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APOSTILA

DIREITO TRIBUTÁRIO II
Prof. Ms. André Cardoso Berçot

Santos/SP
2020.2
SUMÁRIO

1. Linha do Tempo ................................................................................................................................... 6

2. Causas de Exclusão do Crédito Tributário ................................................................................... 6


2.1. Isenção ................................................................................................................................................................ 6
2.2. Anistia ................................................................................................................................................................. 8

3. Causas de Suspensão da Exigibilidade do Crédito Tributário ............................................... 9


3.1. Moratória.........................................................................................................................................................10
3.2. Depósito do montante integral .............................................................................................................11
3.3. Reclamações e recursos administrativos.........................................................................................12
3.4. Liminar em Mandado de Segurança ...................................................................................................13
3.5. Tutela Antecipada em Outras Espécies de Ação ...........................................................................13
3.6. Parcelamento.................................................................................................................................................13

4. Causas de Extinção do Crédito Tributário ................................................................................ 14


4.1. Pagamento ......................................................................................................................................................14
4.2. Compensação.................................................................................................................................................15
4.3. Transação ........................................................................................................................................................16
4.4. Remissão..........................................................................................................................................................16
4.5. Decadência ......................................................................................................................................................16
4.6. Prescrição ........................................................................................................................................................19
4.7. Conversão do depósito em renda ........................................................................................................23
4.8. Pagamento antecipado e posterior homologação .......................................................................24
4.9. Consignação em pagamento...................................................................................................................24
4.10. Decisão administrativa irreformável .................................................................................................24
4.11. Decisão judicial transitada em julgado .............................................................................................24
4.12. Dação em pagamento em bens imóveis ............................................................................................24

ANÁLISE DOS IMPOSTOS FEDERAIS

5. Imposto de importação .................................................................................................................. 26


5.1. Características gerais.................................................................................................................................26
5.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................26
5.3. Fato gerador ...................................................................................................................................................26
5.4. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................28
5.5. Base de cálculo ..............................................................................................................................................29
5.6. Alíquota ............................................................................................................................................................29
5.7. Lançamento ....................................................................................................................................................30

6. Imposto de exportação ................................................................................................................... 31


6.1. Características gerais.................................................................................................................................31
6.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................31
6.3. Fato gerador ...................................................................................................................................................32
6.4. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................33
6.5. Base de cálculo ..............................................................................................................................................33
6.6. Alíquota ............................................................................................................................................................34
6.7. Lançamento ....................................................................................................................................................34

7. Imposto sobre Operações Financeiras ...................................................................................... 36


7.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................36
7.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................36
7.3. IOF e o ouro ....................................................................................................................................................36
7.4. Fato gerador...................................................................................................................................................37
7.5. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................37
7.6. Base de cálculo ..............................................................................................................................................37
7.7. Alíquota ............................................................................................................................................................38
7.8. Lançamento ....................................................................................................................................................38

8. Imposto sobre Produtos Industrializados ................................................................................ 39


8.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................39
8.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................39
8.3. Imunidades .....................................................................................................................................................40
8.4. Fato gerador ...................................................................................................................................................41
8.5. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................41
8.6. Base de cálculo ..............................................................................................................................................41
8.7. Alíquota ............................................................................................................................................................42
8.8. Lançamento ....................................................................................................................................................42

9. Imposto Territorial Rural .............................................................................................................. 43


9.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................43
9.2. Delegação da fiscalização e da cobrança ..........................................................................................43
9.3. Imunidades .....................................................................................................................................................43
9.4. Fato gerador ...................................................................................................................................................44
9.5. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................45
9.6. Base de cálculo ..............................................................................................................................................46
9.7. Alíquota ............................................................................................................................................................46
9.8. Lançamento ....................................................................................................................................................47

10. Imposto de Renda............................................................................................................................. 48


10.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................48
10.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................48
10.3. Fato gerador ...................................................................................................................................................48
10.4. Sujeito ativo....................................................................................................................................................50
10.5. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................50
10.6. Base de cálculo ..............................................................................................................................................51
10.7. Alíquota ............................................................................................................................................................52
10.8. Lançamento ....................................................................................................................................................52

11. Imposto sobre Grandes Fortunas ................................................................................................ 53


11.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................53
11.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................53
11.3. Fato gerador, sujeito passivo, base de cálculo, alíquota e lançamento..............................53
11.4. Motivo de não ter sido instituído no Brasil.....................................................................................53
11.5. Destino de eventual arrecadação.........................................................................................................53

ANÁLISE DOS IMPOSTOS ESTADUAIS

12. Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) ......................................... 54


12.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................54
12.2. Ente competente para cobrança...........................................................................................................54
12.3. Princípios constitucionais .......................................................................................................................55
12.4. Fato gerador ...................................................................................................................................................55
12.5. Sujeito Passivo ..............................................................................................................................................56
12.6. Base de Cálculo .............................................................................................................................................56
12.7. Alíquotas ..........................................................................................................................................................57
12.8. Lançamento ....................................................................................................................................................57

13. Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) ......................................... 58


13.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................58
13.2. Conceito de “mercadoria” ........................................................................................................................58
13.3. Os serviços tributados por ICMS ..........................................................................................................59
13.3.1. Transporte ......................................................................................................................................59
13.3.2. Comunicação .................................................................................................................................60
13.4. O ICMS nas operações interestaduais ................................................................................................60
13.5. Princípios constitucionais .......................................................................................................................62
13.6. Imunidades de ICMS ..................................................................................................................................62
13.7. Fato gerador...................................................................................................................................................62
13.7.1. Circulação jurídica, e não física ............................................................................................63
13.7.2. Tributação conjunta de mercadorias e serviços ..........................................................63
13.7.3. ICMS na importação ...................................................................................................................64
13.7.4. Habitualidade ou volume que caracterize intuito comercial .................................64
13.8. Sujeito Passivo ..............................................................................................................................................65
13.9. Base de Cálculo .............................................................................................................................................65
13.10. Alíquotas ..........................................................................................................................................................66
13.11. Lançamento ....................................................................................................................................................66

14. Imposto sobre a propriedade de veículo automotor (IPVA) ............................................... 68


14.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................68
14.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................68
14.3. Fato gerador ...................................................................................................................................................69
14.4. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................69
14.5. Base de cálculo ..............................................................................................................................................70
14.6. Alíquotas ..........................................................................................................................................................70
14.7. Lançamento ....................................................................................................................................................71

ANÁLISE DOS IMPOSTOS MUNICIPAIS

15. Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) ................................. 72


15.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................72
15.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................72
15.3. Fato gerador ...................................................................................................................................................72
15.4. Sujeito passivo ..............................................................................................................................................75
15.5. Base de Cálculo .............................................................................................................................................75
15.6. Alíquota ............................................................................................................................................................75
15.7. Lançamento ....................................................................................................................................................77

16. Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) ......................................................... 78


16.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................78
16.2. Princípios Constitucionais ......................................................................................................................78
16.3. Imunidades .....................................................................................................................................................78
16.4. Fato Gerador ..................................................................................................................................................79
16.5. Sujeito Ativo ...................................................................................................................................................80
16.6. Sujeito Passivo ..............................................................................................................................................81
16.7. Base de Cálculo .............................................................................................................................................81
16.8. Alíquotas ..........................................................................................................................................................81
16.9. Lançamento ....................................................................................................................................................82

17. Imposto sobre Serviços (ISS) ........................................................................................................ 83


17.1. Caraterísticas gerais ...................................................................................................................................83
17.2. Princípios constitucionais .......................................................................................................................83
17.3. Isenção heterônoma nas exportações e concessão de incentivos fiscais .........................83
17.4. Fato gerador ...................................................................................................................................................83
17.5. Sujeito ativo....................................................................................................................................................85
17.6. Sujeito passivo e responsável ................................................................................................................87
17.7. Base de cálculo ..............................................................................................................................................87
17.8. Alíquota ............................................................................................................................................................87
17.9. Lançamento ....................................................................................................................................................88
Apostila de Direito Tributário II
Prof. André Cardoso Berçot

1. Linha do Tempo

HI FG OT LA CT DA CDA EF

Exclusão Suspensão Extinção


Art. 175 CTN Art. 151 CTN Art. 156 CTN

Decadência Prescrição
Art. 173 CTN Art. 174 CTN

2. Causas de Exclusão do Crédito Tributário

Excluir o crédito tributário é impedir, por força de lei, que ele seja lançado. Há duas hipóteses
legais em que, não obstante à ocorrência do fato gerador e o consequente nascimento da
obrigação tributária, não pode haver lançamento, pelo que não surgirá o crédito tributário,
nem, portanto, a obrigação de pagamento.

As duas causas de exclusão do crédito tributário estão previstas no art. 175 do CTN. Confira:

Código Tributário Nacional


Art. 175. Excluem o crédito tributário:
I - a isenção;
II - a anistia.
Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das
obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou
dela consequente.

2.1. Isenção

Dispensa do pagamento do tributo. É concedida por lei antes do lançamento.

A isenção sempre deve ser prevista em lei tributária municipal, estadual ou federal, dela
constando as condições e requisitos exigidos para a concessão, bem como a quais tributos se
aplica e, se for o caso, o prazo de sua duração (art. 150, §6º da CF c/c art. 176 do CTN).

➢ Atenção! Isenção não se confunde com imunidade tributária, pois mesmo com a
isenção, os fatos geradores continuam a ocorrer (exclui-se o lançamento). Lembre-se:
enquanto a imunidade é um recorte da própria competência (no âmbito
constitucional), a isenção é a mera dispensa do pagamento do tributo devido.

Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é extensiva às taxas e às contribuições de


melhoria, nem aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão (art. 177 do CTN).

Isenções gratuitas (não onerosas) são benesses, atos de bondade, sendo usualmente
concedidas para quem está em situação de vulnerabilidade ou a quem, por sua condição,
mereça a compaixão do Ente. Estas podem ser revogadas a qualquer tempo pelo poder
concedente (art. 178 do CTN).

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Isenções onerosas são aquelas que não trazem apenas bônus para o contribuinte, mas
também um ônus como condição para o seu gozo (como por exemplo exercer determinada
atividade ou fazer certas adaptações no imóvel) e prazo certo (determinado) de duração.
As isenções onerosas não podem ser revogadas ou modificas livremente pelo poder
concedente (art. 178 do CTN e Súmula 544 do STF).

➢ Fique atento! Não se pode confundir a revogação da isenção onerosa (impossível,


por conta da proteção ao direito adquirido) com revogação da lei concessória de
isenção onerosa (possível, pois não se pode impedir o parlamento de revogar uma lei).

Quem, durante a vigência da lei concessória, cumpre os requisitos para o gozo do


benefício, tem direito adquirido ao mesmo, pelo prazo previsto na lei, mesmo que
esta venha a ser revogada. Neste caso, a lei revogada ganha ultratividade, o que
significa dizer que a lei conserva seu vigor, mesmo depois de ter perdido vigência.

Em contrapartida, os contribuintes que estavam se estruturando para cumprir os


requisitos previstos na lei e, antes de ultimadas as providências, foram surpreendidos
pela revogação, não têm direito à isenção, sendo prejudicados pela inovação legislativa.

Em resumo: a revogação da lei concessiva de isenção onerosa não tem o condão de


prejudicar quem já cumprira os requisitos para o gozo do benefício legal, mas
impede o gozo daqueles que não tinham cumprido tais requisitos na data da
revogação da lei.

➢ Atenção! Isenções podem ser concedidas em caráter geral (objetivo) ou em caráter


individual (subjetivo ou pessoal).

Isenção de caráter geral → ocorre quando o benefício atinge a generalidade dos


sujeitos passivos, sem necessidade de comprovação por parte destes de alguma
característica pessoal especial.

Ex.: isenção do IR sobre os rendimentos da caderneta de poupança.

Isenção de caráter individual → ocorre quando a lei restringe a abrangência do


benefício às pessoas que preencham determinados requisitos, de forma que o gozo
dependerá de requerimento formulado à Administração Tributária no qual se
comprove o cumprimento dos pressupostos legais. A isenção individual é autorizada
por lei, mas efetivada, na prática, por despacho da autoridade administrativa (art.
179 do CTN).

Ex.: isenção de IPI e IOF concedida às PCD’s para que adquiram veículos adaptados
às suas necessidades. Perceba-se que, nesse caso, o gozo do benefício depende da
comprovação da condição pessoal de deficiência.

A concessão da isenção individual não gera direito adquirido, pelo que deve ser
anulada de ofício sempre que se apure que o beneficiário não satisfazia ou deixou
de satisfazer as condições para a concessão do favor.

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No caso de anulação (“revogação”, segundo o art. 155 do CTN) da isenção individual,


sempre serão cobrados o tributo e os juros de mora.

Mas, se não houve dolo ou simulação na hora de obter o benefício, não haverá
cobrança de penalidade pecuniária. Além disso, nesse caso, a anulação só pode
ocorrer antes de prescrever o direito de cobrança do respectivo crédito.
Comprovação do vício é ônus do fisco.

Se, por outro lado, o benefício foi obtido com dolo ou simulação do beneficiário, ou
de terceiro em favor dele, haverá cobrança de multa. Além disso, nessa hipótese, o
tempo decorrido entre a concessão da isenção e sua revogação não será computado
para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito.

2.2. Anistia

Perdão da multa tributária devida por infração cometida antes da vigência da lei que a
concede.

➢ Fique atento! A anistia só pode ser concedida após o cometimento da infração (sob
pena de servir de incentivo à pratica de atos ilícitos) e antes do lançamento da multa
(penalidade pecuniária), pois se o crédito já está constituído, a dispensa somente pode
ocorrer por remissão, que é causa de extinção do crédito.

O art. 180, inciso I, do CTN, estabelece que não podem ser objeto de anistia os atos
qualificados em lei como crimes ou contravenções e os que, mesmo sem essa
qualificação, sejam praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo
ou por terceiro em benefício daquele.

Logo, a conduta ilícita que não tenha decorrido de ato simulado, doloso ou
fraudulento deve, como regra, ser punida, mas pode, no entanto, ser anistiada.
Havendo simulação, dolo ou fraude, há dever de punição, ficando proibida a
concessão do perdão legal.

Por sua vez, o art. 180, inciso II, do CTN, estabelece que, salvo disposição em contrário,
não podem ser objeto de anistia as infrações resultantes de conluio entre duas ou
mais pessoas naturais ou jurídicas.

A rigor, o conluio já estaria inserido na primeira hipótese em que é proibida a concessão


de anistia, pois, por definição, o conluio é sempre doloso.

O pior, contudo, não é a redundância. Ocorre que o dispositivo ora analisado é iniciado
com a expressão “salvo disposição em contrário”, o que acaba por
contraditoriamente permitir – ao menos em tese – a concessão de anistia a infrações
cometidas mediante um dos mais graves comportamentos dolosos, o que seria proibido
pelo inciso I do art. 180 do CTN.

Por conta do descuido legislativo, as gravíssimas infrações praticadas em conluio


acabam sendo as únicas infrações dolosas que podem ser beneficiadas pela
concessão de anistia. Esclareça-se, todavia, que embora a anistia de multa devida por

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infração praticada em conluio seja tecnicamente possível, na prática ela é pouco


comum, já que depende de lei.

O CTN previu a possibilidade de concessão de anistia em caráter geral ou limitado,


estipulando no art. 181, inciso II, as restrições que podem ser estabelecidas no segundo
caso. As limitações podem ser:

a) às infrações da legislação relativa a determinado tributo;


b) às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado
montante, conjugadas ou não com penalidades de outra natureza;
c) a determinada região do território da entidade tributante, em função de
condições a ela peculiares;
d) sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que a
conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade
administrativa.

Por se tratar de benefício fiscal que pode ser concedido em caráter individual
(limitado), aplicam-se à anulação (“revogação”, segundo o CTN) da anistia as
mesmas regras concernentes à anulação da isenção concedida em caráter
individual (CTN, art. 182 e seu parágrafo único).

