporando a ele. Raciocínio: é como se a
concretização do direito social pelo Poder Público tivesse o condão de integrar esse direito, ela
passa a ter status de norma materialmente constitucional, é como se os DS “fosse uma esponja
que draga a concretização, fazendo esta parte daquela”. Por isso, é que não se admite um
retrocesso desses direitos. Passa a fazer parte do que é chamado de “bloco de
constitucionalidade” (sentido amplo).

ACEPÇÕES

Duas concepções sobre a vedação do retrocesso:

1ª Corrente: Gustavo Zagrabelsky - a vedação de retrocesso impede qualquer redução no


grau de concretização alcançado por uma norma de direito social. O problema dessa concepção é
a questão orçamentária.

Crítica: O poder público acaba ficando engessado pelas prioridades estabelecidas pelos
governantes anteriores, pois não pode restringir o orçamento dado para outros direitos sociais a fim
de concretizar novas prioridades. Ela praticamente elimina a liberdade de conformação legislativa.

Ex: em um governo a prioridade é o lazer, no próximo governo é a segurança pública. Como


o próximo governo irá concretizar a segurança pública se não pode diminuir nada o lazer? Ele fica
impossibilitado de optar por direitos.

2ª Corrente: José Carlos Vieira de Andrade/Jorge Miranda: permite a redução no grau de


concretização de um direito apenas quando essa concretização se mostrar irrazoável ou arbitrária.

A redução deve-se justificar (ex: pela redução do orçamento, pela prioridade de outros
direitos).

A segunda corrente é mais correta. Até porque a regra é a livre escolha de prioridades pelo
poder público. O princípio da vedação do retrocesso deve ser tratado como uma exceção.

Vedação do retrocesso atinge somente os direitos sobre os quais haja um consenso


profundo.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 100


.
DIREITOS DE NACIONALIDADE
1. ESPÉCIES DE NACIONALIDADE

A nacionalidade pode ser adquirida por ato de vontade (escolha em tornar-se nacional) ou
por previsão do ordenamento jurídico (nascimento, laços consanguíneos).

NACIONALIDADE PRIMÁRIA OU ORIGINÁRIA

São os considerados brasileiros natos, as hipóteses de nacionalidade originária estão


previstas no art. 12, I, CF.

O critério para adquirir está nacionalidade referem-se ao nascimento do indivíduo, não está
relacionada à manifestação de vontade.

O primeiro critério é o jus solin, segundo o qual é brasileiro nato o indivíduo que nasce em
território brasileiro. É utilizado, geralmente, em países de imigração. O Brasil adota no art. 12, I, a,
da CF este critério, excetuando o critério funcional, ou seja, não serão considerados brasileiros
natos os nascidos no Brasil quando o pai e a mãe (estrangeiros) estiverem a serviço do país de
origem, uma vez que o país de origem irá reconhecer a nacionalidade originária da criança.

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;

Obs.: a exceção refere-se a ambos os pais a serviço de seu país ou um deles deve estar apenas
acompanhando o outro. Assim, um diplomata que casa com uma brasileira e tem um filho não será
aplicada a exceção, uma vez que esta não o estava acompanhando e nem era sua esposa.

Obs.: Os pais devem estar a serviço de seu próprio país. Desta forma, se um argentino a serviço
da Espanha tem um filho no Brasil este será brasileiro nato.

O segundo critério é o sanguíneo ou jus sanguinis, geralmente ocorre em países de


emigração. Adotam este critério para que sejam mantidos os laços com o país de origem. O Brasil,
igualmente, no art. 12, I, b, CF adotou o critério sanguíneo em conjugação com o critério funcional.
Desta forma, são brasileiros natos:

Art. 12, I, b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,


desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

Obs.: Neste caso, apenas um dos pais precisa estar a serviço do Brasil. Assim, caso um brasileiro
a serviço do Brasil tenha um filho com uma italiana este será considerado brasileiro nato.

A terceira hipótese adota o critério sanguíneo conjugado com o registro na repartição


brasileira competente.

Art. 12, I, c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,


desde que sejam registrados em repartição brasileira competente (EC 54/07)
ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 101


.
Obs.: Antes da EC 54/07 os nascidos no exterior de pai ou mãe brasileira (jus sanguinis) que não
estavam a serviços do Brasil, só seriam considerados brasileiros natos se viessem a residir no Brasil
e optassem pela nacionalidade brasileira. Começou a surgir inúmeros brasileirinhos apátridas (sem
nacionalidade). Com a EC 54/07, passou a ser possível que o filho de brasileiro ou de brasileira,
mesmo que não venha residir no Brasil, poderá ser brasileiro desde que o pai faça o registro em
uma repartição pública do Brasil no país em que estão residindo.

Pode acontecer de os pais estarem em algum país que não admite a dupla nacionalidade,
neste caso o pai deixou de registrar o filho na repartição brasileira competente. Nestas hipóteses, a
criança pode a qualquer tempo, quando vier a residir no Brasil, optar pela nacionalidade brasileira,
ocasião em que será considerado brasileiro nato (jus sanguinis + jus domicilii + opção).

Há uma quarta hipótese, não prevista no texto constitucional, que é defendida por parte da
doutrina como sendo de nacionalidade originária, são os casos de adoção. Estes autores, com base
no art. 227, § 6º, CF, sustentam que seria possível atribuir a nacionalidade originária aos filhos
estrangeiros adotados (não é um entendimento pacífico).

Art. 227, § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por


adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação.

NACIONALIDADE SECUNDÁRIA OU ADQUIRIDA

Confere ao indivíduo o status de brasileiro naturalizado, está prevista no art. 12, II, CF.

Decorre de um ato de vontade, ou seja, o indivíduo é que opta pela nacionalidade brasileira.
Possui duas hipóteses: a primeira é chamada de naturalização tácita ou grande naturalização e
segunda é denominada de naturalização expressa.

Obs.: A naturalização tácita não se confunde com a involuntária, em que a nacionalidade é adquirida
mesmo contra a vontade da pessoa.

1.2.1. Naturalização tácita

Na naturalização tácita o indivíduo não precisa manifestar a sua vontade, basta que não faça
nada. É adotada, geralmente, por países que querem aumentar o seu índice populacional.

No Brasil, ocorreu na CF imperial e na CF de 1891, com o intuito de aumentar a população


brasileira, assim à época bastava o estrangeiro residir no Brasil para ser considerado brasileiro
naturalizado, salvo se manifestasse vontade de não o ser.

1.2.2. Naturalização expressa

A CF/88 adotou apenas a naturalização expressa que pode ser:

a) Ordinária (art. 12, II, a, da CF)

Art. 12, II - naturalizados:


a) os que, na forma da lei (Lei 13.445/2017), adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa (válida a

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 102


.
todos os países de língua portuguesa e não apenas a Portugal) apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

Trata-se de um ato discricionário, não há direito público subjetivo.

Os requisitos, para a aquisição da naturalização expressa ordinária, estão previstos no art.


65 da Lei 13.445/2017.

Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as


seguintes condições:
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;
III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do
naturalizando; e
IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Na hipótese de naturalização ordinária, mesmo cumprido todos os requisitos da Lei e da


Constituição, ainda assim a naturalização brasileira poderá não ser concedida. Não há direito
público subjetivo, trata-se de um ato de soberania estatal.

b) Extraordinária ou quinzenária (art. 12, II, b, da CF).

Art. 12, II - naturalizados:


b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação
penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Pode ser chamada de
quinzenária.

Lei 13.445/2017 - Art. 67. A naturalização extraordinária será concedida a


pessoa de qualquer nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 (quinze)
anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a
nacionalidade brasileira.

Para adquirir a naturalização brasileira de forma extraordinária é necessário:

• Residência no Brasil por mais de quinze anos;

• Não pode ter sofrido condenação penal e deve requerer.

Neste caso, segundo o entendimento do STF, trata-se de um ato vinculado, ou seja, a


pessoa possui um direito público subjetivo.

A utilização da expressão “desde que requeiram” lhe confere uma garantia, sendo um ato
vinculado.

1.2.3. Naturalização especial

Possui previsão apenas na Lei de Imigração, dispensa a residência no Brasil como requisito.

Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se


encontre em uma das seguintes situações:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 103


.
I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do
Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado
brasileiro no exterior; ou
II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição
consular do Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos.
Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial:
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do
naturalizando; e
III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

1.2.4. Naturalização provisória

Igualmente, está prevista apenas na Lei de Imigração.

Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança


ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional antes de
completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de
seu representante legal.
Parágrafo único. A naturalização prevista no caput será convertida em
definitiva se o naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de
2 (dois) anos após atingir a maioridade.

2. “QUASE NACIONALIDADE”

O indivíduo não é considerado brasileiro nato nem brasileiro nacionalizado, no entanto,


possui os mesmos direitos dos brasileiros. Esta hipótese, prevista no art. 12, § 1º, CF é aplicada
apenas aos portugueses, desde que exista reciprocidade por parte de Portugal. Ou seja, os direitos
conferidos aos portugueses pelo Brasil devem ser os mesmos conferidos aos brasileiros em
Portugal.

§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver


reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes
ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

Por exemplo, um português que reside no Brasil pode ser candidato ao cargo de Deputado
Estadual, Deputado Federal, Governador ou Prefeito, desde que Portugal admita que um brasileiro
residente em Portugal possa se candidatar a cargos políticos lá.

Apesar da CF não fazer distinção entre brasileiro nato e naturalizado no referido dispositivo,
fica claro que eles terão os mesmos direitos do brasileiro naturalizado. Os direitos dos brasileiros
naturalizado são os mesmo direitos do brasileiro nato, salvo os casos previstos na CF.

O português equiparado tem os mesmos direitos de um brasileiro naturalizado ou, em outras


palavras, os mesmos direitos de um brasileiro nato com as exceções previstas na CF.

3. DIFERENÇAS DE TRATAMENTO ENTRE BRASILEIRO NATO E NATURALIZADO

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 104


.
A lei não pode estabelecer diferença de tratamento entre brasileiro nato e brasileiro
naturalizado, só a CF pode fazer tal distinção (art. 12, § 2º, CF).

§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e


naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

A CF estabelece quatro diferenças de tratamento entre o brasileiro nato e o brasileiro


naturalizado.

CARGOS PRIVATIVOS

Alguns cargos só poderão ser ocupados por brasileiros natos. A CF estabelece dois critérios:

• Linha sucessória do Presidente da República; e

• Segurança nacional.

Art. 12, § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:


I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados (representante da Casa do
Povo);
III - de Presidente do Senado Federal (representante dos Estados);
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal (todos os ministros do STF
devem ser brasileiro nato, uma vez que a presidência do STF é rotativa. O
presidente do CNJ deve ser brasileiro nato, vez que o cargo é exercido por
ministro do STF);
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa

CONSELHO DA REPÚBLICA

O art. 89, VII prevê que seis dos assentos do Conselho devem ser reservados aos brasileiros
natos, tendo em vista que este é um órgão consultivo do Presidente da República.

Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente


da República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade,
sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado
Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de
três anos, vedada a recondução.

PROPRIEDADE DE EMPRESA JORNALÍSTICA E DE RADIODIFUSÃO SONORA

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 105


.
É privativa de brasileiros natos, podendo ser de brasileiro naturalizado a pelo menos 10
anos. A exceção foi colocada, segundo informações, devido ao Presidente do grupo abril.

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de


sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de
dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sede no País

EXTRADIÇÃO

Brasileiro nato não pode ser extraditado em hipótese alguma (art. 5º, LI, CF).

Art. 5º, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em


caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da
lei;

STF – HC 83.113 MC/DF: O brasileiro nato, quaisquer que sejam as


circunstâncias e a natureza do delito, não pode ser extraditado, pelo Brasil, a
pedido de Governo estrangeiro, pois a Constituição da República, em
cláusula que não comporta exceção, impede, em caráter absoluto, a
efetivação da entrega extradicional daquele que é titular, seja pelo critério do
“jus soli”, seja pelo critério do “jus sanguinis”, de nacionalidade brasileira
primária ou originária Esse privilégio constitucional, que beneficia, sem
exceção, o brasileiro nato (CF, art. 5.º, LI), não se descaracteriza pelo fato de
o Estado estrangeiro, por lei própria, haver-lhe reconhecido a condição de
titular de nacionalidade originária pertinente a esse mesmo Estado (CF, art.
12, § 4.º, II, “a”).

Em relação ao brasileiro naturalizado a CF prevê duas hipóteses:

• Crime praticado antes da naturalização permite extradição; e

• Crime praticado após a naturalização irá gerar a extradição, desde que seja o crime de
tráfico de entorpecentes e drogas afins.

A Lei de Imigração regulamenta extradição.

Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado


brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa
sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução
de processo penal em curso.
§ 1º A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades
centrais designadas para esse fim.
§ 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão
competente do Poder Executivo em coordenação com as autoridades
judiciárias e policiais competentes.

Segundo a súmula 421 STF, o estrangeiro casado com brasileira ou pai de brasileiro pode
ser extraditado:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 106


.
STF – Súmula 421: Não impede a extradição a circunstância de ser o
extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

Não pode ser confundida com a súmula 01 STF (“É vedada a expulsão de estrangeiro
casado com brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente da economia paterna”), que se
refere à expulsão de estrangeiro, neste caso não é possível.

No caso de extradição, o indivíduo pratica um crime em outro país que irá requer ao Estado
brasileiro que efetue a extradição ao país de origem. Na expulsão o ato nocivo é praticado dentro
do território nacional, ocasião em que será expulso do país.

Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada


compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada
com o impedimento de reingresso por prazo determinado.
§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em
julgado relativa à prática de:
I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime
de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal
Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro
de 2002 ; ou
II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade,
consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território
nacional.
§ 2º Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração
do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da
expulsão, observado o disposto nesta Lei.
§ 3º O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará
a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional
do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de
indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios
concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro.
§ 4º O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da
expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será
superior ao dobro de seu tempo.

Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:


I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;
II - o expulsando:
a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica
ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação
alguma, reconhecido judicial ou legalmente;
c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde
então no País;
d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de
10 (dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão; ou

“Entrega” (“surrender”) é diferente de extradição. Na extradição o indivíduo é entregue à


jurisdição de outro país diferente, por isso não se admite a extradição de um brasileiro nato, sendo
admitida apenas de estrangeiro ou de naturalizado. No caso da entrega, a pessoa é entregue a uma
jurisdição internacional, da qual o próprio Brasil faz parte e manifestou expressamente a sua
adesão, ou seja, no caso do Tribunal Internacional, o indivíduo não está sendo entregue a uma

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 107


.
jurisdição de outro país. Por isso, Novelino entende que não há nada que impeça um brasileiro nato
ser entregue a um Tribunal Penal Internacional.

Há, ainda, a deportação que ocorre nos casos de situação migratória irregular.

Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo


que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação
migratória irregular em território nacional.
§ 1º A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da
qual constem, expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a
regularização não inferior a 60 (sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por
igual período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a
pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares.
§ 2º A notificação prevista no § 1º não impede a livre circulação em território
nacional, devendo o deportando informar seu domicílio e suas atividades.
§ 3º Vencido o prazo do § 1º sem que se regularize a situação migratória, a
deportação poderá ser executada.
§ 4º A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações
contratuais ou decorrentes da lei brasileira.
§ 5º A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao
cumprimento da notificação de deportação para todos os fins.
§ 6º O prazo previsto no § 1º poderá ser reduzido nos casos que se
enquadrem no inciso IX do art. 45.

Além disso, para que seja concedida a extração deve-se observar:

a) Princípio da Dupla Imputação

Para que ocorra a extradição é necessário que o ato praticado seja punido no Brasil e no
país requerente.

Art. 82. Não se concederá a extradição quando:


II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no
Estado requerente;
VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou
a do Estado requerente;

Nesse sentido, o entendimento do STF:

STF - Ext 866/PT: EXTRADIÇÃO E PRINCÍPIO DA DUPLA PUNIBILIDADE.


- Consumada a prescrição penal, seja em face da legislação do Estado
requerente, seja à luz do ordenamento positivo brasileiro, impõe-se o
indeferimento do pedido extradicional, porque desatendido, em tal hipótese,
o princípio da dupla punibilidade. Ocorrência, na espécie, de prescrição
penal, fundada na legislação brasileira, referente a um dos delitos
motivadores do pedido de extradição.

b) Vedação do duplo risco

Havendo possibilidade de punição no Brasil e no país requerente, em razão da vedação do


duplo risco, não será concedida a extradição.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 108


.
Art. 82. Não se concederá a extradição quando:
V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido
condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o
pedido;

STF – Ext 890/PT: A extradição não será concedida, se, pelo mesmo fato em
que se fundar o pedido extradicional, o súdito estrangeiro estiver sendo
submetido a procedimento penal no Brasil, ou, então, já houver sido
condenado ou absolvido pelas autoridades judiciárias brasileiras. - Ninguém
pode expor-se, em tema de liberdade individual, à situação de duplo risco.
Essa é a razão pela qual a existência de situação configuradora de "double
jeopardy" atua como insuperável obstáculo ao atendimento do pedido
extradicional. Trata-se de garantia que tem por objetivo conferir efetividade
ao postulado que veda o ‘bis in idem’. Precedentes.

c) Crime político ou de opinião

Não será possível a extradição pela prática de crime político ou de opinião, visa evitar
perseguições políticas.

CF Art. 5º, LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime
político ou de opinião;

Lei 13.455/2017 – Art. 82. Não se concederá a extradição quando:


VII - o fato constituir crime político ou de opinião;
§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição
quando o fato constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou
quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato
principal.
§ 4º O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político
o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como
crime contra a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo.

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e

d) Respeitos aos direitos fundamentais

Salienta-se que os direitos fundamentais serão aplicados ao pedido de extradição. Por


exemplo, se o país requerente pune com pena de morte, o Brasil só irá autorizar se houver o
comprometimento de que seja aplicada outra espécie de pena.

Art. 82. Não se concederá a extradição quando:


VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal
ou juízo de exceção;

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de
liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) 40 anos
(em razão das alterações do Pacote Anticrime);

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 109


.

e) Princípio da Especialidade

Para a concessão é necessário que a extradição seja condicionada ao objeto do pedido. Por
exemplo, a extradição é pelo crime de latrocínio, chegando ao país requerente apenas por este
poderá ser processado e julgado.

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao
pedido de extradição;

Contudo, o STF admite pedido de extensão.

STF – Ext 943 Extn/ITA: 1. A pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal autoriza a análise do pedido de extensão formulado após o
deferimento do pedido de extradição, desde que os crimes relacionados
sejam diversos aqueles que motivaram o pedido inicial e que eles tenham
sido cometidos em data anterior ao pleito extradicional.

f) Aplicação imediata dos tratados de extradição

Caso não haja tratado de extradição entre o Brasil e país requerente, sendo celebrado após
a ocorrência do crime, poderá retroagir e ser autorizada a extradição.

STF – Ext 864/ITA: I. Extradição: lei ou tratado: aplicabilidade imediata. 1. As


normas extradicionais, legais ou convencionais, não constituem lei penal, não
incidindo, em consequência, a vedação constitucional de aplicação a fato
anterior da legislação penal menos favorável.

4. PERDA DA NACIONALIDADE

AÇÃO DE CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO

Somente se aplica a brasileiros naturalizados.

Art. 12, § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:


I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial (competência da
justiça federal), em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

NATURALIZAÇÃO VOLUNTÁRIA

Aplica-se aos brasileiros natos e aos brasileiros naturalizados.

Art. 12, §, 4º, II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:


a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; aplica-
se apenas aos brasileiros natos.
b) de imposição de naturalização (não é voluntária, o indivíduo foi obrigado),
pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 110


.
condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos
civis;

Obs.: a ressalva feita pela alínea “a” do § 4º, do art. 12, CF, se aplica apenas aos brasileiros natos.

Imagine que um brasileiro nato, voluntariamente, adquira a nacionalidade de outro país,


porém este não admite a dupla nacionalidade. Nesta hipótese, ele perde a nacionalidade brasileira
passando a ser um estrangeiro. Pode, posteriormente, adquirir novamente a nacionalidade
brasileira? Na hipótese do inciso I não pode. Em relação ao inciso II é possível.

Neste caso, passa a ser brasileiro nato ou será considerado brasileiro naturalizado? Na
doutrina há posicionamento nos sois sentidos. Jose Afonso da Silva entende que se quiser
novamente adquirir a nacionalidade brasileira será brasileiro nato (minoritário). Porém, o
posicionamento majoritário (defendido por Valério Mazzuoli, Alexandre de Morais), afirmam que
será considerado brasileiro naturalizado, uma vez que a partir do momento que ele,
voluntariamente, adquiriu outra nacionalidade seu status é de estrangeiro, para voltar a ser brasileiro
terá que passar por um procedimento de aquisição de nacionalidade (manifestação de vontade) e
não por meio originário.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 111


.
DIREITOS POLÍTICOS

1. CONSIDERAÇÕES

Os direitos políticos são direitos públicos fundamentais conferidos aos cidadãos para que
possam participar da vida do Estado. Podem ser divididos em dois grandes grupos: direitos políticos
positivos e direitos políticos negativos.

Os direitos políticos positivos permitem a participação do indivíduo na vida política do Estado


(votar, ser votado). Dividem-se em: direito de sufrágio, alistabilidade (capacidade eleitoral ativa -
votar) e elegibilidade (capacidade eleitoral passiva – ser votado).

Os direitos políticos negativos importam em limitações aos direitos políticos, ou seja,


impedem que o indivíduo exerça os direitos políticos. Divide-se em inelegibilidades, perda dos
direitos políticos ou suspensão dos direitos políticos.

SUFRÁGIO

POSITIVOS ALISTABILIDADE

ELEGIBILIDADE
DIREITOS
POLÍTICOS
INELEGIBILIDADES

PERDAS DOS
NEGATIVOS DIREITOS
POLÍTICOS

SUSPENSÃO DOS
DIREITOS
POLÍTICOS

2. DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS

SUFRÁGIO

Trata-se do direito político em si, não se confunde com o voto e com escrutínio.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 112


.
SUFRÁGIO VOTO ESCRUTÍNIO

É o modo como o exercício do


É a essência do direito Trata-se do exercício do direito político ocorre.
político. direito político.
Pode ser aberto ou secreto.

Há duas espécies de sufrágio, quais sejam:

RESTRITIVO UNIVERSAL

Existem algumas exigências que irão limitar a


participação dos indivíduos. Pode ser:

• Censitário: levam em consideração


algumas características
econômicas; É adotado nos Estados Democráticos de
• Capacitário: leva em consideração Direito, a exemplo do Brasil. É uma cláusula
algum tipo de capacidade especial, pétrea. As exigências da CF (idade mínima,
geralmente, é uma capacidade de nacionalidade) não são consideradas
natureza intelectual (só vota quem restrições ao sufrágio universal
tem curso superior);

• Em razão do gênero: leva em


consideração o gênero (masculino e
feminino)

ALISTABILIDADE

Trata-se da capacidade eleitoral ativa, ou seja, capacidade para votar.

Características do voto no Brasil:

a) Direto – o povo escolhe seus representantes. Possui como exceção o art. 81, § 1º, CF.
Porém, esta não é uma norma de observância obrigatória;

b) Igual – o voto possui o mesmo valor para todos (art. 14, CF). “On person, one vote”

c) Livre – escrutínio secreto (cláusula pétrea), liberdade de escolha;

d) Periodicidade - manifesta-se através das eleições, possibilitando a alternância de poder;

e) Personalíssimo - trata-se de algo intransferível. Somente o próprio titular é que pode


exercer o seu direito de voto.

No Brasil tanto o alistamento eleitoral quanto o voto são obrigatórios para alguns e
facultativos para outros.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 113


.
O voto é obrigatório para as pessoas que possuem entre 18 e 70 anos, lembrando que esta
obrigatoriedade não é cláusula pétrea (alguns sustentam que é implícita). O voto será facultativo
para os que possuem idade entre 16 e 18 anos; maiores de 70 anos e para os analfabetos.

As pessoas que possuem faculdade para votar podem exercê-la mesmo que estejam
alistados.

Art. 14, § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:


I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

Inalistáveis (pessoas que não podem se alistar como eleitor):

a) Conscritos: são aqueles que prestam alistamento militar obrigatório. O conceito de


conscrito abrange: médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários durante o período do serviço
militar obrigatório (não são os que fazem concurso público para estes cargos).

Lei 5.292/67 - Art. 4o Os concluintes dos cursos nos IEs destinados à


formação de médicos, farmacêuticos, dentistas e veterinários que não
tenham prestado o serviço militar inicial obrigatório no momento da
convocação de sua classe, por adiamento ou dispensa de incorporação,
deverão prestar o serviço militar no ano seguinte ao da conclusão do
respectivo curso ou após a realização de programa de residência médica ou
pós-graduação, na forma estabelecida pelo caput e pela alínea ‘a’ do
parágrafo único do art. 3o, obedecidas as demais condições fixadas nesta Lei
e em sua regulamentação.

b) Estrangeiros: a nacionalidade é uma das condições para o exercício dos direitos políticos,
salvo os casos de quase nacionalidade (art. 12, §1º, CF).

Art. 14, § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante


o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

ELEGIBILIDADE

Trata-se da capacidade eleitoral passiva, ou seja, possibilidade de ser votado.

Condições de elegibilidade estão previstas no art. 14, são regulamentadas por Lei Ordinária
(Código Eleitoral).

Idade mínima – com 35 anos (Presidente e Vice, Senador) a pessoa adquire a plena
cidadania (pode ser eleita para qualquer cargo); 30 anos (Governador e Vice); 21 anos (Prefeito,
Vice, Deputado e Juiz de paz) e 18 anos (Vereador).

Art. 14, § 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:


I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 114


.
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição (prazo de seis meses antes das
eleições);
V - a filiação partidária (prazo de seis meses antes das eleições);
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital,
Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

O STF faz uma distinção entre as condições de elegibilidade (direitos políticos positivos art.
14, § 3º) e outras hipóteses de inelegibilidade (direitos políticos negativos – art. 14, § 9º).

Art. 14, § 9º Lei complementar (LC135/10) estabelecerá outros casos de


inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra
a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.

A LC é somente para outros casos de inelegibilidade.

As condições de elegibilidade devem ser analisadas no registro da candidatura, em regra. A


exceção se refere à idade mínima, que deve ser analisada na data da posse. Contudo, a idade
mínima de 18 anos, para vereador, é exigida na data-limite do pedido de registro.

Lei 9.504/97 – Art. 11, § 2o A idade mínima constitucionalmente estabelecida


como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da
posse, salvo quando fixada em dezoito anos, hipótese em que será aferida
na data-limite para o pedido de registro

3. DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS

Trata-se de restrições à participação do indivíduo na vida política do Estado.

INELEGIBILIDADES

ABSOLUTAS RELATIVAS

Relacionada a uma condição pessoal Estão relacionadas ao cargo ocupado

Somente podem ser estabelecidas pela Podem ser criadas por lei complementar (art.
própria CF 14, § 9º)

Em alguns casos, admite-se a


Não admitem desincompatibilização
desincompatibilização

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 115


.
Decorrente de cargo não-eletivo, de cargo
Analfabetos, estrangeiros e conscritos
eletivo

A) INELEGIBILIDADE ABSOLUTA

Aplica-se apenas aos analfabetos e aos inalistáveis (estrangeiros e os conscritos).

Art. 14, § 4º - São inelegíveis os inalistáveis (conscritos e estrangeiros) e os


analfabetos.

B) INELEGIBILIDADE RELATIVA

• Decorrente de cargo eletivo

Refere-se aos cargos do Chefe do Poder Executivo (Presidente da República,


Governador e Prefeito), poderá estar relacionado ao mesmo cargo (caso de
reeleição) ou a cargo distinto.

Art. 14, § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do


Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído
no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período
subsequente. A sucessão é definitiva; a suspensão é apenas temporária.

A sucessão é definitiva, ocorre no caso de vacância (morte, impeachment); já a


substituição é temporária, a exemplo de uma doença, de uma viagem. Em regra,
tanto a sucessão quanto a substituição são feitas pelo Vice-Presidente.

Em relação à sucessão, não há dúvidas sobre a aplicação da inelegibilidade.

Tratando-se de substituição, de acordo com o TSE (Consulta 1.699/37 DF), o


Vice-Prefeito que assumir a chefia do Poder Executivo em decorrência de
afastamento, ainda que temporário, do titular, seja por que razão for, somente
poderá candidatar-se ao cargo de Prefeito para um período subsequente.

O entendimento do TSE contraria entendimento anterior do STF.

STF – RE 366.488/SP: Vice-Governador eleito duas vezes para o cargo de


Vice-Governador. No segundo mandato de vice, sucedeu o titular. Certo que,
no seu primeiro mandato de vice, teria substituído o Governador.
Possibilidade de reeleger-se ao cargo de Governador, porque o exercício da
titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão. Somente
quando sucedeu o titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato
como titular do cargo. Inteligência do disposto no § 5.º do art. 14 da
Constituição Federal.

A figura do “prefeito itinerante”, ou seja, o Prefeito da Cidade X, que já exerceu


dois mandatos, na eleições seguintes (por ser inelegível na Cidade X) concorre
ao cargo de Prefeito na Cidade Y. No entendimento do STF, tal postura é
incompatível com o princípio republicano, que visa evitar a perpetuação no poder.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 116


.
STF – RE 637.485/RJ: O instituto da reeleição tem fundamento não somente
no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio
republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no
poder. O princípio republicano condiciona a interpretação e a aplicação do
próprio comando da norma constitucional, de modo que a reeleição é
permitida por apenas uma única vez (...). Esse princípio impede a terceira
eleição não apenas no mesmo município, mas em relação a qualquer outro
município da federação. Entendimento contrário tornaria possível a figura do
denominado “prefeito itinerante” ou do “prefeito profissional”, o que
claramente é incompatível com esse princípio, que também traduz um
postulado de temporariedade/alternância do exercício do poder (...).Portanto,
ambos os princípios – continuidade administrativa e republicanismo –
condicionam a interpretação e a aplicação teleológicas do art. 14, § 5º, da
Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos consecutivos como
prefeito de determinado município fica inelegível para o cargo da mesma
natureza em qualquer outro município da federação (...). (2.1) o art. 14, § 5º,
da Constituição, deve ser interpretado no sentido de que a proibição da
segunda reeleição é absoluta e torna inelegível para determinado cargo de
Chefe do Poder Executivo o cidadão que já exerceu dois mandatos
consecutivos (reeleito uma única vez) em cargo da mesma natureza, ainda
que em ente da federação diverso.

A inelegibilidade relativa para outros cargos também será aplicada apenas ao


Chefe do Poder Executivo. Será possível a sus candidatura para outro cargo,
desde que se desincompatibilize seis meses antes, nos termos do art. 14, §6º da
CF.

Art. 14, § 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República,


os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem
renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito

• Cargo não-eletivo: militares, juízes, membros do MP.

Art. 14, § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes


condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a
inatividade.

Art. 95, Parágrafo único. Aos juízes é vedado:


III - dedicar-se à atividade político-partidária.

Art. 128, § 5º: Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é
facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a
organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público,
observadas, relativamente a seus membros:
II - as seguintes vedações:
e) exercer atividade político-partidária;

• Em razão do parentesco

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 117


.

Limita os parentes até segundo grau, consanguíneos ou por adoção, ser titular
de mandato eletivo.

Art. 14, § 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e


os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.

Havendo a possibilidade de o chefe do executivo concorrer à reeleição, caso ele


se desincompatibilize do cargo seis meses antes, admite-se a possibilidade de o
cônjuge ou parente concorrer ao cargo. Neste caso, é considerada como uma
segunda eleição, ou seja, eles não poderão ser candidatos nas eleições
seguintes.

Observe o posicionamento dos Tribunais Superiores acerca do assunto:

TSE - Acórdão 19.442/2001:O Cônjuge e os parentes do chefe do Executivo


são elegíveis para o mesmo cargo do titular, quando este for reelegível e tiver
se afastado definitivamente até seis meses antes do pleito.

Súmula Vinculante nº. 18 – A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal,


no curso do mandato, não afasta a inexigibilidade prevista no art. 14, § 7º,
CF.

STF – AC 3.298 MC-AgR/PB: [...] 2. Há plausibilidade na alegação de que a


morte de Prefeito, no curso do mandato (que passou a ser exercido pelo Vice-
Prefeito), não acarreta a inelegibilidade do cônjuge, prevista no art. 14, § 7º,
da Constituição Federal. Trata-se de situação diferente da que ocorre nos
casos de dissolução da sociedade conjugal no curso do mandato, de que trata
a Súmula Vinculante 18. 3. Agravo regimental improvido.

TSE - Consulta 845/DF: É inelegível o irmão ou irmã daquele ou daquela que


mantém união estável com o prefeito ou prefeita.

TSE - REsp 24.564/PA: Os sujeitos de uma relação estável homossexual, à


semelhança do que ocorre com os de relação estável, de concubinato e de
casamento, submetem-se à regra de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º,
da Constituição Federal.

STF – RE 106.043: Inelegibilidade da candidata eleita Vereadora, por ser


casada religiosamente com o então titular do cargo de Prefeito.

• Outras hipóteses – o art. 14, §9º da CF prevê que Lei Complementar (64/90)
estabelecerá outras hipóteses de inelegibilidades, com o intuito de proteger a
probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada
vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra
a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 118


.
Trata-se de uma matéria de reserva legal qualificada.

A Lei da Ficha Limpa alterou a LC 64/90 incluindo novas hipóteses de


inelegibilidade, fazendo surgir questionamento no STF se haveria aplicação a
casos praticados antes da sua vigência. Na ocasião, o STF entendeu que mesmo
a decisão tendo transitado em julgado antes da Lei, deveria ser aplicado o novo
prazo, tendo em vista que a inelegibilidade não possui caráter punitivo. Sustentou
que era caso de retroatividade inautêntica (retrospectividade).

RE 929.670/DF: É aplicável a alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/1990,


com a redação dada pela LC 135/2010, a fatos anteriores a sua publicação.

Para melhor compreensão é importante distinguirmos a retroatividade autêntica


de retroatividade inautêntica (retrospectividade)

RETROATIVIDADE AUTÊNTICA RETROATIVIDADE INAUTÊNTICA

Segundo Novelino, “a norma possui


Conforme Novelino, “a norma jurídica
eficácia ex tunc, gerando efeito sobre
atribui efeitos futuros a situações ou
situações pretéritas, ou, apesar de
relações jurídicas já existentes,
pretensamente possuir eficácia
tendo-se, como exemplos clássicos,
meramente ex nunc, atinge, na
as modificações dos estatutos
verdade, situações, direitos ou
funcionais ou de regras de
relações jurídicas estabelecidas no
previdência dos servidores públicos”
passado”

PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

PERDA SUSPENSÃO

Caráter definitivo Caráter temporário

A cassação é a retirada arbitraria dos direitos políticos, não é admitida no Brasil, vetada (art.
15).

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; perde
a nacionalidade brasileira, consequentemente, perde os direitos políticos.
II - incapacidade civil absoluta; suspensão dos direitos políticos. Atualmente,
apenas os menores de 16 anos possuem incapacidade absoluta. Como
nunca puderam votar, não possui mais sentido.
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos; suspensão. Aplica-se, inclusive, no caso de substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII; escusa de consciência. A maioria da doutrina, no
Direito Constitucional, considera esta hipótese como sendo de perda dos

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 119


.
direitos políticos. Novelino defende que este entendimento é equivocado,
uma vez que a pessoa pode recuperar o direito, após a regulamentação. Na
doutrina eleitoral entende-se que é caso de suspensão.
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

4. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL

CONCEITO

De acordo com o Princípio da Anterioridade Eleitoral, toda lei que modificar o processo
eleitoral, possui eficácia diferida (adiada) para o pleito seguinte.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência.

FINALIDADE

Visa impedir alterações casuísticas no processo eleitoral, as quais poderem romper a


igualdade entre os candidatos e os partidos políticos.

CLÁUSULA PÉTREA

De acordo com o STF, o Princípio da Anterioridade Eleitoral é uma garantia individual do


cidadão eleitoral, por isso é considerado uma cláusula pétrea. Desta forma, mesmo o poder
derivado reformador está obrigado a observá-lo.

Além disso, o STF (RE 637.485/RJ) entendeu que as decisões do TSE, em razão de seu
caráter normativo, devem observar o referido princípio.

STF – RE 637.485/RJ: Não se pode deixar de considerar o peculiar caráter


normativo dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, que
regem todo o processo eleitoral. Mudanças na jurisprudência eleitoral,
portanto, têm efeitos normativos diretos sobre os pleitos eleitorais, com sérias
repercussões sobre os direitos fundamentais dos cidadãos (eleitores e
candidatos) e partidos políticos. No âmbito eleitoral, a segurança jurídica
assume a sua face de princípio da confiança para proteger a estabilização
das expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos
prélios eleitorais. A importância fundamental do princípio da segurança
jurídica para o regular transcurso dos processos eleitorais está plasmada no
princípio da anterioridade eleitoral positivado no art. 16 da Constituição. O
STF fixou a interpretação desse artigo 16, entendendo-o como uma
garantia constitucional (1) do devido processo legal eleitoral, (2) da
igualdade de chances e (3) das minorias. Em razão do caráter
especialmente peculiar dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior
Eleitoral, os quais regem normativamente todo o processo eleitoral, é
razoável concluir que a Constituição também alberga uma norma, ainda que
implícita, que traduz o postulado da segurança jurídica como princípio da

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 120


.
anterioridade ou anualidade em relação à alteração da jurisprudência do TSE.
Assim, as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do pleito
eleitoral ou logo após o seu encerramento, impliquem mudança de
jurisprudência e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica, não têm
aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia sobre
outros casos no pleito eleitoral posterior.

5. PARTIDOS POLÍTICOS

O art. 17 da CF é a norma constitucional que trata dos partidos políticos. Observe:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,


resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados
os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo
estrangeiros ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

De acordo com o TSE, com base no art. 17, I, da CF, deveria haver verticalização nas
eleições. Desta forma, quando determinado partido fizesse coligação na eleição para Presidente da
República (em âmbito nacional), nas eleições regionais (governador) o partido só poderia concorrer
sozinho ou com a mesma coligação nacional ou com um partido que não tivesse feito nenhuma
coligação nacional. Não se aplicava para as eleições municipais.

Como intuito de afastar a regra da verticalização, editou-se a EC 56/2006, para que os


partidos tivessem autonomia na escolha de suas coligações. Como foi feita dentro do período de
um ano, em razão do Princípio da Anterioridade Eleitoral, não pode ser aplicada às eleições de
2006.

Em 2017, editou-se a EC 97/2017 que visava diminuir o excessivo número de partidos


existentes no Brasil, criou-se cláusula de barreira, restrição para coligações e exceção para a
fidelidade partidária.

Art. 17, § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua
estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de
seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições
proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária.

Importante consignar que os partidos políticos possuem natureza jurídico de direito privado.

Art. 17, § 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na


forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 121


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A EC 97/2017 reintroduziu a cláusula de barreira ou cláusula de desempenho de forma


gradativa, os percentuais aumentam gradativamente a cada eleição. As previsões dos incisos I e II
são alternativas e não cumulativas.

Art. 17, § 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso


gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente:
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3%
(três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das
unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos
válidos em cada uma delas; ou
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em
pelo menos um terço das unidades da Federação.

Em relação à fidelidade partidária, o TSE (Consulta 1398/DF) criou uma norma prevendo
que partidos políticos e coligações têm direito de preservar a vaga obtida pelo sistema
proporcional (não se aplica fidelidade partidária no sistema majoritário, conforme o STF - ADI
5081) nos casos de:

• Pedido de cancelamento de filiação partidária; ou

• Transferência do candidato eleito para legenda diversa.

A perda do cargo, nas duas hipóteses, somente irá ocorrer quando não houver justa causa.
O TSE considera justa causa a incorporação ou fusão do partido, a criação de novo partido, a
mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário ou a grave discriminação pessoal
do dono do mandato. O STF, no MS 26303, corroborou o entendimento do TSE.

STF – MS 26.603/DF: A prática da infidelidade partidária, cometida por


detentores de mandato parlamentar, por implicar violação ao sistema
proporcional, mutila o direito das minorias que atuam no âmbito social,
privando-as de representatividade nos corpos legislativos, e ofende direitos
essenciais - notadamente o direito de oposição - que derivam dos
fundamentos que dão suporte legitimador ao próprio Estado Democrático de
Direito, tais como a soberania popular, a cidadania e o pluralismo político (CF,
art. 1º, I, II e V) (...). A repulsa jurisdicional à infidelidade partidária, além de
prestigiar um valor eminentemente constitucional (CF, art. 17, § 1º, "in fine"),
(a) preserva a legitimidade do processo eleitoral, (b) faz respeitar a vontade
soberana do cidadão, (c) impede a deformação do modelo de representação
popular, (d) assegura a finalidade do sistema eleitoral proporcional, (e)
valoriza e fortalece as organizações partidárias e (f) confere primazia à
fidelidade que o Deputado eleito deve observar em relação ao corpo eleitoral
e ao próprio partido sob cuja legenda disputou as eleições.

O §5º, do art. 17, da CF trata da exceção à fidelidade partidária. Observe:

Art. 17, § 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos
no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem
perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa
filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 122


.
e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017)

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 123


.
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
1. DISTINÇÕES

FORMAS DE GOVERNO

Utiliza-se como critério de definição o tipo de instituição, por meio da qual o Estado se
organiza, para regular a disputa do poder político e o seu exercício. Em outras palavras, as formas
de governo tratam da relação entre os governantes e os governados.

Existem basicamente duas formas de governo, as quais são contrapostas.

MONARQUIA REPÚBLICA
Governo de indivíduos: representação do Governo de todos: o titular da soberania
poder no monarca. passa a ser o povo.
Características: Características:
• Irresponsabilidade política do • Responsabilidade política do
monarca; governante;
• Hereditariedade: o poder se • Eletividade: os representantes são
transfere através de laços eleitos para a representação;
sanguíneos;
• Temporariedade: eleições periódicas
• Vitaliciedade: o monarca fica no para escolher os representantes da
poder até o final de sua vida. república.

SISTEMAS DE GOVERNO

Utiliza-se como critério a forma de articulação entre os poderes políticos. Ou seja, a maneira
como Poder Executivo e o Poder Legislativo se articular.

Trata-se de mecanismos de distribuição horizontal do poder político

PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO
As funções de chefe de estado e de chefe de
governo são exercidas por pessoas distintas.
Surgiu nos Estados Unidos, em 1787. No Brasil • Chefe de estado: depende da forma
é adotado desde 1.889 até os dias atuais, salvo de governo adotada.
nos anos de 1961 a 1963 em que se adotou o Monarquia – monarca (Reino Unido,
sistema parlamentarista. Espanha, Japão);
Parlamentarismo Republicano –
Presidente da República (Alemanha,
As funções de chefe de estado e chefe de Áustria, Índia).
governo se concentram em uma só pessoa, É uma figura representativa,
verdadeira fusão do Poder Executivo. simbólica.
• Chefe de governo: primeiro-ministro
(governa com a ajuda do gabinete) é
uma espécie de ministério.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 124


.
Não há mandato fixo. O primeiro-ministro,
Mandato fixo e independência em relação ao geralmente, é escolhido dentro do
Parlamento. parlamento, pela maioria. Fica no cargo
enquanto tiver o apoio da maioria.

Responsabilidade:

Penal: a CF consagra a chamada


irresponsabilidade penal relativa (art. 86, § 4º),
ou seja, o Presidente só responde penalmente
pelos crimes realizados durante o mandato e
que se relacionem com a sua função. Os crimes
praticados antes ou durante o mandato, que
não se relacionem com a função, serão
processados no término do mandato.

Quem julga é o STF, com a autorização pela


Câmara dos Deputados (2/3).

Art. 86, § 4º - O Presidente da República, na vigência


de seu mandato, não pode ser responsabilizado por
atos estranhos ao exercício de suas funções.
Responsabilidade política do Chefe de
Este dispositivo NÃO pode ser reproduzido por Governo perante o Parlamento.
constituições estaduais ou leis orgânicas
municipais. Moção de desconfiança: cai tanto o primeiro-
ministro quanto o gabinete.
Política: existem duas formas:
O chefe do executivo, neste caso, sempre
Impeachment – ocorre quando o Presidente terá o apoio da maioria.
pratica um crime de responsabilidade. Também
é necessária a autorização da Câmara dos
Deputados (2/3) para que ele seja processado.
Quem julga é o Senado Federal, também por
2/3.

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da


República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento
perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos
crimes de responsabilidade.

Recall (não é adotada no Brasil) – permite que


o eleitorado se pronuncie diretamente acerca
da permanência ou não de um governante no
poder, ou seja, quem julga o governante não é
o órgão constituído. Há uma espécie de
referendo e os eleitores se manifestam.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 125


.
Há, ainda, um terceiro sistema o semiparlamentarismo ou semipresidencialismo, trata-se de
um sistema híbrido, ou seja, tenta compor o parlamentarismo com o presidencialismo. Criado na
França, em 1958, pela Constituição Francesa que instituiu a 5ª República.

Caracteriza-se pela dualidade entre Chefe de Estado e Chefe de Governo, as duas figuras
são separadas.

• Chefe de Estado é eleito diretamente pelo povo e desempenha funções políticas relevantes
(não é uma figura meramente simbólica). O Presidente da República escolhe o primeiro-
ministro, propõe projetos de lei, convoca referendos, propõe ações de constitucionalidade,
pode dissolver o parlamento.

• Chefe de governo é o primeiro-ministro, nomeado pelo Presidente da República, sendo


aprovado pelo parlamento.

É adotado por: Portugal, França, Colômbia, Finlândia.

FORMAS DE ESTADO

São mecanismos de distribuição vertical do poder político, a forma como é distribuído no


espaço.

ESTADO UNITÁRIO (Estado Simples) ESTADO COMPOSTO

Um centro de poder incidindo sobre a mesma Mais de um centro de poder sobre a mesma
população e o mesmo território. população e território.

Estado unitário Possui duas espécies: confederação e federação.

a) Puro (apenas centro de poder, sem nenhuma CONFEDERAÇÃO FEDERAÇÃO


forma de delegação). Poder exercido unicamente
Pessoa Jurídica de
por um órgão, sem divisão administrativa e Estado
Direito Público
legislativa;
Em regra, os membros
b) Com descentralização administrativa. há são unidos por tratado Unidos por Constituição
descentralização da execução das decisões internacional
políticas;
Membros possuem Membros possuem
c) Com descentralização político-administrativa: soberania autonomia
ocorre descentralização não apenas da execução,
mas também política, ou seja, descentralização de Direito de secessão Vedado o direito de
(separação) secessão
governo (abrange a própria tomada de decisões
pelo governo). Ex: descentralização da elaboração Membros possuem Decisões dos órgãos
de leis. direito de nulificação centrais são
(discordância de obrigatórias para todos
Obs.: a mera descentralização não é suficiente determinada norma) os membros
para caracterizar Estado Federal.
Criada para tratar de Trata de assuntos
assuntos externos internos e externos

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 126


.
Cada pessoa mantém a
nacionalidade dos Nacionalidade única
respectivos Estados

Poder Central dividido


Congresso Confederal
em Legislativo,
– único órgão comum
Executivo e Judiciário

Salienta-se que desde o descobrimento do Brasil até a República, tínhamos o Estado


Unitário. O Estado Federal foi consagrado pela Constituição de 1891 (foi criada República
Federativa).