3. Causas de Suspensão da Exigibilidade do Crédito Tributário

Existem hipóteses em que o pagamento do crédito tributário não pode ser exigido pelo fisco,
por estar configurada alguma das causas de suspensão da exigibilidade do crédito, previstas
no art. 151 do CTN. Confira quais são essas causas:

Código Tributário Nacional


M
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:
O
I - moratória; R
II - o depósito do seu montante integral; D
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo E
tributário administrativo; R
IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança.
V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de L
ação judicial; I
VI – o parcelamento. M
Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das P
obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja A
suspenso, ou dela consequentes. R

➢ Atenção! Nem sempre é necessário que o crédito a ter sua exigibilidade suspensa já
tenha sido constituído. É possível, por exemplo, que seja concedida uma liminar em
mandado de segurança (preventivo) mesmo antes da constituição do crédito.
Nesse caso, a jurisprudência tem afirmado que a autoridade fiscal não fica impedida
de realizar o lançamento, pois o que a liminar suspende é a exigibilidade do crédito
e não a possibilidade de constituí-lo. Assim, o crédito pode e deve ser constituído
(sob pena de decadência), mas sem estipulação de prazo para pagamento, e sem

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imposição de penalidade, devendo-se apor, ao final do documento que


instrumentaliza o lançamento, a expressão "suspenso por medida judicial".

É perfeitamente possível, também, a concessão de moratória de crédito tributário


ainda não constituído pelo lançamento (art. 154 do CTN). Aliás, tal hipótese ocorreu
no ano de 2020, quando o governo federal prorrogou o prazo de pagamento do
imposto de renda (de 30 de abril para 30 de junho de 2020) em razão do coronavirus.

➢ Atenção! A regra do parágrafo único do art. 151 estabelece que a suspensão da


exigibilidade do crédito tributário não dispensa o contribuinte do cumprimento
das obrigações assessórias relacionadas à obrigação principal cujo crédito esteja
suspenso, ou dela seja consequente.

➢ Fique atento! Todas as causas listadas acima, por suspenderem a exigibilidade do


crédito tributário, autorizam a expedição de Certidão Positiva de Débito com Efeito
de Negativa (CPD-EN). É a inteligência das regras dispostas nos arts. 205 e 206
do CTN.

Código Tributário Nacional


Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando
exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do interessado,
que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio
fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o pedido.
Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha
sido requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do
requerimento na repartição.

Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a
existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido
efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa.

3.1. Moratória

É a dilação do tempo para satisfação da obrigação. Sua previsão pode ser de caráter geral ou
individual (art. 152 do CTN). É a prorrogação ou adiamento do prazo legalmente fixado para
pagamento do tributo, concedida pelo credor. A moratória é possível em casos de situações
naturais, econômicas e sociais que dificultem o normal adimplemento das obrigações
tributárias. O instituto está previsto entre os arts. 152 e 155 do CTN.

Exemplo de moratória em caráter geral: a União, em face dos efeitos de uma crise
econômica, edita lei dilatando por três meses os prazos para pagamento da
contribuição para financiamento da seguridade social – COFINS, beneficiando a todos
os sujeitos passivos deste tributo.

➢ Atenção! A moratória em caráter geral gera direito adquirido e dispensa o


oferecimento de garantias por parte do beneficiário.

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Exemplo de moratória em caráter individual: em face de perdas enfrentadas pelos


produtores de vinho da Serra Gaúcha, ocasionadas por fortes mudanças climáticas, a
União edita lei concedendo aos produtores de vinho cujas culturas estejam localizadas
nesta região, a dilação, por 6 (seis) meses, do prazo para o pagamento das obrigações
tributárias federais. Repare que outros produtores de vinho do mesmo Estado que não
estejam localizados na região da Serra Gaúcha não serão alcançados pela lei.

➢ Atenção! A moratória individual não gera direito adquirido e pode ser revogada
de ofício caso o beneficiário deixe de cumprir os requisitos estabelecidos (art. 155
do CTN)

3.2. Depósito do montante integral

O depósito do montante integral exigido pelo fisco, seja administrativa, seja judicialmente,
também é causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Assim, muito embora o
contribuinte não seja obrigado a depositar a quantia dele exigida, pode ele exercer esta opção
se assim desejar.

A vantagem do depósito é que, caso o contribuinte perca a ação ou o recurso interposto


administrativamente, não se sujeitará aos encargos moratórios. Afinal de contas, ao depositar
o valor originalmente devido (administrativa ou judicialmente), colocando à disposição do
fisco ou do juízo a integralidade da quantia cobrada, o contribuinte se exonera do dever de
remunerar o capital depositado, transferindo essa obrigação para o sistema bancário, que se
incumbe então de tal encargo (súmula 179 do STJ e o §4º do art. 9º da LEF).

Já a desvantagem fica no fluxo de caixa, eis que, ao depositar a quantia integral no início do
litígio, o contribuinte se vê privado, desde logo, do capital de giro da empresa.

➢ Atenção! Depósito e pagamento não se confundem. Feito o depósito, a quantia


oferecida pelo contribuinte não é imediatamente transferida para o fisco, como ocorre
no caso de pagamento.

Diferente disso, a quantia depositada fica numa conta administrativa ou judicial (a


depender da via escolhida), esperando o fim do litígio instaurado entre contribuinte e
Fazenda Pública. Se o contribuinte vencer a discussão – restando anulado o lançamento
–, a quantia depositada ser-lhe-á devolvida; perdendo, será o depósito convertido em
renda e o crédito tributário extinto, na forma do art. 156, inciso VI, do CTN.

➢ Fique atento! Segundo o STF, é inconstitucional exigir depósito prévio da quantia


cobrada como condição de admissibilidade de recurso administrativo ou ação judicial
nos quais se pretenda discutir a exigibilidade do crédito tributário. Confira:

Súmula Vinculante 21 do STF


É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou
bens para admissibilidade de recurso administrativo.

Súmula Vinculante 28 do STF


É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade
de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.
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Assim, o contribuinte não pode ser forçado a depositar a quantia cobrada pelo fisco
para ter seu recurso ou ação julgados. Afinal, tal exigência violaria os princípios da
inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, inciso XXXV, da CF) e da isonomia, já que,
diferentemente dos ricos, os menos abastados financeiramente nem sempre poderiam
depositar (administrativa ou judicialmente) a quantia exigida pelo fisco sem prejuízo
de sua própria subsistência, circunstância esta que acabaria por se tornar
discriminatória entre ricos e pobres por garantir apenas aos primeiros o direito ao
julgamento de suas insurgências.

Assim, deve-se considerar não recepcionada pela Constituição Federal de 1988 a


expressa menção feita no art. 38 da LEF no sentido de que a Ação Anulatória teria,
necessariamente, de ser precedida do depósito preparatório do valor do débito,
monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos.

Aliás, antes mesmo da promulgação da CF/88, mais precisamente em outubro de 1987


– ainda sob a égide, portanto, da Constituição Federal de 1967 –, o Tribunal Federal de
Recursos, hoje extinto, chegou a editar enunciado sumular tratando exatamente disso.
Confira-se:

Súmula 247 do extinto TFR (Tribunal Federal de Recursos)


Não constitui pressuposto da ação anulatória do débito fiscal o depósito de que
cuida o art. 38 da Lei 6.830/80.

Por fim, não custa registrar que o depósito somente suspende a exigibilidade do crédito
tributário se for integral. Isto é, mesmo que discorde do débito que lhe é imputado, se quiser
obter a suspensão da exigibilidade da dívida por meio de depósito, o contribuinte deve
depositar a integralidade da quantia exigida pelo fisco, o que inclui não só o montante
cobrado a título de tributo, mas também as importâncias exigidas a título de multa, juros e
correção monetária.

3.3. Reclamações e recursos administrativos

A simples impugnação – reclamação ou defesa do contribuinte –, desde que realizada no


prazo certo (30 dias após o recebimento da notificação do lançamento), é medida suficiente
para suspender a exigibilidade do crédito tributário.

Assim, enquanto a impugnação do contribuinte estiver pendente de julgamento


administrativo definitivo, dele não poderá ser exigido o pagamento do crédito tributário.

Note, pois, que o recurso administrativo é causa autônoma de suspensão do crédito, não
havendo que se falar em necessidade de depósito, como já adiantado (Súmula Vinculante 21).

Os recursos administrativos são julgados, dentre outros, nos seguintes órgãos:

a) Conselho Municipal de Tributos (CMT)


b) Delegacias Tributárias de Julgamento (DTJ)
c) Tribunal de Impostos e Taxas (TIT)
d) Delegacias da Receita da Julgamento (DRJ)
e) Conselho Administrativos de Recursos Fiscais (CARF)
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Em geral, os tribunais administrativos são órgãos paritários, o que significa dizer que
possuem membros em igual número de representantes da fazenda e dos contribuintes. Sendo
em número par de conselheiros, a solução para os casos de empate nas deliberações, que
antes era atribuída ao chamado voto de qualidade (voto do presidente do órgão julgador,
sempre um representante da Fazenda), após a edição da MP nº 899/2019, convertida na lei
nº 13.988/2020, passou a ser a decisão mais favorável ao contribuinte.

3.4. Liminar em Mandado de Segurança

O mandado de segurança é a ação de que dispõe o contribuinte em defesa de direito líquido e


certo, comprovado de plano, ferido ou ameaçado por ilegalidade ou abuso de poder em ato
praticado por autoridade pública tributária.

Desde que presentes os requisitos do periculum in mora e fumus boni juris, que devem ser
provados documentalmente pelo contribuinte, deve o juiz conceder liminar determinando
que se suspenda o ato coator (art. 7º, inciso III, da Lei nº 12.016/09).

Uma vez concedida a liminar em MS, a exigibilidade do crédito tributário será considerada
suspensa (art. 151, IV, do CTN)

➢ Fique atento! Se o juiz condiciona a concessão da liminar à realização do depósito, está,


na verdade, indeferindo a medida liminar, já que o depósito é direito subjetivo do
contribuinte e configura hipótese autônoma de suspensão da exigibilidade do crédito
tributário (art. 151, II, do CTN).

3.5. Tutela Antecipada em Outras Espécies de Ação

Assim como ocorre com a liminar nos Mandados de Segurança, a tutela provisória de urgência
concedida em ações de procedimento comum, como a Ação Anulatória, por exemplo, também
implica suspensão da exigibilidade do crédito tributário.

Os requisitos para sua concessão são probabilidade do direito e perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo (art. 300 do CPC). Presentes os requisitos, é dever do juiz
conceder a tutela provisória perquirida, concessão esta cuja consequência é a suspensão da
exigibilidade do crédito tributário.

➢ Atenção! Vale, também para as tutelas provisórias de urgência, o mesmo comentário


feito anteriormente para o MS, acerca de eventual condicionamento, pelo juiz, do
provimento antecipatório ao depósito da quantia exigida pelo fisco.

3.6. Parcelamento

É uma medida de política fiscal que visa a recuperar créditos tributários vencidos e a permitir
que contribuintes inadimplentes voltem a situação de regularidade fiscal.

O parcelamento é uma confissão de dívida tributária; não cumprido, é passível de execução


fiscal de toda a dívida tributária. Cada ente político pode fazer sua lei específica de
parcelamento (REFIS) e o contribuinte, se quiser e se preencher os requisitos impostos pela
lei, pode aderir a ele.

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Como regra geral, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência de juros e
multas (art. 155-A, § 1º, CTN). Contudo, a lei pode autorizar esta exclusão.

O parcelamento não é denúncia espontânea (art. 138 do CTN). Portanto, ao parcelar o débito,
o contribuinte não recebe o mesmo benefício de exclusão de responsabilidade sobre a multa.

4. Causas de Extinção do Crédito Tributário

O CTN prevê 12 formas de extinção do crédito tributário, listadas em 11 incisos do art. 156.
Veja:

Código Tributário Nacional


Art. 156. Extinguem o crédito tributário:
I - o pagamento;
II - a compensação;
III - a transação;
IV - remissão;
V - a prescrição e a decadência;
VI - a conversão de depósito em renda;
VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no
artigo 150 e seus §§ 1º e 4º;
VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164;
IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita
administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória;
X - a decisão judicial passada em julgado.
XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.

4.1. Pagamento

É a maneira mais natural e óbvia de extinção do crédito tributário; por isso, a primeira listada
pelo legislador.

➢ Fique atento! O pagamento de um crédito não importa em presunção de pagamento


de outros créditos referentes ao mesmo ou a outros tributos (art. 158, II, do CTN).
Assim, o pagamento do IPTU de 2018, por exemplo, não implica o adimplemento de
IPTU relativo a anos anteriores, nem de taxa de lixo do mesmo imóvel.

Portanto, nos casos em que a autoridade administrativa condiciona o pagamento de um


tributo ao pagamento de outro, configura-se evidente violação da regra do art. 158,
inciso II, do CTN, de modo que se revela cabível, nessas hipóteses, o manejo de ação
consignatória para garantir ao contribuinte a possibilidade de proceder o pagamento
apenas do tributo que ele deseja pagar.

Regra de imputação ao pagamento → Estabelece o art. 163 do CTN que existindo


simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito passivo para com a mesma
pessoa jurídica de direito público, relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou
provenientes de penalidade pecuniária ou juros de mora, não tendo sido ofertados pelo

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contribuinte recursos suficientes para pagamento de todos os débitos, a autoridade


administrativa considerará pagos, nesta ordem:

1º - Os débitos por obrigação própria, e depois os decorrentes de responsabilidade tributária;


2º - Primeiramente as contribuições de melhoria, depois as taxas e por fim os impostos;
3º - Na ordem crescente dos prazos de prescrição;
4º - Na ordem decrescente dos montantes.

Quando a legislação tributária não dispuser a respeito, o pagamento é efetuado na


repartição competente do domicílio do sujeito passivo (Art. 159 do CTN). Trata-se de
regra que evidencia a natureza portable (portável) da obrigação tributária.

Assim, não merece sequer consideração eventual alegação do contribuinte no sentido de que,
por não ter recebido o carnê de IPTU em sua residência, deixou de pagar o imposto. Como
visto, a obrigação é portável, pelo que se constata que é dever do contribuinte procurar o
credor até a data de vencimento da obrigação.

Basta que o fisco comprove o envio do carnê para o endereço cadastrado para que seja regular
a cobrança, mesmo que o carnê tenha sido posteriormente extraviado. Veja:

Súmula 397 do STJ


O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço.

No caso de extravio do carnê, cabe ao contribuinte solicitar uma segunda via à Administração
Tributária, seja presencialmente na Prefeitura, seja por meio eletrônico.

4.2. Compensação

Prevista nos arts. 170 e 170-A, do CTN, a compensação ocorre quando duas pessoas, por
serem ao mesmo tempo credoras e devedoras uma da outra, podem extinguir suas obrigações
pelo simples encontro de contas. No caso, a compensação tributária ocorre, por óbvio, quando
fisco e contribuinte são credores um do outro.

São requisitos da compensação: lei autorizadora; créditos tributários do fisco; e créditos


líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública.

➢ Fique atento! Somente pode ser vincendo o valor que a Fazenda Pública deve ao
sujeito passivo do tributo; jamais o crédito tributário, que deve sempre estar vencido.

➢ Atenção! Quando o contribuinte é credor do fisco (por exemplo, por ter pago
indevidamente determinada quantia, pensado tratar-se de montante efetivamente
devido), tem ele o direito de optar por receber seu crédito por meio de precatório ou
por meio de compensação. Veja:

Súmula 461 do STJ


O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por compensação,
o indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado.

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O Artigo 170-A do CTN trata da impossibilidade de compensação de créditos tributários.


Esta ocorre, por exemplo, quando o contribuinte promove ação pedindo a restituição do
tributo que diz haver pago indevidamente, e a Fazenda Pública contesta, afirmando que o
tributo pago era devido. Antes do trânsito em julgado dessa decisão judicial é vedada a
compensação. Não basta, portanto, uma decisão de primeira instância favorável ao
contribuinte. É necessário o trânsito em julgado da decisão.

4.3. Transação

Com previsão no art. 171 do CTN, a transação é o negócio jurídico em que as partes, mediante
concessões mútuas, extinguem obrigações, terminando litígios.