2. TIPOS DE FEDERALISMO

QUANTO AO SURGIMENTO

2.1.1. Federalismo por agregação

Este tipo de federalismo surge quando Estados Soberanos renunciam a uma parcela de sua
soberania para formar um ente único, passam a ser autônomos. Aqui, o Estado surge de um
movimento centrípeto, o poder foi dos estados periféricos para um ente do centro.

Exemplos: EUA, Alemanha.

O Estado que deriva do federalismo por agregação é chamado de Estado perfeito, Estado
por associação ou de Estada por aglutinação.

2.1.2. Federalismo por segregação

Nesta espécie de federalismo, o poder central (Estado Unitário) é repartido para outros
entes.

Foi o que aconteceu no Brasil, em que um Estado Unitário repartiu sua competência com
outros entes, este movimento foi centrifugo (saiu do centro para entes periféricos).

Chamado de Estado imperfeito ou Estado por dissociação.

QUANTO À CONCENTRAÇÃO DE PODER

2.2.1. Federalismo centrípeto ou centralizador

É aquele no qual há um fortalecimento excessivo do poder central, a exemplo do que ocorre


no Brasil em que se atribui maior competência à União.

Obs.: Não se confunde com o movimento centrípeto de surgimento (visto acima)

2.2.2. Federalismo centrífugo

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 127


.
É uma tentativa de reação à centralização do poder na esfera federal.

O federalismo brasileiro surgiu através de um movimento centrífugo, mas quanto à


concentração do poder ele pode ser qualificado como federalismo centrípeto, ou seja, a União
detém uma maior concentração de poder do que os estados-membros.

2.2.3. Federalismo de equilíbrio

É aquele que busca uma repartição equilibrada de competência, a exemplo do que ocorre
na Alemanha.

QUANTO À REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

2.3.1. Federalismo dualista ou dual

Nesta espécie, há uma relação de coordenação entre a União e os Estados, vinculada por
meio de uma repartição horizontal de competências. Não há hierarquia entre a União e os
Estados membros, estão situados no mesmo plano e cada um tem suas normas próprias
(competências determinadas pela CF), há um equilíbrio entre eles.

Foi adotado pelo EUA até a crise de 1929.

2.3.2. Federalismo por integração

Há uma relação de subordinação dos Estados à União, veiculada por meio de uma
repartição vertical de competências. A União estabelece as diretrizes que os estados-membros
devem seguir, e estes estão subordinados às leis federais. Há uma hierarquia entre lei federal e lei
estadual. Adotado pelo Brasil na CF/67 e CF/69.

2.3.3. Federalismo cooperativo

Busca-se o meio termo entre o federalismo dualista e o federalismo por integração. Há uma
repartição horizontal de competências, mas algumas delas ficam sob a tutela da União (repartição
vertical).

É o caso da Federação Alemã, EUA e Brasil (pós CF/88).

QUANTO À HOMOGENEIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Trata-se de uma análise feita dentro do Estado, acerca da simetria ou assimetria entre os
entres de mesmo grau da Federação, por exemplo, a competência entre os Estados membros são
ou não iguais.

2.4.1. Federalismo simétrico ou homogêneo

Há um equilíbrio na distribuição constitucional de competências entre os da mesma esfera


federativa. A simetria poderá ser:

• Jurídica

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 128


.
• Fática

Há homogeneidade na relação subjacente ao ordenamento jurídico (cultura, língua,


desenvolvimento das regiões).

Exemplo: Alemanha.

2.4.2. Federalismos assimétrico ou heterogêneo

Há tratamento jurídico diferenciado entre os entes federativos do mesmo grau, ocorre para
respeitar diferenças culturais ou para reduzir diferenças (desigualdades sociais).

Exemplo: Canadá.

Em razão das desigualdades existentes, a CF confere alguns tratamentos assimétricos. Por


isso, há doutrina que entende o Brasil como caso de federalismo simétrico com algumas
características de federalismo assimétricos.

QUANTO ÀS CARACTERÍSTICAS DOMINANTES

Trata-se de uma análise sob o ponto de vista externo. Baseada na classificação de Raul
Machado Horta.

2.5.1. Federalismo simétrico

É aquele que permite a identificação das características dominantes frequentemente


encontradas nos outros estados. Há uma simetria entre a federação e as demais federações
existentes (outros países).

• Possibilidade de intervenção federal nos estados-membros;

• Poder Judiciário dual, ou seja, há um poder judiciário estadual e um poder judiciário federal;

• Poder constituinte originário com sede na União e poder constituinte decorrente com sede
nos estados-membros, em relação à constituição estadual é poder constituinte.

• Organização bicameral do poder legislativo (na esfera federal).

2.5.2. Federalismo assimétrico

É aquele em que há um rompimento com as linhas tradicionais definidoras do federalismo


simétrico, em razão do funcionamento do sistema federal. Por exemplo, Município como ente
federativo no Brasil.

Concepções de José Tarcísio de Almeida Melo, entende que o Brasil adotou o federalismo
assimétrico, a exemplo da Bélgica e do Canadá. Outra parte da doutrina entende que o Brasil adota
o federalismo simétrico, mas com algumas exceções ao federalismo assimétrico.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 129


.
QUANTO ÀS ESFERAS DE COMPETÊNCIA

2.6.1. Federalismo típico (bidimensional, bipartite ou de segundo grau)

Há duas esfera de competência: União e Estados-membros.

2.6.2. Federalismo atípico (tridimensional, tripartite ou de terceiro grau)

Há três esperas de competência: central, regional ou local.

É o caso do Brasil.

Obs.: Manual Gonçalves Ferreira Filho sustenta que o Brasil adota um federalismo de segundo
grau. Utiliza outro critério de classificação, entende que no federalismo de primeiro grau apenas a
Constituição do Estado subordina-se à Constituição da República; já no federalismo do segundo
grau a Lei Orgânica subordina-se tanto à Constituição do Estado quanto à Constituição da
República.

3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA FEDERAÇÃO

DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA FIXADA PELA


CONSTITUIÇÃO

Só será Estado Federal quando a descentralização estiver fixada na CF.

PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO

Significa uma participação das vontades parciais na formação da vontade geral.

É materializado através do Senado Federal, por isso cada estado possui o mesmo número
de senadores, pois representam os Estados.

Obs.: O povo é representado pela Câmara dos Deputados.

AUTO-ORGANIZAÇÃO POR MEIO DE CONSTITUIÇÕES PRÓPRIAS (PRINCÍPIO DA


AUTONOMIA)

Há uma parte na CF/88 que se dirige exclusivamente à União, é o que os autores chamam
de Constituição Federal (art. 59 e ss), isso ocorre porque a União não possui uma Constituição só
sua como os Estados (Poder constituinte decorrente).

A Constituição Federal refere-se exclusivamente à União; já a Constituição Nacional refere-


se a todos os entes federativos (art. 19; art. 37).

A União tem natureza peculiar na Federação, uma vez que, ora atua como pessoa jurídica
de direito constitucional, ora como pessoa jurídica de direito internacional. Na primeira hipótese, ela
atua por si mesma, age em nome próprio, como entidade integrante da Federação. Na segunda

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 130


.
hipótese, atua em nome da Federação (editando normas nacionais, formas de intervenção, relação
com estados estrangeiros).

A lei federal é aquela que trata apenas de interesse da União, a exemplo da Lei 8.112/90.
Lei nacional é aquela que se aplica a todos os entes da federação, a exemplo do CTN.

Os Estados serão organizados por constituições estaduais (poder constituinte decorrente).


No caso do Brasil, há duas peculiaridades: o DF possui Lei Orgânica e os Municípios também se
organizam por Lei Orgânica.

REQUISITOS PARA A MANUTENÇÃO DA FEDERAÇÃO

a) RIGIDEZ CONSTITUCIONAL – dificulta, em virtude do processo solene, a alteração da


forma de estado;

b) IMUTABILIDADE DA FORMA FEDERATIVA - forma federativa de estado consagrada


como cláusula pétrea;

c) ÓRGÃO ENCARREGADO DE EXERCER O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE.

4. SOBERANIA X AUTONOMIA

Soberania é o poder político, supremo e independente. Poder supremo refere-se à ordem


interna, pois não há nenhuma limitação a soberania do estado (internamente). Poder independente
refere-se à ordem internacional, ou seja, não tem que acatar regras que não sejam voluntariamente
aceitas e está em condições de igualdade com os demais estados soberanos.

A soberania, com relação à federação brasileira, pertence à República Federativa do Brasil,


a qual será exercida pela União (mas não pertence a ela).

Obs.: A União goza de autonomia, assim como os Estados, DF e Municípios. Titular de soberania
é a República Federativa do Brasil.

Autonomia, deriva do grego, na sua origem, significa a elaboração de normas próprias.


Todos os entes federativos do Brasil possuem autonomia. Divide-se em:

a) Autonomia organizatória: União – CF; Estados – Constituições Estaduais; DF – Lei


Orgânica; Municípios – Lei Orgânica.

b) Autonomia legislativa: cada um elabora suas próprias leis (federais, estaduais, distritais,
municipais).

c) Autonomia de governo: capacidade de cada um eleger seus próprios representantes,


política.

d) Autonomia administrativa: é a capacidade para executar as decisões políticas adotadas,


organizar seus serviços públicos.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 131


.
5. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Para a repartição de competências foi utilizado o Princípio da Predominância do Interesse.

o No caso de interesse geral, a competência será atribuída à União.

o Em se tratando de interesse predominantemente local, a competência será atribuída


aos Municípios.

o A cargo dos estados ficariam os interesses regionais.

CRITÉRIOS PARA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Há quatro critérios para distribuição de competência, não é uma característica exclusiva da


CF do Brasil. As características a seguir são comuns a várias Constituições Federais, é inspirado
no direito norte-americano e no direito alemão.

5.2.1. Campos específicos de competências administrativas e legislativas

Há na Constituição uma repartição horizontal de competências entre União (art. 21 e 22),


Estados (art. 25), Municípios (art. 30) e Distrito Federal (art. 32), não há qualquer hierarquia entre
eles. Contudo, quando uma lei estadual tratar de matéria da União será considerada
inconstitucional, tendo em vista que invadiu uma competência.

Ainda dentro da repartição horizontal, a Constituição atribuiu:

• Poderes enumerados para União (art. 21 - administrativas e art. 22 legislativa) e para os


Municípios (art. 30).

Art. 21. Compete à União: trata-se de competência exclusiva


I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações
internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de
natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização,
bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do
território e de desenvolvimento econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão,
os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 132


.
organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético
dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os
potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e
fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de
passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência
financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio
de fundo próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104,
de 2019)
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia
e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e
de programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades
públicas, especialmente as secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e
definir critérios de outorga de direitos de seu uso; Regulamento )
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e
exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e
seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para
fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização
de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e
utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de
culpa;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de
garimpagem, em forma associativa.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 133


.
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de
guerra;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e
aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o
exercício de profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização
administrativa destes;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias,
convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 103, de 2019)
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária
federais;
XXIII - seguridade social;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e
fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de
economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil
e mobilização nacional;
XXIX - propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar
sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (Vide
ADPF 672)

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 134


.
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar
suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar
balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a
legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Salienta-se que há doutrinadores que consideram os poderes dos Municípios como


indicativos e não enumerados.

Atenção!

Súmula Vinculante 39 - Compete privativamente à União legislar sobre


vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros
militar do Distrito Federal.

Súmula Vinculante 46 - A definição dos crimes de responsabilidade e o


estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são de
competência legislativa privativa da União.

• Poderes residuais ou remanescentes são aqueles atribuídos aos estados (art. 25, § 1º),
não é uma competência reservada, mas sim tudo aquilo que sobrou.

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que


adotarem, observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os
serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
provisória para a sua regulamentação.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Importante destacar que o §1º, do art. 25, da CF refere-se às competências estaduais como
sendo reservadas, mas o certo seria residual.

Isso ocorreu porque o Brasil “copiou” os EUA que possuem um federalismo por agregação,
em que vários Estados se juntam para formarem um único Estado. Neste caso, os Estados já

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 135


.
possuíam suas próprias competências e permaneceram com ela, por isso reservada. No caso do
Brasil, há um federalismo por segregação, havia um Estado unitário que se dividiu em vários
Estados. Neste caso, não há a conservação de competências pré-existentes.

Por fim, no Distrito Federal não há municípios, possui competência atribuídas aos estados e
aos municípios (art. 32, § 1º).

5.2.2. Possibilidade de delegação

A Constituição permite que alguns poderes sejam delegados a outros entes federativos.

Como visto, quem detém o maior número de competências é a União, portanto, segundo o
art. 22, parágrafo único, é a união que delegará competência somente para os Estados e DF,
mediante lei complementar (requisito formal) para tratar sobre matérias específicas (requisito
material).

Art. 22, Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a


legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Só pode ser delegada aos Estados e através de lei complementar.

Competência Exclusiva X Competência Privativa

Para alguns autores, a Constituição não estabeleceu distinção entre estas duas espécies de
competências (Gilmar Mendes, Fernanda Menezes). Para outros, apesar de não ter feito uma
distinção rigorosa, doutrinariamente é possível fixá-la.

A competência privativa é atribuída a apenas um ente, mas admite delegação (competência


complementar ou competência suplementar). A competência exclusiva não admite delegação
(exclui a possibilidade de delegação).

5.2.3. Competências comuns

Trata-se de competências administrativas, atribuídas a todos os entes da Federação.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal


e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas
e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas
portadoras de deficiência; (Vide ADPF 672)
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e
de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à
tecnologia, à pesquisa e à inovação;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 136


.
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento
alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das
condições habitacionais e de saneamento básico; (Vide ADPF 672)
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização,
promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa
e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do
trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação
entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista
o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

5.2.4. Competências correntes

Consiste nas competências legislativas, atribuídas à União, Estados e Distrito Federal, exclui
os Municípios. Trata-se de uma repartição vertical (condomínio legislativo – Raul Machado Horta).

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e
dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,
desenvolvimento e inovação;
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;
XI - procedimentos em matéria processual;
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.

A União, na competência concorrente, limitar-se-á a editar normas gerais. Não há um


consenso acerca do que sejam as normas gerais. No entanto, no STF, é possível identificar ao
menos duas concepções distintas. A primeira concepção é a do Ministro Carlos Veloso, as normas
gerais seriam as normas dotadas de maior abstração, a exemplo dos princípios. A segunda
concepção, adotada pelo Ministro Carlos Ayres Brito, normas gerais são aquelas que têm a
possibilidade de aplicação uniforme para todos os entes federativos.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 137


.
Assim, a União estabelece as diretrizes que serão especificadas pelos demais entes, de
acordo com as suas peculiaridades.

Art. 24, § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União


limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

A competência da União não exclui a competência suplementar dos outros entes, é


importante observar que as competências concorrentes não são cumulativas. Isto é, apesar dos
Estados e da União tratarem da mesma matéria, eles tratam de aspectos distintos destas matérias.
Assim, a União estabelece as regras gerais e os Estados exercem as competências suplementares,
não se confundem. É como se houvesse uma divisão: União – norma geral; Estados e DF – norma
suplementar e os Municípios, no que se referem a assuntos de interesse local, de forma
suplementar. É o que Raul Machado Horta denomina de condomínio legislativo entre os entes
federados.

Neste caso, temos uma repartição vertical de competência, estamos diante de uma
hierarquia legislativa (leis federais, estaduais e municipais). Porém, a hierarquia não decorre do
ente, mas sim do assunto que é tratado. Havendo uma contrariedade entre a legislação estadual e
as normas gerais estabelecidas pela União, a violação da Constituição será apenas indireta. Não
cabe ADI, nem recurso extraordinário.

Na hipótese de Lei Federal (art. 22) e Lei Estadual (art. 25, §1º) não estaremos diante de
hierarquia de normas. Em se tratando de competências exclusivas ou privativas, não há hierarquia
entre leis federais, estaduais e municipais, uma vez que se trata de repartição horizontal de
competências.

Art. 24, § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.

Em matéria de competência concorrente, a União é que deve estabelecer as normas gerais,


contudo pode ser que a União seja omissa, ocasião em que o Estado poderá exercer a competência
legislativa plena, a fim de não ficarem limitados. Assim, os Estados poderão elaboram tanto a norma
geral quanto a norma específica, tratando da matéria como um todo através de Lei Estadual.

Alguns autores (André Ramos Tavares, Alexandre de Moraes) fazem uma distinção, que era
adotada antes da CF/88, acerca da competência suplementar:

• Competência supletiva (art. 24, § 3º): quando a União não faz a norma geral e o Estado
trata de todo assunto;

• Competência complementar (art. 24, § 2º): quando a União estabelece a norma geral e o
Estado complementa através de sua competência suplementar.

No entanto, esta distinção não deve ser adotada, uma vez que a CF não se refere a isso.
Segundo José Afonso da Silva, após a CF/88, a distinção entre competência supletiva e
complementar teria sido abandonada.

Art. 24, § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão
a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 138


.
Nada impede que a União edite as normas gerais. No entanto, a lei federal não irá revogar
a lei estadual, apenas suspende sua eficácia, naquilo que for contrária.

O Estado exerceu a competência legislativa plena, em seguida, a União edita normas gerais,
suspendendo a eficácia, no que era contrária, das normas gerais feitas pelo Estado. Caso a União
edite outra Lei Federal que revogue a anterior, a Lei Estadual poderá voltar a ter sua eficácia,
ocorrendo um efeito repristinatório tácito. Nota-se que só é possível porque a Lei Estadual não foi
revogada, mas sim suspensa na sua eficácia. É o mesmo caso da ADI.

O mesmo ocorre com a Lei e Medida Provisória.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia


da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

Os Municípios, apesar de não estarem expressamente previstos no caput do art. 24, poderão
suplementar a legislação federal e a estadual no que se refere a assuntos de sua competência
(interesse local). Apenas em matéria de competência comum e concorrente, não se aplica para a
competência exclusiva e nem para a privativa.

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; assuntos de
interesse local.

SV 38 – é competente o município para fixar o horário de funcionamento de


estabelecimento comercial.

STF - RE 586.224/SP: O Município é competente para legislar sobre meio


ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que
tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais
entes federados (art. 24, VI c/c 30, I e II da CRFB).

Por fim, não esquecer que a Constituição adotou tanto a competência horizontal quanto a
competência vertical.

COMPETÊNCIA HORIZONTAL COMPETÊNCIA VERTICAL

Típica do federalismo dual ou clássico Própria do federalismo cooperativo

Refere-se às competências privativas Refere-se às competências concorrentes

Atuação separada e independente Atuação coordenada

Na CF: Na CF:

Competências privativas enumeradas para a Competências concorrentes, repartidas


União; competências remanescentes verticalmente, com a União estabelecendo as
(residuais ou reservadas) para os estados; normas gerais que devem ser observadas
competências privativas indicadas pelos Estados e pelo DF que podem, contudo,
(enumeradas genericamente) para os suplementá-las (quando não existem normas
Municípios. gerais).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 139


.
Exemplos: Exemplos:

Art. 22 Compete privativamente à União Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao


legislar sobre: Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
Art. 25, § 1º São reservadas aos Estados às
competências que não lhes sejam vedadas Art. 30, II suplementar a legislação federal e a
por esta Constituição estadual no que couber; (Municípios)

Art. 30 Compete aos Municípios: Art. 30, I legislar sobre assuntos de interesse
local (Municípios)
Art. 32, § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas
às competências legislativas reservadas aos
Estados e Municípios.

6. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL

A organização político-administrativa do Brasil, adotada pela CF/88, foi inspirada nos


modelos dos EUA e da Alemanha.

Há dois artigos extremamente importantes que tratam sobre este assunto: art. 1º e art. 18.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

O art. 1º consagra o Princípio da Indissolubilidade do Pacto Federativo, ou seja, nenhum


ente federativo pode separar-se do Estado brasileiro (proibição de secessão), sob pena de
intervenção federal (art. 34, I), a fim de manter a integridade nacional (manter o pacto federal). Não
há hierarquia em relação aos Estados é como se os outros Estados estivessem fazendo a
intervenção.

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do


Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição.
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação
em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei
complementar.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 140


.
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-
se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada,
através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios,
far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei
Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da
lei.

Tanto o art. 1º quanto o art. 18 deixam claro que os entes federativos que compõem o Estado
brasileiro são: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Perceba que está expresso
na Constituição que os Municípios são entes federativos.

Além disso, todos os entes são autônomos (organização, legislação, governo e


administração), portanto, não há como afirmar que os Municípios não são entes federativos.

ESTADOS

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que


adotarem, observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os
serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
provisória para a sua regulamentação.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:


I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio,
excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao


triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o
número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados
Federais acima de doze.
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-
sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade,
imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da
Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 141


.
daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado
o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regimento
interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os
respectivos cargos.
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual.

Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para


mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em
primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver,
do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse
ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao
mais, o disposto no art. 77.
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na
administração pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude de
concurso público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V.
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Secretários de
Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa,
observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, §
2º, I.

6.2.1. Limites à autonomia

Há para os Estados-membros alguns limites de autonomia, chamado de normas de


observância obrigatória, que decorrem do Princípio da Simetria o qual impõe que as Constituições
Estaduais sejam simétricas à Constituição Federal. Em outras palavras, além de obedecer às
imposições e vedações da CF/88, devem seguir o modelo estabelecido pela Constituição da
República.

Por exemplo, a CF/88 estabelece o modelo presidencialista, não poderá uma Constituição
Estadual adotar o modelo parlamentarista.

Obs.: De acordo com Novelino, é importante distinguir normas de repetição obrigatória – são
aquelas que obrigatoriamente devem ser repetidas nas constituições dos estados (CPI) –; e normas
de observância obrigatória (não precisa ser reproduzida, mas se fizer deve seguir o modelo da CF
(medidas provisórias)

São consideradas normas de observância obrigatórias, de acordo com José Afonso da Silva:

o Princípios constitucionais sensíveis;

o Princípios constitucionais extensíveis;

o Princípios constitucionais estabelecidos.

6.2.2. Princípios constitucionais sensíveis

Representam a essência da organização constitucional da Federação Brasileira,


estabelecendo limites à autonomia organizatória dos Estados-membros.

Sua violação poderá gerar intervenção federal, nos termos dos art. 37, VII da CF.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 142


.
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Salienta-se que nos casos de intervenção federal decorrente de violação de princípio


constitucional sensível, é necessário que o PGR proponha uma ADI Interventiva, somente se o STF
der provimento é que o Presidente da República poderá decretar a intervenção.

6.2.3. Princípios constitucionais extensíveis

Consagram normas organizatórias para a União cuja incidência será estendida aos Estados-
membros, podendo ser de maneira expressa ou implícita.

Cita-se, como exemplos:

o Normas referentes ao subsídios dos Deputados Estaduais e ao regime a eles


aplicados, devem seguir o regime dos Deputados Federais (art. 27, §2º) – previsão
expressa;

Art. 27, § 2º: O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de
iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco
por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais,
observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, §
2º, I.

STF – ADI 4.587 MC/GO: O art. 57, § 7º, do Texto Constitucional veda o
pagamento de parcela indenizatória aos parlamentares em razão de
convocação extraordinária. Essa norma é de reprodução obrigatória pelos
Estados-membros por força do art. 27, § 2º, da Carta Magna.

o Norma relativa ao TCU (art. 75 da CF) – previsão expressa;

Art. 75: As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à


organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados
e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos
Municípios.

Importante consignar que “Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios” (são


estaduais, tendo em vista que fiscalizam todos os municípios do Estado) não se
confundem com Tribunal de Contas do Município, que não pode ser criado após a
CF/88.

o Requisitos para a criação de CPI – previsão implícita;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 143


.
art. 58, § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos
regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante
requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato
determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade
civil ou criminal dos infratores

o Normas do processo legislativo – previsão implícita;

o Separação de poderes – previsão implícita.

6.2.4. Princípios constitucionais estabelecidos

Estão espalhados ao longo do texto constitucional, de forma assistemática. São as normas


de observância obrigatória que não se encaixam nos princípios sensíveis e nem nos extensíveis.

De acordo com Novelino, são as normas que restringem a capacidade organizatória dos
Estados Federados, por meio de limitações expressas ou implícitas (art. 22 da CF).

LIMITAÇÕES EXPRESSAS

NORMAS MANDATÓRIAS NORMAS VEDATÓRIAS

Art. 37, da CF Art. 19, da CF

DISTRITO FEDERAL

O DF é um território neutro que foi criado para ser a sede do Governo Federal.

Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger- se-á
por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas
reservadas aos Estados e Municípios.
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas as regras
do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a dos Governadores e
Deputados Estaduais, para mandato de igual duração.
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no
art. 27.
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal,
da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do corpo de bombeiros
militar.

A Câmara Legislativa do DF, tendo em vista os gastos com as despesas de pessoais,


afirmava que o DF, como Município, precisava de 6% para gastar com o pessoal, e não dos 3% que
são destinados aos Estados.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 144


.
Diante disso, o STF, na ADI 3756, entendeu que o Distrito Federal não é Município nem
Estado, mas uma Unidade Federada com competência parcialmente tutelada pela União, a exemplo
do Poder Judiciário, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria
Pública dos Territórios (mudança a partir da EC 69/2012, agora a organização da DP é do DF e não
mais da competência da União), Polícia Civil, Polícia Militar e Bombeiro Militar (art. 21, art. 28).

ADI 3.756/DF: O Distrito Federal é uma unidade federativa de compostura


singular, dado que: a) desfruta de competências que são próprias dos
Estados e dos Municípios, cumulativamente (art. 32, § 1°, CF); b) algumas de
suas instituições elementares são organizadas e mantidas pela União (art.
21, XIII e XIV, CF); c) os serviços públicos a cuja prestação está jungido são
financiados, em parte, pela mesma pessoa federada central, que é a União
(art. 21, XIV, parte final, CF) (...) 3. Conquanto submetido a regime
constitucional diferenciado, o Distrito Federal está bem mais próximo da
estruturação dos Estados-membros do que da arquitetura constitucional dos
Municípios.

Destaca-se que sua estrutura se assemelha muito mais a um Estado do que a um Município.
Elegem Governador, Senadores, Deputados Distritais e Deputados Federais.

MUNICÍPIOS

O Brasil é a única Federação que trata os Municípios como um ente federativo. Justamente,
por isso há na doutrina divergência sobre considera-lo ou não um ente federativo.

1ªC (José Afonso da Silva – minoritário) – não é considerado ente federativo, tendo em vista
que não há federação de municípios no mundo, bem como não possuem representantes no Senado
(não participam da manifestação da vontade nacional).

2ªC (majoritária) – é um ente federativo, em razão da previsão constitucional expressa e da


sua autonomia que não se diferencia dos estados-membros, do DF e da União.

Observe os artigos que disciplinam os Municípios:

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de
quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País;
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de
outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder,
aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos
mil eleitores;
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano
subsequente ao da eleição;
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observado o limite
máximo de: (Vide ADIN 4307)
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze mil)
habitantes;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 145


.
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 (quinze mil)
habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes;
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 (trinta mil)
habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes;
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 (cinquenta mil)
habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes;
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 (oitenta mil)
habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habitantes;
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000 (cento e
vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil) habitantes;
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 160.000 (cento e
sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezentos mil) habitantes;
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 300.000 (trezentos
mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil)
habitantes;
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000
(quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil)
habitantes;
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 600.000
(seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos cinquenta mil)
habitantes;
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 750.000
(setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000 (novecentos mil)
habitantes;
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 900.000
(novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil)
habitantes;
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.050.000 (um
milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 (um milhão e duzentos
mil) habitantes;
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.200.000 (um
milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 (um milhão e trezentos
e cinquenta mil) habitantes;
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 (um milhão e
trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até 1.500.000 (um milhão e
quinhentos mil) habitantes;
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.500.000 (um
milhão e quinhentos mil) habitantes e de até 1.800.000 (um milhão e
oitocentos mil) habitantes;
q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.800.000 (um
milhão e oitocentos mil) habitantes e de até 2.400.000 (dois milhões e
quatrocentos mil) habitantes;
r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 2.400.000 (dois
milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até 3.000.000 (três milhões) de
habitantes;
s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 3.000.000
(três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro milhões) de
habitantes;
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 4.000.000
(quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco milhões) de
habitantes;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 146


.
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 5.000.000
(cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis milhões) de
habitantes;
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 6.000.000
(seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete milhões) de
habitantes;
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 7.000.000
(sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
e
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 8.000.000
(oito milhões) de habitantes;
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais
fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõem
os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras
Municipais em cada legislatura para a subsequente, observado o que dispõe
esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei
Orgânica e os seguintes limites máximos:
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo dos
Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos Deputados
Estaduais;
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o subsídio
máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento do subsídio dos
Deputados Estaduais;
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes, o subsídio
máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por cento do subsídio dos
Deputados Estaduais;
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsídio
máximo dos Vereadores corresponderá a cinquenta por cento do subsídio
dos Deputados Estaduais;
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habitantes, o
subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta por cento do
subsídio dos Deputados Estaduais;
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o subsídio máximo
dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por cento do subsídio dos
Deputados Estaduais;
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá
ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Município;
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no
exercício do mandato e na circunscrição do Município;
IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no
que couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso
Nacional e na Constituição do respectivo Estado para os membros da
Assembleia Legislativa;
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara
Municipal;
XII - cooperação das associações representativas no planejamento
municipal;
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município,
da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por
cento do eleitorado;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 147


.
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, parágrafo
único .

Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os


subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá
ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita
tributária e das transferências previstas no § 5 o do art. 153 e nos arts. 158 e
159, efetivamente realizado no exercício anterior:
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até 100.000 (cem
mil) habitantes;
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre 100.000 (cem
mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre 300.001
(trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes;
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com
população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de
habitantes;
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre 3.000.001
(três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com
população acima de 8.000.001 (oito milhões e um) habitantes.
§ 1 o A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua
receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus
Vereadores.
§ 2 o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.
§ 3 o Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câmara Municipal
o desrespeito ao § 1 o deste artigo.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar
suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar
balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação infantil e de ensino fundamental;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a
legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 148


.
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo
Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do
Poder Executivo Municipal, na forma da lei.
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos
Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o
Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de
dois terços dos membros da Câmara Municipal.
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à
disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá
questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas
Municipais.

TERRITÓRIOS

Atualmente, não existem territórios no Brasil.

É uma autarquia territorial. Por não serem entes federativos, não elegem senadores, apenas
deputados (quatro).

Caso sejam criados os territórios serão governados por um Governador, nomeado pelo
Presidente da República.

Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos


Territórios.
§ 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se
aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste Título.
§ 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso
Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da União.
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do
Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos judiciários
de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e defensores
públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e
sua competência deliberativa.

7. CRIAÇÃO DE ESTADOS E MUNICÍPIOS

INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS

7.1.1. Previsão

Estão previstas no §3º, do art. 18 da CF, sendo regulamentada pela Lei 9.709/98. Observe:

Art. 18, § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou


desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente
interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 149


.
7.1.2. Distinções

INCORPORAÇÃO SUBDIVISÃO DESMEMBRAMENTO

Ocorre fusão entre dois ou


Ocorre cisão de um Estado Ocorre quando parte de um
mais Estados, que irá originar
que dará origem a novos Estado é anexado
um novo Estado ou um
Estados. (incorporado) a um outro
Território Federal.
Por exemplo, o Estado “A” por Estado já existente ou quando
Surge nova pessoa jurídica.
meio de cisão dá origem ao a parte do Estado forma um
novo ente federativo.
Por exemplo, o Estado A Estados “B” e “C”.
funde-se com o Estado B,
criando o Estado C.
Obs.: O Estado originário Obs.: o Estado originário não
Obs.: Os Estados originários deixa de existir.
deixará de existir.
deixam de existir.

7.1.3. Requisitos

1º - Aprovação da população diretamente interessada, tanto do Estado originário quanto do


Estado que irá receber uma parte (caso do desmembramento para anexação);

Lei 9.709/98, Art. 7o Nas consultas plebiscitárias previstas nos arts. 4º e 5º


entende-se por população diretamente interessada tanto a do território que
se pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento; em
caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer
anexar quanto a da que receberá o acréscimo; e a vontade popular se
aferirá pelo percentual que se manifestar em relação ao total da população
consultada.

STF - ADI 2.650/DF: 2. A utilização de termos distintos para as hipóteses de


desmembramento de estados-membros e de municípios não pode resultar na
conclusão de que cada um teria um significado diverso, sob pena de se
admitir maior facilidade para o desmembramento de um estado do que para
o desmembramento de um município. Esse problema hermenêutico deve ser
evitado por intermédio de interpretação que dê a mesma solução para ambos
os casos, sob pena de caso contrário, se ferir, inclusive, a isonomia entre os
entes da federação. Esse objetivo será alcançado mediante interpretação
que extraia do termo “população diretamente interessada” o significado
de que, para a hipótese de desmembramento, deve ser consultada,
mediante plebiscito, toda a população do estado-membro ou do
município, e não apenas a população da área a ser desmembrada (...). 4.
Sendo o desmembramento uma divisão territorial, uma separação, com o
desfalque de parte do território e de parte da sua população, não há como
excluir da consulta plebiscitária os interesses da população da área
remanescente, população essa que também será inevitavelmente afetada
(...). O desmembramento dos entes federativos, além de reduzir seu espaço
territorial e sua população, pode resultar, ainda, na cisão da unidade
sociocultural, econômica e financeira do Estado, razão pela qual a vontade

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 150


.
da população do território remanescente não deve ser desconsiderada, nem
deve ser essa população rotulada como indiretamente interessada

2º - Aprovação do Congresso Nacional;

7.1.4. Procedimento

1º - Convocação do plebiscito (art. 3º, da Lei 9.709/98), por meio de decreto legislativo;

Art. 3o Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder


Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3o do art. 18 da
Constituição Federal, o plebiscito e o referendo são convocados mediante
decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que
compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de conformidade com
esta Lei.

2º - Consulta à população diretamente interessada (art. 4º. Da Lei 9.709/98)

Art. 4o A incorporação de Estados entre si, subdivisão ou desmembramento


para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Federais, dependem da aprovação da população diretamente interessada,
por meio de plebiscito realizado na mesma data e horário em cada um dos
Estados, e do Congresso Nacional, por lei complementar, ouvidas as
respectivas Assembleias Legislativas.

3º - Resultado favorável (condição de prosseguibilidade)

O Congresso Nacional não está vinculado ao resultado favorável do plebiscito e ao parecer


da Assembleia Legislativa.

Lei 9.709/98 - Art. 4º


§1º - Proclamado o resultado da consulta plebiscitária, sendo favorável à
alteração territorial prevista no caput, o projeto de lei complementar
respectivo será proposto perante qualquer das Casas do Congresso
Nacional.
§ 2º À Casa perante a qual tenha sido apresentado o projeto de lei
complementar referido no parágrafo anterior compete proceder à audiência
das respectivas Assembleias Legislativas.
§ 3º Na oportunidade prevista no parágrafo anterior, as respectivas
Assembleias Legislativas opinarão, sem caráter vinculativo, sobre a
matéria, e fornecerão ao Congresso Nacional os detalhamentos técnicos
concernentes aos aspectos administrativos, financeiros, sociais e
econômicos da área geopolítica afetada.
§ 4º O Congresso Nacional, ao aprovar a lei complementar, tomará em conta
as informações técnicas a que se refere o parágrafo anterior.

CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS

7.2.1. Previsão e considerações

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 151


.
A EC 15/96 alterou profundamente o processo de criação, incorporação, fusão e
desmembramento de municípios, tornando mais rígido o procedimento.

Está previsto no art. 18, §4º, da CF (norma de eficácia limitada – STF).

Art. 18, § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de


Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei
Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei

Alexandre de Moraes entende que incorporação e fusão são expressões sinônimas. De outro
lado, sustenta Ely Lopes Meireles que na incorporação o Município incorporado deixa de existir e o
Município incorporador continua existindo; na fusão ambos os Municípios deixam de existir para dar
origem a um novo Município.

A Lei 9.709/98 regulamenta parte do processo.

Como vários Municípios foram criados sem que houvesse a edição da lei complementar,
questionou-se se a criação seria constitucional ou não. O STF entendeu que havia omissão do
Congresso Nacional na criação da Lei, mas não deveriam ser extintos. Veja o que decidiu o STF:

STF - ADI 3.682/MT: 1. A Emenda Constitucional n° 15, que alterou a redação


do § 4º do art. 18 da Constituição, foi publicada no dia 13 de setembro de
1996. Passados mais de 10 (dez) anos, não foi editada a lei complementar
federal definidora do período dentro do qual poderão tramitar os
procedimentos tendentes à criação, incorporação, desmembramento e fusão
de municípios (...) 3. A omissão legislativa em relação à regulamentação do
art. 18, § 4º, da Constituição, acabou dando ensejo à conformação e à
consolidação de estados de inconstitucionalidade que não podem ser
ignorados pelo legislador na elaboração da lei complementar federal. 4. Ação
julgada procedente para declarar o estado de mora em que se encontra o
Congresso Nacional, a fim de que, em prazo razoável de 18 (dezoito) meses,
adote ele todas as providências legislativas necessárias ao cumprimento do
dever constitucional imposto pelo art. 18, § 4º, da Constituição, devendo ser
contempladas as situações imperfeitas decorrentes do estado de
inconstitucionalidade gerado pela omissão. Não se trata de impor um prazo
para a atuação legislativa do Congresso Nacional, mas apenas da fixação de
um parâmetro temporal razoável, tendo em vista o prazo de 24 meses
determinado pelo Tribunal nas ADI n°s 2.240, 3.316, 3.489 e 3.689 para que
as leis estaduais que criam municípios ou alteram seus limites territoriais
continuem vigendo, até que a lei complementar federal seja promulgada
contemplando as realidades desses municípios.

O Congresso Nacional, após a decisão do STF, incluiu o art. 96 ao ADCT, convalidando os


Municípios já existentes. .

ADCT, art. 96: Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e


desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de
dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do
respectivo Estado à época de sua criação.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 152


.
7.2.2. Requisitos

1º - Lei complementar federal fixando o período para ocorrência;

2º - Lei ordinária federal que divulgará os estudos de viabilidade;

3º - Plebiscito com a população interessada (condição de prosseguibilidade);

Art. 5o O plebiscito destinado à criação, à incorporação, à fusão e ao


desmembramento de Municípios, será convocado pela Assembleia
Legislativa, de conformidade com a legislação federal e estadual.

4º - Lei ordinária estadual.

8. INTERVENÇÃO

CONCEITO

Consiste em uma medida excepcional, de natureza política e não jurídica, que irá afastar
temporariamente a autonomia de um ente federativo, nos casos das hipóteses taxativas previstas
na Constituição.

CARACTERÍSTICAS

a) Medida excepcional (regra é a não intervenção, preservando-se a autonomia do ente


federativo);

b) Temporalidade da intervenção (não pode perdurar no tempo); e

c) Taxatividade das hipóteses.

INTERVENÇÃO FEDERAL

Prevista no art. 34 da CF.

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da
Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta
Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 153


.
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Salienta-se que a possibilidade de intervenção da União nos Estados não caracteriza


supremacia da União. A intervenção ocorre em nome de todos os demais Estados da Federação.

Admite-se a intervenção federal apenas em Municípios localizados em territórios. Portanto,


não poderá a União intervir em Municípios dos Estados-membros.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:

8.3.1. Pressupostos materiais

1º Defesa do Estado (art. 34, I e II) - para manter a integridade nacional e repelir invasão
estrangeira;

2º Defesa do princípio federativo (art. 34, II, III, IV) - para repelir invasão de uma unidade da
Federação em outra, para pôr termo a grave comprometimento da ordem pública e para garantir o
livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;

3º Defesa das finanças estaduais (art. 34, V) – para reorganizar as finanças da unidade da
Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos,
salvo motivo de força maior; e b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta
Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;

4º Defesa da ordem constitucional (art. 34, VI e VII) - prover a execução de lei federal, ordem
ou decisão judicial e para assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais
sensíveis: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa
humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta;
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde.

8.3.2. Pressupostos formais

1º Decreto do Presidente da República (art. 84, X);

2º Análise pelo Congresso Nacional.

Art. 36,
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as
condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será
submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia
Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
(...)

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 154


.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus
cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.

8.3.3. Casuísticas

Após a CF/88, houve dois casos de intervenção federal, ambos no ano de 2018, um no Rio
de Janeiro (Decreto 9.288/2018) e em Roraima (Decreto 9.602/2018).

Decreto 9.288/2018 Art. 1º Fica decretada intervenção federal no Estado do


Rio de Janeiro até 31 de dezembro de 2018.
§ 1º A intervenção de que trata o caput se limita à área de segurança
pública, conforme o disposto no Capítulo III do Título V da Constituição e no
Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
§ 2º O objetivo da intervenção é pôr termo a grave comprometimento da
ordem pública no Estado do Rio de Janeiro.

Art. 2º Fica nomeado para o cargo de Interventor o General de Exército Walter


Souza Braga Netto.
Parágrafo único. O cargo de Interventor é de natureza militar.

Art. 3º As atribuições do Interventor são aquelas previstas no art. 145 da


Constituição do Estado do Rio de Janeiro necessárias às ações de segurança
pública, previstas no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.

Decreto 9.602/2018 - Art. 1º É decretada intervenção federal no Estado de


Roraima até 31 de dezembro de 2018, para, nos termos do art. 34, caput,
inciso III, da Constituição, pôr termo a grave comprometimento da ordem
pública. Ver tópico
Parágrafo único. A intervenção de que trata o caput abrange todo o Poder
Executivo do Estado de Roraima.

Art. 2º É nomeado para o cargo de Interventor Antonio Olivério Garcia de


Almeida, mais conhecido como Antonio Denarium.

Art. 3º As atribuições do Interventor são aquelas previstas para o Governador


do Estado de Roraima.
§ 1º O Interventor fica subordinado ao Presidente da República e não está
sujeito às normas estaduais que conflitarem com as medidas necessárias à
execução da intervenção.

8.3.4. Espécies de intervenção

ESPONTÂNEA SOLICITADA REQUISITADA

A decretação da intervenção Ocorre quando o Poder


Depende apenas dos motivos
depende de solicitação do Judiciário requisita que o
que a autorizam. Assim,
Poder Legislativo e do Poder Presidente decrete a
ocorrendo os motivos que a
Executivo. intervenção.
autorizem, o Presidente
poderá decretar. O Presidente da República Trata-se de um ato vinculado,
não está obrigado a atender à portanto, havendo requisição o

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 155


.
solicitação, mas não poderá Presidente é obrigado a
decretar sem que haja a decretar a intervenção, sob
solicitação (pressuposto não pena de crime de
vinculativo). responsabilidade.

Art. 34, I, II, III e IV. Art. 36, I. Art. 36, I, II, III

Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:


I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder
Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal
Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Superior Eleitoral;
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do
Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de
recusa à execução de lei federal.

8.3.5. Controle

Poderá haver um controle político da intervenção, nos ternos do §1º, art. 36 da CF.

Art. 36, § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo


e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será
submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa
do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembleia
Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e
quatro horas.
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação
pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-
se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao
restabelecimento da normalidade.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus
cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.

Além disso, poderá haver controle jurisdicional pelo STF.

Por fim, haverá manifestação do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional,


embora não sejam vinculativas.

Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre:


I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;

Art. 91, § 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional:


II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da
intervenção federal;

INTERVENÇÃO ESTADUAL

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 156


.
8.4.1. Pressupostos materiais

Previstos no art. 35, da CF.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos,
a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos
de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover
a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

No caso do inciso IV, há uma hipótese semelhante a ADI interventiva federal. Apenas o PGJ
é legitimado, os princípios constitucionais sensíveis serão indicados pela Constituição Estadual.

8.4.2. Pressupostos formais

1º Decreto do Governador

2º Análise pela Assembleia Legislativa

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 157


.
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Todas as nossas Constituições, exceto a imperial de 1824, adotaram a divisão orgânica de


Montesquieu. Essa divisão foi sistematizada em 1748, na obra “Do Espírito das Leis”.

O autor não foi o primeiro a falar da divisão de atribuições existente no Estado (criação da
lei, aplicação da lei, resolução dos conflitos que surgem da aplicação das leis). Este papel foi
desempenhado por Aristóteles em 340 A.C., que no livro “A Política” assim disse: “Aquele que
exerce poder dentro de um Estado se manifesta de três maneiras: cria a norma geral, aplica esta
norma geral aos casos concretos, resolve os eventuais conflitos”.

O inglês Locke, por volta de 1690, no livro denominado ‘O segundo tratado do governo civil’,
sustentou que aquele que exerce poder exerce algumas atribuições: cria norma, aplica norma e
resolve o conflito. Nenhuma novidade.

A novidade de Montesquieu foi afirmar que cada uma das atribuições deve ser
desempenhada por um órgão autônomo e independente. A divisão funcional de Aristóteles virou a
divisão orgânica de Montesquieu.

Assim afirmava o francês: ‘Tudo estaria perdido se no mesmo homem ou no mesmo corpo
de homens os três poderes forem exercidos’.

2. IMPROPRIEDADE DA EXPRESSÃO TRIPARTIÇÃO DOS PODERES

Tecnicamente, não é correto falar em divisão tripartite de poderes de Montesquieu, mas sim
em divisão orgânica e funcional. O poder é um só (UNO e INDIVISÍVEL), manifestado por diferentes
órgãos que exercem funções (típicas e atípicas).

OBS: A Constituição de 1824 foi a única que adotou a tese de Benjamin Constant, que fazia
referência a um quarto poder (poder moderador), que era desempenhado pelo imperador.

Em suma:

-Aristóteles: “A política”. Deve haver tripartição de funções.

-Locke: “Segundo tratado do governo civil”. Fala em uma bipartição de poderes. Executivo
(federativo) e legislativo.

-Montesquieu: “O Espírito das Leis”. É a ideia da entrega de cada uma das funções a um
órgão distinto.

A ideia de divisão de poderes tem duas projeções: uma vertical e uma horizontal. Sob o
ponto de vista do federalismo, há uma repartição de competência entre as entidades federais:
União, DF, Estados e municípios. A repartição horizontal é a que iremos estudar agora: judiciário,
legislativo e executivo.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 158


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Podem vir a ser estabelecidos novos mecanismos de controle de um poder sobre o outro
(ampliação de freios e contrapesos). Um exemplo é a súmula vinculante. Quando da Emenda, foi
ajuizada uma ADI, e o STF, em um voto do Min. Sepúlveda Pertence, afirmou que os pormenores
da separação dos poderes não estão petrificados.

3. FINALIDADE DA SEPARAÇÃO DE PODERES

LIMITAR O PODER DO ESTADO

Visa garantir a liberdade dos indivíduos, por isso existe um controle recíproco em que um
poder fiscaliza o outro, ideia de freios e contrapesos.

Cada Poder, dentro da ideia de harmonia e independência, além das funções típicas
desempenha funções atípicas.

LEGITIMAR O EXERCÍCIO DO PODER E MELHORAR O DESEMPENHO DO PODER


O ESTADO

A partir da divisão, é possível ter um melhor desempenho, em razão da especialização de


cada pode.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 159


.
PODER LEGISLATIVO

1. ATRIBUIÇÕES DO LEGISLATIVO: FISCALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA.


COMISSÕES PARLAMENTARES

FISCALIZAÇÃO PELO LEGISLATIVO

A fiscalização é desempenhada através de duas manifestações: FISCALIZAÇÃO


ECONÔMICO-FINANCEIRA (arts. 70 a 75 - auxiliado pelo TCU) e FISCALIZAÇÃO POLÍTICO-
ADMINISTRATIVA (art. 58 - feita pelas comissões). No presente tópico trataremos da fiscalização
político-administrativa.

Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões


PERMANENTES e TEMPORÁRIAS, constituídas na forma e com as
atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua
criação.

As comissões parlamentares ganharam grande importância na CF/88, são especializadas


em determinados temas.

A toda comissão aplica-se o princípio da participação proporcional dos partidos políticos. Ou


seja, cada partido participa da comissão na mesma proporção de sua representação na respectiva
casa legislativa (art. 58, §1º).

Art. 58 § 1º - Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada,


tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos
blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.

CLASSIFICAÇÕES DAS COMISSÕES PARLAMENTARES

1.2.1. Quanto à duração da comissão

a) Comissão Parlamentar Permanente: dura mais de uma legislatura (é o período de


mandato dos deputados (4 anos)).

CF Art. 44, Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.

Exemplo: Comissão de Constituição e Justiça – CCJ.

Importante consignar que a sessão Legislativa (art. 57, CF) tem duração anual, indo de 02.02
até 17.07 (período legislativo do 1º semestre) e de 01.08 a 22.12.

CF Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital


Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro
.
b) Comissão Parlamentar Temporária: se extingue nos seguintes casos

Término dos trabalhos;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 160


.
Término do prazo, podendo ser prorrogada;

Término da legislatura, não interessando se os trabalhos foram concluídos ou se o prazo


acabou ou não.

1.2.2. Quanto à composição

a) Comissão Parlamentar Exclusiva: formada só por deputados ou só por senadores.

b) Comissão Parlamentar Mista: é a formada tanto por deputados quanto senadores.

A CPI pode ser tanto exclusiva quanto mista.

2. ESPÉCIES DE COMISSÃO PARLAMENTAR

COMISSÃO TEMÁTICA OU EM RAZÃO DA MATÉRIA (ART. 58, §2º)

A casa legislativa é dividida em comissões temáticas, tendo em conta a diversidade de temas


que são debatidos. Logo, a cada comissão compete o debate de um tema/matéria específico. As
comissões TEMÁTICAS ou MATERIAIS estão no Regimento Interno de cada Casa Legislativa e
não na Constituição Federal.

Existe, no entanto, uma espécie de espelho dos Ministérios, ou seja, para um Ministério da
Saúde corresponde uma comissão de saúde, e assim sucessivamente.

A comissão temática mais importante é a CCJ, presente em todas as casas legislativas.


Todo projeto de lei, obrigatoriamente, deve passar pela CCJ, a quem incumbe o controle preventivo
de constitucionalidade, fornecido através de um parecer. Esse parecer, no entanto, não é
meramente opinativo, mas sim TERMINATIVO, vale dizer, um projeto inconstitucional é diretamente
arquivado (assegurada a possibilidade de recurso).

Todo projeto deve passar, no mínimo, por duas comissões: primeiro pela CCJ e depois pela
comissão de sua área de abrangência.

Atribuições da comissão temática: Realiza audiências públicas, convida professores


universitários, cientistas, ou seja, todos que podem colaborar na elaboração do projeto etc.

No Brasil, a comissão temática (ou material) é dotada da delegação interna (ou imprópria).
Essa delegação é denominada de processo legislativo abreviado (Gilmar Mendes).

O que é essa “delegação interna”? É o poder da comissão temática ofertado pela CF (art.
58, §2º, I) para aprovar projetos de lei. Ou seja, no Brasil, uma comissão pode aprovar projeto de
lei, independentemente da manifestação do plenário da casa legislativa, na forma regimental.

Essa é a chamada delegação interna, ao passo que a LEI DELEGADA é a chamada


delegação externa ou própria (art. 68 à delegação do legislativo para o executivo).

Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República,


que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 161


.
Art. 58, § 2º - às comissões, EM RAZÃO DA MATÉRIA de sua competência,
cabe:
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a
competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos
membros da Casa;
II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil;
III - convocar Ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos
inerentes a suas atribuições;
IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer
pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas;
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
VI - apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento e sobre eles emitir parecer.

COMISSÃO REPRESENTATIVA OU DE REPRESENTAÇÃO

Durante os períodos de RECESSO do Congresso, ele será representado por uma Comissão
(art. 58, §4º). Em razão do princípio da continuidade do serviço público, o Congresso não pode ser
simplesmente fechado.

Essa comissão é mista (ou conjunta), pois composta por Deputados e Senadores.

Art. 58, § 4º - Durante o recesso, haverá uma COMISSÃO


REPRESENTATIVA DO CONGRESSO NACIONAL, eleita por suas Casas na
última sessão ordinária do período legislativo, com atribuições definidas no
regimento comum, cuja composição reproduzirá, quanto possível, a
proporcionalidade da representação partidária.

COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI)

Abordaremos, devido a sua importância, a CPI em tópico separado.

3. ESTUDOS DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI)

CPI E OS “PODERES PRÓPRIOS DAS AUTORIDADES JUDICIAIS”

A CF/88 valorizou a CPI, Tanto é assim que empresta à CPI poderes de investigação
próprios de juiz, conforme o art. 58, §3º da CF:

Art. 58, § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão


poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de
outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros,
para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas
conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 162


.
Porém, no Brasil o juiz NÃO investiga, em razão do sistema acusatório adotado (art. 129, I).
Prova disso foi a declaração de inconstitucionalidade da Lei do Crime Organizado que permitia ao
juiz a colheita de provas.

Quais seriam então os poderes do juiz estendidos às CPIs? Na realidade o juiz não possui
poderes investigativos, mas sim PODERES INSTRUTÓRIOS (que têm como pressuposto a
instauração de processo), conforme o art. 370 do CPC/2015 e 209 do CPP.

NCPC - Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte,


determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências
inúteis ou meramente protelatórias.

CPP Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras
testemunhas, além das indicadas pelas partes.
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as
testemunhas se referirem.
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que
interesse à decisão da causa.

Como exceção, na LOMAN (LC 35/79) existe a possibilidade de um juiz investigar o outro.
Alguns também falam que o juiz investigaria nos procedimentos originários dos Tribunais, no
entanto, o STF já decidiu que não se trata de juiz inquisidor, mas juiz meramente condutor das
investigações.

Sobre a CPI: Na realidade ela possui poderes INSTRUTÓRIOS (e não investigativos) do


juiz.

Existem duas leis que regulamentam o §3º do art. 58: Lei 1.579/52 e Lei 10.001/00. Além
dessas leis, o CPC e CPP são aplicados subsidiariamente, bem como os regimentos internos.

MANDADO DE SEGURANÇA OU HABEAS CORPUS EM FACE DA CPI

Autoridade coatora: presidente da CPI

o CPI no legislativo da União: MS ou HC direto no STF.

o CPI estadual: MS ou HC direto no TJ.

o CPI municipal: MS ou HC perante o juiz de direito.

STF: A CPI é uma “longa manus” da casa legislativa.

Pode existir na CPI a participação de membros do MP, mediante determinação do PGR ou


PGJ (dependendo se CPI federal ou estadual).

OBJETIVOS DA CPI

São três os principais objetivos:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 163


.
1º Auxiliar na atividade legiferante – ao investigar determinados fatos, a CPI consegue
identificar melhores meios para o combate ao crime. Produzindo leis de melhor qualidade.

2º Servir de instrumento de controle do governo e da administração pública

3º Informar a opinião pública.

De acordo com a doutrina, as CPI’s são os “olhos e ouvidos” do congresso nacional, tendo
em vista que permite colher informações que servirão tanto para auxiliar às funções típicas do
Congresso como para informar a opinião pública, levando ao conhecimento do público a ocorrência
e apuração de certos fatos.

COMPOSIÇÃO DA CPI

A CPI, assim como as demais Comissões Parlamentares, é regida pelo Princípio da


Representação Proporcional de partidos e de blocos partidários.

Art. 58, § 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada,


tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos
blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.

Obviamente essa proporcionalidade deve ser observada dentro do possível (se só existe um
representante do partido, não irá participar de todas).

Exceção: se o partido tem três representantes somente, é preferível que fiquem divididos
pelas comissões e mesas, de modo que tenha o mínimo que seja em cada comissão, ao invés de
representação proporcional em apenas uma comissão e nas outras nenhuma representação.

SUJEITOS DA INVESTIGAÇÃO PELA CPI

Poderão ser investigados, além do Poder Executivo (alvo principal), pessoas físicas e
jurídicas, órgãos e instituições ligados à gestão da coisa pública ou que de alguma forma tenham
que prestar contas sobre bens, valores ou dinheiro públicos.

REQUISITOS PARA A INSTAURAÇÃO DA CPI

A seguir iremos analisar os requisitos e poderes da CPI em âmbito federal, são normas de
observância obrigatória (Princípio da Simetria). Significa que as CPI estadual e municipal devem
respeitar.

O pedido de CPI (com os requisitos) é encaminhado à mesa, que notifica os partidos para
indicarem representantes à Comissão. Se os partidos não indicam representantes a CPI não é
instaurada? O STF decidiu que a CPI é um direito público subjetivo das minorias
parlamentares. Se os requisitos estão presentes, a CPI não pode ser inviabilizada. Os
parlamentares têm direito líquido e certo à CPI. Cabe ao presidente da mesa nomear diretamente
os representantes de cada partido.

É possível a existência de outros requisitos? As CE podem estabelecer outros


requisitos? A CE/SP prevê que o pedido de CPI (com os três requisitos) deve ser aprovado pelo

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 164


.
plenário da Assembleia Legislativa. O STF decidiu que essa regra é inconstitucional, pois não cabe
à CE trazer outros requisitos, o que dificulta o direito das minorias parlamentares. Somente a CF
pode estabelecer requisitos, que são normas de reprodução obrigatória.

Taques defende que a mitigação dos requisitos seria possível nas Constituições Estaduais.

Os requisitos são os seguintes:

o 1º requisito: requerimento de 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou


senadores;

o 2º requisito: apuração fato determinado;

o 3º requisito: prazo certo de duração;

3.6.1. Requerimento de 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou senadores

Existem dois tipos de CPI: simples (formada só por deputados ou só senadores) e mista ou
conjunta (formada por deputados federais e senadores). Essa última é a chamada CPMI (Comissão
parlamentar mista de inquérito).

• 1/3 de deputados = 171 deputados (total são 513).

• 1/3 de senadores = 27 senadores (total são 81).

• Na CPI mista são necessários, no mínimo, 171 deputados + 27 senadores.

Desde a Constituição de Weimar (1919), é considerada um direito das minorias. Muito


embora existam países em que a CPI é um direito das maiorias, mas em geral se adota o
entendimento aqui esposado.

Salienta-se que é possível a retirada de assinaturas até:

o O final do dia em que o requerimento for lido no plenário, no Senado Federal;

o O momento do protocolo do pedido de CPI perante a Mesa, na Câmara dos


Deputados.

De acordo com o entendimento que o STF (MS 26441), o requerimento de 1/3 é o requisito
exigido no momento da instauração da CPI, não dependendo de ratificação. Conseguindo o 1/3
das assinaturas, ela prossegue até o final, ou seja, os parlamentares não poderão desistir depois
de assinar o documento.

STF - MS n. 26.441 A norma inscrita no art. 58, § 3º, da Constituição da


República destina-se a ensejar a participação ativa das minorias
parlamentares no processo de investigação legislativa, sem que, para tanto,
mostre-se necessária a concordância das agremiações que compõem a
maioria parlamentar. [...] O requisito constitucional concernente à
observância de 1/3 (um terço), no mínimo, para criação de determinada CPI
(CF, art. 58, § 3º) refere-se à subscrição do requerimento de instauração da
investigação parlamentar, que traduz exigência a ser aferida no momento em
que protocolado o pedido junto à Mesa da Casa legislativa, tanto que, "depois
de sua apresentação à Mesa", consoante prescreve o próprio Regimento

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 165


.
Interno da Câmara dos Deputados (art. 102, § 4º), não mais se revelará
possível a retirada de qualquer assinatura. - Preenchidos os requisitos
constitucionais (CF, art. 58, § 3º), impõe-se a criação da Comissão
Parlamentar de Inquérito, que não depende, por isso mesmo, da vontade
aquiescente da maioria legislativa.

3.6.2. Apuração de ato determinado

Não se admite a criação de CPI para apuração de fatos indeterminados, por exemplo criação
para apuração da “corrupção no Brasil”, tendo em vista que deve especificar, objetivar,
circunscrever o objeto da investigação (fato concreto).

Destaca-se que a CPI só poderá apurar fatos que sejam de competência fiscalizatória do
Congresso Nacional. Igualmente, apenas fatos de interesse público podem ser investigado, não se
admite CPI para assuntos de interesse exclusivamente particular.

Importante consignar que a CPI, em âmbito federal, apenas pode investigar fatos que sejam
de interesse da União (não pode ser exclusivamente de um estado ou município, nesse caso, quem
deverá investigar, é assembleia legislativa/câmara municipal respectivamente), sob pena de
violação ao pacto federativo.

Obs.: caso o fato seja de interesse estadual, mas possua algum interesse (nexo causal) da União
ou interesse geral na sua apuração, poderá ser investigado pela CPI federal.

A necessidade de apurar fato determinado não é impeditivo para que a CPI apure fatos
novos que surgirem na investigação, sem que haja outro requerimento (basta um aditamento da
petição inicial), desde que tais fatos sejam conexos. Não havendo conexão, em tese, será
necessário novo requerimento de um terço.

STF – Inq. 2.245/MG: AMPLIAÇÃO DO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO DE


COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO NO CURSO DOS
TRABALHOS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. Não há ilegalidade no fato
de a investigação da CPMI dos Correios ter sido ampliada em razão do
surgimento de fatos novos, relacionados com os que constituíam o seu objeto
inicial. Precedentes”.

Além disso, o fato determinado deve estar dentre as atribuições daquela casa legislativa. Ex:
Uma CPI da CD não pode investigar fatos relativos a um Estado da Federação. Isso ofenderia o
pacto federativo.

3.6.3. Prazo certo de duração

Não existe CPI permanente, em razão do princípio da segurança jurídica (art. 5º, caput). A
CF não prevê qual é o prazo da CPI, depende do regimento interno da Casa legislativa.

• Câmara dos Deputados é de 120 dias, prorrogado por mais 60 dias;

• Senado Federal é o prazo previsto no requerimento;

• Mista é o prazo da sessão legislativa, prorrogável dentro da mesma legislatura.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 166


.
PODERES DA CPI

Art. 58, § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes


de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos
nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante
requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato
determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade
civil ou criminal dos infratores.

A CPI possui poderes previstos no regimento interno (não serão objeto de análise) e poderes
próprios de autoridades judiciais. Importante salientar que a CPI não pune ninguém, após a
conclusão da investigações, havendo indícios de ilícito, irá encaminhar às autoridades competentes.

Conforme a doutrina, os poderes da CPI possuem natureza instrumental, para que o


parlamento exerce suas funções típica de fiscalizar e legislar. Além disso, seus poderes devem
respeitar os limites impostos pelos direitos e garantias individuais.

Quando se fala em poderes próprios de autoridades judiciais, devemos ter em mente que
no Brasil o juiz não pode investigar, ou seja, em suas investigações, a CPI dispõe de poderes
instrutórios que são próprios de uma autoridade judicial.

OBS: a CPI não tem poder geral de cautela.

Teoria do Corolário - as comissões de investigação exercem uma função auxiliar do


Congresso, não possuindo qualquer poder especial que não esteja compreendido dentro das
atribuições do parlamento. Consequência lógica das funções finais que o parlamento exerce, não
pode ir além das atribuições que a CF conferiu ao parlamento.

Fundamentação - as decisões relativas a estes poderes instrutórios devem vir


acompanhadas de fundamentação adequada e contemporânea à prática do ato. Não se exige uma
fundamentação tão detalhada e precisa quanto à judicial, mas deve ser a adequada para os fins de
suas funções. Sob a pena de restar ineficaz.

3.7.1. Notificar testemunhas e determinar sua condução coercitiva

Uma pessoa pode comparecer na CPI ostentando uma das três qualificações: testemunha,
investigado (indiciado) ou convidado. Desses, somente a testemunha poderá ser conduzida
coercitivamente e o investigado para atos que não seja o interrogatório

STF – ADPF 395 (Inf. 906/STF): “O Plenário, por maioria, julgou procedente
o pedido formulado em arguições de descumprimento de preceito
fundamental para declarar a não recepção da expressão "para o
interrogatório" constante do art. 260 do CPP, e a incompatibilidade com a
Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de réus para
interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado (...). O Tribunal destacou que a decisão não
desconstitui interrogatórios realizados até a data desse julgamento, ainda que
os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o referido ato

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 167


.
processual. (...) De início, o relator esclareceu que a hipótese de condução
coercitiva objeto das arguições restringe-se, tão somente, àquela destinada
à condução de investigados e réus à presença da autoridade policial ou
judicial para serem interrogados. Assim, não foi analisada a condução de
outras pessoas como testemunhas, ou mesmo de investigados ou réus para
atos diversos do interrogatório, como o reconhecimento”.

HC 100.200/DF: “É jurisprudência pacífica desta Corte a possibilidade de o


investigado, convocado para depor perante CPI, permanecer em silêncio,
evitando-se a autoincriminação, além de ter assegurado o direito de ser
assistido por advogado e de comunicar-se com este durante a sua inquirição.”
(g.n.).

OBS1: Membro do MP pode ser ouvido em CPI, no entanto não está obrigado a responder
perguntas a respeito de suas manifestações no exercício funcional. Ex: Não precisa explicar se
denunciou ou não denunciou determinada pessoa, pois atuou no exercício de suas atribuições
constitucionais. Com o juiz ocorre a mesma coisa: não é obrigado a justificar seu exercício funcional.

3.7.2. Busca e apreensão

A CPI poderá determinar a busca e apreensão de documentos e equipamentos. Contudo,


não pode haver violação do domicílio, que é protegido pela cláusula de reserva de jurisdição.

3.7.3. Requisitar perícias, exames, vistorias, documentos

A CPI possui poder de requisição.

3.7.4. Afastar sigilo bancário, fiscal e telefônico (dados), sem necessidade de autorização
judicial

A CPI é dotada de autoridade própria para afastar tais sigilos, pois a CF assim determina no
art. 58, §3º, da CF.

No entanto, é vedada a publicação desses dados, a Comissão passa a ser a depositária dos
dados sigilosos.

OBS1: CPI municipal não pode afastar os sigilos. A CPI tem poder instrutório do juiz
correspondente, e como no município não existe poder judiciário, a CPI não tem esse poder. Além
disso, essa possibilidade tornaria muito vulnerável a proteção contra a vida privada do cidadão,
podendo ser usada como meios de chantagem ou extorsões.

Salienta-se que a CPI pode determinar a quebra do sigilo telefônico, mas jamais a
interceptação telefônica que estás sujeita a cláusula de reserva de jurisdição.

LIMITES DA CPI

3.8.1. Cláusula de Reserva de Jurisdição (jurisprudência do STF)

Determinados assuntos são reservados de forma exclusiva ao poder judiciário.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 168


.
• Interceptação Telefônica (art. 5º, XII)

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,


de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por
ORDEM JUDICIAL, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal;

• Inviolabilidade do domicílio (art. 5º, X)

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar


sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por DETERMINAÇÃO
JUDICIAL;

• Prisão (não pode expedir mandado de prisão, art. 5º LXI)

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ORDEM ESCRITA
E FUNDAMENTADA DE AUTORIDADE JUDICIÁRIA competente, salvo nos
casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

• Processo Judicial em segredo de justiça

Se um juiz determina que o processo tramite em segredo de justiça, a CPI não poderá violar,
quebrar esse sigilo, somente a própria autoridade judicial que poderá quebrar tal sigilo.

STF - MS 23.452/RJ: “O postulado da reserva constitucional de jurisdição


importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática
de determinados atos cuja realização, por efeito de explícita determinação
constante do próprio texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz,
e não de terceiros, inclusive daqueles a quem se haja eventualmente
atribuído o exercício de ‘poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais’. (...) A cláusula constitucional da reserva de jurisdição
- que incide sobre determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, art.
5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação da prisão
de qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) -
traduz a noção de que, nesses temas específicos, assiste ao Poder Judiciário,
não apenas o direito de proferir a última palavra, mas, sobretudo, a
prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-se, desse
modo, por força e autoridade do que dispõe a própria Constituição, a
possibilidade do exercício de iguais atribuições, por parte de quaisquer outros
órgãos ou autoridades do Estado”.

STF - MS 27.483 REF-MC/DF: “CPI não tem poder jurídico de, mediante
requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de mandado
judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a processo sujeito
a segredo de justiça. Este é oponível a comissão parlamentar de inquérito,
representando expressiva limitação aos seus poderes constitucionais.”

3.8.2. Autonomia federativa e separação de poderes

Com base na autonomia federativa e na separação de poderes, uma CPI não pode
determinar o comparecimento do chefe do Poder Executivo a comparecer.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 169


.
STF - MS 31.689 MC/DF: “Em um primeiro exame, a interpretação
sistemática do Texto Maior conduz a afastar-se a possibilidade de comissão
parlamentar de inquérito, atuando com os poderes inerentes aos órgãos do
Judiciário, vir a convocar, quer como testemunha, quer como investigado,
Governador. Os estados, formando a união indissolúvel referida no artigo 1º
da Constituição Federal, gozam de autonomia e esta apenas é flexibilizada
mediante preceito da própria Carta de 1988.”

O mesmo entendimento aplica-se aos Magistrados em relação às decisões judiciais.

STF - HC 80.539: “1.Configura constrangimento ilegal, com evidente ofensa


ao princípio da separação dos Poderes, a convocação de magistrado a fim
de que preste depoimento em razão de decisões de conteúdo jurisdicional
atinentes ao fato investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito.
Precedentes. 2. Habeas corpus deferido.

3.8.3. Direitos e Garantias Individuais

• Privilégio da não incriminação, art. 5º, LXIII (Nemo tenetur se detegere).

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;

• Sigilo de ofício e sigilo profissional (art. 5º, XIV)

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da


fonte, quando necessário ao exercício profissional;

3.8.4. Medidas acautelatórias

A finalidade do poder geral de cautela é assegurar a efetividade do provimento final.

Busca e apreensão de documentos seria uma manifestação do PGC? Nesse caso, a


finalidade não é garantir a efetividade do provimento final, porque a CPI não busca condenar
ninguém, ela apreende não para assegurar a decisão final, mas para investigar o fato através dos
documentos.

A CPI não pode:

-NÃO pode determinar a indisponibilidade de bens;

-NÃO pode proibir ninguém de ausentar-se do país;

-NÃO pode determinar arresto, sequestro e hipoteca judiciária.

3.8.5. Acusações

Não formula acusações e não pode punir delitos. Após a conclusão dos trabalhos, deve
mandar para o MP, a fim de tome as responsabilidades penais ou cíveis cabíveis.

QUADRO CPI

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 170


.
CPI
Requisitos Poderes Limites
I) Requerimento de 1/3 dos I) Previstos no regimento I) Direitos fundamentais
membros; interno individuais
a) sigilo profissional (CF, art.
5.º, XIV);
b) assistência de advogado e
direito ao silêncio (CF, art. 5.º,
LXIII
II) Apuração de fato II) Próprios de autoridade II) Reserva constitucional de
determinado judicial (medidas instrutórias): jurisdição:
a) quebra de sigilo bancário, a) invasão de domicílio (CF,
fiscal, telefônico e de dados; art. 5.º, XI);
b) busca e apreensão de b) interceptação telefônica
documentos; (CF, art. 5.º, XII);
c) condução coercitiva para c) prisão, salvo flagrante delito
depoimento; (CF, art. 5.º, LI);
d) realização de exames d) sigilo imposto a processo
periciais. judicial (CF, art. 5.º, LX c/c o
art. 93, IX).
III) Prazo certo de duração. III) Separação dos poderes:
a) formular acusações;
b) punir delitos.
IV) Medidas acautelatórias:
a) indisponibilidade de bens;
b) proibição de ausentar-se do
país;
c) arresto;
d) sequestro;
e) hipoteca judiciária

CPI NO ÂMBITO ESTADUAL

3.10.1. Requisitos

Como vimos, são normas de observância obrigatória (Princípio da Simetria), ou seja, são os
mesmos da CPI no âmbito da União (requerimento de pelo menos 1/3, apuração de fato
determinado e prazo certo de duração).

STJ PET AgRg 1611/RO. Nesta decisão, o STJ entendeu que CPI estadual não pode
investigar autoridades que estão submetidas a foro por prerrogativa.

STJ – PET 1.611 AgRg/RO: “CPIs estaduais não têm competência para
investigar autoridades que estão submetidas a foro privilegiado federal. A
autoridade contra quem se pede a quebra dos sigilos bancário e fiscal tem
foro privilegiado no Superior Tribunal de Justiça. Desse modo, só há
possibilidade de se determinar a medida requerida, desde que preenchidos
os pressupostos legais, no âmbito de Comissão Parlamentar de Inquérito

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 171


.
instaurada pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, ou no curso
de notícia-crime, inquérito ou ação penal tramitando perante o Superior
Tribunal de Justiça.”

3.10.2. Poderes da CPI estadual

São simétricos ao da CPI Federal, desde que dentro dos limites da competência fiscalizatória
da Assembleia legislativa.

Quebra de sigilos: STF decidiu que a CPI Estadual pode determinar a quebra de sigilo
bancário.

OBS: alguns regimentos internos, a exemplo da assembleia de SP conferem poderes expressos


para quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e de dados. O STF até agora não se manifestou
sobre isto, mas parece que seguindo a linha do entendimento do sigilo bancário, não há óbice.

3.10.3. HC e MS

É impetrado contra autoridade coatora ou o presidente da CPI (regra geral). Na CPI federal,
a competência para julgar é do STF; na estadual, é do TJ.

CPI NO ÂMBITO MUNICIPAL

3.11.1. Fundamentos

Com base no Princípio da Simetria, conforme a doutrina e a jurisprudência, é possível a


criação de CPI no âmbito municipal.

3.11.2. Poderes

Terá poderes mais restritos do que as outras CPI’s. Em razão da inexistência de poder
judiciário no âmbito municipal, a CPI municipal não poderá ter poderes próprios de autoridade
judiciária, pois isto seria atribuir ao município uma competência que não lhe foi dada pela
constituição.

Impossibilidade de condução coercitiva de testemunha

STF RE 96.049/SP (1983, depois da CF/88 não há decisões). Nesta decisão, o STF
entendeu que CPI municipal não pode determinar condução coercitiva de testemunha.

3.11.3. HC e MS

Autoridade coatora e presidente da CPI. A competência para analisar será do Juiz de 1º


grau.

TÉRMINO DOS TRABALHOS DA CPI

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 172


.
Ao final dos trabalhos é elaborado um relatório que deve ser votado e aprovado pela CPI
(assim como todas as diligências também devem ser aprovadas pela comissão por maioria absoluta
- princípio da colegialidade) através de uma resolução.

Este relatório (junto com a resolução que o aprovou), em sendo o caso, é remetido ao chefe
do Ministério Público, ou ainda às autoridades administrativas ou judiciais com poder de decisão. O
que significa dizer que a CPI não está obrigada a enviar o relatório ao MP, a depender da
oportunidade e conveniência política (é decisão discricionária). Entretanto, pode o MP requisitar o
relatório, assim como os documentos que o guarnecem.

De posse do relatório, o MP promove as ações penais e cíveis eventualmente cabíveis. O


relatório da CPI não vincula o MP (tal como o inquérito policial não vincula o MP).

O membro do MP tem prazo para se manifestar a respeito dos documentos remetidos


pela CPI? SIM, a lei 10.001/00 diz que o MP deve dar prioridade ao relatório da CPI, se
manifestando em 30 dias.

Lei 10.001/00 - Art. 2o A autoridade a quem for encaminhada a resolução


informará ao remetente, no prazo de trinta dias, as providências adotadas ou
a justificativa pela omissão.

Lembrando que O MP não precisa esperar o relatório da CPI para propor a ação (vide caso
mensalão).

A CPI também pode, ao fim dos trabalhos, apresentar projeto de lei, conforme o art. 61 da
CF.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou
do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.

Na CPI no legislativo da união, o relatório é enviado ao PGR que distribui entre os Estados.

4. GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

A finalidade das garantias é assegurar a INDEPENDÊNCIA e a LIBERDADE dos membros


do Poder Legislativo. Salienta-se que as garantias são IRRENUNCIÁVEIS, exatamente pelo fato de
não pertencerem ao indivíduo, mas sim ao Poder Legislativo.

Um parlamentar que se afasta de sua função para exercer outro cargo mantém suas
imunidades? NÃO. Se um parlamentar não está exercendo suas funções, por estar ocupando
cargo de Ministro do Estado, perde suas imunidades material e formal, bem como o foro por
prerrogativa de função, pois não está exercendo as funções legislativas. A Súmula 04 do STF, que
previa o contrário, está superada.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 173


.
Salienta-se que o suplente não é considerado um parlamentar, não possuindo qualquer das
garantias do Poder Legislativo.

A Constituição prevê que nos casos de ESTADO DE SÍTIO as garantias irão prevalecer,
salvo se houver voto de dois terço dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados
fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.

CF, art. 53, § 8º: As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão


durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois
terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora
do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução
da medida.

O dispositivo constitucional refere-se apenas ao ESTADO DE SÍTIO (art. 137 CF), o


ESTADO DE DEFESA é menos grave (art. 136), e não tendo previsão, prevalece que as imunidades
não podem ser suspensas neste caso. Normas excepcionais devem ser interpretadas
restritivamente. A Constituição estabelece a exceção que é a suspensão, apenas para esta hipótese
mencionada, não se pode estender ao estado de defesa.

SENADORES E DEPUTADOS FEDERAIS

4.2.1. Foro por prerrogativa de função

Fundamenta-se no art. 53, §1º c/c o art. 102, I, alínea “b”, ambos da CF.

Art. 53, § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma,


serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o
Procurador-Geral da República;

Perceba que a prerrogativa será apenas para os casos de infrações penais comuns, não
se aplicando, por exemplo, as casos de improbidade administrativa.

No passado o STF (entendimento superado) afirmava que o foro por prerrogativa de função
iniciava-se com a expedição do diploma (antes da posse) e terminava com o fim do mandato (fim
da legislatura, cassação ou renúncia do parlamentar). Admitia algumas exceções, em que o foro iria
prevalecer, quais sejam: início do julgamento, abuso de direito (renúncia do parlamentar para
deslocamento de competência).

No julgamento da AP 937 QO/RJ, o STF superou o entendimento acima, passando a


entender que o foro por prerrogativa de função se aplica apenas a crimes cometidos no exercício
do cargo E em razão das funções desempenhadas. Reforçou, ainda, que após as alegações finais,
a competência não poderá ser alterada. Utilizou como argumentos para a alteração do seu
entendimento:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 174


.
o Disfuncionalidade criada pela regra antiga – a quantidade de pessoas com foro por
prerrogativa de função, sem que haja qualquer relação com o desempenho das
funções parlamentares que se pretende proteger, causava múltiplas
disfuncionalidades;

o Capacidades institucionais – a missão do STF é guardar a Constituição, não se ater


a questões penais que não se referem ao exercício do mandato. O que acaba
gerando prescrição e, consequentemente, a impunidade;

o Princípios da Isonomia e Princípio Republicado – acaba-se violando tais princípios,


pois se protegias agentes públicos em casos não relacionados ao exercício de seus
mandatos.

Como já mencionado, o foro por prerrogativa abrange apenas as infrações penais comuns.
Nesta categoria, enquadram-se diversos tipos de crimes, inclusive contravenções penais, infrações
eleitorais e os crimes dolosos contra a vida. Além disso, os inquéritos policiais contra as autoridades
com foro por prerrogativa não podem ser instaurados de ofício pela Polícia Federal, é necessária a
iniciativa do PGR, com a supervisão dos inquéritos pelo STF.

STF – Pet 3.825 QO/MT: A iniciativa do procedimento investigatório deve ser


confiada ao MPF contando com a supervisão do Ministro-Relator do STF. 10.
A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício inquérito policial para
apurar a conduta de parlamentares federais ou do próprio Presidente da
República. No exercício de competência penal originária do STF (CF, art. 102,
I, "b" c/c Lei nº 8.038/1990, art. 2º e RI/STF, arts. 230 a 234), a atividade de
supervisão judicial deve ser constitucionalmente desempenhada durante toda
a tramitação das investigações desde a abertura dos procedimentos
investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de denúncia pelo
dominus litis.

Há determinados crimes em que se admite à exceção da verdade, a qual é admitida,


processa e julgada pelo mesmo juiz da ação penal. Contudo, quando a exceção da verdade é
deduzida contra alguém que possui foro por prerrogativa de função no STF, ele não instrui o
processo (caberá ao juiz primeiro grau), para posterior julgamento pelo STF.

STF – AP 602/SC: A exceção da verdade, quando deduzida nos crimes


contra a honra que autorizam a sua oposição, deve ser admitida, processada
e julgada, ordinariamente, pelo juízo competente para apreciar a ação penal
condenatória. Tratando-se, no entanto, de “exceptio veritatis” deduzida contra
pessoa que dispõe, “ratione muneris”, de prerrogativa de foro perante o STF
(CF, art. 102, I, “b” e “c”) a atribuição da Suprema Corte restringir-se-á,
unicamente, ao julgamento da referida exceção, não assistindo, a este
Tribunal, competência para admiti-la, para processá-la ou, sequer, para
instruí-la, razão pela qual os atos de dilação probatória pertinentes a esse
procedimento incidental deverão ser promovidos na instância ordinária
competente para apreciar a causa principal (ação penal condenatória).
Precedentes.

Nos casos em que a infração foi praticada por pessoas com foro por prerrogativa de função
e por pessoas sem foro, a regra é o desmembramento do processo. Consequentemente, as
pessoas sem foro serão julgadas nas instâncias ordinárias. Isso ocorre porque a competência penal

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 175


.
do STF é de direito estrito, estando prevista taxativamente na CF/88. Logo, não pode ser ampliada
indevidamente por normas de direito infraconstitucional, como é o caso dos dispositivos do CPP
que tratam sobre a reunião de processos em caso de conexão. Em outras palavras, não se pode
ampliar a competência constitucional do STF por força de uma lei ordinária (CPP) que determina o
julgamento em conjunto

STF – Inq 3.515 AgR/SP: O desmembramento de inquéritos ou de ações


penais de competência do STF deve ser regra geral, admitida exceção nos
casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma relacionados que o
julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação
jurisdicional.

No entanto, em casos excepcionais, será possível que os demais réus que não têm foro por
prerrogativa de função também sejam julgados pelo STF em um único processo. Isso se justifica
quando o julgamento em separado puder trazer algum prejuízo relevante à prestação jurisdicional.

A decisão que determina que não haverá o desmembramento e que os réus sem foro
privativo também serão julgados pelo Tribunal não viola os princípios do juiz natural, da ampla
defesa, do devido processo legal e do duplo grau de jurisdição.

STF Súmula 704 STF - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa
e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo
do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

4.2.2. Imunidade material

a) Outras denominações

A imunidade material também é chamada de real, de substantiva, de inviolabilidade e de


freedom of speech.

b) Previsão constitucional

Está consagrada no caput, do art. 53, da CF. Vejamos:

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por


quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

Refere-se ao conteúdo das manifestações dos parlamentares.

c) Conexão com o exercício do mandato

É necessário determinar se ocorreu dentro ou fora do Congresso Nacional.

o Imunidade material DENTRO do Congresso Nacional - o STF entende que a


manifestação sequer precisa guardar conexão com o exercício da função
parlamentar (presunção absoluta). Demais excessos devem ser reprimidos pela
própria casa, como se fosse uma questão interna corporis. RE AgRg 463671
(decisão de 2007).

o Imunidade material FORA do Congresso Nacional - só estarão protegidas se


guardarem conexão com o exercício da função parlamentar.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 176


.
Exemplos:

Eurico Miranda, era presidente do Vasco e Deputado Federal, falou que o juiz teria
recebido dinheiro para favorecer o Palmeiras em certo jogo. Foi condenado, tendo
em vista suas palavras não tinham relação com as suas funções.

Jair Bolsonaro, quando ainda parlamentar, afirmou, dentro do plenário, que Maria do
Rosário não merecia ser estuprada, estava amparado pela imunidade.
Posteriormente, em uma entrevista para a rádio gaúcha, repetiu a mesma frase,
desta vez, por estar fora do Congresso Nacional, foi processado.

STF – Inq 3.932/DF: “13. In casu, (i) a entrevista concedida a veículo de


imprensa não atrai a imunidade parlamentar, porquanto as manifestações
se revelam estranhas ao exercício do mandato legislativo, ao afirmar que “não
estupraria” Deputada Federal porque ela “não merece”; (ii) o fato de o
parlamentar estar em seu gabinete no momento em que concedeu a
entrevista é fato meramente acidental, já que não foi ali que se tornaram
públicas as ofensas, mas sim através da imprensa e da internet; (...) 15. (i) A
imunidade parlamentar incide quando as palavras tenham sido proferidas
dentro do recinto da Câmara dos Deputados: “Despiciendo, nesse caso,
perquirir sobre a pertinência entre o teor das afirmações supostamente
contumeliosas e o exercício do mandato parlamentar” (Inq. 3814, Primeira
Turma, Rel. Min. Rosa Weber, unânime, j. 07/10/2014, DJE 21/10/2014). (ii)
Os atos praticados em local distinto escapam à proteção da imunidade,
quando as manifestações não guardem pertinência, por um nexo de
causalidade, com o desempenho das funções do mandato parlamentar.”

Houve um caso em que um parlamentar publicou em rede social, retirando de


contexto, uma frase de Jean Wyllys que parecia racista. STF afastou a imunidade.

STF – PET 5705 / DF: In casu, o Querelado é acusado de ter publicado,


através do Facebook, trecho cortado de um discurso do Querelante,
conferindo-lhe conotação racista. 3. É que, no trecho publicado, reproduz-se
unicamente a frase “uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa”.
Ocorre que, ao conferir-se a íntegra do discurso no site do Congresso
Nacional, verifica-se que o sentido da fala do Querelante era absolutamente
oposto ao veiculado pelo Querelado. conforme se extrai do seguinte trecho:
“há um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de
segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. [...]
a imunidade material não confere aos parlamentares o direito de
empregar expediente fraudulento, artificioso ou ardiloso, voltado a
alterar a verdade da informação, com o fim de desqualificar ou imputar
fato desonroso à reputação de terceiros.

Embora a Constituição preveja apenas a inviolabilidade civil e penal, a doutrina sustenta que
também há inviolabilidade administrativa e política.

d) Natureza jurídica

o Pontes de Miranda - Causa de exclusão de crime;

o Basileu Garcia - Causa que se opõe à formação do crime;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 177


.
o Aníbal Bruno - Causa pessoal de exclusão de pena;

o Magalhães Noronha - Causa de irresponsabilidade;

o Frederico Marques - Causa de incapacidade pessoal por razões de política criminal;

o STF - Causa de excludente de tipicidade.

e) Extensão da imunidade material

Caso1 - Imagine que um parlamentar vá até uma revista e faz uma denúncia.

O parlamentar está protegido pela imunidade que se estende a fatos cobertos pela imprensa.
Se a imprensa divulga uma informação que foi fornecida por um parlamentar, não poderá ser
responsabilizada (STF).

Caso2 – em uma CPI a resposta dada no calor do debate (por quem não tem imunidade)
em face do parlamentar, também está abrangida pela imunidade material.

4.2.3. Imunidade formal

Também chamada de incoercibilidade pessoal relativa, de imunidade processual e de


freedom from arrest.

Pertinente destacar que a imunidade formal foi substancialmente alterada pela EC 35/01,
tendo em vista que houve a substituição do princípio da improcessabilidade pelo princípio da
processabilidade. Em outras palavras, antes de 2001 para que os parlamentares respondessem por
algum processo seria necessária a autorização da casa respectiva; após o advento da EC 35/01, o
STF apenas dá ciência a casa respectiva, não há mais a necessidade de autorização.

ANTES EC 35/01 DEPOIS EC 35/01

Abrangia qualquer crime, praticado Abrange qualquer crime praticado


antes ou depois da diplomação. APÓS a diplomação.

Para o processo iniciar-se, o STF O STF não mais depende de


dependia de autorização da casa autorização para iniciar o
respectiva. processo.
Porém, a casa respectiva pode
SUSTAR o seu andamento.

Enquanto não autorizado a Suspenso o processo não corre a


prescrição não corria. prescrição.

Atenção para a Súmula 245 do STF que se aplica apenas aos casos de imunidade formal,
tendo em vista que faz referência “ao corréu”. Na imunidade material há uma causa excludente de
tipicidade, por isso não há que se falar em corréu, pois não houve crime cometido pelo parlamentar.

SÚMULA 245 - A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa


prerrogativa.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 178


.

A imunidade formal possui dois aspectos: um relacionado à prisão e outro relacionado ao


processo.

• PRISÃO

Prevista no art. 53, §2º, da CF.

Art. 53 § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso


Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria (absoluta) de seus
membros, resolva sobre a prisão.

A expressão “presos” refere-se à impossibilidade de prisão penal cautelar, salvo no caso de


flagrante de crime inafiançável. Portanto, tratando-se de prisão penal condenatória transitada em
julgado (prisão definitiva) não há impedimento.

Havendo prisão em flagrante por crime inafiançável, a Casa do parlamentar (Câmara dos
Deputados ou Senado Federal) irá deliberar, por maioria absoluta de seus membros, acerca de uma
possível perseguição, da legalidade, da abusividade da prisão, decidindo se é conveniente ou não
o manter preso.

Com a imunidade formal relativa à prisão, visa-se evitar que a pessoa que foi eleita por voto
popular seja impedida de exercer o seu mandato por alguma perseguição política.

Em relação às medidas cautelares diversas da prisão, na ADI 5.526/DF o STF firmou o


seguinte entendimento:

o O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por


autoridade própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em
substituição de prisão em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem
medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, em
circunstâncias de excepcional gravidade;

o A decisão judicial que estabelecer medidas cautelares que impossibilitem, direta ou


indiretamente, o pleno e regular exercício do mandato parlamentar e de suas
funções legislativas, será remetida, dentro de 24 horas, a Casa respectiva, nos
termos do §2º do art. 53 da CF/88, para que, pelo voto nominal e aberto da maioria
de seus membros, resolva sobre a medida cautelar.

O STF utilizou os seguintes fundamentos:

o Independência e harmonia que rege o Princípio da Separação de Poderes;

o Ratio da norma (razão da norma) deve ser a mesma, já que ao impor medidas
cautelares diversas da prisão que impossibilitem o exercício do mandato, sem a
deliberação da Casa, irá afastar a razão da norma.

Em relação imunidade por prisão civil por dívida de parlamentar, a doutrina entende que não
se aplica, portanto, não haveria impedimento. Não há decisão no STF, mas há uma decisão
monocrática do STJ no mesmo sentido da doutrina.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 179


.
STJ – HC 332.246/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, monocrática: “[...]
o fato de exercer múnus público exige do titular o dever de portar-se como
exemplo de probidade, honra e cumprimento de deveres civis, nos quais o
acatamento de ordens judiciais encontra-se inserido. Contudo, pelo que está
relatado nos autos, pretende-se justamente o contrário, pois o exercício da
função pública está sendo utilizado como meio de livrar o paciente das
consequências do inadimplemento obrigacional, já que, das palavras
destacadas na peça vestibular não há uma sequer em defesa de eventual
desacerto da obrigação alimentar imposta ao paciente. Toda assertiva refere-
se tão somente ao fato de, por ser deputado estadual, estar isento de ser
preso nos termos do art. 733, § 1º, do Código de Processo Civil. Sem razão
os impetrantes, pois a imunidade parlamentar não exime o paciente de suas
obrigações civis.”

• PROCESSO

Está prevista no art. 53, §3º, da CF

Art. 53 § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime


ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto
da maioria (absoluta) de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação.
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa
Diretora.
§ 5º A sustação do processo suspende a PRESCRIÇÃO, enquanto durar o
mandato.

O STF recebe a denúncia, ato contínuo é cientificada a casa que o parlamentar faz parte.
Se a maioria absoluta dos membros da respectiva casa entender que há motivos (perseguição
política, por exemplo), poderá suspender o andamento do processo, mas isso se dará somente até
a decisão final.

Quando se suspende o processo, suspende-se a prescrição. Mesmo quando não há


previsão expressa na CF, segundo o STF suspende a prescrição, pois a finalidade não é a
impunidade e sim evitar perseguições políticas.

OBS: em relação aos crimes cometidos antes da diplomação, não se aplica a imunidade formal
quanto ao processo. É julgado normalmente, apenas no foro pela prerrogativa de função, no caso
o STF.

Caso o parlamentar que teve o processo suspenso, seja reeleito para novo mandato, como
o crime foi praticado antes do mandato atual (decorrente da nova eleição), não mais haverá a
suspensão.

STF – AC 700 AgR: Carece de plausibilidade jurídica, para o fim de atribuir-


se efeito suspensivo a recurso extraordinário, a tese de que a norma inscrita
no atual § 3º do art. 53 da Magna Carta se aplica também a crimes ocorridos
após a diplomação de mandatos pretéritos.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 180


.
4.2.4. Outras garantias

Sigilo de fonte: Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre


informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que
lhes confiaram ou deles receberam informações (art. 53, §6º).

Art. 53 § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar


sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do
mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam
informações.

Incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores: A incorporação às Forças


Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá
de prévia licença da Casa respectiva (art. 53, §7º).

Ar.t 53 § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores,


embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia
licença da Casa respectiva.

DEPUTADOS ESTADUAIS E DISTRITAIS

4.3.1. Previsão legal e considerações

A Súmula 03 do STF, anterior à CF/88, previa que a imunidade concedida a deputados


estaduais era restrita à Justiça do Estado. Tal entendimento encontra-se superado, tendo em vista
que antes da CF/88 eram as Constituições Estaduais que conferiam imunidades aos deputados
estaduais.

Após o advento da CF/88, a própria Constituição passou a conferir imunidades aos


deputados estaduais, não se aplicando mais a Súmula 3 do STF.

Art. 27, § 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,


aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
INVIOLABILIDADE (imunidade material), IMUNIDADES (imunidade
formal), remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.

Conforme entende o STF, as regras de imunidade são aplicadas de FORMA IMEDIATA E


INTEGRAL aos deputados estaduais. Em outras palavras, tudo que for atribuído aos deputados
federais deve ser aplicado aos deputados estaduais, além disso, mesmo que a constituição estadual
esteja em desacordo com a CF, deverá ser aplicada a CF.