São concessões por parte do Fisco, visando o interesse público (por exemplo, diminuição de
despesas desnecessárias para o Estado na cobrança de créditos de pequeno valor), e
concessões por parte do sujeito passivo (por exemplo, desistência de recurso interposto),
com a finalidade de atingir os interesses da coletividade.

A “vontade” do Estado é manifestada pela lei. Para se transigir em matéria tributária é


necessário que haja lei, pois o crédito tributário é regido pelo princípio da indisponibilidade
do patrimônio público (transação pressupõe liberdade negocial apenas no direito privado).

➢ Fique atento! Transação não se confunde com parcelamento. Na transação, há


pagamento à vista, total ou parcial, diferente do parcelamento. Assim temos a transação
como forma de extinção do crédito, ao passo que o parcelamento é hipótese de
suspensão do crédito tributário.

4.4. Remissão

A remissão, prevista no art. 172 do CTN, é o perdão total ou parcial do crédito tributário
(tributo + juros + correção monetária + multa), sempre após o lançamento.

➢ Atenção! Perdão de multa antes do lançamento é anistia; perdão de tributo antes do


lançamento é isenção; perdão de tributo e/ou de multa depois do lançamento é
remissão.

Lei autoriza a autoridade administrativa a conceder a remissão por despacho fundamentado,


visando a atender: situação econômica do sujeito passivo; erro ou ignorância excusáveis do
sujeito passivo, quanto a matéria de fato; diminuta importância do crédito tributário;
considerações de equidade, em relação às características pessoais ou materiais do caso; ou
condições peculiares a determinada região do território da entidade tributante.

4.5. Decadência

Com previsão no art. 173 do CTN, a decadência é a perda do direito de a Fazenda Pública
constituir o crédito tributário pela ausência de lançamento no prazo de 5 anos.

➢ No caso de tributos lançados de ofício ou por declaração, o prazo de cinco anos é


contado:

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a) do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia


ter sido efetuado (art. 173, I, do CTN);

Ex.: fato gerador ocorrido em 20.03.2012. Neste caso, o lançamento poderia ter
sido efetuado nesta mesma data. Logo, obedecendo ao comando do art. 173, I, do
CTN, procuramos identificar o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado, que é, na hipótese, o dia 01.01.2013. O
interregno decadencial de cinco anos é contado, portanto, desta última data, razão
pela qual o prazo estará extinto para o fisco apenas no dia 01.01.2018.

b) da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício
formal, o lançamento anteriormente efetuado (art. 173, II, do CTN).

Ex.: tributo é lançado no dia 20.03.2012. Porém, entendendo que o lançamento


está maculado por vício formal, o contribuinte impugna o ato (tanto faz se
administrativa ou judicialmente). Após eventuais recursos, a tese do contribuinte
é acolhida e sua insurgência é definitivamente julgada, tornando-se irrecorrível,
no dia 04.11.2014, a decisão que anulou o lançamento. Neste cenário, o fisco tem
novo prazo de cinco anos para constituir o crédito tributário, sendo este prazo
contado a partir de 04.11.2014.

Como se vê, trata-se de incômoda hipótese que premia o cometimento de vício


formal no ato de lançamento, já que, como consequência para a ilegalidade, a lei
prevê o restabelecimento do prazo de cinco anos para que novo lançamento seja
efetuado.

c) da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela


notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória
indispensável ao lançamento (art. 173, parágrafo único, do CTN).

A hipótese prevista no parágrafo único do art. 173 é excepcional e ocorre, por


exemplo, quando antes de chegar o primeiro dia do exercício seguinte àquele em
que o lançamento poderia ter sido efetuado (regra geral), a Administração
Tributária inicia um procedimento de fiscalização do fato, dando ciência ao
contribuinte, por meio de notificação, de que foi instaurado o procedimento.

Neste caso, tem-se verdadeira regra de antecipação da contagem do prazo


decadencial. É que ao invés de o prazo começar a fluir apenas a partir do primeiro
dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado –
como seria o normal –, com a deflagração do procedimento fiscalizatório, ocorrida
antes da virada do ano, antecipa-se para esta data (notificação do sujeito passivo)
a fluência do prazo decadencial. Afinal, a simples instauração de procedimento de
fiscalização já evidencia que o Fisco tomou ciência do ocorrido, não havendo mais
razão lógica ou jurídica a justificar a prorrogação do início da contagem do prazo
decadencial para o ano seguinte.

Ex.: fato gerador ocorrido em 20.03.2012. Após a lavratura do termo de início de


fiscalização, a Administração Tributária notifica o sujeito passivo em 07.08.2012,
dando-lhe ciência acerca da instauração do procedimento fiscalizatório do fato.

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Neste caso, por estar configurada “medida preparatória indispensável ao


lançamento”, nos termos do parágrafo único do art. 173 do CTN, conta-se o prazo
decadencial para o lançamento a partir da notificação do contribuinte
(07.08.2012), ficando afastada, portanto, a regra geral de que o prazo deveria
iniciar apenas no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
poderia ter sido efetuado (01.01.2013).

➢ No caso de tributos lançados por homologação, o prazo de cinco anos é contado:

a) do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que, embora o lançamento


pudesse ter sido efetuado, não foi (art. 173, I, do CTN);

No caso de tributo sujeito a lançamento por homologação (ICMS e IPI, por exemplo),
é preciso ter em mente que a mera entrega, pelo contribuinte, de declaração de
dívida (GIA ou DCTF, por exemplo) já é considerada como constituidora do crédito
tributário (STJ - Súmula 436).

Assim, quando o contribuinte deixa de entregar a declaração (e por óbvio não paga
o montante devido), não houve lançamento. Neste cenário, aplica-se a regra geral
do artigo 173, I, do CTN. Ou seja, o fisco possui 5 anos de prazo a contar do primeiro
dia do exercício seguinte para constituir o crédito tributário não declarado e não
pago. Essa é a interpretação que o STJ consagrou na Súmula 555. Veja:

Súmula 555 do STJ


Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal para
o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art.
173, I, do CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever
de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.

b) da ocorrência do fato gerador, se a declaração feita a menor pelo contribuinte


não tiver decorrido de dolo, fraude ou simulação (art. 150, §4º, do CTN)

Nesta segunda hipótese, o contribuinte entrega declaração ao fisco (GIA ou DCTF,


por exemplo), paga o valor declarado – que ele presume ser o verdadeiramente
correto –, porém o fisco descobre, em regular processo de fiscalização, que, por
mero equívoco não intencional, foi declarada quantia menor que a efetivamente
devida.

Logo, surge a necessidade de o fisco promover um lançamento de ofício


complementar, lançamento este sujeito ao mesmo prazo decadencial de cinco anos.
Contudo, neste caso (ausência de declaração apenas de parte do débito, sem dolo,
fraude ou simulação), o aludido prazo de cinco anos é contado segundo a regra do
art. 150, §4º do CTN, que significa dizer que o Fisco terá o prazo de 5 anos a contar
da ocorrência do fato gerador para constituir a diferença não declarada, nem paga.

Art. 150, §4º, do CTN - Se a lei não fixar prazo [para] a homologação, será ele
de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo
sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o
lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a
ocorrência de dolo, fraude ou simulação.
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c) do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia


ter sido efetuado, se a declaração feita a menor pelo contribuinte tiver
decorrido de dolo, fraude ou simulação (art. 150, §4º c/c art. 173, I, do CTN)

Nesta terceira hipótese, o contribuinte entrega declaração propositalmente errada


ao fisco (GIA ou DCTF, por exemplo), paga o valor declarado – que ele sabe ser
incorreto, mas acredita ser suficiente para ludibriar a autoridade administrativa –,
porém o fisco descobre, em regular processo de fiscalização, que, por dolo, fraude
ou simulação, foi declarada quantia menor que a efetivamente devida.

Configurado este cenário, surge, por óbvio, o dever de o fiscal promover um


lançamento de ofício complementar, com nítido caráter punitivo. O prazo para este
lançamento será de cinco anos contados do primeiro dia do exercício seguinte
àquele em que poderia ter sido efetuado (prazo da regra geral).

Registre-se, por fim, que ao menos em tese, deveria o legislador ter incluído a decadência
como uma das formas de exclusão do crédito tributário. Afinal, a integral fluência do prazo
decadencial sem que o fisco promova o lançamento acaba por impedir a constituição do
crédito.

Todavia, como visto, a decadência está listada como forma de extinção do crédito, o que é de
se causar estranheza.

4.6. Prescrição

Com previsão no art. 174 do CTN, a prescrição é a perda da pretensão de cobrança do crédito
tributário (por meio da ação de execução fiscal) pela inércia do credor durante o prazo de 5
anos, contados da data da constituição definitiva do crédito tributário.

➢ Atenção! Com o lançamento, e a consequente notificação do sujeito passivo, pode-se


afirmar que o crédito tributário está constituído, o que não quer dizer que esta
constituição seja necessariamente definitiva. É necessário lembrar que se o contribuinte
impugnar o lançamento, recorrendo dele, estará configurada hipótese de suspensão da
exigibilidade do crédito tributário, cenário este em que não há contagem nem de prazo
decadencial, porque o lançamento já foi efetuado, nem de prazo prescricional, pois o
crédito tributário ainda não está definitivamente constituído.

➢ A definitividade da constituição do crédito pode decorrer:

a) da ausência de impugnação, pelo contribuinte, do lançamento efetuado pelo


fisco;
Neste caso, conta-se o prazo de prescrição a partir do vencimento do prazo para
pagamento do crédito tributário.

b) da ciência, pelo contribuinte, da prolação de decisão administrativa


irreformável que, julgando eventual impugnação interposta pelo
contribuinte, tenha lhe sido desfavorável, mantendo o crédito a favor do ente
tributante;

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Nesta hipótese, conta-se o lapso prescricional a partir do vencimento do novo


prazo de pagamento dado ao contribuinte após a ciência dele acerca do resultado
do julgamento da impugnação.

c) no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, da entrega, pelo


contribuinte ao fisco, da declaração que possua efeito de confissão de dívida.

Quando o tributo está sujeito a lançamento por homologação, como é o caso do


ICMS e do IPI, por exemplo, dá-se por iniciada a fluência do prazo prescricional de
cinco anos a partir da simples entrega, pelo contribuinte, da declaração de débito
ao Fisco, como por exemplo a DCTF (Declaração de Débitos e Créditos Tributários
Federais), a GIA (Guia de Informação e Apuração do ICMS) ou a GFIP (Guia de
Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social).

Neste caso, o prazo de prescrição é contado a partir do vencimento do prazo para


pagamento.

Créditos tributários referentes a tributos lançados por homologação são


constituídos pela mera entrega da declaração. Assim, se a entrega dessa declaração
não for sucedida do respectivo pagamento do débito, vencido o prazo de quitação,
iniciado estará o prazo de prescrição para o que Fisco cobre esse crédito.

É que, nesses casos, ao assumir sua condição de devedor, inclusive especificando o


valor do débito em sua declaração, o contribuinte está, na verdade, tornando
incontroversa a dívida, circunstância esta que, segundo orientação jurisprudencial
do Superior Tribunal de Justiça, constitui o crédito tributário independentemente
de qualquer outra providência por parte do fisco. Confira-se:

Súmula 436 do STJ


A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui
o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco.

➢ Interrupção da Prescrição (art. 174, parágrafo único do CTN)

Algumas circunstâncias, previstas em lei, devolvem integralmente ao Fisco o prazo de


prescrição. Geralmente, tais hipóteses se configuram pela demonstração inequívoca de
que o credor, na verdade, não está inerte, não sendo justo, pois, que ele seja “punido”
com a prescrição de seu crédito. Há, todavia, um único caso em que a interrupção da
prescrição pode se operar por ato do devedor. Vejamos as hipóteses de interrupção de
prescrição previstas no Código Tributário Nacional.

CTN - Art. 174, parágrafo único: A prescrição se interrompe:


I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
II - pelo protesto judicial;
III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.

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I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal

Por força da regra disposta no art. 240, §1º, do CPC, a interrupção da prescrição,
operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.

Assim, muito embora o despacho do juiz ordenando a citação seja considerado o marco
de interrupção da prescrição, este marco, por força do CPC, deve retroagir à data da
propositura da ação.

Logo, se ajuizada uma execução fiscal dentro do prazo de cinco anos contados da data
da constituição definitiva do crédito tributário, na prática, ela deve prosseguir
normalmente mesmo que o juiz tenha ordenado a citação após o vencimento do prazo
quinquenal.

II - pelo protesto judicial

O protesto judicial é um ato judicial que constitui o devedor em mora. Assim é


evidentemente desnecessária a existência deste inciso II, já que a hipótese está
contemplada na regra do inciso III, mais genérica e abrangente.

Merece destaque, porém, o fato de que o protesto precisa necessariamente ser judicial,
não havendo que se falar em interrupção da prescrição por protesto extrajudicial de
CDA, por exemplo.

➢ Fique atento! No dia 09.11.2016, o Plenário do STF decidiu, por maioria, que o
protesto de certidões de dívida ativa é constitucional. Trata-se do julgamento
da ADIN nº 5.135, em que a Confederação Nacional da Indústria (CNI)
questionou norma (art. 1º da Lei 9.492/97) que incluiu, no rol dos títulos
sujeitos a protesto, as Certidões de Dívida Ativa (CDA) da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações
públicas.

Por maioria de votos, o Plenário do STF entendeu que o protesto da CDA em


cartório pela Fazenda Pública serve como mecanismo extrajudicial de
cobrança, de tal modo que se consubstancia como instrumento constitucional e
legítimo para acelerar a recuperação de créditos tributários. Ponderou-se,
ademais, que o protesto da CDA contribui para desafogar o Poder Judiciário da
enorme quantidade de ações executivas. Todavia, como já adiantado, o mero
protesto extrajudicial da CDA não tem o efeito de interromper a prescrição.

III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor

Além do protesto, já mencionado no inciso anterior, qualquer outra medida adotada


judicialmente pela Administração Tributária, demonstrando que o credor não está
inerte e que deseja, portanto, receber seu crédito, constitui em mora o devedor.

O efeito desta “constituição em mora” é a devolução integral do prazo de prescrição ao


ente credor. Assim, por exemplo, se na véspera de se configurar a prescrição, a Fazenda

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Apostila de Direito Tributário II
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consegue o arresto de bens do devedor, terá, a partir de então, novo prazo de cinco anos
para o ajuizamento da competente ação de execução fiscal.

São atos judiciais que constituem em mora o devedor: os protestos judiciais, as


interpelações e notificações judiciais, a medida cautelar fiscal, com o consequente
arresto ou sequestro de bens.

IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em


reconhecimento do débito pelo devedor

O quarto e último caso de interrupção da prescrição é também a única hipótese em que


a interrupção se dá pela via extrajudicial e por iniciativa do próprio devedor.

Na prática, os atos extrajudiciais que importam em reconhecimento do débito pelo


devedor são o parcelamento e o pedido administrativo de compensação. Isso porque
quem solicita tais medidas está, a toda evidência, concordando com o débito, seja no
intuito de conquistar o direito de pagar a dívida em parcelas, seja na intenção de
compensar o débito assumido com algum crédito em seu favor.

➢ Fique atento! Note que, ao formular pedido de parcelamento, o contribuinte


pratica um ato que causa a interrupção da fluência do prazo prescricional.
Todavia, o deferimento pela autoridade administrativa do pedido de
parcelamento é, na verdade, causa de suspensão da exigibilidade do crédito
tributário.

Logo, uma vez deferido o pedido de parcelamento, a exigibilidade do crédito


tributário estará suspensa sem contagem de prazo prescricional, contagem esta
que somente voltará a fluir, novamente do início – efeito da interrupção gerada
pela formulação do pedido de parcelamento –, se houver descumprimento, pelo
contribuinte, da obrigação pactuada. Neste sentido, confira-se a súmula abaixo:

Súmula 248 do extinto TFR (Tribunal Federal de Recursos)


O prazo da prescrição interrompido pela confissão e parcelamento da dívida
fiscal recomeça a fluir no dia que o devedor deixa de cumprir o acordo
celebrado.

➢ Prescrição intercorrente - Art. 40 da Lei de Execução Fiscal.