STF - ADI 5.823 MC/RN; 5.824 MC/RJ e 5.825/MT (Julgamento: 8/5/2019):


Os deputados estaduais têm direito às imunidades formal e material
conferidas pelo constituinte aos congressistas, no que estendidas,
expressamente, pelo § 1º do art. 27 da Constituição da República.

Portanto, tudo que vimos acerca das imunidades material e formal será aplicado aos
deputados estaduais, sem restrição.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 181


.
Por fim, aos deputados distritais aplicam-se as mesmas regras previstas para os deputados
estaduais.

CF, art. 32, §3º: Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o
disposto no art. 27.

4.3.2. Foro por prerrogativa de função

De acordo com o entendimento prevalecente no STF (embora não seja entendimento


consolidado), a expressão “imunidades” do art. 27, §1º, da CF abrange a imunidade relativa à prisão,
ao processo e, também, ao foro por prerrogativa de função que será estabelecido pela CF e não
apenas pela a constituição estadual.

Em regra, o órgão competente será o Tribunal de Justiça. Contudo, caso o parlamentar


estadual pratique crime contra bens, serviços ou interesses da União, de suas autarquias ou
empresas públicas federais, o foro por prerrogativa será no TRF; caso pratique algum crime
eleitoral, o foro por prerrogativa será no TRE.

Atenção para a Súmula Vinculante 45 do STF:

SV 45 - A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o


foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
Constituição Estadual.

A súmula fixou o entendimento de que a competência do Tribunal do Júri deve prevalecer,


mencionando que a regra vale para casos em que a prerrogativa de função seja estabelecida
exclusivamente na Constituição estadual. Assim sendo, conclui-se que a regra inserta na súmula é
aplicável aos casos em que não houver previsão constitucional sobre a prevalência do foro por
prerrogativa de função em detrimento do júri, como seria a situação, por exemplo, de uma
Constituição estadual atribuir foro por prerrogativa de função aos delegados civis. Ou ainda, atribuir
foro por prerrogativa aos Vereadores.

Começa-se a sustentar que o enunciado da SV 45 do STF está superado, tendo em vista o


novo entendimento do Supremo prevendo que as constituições estaduais não podem dispor
livremente sobre o foro por prerrogativa de função, nem mesmo pode ser aplicado o Princípio da
Simetria.

Portanto, como a Constituição estadual não pode dispor livremente sobre foro por
prerrogativa de função, consequentemente não poderá estabelecer tal garantia, havendo a
superação da Súmula Vinculante 25 (entendimento da doutrina, STF ainda não se manifestou).
Salienta-se que no caso dos deputados estaduais nunca se aplicou o entendimento sumulado, já
que é estabelecido pela própria Constituição.

Em suma, as constituições estaduais não podem dispor livremente sobre prerrogativa de


foro. Nesse sentido, ADI 2553.

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por


prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado,
Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. STF.
Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 182


.

Segundo destacada Novelino, ao analisar a ratio decidendi da ADI 2553, percebe-se que
não fica restrita apenas às autoridades mencionadas, mas sim a qualquer tipo de autoridade, em
razão dos seguintes fundamentos:

o O juiz natural para o julgamento é o de primeira e segunda instâncias, sendo o foro


por prerrogativa de função uma exceção. Portanto, deve ser interpretado
restritivamente;

o Não se aplica o Princípio da Simetria, eis que a própria CF estabelece o foro por
prerrogativa de função nos três níveis: federal, estadual e municipal;

o Permitir que as constituições estaduais conferirem foro por prerrogativas de função,


seria conferir um “cheque em branco” aos parlamentares estaduais.

IMUNIDADES DOS VEREADORES

4.4.1. Foro por prerrogativa de função

Não há na Constituição previsão de foro por prerrogativa de função aos vereadores.

Até 2019, o STF permitia que as Constituições Estaduais concedessem. Contudo, diante do
novo entendimento do STF, segundo Novelino, não mais se admite.

4.4.2. Imunidade material

Após o advento da CF/88, os vereadores passaram a ter imunidade material, que é restrita
aos limites territoriais do município.

Art.29 VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e


votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município;

Há doutrina que sustenta que a imunidade deve estar relacionada aos interesses do
município. Seria o caso, por exemplo, de um vereador de uma pequena cidade que vai a um debate
na rádio da cidade vizinha, para tratar de questões municipais, e acaba ofendendo alguém. Não
haveria sentido em não aplicar a imunidade.

A expressão “no exercício do mandato” é interpretada, pelo STF, como nexo de causalidade
no exercício da função, mesmo que as palavras e opiniões tenham sido proferidas dentro da
Câmara.

STF – RE 600.063/SP: 1. Vereador que, em sessão da Câmara, teria se


manifestado de forma a ofender ex-vereador, afirmando que este “apoiou a
corrupção [...], a ladroeira, [...] a sem-vergonhice”, sendo pessoa sem
dignidade e sem moral. 2. Observância, no caso, dos limites previstos no art.
29, VIII, da Constituição: manifestação proferida no exercício do mandato e
na circunscrição do Município (...) 5. A ausência de controle judicial não
imuniza completamente as manifestações dos parlamentares, que podem ser
repreendidas pelo Legislativo. 6. Provimento do recurso, com fixação, em
repercussão geral, da seguinte tese: nos limites da circunscrição do Município

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 183


.
e havendo pertinência com o exercício do mandato, os vereadores são
imunes judicialmente por suas palavras, opiniões e votos.

4.4.3. Imunidade formal

Vereadores não têm imunidade FORMAL.

De acordo com o STF as Constituições Estaduais não podem estabelecer imunidade formal
para vereadores.

STF – ADI 371/SE: 1. O Estado-membro não tem competência para


estabelecer regras de imunidade formal e material aplicáveis a Vereadores.
A Constituição Federal reserva à União legislar sobre Direito Penal e
Processual Penal. 2. As garantias que integram o universo dos membros do
Congresso Nacional (CF, artigo 53, §§ 1º, 2º, 5º e 7º), não se comunicam aos
componentes do Poder Legislativo dos Municípios. Precedentes.

5. PERDA DE MANDATO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, pertinente distinguirmos a figura do suplente de parlamentar da figura de


parlamentar licenciado.

SUPLENTE DE PARLAMENTAR PARLAMENTAR LICENCIADO

Não é considerado parlamentar. Por Não perde o vínculo com o parlamento.


isso, as hipóteses de perda de Consequentemente, as hipóteses de
mandato não são aplicadas perda de mandato serão aplicadas.

O art. 56, da CF, traz as hipóteses em que não haverá perda de mandato. Vejamos:

Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território,
Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de
Capital ou chefe de missão diplomática temporária;
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem
remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento
não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura em
funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento e vinte dias.
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-
la se faltarem mais de quinze meses para o término do mandato.
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá optar pela
remuneração do mandato.

Exemplo de parlamentar licenciado foi o de José Dirceu, deputado federal nomeado a


Ministro da Casa Civil, que praticou alguns atos incompatíveis com o decoro parlamentar. O STF
entendeu que, mesmo licenciado, poderia responder pelos seus atos e perder o mandato.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 184


.
- STF – MS 25.579 MC/DF: 3. O membro do Congresso Nacional que se
licencia do mandato para investir-se no cargo de Ministro de Estado não
perde os laços que o unem, organicamente, ao Parlamento (CF, art. 56, I).
Consequentemente, continua a subsistir em seu favor a garantia
constitucional da prerrogativa de foro em matéria (STF alterou esse
entendimento na AP 670) CF, art. 57, caput: “O Congresso Nacional reunir-
se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º
de agosto a 22 de dezembro. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
50, de 2006)”, bem como a faculdade de optar pela remuneração do mandato
(CF, art. 56, § 3º). Da mesma forma, ainda que licenciado, cumpre-lhe
guardar estrita observância às vedações e incompatibilidades inerentes ao
estatuto constitucional do congressista, assim como às exigências ético-
jurídicas que a Constituição (CF, art. 55, § 1º) e os regimentos internos das
casas legislativas estabelecem como elementos caracterizadores do decoro
parlamentar. 4. Não obstante, o princípio da separação e independência dos
poderes e os mecanismos de interferência recíproca que lhe são inerentes
impedem, em princípio, que a Câmara a que pertença o parlamentar o
submeta, quando licenciado nas condições supramencionadas, a processo
de perda do mandato, em virtude de atos por ele praticados que tenham
estrita vinculação com a função exercida no Poder Executivo (...), uma vez
que a Constituição prevê modalidade específica de responsabilização política
para os membros do Poder Executivo (CF, arts. 85, 86 e 102, I, c). 5. Na
hipótese dos autos, contudo, embora afastado do exercício do mandato
parlamentar, o Impetrante foi acusado de haver usado de sua influência para
levantar fundos junto a bancos "com a finalidade de pagar parlamentares para
que, na Câmara dos Deputados, votassem projetos em favor do Governo"
(...). Tal imputação se adequa, em tese, ao que preceituado no art. 4º, inciso
IV do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.

Tratando-se de ato incompatível com o decoro parlamentar, mesmo praticado antes do


mandato, poderá ensejar a cassada. Logo, o fato não necessita ser contemporâneo.

STF - MS 23.388/DF: Tese invocada, acerca da inexistência de


contemporaneidade entre o fato típico e a competência da atual legislatura,
que se rejeita.

CASSAÇÃO DO MANDATO

5.2.1. Conceito

A cassação ocorre quando a perda do mandato é DECIDIDA pela Casa (Senado Federal ou
Câmara dos Deputados) do parlamentar. É necessário o quórum de maioria absoluta (mais da
metade dos membros da respectiva casa), bem como será feita através de escrutínio aberto.

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
(...)
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 185


.
mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado
no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

O Poder judiciário não pode interferir no mérito do julgamento, pois se trata de questão
interna corporis. No entanto, poderá analisar se foram respeitadas as garantias formais.

5.2.2. Hipóteses de cassação

O art. 55 da CF consagra três hipóteses em o mandato do parlamentar será cassado, são


elas:

• Infringir qualquer das proibições estabelecidas no art. 54, da CF que trata das
incompatibilidades;

Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:


I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia,
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária
de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de
que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea
anterior;
II - desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor
decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer
função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas
entidades referidas no inciso I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se
refere o inciso I, "a";

• Procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;

Art. 55, § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos


definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a
membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.

• Sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado

Salienta-se que perda do mandato decorrente da condenação criminal não é automática, ou


seja, não basta a simples condenação. Exige-se uma decisão por maioria absoluta dos membros
da Casa respectiva.

STF – AP 565/RO (Info 714/SF): Relativamente ao atual mandato de senador


da República, decidiu-se, por maioria, competir à respectiva Casa Legislativa
deliberar sobre sua eventual perda (...). A relatora e o revisor, no que foram
seguidos pela Min. Rosa Weber, reiteraram o que externado sobre o tema na
apreciação da AP 470/MG. O revisor observou que, se por ocasião do trânsito
em julgado o congressista ainda estivesse no exercício do cargo parlamentar,
dever-se-ia oficiar à Mesa Diretiva do Senado Federal para fins de
deliberação a esse respeito.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 186


.
Tal entendimento não se aplica aos vereadores, portanto, haverá a cassação imediata após
a condenação criminal transitada em julgado.

STF - SL 864/PR: Com relação aos senadores e deputados, contudo, a


Constituição contempla uma exceção à regra geral, no art. 55, § 2º, no tocante
à perda imediata do mandato na hipótese condenação criminal transitada em
julgado. [...] Essa ressalva não contempla apenas os parlamentares federais,
estendendo-se, igualmente, aos deputados estaduais e distritais (...) A regra
da cassação imediata dos mandatos, no entanto, aplica-se, por inteiro e de
imediato, aos vereadores, bem como aos prefeitos, governadores e ao
próprio Presidente da República, por força do que se contém no referido art.
15, III, da Constituição. Nessa linha, cito o RE 179.502/SP e RE 225.019/GO,
ambos do Pleno desta Corte.

EXTINÇÃO DO MANDATO

Previsto no art. 55 da CF:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta
Constituição;
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa
da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.

A extinção do mandato é DECLARADA pela mesa da respectiva Casa do parlamentar,


poderá ocorrer de ofício ou por provocação.

Salienta-se que a extinção é ato vinculado, ocorrendo as hipóteses previstas na Constituição


a mesa está obrigada a declarar.

STF - MS 25.461: Em hipótese de extinção de mandato parlamentar, a sua


declaração pela Mesa é ato vinculado à existência do fato objetivo que a
determina, cuja realidade ou não o interessado pode induvidosamente
submeter ao controle jurisdicional.

São hipóteses de extinção:

• Deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da
Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;

• Perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

• Quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 187


.
PARA FIXAR:

HIPÓTESE DE PERDA DO MANDATO


PECULIARIDADES
(art. 55)
Infringir as incompatibilidades (art. 54) Cassação: maioria absoluta
Incompatível com decoro parlamentar Cassação: maioria absoluta
Não comparecer a 1/3 das sessões Extinção: declarada pela Mesa da Casa
Perda/suspensão de direitos políticos Extinção: declarada pela Mesa da Casa
Justiça Eleitoral decretou Extinção: declarada pela Mesa da Casa
Condenação penal com trânsito em
Cassação: maioria absoluta
julgado

RENÚNCIA DO PARLAMENTAR

Observe a redação do §4º, do art. 56, da CF:

Art. 55 § 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou


possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos
suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º.

O dispositivo possui a finalidade de evitar as renuncias fraudulentas, em que o objetivo é


escapar de determinadas sanções.

6. PROCESSO LEGISLATIVO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Consiste no conjunto de normas que regulam a produção dos atos normativos primários. Ou,
como elucida o mestre José Afonso da Silva, trata-se do conjunto de atos preordenados que visam
à criação de normas de direito.

O OBJETO do processo legislativo é definido no art. 59 da CF/88, in verbis:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII – resoluções (da Câmara e do Senado).
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação,
alteração e consolidação das leis.

Todos os atos previstos nesse artigo são ATOS NORMATIVOS PRIMÁRIOS, ou seja,
retiram seu fundamento de validade diretamente da Constituição, podendo ser objeto de controle
de constitucionalidade.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 188


.
Lembre-se que o processo legislativo é um direito público subjetivo dos parlamentares. Por
isso, para impor sua observância, o parlamentar pode impetrar MS. Veja que é a única hipótese de
controle de constitucionalidade preventivo pelo Poder Judiciário – hipótese excepcional, apenas em
alguns casos. Exemplo: Art. 60, § 4º da CF – cláusulas pétreas, para impedir deliberação sobre
abolição de um cláusula pétrea, o parlamentar poderá impetrar o MS.

OBS: o MS só caberá no caso de processo legislativo constitucional, no caso de violação ao


regimento interno, a questão é interna corporis.

Embora o processo legislativo se refira ao âmbito federal, o STF considera como normas de
observância obrigatória pelos Estados e pelos Municípios. Portanto, se a CF atribui ao Presidente
da República determinadas matérias que são de sua competência privativa, essas normas deverão
ser atribuídas, pela Constituição Estadual, ao Governador do Estado. Da mesma forma, a Lei
Orgânica deve atribuir ao Prefeito às competências pertinentes ao Município, de acordo com o
princípio da simetria.

ESPÉCIES DE PROCESSOS LEGISLATIVOS

A seguir veremos as três espécies de processo legislativo previstas na Constituição.

6.2.1. Processo legislativo ordinário

Nada mais é do que o processo legislativo de elaboração de leis ordinárias. É a base de


todo processo legislativo.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ORDINÁRIAS cabe a qualquer


membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
[...]
Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente
da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão
início na Câmara dos Deputados.

6.2.2. Processo legislativo sumário

Possui como base o processo legislativo ordinário, mas seus prazos são menores.

Art. 64 § 1º - O Presidente da República poderá solicitar URGÊNCIA para


apreciação de projetos de sua iniciativa.

Deflagra-se o processo SUMÁRIO quando o Presidente da República solicita urgência na


apreciação de um projeto de sua iniciativa (privativa ou concorrente).

OBS: Não pode o Presidente requerer urgência a um projeto iniciado por um senador, por exemplo.
A urgência decorre de um projeto de sua iniciativa apenas.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 189


.
A Câmara terá 45 dias para analisar, após o PL vai para o Senado, que terá mais 45 dias.
Se o Senado fizer alguma emenda a Câmara, terá 10 dias para apreciá-la. Portanto, o prazo máximo
é de 100 dias.

Caso as Casas não se manifestem dentro do prazo, sobrestar-se-ão todas as demais


deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional
determinado (exemplo: Medida Provisória), até que se ultime a votação.

OBS1: projetos de código não podem tramitar nesse regime de urgência.

OBS2: durante o recesso parlamentar, esses prazos ficam suspensos.

Art.64
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não
se manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até
quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações
legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo
constitucional determinado, até que se ultime a votação.
§ 3º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos
Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao mais o
disposto no parágrafo anterior.
§ 4º - Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Congresso
Nacional, nem se aplicam aos projetos de código.

6.2.3. Processos legislativos especiais

Trata-se do processo de elaboração de todas as espécies normativas que não se enquadram


nos processos acima: Emenda à Constituição, Lei complementar, Lei delegada, Medida Provisória,
decreto-legislativo, resolução e lei financeira.

7. PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO

O processo legislativo tem três fases: INTRODUTÓRIA, CONSTITUTIVA e


COMPLEMENTAR.

FASE INTRODUTÓRIA (INICIATIVA)

De maneira geral, o art. 61 prevê como legitimados para iniciar um processo legislativo:

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.

A iniciativa costuma ser dividida em duas espécies.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 190


.
• GERAL, COMUM OU CONCORRENTE (mais de um legitimado): é aquela atribuída a mais
de um legitimado .

Exemplo:

o Matéria tributária (é privativa apenas em relação aos territórios) é competência tanto


do legislativo, quanto do executivo;

o Leis de organização do MPU são de iniciativa do Presidente da República e do PGR;


já as normas gerais dos MPE são de iniciativa do Presidente da República. Nesse
sentido:

STF – RE 262.178/DF: “[...] lei complementar federal que estabelecerá ‘a


organização, as atribuições e o estatuto’ de todo o Ministério da União – por
iniciativa concorrente do Procurador-Geral da República, que lhe chefia o
conjunto de ramos (CF, art. 128, § 5.º) e do Presidente da República (CF, art.
61, § 1.º, II, d, primeira parte); simultaneamente, contudo, na parte final dessa
alínea d, a Carta Fundamental previu a edição, mediante iniciativa privativa
do Presidente da República, de ‘normas gerais para a organização’, não só
‘do Ministério Público dos Estados’, mas também do mesmo ‘Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios’.

STF – ADI 3.802/DF (10.03.2016): “Detém o Procurador-Geral da República,


de acordo com o art. 128, § 5º, da Constituição Federal, a prerrogativa, ao
lado daquela já atribuída ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, d, CF),
de iniciativa dos projetos legislativos que versem sobre a organização e as
atribuições do Ministério Público Eleitoral, do qual é chefe, atuando como seu
procurador-geral”

Há quem faça a seguinte diferença:

*Geral(comum): qualquer legitimado.

*Concorrente: mais de um legitimado, mas não qualquer pessoa.

• PRIVATIVA/RESERVADA/EXCLUSIVA (apenas um legitimado): devem ser interpretadas


restritivamente. Deve estar expressa no texto da CF, não se presume, trata-se de rol
taxativo.

Exemplos

o Matérias de interesse exclusivo da CD ou do SF só podem ser iniciadas por estes


(art. 51 IV e 52 XIIII)

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:


IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços,
e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os
parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços,

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 191


.
e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os
parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

o Caso iniciativa do STF e tribunais superiores (art. 96, II).

Art. 96. Compete privativamente:


II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais
de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no
art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do
subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

o Iniciativa é exclusiva do Presidente quanto aos efetivos das forças armadas;


servidores públicos da União; criação de cargos, funções ou empregos públicos na
administração direta e autárquica e o aumento de sua remuneração etc. (art. 61, §1º)

Art. 61. § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis


que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta
e autárquica ou aumento de sua remuneração;
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária,
serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento
de cargos, estabilidade e aposentadoria;
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem
como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria
Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos,
promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a
reserva.

o Matéria orçamentária, apesar de não estar prevista no art. 61, é de iniciativa


exclusiva do Presidente, nos termos do art. 165 da CF.

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:


I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais.

As iniciativas podem ser assim esquematizadas:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 192


.
LO / LC (art. 61) EC (art. 60, I a III)
Poder Executivo Presidente da República Presidente da República
Presidente da República e
MP (PGR) Procurador-Geral da República X
(leis relacionadas ao MP)
Pelo menos 1/3 dos membros da
Poder Legislativo Membro/Comissão
CD ou SF.
+ de 50% das Assembleias
Legislativas, com proposta
Poder Legislativo
X aprovada pela maioria relativa
(Estadual)
(mais da metade dos presentes)
de seus membros.
STF / Tribunais Superiores
Poder Judiciário X
(relacionadas ao judiciário)
Cidadãos (1% do eleitorado
nacional + distribuídos em 5
‘Popular’ estados sendo no mínimo 3/10 X
dos eleitores de cada um desses
estados).²

Obs.: O Presidente da República é Único legitimado geral para propor LO/LC e EC.

Importante consignar que a sanção do projeto de lei não supre o vício de iniciativa, lei será
inconstitucional, estando superada a Súmula 5 do STF.

Em relação a possibilidade de iniciativa popular para emenda constitucional, há na doutrina


duas correntes:

1ªC (José Afondo da Silva e Ingo): cabe iniciativa popular de emenda por uma interpretação
sistemática.

2ªC (Gilmar Mendes): não se admite iniciativa de emenda, eis que a regra geral é o art. 61.
Assim, o art. 60 é uma regra excepcional, normas excepcionais devem ser interpretadas
restritivamente.

Salienta-se que o STF, por maioria, entende que é possível que as constituições estaduais
prevejam iniciativa popular de emenda à Constituição.

A iniciativa popular de emenda à Constituição Estadual é compatível


com a Constituição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo
único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88. Embora a Constituição
Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emendas ao próprio
texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedimento
para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a
competência constante da Carta Federal. STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

FASE CONSTITUTIVA

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 193


.
O projeto de Lei sempre deve ser apreciado nas duas Casas Legislativas (decorrência do
bicameralismo federativo).

Salvo nos Projetos de Iniciativa de algum Senador ou de Comissões do Senado, a Casa


Iniciadora será SEMPRE a Câmara dos Deputados, funcionando o Senado Federal como Casa
Revisora.

A fase constitutiva compreende as seguintes etapas:

o Discussão;

o Votação;

o Aprovação;

o Sanção/Veto do Poder Executivo.

7.2.1. Discussão

A discussão ocorrerá em três âmbitos, nas duas Casas, quais sejam:

o Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em que há uma análise prévia da


constitucionalidade do PL.

o Comissões temáticas: variam conforme a matéria do projeto. Geralmente, existe


uma Comissão que corresponde a um Ministério. Em que se analisa a matéria
específica do PL, emitindo-se pareceres. Discussão técnica.

o Plenário: envolvendo os deputados e senadores. Há alguns casos envolvendo Lei


Ordinária em que não haverá discussão no plenário.

7.2.2. Votação

Em regra, ocorre no plenário.

EXCEÇÃO: É possível a votação do PL dentro da Comissão Temática, sem passar pelo


plenário, nos termos do art. 58, §2º, I da CF. É o chamado PROCESSO LEGISLATIVO
ABREVIADO, nas palavras de Gilmar Mendes. Somente é possível no processo de lei ordinária.

Art. 58 § 2º - às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:


I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento
(delegação interna), a competência do Plenário, salvo se houver recurso de
um décimo dos membros da Casa;

Quorum de VOTAÇÃO (para que haja votação de uma lei complementar ou ordinária ou
qualquer deliberação):

o Só existe deliberação na Casa Legislativa se estiver presente, no mínimo, a


MAIORIA ABSOLUTA dos membros da Casa (ou da Comissão, se for o caso de
processo abreviado). Esse quórum vale não apenas para a votação de Lei Ordinária,
mas também para QUALQUER DELIBERAÇÃO das casas legislativas. É a regra
geral.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 194


.
o Maioria absoluta equivale a mais de 50% dos membros (seja do Plenário ou da
Comissão). Esse número é sempre fixo: 257 Deputados na CD; 41 Senadores no
SN.

CF Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de


cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros.

7.2.3. Aprovação

O quórum de APROVAÇÃO da Lei Ordinária é MAIORIA RELATIVA, ou seja, mais de 50%


dos presentes devem votar em um mesmo sentido para que o projeto seja aprovado. Percebe-se
que é um número variável (art. 47).

CF Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de


cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros.

O quórum de aprovação de Lei Complementar é MAIORIA ABSOLUTA, ou seja, mais de


50% dos membros (art. 69). Percebe-se que é um número fixo.

CF Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.

Obs.: O quórum de aprovação de EC é a maioria de 3/5 dos membros (art. 60, §2º). Ou seja, 60%
dos membros, votado em dois turnos. O STF entende que, diante da ausência de previsão do lapso
temporal, não há como fixar intervalo mínimo.

CF Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos,
três quintos dos votos dos respectivos membros.

Vimos que a lei ordinária e a lei complementar possuem os mesmos legitimados e, agora,
que o quórum de discussão é o mesmo para ambas. Diante disso, indaga-se: qual a diferença entre
uma lei ordinária e um lei complementar?

1º Matéria (conteúdo) – a Lei Complementar trata de matéria reservada pela Constituição;


ao passo que a Lei Ordinária trata de matéria residual, não é especificado pela Constituição.

2º Aprovação – maioria absoluta para lei complementar e maioria relativa para lei ordinária.

Importante consignar que NÃO há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária, tendo
em vista que possuem campos materiais distintos estabelecidos pela Constituição. Conclui-se que:

o Lei ordinária não pode tratar de lei complementar, caso o faça será inconstitucional;

o Lei complementar pode tratar de matéria residual e não ser invalidada, não por ser
hierarquicamente superior, mas sim em razão de economia legislativa. Como o
quórum da lei complementar é de maioria absoluta, sempre irá atender o quórum
para aprovação de lei ordinária (maioria relativa).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 195


.
Neste caso, a lei será formalmente complementar, mas materialmente (conteúdo)
será uma lei ordinária. Consequentemente, poderá ser revogada por uma lei
ordinária. Por exemplo, CONFINS.

STF - RE 377.457: Contribuição Social sobre o Faturamento (COFINS) (CF,


art. 195, I). Revogação pelo art. 56 da Lei 9.430/1996 da isenção concedida
às sociedades civis de profissão regulamentada pelo art. 6º, II, da LC
70/1991. Legitimidade. Inexistência de relação hierárquica entre lei ordinária
e lei complementar. Questão exclusivamente constitucional, relacionada à
distribuição material entre as espécies legais. Precedentes. A LC 70/1991 é
apenas formalmente complementar, mas materialmente ordinária, com
relação aos dispositivos concernentes à contribuição social por ela instituída.
ADC 1, Rel. Moreira Alves, RTJ 156/721

Em geral, a Casa Iniciadora do Processo Legislativo é a Câmara dos Deputados, somente


no caso de iniciativa de Senador ou de Comissão do Senado, é que a Casa iniciadora será o Senado
Federal. Assim, discutido e aprovado na Casa Iniciadora, o Projeto de Lei é enviado à Casa
Revisora, que repetirá o processo, podendo ao final aprová-lo, rejeitá-lo ou emendá-lo.

Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em
um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se
a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.

• Aprovando: Vai para sanção/veto do Executivo.

• Rejeitando: É arquivado, não podendo ser reapresentado na mesma sessão legislativa,


salvo se por iniciativa da maioria absoluta de qualquer das Casas do congresso (art. 67).
No caso de projeto de EC, este não poderá ser reapresentado na mesma sessão legislativa
(art. 60, §5º).

Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá


constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante
proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do
Congresso Nacional.

Art. 60 § 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida


por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa.

• Emendando: Retorna a Emenda à Casa Iniciadora, que poderá aprová-la ou rejeitá-la, mas
jamais alterá-la (não se admitem “subemendas”).

Apenas as emendas retornam, pois são as únicas partes do PL que ainda não foram
aprovadas pelas duas Casas.

Caso ocorra na Casa Revisora uma Emenda supressiva é preciso retornar o projeto para a
Casa Iniciadora? Em regra, as emendas supressivas não precisam retornar à casa de origem
(encaminha-se o PL direto para a sanção), salvo quando afetarem o restante (de forma substancial)
do conteúdo do PL.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 196


.
É possível que um projeto de iniciativa exclusiva do Presidente venha a ser emendado no
Congresso? Sim, é possível, até porque a iniciativa exclusiva refere-se apenas ao “pontapé inicial”
do processo e não a sua inteira realização. Se não houvesse possibilidade de emenda, quem estaria
legislando seria o Poder Executivo (ou outro órgão legitimado exclusivo, conforme o caso). Não
confundir com a hipótese acima vista, caso em que o legislativo que inicia a lei de iniciativa exclusiva
do Presidente, isso não é possível nem com posterior ratificação.

ENTRETANTO, a emenda só é possível se não implicar em aumento de despesas em


relação ao projeto original (art. 63) e se guardar pertinência temática com o Projeto Inicial.

CF Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:


I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado
o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;
II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério
Público.

As matérias que não dizem respeito ao conteúdo originário do projeto são as chamadas
“caudas da lei” ou “contrabando legislativo”, nas palavras de Michel Temer.

EXCEÇÃO: O art. 166, §§3º e 4º traz duas hipóteses em que se admite a emenda
parlamentar ao PL enviado pelo Presidente, mesmo que acarrete aumento de despesa, desde que
observados alguns requisitos específicos. Trata-se das emendas:

- Ao Projeto de Lei do Orçamento Anual (LOA);

- Ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Os requisitos específicos, de acordo com o art. 166:

CF Art. 166 §3º - As emendas ao PROJETO DE LEI DO ORÇAMENTO


ANUAL ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas
caso:
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes
orçamentárias;
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de
anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre:
a) dotações para pessoal e seus encargos;
b) serviço da dívida;
c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e
Distrito Federal; ou
III - sejam relacionadas:
a) com a correção de erros ou omissões; ou
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
§ 4º - As emendas ao PROJETO DE LEI DE DIRETRIZES
ORÇAMENTÁRIAS não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o
plano plurianual.

Vale lembrar que a não observância dessas duas exigências (não aumento de despesas e
pertinência temática) gera a inconstitucionalidade formal da lei, que, como já vimos, é insanável.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 197


.
Pode o Presidente emendar o seu próprio PL apresentado? O próprio legitimado (com
exceção dos parlamentares) só pode apresentar emendas aditivas, nunca supressivas. A emenda
aditiva funciona como um novo PL, por isso ela não é vedada. Agora, a retirada de matéria do PL
não é possível. É o mesmo raciocínio da Medida Provisória, onde o presidente não pode retirar do
parlamento a MP enviada; pode no máximo editar nova MP revogando a primeira.

Aprovado pelas duas Casas, o PL é enviado ao Executivo, para sanção ou veto.

7.2.4. Sanção/Veto do Poder Executivo

O veto/sanção somente existe para Projeto de Lei. No caso de PEC, depois de aprovado, o
projeto vai direto para a promulgação.

A sanção do PL pode ser expressa ou tácita. Consequentemente, o veto deve ser sempre
expresso.

Prazo: O presidente tem 15 dias úteis para sancionar/vetar o PL. Em não se manifestando
nesse prazo, dá-se a sanção tácita (art. 66, §3º).

Art. 66 § 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da


República importará SANÇÃO.
§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado
a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente
do Senado fazê-lo.

A sanção/veto pode ser TOTAL ou PARCIAL.

PARCIAL: O veto parcial não pode incidir sobre uma palavra ou expressão isolada. Deve
abranger texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea (art. 66, §2º).

Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de
lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo,
de inciso ou de alínea.

OBS: Não confundir com a declaração de inconstitucionalidade parcial, que pode incidir até mesmo
sobre uma palavra ou expressão. Ver Controle de Constitucionalidade.

O veto pode ser JURÍDICO (por inconstitucionalidade do PL) ou POLÍTICO (contrário ao


interesse público). Todo veto deve ser motivado, comunicando em 48hrs ao presidente do senado.
Art. 66, §1º.

Art. 66 § 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou


em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente
do Senado Federal os motivos do veto.
§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação,
ao Presidente da República.
§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 198


.
a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente
do Senado fazê-lo.

Natureza jurídica do veto: Não há consenso na doutrina, para alguns seria um direito, para
outros um dever, ou ainda um poder-dever. O veto político é um poder, o veto jurídico seria um
dever.

O veto é absoluto ou relativo? É relativo, pois pode ser derrubado pelo CN.

Conforme o §4º do art. 66, o veto será apreciado em sessão conjunta do Congresso, dentro
30 dias, a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos
Deputados e Senadores. (deputados: 257/513 , senadores: 41/81).

Art. 66 § 4º - O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias


a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria
absoluta dos Deputados e Senadores.

Temos mais duas espécies de sessão:

o Sistema bicameral – regra –, a votação é feita na CD aí vai para o SF, esse pode
aprovar ou emendar, então volta para a CD. Não é permitida a “emenda da emenda”,
quando ele retorna novamente ao SF, deve ser aprovado ou rejeitado.

o Sistema unicameral, a deliberação é conjunta, ou seja, de 594 votos, a maioria


absoluta se dá em 298. Só existe uma hipótese dessa sessão, e já está exaurida.
ADCT art. 3º, revisão constitucional.

Até o advento da EC 76/2013, a Constituição previa expressamente o escrutínio secreto.


Após a EC 76/2013, a Constituição deixou de prever, por isso aplica-se a regra geral que é o
ESCRUTÍNIO ABERTO para a derrubada do veto.

Se o veto for derrubado, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da


República.

Não é possível retratação de veto (pelo Presidente) tampouco da derrubada de veto (pelo
Congresso). Com a sanção, o então Projeto de Lei é transformado em Lei, passando para a fase
complementar de promulgação e publicação.

FASE COMPLEMENTAR

Compreende a promulgação e a publicação da Lei.

o Promulgação: É o ato que atesta a existência válida da lei, conferindo-lhe


executoriedade.

o Publicação: Confere exigibilidade (obrigatoriedade) ao cumprimento da Lei.

O que ocorre se o presidente se nega a promulgar um PL nos casos de derrubada de veto


ou de sanção tácita? Caso o presidente não promulgue a lei em 48h da sanção tácita ou da
derrubada do veto, essa atribuição passa para o presidente do SF. Decorridas mais 48h, passa-se
a incumbência para o vice-presidente do SF.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 199


.
OBS: Nada impede que depois das 48h o presidente venha a promulgar (art. 66, §7º). Ele
não perde a sua atribuição.

Art. 66, § 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto


será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais
proposições, até sua votação final.
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado
a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente
do Senado fazê-lo.

8. MEDIDAS PROVISÓRIAS (MP’s)

INTRODUÇÃO

José Afonso da Silva critica veementemente a inclusão da medida provisória dentro do


processo legislativo, e o faz com razão. A medida provisória, a rigor, não é uma espécie normativa,
haja vista ser ato unipessoal do chefe do executivo, que prescinde do devido processo legislativo
para que comece a produzir efeitos. José Afonso afirma, inclusive, que no texto original da CF a
medida provisória não constava da enumeração do art. 59, tendo sido ali incluída por algum “gênio
ignorante, de mau gosto e abusado”.

A medida provisória da CF/88 substituiu o antigo Decreto-Lei das Constituições de 1967 e


EC 01/69. Sofreu grande influência, ainda, do Decreti-legge, previsto na Constituição Italiana de
1947.

Apesar das críticas, as MPs são importantes, haja vista a necessidade celeridade na
aprovação de atos normativos que muitas situações exigem.

CF Art. 62. Em caso de RELEVÂNCIA e URGÊNCIA, o Presidente da


República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

EFEITOS IMEDIATOS DA MEDIDA PROVISÓRIA

A medida provisória produz dois efeitos imediatos: efeito de natureza normativa e efeito de
natureza ritual (procedimental).

EFEITO DE NATUREZA NORMATIVA EFEITO DE NATUREZA RITUAL

Inovação no mundo jurídico, uma vez que a MP


Consiste na provocação do Congresso
possui força de lei desde a sua edição. Possui
Nacional para que promova o adequado
eficácia imediata.
procedimento de conversão da MP em lei.
Aqui, podemos apontar duas diferenças da
medida provisória (MP) para o decreto-lei (DL).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 200


.
MP DL

Produzia efeitos
Produz efeitos
depois de aprovado
imediatos
pelo legislativo

Não é aprovada
tacitamente Era aprovado pelo
(necessita de decurso de prazo
aprovação expressa)

PRAZO DA MEDIDA PROVISÓRIA

Antes da EC 32, o prazo da MP era de 30 dias e, segundo o STF, poderia ser reeditada
indefinidamente, desde que dentro desse prazo e desde que não tivesse sido rejeitada pelo
Congresso.

Convém lembrar que as MPs editadas antes da EC 32 ainda se submetem ao regime


anterior. Assim dispõe o art. 2º da EC 32: “As medidas provisórias editadas em data anterior à da
publicação desta emenda continuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue
explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional”. Ou seja, sequer precisam ser
reeditadas para que mantenham sua eficácia.

Além disso, antes da EC, o prazo de validade da MP não era suspenso no recesso,
diferentemente do que ocorre hoje, como veremos adiante. Sobre esse tema a Súmula 651 do STF:

STF SÚMULA 651 “A medida provisória não apreciada pelo Congresso


Nacional podia, até a emenda constitucional 32/2001, ser reeditada dentro do
seu prazo de eficácia de trinta dias, mantidos os efeitos de lei desde a
primeira edição”.

Depois da EC 32, houve uma profunda alteração. Hoje, REEDIÇÃO não é mais sinônimo de
PRORROGAÇÃO.

Atualmente, a MP tem prazo para apreciação de 60 dias, que é PRORROGADO,


AUTOMATICAMENTE, por mais 60 dias em caso de inércia do Congresso Nacional (art. 62, §7º).
O prazo começa com a publicação da MP.

Art. 62 § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12


perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo
de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período,
devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações
jurídicas delas decorrentes.
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida
provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso
Nacional.
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida
provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não
tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 201


.
Existe limite para a reedição de medidas provisórias pós EC 32? Não existe na CF qualquer
limitação quanto ao número de reedições. Entretanto, a CF veda que a reedição ocorra dentro da
mesma sessão legislativa em que a MP tenha sido rejeitada ou tenha perdido sua eficácia (art. 62,
§10). Percebe-se que na sistemática atual a MP é rejeitada pelo decurso de prazo.

Art. 62 § 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida


provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por
decurso de prazo.

Pode-se concluir, portanto, que a MP pode ser reeditada pelo Presidente tanto no caso de
rejeição tácita, como no caso de rejeição expressa do Congresso Nacional, desde que seja em outra
sessão legislativa.

OBS: Sessão legislativa ordinária é o período anual que se inicia em 02 de fevereiro, pausa para
recesso em 17 de julho, recomeça em 1º de agosto e vai até 22 de dezembro (havendo recesso,
suspende-se o prazo da MP).

MP editada em um ano pode ser reeditada no mesmo ano em que ela foi rejeitada? SIM!
Observe que a sessão não começa no dia 01/01, mas no dia 02/02. Assim, pode ocorrer de uma
MP ser rejeitada no dia 15/01/2021 (em sessão extraordinária) e ser reeditada em 15/02/2021, pois
a reedição, apesar de ocorrer no mesmo ano da rejeição, foi na sessão seguinte.

Lembrando: A PEC tem essa mesma vedação de repropositura na mesma sessão legislativa
(art. 60, §5º).

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa.

ATENÇÃO: Esse prazo de 60 dias não é contado durante os períodos de recesso


parlamentar, ao contrário do que ocorria antes da EC 32. Atualmente o prazo é suspenso, o que
permite que a MP possa ficar em vigor, sem aprovação, por muito mais de 120 dias (art. 62, §4º).

Art. 62 § 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da


medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do
Congresso Nacional.

Em relação às matérias constantes de projeto de lei rejeitado pelo CN, poderá o Presidente
veicular a mesma matéria por Medida Provisória? Não, pois violaria a regra do art. 67 e os princípios
da separação dos poderes e integridade da ordem democrática.

E em relação a MP que veicule matéria constante de outra MP anteriormente rejeitada pelo


CN? Ao que parece também não poderá o Presidente apresentar outra. Estaria novamente a violar
a regra do art. 67.

REGIME DE URGÊNCIA

Está previsto no art. 62, § 6º, da CF.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 202


.
Art. 62, § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco
dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência,
subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando
sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações
legislativas da Casa em que estiver tramitando.

Se a MP não for apreciada em 45 dias, entra no chamado regime de urgência (que também
existe no processo legislativo sumário – presidente pede urgência). Veja que o prazo é o mesmo,
45 dias.

O Regime de urgência implica no trancamento da pauta de votação da casa na qual a MP


estiver tramitando. Se o regime iniciar já na CD, quando a MP for para o Senado, já trancará de
imediato a pauta da casa.

Michel Temer (tentando mitigar o trancamento de pauta), à época em que era Presidente da
Câmara dos Deputados, afirmou que a MP só pode tratar de matérias residuais (matérias de lei
ordinária). As matérias residuais somente são analisadas em sessões ordinárias, que ocorrem de
terça a quinta. Quando a CF afirma que o regime de urgência da MP tranca a pauta, significa que
só tranca as sessões ordinárias. Nas sessões extraordinárias (segunda e sexta: PEC’s, Decretos
Legislativos, LC’s, resoluções) o Congresso ficaria com a pauta livre. Esse artifício visou evitar que
o Congresso fique limitado a tratar de MPs, tamanha a quantidade de MPs enviadas ao Congresso.

O STF, no MS 27.931/DF, concordou com o entendimento de Temer.

STF - MS 27.931/DF: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro


Celso de Mello (Relator), indeferiu o mandado de segurança e deu, ao § 6º
do art. 62 da Constituição, na redação resultante da EC 32/2001,
interpretação conforme à Constituição, para, sem redução de texto, restringir-
lhe a exegese, em ordem a que, afastada qualquer outra possibilidade
interpretativa, seja fixado entendimento de que o regime de urgência previsto
em tal dispositivo constitucional – que impõe o sobrestamento das
deliberações legislativas das Casas do Congresso Nacional – refere-se, tão
somente, àquelas matérias que se mostram passíveis de regramento por
medida provisória, excluídos, em consequência, do bloqueio imposto
pelo mencionado § 6º do art. 62 da Lei Fundamental, as propostas de
emenda à Constituição e os projetos de lei complementar, de decreto
legislativo, de resolução e, até mesmo, tratando-se de projetos de lei
ordinária, aqueles que veiculem temas pré-excluídos do âmbito de
incidência das medidas provisórias (CF, art. 62, § 1º, I, II e IV).

TRÂMITE DA MEDIDA PROVISÓRIA

Quando a MP é editada pelo Presidente e enviada ao Congresso, vai para uma Comissão
Mista do Congresso, que deverá emitir um parecer, apreciando seus aspectos constitucionais
(relevância e urgência) e de mérito (art. 62, §§ 5º e 9º).

Art. 62 § 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional


sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o
atendimento de seus pressupostos constitucionais.
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as
medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas,

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 203


.
em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso
Nacional.

Importante consignar que a atribuição da Comissão Mista não pode ser delegada para
membro por meio de resolução.

STF – ADI 4.029/DF: “As comissões mistas e a magnitude das funções das
mesmas no processo de conversão de medidas provisórias decorrem da
necessidade, imposta pela Constituição, de assegurar uma reflexão mais
detida sobre o ato normativo primário emanado pelo Executivo, evitando que
a apreciação pelo Plenário seja feita de maneira inopinada, percebendo-se,
assim, que o parecer desse colegiado representa, em vez de formalidade
desimportante, uma garantia de que o Legislativo fiscalize o exercício atípico
da função legiferante pelo Executivo. O art. 6º da Resolução 1 de 2002 do
Congresso Nacional, que permite a emissão do parecer por meio de relator
nomeado pela Comissão Mista, diretamente ao Plenário da Câmara dos
Deputados, é inconstitucional.”

Após o parecer, a MP vai para a Câmara dos Deputados (casa iniciadora). Na CD, é
encaminhada para a CCJ e depois é votada em plenário. Depois disso, segue para o Senado,
seguindo o mesmo trâmite (CCJ + Plenário).

Salienta-se que é possível que ocorra emenda na medida provisória, desde que guarde
pertinência logico-temática. Além disso, o quórum de votação será por maioria absoluta e o quórum
de aprovação por maioria relativa, como não há previsão expressa na Constituição, segue o
disposto no art. 47 da CF.

A MP, depois de convertida em Lei, precisa de sanção do Presidente? Depende. Se alguma


das casas fizer alteração ao conteúdo da MP, será imprescindível a sanção. Se não houver
alteração, a sanção é desnecessária, cabendo ao presidente do Congresso realizar a promulgação.

Art. 62 § 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original


da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja
sancionado ou vetado o projeto.

IMPORTANTE: Se a CD ou SN fizerem qualquer alteração na MP, é necessária a edição de


um Decreto-Legislativo, num prazo de 60 dias, regulamentando as relações jurídicas atingidas
durante o período de vigência da MP em sua redação original (art. 62, §3º). Esse Decreto Legislativo
também deve ser editado nos casos de rejeição ou perda da eficácia pelo decurso de tempo.

Art. 62 § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12


perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo
de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período,
devendo o Congresso Nacional disciplinar, por DECRETO LEGISLATIVO, as
relações jurídicas delas decorrentes.

Se o DL não for realizado em 60 dias (contados da alteração da MP, da rejeição ou da perda


de eficácia), valerá naquele período o que a MP estabeleceu (art. 62, §11). Até mesmo se o CN
considerar inconstitucional a MP.

Art. 62, § 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até
sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 204


.
relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua
vigência conservar-se-ão por ela regidas.

REVOGAÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA

A partir do momento em que o a MP é enviada ao CN, deixa de pertencer ao Executivo e


passa a pertencer ao legislativo. Por conta disso, não poderá mais o presidente dela dispor. No
entanto, existe uma possibilidade de o executivo suspender a eficácia da MP, basta o presidente
editar nova MP revogando aquela que ele não mais quer ver ser apreciado.

OBS: Com efeito, a MP não revoga nenhuma norma, mas apenas suspende a eficácia, tendo em
vista sua precariedade. Somente depois da conversão ocorre a revogação.

Nesse caso, o que cabe ao Congresso fazer? Qual MP deve ser analisada em primeiro
lugar? A segunda MP, a revogadora. Se aprovada, a anterior fica definitivamente revogada. Se
rejeitada a segunda MP, a primeira voltará a produzir efeitos, pelo período que ainda lhe restava.
Ou seja, entre a edição da segunda MP e a sua rejeição, a primeira fica com sua eficácia suspensa.

Uma MP pode revogar uma lei? NÃO, pois são atos emanados de autoridades diferentes,
atos de densidades diferentes.