Prevista no art. 40 da LEF, a prescrição intercorrente é a perda da pretensão judicial de


cobrança do crédito tributário consumada durante o iter procedimental em razão da
inércia do credor, consubstanciada pela não localização do devedor ou de bens
penhoráveis.

Como se vê, enquanto a prescrição comum se configura pelo transcurso do prazo de 5


anos antes do ajuizamento da ação executiva, a prescrição intercorrente se caracteriza
pela fluência do lapso prescricional de 5 anos durante o curso do processo. Entretanto,
esse prazo não flui a partir da distribuição da ação executiva, nem mesmo a partir do
despacho citatório.

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Apostila de Direito Tributário II
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Em verdade, distribuída a ação de execução e determinada a citação do executado, se o


devedor não for localizado nem forem encontrados bens sobre os quais possa recair a
penhora, a execução deverá ser suspensa pelo juiz durante o prazo de um ano,
prazo este durante o qual não se conta prescrição (art. 40, caput, da LEF).

Essa suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional tem


início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito
da não localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no
endereço fornecido. Além disso, havendo ou não petição da Fazenda
Pública e havendo ou não pronunciamento judicial nesse sentido, findo o
prazo de 1 (um) ano de suspensão inicia-se automaticamente o prazo
prescricional.
(STJ - REsp Repetitivo nº 1.340.553/RS – Relator Ministro Mauro
Campbell Marques, julgado em 12.09.2018 – DJe de 16.10.2018).

Decorrido o prazo de um ano de suspensão sem localização do devedor ou de bens


penhoráveis, e determinado o arquivamento dos autos pelo magistrado (art. 40, §2º, da
LEF), tem início a contagem do lapso prescricional de 5 anos. Veja:

Súmula 314 do STJ


Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por
um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente.

Encontrado o devedor ou bem penhorável, seja no decorrer do prazo de 1 ano de


suspensão, seja durante o interregno de 5 anos da prescrição intercorrente, os autos
devem ser desarquivados para prosseguimento da execução (art. 40, §3º, da LEF).

Por fim, importa saber que embora a prescrição intercorrente possa ser reconhecida
de ofício pelo juiz (art. 40, §4º, da LEF) – ou seja, independentemente de manifestação
do executado –, deve o magistrado ouvir previamente a Fazenda Pública, sob pena
de nulidade da sentença caso o fisco comprove, em eventual recurso, a existência de
causa suspensiva ou interruptiva de prescrição não considerada pelo juiz.

Como visto, incumbe à Fazenda Pública comprovar, em sede de apelação, o tal prejuízo
advindo do reconhecimento da prescrição intercorrente sem sua prévia oitiva. Assim,
em respeito aos princípios da celeridade processual e da instrumentalidade das formas,
não é certo dizer que toda vez que o juiz reconhecer a prescrição intercorrente sem
ouvir a Fazenda Pública previamente estará configurada hipótese de nulidade da
sentença. O prejuízo precisa ser alegado e comprovado em sede de apelação.

4.7. Conversão do depósito em renda

Quando o contribuinte perde a ação, o valor do depósito é convertido em renda em favor da


Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal.

Pode ocorrer quando das ações de procedimento comum, como declaratória e anulatória, por
exemplo (em que o depósito tenha sido realizado para garantir a suspensão da exigibilidade

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do crédito), bem como pode ocorrer no Mandado de Segurança, ou ainda nos Embargos à
Execução Fiscal (depósito judicial que garante a execução fiscal).

4.8. Pagamento antecipado e posterior homologação

Esta forma de extinção do crédito tributário é exclusiva para os tributos lançados por
homologação como, por exemplo, o ICMS, o IPI e o ISS.

Como já visto, no lançamento por homologação, o sujeito passivo apura sozinho (ou com
ajuda de um contador) o montante de tributo devido e efetua o pagamento antecipado do
débito. Dizer que o pagamento é “antecipado” significa dizer, na verdade, que ele é feito sem
exame prévio da autoridade administrativa.

➢ Atenção! O que o fisco homologa (ou não) é o pagamento realizado. Se o pagamento


estiver correto – o que ocorre somente se a apuração também estiver certa –, ele é
homologado; se estiver errado – o que presume erro na apuração –, incumbe ao fiscal
negar a homologação e fazer um lançamento de ofício suplementar para corrigir os
erros do contribuinte e puni-lo, se for o caso.

➢ Fique atento! A homologação pode ser expressa ou tácita. Será expressa quando o
fisco, dentro do prazo de cinco anos contados do pagamento, expressamente o
homologar. Por outro lado, será tácita quando, atingido o prazo de cinco anos sem
homologação expressa, o pagamento é considerado automaticamente homologado,
conforme disposto art. 150, §4º, do CTN.

4.9. Consignação em pagamento

Esta forma de extinção do crédito tributário ocorre, exclusivamente, no âmbito de ações de


consignação em pagamento propostas pelo contribuinte.

Segundo o §2º do art. 164 do CTN, julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa
efetuado e a importância consignada é convertida em renda; julgada improcedente a
consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito acrescido de juros de mora, sem prejuízo
das penalidades cabíveis.

4.10. Decisão administrativa irreformável

É decisão favorável ao contribuinte, proferida no âmbito dos processos administrativos


fiscais.

A Fazenda Pública deve acatar a decisão, sem ingressar na via judicial, uma vez que decisão
administrativa é da própria autoridade tributária.

4.11. Decisão judicial transitada em julgado

Ocorre com o esgotamento das vias recursais, sendo reconhecido judicialmente que o crédito
tributário não é devido.

4.12. Dação em pagamento em bens imóveis

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Esta hipótese de extinção do crédito tributário foi acrescida no CTN pela LC nº 104/01. Antes
disso, portanto, não era possível extinguir crédito tributário por meio de dação em
pagamento.

➢ Atenção! A dação em pagamento só pode ser feita em bens imóveis; nunca móveis.

➢ Fique atento! A dação deve ser precedida de avaliação do bem ou dos bens ofertados,
que devem estar livres e desembaraçados de quaisquer ônus, bem como deve abranger
a totalidade do crédito ou créditos que se pretende liquidar com atualização, juros,
multa e encargos legais, sem desconto de qualquer natureza, assegurando-se ao
devedor a possibilidade de complementação em dinheiro de eventual diferença entre
os valores da totalidade da dívida e o valor do bem ou dos bens ofertados em dação
(Requisitos impostos pela Lei nº 13.259/16).

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Análise dos Impostos Federais


5. Imposto de importação
5.1. Características gerais

➢ Titular da competência: União


➢ Previsão constitucional: Art. 153, inciso I, da CF/88

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
I - importação de produtos estrangeiros

➢ Previsão no CTN: Arts. 19 a 22


➢ Norma de regência: Decreto-Lei 37/66; e
Reg. Aduaneiro (Decreto 6.759/2009 - art. 69 a 211)
➢ Classificação: extrafiscal
➢ Funções principais: regular a balança comercial e servir de mecanismo de controle
sobre as importações (instrumento de proteção à indústria nacional)
➢ Função secundária: arrecadatória

5.2. Princípios constitucionais

O Imposto de importação é exceção aos princípios da legalidade, da anterioridade do


exercício e da anterioridade nonagesimal.

➢ Exceção à legalidade:

Constituição Federal
Art. 153, §1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados
nos incisos I, II, IV e V.

Código Tributário Nacional


Art. 21. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos
em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo* do imposto, a fim de
ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.
(*parte não recepcionada pela CF).

➢ Exceção às duas anterioridades:

Constituição Federal
Art. 150, §1º A vedação do inciso III, b (anterioridade do exercício), não se
aplica ao tributo previsto no art. 153, I (Imposto de Importação); e a
vedação do inciso III, c (noventena), não se aplica ao tributo previsto no art.
153, I.

5.3. Fato gerador

➢ Critério Material

O Código Tributário Nacional estabelece que:


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Código Tributário Nacional


Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de
produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território
nacional.

Importar, portanto, não é comprar mercadoria estrangeira. É fazê-la entrar no


território nacional.

Importante: é irrelevante apurar a que título a mercadoria estrangeira entrou no


território aduaneiro (se onerosamente, ou gratuitamente, por exemplo); o que importa,
para fins de configuração do fato gerador, é descobrir que a mercadoria tenha
efetivamente entrado no território nacional.

➢ Atenção! Não basta o simples ingresso físico da mercadoria no território nacional


para restar caracterizado o fato gerador, já que para a incidência do imposto de
importação os bens devem estar destinados a nele permanecer de forma
definitiva.

Assim, mercadorias transportadas de um país para outro por embarcação ou


aeronave que simplesmente faça uma escala no Brasil, bem como as mercadorias
estrangeiras que ingressam no território nacional tão somente para participar de
feiras ou exposições (retornando à origem depois de cumprida sua finalidade), são
exemplos de situações que não autorizam a incidência do imposto de importação.

Decreto-lei nº37/66 – Norma de regência do II


Art. 1º O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira
e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.
§ 4º O imposto não incide sobre mercadoria estrangeira:
I – destruída sob controle aduaneiro, sem ônus para a Fazenda Nacional,
antes de desembaraçada;
II - em trânsito aduaneiro de passagem, acidentalmente destruída; ou
III - que tenha sido objeto de pena de perdimento, exceto na hipótese em
que não seja localizada, tenha sido consumida ou revendida.

➢ Critério temporal

Tratando-se de mercadoria despachada para consumo, considera-se ocorrido o fato


gerador na data do registro, perante a repartição competente, da declaração feita para
o desembaraço da mercadoria (DI).

Decreto-lei nº37/66 – Norma de regência do II


Art. 23. Quando se tratar de mercadoria despachada para consumo,
considera-se ocorrido o fato gerador na data do registro, na repartição
aduaneira, da declaração a que se refere o artigo 44.

➢ Importância de se conhecer com exatidão o critério temporal. Pensemos na


seguinte situação:

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1. Empresa quer importar máquinas de alto custo da Alemanha;


2. Contrata consultoria especializada para calcular a incidência de tributos;
3. Com base na estimativa, toma a decisão de importar e fecha contrato com o exportador;
4. Poder Executivo triplica a alíquota do II enquanto as máquinas estão cruzando o
Oceano Atlântico.
5. Máquinas chegam ao Brasil e se sujeitam a uma alíquota muito superior, que, se
conhecida previamente pelo importador, resultaria na não realização do negócio.
6. Contribuinte procura o Judiciário alegando agressão ao princípio constitucional da
irretroatividade da lei tributária. Sustenta que, como adquiriu as mercadorias antes da
majoração da alíquota, não pode se submeter à tributação mais gravosa.
7. Esquece o contribuinte de que no momento da ocorrência do fato gerador (data do
registro da DI), a alíquota já era outra, não havendo qualquer arranhão à
irretroatividade.

➢ Apesar disso, o professor Luis Eduardo Schoueri defende a ideia de que, por ser
um imposto extrafiscal, que visa, portanto, a induzir comportamentos, a solução
para o caso acima deveria ser outra.

É que, se a função de imposto extrafiscal é induzir comportamentos, estimulando ou


desestimulando certas situações, não é justo, no caso acima narrado, fazer incidir a
alíquota mais gravosa sobre a operação. É que, no momento do registro da DI,
quando a operação já fora toda operacionalizada, o contribuinte não pode mais ser
desestimulado a importar, razão pela qual haveria um desvirtuamento da norma
neste caso, tornado o imposto completamente fiscal, ao invés de extrafiscal.

5.4. Sujeito passivo

Há quatro possibilidades de sujeito passivo. Vejamos:

Código Tributário Nacional


Art. 22. Contribuinte do imposto é:
I - o importador ou quem a lei a ele equiparar;
II - o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados.

Decreto-lei nº37/66 – Norma de regência do II


Art. 31. É contribuinte do imposto:
I - o importador, assim considerada qualquer pessoa que promova a
entrada de mercadoria estrangeira no Território Nacional;
II - o destinatário de remessa postal internacional indicado pelo
respectivo remetente;
III - o adquirente de mercadoria entrepostada.

OBS.: Entrepostada é a mercadoria depositada em recinto alfandegado, sob o amparo


do regime aduaneiro especial de “entreposto aduaneiro”.

Trata-se de uma situação análoga a de um “estoque do importador, mantido dentro da


zona primária ou de um recinto alfandegado fora da zona primária”. Nesse caso, como
ainda não houve o efetivo ingresso do bem no mercado nacional, a lei autoriza o
importador a manter a mercadoria no entreposto aduaneiro sem pagar tributo,
transferindo-se o ônus do pagamento do II diretamente para o efetivo adquirente, que

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a bem da verdade será o verdadeiro responsável pela promoção da nacionalização da


mercadoria.

Enquanto estiver entrepostada a mercadoria, o importador paga apenas o custo de


armazenagem.

5.5. Base de cálculo

Código Tributário Nacional


Art. 20. A base de cálculo do imposto é:
I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei
tributária;
II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu
similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições
de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto
no País;
III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão,
o preço da arrematação.

Alíquota específica é aquela definida por uma quantia determinada de dinheiro por
unidade de quantificação dos bens importados (reais por metro, tonelada ou litro).

➢ Ex.: suponha que a alíquota de II de determinada mercadoria seja de


R$100/tonelada (cem reais por tonelada). Nesta situação, a base de cálculo
obviamente precisa ser fixada em tonelada (e não em reais). Assim, se importadas
10 toneladas dessa mercadoria, o II devido será de R$1.000,00 (R$100/ton x 10 ton).

Alíquota ad valorem é aquela que incide sobre o valor, ou seja, é aquele percentual a
ser multiplicado por uma grandeza especificada em moeda corrente (base de cálculo
em reais) para a obtenção do montante do tributo a ser pago.

➢ Atenção! Para efeito do cálculo do imposto, os valores em moeda estrangeira devem


ser convertidos em moeda nacional, perante a repartição competente, à taxa de
câmbio vigente no dia do registro da DI.

➢ Fique Atento! A legislação tenta estipular uma base de cálculo que diminua a
possibilidade de o importador apresentar à autoridade fiscal um valor irreal para a
mercadoria, apenas “para efeito de tributação”.

Assim, ao falar no “preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo
da importação, em uma venda em condições de livre concorrência” quis o legislador
permitir a tributação pelo valor real da mercadoria, que a rigor não dependeria do
que foi declarado à Alfândega.

É consenso, atualmente, que o valor aduaneiro deve ser apurado segundo as normas do
art. 7º do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio – GATT.

5.6. Alíquota

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Atualmente, em razão do Mercosul, as alíquotas do Imposto de Importação estão


relacionadas na Tarifa Externa Comum (TEC), tabela que utiliza nomenclatura comum
a todos os países integrantes do Tratado (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai –
lembrando que a Venezuela está suspensa).

5.7. Lançamento

O imposto de importação é, em regra, lançado por homologação, pois são atribuições


do importador realizar o cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia
apurada antecipadamente.

Para o cálculo, o importador elabora a declaração de importação – DI e a registra no


SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior). No momento do registro, o
próprio sistema informatizado se encarrega de retirar da conta corrente do importador
o montante do imposto devido.

Posteriormente, caberá a um Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil homologar o


pagamento realizado pelo contribuinte, praticando o ato denominado “desembaraço
aduaneiro” (liberação) da mercadoria importada.

IMPORTANTE: Como todo tributo, o imposto de importação pode ser vir a ser lançado
de ofício quando, por exemplo, a autoridade administrativa perceber que o sujeito
passivo não antecipou o valor correto do tributo devido, sempre respeitado o prazo
decadencial.

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6. Imposto de exportação

6.1. Características gerais

➢ Titular da competência: União


➢ Previsão constitucional: Art. 153, inciso II, da CF/88

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
II – exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados

➢ Previsão no CTN: arts. 23 a 28


➢ Norma de regência: Decreto-Lei 1.578/77; e
Reg. Aduaneiro (Decreto 6.759/2009 - art. 212 a 236)
➢ Classificação: extrafiscal
➢ Funções principais: regular a balança comercial e servir de mecanismo de controle
sobre as exportações (instrumento de proteção ao consumo nacional)
➢ Função secundária: arrecadatória
➢ Destinação legal da receita: formação de reservas monetárias do país.

Código Tributário Nacional


Art. 28. A receita líquida do imposto destina-se à formação de reservas
monetárias, na forma da lei.

Decreto-lei nº 1.578/77 – Norma de Regência do IE


Art. 9º. O produto da arrecadação do imposto de exportação constituirá
reserva monetária, a crédito do Banco Central do Brasil, a qual só poderá
ser aplicada na forma estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

6.2. Princípios constitucionais

O Imposto de exportação é exceção aos princípios da legalidade, da anterioridade do


exercício e da anterioridade nonagesimal.

➢ Exceção à legalidade:

Constituição Federal
Art. 153, §1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados
nos incisos I, II, IV e V.

Código Tributário Nacional


Art. 26. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos
em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo* do imposto, a fim de
ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.
(*parte não recepcionada pela CF).

➢ Exceção às duas anterioridades:

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Constituição Federal
Art. 150, §1º A vedação do inciso III, b (anterioridade do exercício), não se
aplica ao tributo previsto no art. 153, II (Imposto de Exportação); e a
vedação do inciso III, c (noventena), não se aplica ao tributo previsto no art.
153, II.

6.3. Fato gerador

➢ Critério Material

O CTN estabelece que:

Código Tributário Nacional


Art. 23. O imposto, de competência da União, sobre a exportação, para o
estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados tem como fato
gerador a saída destes do território nacional.

Já o Decreto-Lei nº 1.578/77 estabelece que:

Decreto-lei nº 1.578/77 – Norma de Regência do IE


Art. 1º. O Imposto sobre a Exportação, para o estrangeiro, de produto
nacional ou nacionalizado tem como fato gerador a saída deste do território
nacional.

Exportar, portanto, não é vender mercadoria para um comprador estrangeiro. É


promover a saída da mercadoria do território nacional.

➢ Atenção! A aparente redundância da expressão “exportar para o exterior”


decorre da vontade do legislador constituinte de aclarar a impossibilidade de
cobrança de IE quando produtos produzidos em determinado estado-membro
forem vendidos a destinatários situados em outro estado da federação.

É que, antigamente, o IE era imposto de competência dos estados, o que


justificava a cobrança do tributo nas chamadas importações internas, que nada
mais eram do que operações realizadas entre contratantes domiciliados em
estados-membros diferentes.

➢ Fique atento! É irrelevante apurar a que título a mercadoria estrangeira saiu do


território aduaneiro (se onerosamente, ou gratuitamente, por exemplo); o que
importa, para fins de configuração do fato gerador, é apurar que a mercadoria
tenha efetivamente saído do território nacional.

➢ Critério temporal

Considera-se ocorrido o fato gerador no momento da expedição da guia de


exportação ou documento equivalente, o que ocorre mediante o registro da
operação no Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX).

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Decreto-lei nº 1.578/77 – Norma de Regência do IE


Art. 1º, §1º Considera-se ocorrido o fato gerador no momento da expedição
da Guia de Exportação ou documento equivalente.

Regulamento Aduaneiro – Decreto nº 6.759/09


Art. 213. O imposto de exportação tem como fato gerador a saída da mercadoria
do território aduaneiro.
Parágrafo único. Para efeito de cálculo do imposto, considera-se ocorrido o
fato gerador na data de registro do registro de exportação no Sistema
Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX).

➢ Importância de se conhecer o critério temporal:

Aqui também vale o raciocínio de que é irrelevante saber quando o negócio foi
fechado, pois o tributo será calculado com base na legislação vigente na data do
registro da exportação no SISCOMEX, mesmo que outra fosse a alíquota do IE na data
do encerramento das tratativas com o comprador ou na data da efetiva saída da
mercadoria do território nacional.

6.4. Sujeito passivo

Código Tributário Nacional


Art. 27. Contribuinte do imposto é o exportador ou quem a lei a ele equiparar.

Decreto-lei nº 1.578/77 – Norma de Regência do IE


Art. 5º. O contribuinte do imposto é o exportador, assim considerado qualquer
pessoa que promova a saída do produto do território nacional.

6.5. Base de cálculo

Decreto-lei nº 1.578/77 – Norma de Regência do IE


Art. 2º. A base de cálculo do imposto é o preço normal que o produto, ou seu
similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em condições de livre
concorrência no mercado internacional, observadas as normas expedidas pelo
Poder Executivo, mediante ato da CAMEX - Câmara de Comércio Exterior.
§1º - O preço à vista do produto, FOB ou posto na fronteira, é indicativo do preço
normal.
§2º - Quando o preço do produto for de difícil apuração ou for susceptível de
oscilações bruscas no mercado internacional, o Poder Executivo, mediante ato da
CAMEX, fixará critérios específicos ou estabelecerá pauta de valor mínimo, para
apuração de base de cálculo.
§3º - Para efeito de determinação da base de cálculo do imposto, o preço de
venda das mercadorias exportadas não poderá ser inferior ao seu custo de
aquisição ou produção, acrescido dos impostos e das contribuições incidentes e
de margem de lucro de quinze por cento sobre a soma dos custos, mais impostos
e contribuições.

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➢ Fique Atento! Como se pode interpretar a partir do caput e do §1º do art. 2º, acima
reproduzidos, o Fisco não está vinculado ao valor consignado na “fatura”. Há regras
mínimas, estabelecidas no §3º do mesmo artigo, para fins de fixação de base de
cálculo.

Alíquota específica é aquela definida por uma quantia determinada de dinheiro por
unidade de quantificação dos bens exportados (reais por metro, tonelada ou litro).

➢ Ex.: suponha que a alíquota de IE de determinada mercadoria seja de


R$100/tonelada (cem reais por tonelada). Nesta situação, a base de cálculo
obviamente precisa ser fixada em tonelada (e não em reais). Assim, se exportadas
10 toneladas dessa mercadoria, o IE devido será de R$1.000,00 (R$100/ton x 10
ton).

Alíquota ad valorem é aquela que incide sobre o valor, ou seja, é aquele percentual
a ser multiplicado por uma grandeza especificada em moeda corrente (base de
cálculo em reais) para a obtenção do montante do tributo a ser pago.

➢ OBS.: Para efeito do cálculo do imposto, os valores em moeda estrangeira devem


ser convertidos em moeda nacional, à taxa de câmbio vigente no dia do registro
da operação no SISCOMEX (data da expedição da Guia de Exportação).

6.6. Alíquota

A alíquota ad valorem está fixada em 30%, podendo o Poder Executivo reduzi-la ou


aumentá-la. O aumento, no entanto, não pode ser superior a cinco vezes. Ou seja, a
alíquota máxima é 150%. Mas, na prática, a esmagadora maioria dos produtos tem
alíquota 0% (isenção de IE), por força do princípio da tributação no destino.

Decreto-lei nº 1.578/77 – Norma de Regência do IE


Art. 3º. A alíquota do imposto é de trinta por cento, facultado ao Poder
Executivo reduzi-la ou aumentá-la, para atender aos objetivos da política
cambial e do comércio exterior.
Parágrafo único. Em caso de elevação, a alíquota do imposto não poderá
ser superior a cinco vezes o percentual fixado neste artigo.

6.7. Lançamento

Nas raríssimas hipóteses em que há a incidência de imposto de exportação com


alíquota diferente de zero, o tributo é lançado por homologação, já que são atribuições
do exportador realizar o cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia
apurada antecipadamente.

Posteriormente, caberá a um Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil homologar o


procedimento do contribuinte, praticando o ato denominado “desembaraço aduaneiro”
da mercadoria importada.

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IMPORTANTE: Como todo tributo, o imposto de exportação pode vir a ser lançado de
ofício quando, por exemplo, a autoridade administrativa perceber que o sujeito passivo
não antecipou o valor correto do tributo devido, sempre respeitado o prazo
decadencial.

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7. Imposto sobre Operações Financeiras

7.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: União


➢ Previsão constitucional: Art. 153, inciso V, da CF/88

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários;

➢ Previsão no CTN: arts. 63 a 67


➢ Norma de regência: Lei nº 8.033/90
➢ Classificação: extrafiscal
➢ Funções principais: é extrafiscal (intervir no funcionamento do mercado
financeiro, aquecendo ou esfriando o mercado, o que pode, inclusive, impactar na
inflação. Se o excesso de demanda está gerando inflação, aumenta-se o IOF incidente
sobre as operações de crédito, de modo a tornar os financiamentos mais oneroso, o
que por sua vez desacelera o consumo e reduz a inflação.
➢ Função secundária: arrecadatória

7.2. Princípios constitucionais

O IOF é exceção aos princípios da legalidade (no tocante a alteração de alíquotas), da


anterioridade do exercício e também da anterioridade nonagesimal.

Constituição Federal
Art. 153, §1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados
nos incisos I, II, IV e V.

Art. 150, §1º. A vedação do inciso III, b (anterioridade do exercício), não se


aplica ao tributo previsto nos art. 153, V; e a vedação do inciso III, c
(noventena), não se aplica ao tributo previsto no art.153, V;

7.3. IOF e o ouro

O ouro pode ser: a) mercadoria (uma joia, por exemplo); ou b) meio de pagamento
(ativo financeiro ou instrumento cambial, por exemplo).

Ouro-mercadoria → Incidência dos tributos que ordinariamente incidem sobre as


mercadorias (ICMS, IPI, II).

Ouro-Meio de Pagamento → Quando for utilizado como meio de pagamento, como se


fosse moeda, seria ilógico que houvesse incidência tributos que normalmente recaem
sobre mercadorias. Afinal, se não incide ICMS sobre a circulação do dinheiro usado para

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pagar determinado débito, também não pode incidir ICMS sobre o ouro utilizado para
quitar débito semelhante.

Assim, o art. 153, §5º, da CF afirma que, quando for definido em lei como ativo
financeiro ou instrumento cambial, o ouro se sujeitará exclusivamente à incidência do
IOF.

Neste caso, o IOF incidirá apenas na operação de origem (primária) e a alíquota mínima
será de 1%, sendo o produto da arrecadação dividido da seguinte maneira: 30% para o
Estado ou DF e 70% para o Município de origem da operação.

7.4. Fato gerador

Com previsão no art. 63 do CTN, o fato gerador do IOF ocorre em quatro hipóteses:

Código Tributário Nacional


Art. 63. O imposto, de competência da União, sobre operações de crédito,
câmbio e seguro, e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários
tem como fato gerador:
I - quanto às operações de crédito, a sua efetivação pela entrega total ou
parcial do montante ou do valor que constitua o objeto da obrigação, ou sua
colocação à disposição do interessado;
II - quanto às operações de câmbio, a sua efetivação pela entrega de moeda
nacional ou estrangeira, ou de documento que a represente, ou sua
colocação à disposição do interessado em montante equivalente à moeda
estrangeira ou nacional entregue ou posta à disposição por este;
III - quanto às operações de seguro, a sua efetivação pela emissão da apólice
ou do documento equivalente, ou recebimento do prêmio, na forma da lei
aplicável;
IV - quanto às operações relativas a títulos e valores mobiliários, a emissão,
transmissão, pagamento ou resgate destes, na forma da lei aplicável.

➢ Fique Atento! Segundo a súmula 664 do STF - “É inconstitucional o inciso V do art.


1º da Lei 8.033/1990, que instituiu a incidência do IOF sobre saques efetuados em
caderneta de poupança”.

Evidentemente, não há operação financeira nem no depósito, nem no saque de


quantia depositada em poupança ou conta corrente.

7.5. Sujeito passivo

O art. 66 do CTN determina que contribuinte do imposto é quaisquer das partes na


operação tributada, como dispuser a lei.

7.6. Base de cálculo

A base de cálculo do imposto é definida no art. 64 do CTN.

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Código Tributário Nacional


Art. 64. A base de cálculo do imposto é:
I - quanto às operações de crédito, o montante da obrigação,
compreendendo o principal e os juros;
II - quanto às operações de câmbio, o respectivo montante em moeda
nacional, recebido, entregue ou posto à disposição;
III - quanto às operações de seguro, o montante do prêmio;
IV - quanto às operações relativas a títulos e valores mobiliários:
a) na emissão, o valor nominal mais o ágio, se houver;
b) na transmissão, o preço ou o valor nominal, ou o valor da cotação em
Bolsa, como determinar a lei;
c) no pagamento ou resgate, o preço.

7.7. Alíquota

Não há regra específica, podendo a alíquota oscilar a depender das necessidades da


União.

7.8. Lançamento

O tributo é lançado por homologação, já que são atribuições do contribuinte realizar o


cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia apurada antecipadamente.

Posteriormente, caberá a um Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil homologar o


pagamento realizado pelo contribuinte, ou, se for o caso, realizar lançamento
complementar de ofício quando constatar, por exemplo, que o sujeito passivo não
antecipou o valor correto do tributo devido. Neste caso, deve-se respeitar sempre o
prazo decadencial.

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8. Imposto sobre Produtos Industrializados

8.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: União


➢ Previsão constitucional: Art. 153, inciso IV, da CF/88

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
IV - produtos industrializados

➢ Previsão no CTN: arts. 46 a 51


➢ Norma de regência: Decreto nº 7.212/2010
➢ Classificação: extrafiscal
➢ Funções principais: é extrafiscal (controla inflação, consumo e índices de emprego,
por exemplo)
➢ Função secundária: arrecadatória

8.2. Princípios constitucionais

O IPI é exceção aos princípios da legalidade e da anterioridade do exercício. Contudo, o


referido imposto está sujeito ao princípio da anterioridade nonagesimal.

Constituição Federal
Art. 153, §1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados
nos incisos I, II, IV e V.

Constituição Federal
Art. 150, §1º. A vedação do inciso III, b (anterioridade do exercício), não se
aplica ao tributo previsto nos art. 153, IV.

Além disso, o IPI deve observar os princípios constitucionais da seletividade e da não-


cumulatividade.

Constituição Federal
Art. 150, § 3º O imposto previsto no inciso IV:
I - será seletivo, em função da essencialidade do produto;
II - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada
operação com o montante cobrado nas anteriores;

Seletividade
Reduz a carga tributária incidente sobre um bem, conforme sua essencialidade. Assim,
quanto mais essencial o bem, menor deverá ser a tributação sobre ele, ao passo que os
bens mais supérfluos (menos essenciais ou que fazem mal à saúde, como cigarros e
bebidas alcóolicas) devem ser mais tributados. A previsão constitucional é no sentido
de que o IPI deve ser seletivo.

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Não-cumulatividade
O IPI é não cumulativo, ou seja, compensa-se o que for devido em cada operação com o
montante cobrado na operação anterior.

➢ Atenção! Só se admite a compensação do chamado “crédito físico”, que é aquele


relativo ao IPI recolhido na aquisição dos bens que serão integrados ao produto
industrializado (insumos). Assim, não se admite a compensação do chamado
“crédito financeiro”, que seria o decorrente de todos os bens utilizados pela
indústria, aí incluídos até aqueles destinados ao seu ativo permanente (mesas,
cadeiras e armários, por exemplo).

8.3. Imunidades

De acordo com o princípio da tributação no destino, o Brasil adota a política de que se


deve exportar produto, e não tributo.

Dando concretude a este princípio, o legislador constituinte resolveu imunizar as


exportações de produtos industrializados à incidência do IPI. Confira-se:

Constituição Federal
Art. 150, § 3º O imposto previsto no inciso IV:
III - não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior

Além disso, também são imunes ao IPI:

I) Os livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

Constituição Federal
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

II) O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial (CF - Art.
153, §5º da CF).

➢ Fique atento! O ouro comercializado como adorno pessoal (aliança, brinco,


anel, correntinha) ou objeto decorativo está sim sujeito ao IPI.

III) Energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais.

Constituição Federal
Art. 155, § 3º. À exceção dos impostos de que tratam o inciso II do caput
deste artigo e o art. 153, I e II, nenhum outro imposto poderá incidir sobre
operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações,
derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País.