O que ocorre então? A MP suspende a eficácia da lei, tal como uma medida cautelar em ADI
suspende o ato impugnado. Importância prática: Efeito repristinatório tácito. Se a MP suspensiva
for rejeitada ou perder sua eficácia, a lei suspensa volta, automaticamente, a produzir efeitos. É o
mesmo que foi estudado na cautelar em ADI ou decisão de mérito em ADI (quando a lei revogadora
é declarada inconstitucional).

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS

Como já mencionado, toda medida provisória possui a relevância e a urgência como


pressupostos constitucionais, referem-se ao seu aspecto formal. Além disso, a medida provisória
possui um aspecto material que está relacionado à compatibilidade do seu conteúdo com as normas
constitucionais.

8.7.1. Aspectos formais

Quanto ao controle de constitucionalidade dos aspectos formais da medida provisória, os


requisitos constitucionais (relevância e urgência) devem ser analisados, ordinariamente, pelo Poder
Executivo e pelo Poder Legislativo, quando da edição da MP (até porque são requisitos políticos).
No entanto, quando a inconstitucionalidade for FLAGRANTE e OBJETIVA (‘inconstitucionalidade
chapada’) o Poder Judiciário poderá declará-la. Portanto, excepcionalmente, podem ser analisados
os pressupostos constitucionais.

Cita-se, como exemplo, a ADI 1753, em que se questionou a edição de uma medida
provisória que aumentava o prazo da ação rescisória para a Fazenda Pública. O STF deferiu
cautelar suspendendo a MP pela falta de urgência (veja que foi antes da EC 32/01, quando não
havia restrição ainda quanto ao processo para MP).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 205


.
STF - ADI 1.753 MC/DF: 1. Medida provisória: excepcionalidade da
censura jurisdicional da ausência dos pressupostos de relevância e
urgência à sua edição: raia, no entanto, pela irrisão a afirmação de urgência
para as alterações questionadas à disciplina legal da ação rescisória, quando
segundo a doutrina e a jurisprudência, sua aplicação à rescisão de sentenças
já transitadas em julgado, quanto a uma delas – a criação de novo caso de
rescindibilidade – é pacificamente inadmissível e quanto à outra – a
ampliação do prazo de decadência – é pelo menos duvidosa.”

8.7.2. Aspectos materiais

Quanto à análise material, o Poder Judiciário pode analisar o conteúdo da MP em face da


CF. Além dessa análise, terá que observar também as limitações materiais que são impostos à MP
(art. 62, §§1º e 2º).

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá


adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional.
1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou
qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos,
exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no
exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia
daquele em que foi editada.

Compatibilidade de conteúdo

Imagine, por exemplo, que uma medida provisória tenha sido objeto de ADI por ser
incompatível com as normas da Constituição (aspecto material), já que trata de uma matéria
reservada à Lei Complementar. Obviamente, o mérito da ADI não será julgado antes de terminar o
prazo de aprovação da MP.

o Se a MP for rejeitada ou alterada na matéria questionada, o que ocorre com a ADI?


Como a finalidade do controle abstrato é assegurar a Supremacia da Constituição,
A MP rejeitada, que foi retirada do mundo jurídico, não mais ameaça a CF. Logo, a
ADI é extinta por perda do objeto.

o Se a MP (que trata de matéria de LC) for convertida em LC (com quórum qualificado)


o que ocorre com a ADI? Deverá ocorrer o aditamento da petição inicial da ADI,

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 206


.
tendo prosseguimento. A conversão da MP em lei não convalida os vícios
originários da MP.

LIMITES MATERIAIS

Consistem nos temas que não podem ser regulamentados por medida provisória, estão
previstos no art. 62, §1º, da CF.

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá


adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou
qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

Antes da EC 32/2001, não havia qualquer limitação sobre os temas que podiam ser tratados
por medida provisória. Contudo, a doutrina e a jurisprudência emanaram o entendimento de que a
MP não poderia tratar de norma penal incriminadora.

Indaga-se: MP pode regulamentar matéria de direitos fundamentais? Existem alguns direitos


que têm vedação expressa de tratamento por medida provisória, é o caso dos diretos de
nacionalidade e políticos. Entretanto, em relação aos direitos individuais e direitos sociais não há
vedação, portanto, podem ser tratados por medida provisória.

Com a EC 32/2001, nem mesmo normas penais benéficas ao acusado podem ser tratadas
por medida provisória. Importante salientar que o saudoso Professor Luís Flávio Gomes defendia
que o STF, ao analisar a prorrogação do prazo do Estatuto do Desarmamento por medida provisória,
não declarou a inconstitucionalidade. Assim, LFG defendia que o STF admitia a medida provisória
poderia tratar de matéria penal não incriminadora (é entendimento minoritário).

A proibição de medida provisória para o tratamento de organização do Poder Judiciário e do


Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros, visa evitar que o Presidente da
República faça coação ou até mesmo faça agrados, comprometendo a imparcialidade de tais
órgãos.

Medida provisória não pode trata de planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento
e créditos adicionais e suplementares, salvo nos casos de abertura de extraordinários para atender
despesas imprevisíveis e urgentes (guerra, comoção interna, calamidade pública). É o que ocorreu
com a pandemia do Covid-19.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 207


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STF – ADI 4.048 MC/DF: “Além dos requisitos de relevância e urgência (art.
62), a Constituição exige que a abertura do crédito extraordinário seja feita
apenas para atender a despesas imprevisíveis e urgentes. Ao contrário do
que ocorre em relação aos requisitos de relevância e urgência (art. 62), que
se submetem a uma ampla margem de discricionariedade por parte do
Presidente da República, os requisitos de imprevisibilidade e urgência (art.
167, § 3º) recebem densificação normativa da Constituição. Os conteúdos
semânticos das expressões "guerra", "comoção interna" e "calamidade
pública" constituem vetores para a interpretação/aplicação do art. 167, § 3º
c/c o art. 62, § 1º, inciso I, alínea "d", da Constituição. "Guerra", "comoção
interna" e "calamidade pública" são conceitos que representam realidades ou
situações fáticas de extrema gravidade e de consequências imprevisíveis
para a ordem pública e a paz social, e que dessa forma requerem, com a
devida urgência, a adoção de medidas singulares e extraordinárias.”

A vedação do tratamento de MP que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança


popular ou qualquer outro ativo financeiro, ocorreu em razão das medidas adotadas pelo ex-
Presidente Collor.

Com a EC 32, ficou expressamente previsto que a MP não pode tratar de matéria de lei
complementar (matéria ‘reservada’ pela constituição, contrário da lei ordinária que é matéria
residual). Também não pode tratar de matéria reservada, ou seja. matérias de iniciativa exclusiva
do poder judiciário, do MP, do Congresso etc.

Além disso, matéria já disciplinada em projeto de lei pendente de sanção/veto, não pode ser
objeto de medida provisória.

Pode MP criar ou majorar impostos? Observe a redação do §2º, do art. 62 da CF:

Art. 62, § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de


IMPOSTOS, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só
produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida
em lei até o último dia daquele em que foi editada.(Incluído pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001)

Portanto, é possível que a medida provisória trata sobre a instituição e a majoração de


impostos, devendo respeitar o princípio da anterioridade. Podemos dividir o tratamento da matéria
em três níveis distintos:

• Impostos extrafiscais e extraordinários: II, IE, IPI, IOF, IEG. Nesses impostos, a MP produz
efeitos imediatos, porquanto são impostos que não se submetem ao princípio da
anterioridade (vigência imediata - mitigações à anterioridade, salvo o IPI, que obedece à
noventena).

• Demais impostos (que se sujeitam à anterioridade): A medida provisória atua como se fosse
um mero projeto de lei (Hugo de Brito Machado). Por quê? Pois só produzirá efeitos no
exercício financeiro seguinte àquele em que foi convertida em lei. A MP, em si, não produz
nenhum efeito (art. 62, §2º).

• Demais tributos diferentes dos impostos: a publicação de MP tem efeito de lei, marcando o
prazo inicial para a contagem da anterioridade.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 208


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MEDIDA PROVISÓRIA NOS ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS

O art. 62 da CF menciona que o presidente pode editar medida provisória. Por outro lado, a
Constituição não faz menção ao Chefe do Poder Executivo (‘lato sensu’). Em razão da redação
restritiva, surge a questão: poderia o governador e o prefeito editarem medidas provisórias?

Como a medida provisória faz parte do processo legislativo, e como este obedece ao
princípio da simetria (suas regras são normas de observância obrigatória), entende-se que as
Constituições Estaduais podem ofertar ao governador competência para editar MP (ex.: CE/SC,
CE/TO, CE/AC, CE/PI). Porém, para que a norma estadual seja válida, o modelo estabelecido pela
CF deve ser observado (requisitos, trâmite etc.), pois, repita-se, são normas de observância
obrigatória.

Além do Princípio da Simetria, utiliza-se como fundamento o art. 25, §2º da CF. Observe:

Art. 25§ 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão,


os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de
medida provisória para a sua regulamentação.

Nesse dispositivo fica claro que o constituinte previu a possibilidade de medida provisória
estadual, já que a competência para tratar sobre os serviços de gás canalizado é dos Estados. Se
a vedação do dispositivo fosse para o presidente não teria nenhuma lógica, visto que essa matéria
é de competência dos Estados.

É pacífico no STF a possibilidade de edição de medida provisória em âmbito estadual. Nesse


sentido:

STF – ADI 2.391/SC: 2. No julgamento da ADI 425 (...), o Plenário desta Corte
já havia reconhecido, por ampla maioria, a constitucionalidade da instituição
de medida provisória estadual, desde que, primeiro, esse instrumento
esteja expressamente previsto na Constituição do Estado e, segundo,
sejam observados os princípios e as limitações impostas pelo modelo
adotado pela Constituição Federal, tendo em vista a necessidade da
observância simétrica do processo legislativo federal. (...). 3.
Entendimento reforçado pela significativa indicação na Constituição Federal,
quanto a essa possibilidade, no capítulo referente à organização e à regência
dos Estados, da competência desses entes da Federação para "explorar
diretamente, ou mediante concessão, os serviços locai s de gás canalizado,
na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação" (art. 25, § 2º). 4. Ação direta cujo pedido formulado se julga
improcedente. (ADI 2391, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno,
julgado em 16/08/2006, DJ 16-03-2007 PP-00020 EMENT VOL-02268-02
PP-00164 RDDT n. 140, 2007, p. 233-234).

A doutrina diverge acerca da possibilidade de medida provisória em âmbito municipal, ainda


não há jurisprudência do STF sobre o assunto.

1ª C (minoritário) – é possível a edição de medida provisória pelo Prefeito, mesmo sem


previsão na lei orgânica do município;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 209


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2ª C – havendo previsão na lei orgânica municipal, mesmo que não haja previsão na
Constituição Estadual para o Governador, o prefeito poderá editar medida provisória;

3ª C – havendo previsão na Constituição do Estado para a edição de medida provisória pelo


Governador, a lei orgânica municipal poderá prever que o Prefeito do Município edite medida
provisória. É a posição mais adequada, tendo em vista que a lei orgânica municipal deve estar de
acordo com a Constituição Federal, mas também com a Constituição do Estado, é o que a doutrina
chama de dupla simetria. .

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:[...]

9. LEIS DELEGADAS

CONCEITO

Trata-se de ato normativo primário elaborado pelo Presidente da República, após delegação
externa corporis do Congresso Nacional. Perceba que há a delegação de uma função típica (função
de legislar) do Poder Legislativo ao Presidente da República, é uma exceção ao Princípio da
Indelegabilidade das atribuições.

A Lei Delegada não foi criada pela CF/88, já existia desde antes. Até o momento, conforme
cita Novelino, foram editadas apenas 13, sendo que na vigência da CF/88 tivemos apenas duas.
Isso ocorre porque o Presidente da República pode editar medidas provisórias.

PROCESSO LEGISLATIVO DE LEIS DELEGADAS

1º - Iniciativa solicitadora do Presidente da República. Importante salientar que apenas o PR


pode solicitar, trata-se de uma iniciativa exclusiva e discricionária (não é obrigado a solicitar). Deve
indicar o assunto que será abordado na Lei Delegada.

2º - Após a solicitação, o Congresso Nacional irá decidir, por meio de votação, se haverá ou
não a delegação. A Constituição não prevê quorum específico, portanto, aplica-se a regra geral do
art. 47, da CF que exige maioria absoluta (mais da metade da casa) para a votação e maioria relativa
para a aprovação. Lembrando que a sessão será bicameral, tanto na Câmara quanto no Senado.

Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de


cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros.

3º - Instrumento da delegação será uma Resolução que irá especificar o conteúdo e os


termos do exercício (limitações) da Lei Delegada.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 210


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Art. 68, § 2º - A delegação ao Presidente da República terá a forma de
RESOLUÇÃO do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os
termos de seu exercício.

Salienta-se que a delegação ocorre apenas para uma legislatura, não poderá ser delegada
para legislatura seguinte.

Caso o Presidente da República exorbite os limites da Resolução, o Congresso poderá editar


um decreto legislativo, com efeito ex nunc (a partir da sua publicação), que irá suspender a parte
da lei delegada que infringiu os limites da delegação.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

ESPÉCIES DE DELEGAÇÃO

TÍPICAS ou PRÓPRIA ATÍPICAS

Ocorre o retorno do projeto legislativo para ser


apreciado em votação única pelo CN. O
Após delegar, o CN não tem nenhum tipo de legislativo não pode fazer emenda, ou aprova
controle sobre o ato. todo projeto ou rejeita todo projeto (art. 68,
§3º).
Todo o restante se passa dentro do poder
executivo. Neste caso, não há sanção presidencial, isto
porque se o CN não pode emendar, não há
razão para exigir sanção.

Art.68 § 3º - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo


Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.

LIMITAÇÕES MATERIAIS

As restrições às leis delegadas são quase as mesmas das MP’s, pois são matérias que o
Presidente não pode tratar.

Art. 68 § 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência


exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 211


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DE ACORDO COM A
MP LEI DELEGADA
CF...
Matéria reservada à LC
Poder Judiciário, Ministério Público
Nacionalidade
Cidadania
Direito Penal x
Direito Processual Penal x
Direito Processual Civil x
Detenção/Sequestro de bens. x
NÃO PODE TRATAR
Já disciplinada pelo CN pendente
x
de sanção ou veto.
x Direitos Individuais*
Direitos Políticos
Partidos Políticos
Direitos Eleitorais
Planos Plurianuais
Diretrizes orçamentárias/orçamentos.
Direitos individuais* x
PODE TRATAR
Direitos Sociais

Perceba que a medida provisória pode tratar tanto de direitos individuais como direitos
sociais, eis que não há vedação. A Lei delegada não pode tratar de direitos individuais, mas apenas
de direitos sociais.

10. DECRETO LEGISLATIVO x RESOLUÇÕES

O decreto legislativo é uma das espécies normativas do art. 59 e trata-se de um instrumento


normativo através do qual são materializadas as competências EXCLUSIVAS do Congresso
Nacional, previstas nos incisos I a XVII do art. 49 da CF. As regras do seu procedimento estão
previstas nos regimentos internos das casas ou do Congresso. Além das matérias do art. 49, o CN
regulamentará por decreto legislativo os efeitos decorrentes da medida provisória não convertida
em lei.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a
permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele
permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei
complementar;
III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem
do País, quando a ausência exceder a quinze dias;
IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de
sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 212


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V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
VI - mudar temporariamente sua sede;
VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores,
observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, §
2º, I;
VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e
dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º,
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e
apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos
do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;
XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da
atribuição normativa dos outros Poderes;
XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras
de rádio e televisão;
XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;
XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades
nucleares;
XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;
XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com
área superior a dois mil e quinhentos hectares.

Por meio de resolução regulamentar-se-ão as matérias de competência PRIVATIVA da CD


(art. 51) e do SF (art. 52). Os regimentos internos determinam as regras sobre o processo legislativo.

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:


I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo
contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de
Estado;
II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não
apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a
abertura da sessão legislativa;
III - elaborar seu regimento interno;
IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços,
e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os
parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 213


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Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza conexos com aqueles;
II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros
do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos
crimes de responsabilidade;
III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha
de:
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da
República;
c) Governador de Território;
d) Presidente e diretores do banco central;
e) Procurador-Geral da República;
f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão secreta,
a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;
V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o
montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios;
VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito
externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
de suas autarquias e demais entidades controladas pelo Poder Público
federal;
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União
em operações de crédito externo e interno;
IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida
mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício,
do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;
XII - elaborar seu regimento interno;
XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços,
e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os
parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.
XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional,
em sua estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações
tributárias da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como
Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que
somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda
do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública,
sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 214


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A única hipótese de previsão constitucional EXPRESSA de resolução se dá no art. 68, §2º


pelo qual o CN delegará competência ao PR para elaborar lei delegada.

Art. 68, § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de


resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos
de seu exercício.

Em nenhum dos casos há manifestação presidencial, sancionando ou vetando o projeto de


resolução (art. 48), eis que tratam de competências exclusivas/privativas.

Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da


República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52,
dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente
sobre: [...]

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 215


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PODER EXECUTIVO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O poder executivo tem como funções típicas a prática de atos de chefia de Estado, atos de
chefia de governo e atos de administração da coisa pública, aplicando a lei ao caso concreto.

No Brasil, a função executiva é exercida pelo Presidente da República, auxiliado pelos


Ministros de Estado (art. 76 da CF). Como é apenas uma única autoridade que exerce o poder, dá-
se o nome de executivo monocrático. Trata-se da forma de exercício do poder executivo comum
aos países que adotam o sistema de governo presidencialista.

Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado


pelos Ministros de Estado.

Já nos países que adotam o sistema parlamentarista, o poder é chamado de executivo


dual, porquanto é exercido por duas ou mais autoridades, como veremos no tópico seguinte.

O poder executivo compreende dois elementos:

• Elemento objetivo: abstrato, institucional e contínuo, referente ao complexo de atribuições


e faculdades do presidente, monarca ou primeiro-ministro.

• Elementos subjetivo: as pessoas, os órgãos que compõe o poder executivo.

2. SISTEMAS OU REGIMES DE GOVERNO

Falar sobre sistema de governo é responder a seguinte indagação: De que maneira se


relaciona o executivo e o legislativo? Ou ainda: O executivo depende, politicamente, do legislativo?

Segundo Dirley da Cunha Jr., são fórmulas concebidas para identificar o grau de
dependência no relacionamento entre os Poderes Executivo e Legislativo no exercício das funções
governamentais.

1) “De assembleia”;

2) Parlamentarismo;

3) Presidencialismo.

SISTEMA DE “ASSEMBLEIA”

É um sistema pouco referido nos manuais.

Há uma comissão interna corporis no legislativo encarregada das funções de governo, bem
como uma absorção quase que completa do executivo pelo legislativo. Uma comissão decide e a
outra executa.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 216


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PARLAMENTARISMO

“O rei reina, mas não governa”.

A soberania do parlamento é uma ideia que vai influenciar o constitucionalismo americano.


Isto porque lá, devido ao abuso do parlamento, surge o sentimento de limitação também do poder
do legislativo, esse controle será feito através do judiciário e do controle de constitucionalidade (uma
das premissas do constitucionalismo).

As funções de CHEFE DE ESTADO e CHEFE DE GOVERNO não se reúnem numa mesma


pessoa.

Aqui há uma interpenetração: executivo e legislativo. O executivo é exercido pelo primeiro-


ministro (chefe de governo) e pelo presidente/monarca (chefe de estado). O legislativo é pelo
parlamento que fiscaliza o primeiro-ministro e responde perante o eleitor. O chefe de governo é
vinculado ao programa de governo aprovado pelo parlamento. O parlamento deve confiar no chefe
de governo, ele é dependente do parlamento.

1) Parlamentarismo monárquico constitucional

- Chefe de Estado = Rei.

- Chefe de governo = Primeiro-Ministro.

Exemplos: Inglaterra, Espanha.

2) Parlamentarismo republicano

Chefe de Estado = Presidente.

Chefe de Governo = Primeiro-Ministro.

Exemplos: Itália, Alemanha, Portugal.

O que é sistema legicêntrico? É o sistema adotado por determinado estado que coloca o
poder legislativo como principal, como expoente dos poderes do Estado.

PRESIDENCIALISMO

Uma única autoridade desempenha a Função executiva (órgão executivo monocrático), ou


seja, exerce tanto a chefia de Estado quanto à chefia de Governo (art. 76 da CF).

Alguns autores entendem que cabe a este a função também de chefia da administração
pública federal isso porque pela repartição vertical (visão do federalismo) a chefia da administração
estadual e municipal caberia respectivamente aos governadores e prefeitos.

Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado


pelos Ministros de Estado.

Chefe de Estado: No exercício da função de chefe de Estado, o presidente, externamente,


representa a República Federativa do Brasil nas relações internacionais, bem como,
internamente, defende a unidade nacional, o pacto federativo (CF, art. 84, VII, VIII, IX).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 217


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Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus
representantes diplomáticos;
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo
do Congresso Nacional;
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;

Chefe de Governo: No exercício da função de chefe de governo, o presidente exerce a chefia


superior da Administração Pública Federal, além de praticar atos de natureza política, como a
edição de Medidas Provisórias.

O presidencialismo nasce concentrando a função de chefe de governo e chefe de estado.


Modelo meritocrático, eletivo e temporário.

Aqui o executivo é independente, o programa de governo é apenas referencial e não


vinculante, como no parlamentarismo (neste último, se o primeiro-ministro não cumpre o programa
de governo - corresponsabilidade do parlamento, é destituído, através da moção de
desconfiança).

O que é a hipostasiação do executivo brasileiro? É um traço caracterizador do


presidencialismo brasileiro atual. O cidadão espera do executivo algo que ele não pode dar. É a
hipertrofia das expectativas acerca do executivo.

PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO

A expressão “presidencialismo de coalisão” foi criada por Sérgio Abranges, identifica o


problema de governabilidade existente no Brasil. Isto corre porque, no Brasil, são necessárias
alianças entre os partidos políticos para formar maioria que dê suporte ao Governo, em razão do
da grande variedade de partidos existentes (multipartidarismo).

A EC 97/2017 foi editada com a intenção de diminuir o número de partidos políticos,


instituindo a cláusula de barreira.

3. REQUISITOS PARA SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Os requisitos que veremos abaixo também se aplicam ao Vice-Presidente.

1º Ser brasileiro nato (art. 12, §3º - cargos privativos de brasileiros natos), em razão da
segurança jurídica.

Art. 12
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
[....]
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

2º Idade mínima: 35 anos (art. 14, §3º - condição de elegibilidade)

Art. 14.
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 218


.
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
Senador;

Não existe idade máxima.

Aos 35 anos o cidadão atinge a capacidade política absoluta, significa que pode exercer
qualquer cargo na república.

3º Filiação partidária

No Brasil a filiação partidária é uma condição de elegibilidade (art. 14, §3º). Não existem
candidaturas avulsas, independentes, como pode ocorrer nos EUA e Portugal.

Art. 14
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
[...]
V - a filiação partidária;

4º Plenitude do exercício dos direitos políticos

Significa não incorrer em nenhuma das causas de perda ou suspensão dos direitos políticos
previstas no art. 15 da CF.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

5º Não ser inelegível (art. 14, §7º), ou seja, inalistável (estrangeiros e conscritos) ou
analfabeto.

Art. 14
§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o
período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
§ 4º - São INELEGÍVEIS os inalistáveis (estrangeiros e conscritos acima) e
os analfabetos.
§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.

4. ELEIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 219


.
O presidente e o vice são eleitos conjuntamente, ou seja, ao votar no candidato a presidente,
automaticamente, o vice com ele registrado está sendo votado (foi uma novidade da CF/88).

Na CF/46 o eleitor poderia votar no candidato a presidente de uma chapa e no candidato à


vice de outra. Exemplo: Jango foi vice de JK e na eleição seguinte foi eleito vice de Jânio Quadros.
Pela CF/46, o vice-presidente era automaticamente presidente do Senado Federal, tendo direito à
voz, mas sem direito a voto.

Obs.: o presidente e o vice são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário. A CF prevê também o
sistema eleitoral proporcional.

No sistema majoritário dá-se importância ao voto ofertado ao candidato registrado por


partido político. A CF exige que o candidato eleito alcance ao menos a MAIORIA ABSOLUTA de
votos válidos. Se, em um primeiro turno de votação nenhum candidato atingir essa maioria, será
necessária a realização de um segundo turno de votação, com a participação dos dois candidatos
mais votados no primeiro turno, sendo eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.

Esse sistema é adotado nas seguintes eleições: PRESIDENTE, GOVERNADORES e


PREFEITOS de municípios COM MAIS de 200mil eleitores.

Fundamento da maioria absoluta: Garantia de legitimidade ao eleito, ou seja, garantir que o


eleito tenha apoio de, no mínimo, a maioria absoluta dos eleitores.

Votos válidos: São todos os votos ofertados, subtraindo-se os votos em branco e os nulos
(art. 77, §2º da CF).

Art. 77, § 2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado


por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os
em branco e os nulos.

1º turno: Primeiro domingo de outubro.

2º turno: Último domingo de outubro (art. 77, caput).

Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-


se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno,
e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior
ao do término do mandato presidencial vigente
§ 3º - Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação,
far-se-á nova eleição em até vinte dias (cuidado à não é 20 dias depois, é no
último domingo. Erro: pressa para aprovação da emenda) após a
proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e
considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.
§ 4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou
impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o
de maior votação.

O sistema majoritário pode ser do tipo simples (sem segundo turno de votação), será eleito
o candidato que alcançar maioria simples de votos. É adotado nas eleições para SENADORES e
PREFEITOS de municípios COM MENOS de 200mil eleitores.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 220


.
No sistema proporcional valoriza-se o partido político em detrimento do candidato. Assim,
nem sempre o candidato mais votado será eleito. Nesse sistema, é possível o chamado voto de
legenda. É adotado para deputados estaduais, deputados federais e vereadores.

Por esse sistema, o total de votos válidos é dividido pelo número de vagas em disputa. O
resultado é o QUOCIENTE ELEITORAL, ou o número de votos correspondentes a cada cadeira.
Ao dividir o total de votos de um partido pelo quociente eleitoral, chega-se ao QUOCIENTE
PARTIDÁRIO, que é o número de vagas que ele obteve.

Se o quociente partidário der 6,5, por exemplo, significa que aquele partido elegeu seis de
seus candidatos - os mais votados. Uma nova conta é feita das frações de cada partido até que
todas as cadeiras sejam distribuídas. O sistema proporcional privilegia o partido, e não o candidato.
Por isso, é comum ocorrer de candidatos serem eleitos com menos votos que outros que ficam de
fora.

Os deputados federais representam a população de cada estado no Congresso, mas a


Constituição limita o número de representantes por unidade da federação em no mínimo oito e no
máximo 70. Dessa forma, não há uma verdadeira proporcionalidade.

5. POSSE DO PRESIDENTE

Tomam posse em sessão conjunta do Congresso Nacional, no dia 1º de janeiro do ano


seguinte ao pleito eleitoral. Nessa cerimônia, os eleitos se comprometem a fielmente obedecer a
Constituição (perante o antigo parlamento, pois a posse do novo é depois). A violação deste
compromisso possui uma consequência jurídica, qual seja, a prática de crime de responsabilidade
(art. 85 da CF).

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República


que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
...
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente,
salvo motivo de força maior, não tiverem assumido o cargo, este será declarado vago (CF, art. 78,
parágrafo único). Ou seja, até o dia 11 de janeiro pelo menos um dos dois deve tomar posse, sob
pena se vacância dos cargos, caso no qual serão convocadas novas eleições no prazo de 90 dias
da vacância.

Art. 78
Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o
Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver
assumido o cargo, este será declarado vago.

Quem declara os cargos vagos? O Congresso Nacional, pois se trata de questão política.

Obs.: há regramento infraconstitucional sobre a posse do presidente é o regimento do Congresso


Nacional. Já foi perguntado em concurso.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 221


.
Questão histórica - 1985 - Sarney, então eleito vice-presidente, assume a presidência
sozinho, pois Tancredo Neves estava hospitalizado. Posteriormente, Tancredo morre, sem ter
assumido o cargo em nenhum momento, fazendo com que Sarney se tornasse presidente em
definitivo. Há quem defenda que a posse de Sarney foi inconstitucional, a luz da CF/69.

6. SUCESSÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Sucessão é gênero, do qual extraímos DUAS ESPÉCIES (art. 79, caput):

• Sucessão em sentido restrito: Ocorre nos casos de vacância (vaga), que é definitiva.
Exemplos: morte, renúncia, condenação pela prática de crime de responsabilidade e
incapacidade absoluta superveniente;

• Substituição: Ocorre nos casos de impedimento, que é temporário. Exemplo: Viagem, férias,
licença para tratamento de saúde.

Art. 79. SUBSTITUIRÁ o Presidente, no caso de impedimento, e SUCEDER-


LHE-Á, no de vaga, o Vice-Presidente.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições
que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre
que por ele convocado para missões especiais.

SUBSTITUIÇÃO SUCESSÃO
Caráter temporário Caráter definitivo
Situação de fato ou de direito que obsta Ato ou fato jurídico que leva a extinção do
exercício do cargo mandato
Situação subjetiva do titular do cargo Estado ou situação do cargo
Casos licença, doença, férias e suspensão Hipóteses: cassação, renúncia, morte e
(art. 86, §1º da CF) arbitrária desfiliação partidária - vacância.

São SUBSTITUTOS do Presidente da República, pela ordem:

1. Vice-presidente;

2. Presidente da Câmara;

3. Presidente do Senado;

4. Presidente do STF.

Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou


vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao
exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do
Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.

Por que o presidente da Câmara vem antes do presidente do Senado? Porque na Câmara
estão os representantes do povo (art. 45), logo há uma maior legitimidade popular.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 222


.
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo,
eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no
Distrito Federal.

Perceber que na linha sucessória do presidente, somente consta brasileiros natos, conforme
o art. 12, §3º da CF:

Art. 12
§ 3º - São privativos de brasileiro NATO os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas. (naturalizado pode ser das forças
armadas? Sim, apenas não pode ser do oficialato).
VII - de Ministro de Estado da Defesa

Salienta-se que os substitutos do Presidente da República não podem figurar como réu em
ação penal, decorrente do art. 86, §1º da CF.

Art. 86, § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:


I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo
Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo
Senado Federal.

STF – ADPF 402 MC-Ref/DF: Os substitutos eventuais do Presidente da


República [...] ficarão unicamente impossibilitados de exercer, em
caráter interino, a Chefia do Poder Executivo da União, caso ostentem a
posição de réus criminais, condição que assumem somente após o
recebimento judicial da denúncia ou da queixa-crime (CF, art. 86, § 1º, I).
Essa interdição, contudo, não os impede de desempenhar a Chefia que
titularizam no órgão de Poder que dirigem, razão pela qual não se legitima
qualquer decisão que importe em afastamento imediato de tal posição
funcional em seu órgão de origem.

REGRA: Só o vice-presidente pode SUCEDER (definitivamente); os demais podem apenas


SUBSTITUIR (temporariamente), são os chamados substitutos eventuais ou legais.

Se o vice sucede o presidente, ele se torna o titular. Se também vem a morrer, o presidente
da câmara assume, mas em caráter temporário, ou seja, em substituição, somente até que novas
eleições sejam realizadas e o novo presidente seja eleito (direta ou indiretamente). Art. 81 e
parágrafos CF.

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,


far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a
eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga,
pelo Congresso Nacional (eleição indireta), na forma da lei.
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus
antecessores.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 223


.

Obs.: o art. 81 da CF NÃO é norma de observância obrigatória pelos Estados e Municípios, que
possuem autonomia para tratar de maneira diversa.

STF – ADI 4.298 MC/TO: Reprodução do disposto no art. 81, § 1º, da CF.
Não obrigatoriedade. Exercício da autonomia do Estado-membro.
Liminar indeferida. Precedente. Em sede tutela antecipada em ação direta de
inconstitucionalidade, aparenta constitucionalidade a lei estadual que prevê
eleição pela Assembleia Legislativa, por votação nominal e aberta, para os
cargos de Governador e Vice -Governador, vagos nos dois últimos anos do
mandato.

A Lei 13.185/15 alterou a redação do art. 224, §4º da Código Eleitoral prevendo que no caso
de causas eleitorais (indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de
candidato eleito em pleito majoritário) a realização de eleição indireta será apenas quando ocorrer
vacância nos últimos seis meses do mandato, nos demais casos será feita eleição direta.

Em razão da diferença de tratamento, questionou-se a constitucionalidade do dispositivo. O


STF, em uma interpretação conforme a Constituição, entendeu que a previsão do Código Eleitoral
é válida nas causas eleitorais para Prefeitos e Governadores, mas não se aplica às hipóteses em
que a própria Constituição regulamenta (Presidente, Vice-Presidente e Senador).

STF – ADI 5.525/DF: O Plenário conferiu interpretação conforme a


Constituição ao § 4º do art. 224 do Código Eleitoral do mesmo artigo, de modo
a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos
de Presidente e Vice-Presidente da República, bem como no de Senador da
República.

IMPORTANTE: O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença


do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob a pena de
perda do cargo (CF, art. 83). A licença do CN é um ATO DISCRICIONÁRIO, não está obrigado a
dar.

Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem


licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a
quinze dias (não são dias úteis!), sob pena de perda do cargo.

O requerimento de licença ao CN é feito por meio de ofício do Presidente da República


dirigido ao presidente do CN, com as justificativas cabíveis. Logo, pode haver a conversão do pedido
em projeto de decreto legislativo (NÃO é resolução, as únicas hipóteses de resolução são no caso
de lei delegada e a declaração de inconstitucionalidade do art. 52, X) concedendo a licença ou não.

A disposição constitucional da licença é norma de repetição obrigatória, para prefeitos e


governadores? STF (ADI 3647) decidiu que é regra de reprodução obrigatória.

STF – ADI 3.647/MA: Constituição do Estado do Maranhão. Impedimento ou


afastamento de Governador ou Vice-Governador. Ofensa aos arts. 79 e 83
da CF. Impossibilidade de ‘acefalia’ no âmbito do Poder Executivo. Em
decorrência do princípio da simetria, a Constituição estadual deve
estabelecer sanção para o afastamento do Governador ou do Vice-
Governador do Estado sem a devida licença da Assembleia Legislativa.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 224


.
STF – ADI 738/GO: Afronta os princípios constitucionais da harmonia e
independência entre os Poderes e da liberdade de locomoção norma estadual
que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o governador e
o vice-governador possam ausentar-se do País por qualquer prazo. Espécie
de autorização que, segundo o modelo federal, somente se justifica quando
o afastamento exceder a quinze dias. Aplicação do princípio da simetria.”

7. ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O art. 84 da CF enumera as competências privativas do Presidente da República.

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da
administração federal; Cargo de chefe da administração federal.
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição; Função de CHEFE DE GOVERNO.
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos
e regulamentos para sua fiel execução; CHEFE DE GOVERNO
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus
representantes diplomáticos; CHEFE DE ESTADO
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo
do Congresso Nacional; CHEFE DE ESTADO
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; CHEFE DE GOVERNO
X - decretar e executar a intervenção federal; CHEFE DE GOVERNO
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por
ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e
solicitando as providências que julgar necessárias; CHEFE DE GOVERNO
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos
órgãos instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus
oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; CHEFE
DE GOVERNO
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo
Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios,
o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central
e outros servidores, quando determinado em lei;
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de
Contas da União; CHEFE DE ESTADO
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o
Advogado-Geral da União; CHEFE DE ESTADO
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89,
VII; CHEFE DE GOVERNO

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 225


.
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional; CHEFE DE GOVERNO
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo
Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das
sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou
parcialmente, a mobilização nacional;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
CHEFE DE ESTADO
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; CHEFE DE ESTADO
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de
diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta
Constituição;
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias
após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício
anterior;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições
mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de
Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União,
que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.

IV - SANCIONAR, PROMULGAR E FAZER PUBLICAR AS LEIS, BEM COMO EXPEDIR


DECRETOS E REGULAMENTOS PARA SUA FIEL EXECUÇÃO

Atos de natureza colegislativa do PR, são formas do exercício de CHEFIA DE GOVERNO.


Insere-se como instrumento de freios e contrapesos, visando limitar o poder.

Decretos e regulamentos são fontes normativas secundárias cujo fundamento de validade é


a lei (fonte normativa primária), à qual devem subordinação, razão pela qual em regra não podem
inovar o ordenamento jurídico, com exceção do decreto autônomo. Se o decreto exorbitar o poder
regulamentar inovando o ordenamento, poderá ser sustado pelo CN (art. 49, V) ou ter sua
ilegalidade declarada pelo Poder Judiciário.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

Já o DECRETO AUTÔNOMO é fundado diretamente na Constituição e, por isso, pode criar


direitos e obrigações. Uma vez autorizado pela Constituição teremos um ato normativo autônomo.

Exemplo de decreto autônomo: art. 84, VI CF, art. 225, §1º, III da CF.

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 226


.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
(Regulamento)

Tipos de decreto:

1) Decreto autônomo, acima explicado.

2) Decreto delegado ou autorizado pela lei: desenvolve a lei, podendo inovar na ordem
jurídica porque editado segundo autorização legislativa. Não possui espaço no Brasil, pois o nosso
ordenamento jurídico não se coaduna com autorizações legislativas puras ou incondicionadas de
nítido conteúdo renunciativo. STF ADI 3232.

3) Decreto comum ou de execução - a ele se refere o art. 84, IV da CF. Emana diretamente
da lei e não cria, altera ou extingue direitos, apenas fixa regras orgânicas e processuais destinadas
a colocar em execução os princípios institucionais estabelecidos por lei, ou para desenvolver os
preceitos constantes da lei expressos ou implícitos, dentro da órbita por eles circunscrita. O
Executivo está constitucionalmente autorizado (art. 84, IV) a expedir este tipo de decreto em relação
a todas as leis, independentemente de inserção nelas, de disposição expressa.

V - VETAR PROJETOS DE LEI, TOTAL OU PARCIALMENTE

Essa função colegislativa é fundamentada nos freios e contrapesos. O veto deve ser
motivado por conta de constitucionalidade ou contrariedade do interesse público. Deve ser proferido
em até 15 dias úteis.

Cuidado: art. 66, §1º. O veto parcial deve ser de artigo, inciso, parágrafo ou alínea inteira.

Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de
lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente
do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo,
de inciso ou de alínea.

8. MANDATO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 227


.
O presidente exerce mandato de 04 anos, com possibilidade de reeleição. A Constituição
divide o mandato de 04 anos em dois períodos:

Primeiros 02 anos (art. 81, caput): Se os cargos forem declarados vagos (vacância), o
presidente da câmara assume e convoca eleições DIRETAS, a ser realizada no prazo de 90 dias
da vacância do último cargo. Ou seja, o presidente da CD assume por 90 dias.

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,


far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.

Últimos 02 anos (art. 81, §1º): Se os cargos de presidente e vice forem declarados vagos,
temos eleições INDIRETAS em 30 dias. O presidente de câmara substitui (temporariedade) até a
realização da eleição indireta.

§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a


eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga,
pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus
antecessores.

Nessa eleição indireta teremos como candidatos: qualquer cidadão que preencha os
requisitos; e como eleitores: o Congresso Nacional.

Em ambos os casos de vacância, aqueles que forem eleitos (direta ou indiretamente) apenas
terminarão o mandato daqueles que desaparecerem (mandato-tampão), ou seja, não exercerão
quatro anos de mandato (art. 81, §2º). O mandato é tampão para que permaneça a coincidência
entre as eleições parlamentares e as eleições presidenciais.

Eleição direta X Eleição Indireta

Direta: O povo, titular do poder, escolhe sem qualquer intermediário os seus representantes.

Indireta: O povo escolhe o representante por meio de intermediários. O povo vota no


intermediário que escolhe o representante.

9. VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

São funções do Vice-presidente:

1) Substituir ou suceder o presidente;

2) Participar de missões especiais a mando do presidente. Ex: Festa do casamento do rei


da Eslovênia.

3) Realizar demais atribuições previstas em lei complementar (que não existe). Lei ordinária
NÃO pode ofertar atribuições ao vice, nos termos do art. 79, parágrafo único.

Art. 79, Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras


atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o
Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 228


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4) Compor o Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional (art. 89, I e art. 91, I).

Art. 89. O CONSELHO DA REPÚBLICA é órgão superior de consulta do


Presidente da República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;

Art. 91. O CONSELHO DE DEFESA NACIONAL é órgão de consulta do


Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania
nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como membros
natos:
I - o Vice-Presidente da República;

É possível que duas autoridades desempenhem atribuições de um mesmo cargo ao mesmo


instante? Do ponto de vista administrativo é bem estranho, mas ocorre. Por exemplo, o Presidente
assinando tratado no exterior e Vice-presidente editando MP, tudo ao mesmo tempo.

Há impedimento de que o vice-presidente exerça o cargo de ministro? Não há qualquer


impedimento na CF. Ocorre que se o vice-presidente vier a ter de substituir o presidente, deverá se
licenciar do cargo de ministro, pois este não é cumulável com o de presidente.

10. MINISTROS DE ESTADO

REQUISITOS

Estão previstos no art. 87 da CF.

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores


de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições
estabelecidas nesta Constituição e na lei: [...]

A idade mínima de 21 anos, para ser Ministro de Estado, não consta no art. 14 porque não
é um cargo eletivo.

Salvo o cargo de Ministro de Defesa, para os demais não há a exigência de ser brasileiro
nato.

Art. 12. São brasileiros:


§ 3º - São privativos de BRASILEIRO NATO os cargos:
VII - de Ministro de Estado da Defesa

Por fim, salienta-se que não há necessidade de aprovação pelo Senado Federal.

COMPETÊNCIA

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores


de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições
estabelecidas nesta Constituição e na lei:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 229


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I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades
da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e
decretos assinados pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no
Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou
delegadas pelo Presidente da República.

Referendar atos e decretos do Presidente, trata-se do referendo ministerial. É condição do


ato de validade do presidente? É pressuposto de validade? NÃO. No presidencialismo o referendo
não interfere na validade do ato do presidente, diferentemente do que ocorre no parlamentarismo,
em que atos do chefe do estado precisam ser referendados pelos ministros.

CRIAÇÃO DE CARGOS

Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da


administração pública.

Trata-se lei ordinária, de iniciativa privativa do PR art. 61, 1, II. Perceba que devido ao Art.
84, VI, o PR pode fazer por decreto (EC/32), o que de certa maneira atenua a exigência.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


VI - dispor, mediante decreto, sobre
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos

CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DE DEFESA NACIONAL

Art. 89. O CONSELHO DA REPÚBLICA é órgão SUPERIOR de consulta do


Presidente da República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade,
sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 230


.
Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de
três anos, vedada a recondução.

Exigem-se 06 cidadãos brasileiros NATOS, outra hipótese em que há diferenciação entre


natos e naturalizados.

Conselho da República: quais são as matérias em quais ele deve ser ouvido?

Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre:


I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;
II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.
§ 1º - O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para
participar da reunião do Conselho, quando constar da pauta questão
relacionada com o respectivo Ministério.

As normas constitucionais que tratam do conselho da república são autoaplicáveis? Não, o


dispositivo exige lei para regulamentação.

§ 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da


República.

A composição dos conselhos dos governos estaduais devem ser simétricos aos da
Presidência? SIM. O STF entende que deve observar o modelo constitucional.

Art. 91. O CONSELHO DE DEFESA NACIONAL é órgão de consulta do


Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania
nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como
membros natos:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - o Ministro da Justiça;
V - o Ministro de Estado da Defesa;(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 23, de 1999)
VI - o Ministro das Relações Exteriores;
VII - o Ministro do Planejamento.
VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.(Incluído
pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
§ 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos
termos desta Constituição;
II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da
intervenção federal;
III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à
segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente
na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração
dos recursos naturais de qualquer tipo;
IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas
necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado
democrático.
§ 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa
Nacional.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 231


.
Art. 1º, §1 da Lei 10683. Quais são os órgãos de ASSESSORAMENTO IMEDIATO do
Presidente da República?

Art. 1o A Presidência da República é constituída, essencialmente:


(...)
§ 1º Integram a Presidência da República, como órgãos de
ASSESSORAMENTO IMEDIATO ao Presidente da República:
I - o Conselho de Governo;
II - o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social;
III - o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional;
IV - o Conselho Nacional de Política Energética;
V - o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte;
VI - o Advogado-Geral da União;
VII - a Assessoria Especial do Presidente da República;

A banca vai confundir a composição do conselho da república com o conselho de defesa (é


uma norma não autoaplicável também).

11. CRIMES DE RESPONSABILIDADE

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Há várias responsabilidades dos membros do Poder Executivo definidas pela CF/88, a


exemplo dos crimes de responsabilidade política (crimes de responsabilidade em sentido estrito),
da responsabilidade civil e administrativa (improbidade administrativa), da responsabilidade fiscal,
da responsabilidade penal etc.

A responsabilidade política está ligada aos crimes de responsabilidade – infrações políticas


administrativas, cometidas por agentes políticos que violam um dever funcional grave,
constitucionalmente estabelecido, que podem levar à perda do cargo. Não confundir com a
responsabilidade penal.

A Constituição não tipifica os crimes de responsabilidade, as infrações político-


administrativas. Embora não tenham esse caráter penal, a sua semelhança, elas devem ser
tipificadas. A Constituição não traz esses tipos, indica situações em que esses tipos serão definidos
por leis especiais. Quais são as passagens? Art. 29-A, §2º (prefeito) e §3º (presidente da câmara
de vereadores); art. 50 caput e §2º (ministro de estado); art. 85 (presidente da república); art. 100,
§7º (presidente dos TJs); 167§1º (violação a princípios orçamentários); art. 60, XI, ADCT (chefes
do poder executivo e precatórios).

Em suma:

Crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por pessoas


que ocupam determinados cargos públicos. Caso o agente seja condenado por crime de
responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou multa), mas sim sanções político-
administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de função pública).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 232


.
DIPLOMAS NORMATIVOS QUE TIPIFICAM CRIMES DE RESPONSABILIDADES

Lei 1.079/50 - alterada pela Lei 10.028/2000 (crimes de responsabilidade do presidente,


Ministros de Estado, Ministros do STF, PGR, governadores, Secretários de estado).

DL 201/67 - Crimes de responsabilidade e infrações político-administrativas de prefeitos e


vice-prefeitos; cassação e extinção de mandato de vereador. Cuidado, a lei chama de CRIME DE
RESPONSABILIDADE algo que tem natureza penal, o que é crime de responsabilidade é o que a
lei chama de infração político-administrativa. Logo, não cabe HC, visto que não há ameaça ao direito
de locomoção do indivíduo (STF HC 70033)

Lei 7.106/86 - Crimes de responsabilidade do Governador do Distrito Federal, dos


Governadores dos Territórios Federais e seus respectivos Secretários.

SUJEITOS QUE PODEM PRATICAR CRIMES DE RESPONSABILIDADE E


COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO

• Presidente da República e Vice-presidente da República (art. 52, I)

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
CRIMES DE RESPONSABILIDADE, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza conexos com aqueles;

• Ministros de Estado e cargos equiparados (art. 50, caput e §2º; 52, I; 102, I, c)

Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas


Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de
órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para
prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente
determinado, importando CRIME DE RESPONSABILIDADE a ausência sem
justificação adequada.
§ 2º - As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão
encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a
qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo, importando em CRIME
DE RESPONSABILIDADE a recusa, ou o não - atendimento, no prazo de
trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.

• Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica (52, I; 102, I, c);

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
CRIMES DE RESPONSABILIDADE, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza CONEXOS com aqueles;

• Ministros do STF, Membros do CNJ e do CNMP, PGR e AGU (art. 52, II);

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 233


.
II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros
do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos
CRIMES DE RESPONSABILIDADE;

• Membros dos Tribunais Superiores; Membros do TCU; Membros de missão diplomática de


caráter permanente (102, I, c);

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
c) nas infrações penais comuns e nos CRIMES DE RESPONSABILIDADE,
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais
Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente;

• Presidentes de Tribunais (art. 100, §7º)

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,


Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de
pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para
este fim.
§ 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo ou omissivo,
retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios incorrerá em
CRIME DE RESPONSABILIDADE e responderá, também, perante o
Conselho Nacional de Justiça.

• Desembargadores dos TJEs e DF; Membros dos TCEs e DF; Membros dos TRFs; Membros
dos TREs; Membros dos TRTs; Membros do MPU que oficiem perante tribunais (105, I, a);

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal,
e, nestes e nos DE RESPONSABILIDADE, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

• Juízes Federais; Juízes da JM; Juízes da JT; Membros do MPU que não oficiam perante
Tribunais (108, I, a);

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar
e da Justiça do Trabalho, NOS CRIMES comuns e DE
RESPONSABILIDADE, e os membros do Ministério Público da União,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 234


.

• Juízes e membros do MPE e DFT (96, III);

Art. 96. Compete privativamente:


III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público, NOS CRIMES
comuns e DE RESPONSABILIDADE, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral.

• Governadores (Lei 1.079);

• Prefeitos (29-A §2º);

Art. 29-A.
§ 2° Constitui CRIME DE RESPONSABILIDADE do Prefeito Municipal:
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.

• Presidente das Câmaras de Vereadores (29-A §3º).

Art. 29-A.
§ 3o Constitui CRIME DE RESPONSABILIDADE do Presidente da Câmara
Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.

Perceba que a lei não sujeita apenas os membros do poder executivo, embora o assunto
aqui tratado foque especificamente no que diz respeito ao poder executivo.

12. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

NATUREZA JURÍDICA

O crime de responsabilidade, conforme entendimento do STF, possui natureza de infração


político-administrativa.

COMPETÊNCIA

A competência para o julgamento será do Senado Federal, após autorização da Câmara dos
Deputados (condição de procedibilidade).

SANÇÃO

Diferente dos crimes comuns em que a aplicação de pena privativa de liberdade, a sanção
no crime de responsabilidade será política, havendo a perda do cargo com inabilitação por 8 anos.

Obs.: No impeachment da Dilma a sanção foi a perda do cargo, mas não houve a inabilitação por 8
nos. Foi uma decisão política do Congresso Nacional, endossada pelo STF.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 235


.
CONDUTAS QUE IMPORTAM CRIME DE RESPONSABILIDADE

Estão listadas, em rol exemplificativo, no art. 85 da CF. Não é uma tipificação, mas sim uma
indicação das situações.

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República


que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente (prova de que é
exemplificativo), contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do
Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Conforme o art. 85, parágrafo único, a definição desses crimes que ensejam o impedimento
(impeachment) do presidente deverá estar em lei especial (Lei 1.079/50).

Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que


estabelecerá as normas de processo e julgamento.

Súmula Vinculante 46/STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o


estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da
competência legislativa privativa da União.

Como dito, a natureza jurídica dos crimes de responsabilidade não é penal, mas sim político-
administrativa, assim, não se exige a tipicidade certa (princípio da taxatividade) da lei penal. Aqui
estamos diante de tipos abertos, o que não significa dizer que possa haver punição sem previsão
legal da conduta ilícita. O STF entende que a lei deve ser federal, como mencionado acima (ADI
1.628).

OBS: perceba que o MP não é um poder, mas tem tratamento constitucional semelhante à de um
poder.

DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO

Inicialmente, o STF entendia que não poderia haver duplo regime sancionatório para os
agentes políticos, portanto, responderiam por improbidade administrativa ou por crime de
responsabilidade.

Atualmente, exceto em relação ao Presidente da República, os agentes políticos poderão


responder tanto por improbidade administrativa quanto por crime de responsabilidade, haverá um
duplo regime sancionatório.

STF - Pet 3.240 AgR/DF (10.5.2018): Os agentes políticos, com exceção do


Presidente da República, encontram-se sujeitos a duplo regime
sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil
pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 236


.
administrativa por crimes de responsabilidade. O foro especial por
prerrogativa de função previsto na Constituição Federal (CF) em relação às
infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade
administrativa.

PROCEDIMENTO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

12.6.1. Oferecimento da denúncia

É preciso que QUALQUER CIDADÃO (em sentido restrito) apresente a denúncia perante a
CÂMARA DOS DEPUTADOS para que haja análise da acusação.

• Cidadão em sentido lato: É todo indivíduo que pode exercer direitos e contrair obrigações
(direito de ter direitos). Em razão da dignidade da pessoa humana, todo indivíduo é cidadão
em sentido amplo.

• Cidadão em sentido restrito: É todo indivíduo nacional que exerce direitos políticos (art. 12
+ art. 14).

LCR Art. 14. É permitido a QUALQUER CIDADÃO denunciar o Presidente


da República ou Ministro de Estado, por crime de responsabilidade, perante
a Câmara dos Deputados.

Por isso que se costuma dizer que o crime de responsabilidade se dá por “AÇÃO PENAL
POPULAR”, como vimos, tal “crime” é infração político-administrativa e não penal. Se tivesse
natureza penal a LCR não poderia dizer que qualquer cidadão poderia oferecê-la, isso porque
violaria o art. 129, I da CF, que dá a titularidade da ação penal ao MP.

12.6.2. Acolhimento do pedido

Após o recebimento da denúncia, o pedido será acolhido ou não pelo Presidente da Câmara
dos Deputados, assegurando ao Presidente da República o direito à ampla defesa. Contudo, não
se exige a apresentação de defesa prévia.

A apresentação de defesa prévia não é uma exigência do princípio constitucional da ampla


defesa: ela é exceção, e não a regra no processo penal. Não há, portanto, impedimento para que a
primeira oportunidade de apresentação de defesa no processo penal comum se dê após o
recebimento da denúncia.

Importante esclarecer que o Presidente da Câmara faz um juízo prévio de admissibilidade da


denúncia e poderia já tê-la rejeitado liminarmente se entendesse que o pedido apresentado era
inepto ou que não tinha justa causa. Assim, seu papel no recebimento dessa denúncia não é
meramente burocrático, havendo um juízo decisório. Nesse sentido, confira precedente do STF:

(...) a competência do Presidente da Câmara dos Deputados e da Mesa do


Senado Federal para recebimento, ou não, de denúncia no processo de
impeachment não se restringe a uma admissão meramente burocrática,
cabendo-lhes, inclusive, a faculdade de rejeitá-la, de plano, acaso entendam
ser patentemente inepta ou despida de justa causa. (...) STF. Plenário. MS
30672 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 15/09/2011.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 237


.
12.6.3. Instalação da Comissão Especial

Caso o pedido seja acolhido, será instituída uma Comissão Especial com representação
proporcional, sendo a indicação de seus membros feita pelos líderes partidários.

Os nomes indicados serão submetidos a ratificação posterior, em votação aberta, pelos


membros do Parlamento.

Art. 19. Recebida a denúncia, será lida no expediente da sessão seguinte e


despachada a uma comissão especial eleita, da qual participem, observada
a respectiva proporção, representantes de todos os partidos para opinar
sobre a mesma.

12.6.4. Notificação do Presidente da República

Após a instalação da comissão, o Presidente da República será notificado para apresentar


sua defesa. Salienta-se que o prazo de apresentação da defesa é de 10 sessões, contado a partir
do recebimento da notificação.

12.6.5. Votação do relatório final

Após a defesa do Presidente da República, a Comissão Especial possui cinco sessões para
votar o relatório final, que poderá ou não ser favorável ao impeachment.

Salienta-se que o relatório final não é vinculante.

12.6.6. Decisão do Plenário

Por fim, será o plenário, mediante a votação nominal de 2/3 de seus membros (342 votos)
que decidirá sobre a abertura do processo de impeachment.

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois


terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o
Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo
Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo
Senado Federal.
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver
concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns,
o Presidente da República não estará sujeito a prisão.
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

PROCEDIMENTO NO SENADO FEDERAL

12.7.1. Instauração

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 238


.
A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria
simples, presente a maioria absoluta de seus membros. Aplica-se aqui, por analogia, o art. 47 da
Lei nº 1.079/50. Assim, devem estar presentes no mínimo 42 Senadores no dia da sessão (maioria
absoluta de 81) e, destes, bastaria o voto de 22 Senadores.

A CF/88 afirma que compete ao Senado, privativamente, “processar e julgar” o Presidente


(art. 52, I, da CF/88). Segundo entendeu o STF, esta locução abrange não apenas o julgamento
final, mas também a realização de um juízo inicial de instauração ou não do processo, isto é, de
recebimento ou não da denúncia autorizada pela Câmara.

No regime atual, a Câmara não funciona como um “tribunal de pronúncia”, mas apenas
implementa ou não uma condição de procedibilidade para que a acusação prossiga no Senado. A
atuação da Câmara dos Deputados deve ser entendida como parte de um momento pré-processual,
isto é, anterior à instauração do processo pelo Senado. Nas palavras do Min. Roberto Barroso: "a
Câmara apenas autoriza a instauração do processo: não o instaura por si própria, muito menos
determina que o Senado o faça".

Assim, apresentada denúncia contra o Presidente da República por crime de


responsabilidade, compete à Câmara dos Deputados decidir se autoriza ou não a instauração de
processo. Caso a Câmara autorize a instauração do processo de impeachment, esta será ainda
uma autorização "provisória" (mera condição de procedibilidade), considerando que o Senado ainda
irá examinar o pedido nos termos do art. 52, I, da CF/88.

12.7.2. Rito

É o mesmo rito previsto para os Ministros do STF e para o Procurador Geral da República.

Se o Senado aceitar a denúncia, inicia-se a instrução probatória e o Presidente da República


deverá ser afastado do cargo temporariamente (art. 86, § 1º, II, da CF/88). Se, após 180 dias do
afastamento do Presidente, o julgamento ainda não tiver sido concluído, cessará o seu afastamento
e ele reassumirá, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.

A defesa tem direito de se manifestar após a acusação: no curso do procedimento de


impeachment, o Presidente terá a prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a
acusação.

O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória: o interrogatório do Presidente,


instrumento de autodefesa que materializa as garantias do contraditório e da ampla defesa, deve
ser o último ato de instrução do processo de impeachment.

Ao final do processo, os Senadores deverão votar se o Presidente deve ser condenado ou


absolvido.

12.7.3. Presidência

Caberá ao Presidente do STF.

12.7.4. Absolvição

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 239


.
Caso seja absolvido, o Presidente que estava afastado de suas funções irá reassumir do
cargo.

12.7.5. Condenação

Para que seja condenado, é necessário o voto de 2/3 dos Senadores (54 votos).

Se for condenado, o Presidente receberá duas sanções: a) perda do cargo; b) inabilitação


para o exercício de funções públicas por 8 anos. Além disso, poderá ser eventualmente denunciado
criminalmente pelo Ministério Público.

Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não
é necessária a convocação de novas eleições).

12.7.6. Renúncia

Caso Collor: Na data do julgamento (28/12/1992), Collor renunciou ao cargo. Esse pedido
foi até o presidente do STF (que presidia o julgamento) que entendeu que era caso de
prosseguimento do julgamento: o fato da renúncia não impediria a aplicação da 2ª pena. A estratégia
do Collor era exatamente essa: não ficar inabilitado. No entanto, ele acabou condenado, e foi
declarado inabilitado até o dia 28/12/2000.

Collor impetrou um MS no STF, contra o ato do presidente do julgamento: O Supremo negou


a ordem, referendando a decisão do SF. STF MS 21689.

O art. 15 da Lei 1.079 diz que “a denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado,
não tiver por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo”. O STF julgando o aludido MS
21689-1, por maioria de votos, decidiu que a renúncia ao cargo não extingue o processo quando
já iniciado.

STF: Entre as duas penas não existe a relação de acessória e principal, ou seja, a pena de
inabilitação não é acessória da perda do cargo; ambas possuem a mesma importância, o mesmo
valor. Logo, iniciado o julgamento, a eventual renúncia não implica em prejudicialidade do processo,
porquanto ainda pode ser aplicada uma das penas possíveis, qual seja, a inabilitação para exercício
de função pública por 08 anos.

13. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS GOVERNADORES DE ESTADO

INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS

São os mesmos do Presidente da República, guardada a devida simetria entre as duas


funções. Atos definidos na Lei 1.079 se aplicam aos governadores.

PROCEDIMENTO

Apresentação da denúncia à Assembleia Legislativa que pode ser feita por qualquer cidadão,
nos termos dos arts. 75 e 76 da Lei 1.079/50.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 240


.
Lei 1.079
Art. 75. É permitido a todo cidadão denunciar o Governador perante a
Assembleia Legislativa, por crime de responsabilidade.

Art. 76.A denúncia assinada pelo denunciante e com a firma reconhecida,


deve ser acompanhada dos documentos que a comprovem, ou da declaração
de impossibilidade de apresentá-los com a indicação do local em que possam
ser encontrados. Nos crimes de que houver prova testemunhal, conterão rol
das testemunhas, em número de cinco pelo menos.
Parágrafo único. Não será recebida a denúncia depois que o Governador, por
qualquer motivo, houver deixado definitivamente o cargo.

Julgamento pela Assembleia Legislativa da admissibilidade da acusação, ou seja, sobre a


aptidão da denúncia para ser objeto de deliberação (art. 77, da Lei 1.079/50). Admitida a acusação
o acusado será citado para apresentar contestação, indicar provas etc.

Art. 77. Apresentada a denúncia e julgada objeto de deliberação, se a


Assembleia Legislativa por MAIORIA ABSOLUTA, decretar a procedência da
acusação, será o Governador imediatamente suspenso de suas funções.

Julgamento pela Assembleia Legislativa sobre a procedência da acusação. A procedência


exige o quorum DE MAIORIA ABSOLUTA dos membros. Caso a acusação seja julgada procedente
o governador ficará imediatamente suspenso de suas funções e o processo será remetido ao
presidente do TJ que presidirá um Tribunal Especial formado em 05 dias (art. 78, §§3º e 4º da Lei
1.079/50).

Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela


forma que determinar a Constituição do Estado e não poderá ser condenado
senão a perda do cargo, com inabilitação até cinco anos para o exercício de
qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça comum.
par. 1º Quando o tribunal de julgamento for de jurisdição mista serão iguais,
pelo número, os representantes dos órgãos que o integrarem, excluído o
Presidente, que será o Presidente do Tribunal de Justiça.
par. 2º Em qualquer hipótese, só poderá ser decretada a condenação pelo
voto de dois terços dos membros de que se compuser o tribunal de
julgamento.
par. 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo
nos crimes de responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto
nesta lei, devendo, porém, o julgamento ser proferido por um tribunal
composto de cinco membros do Legislativo e de cinco
desembargadores sob a presidência do Presidente do Tribunal de
Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha
desse Tribunal será feita - a dos membros dos membros do legislativo,
mediante eleição pela Assembleia; a dos desembargadores, mediante
sorteio.
par. 4º Esses atos deverão ser executados dentro em cinco dias contados da
data em que a Assembleia enviar ao Presidente do Tribunal de Justiça os
autos do processo, depois de decretada a procedência da acusação.

JULGAMENTO

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 241


.
O governador é julgado por um tribunal misto, formado por deputados estaduais e por
desembargadores, sendo presidido pelo presidente do TJ.

O Tribunal Especial/Misto é composto por:

• 05 Deputados Estaduais escolhidos mediante eleição na AL;

• 05 desembargadores do TJ local escolhidos por sorteio;

• O presidente do TJ local, que presidirá o Tribunal Especial e terá direito de voto apenas no
caso de empate.

A CE/SP previa que seriam 07 deputados e 07 desembargadores. O STF declarou a CE/SP


inconstitucional. Para o Supremo, devem ser 05 deputados estaduais + 05 desembargadores,
presididos pelo presidente TJ, nos termos exatos da Lei 1.079/50 (embora ela mesma preveja que
o estado em sua CE poderia determinar diferente). O STF decidiu isso baseado no fato de que a
competência para legislar sobre crime de responsabilidade é de iniciativa da União. ADI 1628.

STF: Não cabe ao estado-membro legislar sobre crime de responsabilidade. A competência


é privativa da União. Logo, as CE que estabeleciam 07 + 07 são inconstitucionais. Nesse sentido,
a Súmula Vinculante 46 do STF:

Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a


definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento.

SANÇÕES

1ª) Perda do cargo

2ª) Inabilitação para o exercício de função pública por ATÉ 05 anos.

Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela


forma que determinar a Constituição do Estado e não poderá ser condenado
senão a perda do cargo, com inabilitação até cinco anos para o exercício
de qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça comum.

Lembrando: não se aplica a previsão da constituição que é de 08 anos, porque ela se aplica
para os indivíduos julgados pelo SF.

STF - ADI 1.628/SC: 4. A CB/88 elevou o prazo de inabilitação de 5 (cinco)


para 8 (oito) anos em relação às autoridades apontadas. Artigo 2º da Lei n.
1.079 revogado, no que contraria a Constituição do Brasil. 5. A Constituição
não cuidou da matéria no que respeita às autoridades estaduais. O disposto
no artigo 78 da Lei n. 1.079 permanece hígido - o prazo de inabilitação das
autoridades estaduais não foi alterado. O Estado-membro carece de
competência legislativa para majorar o prazo de cinco anos --- artigos 22,
inciso I, e parágrafo único do artigo 85, da CB/88, que tratam de matéria cuja
competência para legislar é da União.

IMPORTANTE: Conforme o art. 15 da Lei 1.079/50, A denúncia só poderá ser recebida pela
CD enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. Lembrar

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 242


.
do posicionamento do STF: se o processo já tiver começado, não caberá renúncia para escapar da
pena.

LCR Art. 15. A denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não
tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo.

14. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS MUNICIPAIS

PREVISÃO CONSTITUCIONAL

CF
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os
subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá
ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita
tributária e das transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158 e
159, efetivamente realizado no exercício anterior:
....
§ 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária

Trata-se de um crime de responsabilidade REAL do prefeito (político-administrativa e não


criminal, ou seja, não é um “falso” crime de responsabilidade). A doutrina entende que tal dispositivo
não é autoaplicável, sendo necessário que uma lei federal tipifique as referidas hipóteses, de forma
que o órgão julgador deverá ser a Câmara de Vereadores, pois não tem natureza penal.

TIPOS DE INFRAÇÕES QUE PODEM SER COMETIDAS POR PREFEITOS

• Crimes comuns; (estudaremos mais adiante)

• Crimes “de responsabilidade” (natureza penal); (logo abaixo)

• Infrações político-administrativas (impeachment ou crimes de responsabilidade reais - com


natureza política-administrativa). (logo abaixo)

PROCEDIMENTO DOS CRIMES “DE RESPONSABILIDADE” DO PREFEITO NA LEI


201/67 (NATUREZA PENAL)

Processo e julgamento: art. 2º do DL 201

Procedimento é regulado pelo regimento interno do tribunal e pelo CPP, não se aplicando o
art. 2 do DL 201 quando determinar o rito do processo comum do juízo singular.

Art. 2º O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do


juízo singular (NÃO RECEPCIONADO), estabelecido pelo Código de
Processo Penal, com as seguintes modificações:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 243


.
Infração de natureza PENAL. O prefeito será julgado pelo poder judiciário (art. 1º do DL), ou
seja, pelo TJ (crimes comuns), TRF (crimes federais), TRE (crimes eleitorais).

O julgamento cabe ao TJ ou ao TRF (a lei não foi recepcionada no ponto que remete ao
juízo singular), sem a presença de qualquer magistrado, uma vez que não existe poder judiciário
municipal. É independente do pronunciamento da Câmara de Vereadores (art. 1º, in fine).

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao


julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento
da Câmara dos Vereadores:[...]
Continuando art. 2º:
Art. 2º O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do
juízo singular (NÃO RECEPCIONADO), estabelecido pelo Código de
Processo Penal, com as seguintes modificações:
I - Antes de receber a denúncia, o Juiz ordenará a notificação do acusado
para apresentar defesa prévia, no prazo de cinco dias. Se o acusado não for
encontrado para a notificação, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá
apresentar a defesa, dentro no mesmo prazo.

O regimento interno do tribunal pode designar órgão fracionário para proceder a este
julgamento STF 71.381.

II - Ao receber a denúncia, o Juiz manifestar-se-á, obrigatória e


motivadamente, sobre a prisão preventiva do acusado, nos casos dos itens I
(apropriar-se ou desviar rendas públicas) e II (utilizar-se indevidamente de
bens públicos) do artigo anterior, e sobre o seu afastamento do exercício do
cargo durante a instrução criminal, em todos os casos.
III - Do despacho, concessivo ou denegatório, de prisão preventiva, ou de
afastamento do cargo do acusado, caberá recurso, em sentido estrito, para o
Tribunal competente, no prazo de cinco dias, em autos apartados. O recurso
do despacho que decreta a prisão preventiva ou o afastamento do cargo terá
efeito suspensivo.
§ 1º Os órgãos federais, estaduais ou municipais, interessados na apuração
da responsabilidade do Prefeito, podem requerer a abertura do inquérito
policial ou a instauração da ação penal pelo Ministério Público, bem como
intervir, em qualquer fase do processo, como assistente da acusação.
§ 2º Se as previdências para a abertura do inquérito policial ou instauração
da ação penal não forem atendidas pela autoridade policial ou pelo Ministério
Público estadual, poderão ser requeridas ao Procurador-Geral da República.

O Dec. Lei 201/67, assim como o art. 29-A, §2º da CF apresentam as condutas tipificadas
como crimes de responsabilidade

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao


julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da
Câmara dos Vereadores:
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio
ou alheio;
Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas
ou serviços públicos;
Ill - desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 244


.
IV - empregar subvenções, auxílios, empréstimos ou recursos de qualquer
natureza, em desacordo com os planos ou programas a que se destinam;
V - ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por lei, ou realizá-las em
desacordo com as normas financeiras pertinentes;
VI - deixar de prestar contas anuais da administração financeira do Município
a Câmara de Vereadores, ou ao órgão que a Constituição do Estado indicar,
nos prazos e condições estabelecidos;
VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da
aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou
externos, recebidos a qualquer título;
VIII - Contrair empréstimo, emitir apólices, ou obrigar o Município por títulos
de crédito, sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei;
IX - Conceder empréstimo, auxílios ou subvenções sem autorização da
Câmara, ou em desacordo com a lei;
X - Alienar ou onerar bens imóveis, ou rendas municipais, sem autorização
da Câmara, ou em desacordo com a lei;
XI - Adquirir bens, ou realizar serviços e obras, sem concorrência ou coleta
de preços, nos casos exigidos em lei;
XII - Antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município,
sem vantagem para o erário;
XIII - Nomear, admitir ou designar servidor, contra expressa disposição de lei;
XIV - Negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de
cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por
escrito, à autoridade competente;
XV - Deixar de fornecer certidões de atos ou contratos municipais, dentro do
prazo estabelecido em lei.
XVI – deixar de ordenar a redução do montante da dívida consolidada, nos
prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante
da aplicação do limite máximo fixado pelo Senado Federal;
XVII – ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites
estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou
na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal;
XVIII – deixar de promover ou de ordenar, na forma da lei, o cancelamento, a
amortização ou a constituição de reserva para anular os efeitos de operação
de crédito realizada com inobservância de limite, condição ou montante
estabelecido em lei;
XIX – deixar de promover ou de ordenar a liquidação integral de operação de
crédito por antecipação de receita orçamentária, inclusive os respectivos
juros e demais encargos, até o encerramento do exercício financeiro;
XX – ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a realização de operação
de crédito com qualquer um dos demais entes da Federação, inclusive suas
entidades da administração indireta, ainda que na forma de novação,
refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente;
XXI – captar recursos a título de antecipação de receita de tributo ou
contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido;
XXII – ordenar ou autorizar a destinação de recursos provenientes da
emissão de títulos para finalidade diversa da prevista na lei que a autorizou;
XXIII – realizar ou receber transferência voluntária em desacordo com limite
ou condição estabelecida em lei.
§1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos
itens I (apropriar-se ou desviar rendas públicas) e II (utilizar-se
indevidamente de bens públicos) , com a pena de RECLUSÃO, DE DOIS A

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 245


.
DOZE ANOS, e os demais, com a PENA DE DETENÇÃO, de TRÊS MESES
A TRÊS ANOS. (evidência da natureza penal: penas privativas de liberdade!)
§ 2º A condenação definitiva em qualquer dos crimes definidos neste artigo,
acarreta a perda de cargo e a inabilitação, pelo prazo de cinco anos, para
o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de nomeação, sem
prejuízo da reparação civil do dano causado ao patrimônio público ou
particular.

CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS NO DL 201/67 (NATUREZA


POLÍTICO-ADMINISTRATIVA – “VERDADEIRO” CRIME DE RESPONSABILIDADE!)

Infração de natureza político-administrativa (art. 4º do DL 201/67), o julgamento será feito


pela CÂMARA DE VEREADORES.

Art. 4º São INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS dos Prefeitos


Municipais sujeitas ao julgamento pela CÂMARA DOS VEREADORES e
sancionadas com a cassação do mandato (perceba que a punição é
cassação do mandato):
I - Impedir o funcionamento regular da Câmara;
II - Impedir o exame de livros, folhas de pagamento e demais documentos
que devam constar dos arquivos da Prefeitura, bem como a verificação de
obras e serviços municipais, por comissão de investigação da Câmara ou
auditoria, regularmente instituída;
III - Desatender, sem motivo justo, as convocações ou os pedidos de
informações da Câmara, quando feitos a tempo e em forma regular;
IV - Retardar a publicação ou deixar de publicar as leis e atos sujeitos a essa
formalidade;
V - Deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em forma regular, a
proposta orçamentária;
VI - Descumprir o orçamento aprovado para o exercício financeiro,
VII - Praticar, contra expressa disposição de lei, ato de sua competência ou
emitir-se na sua prática;
VIII - Omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, direitos ou
interesses do Município sujeito à administração da Prefeitura;
IX - Ausentar-se do Município, por tempo superior ao permitido em lei, ou
afastar-se da Prefeitura, sem autorização da Câmara dos Vereadores;
X - Proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo.

JAS entende que tal dispositivo não foi recepcionado, deveria deixar tal previsão a cargo da
Lei Orgânica do município. Não é o que prevalece nem o que entende o STF, entendendo que
tal dispositivo continua vigente no nosso sistema.

15. PROCESSO E JULGAMENTO CRIMES COMUNS

PRATICADOS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

15.1.1. Irresponsabilidade penal relativa

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 246


.
Em relação aos crimes comuns, o Presidente da República possui irresponsabilidade penal
relativa, ou seja, só irá responder por atos praticados no exercício da função ou em razão da função
desempenhada.

Quando à responsabilidade civil, administrativa, política, tributária e fiscal, o presidente não


possui qualquer imunidade. Igualmente não possui a inviolabilidade dos parlamentares (imunidade
material), vale dizer, pode ser responsabilizado por palavras, opiniões e votos.

O presidente, durante o mandato, não pode ser processado (responsabilizado) por atos
estranhos ao exercício da função. A contrário sensu, durante o mandato, o presidente só poderá
ser processado pela prática de crimes in officio (crimes praticados na função ou em razão do
exercício da função), nos termos exatos do art. 86, §4º da CF/88, in verbis:

Art. 86, § 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não


pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Exemplo1: O candidato a presidente pratica crime. É eleito, diplomado e toma posse como
Presidente da República. A partir da diplomação o STF passa a ser o juiz natural. Pode o presidente
ser julgado pelo crime pretérito? NÃO poderá ser julgado, pois se o crime foi anterior à posse, trata-
se de crime estranho à função.

Exemplo2: Presidente comete homicídio, por razões passionais, contra a Primeira-Dama.


Não pode ser preso, tampouco processado.

Exemplo3: Presidente comete um homicídio contra o Presidente da Petrobras por suposta


insubordinação. Não pode ser preso, mas pode ser processado, pois é um crime praticado em razão
do exercício da função pública.

O que ocorre com o prazo prescricional nesse período? Duas correntes:

1ª C: LFG - o prazo não se suspende.

2ª C: STF, no HC 83.154, fez referência à suspensão do prazo prescricional. Se o MP fica


impedido de ajuizar a ação por causa alheia à sua vontade, nada mais justo que a suspensão da
prescrição. INQ 1418. INQ 567.

Consequências da irresponsabilidade penal relativa do Presidente

a) Perante a prisão

O presidente não poderá ser preso, salvo em razão de sentença penal condenatória com
trânsito em julgado (prisão-pena ou prisão-sanção). Ou seja, nenhuma hipótese de prisão cautelar
é cabível, nem mesmo flagrante pela prática de crimes inafiançáveis. Art. 86, §3º da CF/88.

Não confundir com o art. 53, §2º, que se refere aos parlamentares e permite a prisão destes
por crimes inafiançáveis em flagrante.

Art. 86, § 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações


comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. (leia-se: ainda
que em flagrante de crime inafiançável)

b) Perante o processo

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 247


.
Só poderá ser processado seja por crime comum (e nesse caso relativo ao exercício de suas
funções) ou de responsabilidade após a admissão da Câmara dos Deputados, por voto de 2/3 dos
seus membros.

15.1.2. Competência

O presidente é julgado pelo STF (art. 102, I, ‘b’, art. 86 da CF/88) → Foro por prerrogativa
de função.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
...
b) nas INFRAÇÕES PENAIS COMUNS, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o
Procurador-Geral da República;

15.1.3. Necessidade de autorização

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois


terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o
Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

Perceber que o quórum de 2/3 (juízo de admissibilidade) da CD é o mesmo tanto para


crimes comuns (julgamento jurídico pelo STF) como nos crimes de responsabilidade (julgamento
político pelo SF). Não é necessário autorização da CD ANTES do oferecimento da denúncia, ou
seja, para investigação do PR, bem como oferecimento de denúncia pela PGR.

Salienta-se que a partir do recebimento da denúncia ou da queixa-crime o presidente ficará


suspenso das suas funções.

Art. 86
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo
Supremo Tribunal Federal;
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver
concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.

15.1.4. Procedimento

Terminada a investigação, os autos vão ao PGR (que também participa da investigação,


obviamente), que é o titular constitucional da ação penal perante o STF. É o promotor natural para
acusar o presidente por crimes comuns. Com os autos em mão, o PGR pode tomar um de dois
caminhos:

1º O PGR pode pedir o arquivamento da investigação. Nesse caso o STF não tem
alternativa que não seja homologar o arquivamento. O STF só examinará se disser respeito à
atipicidade da conduta ou extinção da punibilidade.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 248


.
2º O PGR pode oferecer a denúncia.

Oferecida a denúncia, pode o STF deliberar desde já sobre o seu recebimento? NEGATIVO.
O recebimento da peça acusatória só pode ser realizado após a autorização da Câmara dos
Deputados, ou seja, tal como nos crimes de responsabilidade, a acusação se submete a um juízo
político de admissibilidade. Trata-se de um juízo político de oportunidade e conveniência (é
interessante ver o presidente processado?).

OBS: No julgamento dos parlamentares, o STF pode receber a denúncia sem qualquer autorização
do parlamento, mas este pode suspender o andamento do processo por decisão de maioria
absoluta.

Após o oferecimento da peça acusatória, cabe ao presidente do STF encaminhar uma


solicitação ao Presidente da CD para a instauração do processo. Caberá então à Câmara decidir
sobre a autorização ou não do recebimento da denúncia. De dois caminhos, um será tomado:

• JUÍZO POSITIVO: pressupõe a manifestação favorável de 2/3 dos Deputados Federais, em


VOTAÇÃO ABERTA.

OBS: No juízo de admissibilidade de crimes comuns também é permitido ao acusado exercer o


contraditório e a ampla defesa (tal como no processo de crimes de responsabilidade).

• JUÍZO NEGATIVO: Caso a Câmara faça um juízo negativo (menos de 2/3 autorizam a
deflagração do processo contra o presidente), o STF não poderá se manifestar sobre o
recebimento da denúncia. Como consequência é suspenso o prazo prescricional da infração
penal.

Feito o juízo positivo, significa dizer que a Câmara autoriza o STF a se MANIFESTAR sobre
o recebimento da denúncia. Ou seja, diferentemente dos crimes de responsabilidade (lá o
SENADO), o órgão processante aqui (STF) não fica obrigado a dar início ao processo.

Entretanto, antes do STF se manifestar sobre o recebimento da peça acusatória, deve ser
ofertado ao presidente um prazo de 15 dias para que seja apresentada a chamada defesa preliminar
(resposta preliminar), nos termos do art. 4º da Lei 8.038/90.

Art. 4º - Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a


notificação do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias. (Vide
Lei nº 8.658, de 1993)

OBS: Essa Lei prevê a possibilidade de julgamento antecipado da lide penal. Ou seja, na própria
audiência designada para a deliberação a respeito do recebimento é possível que o STF absolva o
presidente, mesmo sem ter recebido a peça acusatória, no caso dessa decisão não depender de
outras provas (art. 6º da Lei).

Art. 6º - A seguir, o relator pedirá dia para que o TRIBUNAL delibere sobre o
recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da
acusação, se a decisão não depender de outras provas. (Vide Lei nº
8.658, de 1993)

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 249


.
IMPORTANTE: Quem se manifesta acerca do recebimento da denúncia é o PLENO e não
o Ministro Relator, em homenagem ao princípio da colegialidade.

Consequência do recebimento da Denúncia

• O presidente fica afastado de suas funções por até 180 dias (tal como nos crimes de
responsabilidade), sendo SUBSTITUÍDO (impedimento) pelo vice (art. 86, §1º). Decorrido o
prazo sem que o processo tenha findado, o presidente retorna ao cargo, sem prejuízo da
continuidade do processo (tal como nos crimes de responsabilidade)

Art. 86
§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime
pelo Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo
Senado Federal.
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver
concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.

• A condenação criminal transitada em julgado acarretará a suspensão dos direitos políticos


do presidente, e, consequentemente a perda do mandato (art. 15, III). Nesse caso (e
somente nesse caso) o presidente poderá ser preso.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
...
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;

• A perda do cargo, portanto, é consequência INDIRETA, porque a Constituição, em seu


artigo 15, prevê que uma das consequências da condenação é a perda dos direitos políticos,
portanto, ao ser condenado, o presidente perde os direitos políticos e consequentemente o
cargo.

OBS: Não interessa o tipo de pena aplicada ao Presidente. Até mesmo uma pena de multa implica
em suspensão dos direitos políticos e perda do cargo.

• O vice deixa de ser um substituto e passa a ser o sucessor (caso de vacância, que é
definitiva).

15.1.5. Crimes abrangidos pela expressão “infração penal comum”

O que significa infração penal comum prevista no art. 102, I, b? Nada mais do que a
contraposição ao crime de responsabilidade (impróprio). Dentro do gênero “infração penal comum”
estão contidas as seguintes práticas:

• Crime comum em sentido restrito;

• Crime eleitoral;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 250


.
• Crime militar;

• Crime doloso contra a vida;

• Contravenção penal.

PRATICADOS PELO GOVERNADOR

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

O governador é julgado pelo STJ por crimes comuns, assim entendidos (art. 105, I, ‘a’ da
CF/88):

• Crime comum em sentido restrito;

• Crime eleitoral;

• Crime militar;

• Crime doloso contra a vida;

• Contravenção penal.

OBS: O TSE não tem competência para julgar crimes, por isso o julgamento do governador por
eventuais crimes eleitorais também se dá no STJ.

O STJ só podia deliberar sobre o recebimento da denúncia depois de prévia autorização da


Assembleia Legislativa, mesmo que não constasse tal previsão na Constituição Estadual. Contudo,
por questões pragmáticas, o STF passou a entender que, mesmo havendo previsão na CE, não é
necessária a autorização da assembleia legislativa.

STF – ADI’s 4.798, 4.764 e 4.797: “É vedado às unidades federativas


instituírem normas que condicionem a instauração de ação penal contra
governador, por crime comum, à prévia autorização da casa legislativa,
cabendo ao Superior Tribunal de Justiça dispor, fundamentadamente, sobre
a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo.

Governador é dotado de irresponsabilidade relativa? Vale dizer, o art. 86, §3º e §4º se
aplica aos governadores? NÃO. Governador não é dotado de irresponsabilidade relativa. A
irresponsabilidade, por ser exceção, deve ser interpretada restritivamente. Da mesma forma, os
governadores não têm imunidade quanto à prisão, ou seja, podem ser presos cautelarmente, bem
como podem ser processados durante o mandato pela prática de crimes estranhos ao exercício da
função.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 251


.
E se a CE oferta ao governador a irresponsabilidade relativa? Será norma inconstitucional,
pois não cabe à CE legislar sobre esse tipo de norma. É matéria de competência privativa da União
(ADI 1.026).

Onde é julgado o vice-governador por crime comum? O art. 102, I, ‘b’ diz que o
presidente e o vice são julgados originariamente pelo STF. O art. 105, I, ‘a’, não faz referência ao
vice-governador. Ou seja, o vice não é julgado originariamente pelo STJ.

E se o vice, quando em substituição ao governador, comete um crime? Substituições


(temporárias) não importam em modificação da competência, o que acarretaria grave insegurança
jurídica. Somente altera a competência quando ocorre a sucessão (definitiva).

O juiz natural do vice-governador dependerá da CE (tanto para crimes comuns quanto


crimes de responsabilidade). A CE é autorizada pela CR a ofertar foro por prerrogativa para outras
autoridades (art. 125, §1º).

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios


estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado,
sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

PRATICADOS PELO PREFEITO

O prefeito é julgado por crimes comuns, em regra, pelo TJ (art. 29 da CF). Não se exige
autorização da Câmara dos Deputados

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;

PROVA: Quem julga o prefeito é o Tribunal pleno (ou órgão especial) ou um órgão
fracionário menor? Pode ser julgado por órgão fracionário. A Constituição exige apenas o
julgamento colegiado (STF HC 71.381).

Diz-se que o julgamento por crimes comuns é, EM REGRA, no TJ, pois:

Se o crime for federal → TRF.

Se o crime for eleitoral → TRE (que tem competência criminal ao contrário do TSE que não
tem).

Nesse sentido, a Súmula 702 do STF, que atende ao Princípio da Simetria.

STF Súmula 702 a competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos


restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos
demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de
segundo grau.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 252


.
Adota-se aqui o critério da regionalidade que afasta o critério do lugar da infração previsto
no art. 69, I do CPP. Exemplo: Crime cometido por prefeito de Rio Grande praticado em São Paulo.
Quem julga é o TJ/RS.

Salienta-se que as Constituições Estaduais não podem criar foro por prerrogativa de função,
tendo em vista que a CF já estabelece nas três esferas.

Atenção!

Súmula: 209 compete a justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula: 208 compete a justiça federal processar e julgar prefeito municipal


por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

A autoridade que responde por crime de responsabilidade também pode ser processada
pela prática de improbidade administrativa? O STJ entende que os prefeitos podem responder por
improbidade administrativa e também pelos crimes de responsabilidade do Decreto-Lei 201/67 (ex: REsp
1066772/MS). A ação de improbidade administrativa contra os prefeitos será julgada em 1ª instância.

Para o STJ, os agentes políticos se submetem à Lei de Improbidade Administrativa, com exceção
do Presidente da República. Logo, é possível que os agentes políticos respondam pelos crimes de
responsabilidade da Lei 1.079/50 e também por improbidade administrativa.

16. RECALL

CONSIDERAÇÕES E CONCEITO

Não está previsto no ordenamento jurídico brasileiro, embora já tenha sido cogitado em
algumas reformas.

Trata-se de um mecanismo de democracia direta (com a participação direta do cidadão),


permitindo que o eleitorado destitua certos agentes políticos cujo comportamento não esteja
agradando aqueles que o elegeram. Logo, através do recall o mandado eletivo poderá ser revogado
pelo eleitorado.

Perceba que é uma forma mais efetiva de controle popular sobre os seus representantes.

RECALL x IMPEACHMENT

RECALL IMPEACHMENT

Decidido por órgão de representante dos


Decidido diretamente pelos eleitores cidadãos. Por exemplo, Senado Federal no
caso do Presidente da República.

Instrumento de controle de todos os poderes, Instrumento de controle do Legislativo sobre o


inclusive do Poder Legislativo. Executivo e do Judiciário.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 253


.
PODER JUDICIÁRIO

1. GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, salienta-se que o Poder Judiciário possui garantias que são atribuídas aos seus
membros (garantias funcionais) e, ainda, há garantias que são atribuídas à instituição (garantias
institucionais).

Autonomia
administrativa
(art. 96)
INSTITUCIONAIS
Autonimia
financeira

GARANTIAS DO Vitaliciedade
PODER
JUDICIÁRIO

Independência Inamovibilidade

Irredutibilidade
FUNCIONAIS
de subsídios

Imparcialidade Vedações

GARANTIAS FUNCIONAIS DOS MAGISTRADOS

As garantias funcionais visam permitir que os magistrados exerçam suas funções com
independência e imparcialidade.

Importante consignar que as garantias não são privilégios (não é admitido), mas sim
mecanismos que visam assegurar que o Poder Judiciário desempenhe seu papel com
independência e imparcialidade.

1.2.1. Garantias de INDEPENDÊNCIA

I – Vitaliciedade

Está prevista no art. 95, I, da CF:

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de
exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 254


.
tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença
judicial transitada em julgado;

A vitaliciedade não se confunde com a estabilidade. Observe o quadro abaixo:

VITALICIEDADE ESTABILIDADE
Só se aplica a agentes públicos (magistrados, Aplica-se aos servidores públicos em sentido
MP, OFA, militares dos Estados/DF e TC). estrito.
A vitaliciedade é alcançada, em 1º grau de A estabilidade é alcançada após 03 anos de
jurisdição, após 02 anos de efetivo exercício. Nos efetivo exercício do cargo.
tribunais, a vitaliciedade ocorre no momento da
posse.
Servidor vitalício só perde cargo em virtude de Servidor estável pode perder cargo também em
sentença judicial com trânsito em julgado razão de processo administrativo (disciplinar ou
(durante o estágio probatório pode perder cargo avaliação de desempenho).
administrativamente).

Obs.: os Ministros do STF e os membros do CNJ podem responder por crimes de responsabilidade.
Diante disso, podem perder o cargo por decisão do Senado Federal, não dependem do trânsito em
julgado.

Por fim, a vitaliciedade encerra-se aos 75 anos de idade com a aposentadoria compulsória.

II – Inamovibilidade

Prevista no art. 95, II, da CF.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art.
93, VIII;

Com o intuito de evitar que os membros do Poder Judiciários sejam removidos como forma
de retaliação, a Constituição prevê a inamovibilidade. Desta forma, o magistrado só pode ser
removido com a sua aquiescência, diversamente do servidor público estável que pode ser removido
por oportunidade ou conveniência da Administração. Mesmo que a remoção importe em promoção,
ele não está obrigado a aceitá-la.

Contudo, a própria Constituição prevê hipótese em que poderá ser removido por interesse
público, mediante decisão do tribunal ou do CNJ por maioria absoluta, sendo-lhe garantida a ampla
defesa.

Art. 93, VIII - o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por


interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

Salienta-se que a garantia da inamovibilidade também será aplicada aos juízes substitutos.
Nesse sentido:

STF – MS 27.958/DF: I – A inamovibilidade é, nos termos do art. 95, II, da


Constituição Federal, garantia de toda a magistratura, alcançando não

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 255


.
apenas o juiz titular, como também o substituto. II - O magistrado só poderá
ser removido por designação, para responder por determinada vara ou
comarca ou para prestar auxílio, com o seu consentimento, ou, ainda, se o
interesse público o exigir, nos termos do inciso VIII do art. 93 do Texto
Constitucional. III – Segurança concedida.

Assim como os membros da Magistratura, os membros do Ministério Público possuem a


garantia da inamovibilidade (art. 128, §5º, I, “b”, da CF).

III – Irredutibilidade de subsídios

Disciplinada no art. 95, III, da CF.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39,
§ 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

Refere-se apenas ao valor nominal e não ao valor real do subsídio que poderá sofrer a
incidência de uma carga tributária maior ou ser corroído pela inflação.

A garantia da irredutibilidade de subsídios também será aplicada aos membros do MP, aos
Ministro do TCU, aos Oficiais das Forças Armadas, aos militares dos Estados/DF e Territórios e aos
servidores públicos.

Destaca-se que Constituição admite a redução de salários dos empregados, desde que haja
acordo ou convenção coletiva. Não havendo, não poderá haver a redução de salários dos
empregados da iniciativa privada.

1.2.2. Garantias de IMPARCIALIDADE

Referem-se às vedações impostas aos magistrados (e também aos membros do MP), visam
assegurar a imparcialidade.

Analisaremos em conjunto com as vedações aplicadas aos membros do Ministério Público.

PODER JUDICIÁRIO MEMBROS DO MP

Exercer, ainda que em disponibilidade,


Exercer, ainda que em disponibilidade, outro
qualquer outra função pública, salvo uma de
cargo ou função, salvo uma de magistério1.
magistério1.
A vedação refere-se tanto à função pública
A vedação refere-se apenas a função pública.
quanto à privada. Por isso, o CNJ veda aos
O membros do MP podem exercer a função de
magistrados o exercício da função de coach.
coach já que se trata de uma função privada.

Receber, a qualquer título e sob qualquer


Receber, a qualquer título ou pretexto, custas
pretexto, honorários, percentagens ou
ou participação em processo
custas processuais (em sentido amplo)

Exercer atividade político-partidária (EC


Dedicar-se à atividade político-partidária
45/04)2

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 256


.
Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios
ou contribuições de pessoas físicas, entidades ou contribuições de pessoas físicas, entidades
públicas ou privadas, ressalvadas as exceções públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei. previstas em lei.

Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do


Aplica-se aos membros do Ministério Público o
qual se afastou, antes de decorridos três anos
disposto no art. 95, parágrafo único, V (norma
do afastamento do cargo por aposentadoria ou
remissiva).
exoneração3

Não há previsão de tal vedação na CF aos Participar de sociedade comercial, na forma da


magistrados lei

Observações importantes:

1) A expressão “salvo uma de magistério” não impede que o magistrado exerça a função de
magistério em mais de uma instituição de ensino, desde que isso não atrapalhe o exercício da
magistratura.

STF – ADI 3.126 MC/DF: 4. Considerou-se, no caso, que o objetivo da


restrição constitucional é o de impedir o exercício da atividade de magistério
que se revele incompatível com os afazeres da magistratura. Necessidade de
se avaliar, no caso concreto, se a atividade de magistério inviabiliza o ofício
judicante.