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8.4. Fato gerador

Com previsão no art. 46 do CTN, o critério material do fato gerador do IPI ocorre em
três hipóteses:

1. Primeira possibilidade
Desembaraço aduaneiro do produto de procedência estrangeira;

2. Segunda possibilidade
Saída do produto industrializado do estabelecimento do importador, do industrial,
do comerciante ou arrematante;

3. Terceira possibilidade
Arrematação do produto apreendido ou abandonado levado a leilão.

➢ Atenção! O parágrafo único do art. 46 do CTN traz regra que explica o que vem a ser
“industrialização”. Confira:

Código Tributário Nacional


Art. 46, parágrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se
industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer operação
que lhe modifique a natureza ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o
consumo.

➢ Fique atento! Transformação, beneficiamento e montagem também são


considerados processos de industrialização.

8.5. Sujeito passivo

Com previsão no art. 51 do CTN, há quatro possíveis contribuintes do IPI:

1. O importador ou quem a lei a ele se equiparar;


2. O industrial ou quem a lei a ele se equiparar;
3. O comerciante de produtos sujeitos ao imposto, que os forneça aos industriais ou
equiparados;
4. O arrematante de produtos apreendidos ou abandonados, levados a leilão.

8.6. Base de cálculo

Com previsão no art. 47 do CTN, há três possíveis bases de cálculo para o IPI:

Primeira possibilidade

No caso de produto procedente do exterior, a BC será o preço normal que o mesmo, ou


seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre
concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País, acrescido
do montante:
a) do imposto sobre a importação;

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b) das taxas exigidas para entrada do produto no País;


c) dos encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou dele exigíveis;

Segunda possibilidade

No caso de saída de mercadoria do estabelecimento de importador, industrial,


comerciante ou arrematante, a BC será:
a) o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria, ou, na falta deste valor,
o preço corrente da mercadoria, ou sua similar, no mercado atacadista da praça do
remetente.

Terceira possibilidade

No caso de arrematação de produto apreendido ou abandonado e levado a leilão, a BC


será o preço da arrematação.

8.7. Alíquota

As alíquotas são as constantes da TIPI (Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos


Industrializados) e podem variar de zero (itens essenciais) a mais de 300% (itens
supérfluos ou que fazem mal à saúde, como cigarros e bebidas alcóolicas).

8.8. Lançamento

O tributo é lançado por homologação, já que são atribuições do contribuinte realizar o


cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia apurada antecipadamente.

Posteriormente, caberá a um Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil homologar o


pagamento realizado pelo contribuinte, ou, se for o caso, realizar lançamento
complementar de ofício quando constatar, por exemplo, que o sujeito passivo não
antecipou o valor correto do tributo devido. Neste caso, deve-se respeitar sempre o
prazo decadencial.

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9. Imposto Territorial Rural

9.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: União


➢ Previsão constitucional: Art. 153, inciso VI, da CF/88

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
VI – propriedade territorial rural

➢ Previsão no CTN: arts. 29 a 31


➢ Norma de regência: Lei nº 9.393/96
➢ Classificação: extrafiscal, com ressalvas.
OBS.: Apesar de extrafiscal, o ITR está sujeito às amarras da legalidade, da
anterioridade, da noventena e de todas as demais limitações constitucionais
ao poder de tributar. Por isso, boa parte da doutrina ainda o considera fiscal.
➢ Função principal: desestimular a manutenção de propriedades improdutivas
➢ Função secundária: arrecadatória

9.2. Delegação da fiscalização e da cobrança

A EC nº 42/03 incluiu o inciso III no §4º do art. 153 da CF, e assim autorizou que o
ITR seja fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei,
desde que tal opção não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal.

Caso faça a opção, o Município será o titular de 100% da arrecadação do ITR incidente
sobre os imóveis situados em seu território;

Por outro lado, caso o Município não opte por empregar a força de seu próprio aparato
fiscalizatório em prol da fiscalização e da arrecadação do ITR, a União repassará à
municipalidade apenas 50% do valor que arrecadar com a cobrança do tributo sobre
os imóveis daquele município.

A previsão consta do art. 158, II, da CF/1988. Veja:

Constituição Federal
Art. 158. Pertencem aos Municípios:
II – cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União
sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles
situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art.
153, §4º, III.

9.3. Imunidades

Art. 153, §4º, inciso III da CF.

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Em homenagem ao princípio da função social da propriedade, o constituinte originário


optou por conceder imunidade de ITR às pequenas glebas rurais, definidas em lei,
quando estas forem exploradas pelo proprietário que não possuir outro imóvel.

Lei nº 9.393/96 – Lei de Regência do ITR


Art. 2º. Nos termos do art. 153, § 4.º, in fine, da Constituição, o imposto não
incide sobre pequenas glebas rurais, quando as explore, só ou com sua
família, o proprietário que não possua outro imóvel.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, pequenas glebas rurais são os
imóveis com área igual ou inferior a:
I – 100 ha, se localizado em município compreendido na Amazônia
Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense;
II – 50 ha, se localizado em município compreendido no Polígono das Secas
ou na Amazônia Oriental;
III – 30 ha, se localizado em qualquer outro município.

Ao criar a imunidade em questão, o constituinte originário cometeu uma grave injustiça


com aqueles proprietários de mais de um imóvel cuja soma das áreas seja inferior
à pequena gleba.

Se a pessoa “A” possuir um único imóvel rural de 25 hectares localizado em


Sorocaba/SP, estará livre do ITR, pois seu imóvel se enquadra no conceito de pequena
gleba, definido no inciso III do parágrafo único do art. 2º da Lei 9.393/96.

Já a pessoa “B” que possua dois imóveis na mesma região, cada um com 10 hectares,
não é imune, pois apesar de se encontrar em situação patrimonial inferior à de “A”, o
fato de possuir mais de um imóvel impede a incidência da regra imunizante.

A injustiça, no entanto, foi sanada pelo art. 3º, inciso II, da Lei 9.393/1996, que conferiu
isenção para os proprietários que possuam imóveis em tal situação.

Lei nº 9.393/96 – Lei de Regência do ITR


Art. 3º. São isentos do imposto:
II – o conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário, cuja área total
observe os limites fixados no parágrafo único do artigo anterior, desde que,
cumulativamente, o proprietário:
a) o explore só ou com sua família, admitida ajuda eventual de terceiros;
b) não possua imóvel urbano

9.4. Fato gerador

De acordo com o art. 29 do CTN, o ITR tem como fato gerador a propriedade, o
domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do
Município.

Imóvel por natureza: é o solo com a sua superfície, os seus acessórios e adjacências
naturais, compreendendo as árvores e frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo.

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➢ Atenção! Estão excluídos do fato gerador do ITR, portanto, os bens imóveis por
acessão física. Estes são tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao
solo e que não puder ser retirado sem destruição, modificação, fratura ou dano.
Ex.: as sementes lançadas na terra e os edifícios e construções.

Esta, portanto, é uma importante diferença entre o ITR e o IPTU.

ITR = incide apenas sobre o imóvel por natureza.


IPTU = incide sobre o imóvel por natureza e sobre as acessões físicas.

9.5. Sujeito passivo

Prevê o art. 31 do CTN que o contribuinte do ITR é o proprietário do imóvel, o titular


de seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título.

➢ Proprietário: é quem possui título de domínio devidamente registrado no Cartório de


Registro de Imóveis.

➢ Titular do domínio útil: é quem recebeu do proprietário o direito de usar, gozar e


dispor da propriedade, conservando o domínio direto.

Ex.: aquele que comprou, por meio de instrumento particular, a


propriedade de outrem, mas que, por ainda não ter terminado de pagar
pela compra, não obteve, junto ao vendedor, a outorga da escritura
pública definitiva de venda e compra. Neste caso, o comprador já tem o
domínio útil (posse) do bem, mas ainda não é seu proprietário.

➢ Possuidor a qualquer título: quem obteve a posse plena do imóvel rural por meio de
ocupação, autorizada ou não pelo Poder Público ou pelo proprietário do bem, e desde
que sem subordinação (posse com animus domini).

Ex.: o usucapiente, já que ele exerce a posse com animus domini.

É irrelevante apurar se a posse é justa (legítima) ou injusta (ilegítima).


Sobre ambas haverá incidência de ITR, desde que a posse seja exercida
com animus domini. A posse será justa se não for violenta, clandestina ou
precária. E será injusta se for:

a) Violenta: adquirida pela força física ou coação moral;


b) Clandestina: estabelecida às ocultas daquele que tem interesse em
tomar conhecimento;
c) Precária: aquela que decorre do abuso de confiança por parte de
quem recebe a coisa, a título provisório, com o dever de restituí-la.

➢ Fique atento! Aquele que tem a posse do imóvel por força de contrato de locação
ou de comodato não a tem com ares de definitividade, razão pela qual o STJ entende
que, nesses casos, ele não poderá ser considerado contribuinte do imposto.

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9.6. Base de cálculo

De acordo com o art. 30 do CTN, a base do cálculo do ITR é o valor fundiário da


propriedade. Na prática, o valor fundiário é o valor da terra nua tributável, conceito que
inclui o valor do solo com sua superfície e respectiva floresta nativa, mas exclui:

a) construções, instalações e benfeitorias;


b) culturas permanentes e temporárias;
c) pastagens cultivadas e melhoradas;
d) florestas plantadas;

➢ Atenção! As Áreas de Preservação Permanente (APP’s) e as Áreas de Reserva


Legal (ARL) são isentas de tributação e do ITR, por força do disposto no art. 104 da
Lei de Política Agrícola (Lei nº8.171/91).

9.7. Alíquota

As alíquotas do ITR estão estabelecidas em uma tabela disposta na Lei nº 9.393/96,


sendo regidas por duas regras básicas:

1 - progressividade em relação ao tamanho da área (em hectares); e


2 - proporcionalidade inversa em relação ao grau de utilização do imóvel.
OBS.: 1 hectare = 10.000m², independentemente do formato da propriedade.

Na prática, afirmar que as alíquotas do ITR são progressivas em relação ao tamanho da


área significa dizer que quanto maior for a propriedade rural, maior também será a
alíquota do ITR que incide sobre ela.

Por outro lado, sustentar que as alíquotas do ITR são inversamente proporcionais em
relação ao grau de utilização do imóvel é dizer, na verdade, que quanto maior for a
produtividade da propriedade, menor será a alíquota do imposto a incidir sobre ela.

Desta forma, variando de 0,03% a 20%, as alíquotas do ITR funcionam como claro
estímulo à produtividade. Veja a tabela:

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Assim, a maior alíquota prevista (20%) é aplicável aos latifúndios improdutivos (áreas
com mais de cinco mil hectares e menos de 30% de grau de utilização), ao passo que a
menor alíquota (0,03%) será aplicável às pequenas propriedades altamente produtivas
(áreas com menos de 50 hectares e com grau de utilização maior que 80%).

9.8. Lançamento

A necessidade de se fazer “declaração de ITR” não implica dizer que o referido imposto
seja lançado por declaração. Na verdade, a tal “declaração de ITR” é simples obrigação
tributária acessória do contribuinte, que serve, portanto, para auxiliar o fiscal da
Receita Federal no momento de decidir sobre a homologação, ou não, do pagamento
efetuado.

O tributo é lançado por homologação, já que são atribuições do contribuinte realizar o


cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia apurada antecipadamente.

Posteriormente, caberá a um Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil homologar o


pagamento realizado pelo contribuinte, ou, se for o caso, realizar lançamento
complementar de ofício quando constatar, por exemplo, que o sujeito passivo não
antecipou o valor correto do tributo devido. Neste caso, deve-se respeitar sempre o
prazo decadencial.

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10. Imposto de Renda

10.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: União


➢ Previsão constitucional: Art. 153, inciso III, da CF/88

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
III – renda e proventos de qualquer natureza

➢ Previsão no CTN: arts. 43 a 45


➢ Norma de regência: RIR (Decreto nº 9.580/18)
➢ Classificação: fiscal
➢ Função: arrecadar

10.2. Princípios constitucionais

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
III - renda e proventos de qualquer natureza;
§ 2º O imposto previsto no inciso III:
I - será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da
progressividade, na forma da lei;

a) Generalidade: tratamento isonômico para todas as pessoas, independentemente


da ocupação profissional ou função exercida.
b) Universalidade: tratamento isonômico para todas as rendas e proventos,
independentemente de sua origem e de sua denominação jurídica.
c) Progressividade: imposição de alíquotas variáveis, que ficam cada vez maiores na
medida em que os rendimentos ou proventos tributados ficam mais elevados.

IR está sujeito aos princípios de legalidade e anterioridade do exercício, mas não


está sujeito ao princípio da noventena, de forma que sua majoração pode gerar efeitos
a partir do primeiro dia do exercício subsequente, independentemente de qualquer
prazo mínimo.

10.3. Fato gerador

Código Tributário Nacional


Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de
qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da
combinação de ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.

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Renda: é o produto do capital (rendimentos obtidos com uma aplicação financeira), do


trabalho (salário recebido pelo empregado) ou da combinação de ambos (lucro).

Provento: conceito definido por exclusão, compreendendo todos os acréscimos


patrimoniais não enquadráveis no conceito de renda. São proventos, por exemplo, os
acréscimos patrimoniais decorrentes de atividade criminosa (dinheiro auferido com a
venda de entorpecentes).

➢ Atenção! O STF entende que nem mesmo a lei poderia, a pretexto de definir o
conceito de renda ou provento, determinar a tributação por IR sobre algo que, de
fato, não represente acréscimo patrimonial.

Assim, as verbas de natureza indenizatória, por servirem apenas para recompor


o patrimônio jurídico dos beneficiários, não o aumentando, não estão sujeitas ao
imposto. Neste sentido:

Súmula 498 do STJ


Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.

Súmula 386 do STJ


São isentas de imposto de renda as indenizações de férias proporcionais e o
respectivo adicional.

Súmula 215 do STJ


A indenização recebida pela adesão ao programa de incentivo à demissão
voluntária não está sujeita à incidência do imposto de renda.

Assim, verbas recebidas a título de licença-prêmio convertida em pecúnia, férias não


gozadas, férias proporcionais e respectivos adicionais não estão sujeitas à incidência
do imposto de renda. A razão é que estas verbas não têm origem em capital ou
trabalho, mas sim têm caráter de indenização.

➢ Fique atento! Já as verbas recebidas a título de férias efetivamente gozadas e de


“indenização” por horas extras efetivamente trabalhadas possuem nítido caráter
remuneratório, ou seja, há incidência do IR.

Súmula 463 do STJ


Incide imposto de renda sobre os valores percebidos a título de indenização por
horas extraordinárias trabalhadas, ainda que decorrentes de acordo coletivo.

Disponibilidade econômica ou jurídica da renda e dos proventos

Disponibilidade econômica: instante exato a partir do qual ocorre aumento


patrimonial concreto. Trata-se, na verdade, de disponibilidade financeira.

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Disponibilidade jurídica: instante a partir do qual o sujeito passivo obtém um direito


abstrato de crédito, passível de ser convertido imediatamente em moeda, se ele quiser.
Ex.: recebimento de um cheque (ordem de pagamento a vista).

10.4. Sujeito ativo

O sujeito ativo do imposto de renda é, obviamente, a União. Contudo, há duas regras


importantes sobre a repartição de receitas do imposto previstas na CF.

Constituição Federal de 1988


Art. 157. Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal:
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de
qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título,
por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;

Art. 158. Pertencem aos Municípios:


I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de
qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título,
por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;

Assim, quando servidores públicos estaduais, distritais e municipais têm desconto de


imposto de renda diretamente na fonte, o valor retido pelo ente pagador passa a
pertencer à própria entidade federativa responsável pela retenção.
Por essa razão, eventual ação ajuizada por estes servidores com o intuito de se
restituírem do imposto de renda retido (e pago) indevidamente tem de ser promovida
contra o ente que fez a retenção, e não contra a União.

Súmula 447 do STJ


Os Estados e o Distrito Federal são partes legítimas na ação de restituição de
imposto de renda retido na fonte proposta por seus servidores.

10.5. Sujeito passivo

O contribuinte está definido no art. 45 do CTN

Código Tributário Nacional


Art. 45. Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade a que se
refere o artigo 43, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao possuidor,
a qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos
tributáveis.
Parágrafo único. A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos
proventos tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção
e recolhimento lhe caibam.

➢ Ex.: IRPF retido na fonte dos empregados (caso do parágrafo único)

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10.6. Base de cálculo

Para as pessoas físicas, a BC do IR está prevista no Art. 76 do RIR/18, podendo ser


definida como a diferença positiva entre as seguintes somas:

a) rendimentos percebidos durante o ano-calendário, exceto os isentos, os não


tributáveis, os tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação
definitiva;
b) deduções legalmente previstas (despesas com saúde, educação, previdência social
oficial e privada, livro caixa, pensão alimentícia e valor padrão por dependente).

➢ Atenção! Livro caixa: O profissional autônomo pode escriturar um livro-caixa para


deduzir as despesas de custeio, necessárias à percepção da receita e à manutenção
da fonte produtora. Considera-se despesa de custeio aquela indispensável à
percepção da receita e à manutenção da fonte produtora, como aluguel, água, luz,
telefone, material de expediente ou de consumo.

Já para as pessoas jurídicas, a BC do IR está prevista no Art. 44 do CTN, podendo variar


conforme o regime de tributação do lucro a que estiver sujeita a empresa:

Código Tributário Nacional


Art. 44. A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou presumido,
da renda ou dos proventos tributáveis.

Empresa sujeita ao regime do lucro real: o contribuinte efetivamente calcula seu


lucro, abatendo do faturamento as despesas legalmente autorizadas. Lucro real é
definido como o lucro líquido do período de apuração ajustado pelas adições, exclusões
ou compensações autorizadas pelo Decreto RIR/99.

Empresa sujeita ao regime de lucro presumido: No lucro presumido (opção possível


para alguns contribuintes), o sujeito passivo aplica um percentual legal sobre o valor
de sua receita bruta, obtendo como resultado um montante que se presume ser seu
lucro.

Já a sistemática do lucro arbitrado é aplicada quando não é possível o cálculo preciso


do lucro real e o contribuinte não cumpre os requisitos para a tributação com base no
lucro presumido.

O IRPJ será apurado pelo lucro arbitrado nas hipóteses do art. 603 do
RIR/18. Dois exemplos:
1. quando o contribuinte, obrigado à tributação com base no lucro real,
não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais,
ou deixar de elaborar as demonstrações financeiras exigidas pela
legislação fiscal;
2. quando a escrituração a que estiver obrigado o contribuinte revelar
evidentes indícios de fraudes ou contiver vícios, erros ou
deficiências que a tornem imprestável para:
a) identificar a efetiva movimentação financeira, inclusive bancária;
ou

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Apostila de Direito Tributário II
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b) determinar o lucro real;

10.7. Alíquota

A tabela de 2019 ainda não foi divulgada pela Receita Federal. Mas como base de
estudo, analisemos a tabela de 2018, referente ao ano-base 2017.

Parcela a
Base de cálculo mensal em
Alíquota % deduzir do
R$
imposto em R$
Até 1.903,98 – –
De 1.903,99 até 2.826,65 7,5% R$ 142,80
De 2.826,66 até 3.751,05 15,0% R$ 354,80
De 3.751,06 até 4.664,68 22,5% R$ 636,13
Acima de 4.664,68 27,5% R$ 869,36

➢ Atenção! Embora a tabela acima se refira ao ano de 2018, seus valores são os mesmos
desde 2015, o que significa dizer, na prática, que além de imposto se tornar mais caro
anualmente para quem já era sujeito passivo, cada vez mais brasileiros se tornam
contribuintes do IR. Isto porque, como o salário das pessoas tende a aumentar a cada ano
(mesmo que não se trate de aumento real, mas de mera recomposição das perdas
inflacionárias – a chamada “correção monetária”), cada vez mais pessoas entram na
primeira faixa de tributação ou progridem para faixa com alíquota maior.

10.8. Lançamento

A necessidade de se fazer “declaração de ajuste de IR” não implica dizer que o referido
imposto seja lançado por declaração. Na verdade, a tal “declaração de imposto de renda”
é simples obrigação tributária acessória do contribuinte, que serve, portanto, para auxiliar
o fiscal da Receita Federal no momento de decidir sobre a homologação, ou não, do
pagamento efetuado.

O tributo é lançado por homologação, já que são atribuições do contribuinte realizar o


cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia apurada antecipadamente.

Posteriormente, caberá a um Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil homologar o


pagamento realizado pelo contribuinte, ou, se for o caso, realizar lançamento
complementar de ofício quando constatar, por exemplo, que o sujeito passivo não
antecipou o valor correto do tributo devido. Neste caso, deve-se respeitar sempre o prazo
decadencial.

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11. Imposto sobre Grandes Fortunas

11.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: União


➢ Previsão constitucional: Art. 153, inciso VII, da CF/88

Constituição Federal
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
VII – grandes fortunas, nos termos de lei complementar

➢ Previsão no CTN: não tem


➢ Norma de regência: não tem
➢ Classificação: fiscal
➢ Função: arrecadar

11.2. Princípios constitucionais

Se o tributo existisse na prática, teria de respeitar todos os princípios.

11.3. Fato gerador, sujeito passivo, base de cálculo, alíquota e lançamento

Tudo depende de regulamentação por meio de Lei Complementar ainda não criada no
Brasil, sendo temerário, portanto, que se desenvolva qualquer raciocínio apriorístico.

11.4. Motivo de não ter sido instituído no Brasil

a) Grandes fortunas estão bem representadas nas pessoas dos integrantes do


Congresso Nacional, de modo que os congressistas não se entusiasmam com a ideia
de criar um tributo que seja capaz de carrear parte de suas próprias riquezas ao
fisco;
b) A criação desse imposto acabaria dando margem para a migração das grandes
fortunas brasileiras para outros países. Atualmente, as grandes fortunas podem ser
facilmente enviadas para outros países, o que não só representaria fuga da
tributação, mas também perda da capacidade produtiva que este capital teria se
ficasse no país (geraria perda de arrecadação reflexa). Este argumento, no entanto,
não seria válido para grandes fortunas imobilizadas, já que imóveis não podem sair
do país, obviamente.

11.5. Destino de eventual arrecadação

O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) traz regra específica quanto
ao destino da arrecadação do IGF, acaso seja criado. Veja:

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)


Art. 80. Compõem o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza:
III – o produto da arrecadação do imposto de que trata o art. 153, inciso VII,
da Constituição;

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Impostos Estaduais

12. Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD)

12.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: Estados e Distrito Federal


➢ Previsão constitucional: Art. 155, inciso I, da CF/88

Constituição Federal
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos
sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;

➢ Previsão no CTN: Arts. 35 a 42 (com ressalva)


O CTN trata de um único imposto de transmissão. Todavia, esse
imposto foi desmembrado na CF/88, surgindo o ITCMD e o ITBI.
O primeiro de competência dos Estados e do DF; o segundo, dos
municípios.
➢ Norma de regência: em SP → Lei nº 10.705/00 e RITCMD → Decreto nº 46.655/02
➢ Classificação: fiscal
➢ Função principal: arrecadatória

12.2. Ente competente para cobrança

Quando a transmissão é de bens imóveis e respectivos direitos: o ITCMD compete


ao Estado da situação do bem ou ao Distrito Federal, se lá estiver localizado (CF, art.
155, §1º, inciso I). Assim, caso os bens estejam distribuídos em mais de um estado, o
ITCMD terá de ser recolhido para cada um deles e segundo suas alíquotas.

Quando a transmissão é de bens móveis, títulos e créditos, e for decorrente de


sucessão causa mortis: o ITCMD compete ao Estado (ou Distrito Federal) em que se
processar o inventário ou arrolamento (CF, art. 155, §1º, inciso II).

Quando a transmissão é de bens móveis, títulos e créditos, e for decorrente de


doação: competente será o Estado (ou Distrito Federal) em que tiver domicílio o
doador (CF, art. 155, §1º, inciso II).

Quando o doador tiver domicilio ou residência no exterior ou se o de cujus


possuía bens, fosse residente ou domiciliado ou tiver seu inventário processado
no exterior: a competência para instituição do ITCMD será regulada por lei
complementar de caráter nacional.

Ocorre que está lei até hoje não foi editada, razão pela qual os Estados têm se valido da
regra constante no art. 24, §3º da CF para exercerem competência legislativa plena
sobre a matéria, disciplinando a questão por meio de lei própria (São Paulo, por
exemplo, fez isso no art. 4º da Lei Paulista 10.705/00).

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A questão, no entanto, é muito controvertida, sendo mais adequado considerar ilegal a


incidência do ITCMD nesses casos, ao menos enquanto não for instituída a lei de caráter
nacional.

12.3. Princípios constitucionais

O ITCMD respeita os princípios constitucionais da legalidade, da anterioridade do


exercício e da anterioridade nonagesimal. Além disso, a ele se aplica a progressividade.

12.4. Fato gerador

É a transmissão, por causa mortis ou doação, de quaisquer bens ou direitos. Esta


é a interpretação constitucionalizada do art. 35 do CTN.

Na causa mortis: necessário atentar para o art. 1.784 do Código Civil, que estabelece
que “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários”.

Se a abertura da sucessão ocorre no exato momento da morte, só poderia ser este o


momento apto a definir a legislação aplicável ao lançamento do ITCMD. Confira-se:

Súmula 112 do STF


O imposto de transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da
abertura da sucessão.

Contudo, apesar de a transmissão ocorrer no exato instante da morte, é óbvio que o


pagamento do imposto será feito em momento futuro, após a avaliação dos bens do
espólio, e depois de efetuado e homologado o cálculo do tributo (arts. 630 a 638 do
CPC).

Assim, os marcos temporais para o cálculo e para a exigibilidade do imposto são


diferentes do momento da morte. Confira-se:

Súmula 113 do STF


O imposto de transmissão causa mortis é calculado sobre o valor dos bens na data
da avaliação.

Súmula 114 do STF


O imposto de transmissão causa mortis não é exigível antes da homologação do
cálculo.

Na doação de bem imóvel: o fato gerador só ocorre com a transmissão do domínio,


o que depende do efetivo registro, no Cartório de Registro de Imóveis, da escritura
pública de doação (Código Civil, art. 1.245, §1º).

Ocorre, no entanto, que as legislações estaduais – a de São Paulo, inclusive – exige a


comprovação do pagamento do imposto antes mesmo da lavratura da escritura pública
de doação (Lei Paulista nº 10.705/00 – art. 18, caput e §§1º a 5º), o que é um verdadeiro

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absurdo, já que o pagamento, que é forma de extinção do crédito tributário (art. 156, I,
do CTN), acaba sendo exigido antes mesmo da ocorrência do fato gerador do imposto.

Na doação de bem móvel: o fato gerador ocorre com a tradição, que, no Direito Civil,
é o ato de entregar o bem para outra pessoa (Código Civil, art. 1.267).

As legislações estaduais também exigem, no caso de doação de bens móveis, que o


pagamento do imposto seja efetuado antes mesmo da ocorrência do fato gerador.
Fazem isso exigindo que as partes envolvidas na doação (doador e donatário) façam
constar do contrato de doação os dados que identificam a guia e o respectivo
comprovante do pagamento (Lei Paulista nº 10.705/00 – art. 18, caput e §2º).

➢ Atenção! Ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos forem os


herdeiros, legatários ou donatários. Assim, cada herdeiro, legatário ou
donatário pratica um fato gerador diferente.

12.5. Sujeito Passivo

O CTN, no art. 42, acabou delegando para os legisladores estaduais e do Distrito Federal
a possiblidade de apontarem, por meio de leis próprias, o contribuinte do imposto. Isto
porque o CTN se resumiu a estabelecer que o sujeito passivo do imposto é "qualquer
das partes na operação tributada, como dispuser a lei".

O art. 7º da Lei Paulista nº 10.705/00, por exemplo, estabelece que o contribuinte é:

Na transmissão causa mortis → o herdeiro ou o legatário;


No fideicomisso → o fiduciário;
Na doação → o donatário;
Na cessão de herança ou de bem ou direito a título não oneroso → o cessionário.

12.6. Base de Cálculo

No caso do ITCMD, a transmissão dos bens ou direitos tributáveis ocorre sempre de


forma gratuita, seja na herança, seja na doação. Assim, outra não poderia ser a base de
cálculo do imposto senão o valor de mercado dos bens e direitos transmitidos.

O valor de mercado é aquele atribuído na avaliação judicial e homologado pelo juiz,


em caso de inventário judicial.

Já nos casos de inventário extrajudicial e nos de doação, o valor de mercado dos bens e
direitos é o declarado pelo inventariante ou no contrato de doação, desde que haja
anuência da Fazenda Pública. Caso a Fazenda discorde do montante declarado, deve
instaurar procedimento administrativo de arbitramento da base de cálculo, para fins
de lançamento e notificação do contribuinte. Neste caso, o contribuinte poderá
impugnar o valor arbitrado pelo Fisco.

➢ Fique atento! O imposto é calculado sobre o valor total da soma dos bens e
direitos deixados pelo falecido ou doados, o que compreende: bens imóveis,
aplicações financeiras, poupanças, ações, veículos, etc.

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➢ Atenção! Nos casos de transmissão de direitos (como domínio útil, domínio


direto, usufruto e nua-propriedade), a base de cálculo costuma ser de uma
fração do valor de mercado total do bem.

A Lei Paulista nº 10.705/00 (art. 9º, §2º), por exemplo, estabeleceu que, no caso
de transmissão não onerosa de domínio útil e de usufruto, a base de cálculo é
1/3 do valor de mercado do bem; ao passo que na transmissão não onerosa de
domínio direito e de nua-propriedade, a base de cálculo é de 2/3 do valor de
mercado do bem.

➢ Fique atento! Alguns bens podem ser levantados/resgatados sem passar pelo
processo de Inventário, como: FGTS, Seguros de Vida, PIS/PASEP, Restituição
de IR e, dependendo dos saldos, valores depositados em poupança e conta
corrente. Assim, estes bens não compõem a base de cálculo do imposto.

➢ Atenção! Também não compõem a base de cálculo do imposto as dívidas


deixadas pelo de cujus. Afinal, todas as dívidas devem ser quitadas com o
patrimônio do falecido, até que os débitos se esgotem ou até o limite da herança.

Assim, no caso, por exemplo, de herança de um veículo ou de imóvel cujo


financiamento não havia sido quitado, primeiro terá de ser quitada a dívida
perante o respectivo credor, o que deve ser feito com o patrimônio positivo
deixado pelo próprio de cujus. Só o que sobrar após essa quitação é que será de
fato transmitido por herança e, portanto, considerado fato gerador de ITCMD.

12.7. Alíquotas

O imposto tem alíquota máxima fixada pelo Senado Federal (art. 155, §1º, IV da CF).
Essa alíquota foi fixada em 8% pela Resolução 09/1992 do Senado.

Além disso, essa mesma resolução autorizou cada estado a fixar alíquotas
progressivas em caso de transmissão causa mortis, com base no valor do quinhão que
cada herdeiro receber. Essa progressividade foi considerada constitucional pelo STF
em fevereiro de 2013.

Em São Paulo, atualmente a alíquota é de 4%. Há projeto de lei tramitando na ALESP


que, se aprovado, fixará alíquotas progressivas que variarão de 3% a 8%.

12.8. Lançamento

O imposto é lançado por declaração. Isto porque o cálculo do imposto compete à


autoridade administrativa, que constitui o crédito tributário com base na avaliação dos
bens feita pelo próprio sujeito passivo ou por corretor/perito, no caso de avaliação
judicial. Na prática, o cálculo do imposto é feito pela no site da Secretaria da Fazenda
de cada Estado, mediante o preenchimento da declaração de ITCMD.

Nada impede, evidentemente, o lançamento de ofício quando, ocorrido o fato gerador,


este for total ou parcialmente omitido da autoridade administrativa, mas desde que
respeitado, é claro, o respectivo prazo decadencial.