2) Até a EC 45/04 o tratamento aos membros do MP que se dedicavam à atividade político-


partidária era diferente, isto porque admitia-se sua participação mediante filiação e afastamento
temporário do exercício da função. Atualmente, tanto os membros do Poder Judiciário quanto os
membros do Ministério Públicos são vedados de exercício de atividade político-partidária.

3) Trata-se da chamada “quarentena”, visa evitar que o Juiz ou membro do Ministério


Público, que atuaram perante o órgão, utilizem sua influência em benefício da advocacia.

GARANTIAS INSTITUCIONAIS

Têm como objetivo promover a independência do Poder Judiciário frente aos demais
poderes. Portanto, protegem o Judiciário como um todo, como instituição, como um órgão da
República.

1.3.1. Garantia de autonomia orgânico-administrativa

Prevista no art. 96 da CF:

Art. 96. Compete privativamente:


I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com
observância das normas de processo e das garantias processuais das partes,
dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais e administrativos;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 257


.
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes
forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira
da respectiva jurisdição;
d) propor a criação de novas varas judiciárias;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido
o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à
administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos
juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados;
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais
de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no
art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do
subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns
e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

Diz respeito à sua independência na estruturação e funcionamento de seus órgãos. Essa


garantia se consubstancia na competência privativa dos Tribunais para:

1) Eleger seus órgãos diretivos;

2) Elaborar seu próprio Regimento Interno;

3) Organizar sua estrutura administrativa interna.

São esses três pontos que constituem o que se chama “AUTOGOVERNO DOS
TRIBUNAIS”. Como vimos, serve para a manutenção da independência do judiciário frente ao
executivo e legislativo

1.3.2. Garantia de autonomia financeira/orçamentária

Prevista nos arts. 99 e 168 da CF.

Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e


financeira.
§ 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites
estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes
orçamentárias.
§ 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais
interessados, compete:
I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos
Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 258


.
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos
Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos
tribunais.
§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas
propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes
orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da
proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária
vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º
deste artigo.
§ 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem
encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o
Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação
da proposta orçamentária anual.
§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a
realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os
limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se
previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou
especiais.

Os tribunais têm autonomia para elaborar suas propostas orçamentárias. Além disso, o art.
168 prevê que as dotações orçamentárias devem ser entregues ao Judiciário até o dia 20 de cada
mês, em duodécimos. Caso o executivo não repasse, é caso de intervenção federal.

Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias,


compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da
Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em
duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º

2. ÓRGÃO ESPECIAL DO PODER JUDICIÁRIO

Nos tribunais com mais de 25 julgadores poderá ser constituído um órgão especial, que terá
no mínimo 11 e no máximo 25 membros, com competência delegada administrativa (concessão de
férias, realização de concurso) e jurisdicional (cláusula de reserva de plenário – declaração de
inconstitucionalidade) delegada pelo Pleno.

Art. 93, XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,
poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de
vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e
jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se
metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal
pleno.

3. QUINTO CONSTITUCIONAL

Visa oxigenar o Poder Judiciário, trazendo para sua composição pessoas com experiencias
profissionais diferentes daquelas que sempre integraram a magistratura.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 259


.
Está previsto nos art. 94, 111-A, I e 115, I, todos da CF. Observe:

Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de
membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez
anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos
órgãos de representação das respectivas classes.

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete


Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco anos e
menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação
ilibada, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria
absoluta do Senado Federal, sendo:
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez
anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo,


sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados
pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos
de sessenta e cinco anos, sendo:
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez
anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94

O quinto constitucional está previsto para os Tribunais de Justiça, para os Tribunais


Regionais Federais, para o Tribunal Regional do Trabalho e para o Tribunal Superior do Trabalho.

De acordo com o STF, as Constituições Estaduais não podem fazer exigências acerca do
quinto constitucional.

STF – ADI 4.150/SP: TRIBUNAL – COMPOSIÇÃO – QUINTO –


ASSEMBLEIA LEGISLATIVA – PRONUNCIAMENTO – INADEQUAÇÃO.
Conflita com a Constituição Federal norma da Carta do Estado que junge à
aprovação da Assembleia Legislativa a escolha de candidato à vaga do quinto
em Tribunal. Precedente.

Os requisitos para ingresso pelo quinto constitucional estão previstos, exclusivamente, na


CF. são eles:

• Mais de 10 anos de efetivo exercício (no caso do MP) ou de atividade profissional (no caso
do advogado);

• Para os advogados, além dos 10 anos, notório saber jurídico e reputação ilibada.

• Os órgãos de classe (OAB e MP) elaboram uma lista sêxtupla, ou seja, indicam seis nomes,
que são submetidos à análise do Tribunal.

• Há uma votação interna no âmbito do Tribunal, que faz uma lista tríplice com os três nomes
mais votados da lista sêxtupla.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 260


.
• No caso dos Tribunais Regionais Federais, os três primeiros nomes são enviados ao
Presidente da República. No caso dos Tribunais de Justiça, os três primeiros nomes são
enviados ao Governador.

• Cabe ao Presidente ou ao Governador escolher um dos integrantes da lista tríplice enviada


pelo Tribunal.

Por fim, a composição do STF e do STJ também não é exclusiva de membros do Poder
Judiciário. No caso do STJ, um terço dos membros deve ser oriundo do MP ou da advocacia. No
caso do STF, não há mínimo, a nomeação é feita pelo Presidente da República.

4. FUNÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO

O Poder Judiciário possui funções típicas e atípicas.

Exercício da
jurisdição

Proteção de
direitos
fundamentais
TÍPICAS
Defesa da força
normativa da
Constituição

Edição da
FUNÇÕES "legislação
judicial"

Administrativa

ATÍPICAS

Legislativa

FUNÇÕES TÍPICAS

4.1.1. Exercício da jurisdição

O Poder Judiciário aplica a lei ao caso concreto, substituindo a vontade das partes
(heterocomposição), com a força definitiva. Ou seja, exerce jurisdição.

A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial, para, mediante um processo, tutelar


(reconhecendo, efetivando ou resguardando) situações jurídicas concretamente deduzidas de modo
imperativo e criativo em decisão insuscetível de controle externo e apta a tornar-se indiscutível pela
coisa julgada.

4.1.2. Proteção de direitos fundamentais

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 261


.
O judiciário protege direitos fundamentais. Não é só respeito aos direitos fundamentais, mas
também necessidade de concretização, de efetivação desses direitos. Nesse tema, entra a
chamada judicialização de políticas públicas e o chamado ativismo judicial (institutos que não se
confundem).

Lembra João Luiz Esteves que, ao lado dos Poderes Legislativo e Executivo, o Judiciário
deve atuar de modo objetivo na efetivação dos direitos fundamentais sociais. Essa atuação deve
ser ampla, aferindo se as políticas públicas estão sendo desenvolvidas e, mais do que isso, se estão
atingindo os objetivos previstos na Constituição. Nessa direção, o Poder Judiciário deve atuar
de forma ativa, suprindo ‘omissões legislativas e executivas, redefinindo políticas públicas
quando ocorrer inoperância de outros poderes’ Nessa perspectiva, o Poder Judiciário - por
meio da atuação de seus juízes, desembargadores e ministros - vem se tornando, em boa
medida, o garante da efetivação dos direitos fundamentais. Nesse contexto, os juízes têm
decidido sobre inúmeras questões, tais como o fornecimento de remédios à pessoa portadora
enfermidades; o direito de acesso de crianças à sala de aula; o direito de o deficiente ter acesso a
prédios públicos. O guardião das promessas passa a desempenhar, assim, outra função, qual
seja, a de concretizar direitos fundamentais.

4.1.3. Defesa da força normativa da Constituição

A Constituição é uma norma jurídica que tem imperatividade reforçada. Sua defesa é feita
através do controle de constitucionalidade.

4.1.4. Edição da “legislação judicial”

Fruto da criatividade dos juízes e dos tribunais, sobretudo dos tribunais constitucionais.
Exemplo: súmula vinculante; sentença aditiva; mandado de injunção com eficácia concretista (MI
712).

FUNÇÕES ATÍPICAS

4.2.1. Administrativa

É o denominado AUTOGOVERNO DOS TRIBUNAIS. É o Judiciário administrando seus


assuntos internos.

Exemplo: O próprio Poder Judiciário exerce seus órgãos diretivos.

4.2.2. Legislativa

O Poder Judiciário exerce função legislativa ao editar o regimento interno de seus tribunais.

5. ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO

O sistema brasileiro é oriundo da cultura jurídica romano-germânica, procura-se justiça em


detrimento da pacificação social (cultura jurídica anglo-saxônica).

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 262


.
Os órgãos do Poder Judiciário estão previstos no art. 92 da CF. Observe:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:


I - o Supremo Tribunal Federal;
I-A o Conselho Nacional de Justiça;
II - o Superior Tribunal de Justiça;
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho;
III - os Tribunais Reginais Federais e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os
Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal.
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em
todo o território nacional.

STF CNJ

STJ TST TSE STM

JUÍZES
05 TRF'S 27 TJ'S 24 TRT'S 27 TRE'S
AUDITORES

JUÍZES JUÍZES JUÍZES DO JUÍZES


FEDERAIS ESTADUAIS TRABALHO ELEITORAIS

6. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ATRIBUIÇÕES DO STF

É o órgão de cúpula do Poder Judiciário no Brasil. Possui competência originária, defende a


Constituição (controle de constitucionalidade), defende a federação (ADI interventiva, julgamento
de ações entre unidades federadas).

COMPOSIÇÃO E REQUISITOS PARA SER MEMBRO DO STF

É composto por 11 ministros, esse número é clausula pétrea, núcleo intangível da CF, pois
do contrário seriam criadas maiorias eventuais.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 263


.
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,
escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta
e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

Há seis exigências para que uma pessoa seja Ministro do STF. Vejamos:

1ª. Exigência de natureza administrativa: Ser indicado pelo Presidente e aprovado pelo
Senado.

Art. 101 Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão


nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela
maioria absoluta do Senado Federal.

2ª. Exigência de natureza civil (art. 101, caput): Mais de 35 anos (idade que o cidadão
adquire a capacidade política absoluta) e menos de 65 anos de idade. O limite de idade serve para
evitar aposentadorias compulsórias daqueles que mal foram empossados no cargo.

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,


escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta
e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

3ª. Exigência de natureza política: Estar no pleno exercício dos direitos políticos (art. 14, §1º,
I).

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

4ª. Exigência de natureza jurídica: Brasileiro nato (art. 12, §3º); Razão: O presidente o STF
está na linha sucessória do presidente.

Art. 12 § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:


IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

5ª. Exigência de natureza cultural: Notável conhecimento jurídico aquele que dispensa
prova. A sociedade o tem como cultor da ciência jurídica (art. 101, caput).

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,


escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta
e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

Tecnicamente, deve ser, no mínimo, bacharel em Direito. Em nossa história já existiu um


médico e um almirante indicados, mas não aprovados pelo Senado.

6ª. Exigência de natureza moral: Reputação ilibada, idônea. Vida passada sem qualquer
mácula, mancha (art. 101, caput).

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,


escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta
e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 264


.
O Presidente escolhe livremente um cidadão que preencha os requisitos, indica ao Senado,
a quem caberá aprovar ou não o nome indicado, por maioria absoluta de votos na chamada
sabatina.

7. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ORIGEM E OBJETIVO DO STJ

O STJ foi criado pela CF/88.

Trata-se de um Tribunal Nacional com o objetivo de uniformizar a jurisprudência das justiças


comuns estaduais e federais, protegendo a legislação federal, a fim de garantir segurança jurídica
à coletividade.

COMPOSIÇÃO DO STJ

O STJ possui, no mínimo, 33 ministros.

Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e


três Ministros.

Requisitos para ser ministro do STJ (art. 104):

o Ser brasileiro nato ou naturalizado (Felix Fischer é alemão)

o Idade mínima: 35 anos.

o Idade máxima: 65 anos.

o Reputação ilibada;

o Notável saber jurídico.

O ministro é escolhido pelo Presidente, mas não de forma livre, a escolha é vinculada a
categorias:

1/3 dentre desembargadores do TRF = 11.

1/3 dentre desembargadores do TJ = 11.

1/3 dentre MP (federal, estadual e DF, alternadamente) e OAB = 11. Neste caso são 05 MPs
(MPF e MPE) e 05 OAB (advocacia pública/particular e defensoria). O 11º é alternado.

O presidente indica o nome ao Senado, que deve ser sabatinado e aprovado por maioria
absoluta de votos. Por que o senado participa da escolha? Por conta do sistema de freios e
contrapesos.

Art. 104, Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão


nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta
e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 265


.
reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
Senado Federal, sendo:
I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre
desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice
elaborada pelo próprio Tribunal; (1/3 + 1/3 = 2/3)
II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério
Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente,
indicados na forma do art. 94. (1/3)

Perceber: no STJ não é “quinto constitucional” e sim “terço constitucional”.

PROCEDIMENTO DE ESCOLHA

7.3.1. Desembargadores

Vagando uma cadeira de ministro, o presidente do STJ manda ofício para os TRFs
(desembargadores federais). Os desembargadores interessados se inscrevem. O STJ vota e
escolhe uma LISTA TRÍPLICE, que vai para o presidente escolher um nome e enviar para
aprovação no Senado.

Para os Desembargadores estaduais é o mesmo procedimento.

7.3.2. Advogados

Já com os advogados é realizada uma eleição no Conselho Federal da OAB. Remetem uma
LISTA SÊXTUPLA para o STJ. O STJ remete LISTA TRÍPLICE ao Presidente, que escolhe e manda
ao Senado.

7.3.3. Ministério Público

Com o MP, o procedimento é igual. O órgão representativo encaminha LISTA SÊXTUPLA


ao STJ, que a reduz a uma LISTA TRÍPLICE a ser enviada ao Presidente.

São escolhidos membros do MPE, MPF e MPDFT, alternadamente.

8. JUSTIÇA COMUM FEDERAL

2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

A CF/88 cria 05 TRFs.

Até 1988, o segundo grau da JF era representado pelo TFR (tribunal federal de recursos). É
possível a criação de outros TRFs com EC.

• TRF1: Sede em Brasília/DF à DF e mais 14 estados da federação (todos da região norte;


todos do centro-oeste, salvo MS; do sudeste MG; do nordeste MA, BA, PI).

• TRF2: Sede no Rio de Janeiro à RJ e ES.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 266


.
• TRF3: Sede em São Paulo à SP e MS.

• TRF4: Sede em POA à RS, SC, PR.

• TRF5: Sede no Recife à Todos estados do Nordeste, salvo BA, MA, PI.

Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete


juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo
Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de
sessenta e cinco anos, sendo:
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos
de carreira;
II - os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos
de exercício, por antiguidade e merecimento, alternadamente.
§ 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais
Regionais Federais e determinará sua jurisdição e sede.
§ 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos
limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos
públicos e comunitários.
§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o
pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.

Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados,


quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros
com mais de 30 e menos de 65 anos, sendo:

- 1/5 dentre Advogados e MPF com mais de 10 anos de exercício da atividade (é a regra
padrão do art. 94 à quinto constitucional).

- 4/5 de Juízes Federais promovidos por antiguidade e merecimento, alternadamente.

1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUÍZES FEDERAIS

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 267


.
Juízes federais.

Cada estado é uma seção judiciária federal. Na JF não existe entrância nem comarca.

Cada seção pode se subdividir em subseções judiciárias.

O concurso para JF é regionalizado.

Juiz federal substituto → Juiz titular de vara.

9. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL

2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS DE JUSTIÇA

Cada estado possui um TJ.

Fundamento: Poder de auto-organização dos estados membros (art. 25 da CF).

CF Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis


que adotarem, observados os princípios desta Constituição.

1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUIZ DE DIREITO

A justiça estadual é dividida em comarcas (divisão territorial jurisdicional).

As entrâncias são categorias de comarcas, que dependem da Lei de Organização Judiciária


do Estado.

10. JUSTIÇA ELEITORAL

Considerações:

o A Justiça Eleitoral é uma Justiça Federal especializada.

o A Justiça Eleitoral não possui um quadro próprio de juízes, utiliza os juízes de outras
justiças.

o Quem judica na JE, exerce mandato de 02 anos, permitindo-se uma única


recondução por mais dois anos.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete


membros, escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 268


.
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo
Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o
Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o
Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.

Compõe-se de, no mínimo, 07 juízes que recebem o nome de ministros. Desses 07:

• 03 são originários do STF, escolhidos por eleição interna (voto secreto);

• 02 são do STJ, escolhidos por eleição interna.

• 02 são advogados, escolhidos pelo Presidente (sem aprovação do Senado), a partir de


lista sêxtupla fornecida pelo STF.

OBS: Os magistrados continuam judicando na origem, assim como os advogados podem continuar
advogando, salvo em matéria eleitoral.

Presidente do TSE: Somente pode sê-lo um dos três Ministros do STF.

Corregedor Eleitoral: Um dos Ministros do STJ.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL

Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e


no Distrito Federal.
§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça;
II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado
ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em
qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo;
III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo
Tribunal de Justiça.
§ 2º - O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-
Presidente- dentre os desembargadores.

Um TRE por estado da Federação, mais o DF.

Cada TRE compõem-se de 07 juízes:

- 02 desembargadores do TJ daquela unidade federada (escolha mediante eleição interna);

- 02 juízes de direito, da entrância mais elevada, escolhidos pelo próprio TJ.

- 02 advogados, escolhidos pelo Presidente da República, de uma lista sêxtupla fornecida


pelo TJ.

- 01 representante da justiça federal (pode ser juiz ou desembargador), escolhido pelo TRF.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 269


.
Nos estados que são sedes de TRF (DF, RJ, SP, RS, PE), o representante da JF no TRE
será um desembargador federal.

Presidente do TRE: Somente um dos dois desembargadores do TJ.

OBS: Quem assume cargo em Tribunal Eleitoral continua exercendo suas atividades originárias.

JUÍZES ELEITORAIS

O Juiz de Direito exerce a judicatura eleitoral com base no princípio da delegação. Apesar
de ser servidor público estadual, quando está na judicatura eleitoral, ele passa a ser servidor federal,
o que acaba repercutindo na competência criminal.

Exemplo: Crime contra juiz eleitoral vai para a JF.

A competência dos juízes eleitorais é prevista no art. 35 do Código Eleitoral.

JUNTAS ELEITORAIS

Apenas é genericamente prevista pela CF. Sua composição e competência ficam a cargo
do Código Eleitoral.

Composição: 01 Juiz eleitoral (será o presidente) + 02 ou 04 cidadãos de notória idoneidade.

Os membros serão nomeados 60 dias antes da eleição.

Divisão territorial da JE: Zonas Eleitorais. Em cada zona temos um juiz.

11. JUSTIÇA MILITAR

A Justiça Militar da União tem competência exclusivamente penal, cabendo julgar os crimes
militares previstos em lei ordinária, sejam estes cometidos por militares ou por civis. NÃO julga
causas cíveis.

SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

Como todos os tribunais superiores, tem sede em Brasília e jurisdição em todo o território
nacional.

Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros


vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a
indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da
Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-
generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira,
e cinco dentre civis.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 270


.
- 15 Ministros, todos vitalícios, sendo 10 militares (todos do mais alto posto, última patente
– oficiais generais) e 05 civis. Todos são escolhidos pelo Presidente da República e aprovados pelo
Senado.

- Dos 10 militares: 03 da Marinha, 03 da Aeronáutica e 04 do Exército.

PEGADINHA: Os 10 militares somente podem ser brasileiros natos, pois para ser oficial das
forças armadas somente com essa condição.

- Dos 05 civis: 03 advogados, 01 juiz auditor militar e 01 membro do MP militar. Esses podem
ser tanto natos quanto naturalizados.

12. JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete


Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos
de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após
aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de
dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;
II os demais (4/5) dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos
da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.

Composto por 27 ministros com mais de 35 e menos de 65 nomeados pelo presidente após
serem aprovados pelo Senado por maioria ABSOLUTA. Desses 27:

- 1/5 de membros do MP do Trabalho (03) e Advogados (03),

- Os 21 restantes são juízes de carreira, promovidos dos TRT’s, indicados pelo próprio TST.

TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO

A regra é cada estado ter um TRT. Alguns estados não têm. Em SP existem 02 TRT’s.

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo,


sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados
pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos
de sessenta e cinco anos, sendo
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de
dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;
II os demais (4/5), mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade
e merecimento, alternadamente.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 271


.
Compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região,
e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais 30 e menos de 65, sendo:

- 1/5 dentre Advogados e MP do Trabalho com mais de 10 anos de exercício da atividade (é


a regra padrão do art. 94 → quinto constitucional).

- 4/5 de Juízes do Trabalho promovidos por antiguidade e merecimento, alternadamente.

Ainda prevê o art. 115:

Art. 115
§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos
limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos
públicos e comunitários.
§ 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o
pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.

OBS: É a mesma regra prevista para os TRF’s, com o objetivo de ampliar o acesso à justiça, dando
efetividade à prestação jurisdicional.

JUÍZES DO TRABALHO

A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua
jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do
Trabalho. (CF, art. 112).

Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas
não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso
para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.

13. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

NATUREZA JURÍDICA

O Conselho Nacional de Justiça, embora previsto dentro da estrutura do Poder Judiciário,


não é um órgão jurisdicional. Trata-se de um órgão nacional de natureza administrativa, correcional,
de fiscalização.

ATRIBUIÇÕES

Foi criado pela EC 45/04 com a finalidade de controlar a atuação administrativa e financiaria
do Poder Judiciário, bem como para fiscalizar os juízes no desempenho de seus deveres funcionais.
Importante salientar que o CNJ exerce controle ético e disciplinar dos magistrados, o que não afeta
a sua imparcialidade jurisdicional.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 272


.
STF – ADI 3.367/DF: Conselho Nacional de Justiça. Órgão de natureza
exclusivamente administrativa. Atribuições de controle da atividade
administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competência relativa
apenas aos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, abaixo do Supremo
Tribunal Federal. Preeminência deste, como órgão máximo do Poder
Judiciário, sobre o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu
controle jurisdicional.

Além disso, não há hierarquia entre do CNJ em relação ao STF, tanto que os atos do CNJ
se submetem ao controle do STF.

STF: ADI 3.367/DF: O Conselho Nacional de Justiça não tem nenhuma


competência sobre o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, sendo esse
o órgão máximo do Poder Judiciário nacional, a que aquele está sujeito.

Por fim, não se admite a criação de órgãos similares ao CNJ em âmbito estadual.

STF – ADI 3.367/DF: Caráter nacional. Regime orgânico unitário. Controle


administrativo, financeiro e disciplinar. Órgão interno ou externo. Conselho de
Justiça. Criação por Estado membro. Inadmissibilidade. Falta de competência
constitucional. Os Estados membros carecem de competência constitucional
para instituir, como órgão interno ou externo do Judiciário, conselho destinado
ao controle da atividade administrativa, financeira ou disciplinar da respectiva
Justiça.

COMPOSIÇÃO

Está disciplinada no art. 103-B da CF:

Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze)


membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução,
sendo:
I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo
tribunal;
III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo
tribunal;
IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo
Tribunal Federal;
V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de
Justiça;
VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal
Superior do Trabalho;
IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-
Geral da República;
XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-
Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de
cada instituição estadual;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 273


.
XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil;
XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados
um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

O CNJ é composto por membros nomeados pelo Presidente da República, após a aprovação
do Senado Federal.

Dos 15 membros que compõem o CNJ, nove deles são oriundos do Poder Judiciário, dois
são membros do MP, dois são advogados e dois são cidadãos.

Esquematizando:

Presidente do STF

1 juiz estadual

Indicados pelo STF


1 desembargador
do TJ

1 ministro do STJ

09 MEMBROS DO
PODER
1 desembargador
JUDICIÁRIO Indicados pelo STJ
do TRF

1 juiz federal

1 ministro do TST

Indicados pelo
1 membro do TRT
TST

CNJ - 15
MEMBROS 1 juiz do trabalho

1 do MPU
02 MEMBROS DO Indicados pelo
MP PGR
1 do MPE
Indicados pela
02 ADVOGADOS
OAB

1 indicado pela
Câmara
02 CIDADÃOS
1 indicado pelo
Senado

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 274


.
O Presidente do CNJ será o mesmo Presidente do STF, é o único membro que não é
nomeado pelo Presidente da República. Por isso, o Presidente do CNJ será sempre um brasileiro
nato.

Não existe mais limites de idade (mais de 35 anos e menos de 66 anos) para os membros
do CNJ, tendo em vista que foram abolidos por emenda constitucional (EC 61/2009).

Ressalta-se que os dois cidadãos e os dois advogados não podem exercer atividades que
são incompatíveis com as funções desempenhadas pelo CNJ.

STF – ADI 3.367: Nenhum dos advogados ou cidadãos membros do


Conselho Nacional de Justiça pode, durante o exercício do mandato, exercer
atividades incompatíveis com essa condição, tais como exercer outro cargo
ou função, salvo uma de magistério, dedicar-se a atividade político-partidária
e exercer a advocacia no território nacional.

Caso os membros do CNJ pratiquem crime de responsabilidade, o julgamento será feito pelo
Senado Federal. Tratando-se de crimes comuns, não há previsão expressão de foro por
prerrogativa de função, portanto, serão julgados pela justiça comum.

STF – Pet 3.857/BA: É importante ressaltar que a alteração efetuada pela EC


45/2004 não incluiu os membros do Conselho Nacional de Justiça na alínea
b, do inciso I do art. 102 da Constituição Federal, que estabelece a relação
das autoridades que têm a prerrogativa de serem julgadas por esta Corte,
quando acusadas por crime comum. Como o art. 102, I, Como o art. 102, I, b
é norma que institui prerrogativa, na esteira dos precedentes desta Corte, não
é passível de interpretação ampliativa.

COMPETÊNCIAS DO CNJ

A competência do CNJ está elencada no art. 103-B, §4º, da CF.

Art. 103-B, § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e


financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos
juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo
Estatuto da Magistratura:
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto
da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante
provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros
ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar
prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento
da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder
Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos
prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do
poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso,
determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 275


.
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a
administração pública ou de abuso de autoridade;
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de
juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e
sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do
Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar
necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do
Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo
Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da
abertura da sessão legislativa.

Trata-se de um rol exemplificativo, ou seja, as atribuições do CNJ não estão restritas as


hipótese da Constituição, podendo o Estatuto da Magistratura prevê outras.

STF – MS 28.712 MC: A EC 45/2004, ao instituir o CNJ, definiu-lhe um núcleo


irredutível de atribuições, além daquelas que lhe venham a ser conferidas
pelo Estatuto da Magistratura, assistindo-lhe o dever-poder de efetuar, no
plano da atividade estritamente administrativa e financeira do Poder
Judiciário, o controle do ‘cumprimento dos deveres funcionais dos juízes’.

Importante salientar que, conforme entendimento do STF, o CNJ, além do seu poder
regulamentar (atividade restrita a lei), possui também poder normativo. Em outras palavras, o CNJ
poderá elaborar atos normativos primários diretamente ligados à Constituição, os quais poderão ser
objeto de controle de constitucionalidade.

STF – MS 27.621: o CNJ é órgão com atribuições exclusivamente


administrativas e correicionais, ainda que, estruturalmente, integre o Poder
Judiciário. No exercício de suas atribuições administrativas, encontra-se o
poder de ‘expedir atos regulamentares’. O CNJ pode, no lídimo exercício de
suas funções, regulamentar condutas e impor a toda magistratura nacional o
cumprimento de obrigações de essência puramente administrativa.

STF – ADC 12 MC/DF: A Resolução nº 07/05 do CNJ reveste-se dos


atributos da generalidade (os dispositivos dela constantes veiculam normas
proibitivas de ações administrativas de logo padronizadas), impessoalidade
(ausência de indicação nominal ou patronímica de quem quer que seja) e
abstratividade (trata-se de um modelo normativo com âmbito temporal de
vigência em aberto, pois claramente vocacionado para renovar de forma
contínua o liame que prende suas hipóteses de incidência aos respectivos
mandamentos). A Resolução nº 07/05 se dota, ainda, de caráter normativo
primário, dado que arranca diretamente do § 4º do art. 103-B da Carta-cidadã
e tem como finalidade debulhar os próprios conteúdos lógicos dos princípios
constitucionais de centrada regência de toda a atividade administrativa do
Estado, especialmente o da impessoalidade, o da eficiência, o da igualdade
e o da moralidade. O ato normativo que se faz de objeto desta ação
declaratória densifica apropriadamente os quatro citados princípios do art. 37
da Constituição Federal, razão por que não há antinomia de conteúdos na
comparação dos comandos que se veiculam pelos dois modelos normativos:
o constitucional e o infraconstitucional. Logo, o Conselho Nacional de Justiça

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 276


.
fez adequado uso da competência que lhe conferiu a Carta de Outubro, após
a Emenda 45/04.

A atuação do CNJ é autônoma, ou seja, não depende da ação dos tribunais para agir
subsidiariamente.

STF - MS 28.513/DF: 1. O Conselho Nacional de Justiça tem competência


constitucional autônoma, e não subsidiária da competência dos demais
tribunais.

O CNJ pode exercer controle de constitucionalidade.

STF-Pet 4.646/PB: “[...] 3. Insere-se entre as competências


constitucionalmente atribuídas ao Conselho Nacional de Justiça a
possibilidade de afastar, por inconstitucionalidade, a aplicação de lei
aproveitada como base de ato administrativo objeto de controle,
determinando aos órgãos submetidos a seu espaço de influência a
observância desse entendimento, por ato expresso e formal tomado pela
maioria absoluta dos membros do Conselho.”

Por fim, o CNJ não possui competência para rever as decisões dos magistrados.

STF – MS 28.611 MC-AgR: “...não dispondo de atribuições funcionais que lhe


permitam, quer colegialmente, quer mediante atuação monocrática de seus
conselheiros ou, ainda, do corregedor nacional de justiça, fiscalizar,
reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteúdo
jurisdicional emanados de magistrados e Tribunais em geral, razão pela qual
se mostra arbitrária e destituída de legitimidade jurídico-constitucional a
deliberação do corregedor nacional de justiça que, agindo ultra vires, paralise
a eficácia de decisão que tenha concedido mandado de segurança.”

AÇÕES PROPOSTAS CONTRA O CNJ9

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF
processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e
do CNMP proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas
nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.

Até bem pouco tempo, o STF conferia uma interpretação restritiva a esse dispositivo. O STF
dizia que ele somente seria competente para julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP (que
não possuem personalidade jurídica própria) figurassem no polo passivo. Seria o caso de mandados
de segurança, habeas corpus e habeas data contra os Conselhos.

Na hipótese de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP,
quem irá figurar como ré no processo é a União, já que os Conselhos são órgãos federais. Logo,
tais demandas, segundo essa interpretação restritiva, seriam julgadas pela Justiça Federal de 1ª
instância, com base no art. 109, I, da CF/88:

9
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/83decbc20d665926df9335a0a3be7e3b?c
ategoria=1&subcategoria=9&assunto=49

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 277


.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal
forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Esse entendimento estava pacificado no STF, existindo inúmeros julgados nesse sentido.
Por exemplo: AO 1706 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2013; AO 1894 AgR, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgado em 07/08/2018; ACO 2148 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 30/09/2016.

Ocorre que o STF mudou seu entendimento e abandonou a interpretação restritiva acima
exposta. Entendimento atual: compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas
contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência


exclusiva do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações
ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas
nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.
STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
18/11/2020 (Info 1000).
STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 18/11/2020 (Info 1000).

A Constituição Federal determina que o STF julgue as ações propostas contra o CNJ e
CNMP, não havendo, no art. 102, I, “r”, nenhuma restrição ou diferenciação quanto ao instrumento
processual a ser utilizado. Quando a CF/88 quis restringir a competência do STF para determinados
tipos de “ação”, ela o fez expressamente, como é o caso do art. 102, I, “d”:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas
alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do
Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República
e do próprio Supremo Tribunal Federal;

Na alínea “r” não houve, portanto, nenhuma restrição, razão pela qual não se deve fazer
essa interpretação restritiva.

Isso não significa que o STF vá julgar toda e qualquer ação ordinária contra os Conselhos,
mas apenas quando o CNJ ou o CNMP atuar no exercício de suas competências. Vimos acima que
a alínea “r” é ampla, não diferenciando o tipo de ação. Logo, aquela distinção antiga que era feita
entre o instrumento processual (se ação ordinária ou ação tipicamente constitucional), não faz
sentido e foi abandonada.

A despeito disso, o STF afirmou que ele não irá julgar toda e qualquer ação ordinária contra
atos daqueles conselhos constitucionais. A regra de competência deve ser interpretada de acordo
com os fins que justificaram a inclusão dessa alínea “r” pela EC 45/2004.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 278


.
A competência do STF para julgar ações contra o CNJ e CNMP somente se justifica se o
ato praticado tiver um cunho finalístico, estando relacionado com os objetivos precípuos que
justificaram a criação dos conselhos, a fim de garantir uma proteção institucional a eles.

A outorga da atribuição ao Supremo para processar e julgar ações contra os Conselhos é


mecanismo constitucional delineado pelo legislador com o objetivo de proteger e viabilizar a atuação
desses órgãos de controle. A realização da missão constitucional ficaria impossibilitada ou
seriamente comprometida se os atos por eles praticados estivessem sujeitos ao crivo de juízos de
primeira instância.

Não raramente, a atuação do CNJ recai sobre questões locais delicadas e que mobilizam
diversos interesses. O distanciamento das instâncias de controle jurisdicional é elemento essencial
para o desempenho apropriado das funções. Ademais, o órgão de controle atua em questões de
abrangência nacional que demandam tratamento uniforme e ação coordenada. Por essa razão, não
poderiam ser adequadamente enfrentadas por juízos difusos.

A submissão de atos do CNJ à análise de órgãos jurisdicionais distintos do STF


representaria a subordinação da atividade da instância fiscalizadora aos órgãos e agentes públicos
por ele fiscalizados, o que subverte o sistema de controle proposto constitucionalmente. Deve ser
mantida a higidez do sistema e preservada a hierarquia e a autoridade do órgão de controle.

Desse modo, compete ao STF julgar todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho
CNJ e do CNMP (não importando se ações ordinárias ou writs constitucionais), mas desde
que proferidas no exercício de suas competências constitucionais, o que está previsto nos arts. 103-
B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.

O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte:

Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações


do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu,
quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal.

Ex: o CNJ determinou a vacância de determinada serventia registral (“cartório”) afirmando


que o atual titular (registrado) encontra-se indevidamente investido porque não foi aprovado em
concurso. Na linguagem popular, o CNJ determinou que o registrador “saia do cartório”. Esse
registrador ingressa com ação na Justiça Federal e obtém uma decisão provisória por meio da qual
ele pode continuar no cartório. Por força desse art. 106 do Regimento Interno, o CNJ poderá ordenar
que o registrador e o Tribunal de Justiça cumpram imediatamente a sua decisão administrativa
independentemente da decisão proferida pelo Juiz Federal. Isso porque a decisão do CNJ somente
poderia ser revertida pelo STF, nos termos do art. 102, I, “r”, da CF/88.

Esse art. 106 do Regimento Interno é válido? SIM. A Associação dos Magistrados
Brasileiros (AMB) propôs uma ADI contra esse dispositivo, mas o STF julgou improcedente o pedido
e afirmou que é constitucional o art. 106 do Regimento Interno do CNJ, na redação dada pela
Emenda Regimental 1/2010.

Essa previsão regimental decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído


constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 279


.
A aludida norma nada mais faz do que explicitar o alcance do art. 102, I, “r”, da CF/88,
impedindo que decisões proferidas ao arrepio das regras constitucionais de competência —
portanto, flagrantemente nulas — comprometam o bom desempenho das atribuições do CNJ.

Permitir que decisões administrativas do CNJ sejam afastadas liminarmente órgãos


absolutamente incompetentes implicaria, indiretamente, a inviabilização do exercício de suas
competências constitucionais.

O CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato


de suas decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de
primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária do
STF. STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
18/11/2020 (Info 1000).

14. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

COMPOSIÇÃO

O CNMP é um órgão interno do Ministério Público com participação de pessoas que não
integram o MP (participação externa).

Os membros do CNMP são nomeados pelo Presidente da República, após aprovação do


Senado Federal.

Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de


quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, depois de
aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um
mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:
I o Procurador-Geral da República, que o preside;
II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a
representação de cada uma de suas carreiras;
III três membros do Ministério Público dos Estados;
IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo
Superior Tribunal de Justiça;
V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil;
VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um
pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 280


.

1 do MPF
Procurador Geral
da República
1do MPT
4 membros do
MPU
08 MEMBROS 1 do MPM
INTEGRANTES
DO MP

1 do MPDFT

3 membros do indicados pelo


MPE respectivo MP
CNMP - 14
MEMBROS
1 indicado pelo
STF
2 JUÍZES
1 indicado pelo
STJ

06 MEMBROS indicados pela


2 advogados
EXTERNOS OAB

1 indicado pela
Câmara de
Deputados
2 cidadãos
1 indicado pelo
Senado Federal

DIFERENÇAS NAS REGRAS DE NOMEAÇÃO E DESTITUIÇÃO DO PROCURADOR-


GERAL DA REPÚBLICA E DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA

PROCURADOR-GERAL DA PROCURADOR-GERAL DE
REPÚBLICA JUSTIÇA

Feita pelo Governador de Estado.

Feita pelo Presidente da República. Obs.: Obrigatoriamente, o


Governador deve observar a lista
ESCOLHA Obs.: O Presidente não está tríplice.
obrigado a observar a lista tríplice.
Obs2.: no caso de PGJ do MPDFT a
escolha é feita pelo Presidente.

RECONDUÇÃO Não há limite. Admite-se apenas uma recondução.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 281


.
Feita pelo Presidente da República,
após a aprovação pela maioria Não é necessária aprovação pela
NOMEAÇÃO
absoluta dos membros do Senado Assembleia Legislativa.
Federal.

Autorização da maioria absoluta dos Autorização da maioria absoluta dos


DESTITUIÇÃO
membros do Senado Federal. membros do parlamento estadual.

CONFLITOS DE ATRIBUIÇÕES10

Inicialmente, quando dois órgãos jurisdicionais divergem sobre quem deverá julgar uma
causa, dizemos que existe, neste caso, um conflito de competência.

Imagine, por exemplo, que foi instaurado inquérito policial, que estava “tramitando” na
Justiça Estadual, com o objetivo de apurar determinado crime. Ao final do procedimento, o Promotor
de Justiça requereu a declinação da competência para a Justiça Federal, entendendo que estava
presente a hipótese do art. 109, IV, da CF/88. O Juiz de Direito concordou com o pedido e remeteu
os autos para a Justiça Federal. O Juiz Federal deu vista ao Procurador da República, que entendeu
em sentido contrário ao Promotor de Justiça e afirmou que não havia interesse direto e específico
da União que justificasse o feito ser de competência federal. O Juiz Federal concordou com o
Procurador da República e suscitou conflito de competência.

Este conflito deverá ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I,
"d", da CF/88:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o
disposto no art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não
vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;

No exemplo acima, os membros do Ministério Público discordaram entre si. No entanto, essa
discordância não ficou limitada a eles e foi também encampada pelos juízes. Logo, em última
análise, tivemos um conflito de competência, ou seja, um conflito negativo entre dois órgãos
jurisdicionais.

Algumas vezes, no entanto, os membros do Ministério Público instauram investigações que


tramitam no âmbito da própria instituição. Neste caso, em regra, tais procedimentos não são levados
ao Poder Judiciário, salvo quando irá ser oferecida a denúncia ou se for necessária alguma medida
que dependa de autorização judicial (ex: interceptação telefônica). A regra geral, no entanto, é que
os procedimentos de investigação conduzidos diretamente pelo MP tramitem exclusivamente no
âmbito interno da Instituição.

10 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF


deve ser dirimido pelo CNMP. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/21be992eb8016e541a159
53eee90760e>

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 282


.
Ex: um Promotor de Justiça instaurou, no MPE, procedimento de investigação para apurar
crimes relacionados com um cartel mantido por donos de postos de combustíveis. Ocorre que o
Procurador da República também deflagrou, no âmbito do MPF, um procedimento investigatório
para apurar exatamente o mesmo fato. Temos, então, dois membros diferentes do Ministério Público
investigando o mesmo fato. Vale ressaltar que nenhum deles formulou qualquer pedido judicial, de
sorte que o Poder Judiciário não foi provocado e os procedimentos tramitam apenas internamente.

Neste caso, indaga-se: se dois membros do Ministério Público divergem sobre quem deverá
atuar em uma investigação, como isso é chamado? Teremos aqui também um conflito de
competência? NÃO. Neste caso, teremos um CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES.

Obs.: mais uma vez, chamo atenção para o fato de que só existe conflito de atribuições se a
divergência ficar restrita aos membros do Ministério Público. Se os juízes encamparem as teses dos
membros do MP, discordarão entre si e teremos, no caso, um "falso conflito de atribuições"
(expressão cunhada por Guilherme de Souza Nucci). Diz-se que há um falso conflito de
atribuições porque, na verdade, o que temos é um conflito entre dois juízes, ou seja, um conflito de
competência.

Apesar de os exemplos acima fornecidos envolverem a investigação de crimes, é importante


esclarecer que o conflito de atribuições poderá ocorrer também em apuração de infrações cíveis,
como o caso de improbidade, meio ambiente, consumidor e outros direitos difusos e coletivos.

Ex: um Promotor de Justiça e um Procurador da República divergem quanto à atribuição


para a condução de inquérito civil que investiga suposto superfaturamento na construção de
conjuntos habitacionais com recursos financeiros liberados pela Caixa Econômica Federal e
oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A Procuradoria da República no
Paraná entendeu que esta atribuição seria do Promotor de Justiça, mas o MPE discordou e
considerou que a apuração seria do MPF, já que envolvia recursos oriundos da CEF (STF ACO
924).

Caso haja um conflito de atribuições entre membros do Ministério Público, quem irá decidir
qual dos dois órgãos irá atuar? Depende. Podemos identificar quatro situações diferentes:

SITUAÇÃO 1: Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça do Ministério Público de um


mesmo Estado (ex: Promotor de Justiça de Iranduba/AM e Promotor de Justiça de Manaus/AM) - a
divergência será dirimida pelo respectivo Procurador-Geral de Justiça. Veja:

Lei nº 8.625/93 - Art. 10. Compete ao Procurador-Geral de Justiça:


X - dirimir conflitos de atribuições entre membros do Ministério Público,
designando quem deva oficiar no feito;

SITUAÇÃO 2: Se o conflito se dá entre Procuradores da República (ex: um Procurador da


República que oficia em Manaus/AM e um Procurador da República que atua em Boa Vista/RR): o
conflito será resolvido pela Câmara de Coordenação e Revisão (órgão colegiado do MPF),
havendo possibilidade de recurso para o Procurador-Geral da República. Confira:

LC 75/93 - Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão:


VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público
Federal.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 283


.
Art. 49. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do
Ministério Público Federal:
VIII - decidir, em grau de recurso, os conflitos de atribuições entre órgãos do
Ministério Público Federal;

SITUAÇÃO 3 - Se o conflito se dá entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público


da União (ex: um Procurador da República e um Procurador do Trabalho): será resolvido
pelo Procurador-Geral da República:

LC 75/93 - Art. 26. São atribuições do Procurador-Geral da República, como


Chefe do Ministério Público da União:
VII - dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do
Ministério Público da União;

SITUAÇÃO 4 - Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça de Estados diferentes (ex:


Promotor de Justiça do Amazonas e Promotor de Justiça do Acre)? Se o conflito se dá entre um
Promotor de Justiça e um Procurador da República (ex: Promotor de Justiça do Amazonas e
Procurador da República que oficia em Manaus/AM)?

Posição adotada até 2016: STF

Afirmava que este conflito de atribuições deveria ser dirimido pelo próprio STF. O Ministério
Público é um órgão. Seus membros também são órgãos. Um Promotor de Justiça é um órgão
estadual. Um Procurador da República é um órgão da União. Se dois Promotores de Justiça de
Estados diferentes estavam divergindo sobre a atuação em uma causa, o que nós tínhamos era
uma divergência entre dois órgãos de Estados diferentes. Se um Promotor de Justiça e um
Procurador da República discordavam sobre quem deveria atuar no caso, o que nós tínhamos era
uma dissonância entre um órgão estadual e um órgão federal.

Logo, nestas duas situações, quem deveria resolver este conflito seria o STF, conforme
previsto no art. 102, I, “f”, da CF/88:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito
Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
administração indireta;

Posição adotada de 2016 até junho de 2020: PGR

Neste período, o STF passou a decidir que a competência para dirimir estes conflitos de
atribuição seria do Procurador-Geral da República:

Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público,


dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios
Públicos estaduais. STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 19/5/2016 (Info 826).

Posição atual: CNMP

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 284


.
O STF mudou novamente de posição e agora entende que:

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e


de Ministérios Públicos estaduais.
STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 05/06/2020.
STF. Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre
de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).

Essa nova posição representa o acolhimento, pelo STF, de uma tese institucional defendida
pelos Ministérios Públicos estaduais que não concordavam com o entendimento de que a
competência para dirimir esse conflito seria do PGR.

A nova posição foi capitaneada pelo Min. Alexandre de Moraes, que apresentou os seguintes
argumentos:

“Discordo, entretanto, do encaminhamento do conflito de atribuição para o


Procurador-Geral da República, enquanto autoridade competente, pois é
parte interessada na solução da demanda administrativa, uma vez que
acumula a Chefia do Ministério Público da União com a chefia de um de seus
ramos, o Ministério Público Federal, nos termos da LC 75/1993.
(...)
(...) constitucionalmente, o Ministério Público abrange duas grandes
Instituições, sem que haja qualquer relação de hierarquia e subordinação
entre elas (STF, RE 593.727/MG – Red. p/Acórdão Min. GILMAR MENDES):
(a) Ministério Público da União, que compreende os ramos: Federal, do
Trabalho, Militar e do Distrito Federal e Territórios; (b) Ministério Público dos
Estados.
Não há, portanto, hierarquia entre o Ministério Público da União ou qualquer
de seus ramos específicos e os Ministérios Públicos estaduais (...)
Com tal premissa, não parece ser mais adequado que, presente conflito de
atribuição entre integrantes do Ministério Público Estadual e do Ministério
Público Federal, o impasse acabe sendo resolvido monocraticamente por
quem exerce a chefia de um deles, no caso o Procurador-Geral da República.
(...)
A interpretação sistemática da Constituição Federal, após a edição da EC
45/2004, aponta como mais razoável e compatível com a própria estrutura
orgânica da Instituição reconhecer no Conselho Nacional do Ministério
Público a necessária atribuição para solucionar os conflitos de atribuição
entre seus diversos ramos, pois, constitucionalmente, tem a missão precípua
de realizar o controle de atuação administrativa e financeira do Ministério
Público.
Assim, no âmbito interno e administrativo, não tendo vinculação direta com
qualquer dos ramos dos Ministérios Públicos dos entes federativos, mas
sendo por eles composto, o CNMP possui isenção suficiente para definir,
segundo as normas em que se estrutura a instituição, qual agente do
Ministério Público tem aptidão para a condução de determinado inquérito civil,
inclusive porque, nos termos do § 2º do art. 130-A, é sua competência o
controle da atuação administrativa do Ministério Público e do cumprimento
dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe, inclusive, zelar pela
autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, bem como pela
legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 285


.
Ministério Público da União e dos Estados, entre eles, aqueles atos que
deram ensejo ao conflito de atribuições.
A interpretação sistemática dos preceitos constitucionais da Instituição,
portanto, aponta a competência do Conselho Nacional do Ministério Público
para dirimir essa modalidade de conflito de atribuição com fundamento no
artigo 130-A, § 2º, e incisos I e II, da Constituição Federal.
Com amparo nesses preceitos constitucionais, estaria o referido órgão
colegiado, ao dirimir o conflito de atribuição, exercendo o controle da atuação
administrativa do Ministério Público e, ao mesmo tempo, zelando pela
autonomia funcional e independência da instituição.
A solução de conflitos de atribuições entre ramos diversos dos Ministérios
Públicos pelo CNMP é a mais adequada, pois reforça o mandamento
constitucional que lhe atribuiu o controle da legalidade das ações
administrativas dos membros e órgãos dos diversos ramos ministeriais, sem
ingressar ou ferir a independência funcional.”

Vale ressaltar que o caso apreciado pelo STF dizia respeito a um conflito de atribuições entre
um Procurador da República e um Promotor de Justiça. No entanto, pelos debates entre os
Ministros, percebe-se que a solução adotada vale também para os conflitos envolvendo Promotores
de Justiça de Estados-membros diferentes. Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes
divergirem quanto à atuação em um caso, este conflito de atribuições será dirimido pelo CNMP.

Resumindo:
QUEM DECIDE O CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO?
SITUAÇÃO QUEM IRÁ DIRIMIR
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 1 Procurador-Geral de Justiça do Estado 1
MPF x MPF CCR, com recurso ao PGR
MPU (ramo 1) x MPU (ramo 2) Procurador-Geral da República
MPE x MPF CNMP
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 2 CNMP

Vale, por fim, uma observação. O Poder Judiciário não fica vinculado à decisão do CNMP.
Assim, suponhamos que, em um conflito de atribuições, o CNMP afirme que a atribuição para
investigar e denunciar o réu é do Procurador da República.

Diante disso, o Procurador da República oferece denúncia na Justiça Federal. O Juiz Federal
estará livre para reapreciar o tema e poderá entender que a competência não é da Justiça Federal,
declinando a competência para a Justiça Estadual. Caso o Juiz de Direito concorde, seguirá no
processamento do feito. Se discordar, deverá suscitar conflito de competência a ser dirimido pelo
STJ (art. 105, I, “d”, da CF/88).

O certo é que a decisão do CNMP produz efeitos vinculantes apenas interna corporis, sendo
uma decisão de cunho administrativo, não vinculando os juízos que irão apreciar a causa.

15. RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 286


.
ORIGEM

A reclamação é fruto de criação jurisprudencial, tendo sido incorporada ao Regimento


Interno do STF em 1957. Com a CF/88, a reclamação ganhou status constitucional, sendo prevista
tanto para o STF quanto para o STJ.

Sua criação foi feita com base na TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS, ou seja, se a CF
dá os fins a um órgão, ela também dá os meios de se fazer respeitados esses fins.

Com o advento do CPC/15 todos os tribunais passaram a ter competência para julgar
reclamação para preservar sua competência ou garantir a autoridade de suas decisões.

NATUREZA JURÍDICA

Atualmente, é pacífico o entendimento de que a reclamação é uma medida de natureza


jurisdicional, tendo em vista que tem o poder de alterar decisões judiciais e produz coisa julgada.

Indaga-se: qual tipo de medida jurisdicional?

Parece predominar na doutrina o entendimento de Pontes de Miranda: a reclamação é uma


ação propriamente dita. Isto porque provoca a jurisdição com o pedido de tutela jurisdicional e
porque há uma lide a ser solucionada.

Contudo, o STF possui uma decisão em que afirma que a reclamação não é uma ação
propriamente dita. Segundo Novelino, foi uma decisão pragmática, a fim de não invalidar a
legislação estadual, que antes do CPC/15, previa a possibilidade de reclamação perante os tribunais
inferiores.

STF - ADI 2.212/CE: 1. A natureza jurídica da reclamação não é a de um


recurso, de uma ação e nem de um incidente processual. Situa-se ela no
âmbito do direito constitucional de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV
da Constituição Federal. Em consequência, a sua adoção pelo Estado-
membro, pela via legislativa local, não implica em invasão da competência
privativa da União para legislar sobre direito processual (art. 22, I da CF).

OBJETO DA RECLAMAÇÃO

A reclamação possui dupla função de ordem político-jurídica, isto porque:

o Visa preservar a competência do tribunal; e

o Visa assegurar a autoridade das decisões do tribunal.

CF, arts. 102, I, “l” (STF) e 105, I, “f”: reclamação para a preservação de sua
competência e garantia da autoridade de suas decisões.

CPC, art. 988: Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério


Público para:
I - preservar a competência do tribunal;
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 287


.
III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão
do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente
de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de
competência;

Importante consignar que só cabe reclamação para o STF e para o STJ nas hipóteses
apontadas no art. 988, CPC. Por exemplo, no caso de RE com repercussão geral, se os demais
órgãos do Poder Judiciário não observarem as teses fixadas pelo STF, não cabe reclamação
diretamente. Perceba, portanto, que não se admite a chamada reclamação per saltum. Somente o
desrespeito a enunciados de súmula e decisões proferidas em controle abstrato, IRDR ou incidente
de assunção de competência é que admitem a propositura de reclamação sem que as demais vias
sejam esgotadas.

15.3.1. Preservação de competência

a) Conflitos federativos

O conflito federativo (Estado X Estado e União X Estado) deve ser resolvido pelo STF. Caso
algum outro órgão resolva julgar o conflito, caberá reclamação diretamente para o STF.

b) Inquéritos policiais e denúncias contra autoridades com foro por prerrogativa de função

São os casos em que as autoridades que têm foro por prerrogativa de função no STF ajuízam
reclamação para que a competência do Supremo seja preservada, ou seja, para garantir esta
prerrogativa.

c) Ação civil pública

A decisão da ACP possui efeito erga omnes. Diante disso, há casos em que a ACP pode se
tornar um sucedâneo da ADI (apenas quando o pedido for a declaração da inconstitucionalidade),
usurpando a competência do STF. Por isso, ajuíza-se uma reclamação.

d) Negativa de seguimento de recurso extraordinário nos juizados especiais

15.3.2. Garantir a autoridade das decisões

Importante diferenciarmos, aqui, o processo constitucional subjetivo do processo


constitucional objetivo.

PROCESSO CONSTITUCIONAL SUBJETIVO PROCESSO CONSTITUCIONAL OBJETIVO

Sua finalidade precípua é a proteção de direitos Sua finalidade precípua é a preservação da


subjetivos. A inconstitucionalidade é apenas ordem constitucional objetiva.
uma questão incidental. Visa assegurar a supremacia da Constituição.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 288


.
O objeto do pedido é apenas uma questão de
direitos, mas para isso afasta-se determinada
lei.

Tradicionalmente, a decisão possuía efeito inter


partes. Consequentemente, só podem alegar o
desrespeito à autoridade de uma decisão do
Supremo aquelas partes que estavam
envolvidas originariamente no processo que foi Decisão possui efeitos erga omnes. Assim,
julgado pelo STF. toda e qualquer pessoa que tenha direito
Contudo, na ADI 3.406 e na ADI 3.470, o STF, violado por um ato contrário ao entendimento
por maioria, adotou o entendimento de que, adotado pelo Supremo em uma ADI, ADC ou
para evitar antinomias e fragmentação da ADPF pode ajuizar diretamente uma
unidade do sistema, seria necessário equalizar reclamação no STF.
as decisões tomadas no processo
constitucional subjetivo e no processo
constitucional objetivo para que ambas tenham
efeitos erga omnes e vinculantes.

Atenção!

o Havendo trânsito em julgado, caberá ação rescisória.

Súmula 734/STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em


julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo
Tribunal Federal.

o A reclamação exige o efetivo desrespeito, não pode haver apenas uma ameaça de
violação.

STF – Rcl 4.085-AgR: A ação constitucional da reclamação não admite


pedido de caráter preventivo.

o Caso o ato, objeto da reclamação, tenha sido praticado antes da elaboração da


súmula, não caberá reclamação, tendo em vista que não houve desrespeito à
decisão.

STF – Rcl 6.449-AgR: Inexiste ofensa à autoridade de Súmula Vinculante


quando o ato de que se reclama é anterior à decisão emanada da Corte
Suprema.

o Apesar de dever ser observada pelos demais órgãos do Poder Judiciário, o


desrespeito a súmula que não possui efeito vinculante não será objeto de
reclamação.

STF – Rcl 3.284-AgR: Não cabe reclamação constitucional para questionar


violação a súmula do STF destituída de efeito vinculante.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 289


.
o As decisões proferidas pelo STF em RE, quando há o reconhecimento da existência
de repercussão geral, devem ser observadas pelos demais juízes e Tribunais. No
entanto, se órgãos do Judiciário descumprirem uma decisão do Supremo proferida
no RE com repercussão geral, não caberá reclamação. É necessário que desta
decisão haja um recurso para o Tribunal, se for uma decisão do juiz, ou para o
Supremo, através de recurso extraordinário, se for uma decisão de Tribunal. O
Supremo não admite a chamada reclamação per saltum.

STF – Rcl 10.793: 1. As decisões proferidas pelo Plenário do Supremo


Tribunal Federal quando do julgamento de recursos extraordinários com
repercussão geral vinculam os demais órgãos do Poder Judiciário na solução,
por estes, de outros feitos sobre idêntica controvérsia. 2. Cabe aos juízes e
desembargadores respeitar a autoridade da decisão do Supremo Tribunal
Federal tomada em sede de repercussão geral, assegurando racionalidade e
eficiência ao Sistema Judiciário e concretizando a certeza jurídica sobre o
tema. 3. O legislador não atribuiu ao Supremo Tribunal Federal o ônus de
fazer aplicar diretamente a cada caso concreto seu entendimento. 4. A Lei
11.418/2006 evita que o Supremo Tribunal Federal seja sobrecarregado por
recursos extraordinários fundados em idêntica controvérsia, pois atribuiu aos
demais Tribunais a obrigação de os sobrestarem e a possibilidade de
realizarem juízo de retratação para adequarem seus acórdãos à orientação
de mérito firmada por esta Corte. 5. Apenas na rara hipótese de que algum
Tribunal mantenha posição contrária à do Supremo Tribunal Federal, é que
caberá a este se pronunciar, em sede de recurso extraordinário, sobre o caso
particular idêntico para a cassação ou reforma do acórdão, nos termos do art.
543-B, § 4º, do Código de Processo Civil. 6. A competência é dos Tribunais
de origem para a solução dos casos concretos, cabendo-lhes, no exercício
deste mister, observar a orientação fixada em sede de repercussão geral. 7.
A cassação ou revisão das decisões dos Juízes contrárias à orientação
firmada em sede de repercussão geral há de ser feita pelo Tribunal a que
estiverem vinculados, pela via recursal ordinária. 8. A atuação do Supremo
Tribunal Federal, no ponto, deve ser subsidiária, [...] 9. Nada autoriza ou
aconselha que se substituam as vias recursais ordinária e extraordinária pela
reclamação.

LEGITIMIDADE ATIVA

Qualquer pessoa atingida pelo ato contrário à orientação do Tribunal possui legitimidade
ativa. Após o CPC/2015, o MP também possui tal legitimidade.

16. SÚMULA VINCULANTE

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, pertinente consignar que há uma tendência, nos ordenamentos jurídicos


contemporâneos, de aproximação entre os sistemas grandes sistemas do direito: a common law
(baseado em precedentes) e o sistema da civil law (baseado na legislação escrita). Com isso, cada
vez mais países que adotam a common law (EUA, por exemplo) estão usando a legislação escrita

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e países que adotam a civil law (caso do Brasil) estão valorizando os precedentes, isso ficou
evidente, por exemplo, com o Código Civil de 2015.

No Brasil, percebe-se os dois sistemas. Quanto ao controle difuso, havia um sério problema,
não ter o “STARE DECISIS”. No EUA é diferente, pois quando a Suprema Corte dá uma decisão
no controle difuso (único controle lá existente), essa decisão vincula todos os demais órgãos do
poder judiciário: é o chamado “BINDING EFFECT“ (efeito vinculante vertical). Já no Brasil, quando
o STF proferia uma decisão no controle difuso, em regra as decisões só valiam para as partes
envolvidas (uma das tentativas de corrigir a distorção é a suspensão de lei declarada
inconstitucional pelo SENADO no controle difuso, a outra é a súmula vinculante).

Assim, percebe-se que a súmula vinculante acaba aproximando o sistema brasileiro da


doutrina do “stare decisis” americana, dando o devido valor (efeito vinculante) a determinadas
decisões da Suprema Corte. Gradativamente, a aproximação vem aumentando.

FUNDAMENTOS NORMATIVOS

O correto seria enunciado de súmula com efeito vinculante. Está prevista na CF, no art.
103-A, com regulamentação dada pela Lei 11.417/06.

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,


mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas
decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais
órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.

Salienta-se que criação da súmula vinculante foi baseada em dois fatores:

1º - Fator Jurídico - excesso de formalismo e recursos

2º - Fator Econômico - lentidão de processos

NATUREZA JURÍDICA

De acordo com o STF, o enunciado de súmula de efeito vinculante possui natureza


constitucional específica, trata-se de uma norma de decisão. Considera as demais súmulas de
natureza processual.

STF – Rcl 3.979 AgR: Súmulas vinculantes. Natureza constitucional


específica (art. 103-A, § 3º, da CF) que as distingue das demais súmulas da
Corte (art. 8º da EC 45/2004). Súmulas 634 e 635 do STF. Natureza
simplesmente processual, não constitucional. Ausência de vinculação ou
subordinação por parte do STJ.

OBJETO

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O objeto é a validade, interpretação e eficácia de determinadas normas sobre as quais esses
pontos não estejam bem definidos, seja por controvérsia atual no judiciário ou na administração
pública. Para evitar que a norma seja interpretada de formas distintas.

Art. 103-A, § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a


eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual
entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete
grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre
questão idêntica.

REQUISITOS

16.5.1. Reiteradas decisões sobre matéria constitucional

Não basta apenas que o STF tenha várias decisões sobre o tema (aspecto quantitativo), é
necessário que haja uniformidade entre as decisões. Ou seja, o entendimento sobre o tema está
consolidado.

Além disso, a matéria das reiteradas decisões deve ser constitucional (formalmente
constitucional). Não é necessário que a matéria seja típica, ou seja, sentido estrito que se refere
apenas aos direitos fundamentais, à estrutura do estado e à organização dos poderes.

16.5.2. Iniciativa

o De ofício – os Ministros do STF tomam a iniciativa de criar o enunciado de súmula


com efeito vinculante;

o Mediante provocação – através dos legitimados definidos

▪ Previstos no art. 103 da CF – mesmos legitimados da ADI e ADC;

▪ Defensor Público Geral da União

▪ Município, incidentalmente no curso de processo que seja parte

▪ Qualquer tribunal

Lei 11.417/2006 - Art. 3º São legitimados a propor a edição, a revisão ou o


cancelamento de enunciado de súmula vinculante:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – o Procurador-Geral da República;
V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VI - o Defensor Público-Geral da União;
VII – partido político com representação no Congresso Nacional;
VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;
IX – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal;
X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 292


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XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito
Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais
do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares.
§ 1º O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em
que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de
súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo.
§ 2º No procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da
súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a
manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal.

Obs.: os legitimados para propor o enunciado de súmula com efeito vinculante também podem pedir
a sua revisão e o seu cancelamento.

16.5.3. Quórum

A edição de enunciado de súmula com efeito vinculante exige o voto de 2/3 dos membros
do STF, ou seja, pelo menos oito dos onze ministros.

Salienta-se que o STF pode dar efeito vinculante às Súmulas já existentes, nos termos do
art. 8º da EC 45/04 (que não foi acrescentado ao texto constitucional). Para isso, basta submeter a
Súmula novamente à votação.

EC 45/04 - Art. 8º As atuais súmulas do Supremo Tribunal Federal somente


produzirão efeito vinculante após sua confirmação por dois terços de seus
integrantes e publicação na imprensa oficial.

16.5.4. Publicação

O enunciado de súmula só se torna vinculante após a sua publicação, ou seja, haverá a


obrigatoriedade de sua observância.

Salienta-se que Súmula Vinculante afeta a todos, trata-se de uma norma de decisão. Por
isso, somente após a sua publicação (conhecimento de todos, em tese) é que será de observância
obrigatória.

16.5.5. Efeito vinculante

Tem o mesmo efeito vinculante das decisões em controle concentrado de


constitucionalidade. Ou seja, não atinge a particulares, mas sim PODERES PÚBLICOS (o que
atinge a particulares é o efeito erga omnes). Lógico que, reflexamente, o particular também será
atingido.

Assim vincula:

a) Todos os demais órgãos do poder judiciário: O STF não fica vinculado, tanto é assim que
pode revisar e cancelar a Súmula (os ministros – em decisões monocráticas – e turmas ficam
vinculados).

b) Administração Pública (direta e indireta) de todas as esferas;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 293


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Salienta-se que o Poder legislativo não fica vinculado em sua FUNÇÃO TÍPICA legislativa.
Contudo, quanto às funções atípicas haverá vinculação. Por exemplo, súmula que veda o nepotismo
deve ser obedecida pelos funcionários do legislativo. No entanto, nada impede que o legislador crie
lei permitindo o nepotismo.

IMPORTANTE: Na realidade, o que não fica vinculada é a função legislativa, seja ela exercida
pelo órgão que for. Ex.: Pode o presidente editar MP contrariando Súmula.

Em relação ao efeito temporal do enunciado de súmula vinculante, em regra, será ex nunc


(efeito imediato). Contudo, nada impede que haja modulação dos efeitos temporais, nos termos do
art. 4º da Lei 11.417/2016.

Art. 4º A súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata, mas o Supremo
Tribunal Federal, por decisão de 2/3 (dois terços) dos seus membros, poderá
restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a partir de
outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse público.

CANCELAMENTO

Conforme entendimento do STF, para admitir-se a revisão ou o cancelamento de súmula


vinculante, é necessário demonstrar que houve:

a) evidente superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria;

b) alteração legislativa quanto ao tema; ou

c) modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.

17. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E RECURSOS ESPECIAIS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, pertinente diferenciarmos os recursos ordinários dos recursos de estrito direito.


Observe:

RECURSOS ORDINÁRIOS RECURSOS DE ESTRITO DIREITO

Fomentar a unidade do ordenamento


jurídico, fixando sentido e o alcance de
Finalidade Assegurar direitos subjetivos. determinados dispositivos
constitucionais (recurso extraordinário)
ou legais (recurso especial)

O CPC/15 reforçou o perfil objetivo dos recursos de estrito direito, algo que já era visualizado
na jurisprudência do STF, sobretudo após a EC 45/04. A seguir colacionamos alguns dispositivos
do CPC/15 que evidenciam tal perfil:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 294


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o Valoração dos precedentes – arts. 926 e 927;

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la


estável, íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento
interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua
jurisprudência dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução
de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e
especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.
§ 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, §
1º , quando decidirem com fundamento neste artigo.
§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em
julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas
e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir
para a rediscussão da tese.
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo
Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento
de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no
interesse social e no da segurança jurídica.
§ 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou
de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade
de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da
segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.
§ 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por
questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede
mundial de computadores.

o Desconsideração de vícios formais de menor relevância – art. 1.029, §3º;

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos


na Constituição Federal , serão interpostos perante o presidente ou o vice-
presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
§ 3º O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá
desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção,
desde que não o repute grave.

o Livre trânsito entre STF e STJ para fins de admissibilidade recursal – art. 1.032;

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o


recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 295


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de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de
repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput , o relator
remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de
admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.

o Julgamento em bloco dos recursos repetitivos – art. 1.036 e 1.039

Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou


especiais com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação
para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado
o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do
Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal
regional federal selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da
controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a suspensão
do trâmite de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.
§ 2º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que
exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o
recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente, tendo o
recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.
§ 3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º caberá apenas
agravo interno.
§ 4º A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça
ou do tribunal regional federal não vinculará o relator no tribunal superior, que
poderá selecionar outros recursos representativos da controvérsia.
§ 5º O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou mais
recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão de
direito independentemente da iniciativa do presidente ou do vice-presidente
do tribunal de origem.
§ 6º Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham
abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

Art. 1.039. Decididos os recursos afetados, os órgãos colegiados declararão


prejudicados os demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os
decidirão aplicando a tese firmada.
Parágrafo único. Negada a existência de repercussão geral no recurso
extraordinário afetado, serão considerados automaticamente inadmitidos os
recursos extraordinários cujo processamento tenha sido sobrestado.

o Duplo juízo de admissibilidade – art. 1.030

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o


recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15
(quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-
presidente do tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o
Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 296


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repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
exarado no regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão
que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de
julgamento de recursos repetitivos;
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de
retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o
caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo
ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou
infraconstitucional;
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional
ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao
Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde
que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral
ou de julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V
caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo
interno, nos termos do art. 1.021.

o Interposição simultânea de RE e Resp. – art. 1.031

Art. 1.031. Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e


recurso especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos
ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se
este não estiver prejudicado.
§ 2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso
extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá
os autos ao Supremo Tribunal Federal.
§ 3º Na hipótese do § 2º, se o relator do recurso extraordinário, em decisão
irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior
Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso especial.

É cabível a interposição de RE contra decisão proferida no Resp.? Quando a decisão


recorrida tratar de matéria constitucional e legal, deve haver interposição simultânea.
Nos casos em que a decisão recorrida tratar apenas de matéria legal, surgindo
matéria constitucional do julgamento do recurso especial, poderá ser interposto RE.

STF – AI 145.589 AgR/RJ: E M E N T A Recurso extraordinário: interposição


de decisão do STJ em recurso especial: inadmissibilidade, se a questão
constitucional de que se ocupou o acórdão recorrido já fora suscitada e

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 297


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resolvida na decisão de segundo grau e, ademais, constitui fundamento
suficiente da decisão da causa. 1. Do sistema constitucional vigente, que
prevê o cabimento simultâneo de recurso extraordinário e de recurso especial
contra o mesmo acórdão dos tribunais de segundo grau, decorre que da
decisão do STJ, no recurso especial, só se admitirá recurso extraordinário
se a questão constitucional objeto do último for diversa da que já tiver
sido resolvida pela instância ordinária. 2. Não se contesta que, no sistema
difuso de controle de constitucionalidade, o STJ, a exemplo de todos os
demais órgãos jurisdicionais de qualquer instância, tenha o poder de declarar
incidentemente a inconstitucionalidade da lei, mesmo de oficio; o que não é
dado aquela Corte, em recurso especial, é rever a decisão da mesma questão
constitucional do tribunal inferior; se o faz, de duas uma: ou usurpa a
competência do STF, se interposto paralelamente o extraordinário ou, caso
contrário, ressuscita matéria preclusa.

PREQUESTIONAMENTO

Tanto o RE quanto o REsp. exigem o prequestionamento.

Trata-se de um requisito de admissibilidade recursal, consistindo no debate e na decisão


do tribunal de origem, acerca da questão constitucional ou federal em pauta. Em outras palavras, é
a demonstração que os dispositivos constitucionais ou legais apontados como violados foram
enfrentados no acórdão ou sentença.

Caso a decisão recorrida não tenha enfrentado a questão jurídica, não há falar em
prequestionamento. Não é necessário fazer alusão expressa as dispositivos da Constituição e da
lei, mas a questão deve ter sido debatida e decidida pelo tribunal. Salienta-se que não basta a parte
evocar os dispositivos, é necessário que sejam relevantes para a causa.

Quando o tribunal se omite sobre a questão, caberá embargos de declaração que servirão
de prequestionamento. Caso não sejam conhecidos os embargos, o Tribunal Superior irá analisar,
poderão:

o Entender que a parte opôs embargos e mesmo assim o tribunal de origem não
enfrentou a questão que deveria ter sido enfrentada, irão admitir o RE e o Resp.

o Entender que a questão não precisaria ser enfrentada para a solução da


controvérsia, não haverá admissibilidade do RE e Resp., mesmo diante dos
embargos.

A Súmula 282 do STF prevê o prequestionamento.

Súmula 282/STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando não


ventilada, na decisão recorrida, a que estão federal suscitada. Aplica-se para
o Resp. também.

CPC/2015, art. 1.025: Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que


o embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda que os
embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 298


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PRÉVIO ESGOTAMENTO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS

Trata-se de corolário da previsão contida na Constituição de que tanto o RE quanto o RESP


só são cabíveis nos casos de causas decidas em única ou última instância.

CF, art. 102, III: julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas
em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

CF, art. 105, III: julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

Atenção!

Súmula 281/STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na


Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.

No caso de RE, a Constituição não menciona “tribunal”. Portanto, não se exige que a decisão
tenha sido proferida em um acordão de tribunal, justamente por isso que se admite a interposição
de RE contra decisão de turma recursal.

Súmula 640/STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida


por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de
juizado especial cível e criminal.

Descabe recurso extraordinário de decisões (in) defertórias de liminares.

Súmula 735/STF: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere
medida liminar.

No caso de RESP, só será admitido no caso de acordão de tribunal local.


Consequentemente, não se admite RESP. de juiz de primeiro grau e nem de turma recursal.

Além disso, entende-se que a expressão “causas decididas” abrange o acordão proferido
em agravo de instrumento.

Súmula 86/STJ: Cabe recurso especial contra acórdão proferido no


julgamento de agravo de instrumento.

Excepcionalmente, o STJ admite o cabimento de RESP contra decisões que deferem ou


indeferem medidas liminares.

STJ - REsp 696.858/CE: [...] Relativamente ao recurso especial, não se pode


afastar, de modo absoluto, a sua aptidão como meio de controle da
legitimidade das decisões que deferem ou indeferem medidas liminares.
Todavia, a exemplo do recurso extraordinário, o âmbito da revisibilidade
dessas decisões, por recurso especial, não se estende aos pressupostos
específicos da relevância do direito (fumus boni iuris) e do risco de dano (
periculum in mora). Relativamente ao primeiro, porque não há juízo definitivo
e conclusivo das instâncias ordinárias sobre a questão federal que dá suporte
ao direito afirmado; e relativamente ao segundo, porque há, ademais, a
circunstância impeditiva decorrente da súmula 07/STJ, uma vez que a

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 299


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existência ou não de risco de dano é matéria em geral relacionada com os
fatos e as provas da causa.

IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS

Nos recursos de estrito direito a discussão fica restrita a matérias legais ou constitucionais.
A questão fática deve ter sido delimitada pelo tribunal de origem. Contudo, nada impede que a
valoração do fato seja feita de forma distinta.

Súmula 279/STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso


extraordinário.

Súmula 7/STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso


especial.

REPERCUSSÃO GERAL

Trata-se de um requisito intrínseco de admissibilidade recursal, antecedente e prejudicial a


qualquer outro. É exclusivo do recurso extraordinário.

CF, art. 102, § 3º: No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar


a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos
termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros.

Revela o caráter preponderantemente objetivo do recurso extraordinário, que só será


admitido se houver relevância da matéria, transcendendo o interesse das partes envolvidas.
Chama-se de binômio relevância e transcendência.

CPC – art. 1.035, § 1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a


existência ou não de questões relevantes do ponto de vista econômico,
político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do
processo.

Há situações (art. 1.035, §3º, do CPC) em que a repercussão geral será presumida.

Art. 1.035, § 3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar


acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal;
II – ( Revogado );
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal,
nos termos do art. 97 da Constituição Federal .

Conforme o entendimento do STF, a repercussão geral é exigida tanto em matéria cível


quanto criminal.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 300


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HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RE

Previstas no art. 102, III, da CF. Observe:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou
última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

a) Contrariar dispositivo da Constituição

Havendo violação a tratado internacional de direitos humanos aprovados por 3/5 em dois
turnos, caberá recurso extraordinário. No caso de violação dos demais tratados comuns ou de
direitos humanos que não tenham sido aprovados por 3/5 e em dois turnos, não caberá RE.

No caso de ADI Estadual, há duas hipóteses em que o STF admite o cabimento de RE.
Vejamos:

1ª Hipótese – quando o TJ considerar o próprio parâmetro da constituição estadual


inconstitucional. Perceba que há uma mudança, já que o dispositivo que era o parâmetro da
constituição estadual passa a ser o objeto, tendo como parâmetro a Constituição Federal, por isso,
admite-se o RE.

2ª Hipótese – quando o TJ interpretar norma de observância obrigatória em sentindo


contrário a interpretação dada pelo STF.

O cabimento de RE, com base no art. 102, III, “a”, da CF, exige violação frontal e direta de
dispositivo constitucional.

Súmula 280/STF: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.

Súmula 454/STF: Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar


a recurso extraordinário.

Súmula 636/STF: Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao


princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha
rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão
recorrida.

Salienta-se que a violação reflexa equivale à situação na qual o ato violado é um ato
interposto entre a Constituição e o objeto impugnado. Por exemplo, se houver a necessidade de o
STF analisar normas infraconstitucionais para verificar se houve ou não contrariedade a um
dispositivo da Constituição, não caberá RE.

STF – ARE 748.371 RG/MT: Alegação de cerceamento do direito de defesa.


Tema relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 301


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defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal. Julgamento
da causa dependente de prévia análise da adequada aplicação das normas
infraconstitucionais. Rejeição da repercussão geral.

b) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal

Nos casos em que houver declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, não
se exige o prequestionamento. Isto porque ao declarar a inconstitucionalidade da norma,
pressupõe-se que há uma matéria constitucional envolvida.

Destaca-se que para a declaração de inconstitucionalidade é necessária a observância da


cláusula de reserva do plenário (art. 97 da CF). Neste caso, o RE deve ser interposto contra a
decisão do órgão fracionado. Logo, é a decisão do caso concreto que será objeto do recurso e não
a decisão dada em abstrato a respeito da constitucionalidade ou não da lei.

Súmula 513/STF: A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário


ou extraordinário, não é a do plenário que resolve o incidente de
inconstitucionalidade, mas a do órgão (câmaras, grupos ou turmas) que
completa o julgamento do feito.

Por fim, nos casos de normas pré-constitucionais, por se tratar de hipótese de recepção e
não de declaração de inconstitucionalidade, não caberá RE.

STF – RE 289.533 AgR/SP: Ambas as Turmas deste Supremo Tribunal


Federal têm firmado orientação no senti do de que não é cabível recurso
extraordinário interposto na forma da alínea "b", inciso III, do art. 102, da
Magna Carta, contra acórdão que decide pela não-recepção de lei em face
da Constituição em vigor, ante a inocorrência de declaração de
inconstitucionalidade.

c) Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição

Refere-se a leis e atos estaduais e municipais.

O cabimento justifica-se pelo fato de que a manutenção do ato considerado válido poderá
se revelar contrário à Constituição.

d) Julgar válida lei local contestada em face de lei federal

Antes da EC 45/04, cabia ao STJ, mediante RESP, a análise do conflito. Consequentemente,


aparentemente sustentava-se uma hierarquia entre a lei federal em face da lei local, já que o STJ é
o guardião da lei federal.

Como não há hierarquia entre lei municipal, estadual e federal, para resolver o conflito, é
necessário recorrer à instância superior, que é a Constituição. Há que se recorrer ao texto
constitucional para ver qual dessas leis invadiu o campo de competência da outra. Portanto, a
questão é constitucional, justificando-se a alteração promovida pela EC 45/04.

HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RESP

Estão previstas no art. 105, III, da CF. Vejamos:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 302


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Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados,
do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.

a) Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência

No caso de tratado, só caberá RESP de tratado equivalente à lei ordinária, ou seja, tratado
que não é de direitos humanos, ou, se de tratado de direitos humanos com supralegal. Se for tratado
internacional de direitos humanos, aprovado por 3/5 dos membros e em 2 turnos, cabe o RE, como
já mencionado acima.

A expressão “lei federal” mencionada na alínea “a” deve ser interpretada como uma lei
federal em sentido amplo, abrangendo atos normativos primários emanados do Congresso
Nacional, a exemplo de leis complementares, leis ordinárias, decretos legislativos, resoluções; e do
Chefe do Poder Executivo, a exemplo de medidas provisórias e decretos autônomos.

Tratando-se de decreto regulamentar, por serem atos infralegais, não admitem RESP
(mudança de entendimento, já que antes do STJ admitia).

STJ - AgInt no REsp 1.627.640/PE (04/04/2017): II- Quanto à violação do art.


149 do Decreto n. 57.654/66 -, que regulamenta a Lei do Serviço Militar n.
4.375/64 - o STJ possui entendimento de que decreto regulamentar não se
enquadra no conceito de lei federal.

Atenção! Não caberá recurso especial contra:

o Matéria constitucional;

o Tratado internacional de direitos humanos aprovados por 3/5 em dois turnos;

o Direito local;

o Atos infralegais.

b) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal

Justifica-se porque a prevalência do ato do governo local, afastando a aplicação da lei


federal, pode se revelar contrária à lei federal. Como o STJ é o guardião da lei federal, cabe a ele
dar a última palavra.

Não será cabível quando a decisão julgar inválido o ato local, já que, neste caso, prevaleceu
a lei federal.

c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal

O recurso especial, aqui, visa uniformizar a interpretação do direito federal. A divergência


deve ser atual e ocorrer entre tribunais diversos.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 303


.
Súmula 83/STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência,
quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão
recorrida.

Importante consignar que é necessário que o recorrente transcreva os trechos dos acórdãos,
demonstrando a divergência entre os dois entendimentos. Se não transcrever os trechos que são
objeto da divergência, não será admitido o REsp com base na alínea “c”. Chama-se de cotejo
analítico, as decisões divergentes que tratam do mesmo assunto terão as teses de direito
comparadas.

CPC – art. 1.029, § 1º Quando o recurso fundar-se em dissídio


jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a certidão, cópia
ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive
em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou
ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de
computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer
caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos
confrontados.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 304


.
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES
DEMOCRÁTICAS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Estado de Defesa e o Estado de Sítio são institutos de antítese à normalidade. Trata-se do


chamado direito constitucional das crises, aplicado em situações excepcionais apenas.

Carlos Maximiliano: “As disposições excepcionais são estabelecidas por motivos ou


considerações particulares, contra outras normas jurídicas ou contra o direito comum. Por isso não
se estendem além dos casos e tempos que designam expressamente. Interpretam-se
restritivamente as disposições que limitam a liberdade, tomada esta palavra em qualquer de suas
acepções.”

Cansado Trindade: “As eventuais limitações ou restrições permissíveis ao exercício de


direitos consagrados devem ser interpretadas restritivamente e em favor destes últimos. Ou seja,
limitação e restrição de direitos fundamentais comportas interpretação restritiva” (princípio da
máxima eficácia dos direitos fundamentais – Konrad Hesse).

José de Freitas: “As melhores leituras sistemáticas da constituição visualizam os direitos


fundamentais como totalidade indissociável e, nesta medida, procuram restringir ao máximo suas
eventuais limitações”.

2. NORMAS GERAIS COMUNS AO SISTEMA CONSTITUCIONAL DAS CRISES

TEMPORARIEDADE

Tanto o Estado de Defesa quanto o Estado de Sítio são marcados pela temporariedade.

Estado de defesa: 30 dias + 30 dias (uma vez).

Art. 136
§ 2º - O tempo de duração do ESTADO DE DEFESA não será superior a trinta
dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as
razões que justificaram a sua decretação.

Estado de sítio: Art. 137, I → 30 dias prorrogáveis sucessivamente; Art. 137 II → não há
prazo definido.

Art. 138
§ 1º - O ESTADO DE SÍTIO, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado
por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no
do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou
a agressão armada estrangeira.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 305


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Art. 137. I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos
que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa
(30+30+30...e assim por diante);
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira (tempo que durar guerra ou agressão).

PROPORCIONALIDADE

Lembrando que o STF entende que a proporcionalidade advém da máxima do devido


processo legal em seu sentido substantivo.

Adequação: a medida de exceção adotada e sua execução deverão ser aptas a fomentar a
solução da crise;

Necessidade: escolha do meio menos gravoso para alcançar o valor desejado. Antes de se
decretar o estado de sítio ou de defesa deve-se ponderar se não é suficiente: intervenção federal,
atuação das Forças Armadas (art. 142 caput CF), prisões ou mobilização nacional (art. 84, XIX CF
e Lei 11631/07), etc. Adota-se o critério da subsidiariedade.

CF
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
destes, da lei e da ordem.

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo
Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das
sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou
parcialmente, a mobilização nacional;

Proporcionalidade em sentido estrito: as vantagens do fim devem superar as desvantagens


do meio (ato praticado). Aqui se analisa a proporção entre o CUSTO x BENEFÍCIO trazidos por ela.
Faz-se uma verdadeira ponderação. E na concepção de Canotilho, o subprincípio da
proporcionalidade em sentido estrito é o princípio da justa medida, o qual é analisado se o
RESULTADO obtido com a intervenção da Administração Pública é proporcional à intensidade da
coação empregada.

DELIMITAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Rol taxativo, em regra – art. 136, §1° (estado de defesa), 137 I c/c 139 da CF (estado de
sítio). No estado de sítio do art. 137, II o rol é aberto – pode-se restringir qualquer direito.

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República


e o Conselho de Defesa Nacional, decretar ESTADO DE DEFESA para
preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 306


.
ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na
natureza.
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos
e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.

Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República


e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional
autorização para decretar o ESTADO DE SÍTIO nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa (ou
seja, ineficácia da medida tomada frente à crises institucionais ou
calamidades naturais);
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira.

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art.


137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
I - obrigação de permanência em localidade determinada;
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes
comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa,
radiodifusão e televisão, na forma da lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio;
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII - requisição de bens.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de
pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas,
desde que liberada pela respectiva Mesa.

O decreto do estado de defesa ou de sítio deve expressar quais os direitos estão sendo
restringidos – princípio da segurança jurídica.

OBS: o Estado de Defesa é decretado pelo presidente, com controle REPRESSIVO pelo congresso;
no Estado de Sítio o presidente SOLICITA aprovação ao congresso e depois decreta. Este decreto
emitido pelo Presidente da República (tanto em um como em outro) é um ato normativo originário,
ou seja, é outra hipótese de decreto autônomo. Ele inova no ordenamento jurídico (cria direitos
e obrigações), autorizado pela Constituição. CABM sustenta que é uma das exceções ao princípio
da legalidade (além da Medida Provisória).

MOTIVAÇÃO

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 307


.
No estado democrático de direito, todos os atos do poder público devem ser motivados,
sejam do legislativo, da administração ou do judiciário.

3. ESTADO DE DEFESA

CONCEITO

É uma medida excepcional, decretada pelo Presidente, após a prévia oitiva do Conselho de
Defesa e da República, para preservar ou prontamente reestabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. Após a decretação
cabe ao Congresso referendá-la ou não, por maioria absoluta.

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da


República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa
para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e
iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de
grandes proporções na natureza.

Trata-se de um regime sui generis de anormalidade (legalidade extraordinária).

A manifestação dos conselhos é ato formal indispensável, em que pese tenha natureza
meramente opinativa, não vinculando a decisão do Presidente.

Art. 136, § 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o


Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato
com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por
maioria absoluta.
§ 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado,
extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
§ 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias
contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto
vigorar o estado de defesa.

O Congresso deve referendar no prazo de 10 dias (art. 136, §6º).

§ 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.

Havendo omissão do Congresso não se pode falar em aprovação tácita ou trancamento da


pauta, eis que não existe tal previsão na CF.

Pode o PR revogar o Estado de Defesa antes da aprovação pelo congresso? SIM.


Desaparecendo os pressupostos que ensejaram a decretação do Estado de Defesa o Presidente
tem o dever de revogá-lo, sob pena de praticar ato contra a Constituição e, por conseguinte, crime
de responsabilidade (art. 85 CF).

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da


República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
contra:

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 308


.
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério
Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que
estabelecerá as normas de processo e julgamento.

EFEITOS

CF Art. 136
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e
limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações (ligados aos
direitos de expressão de liberdade e ao regime democrático, somente haverá
a restrição se houver pertinência temática.);
b) sigilo de correspondência (é o sigilo e não CENSURA);
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica (exceção à reserva de
jurisdição);
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.
§ 3º - Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da
medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a
relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de
delito à autoridade policial; (exceção à reserva legal, podendo a prisão ser
decretada por pessoa que não é juiz; observe que há controle judicial sobre
a medida)
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do
estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez
dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.

CONTROLE DOS ATOS DO PODER EXECUTIVO

Cabe ao Congresso FISCALIZAR e CONTROLAR os atos do poder executivo (art. 49, X,


CF)

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


...
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os
atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 309


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Fiscalizar e controlar significam a mesma coisa? Não. A termos diversos não se deve atribuir
o mesmo conteúdo. Este instrumental deriva do princípio da unidade da constituição (Celso Bastos).
Não há na CF palavras inúteis (Carlos Maximiliano)

“CONTROLAR”: o Congresso recebe atribuição da CF para decidir sobre relações jurídicas


praticadas pelo executivo, revogando-as ou anulando-as. Exemplo: Art. 49 V, Art. 71, III (Súmula
Vinculante 03) e §1º.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


...
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido


com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
...
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de
pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as
nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as
melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;
§ 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente
pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo
as medidas cabíveis.

“FISCALIZAR”: o Congresso acompanha o ato do executivo, realizando medidas


investigatórias (CPI), convocando Ministros, a fim de apurar a legalidade e constitucionalidade, SEM
o poder de anulação, revogação ou aplicação de penalidades.

O Congresso controla, nos termos do 49, IV, o Estado de Defesa e o Estado de Sítio. No
Estado de Defesa o controle REPRESSIVO; no Estado de Sítio o controle PREVENTIVO e
REPRESSIVO (suspender a medida).

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


IV - APROVAR o estado de defesa e a intervenção federal, AUTORIZAR o
estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;

Nessas medidas o congresso também realiza controle repressivo e preventivo de


constitucionalidade.

A fiscalização é realizada pela Comissão do art. 140 CF:

Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários,


designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar
e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao
estado de sítio.

Neste rumo, cabe uma pergunta: cabe controle judicial de ATO POLÍTICO? Ato político situa-
se no âmbito da discricionariedade política, das opções políticas tomadas segundo uma linha
programática fundada em um juízo de conveniência, oportunidade, adequação e utilidade, derivada

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 310


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da competência constitucionalmente reservada. Exemplo: veto, resolução do senado (52, X),
julgamento por impeachment, intervenção federal, estado de sítio, de defesa.

CF, Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

1ªC: não é possível de controle judicial. É a posição clássica do STF (HC 300 e ADPF 1/RJ).
Fundamenta-se no art. 2° da CF - separação dos poderes. Tese pra AGU, advocacias públicas.

2ªC: não há ato imune ao controle jurisdicional, pois não há espaço no estado constitucional,
onde temos governos limitados, especialmente quando lesivo a direitos fundamentais. Tese para
os demais concursos.

Celso de Mello: o princípio da separação de poderes não pode ser invocado para
estabelecer, em torno de um dos órgãos da soberania nacional um devassável círculo de imunidade,
insuscetível de revisão judicial, não obstante a concretização eventual de lesão a direitos
fundamentais. MS 21564 STF.

Fundamentos da 2ª corrente:

1º Fundamento: a CF não ressalva expressamente a impossibilidade do controle judicial (tal


como fez no art. 142 – não cabe HC contra o mérito de punição disciplinar; tal como fez no art. 217
da CF).

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem.
...
§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares
militares.

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-


formais, como direito de cada um, observados:
§ 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei.

2º Fundamento: existe um direito fundamental a efetivação da constituição, devendo ser


garantida pelo judiciário (Dirley da Cunha Jr.);

3º Fundamento: o art. 5, XXXV – princípio da inafastabilidade e acesso ao judiciário;

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
...

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 311


.
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito;

4º Fundamento: o estado democrático de direito pressupõe a existência de controle dos atos


do poder público e dos particulares;

5 º Fundamento: Lord Acton (Inglaterra): “Todo poder corrompe; o poder absoluto corrompe
absolutamente”.

De quem é a competência para julgar ato do executor da medida? Como a matéria dos
tribunais superiores é taxativamente prevista, resta a 1ª instância da Justiça Federal (pois a
autoridade é federal).

4. ESTADO DE SÍTIO

CONCEITO

A CF prevê duas modalidades de estado de sítio (legalidade extraordinária):

Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da


República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso
Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa (crise
institucional ou calamidade);
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira. (obs: decretação de guerra não implica automaticamente em
estado de sítio).
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para
decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos
determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por
maioria absoluta

O Estado de Sítio pressupõe a PRÉVIA autorização do Congresso (diferente, portanto, do


Estado de defesa, onde o congresso apenas referenda o estado já decretado).

O Congresso demora muito para autorizar o Estado de Sítio. Pode o presidente


decretar o Estado de Defesa? SIM.

O presidente pode revogar o Estado de Sítio antes da apreciação do Congresso? SIM.


Mesma ideia do estado de defesa, sumindo os requisitos o presidente tem a obrigação
constitucional de revogar o estado excepcional.

EFEITOS

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art.


137, I (comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa –

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 312


.
crise institucional ou calamidade) só poderão ser tomadas contra as pessoas
as seguintes medidas:
I - obrigação de permanência em localidade determinada; (é a chamada
“Menage")
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes
comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa,
radiodifusão e televisão, na forma da lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio; (sem ordem judicial e em qualquer
horário, exceção à reserva de jurisdição, IQ 2424)
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII - requisição de bens.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de
pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas,
desde que liberada pela respectiva Mesa.

A CF só aponta as medidas possíveis no estado de sítio do art. 137, I. Assim, a doutrina


defende que no art. 137, II a restrição de direitos é ampla, de forma que todo e qualquer direito pode
ser restringido.

Parte da doutrina defende que apenas não poderá ser restringido o direito ao acesso ao
judiciário, a não tortura, a não extradição de brasileiro nato (Carlos Ayres Brito recentemente votou
obter dicta que tais direitos seriam absolutos, contrariando a doutrina clássica que afirma não
existirem direitos absolutos).

RESPONSABILIZAÇÃO PELAS MEDIDAS EXECUTIVAS

CF, Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão


também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos
cometidos por seus executores ou agentes.
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio, as
medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da
República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e
justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e
indicação das restrições aplicadas.

A CF não poderá ser alterada na vigência de Estado de Sítio ou Estado de Defesa (limites
circunstanciais ao poder constituinte derivado).

CF
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
...
§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

As imunidades parlamentares podem ser SUSPENSAS no Estado de Sítio somente (art.


53, §8°)

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 313


.

Art. 53
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado
de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos
membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto
do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da
medida.

CS – CONSTITUCIONAL: PARTE II 314

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