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13. Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)

13.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: Estados e Distrito Federal


➢ Previsão constitucional: Art. 155, inciso II, da CF/88

Constituição Federal
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos
sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação,
ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

➢ Previsão no CTN: Não tem (artigos revogados)


➢ Normas de regência: Lei de normas gerais (nacional) → LC nº 87/96
Lei paulista → Lei nº 6.374/89
Regulamento do ICMS (RICMS) → Decreto nº 45.490/2000
➢ Classificação: fiscal (há, contudo, pequena marca de extrafiscalidade no ICMS,
consubstanciada no fato de a CF permitir que o imposto seja seletivo, faculdade que,
quando utilizada, eleva sua incidência sobre mercadorias e serviços consumidos
pelas pessoas de maior capacidade contributiva, demonstrando certa intenção de
reduzir desigualdades sociais).
➢ Função principal: arrecadatória

13.2. Conceito de “mercadoria”

Coisa > Bem > Mercadoria.

Coisa é tudo que existe no universo, exceto pessoas. Bem é toda coisa com valor
econômico. E mercadoria é todo bem móvel que está no mundo dos negócios com
finalidade comercial.

De forma mais detalhada, mercadoria é o bem móvel introduzido no processo


circulatório econômico (sujeito à mercancia). Tanto que, sob certos aspectos, o que
caracteriza a mercadoria é justamente essa destinação comercial. Afinal, quando a
mercadoria é adquirida por alguém, adentra a esfera de patrimônio deste, perdendo a
finalidade comercial e, pois, a qualificação de mercadoria. Apesar disso, é possível que
o bem possa readquirir tal conotação se for reintroduzido no processo circulatório.

➢ Atenção! Software de prateleira (como o Windows, por exemplo) é considerado


mercadoria e, portanto, está sujeito ao ICMS. Contudo, software feito sob
encomenda (moldado para o cliente) é entendido, pelo STF, como um serviço, razão
pela qual se sujeita ao ISS, de competência dos municípios, e não ao ICMS.

Registre-se, ainda, que a venda de software é tributada (por ICMS, ou por ISS)
independentemente de haver ou não um bem corpóreo envolvido na transação. Ou
seja: o tributo incide sobre a comercialização do software mesmo quando a
aquisição é feita mediante transferência eletrônica de dados (download pela

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internet, por exemplo), sem que haja necessidade da existência de uma base física
(mídia de DVD).

O mesmo ocorre com roupas. Peças de roupas compradas prontas em lojas são
tributadas por ICMS, enquanto peças manufaturadas por alfaiates ou costureiras
diretamente sob encomenda do consumidor são tributadas por ISS (previsto no item
14.09 da lista anexa à LC nº 116/03).

Da mesma forma incide ISS sobre as operações de venda de medicamentos


preparados por farmácias de manipulação sob encomenda. Incide ICMS sobre
as operações de venda de medicamentos por elas ofertados aos consumidores em
prateleira (Repercussão Geral - Matéria julgada pelo STF em agosto de 2020).

➢ Fique atento! A energia elétrica que chega na residência das pessoas ou nos
estabelecimentos comerciais por meio dos sistemas de transmissão e de
distribuição de energia foi equiparada à mercadoria para fins de tributação por ICMS
(art. 155, §3º, da CF). Contudo, a água encanada não recebeu o mesmo tratamento
constitucional. Logo, sobre a água encanada, não há incidência de ICMS. Apesar
disso, a água mineral vendida em garrafas nos supermercados é considerada
mercadoria e está sujeita ao imposto, evidentemente.

13.3. Os serviços tributados por ICMS

Em regra, os serviços são tributados por ISS, de competência dos municípios. Contudo,
a CF determinou que três serviços fossem tributados por ICMS. São eles:

a) Transporte intermunicipal;
b) Transporte interestadual; e
c) Comunicação.

13.3.1. Transporte

Inicialmente, é necessário atentar para o fato de que o transporte tributado por ICMS é
aquele intermunicipal (entre dois municípios) ou interestadual (entre dois estados).

➢ Atenção! O transporte intramunicipal (ou seja: dentro do mesmo município) é


tributado por ISS, de competência dos municípios.

➢ Fique atento! O STF, por meio da ADIN N° 1.600-8, declarou a


inconstitucionalidade da cobrança do ICMS sobre a prestação de serviços de
transporte aéreo intermunicipal, interestadual e internacional de passageiros e
do transporte aéreo internacional de cargas.

Contudo, o STF considera constitucional a cobrança do ICMS no caso de transporte


terrestre interestadual e intermunicipal de passageiros e de cargas, bem como
na hipótese de transporte aéreo interestadual e intermunicipal de cargas.

O quadro a seguir ajuda a resumir a atual posição do STF:

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INCIDÊNCIA DO ICMS SOBRE O TRANSPORTE – POSIÇÃO DO STF


Transporte Aéreo Transporte Terrestre
Pessoas Cargas Pessoas Cargas
Intermunicipal Inconstitucional Constitucional Constitucional Constitucional
Interestadual Inconstitucional Constitucional Constitucional Constitucional
Internacional Inconstitucional Inconstitucional Inconstitucional Inconstitucional

13.3.2. Comunicação

No caso da tributação do serviço de comunicação, o ICMS recai sobre o prestador de


serviços, ou seja, a pessoa que proporciona os meios para a comunicação entre os
interlocutores, como ocorre com as empresas de telefonia fixa e móvel, bem como
com os fornecedores de TV a cabo (TV aberta e rádio não são tributados por serem
gratuitos).

➢ Fique atento! A súmula 334 do STJ estabelece que “o ICMS não incide no serviço
dos provedores de acesso à Internet”. Tal entendimento decorre da constatação
de que os provedores de internet apenas incorporam facilidades a um serviço já
existente (internet), de modo que os provedores se revelam como usuários, e não
como prestadores do serviço de telecomunicações.

➢ Atenção! Já a súmula 350 do STJ determina que “o ICMS não incide sobre o serviço
de habilitação de telefone celular”. Isto porque, no ato de habilitação de aparelho
celular, não ocorre qualquer serviço efetivo de telecomunicação, mas sim mera
disponibilização do serviço, de modo a assegurar ao usuário a possibilidade de
fruição do serviço de telecomunicações. Por conseguinte, o serviço de habilitação é
considerado atividade intermediária, não sujeita à incidência do tributo.

➢ Importante! Os valores pagos pelos usuários de telefonia móvel a título de


assinatura básica mensal, com ou sem franquia de minutos, consubstanciam
contraprestação pelo serviço de comunicação propriamente dito, prestado pelas
concessionárias de telefonia e consistente no fornecimento, em caráter continuado,
das condições materiais para que ocorra a comunicação entre o usuário e terceiro.
Assim, segundo a leitura do STF, há incidência de ICMS sobre o valor pago a título
de assinatura básica mensal, com ou sem franquia de minutos, mesmo que o
usuário não utilize, de fato, a minutagem contratada.

13.4. O ICMS nas operações interestaduais

Quando o destinatário da mercadoria está situado em outro Estado, a quem deve caber
o produto da arrecadação do ICMS? Ao Estado que produziu a mercadoria (alienante)
ou àquele em que irá ocorrer o consumo (adquirente)?
Resposta: a ambos os Estados, de acordo com uma proporção específica.

A resposta para essa pergunta, contudo, passou por uma série de alterações legislativas
ao longo do tempo, até que sobreveio a Emenda Constitucional nº 87/2015, que
promoveu alterações definitivas sobre a questão da incidência do ICMS sobre as
operações interestaduais.

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Em resumo, têm-se hoje as seguintes diretrizes constitucionais (art. 155, §2º, incisos
VII e VIII, da CF):

a) Nas operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final,


contribuinte ou não do imposto, localizado em outro Estado, adotar-se-á a
alíquota interestadual;
b) Nestas operações, cabe ao Estado de localização do destinatário o imposto
correspondente à diferença entre a alíquota interna do Estado destinatário e a
alíquota interestadual;
c) A responsabilidade pelo recolhimento da diferença de imposto mencionada
acima será do destinatário, quando este for contribuinte do imposto, ou do
remetente, quando o destinatário não for contribuinte do imposto.

Conhecendo as regras acima, basta saber usar a tabela abaixo:

Tabela de alíquotas interestaduais de ICMS

Apesar de parecer complexa, o entendimento dessa tabela do ICMS fica mais simples
quando olhamos para ela seguindo apenas três passos:

Passo 1: consulte a localização do Estado de Origem (disponível na coluna vertical –


azul claro)

Passo 2: localize, o Estado de destino (disponível na linha horizontal – azul escuro).

Passo 3: na intersecção das duas linhas (Estado de origem x Estado de destino) você
obterá a alíquota interestadual aplicada na operação.

OBS: Na linha diagonal destacada em azul é possível visualizar a alíquota aplicada


internamente dentro de cada Estado. Esta alíquota interna será usada na subtração
mencionada no item “b”, acima”.

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OBS.2: É importante lembrar que esta tabela traz a alíquota geral (aplicável à maioria
dos produtos e serviços). Contudo, pode haver variação dessas alíquotas conforme o
caso.

OBS.3: Além disso, cabe observar que a aplicação da alíquota de ICMS interestadual
para produtos importados (representado por “EX” na tabela) é de 4% (de acordo
com Resolução Federal no. 13/2012).

13.5. Princípios constitucionais

O ICMS está sujeito aos princípios da legalidade, da anterioridade do exercício e


também da anterioridade nonagesimal. Além disso, o imposto também pode ser
seletivo (não deve, apenas pode) e deve ser não cumulativo.

Sobre a não cumulatividade, é importante lembrar o teor da súmula 509 do STJ:

Súmula 509 do STJ


É lícito ao comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS decorrentes de
nota fiscal posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a veracidade
da compra e venda.

13.6. Imunidades de ICMS

Há várias imunidades de ICMS. São elas:

a) Sobre as exportações → Imunidade sobre operações que destinem mercadorias


para o exterior, e sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada
a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações
e prestações anteriores;
b) Sobre combustíveis e lubrificantes derivados de petróleo, bem como energia
elétrica enviados a outros Estados da federação → Trata-se de imunidade sobre
operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes,
combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica;
c) Sobre ouro → Imunidade sobre o ouro, nas hipóteses em que este for definido em
lei como ativo financeiro ou instrumento cambial (caso em que haverá somente a
incidência do IOF);
d) Sobre Rádio e TV → Imunidade sobre as prestações de serviço de comunicação
nas modalidades de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e
gratuita;
e) Sobre livros → Imunidade sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a
sua impressão (CF, art. 150, VI, d);

13.7. Fato gerador

A Lei Complementar nº 87/96 não define os fatos geradores do ICMS, mas, no seu art.
2º, enumera os fatos em que o legislador estadual pode atuar tipificando as hipóteses
de incidência. A maioria das situações já foi analisada nos itens anteriores, restando
fazer alguns comentários sobre pontos específicos.

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13.7.1. Circulação jurídica, e não física

Importante observar que o fato gerador do ICMS é a circulação jurídica (e não física)
da mercadoria. A circulação jurídica é a que implica transferência de propriedade,
transferência de titularidade, saída do patrimônio do vendedor e ingresso na esfera
patrimonial do comprador.

Por isso, na hipótese de deslocamento de mercadorias entre estabelecimentos do


mesmo contribuinte, da matriz para a filial, por exemplo, não há incidência de ICMS,
conforme súmula do STJ (entendimento confirmado no AgRE 1.255.885 do STF):

Súmula 166 do STJ


Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um
para outro estabelecimento do mesmo contribuinte.

Na mesma linha, nos casos em que o título jurídico não implica a transferência de
propriedade, como na locação e no comodato (empréstimo gratuito de coisas não
fungíveis), também não há fato gerador do ICMS. Confira-se:

Súmula 573 do STF


Não constitui fato gerador do imposto de circulação de mercadorias a saída física
de máquinas, utensílios e implementos a título de comodato.

13.7.2. Tributação conjunta de mercadorias e serviços

Inicialmente, mister registrar que o ISS é residual em relação ao ICMS. Isto porque o
ICMS incide sobre os três serviços expressamente previstos na Constituição Federal
(comunicação, transporte interestadual e transporte intermunicipal), enquanto o ISS
tributa os demais serviços (resíduo), desde que previstos em lei complementar.

No entanto, no que concerne à tributação dos serviços fornecidos conjuntamente


com mercadorias, a situação se inverte, e o ICMS passa a ser residual em relação ao
ISS. Ou seja: somente é possível ao ICMS tributar os serviços que já não estejam sujeitos
à incidência do ISS.

➢ Fique atento! Na aquisição de bebidas e alimentos em bares e restaurantes, há a


prestação de um serviço pelo restaurante em conjunto com a venda de mercadorias.
Como o serviço não está na lista anexa à LC 116/2003, haverá incidência do ICMS sobre
o valor total da operação. Nesse sentido:

Súmula 163 do STJ


O fornecimento de mercadorias com a simultânea prestação de serviços em bares,
restaurantes e estabelecimentos similares constitui fato gerador do ICMS a incidir
sobre o valor total da operação.

Já o serviço de composição gráfica está expressamente previsto na lista anexa à LC


116/2003 (item 13.05), de forma que a tributação deve ser feita pelo ISS.

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Súmula 156 do STJ


A prestação de serviço de composição gráfica, personalizada e sob encomenda,
ainda que envolva fornecimento de mercadorias, está sujeita, apenas, ao ISS.

Note-se, assim, a feitura de rótulos, fitas, etiquetas adesivas e de identificação de


produtos e mercadorias sob encomenda e personalizadamente, é atividade de empresa
gráfica sujeita ao ISS, o que não se desfigura por utilizá-los o cliente e encomendante
na embalagem de produtos por ele fabricados e vendidos a terceiros.

➢ Atenção! Por fim, ressalte-se que ainda existe uma terceira situação, qual seja o caso
em que a lei complementar prevê o serviço como sujeito ao ISS, mas ressalva que as
mercadorias fornecidas devem ser tributadas pelo ICMS. Nesse caso, serão emitidas
duas notas fiscais: uma com o valor do serviço (com o destaque do ISS); e outra com
o valor da mercadoria (com o destaque do ICMS).

Ex.: serviço de recondicionamento de motores (item 14.03 da lista anexa à LC


nº 116/2003), sujeito ao ISS, mas com expressa ressalva legal de que peças
fornecidas em conjunto ficam com o serviço ficam sujeitas ao ICMS.

13.7.3. ICMS na importação

Segundo o disposto no art. 155, §2º, inciso IX, alínea a, da CF, o ICMS incidirá sobre a
entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica,
ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua
finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao
Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da
mercadoria, bem ou serviço.

Súmula Vinculante 48 do STF


Na entrada de mercadoria importada do exterior, é legítima a cobrança do ICMS por
ocasião do desembaraço aduaneiro.

➢ Fique Atento! Pouco importa se o desembaraço aduaneiro ocorreu em repartição


fiscal localizada em ente federativo diverso daquele onde localizado o destinatário
do bem. O ICMS será sempre devido ao Estado onde estiver situado o domicílio
ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria, bem ou serviço.

Ex.: Se a mercadoria foi importada por empresa mineira (destinatária), o fato


de o trâmite aduaneiro (chegada da mercadoria no Brasil e seu consequente
desembaraço) ter ocorrido no porto de Santos não autoriza a cobrança de ICMS-
importação pelo estado de SP. O imposto será devido ao Estado de MG.

13.7.4. Habitualidade ou volume que caracterize intuito comercial

O fato gerador do ICMS só se caracteriza quando houver habitualidade de venda ou


volume que caracterize intuito comercial. Assim, quando alguém vende um teclado
porque desistiu de tocar o instrumento ou porque adquiriu um outro mais moderno,

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não haverá incidência do ICMS, uma vez que se trata de alienação comum, caracterizada
pela ausência de habitualidade ou de volume que demonstre interesse comercial na
operação.

Todavia, se essa mesma pessoa passa a vender teclados regularmente, restará


configurado o interesse comercial nas operações realizadas, prontamente detectado
pela habitualidade com a qual ela realiza as alienações. Também será possível
perceber a finalidade comercial da operação se a pessoa, num determinado dia,
anunciar dezenas de teclados para venda. Nesta situação, mesmo a oferta sendo
realizada num único dia (não habitual, portanto), acaba por ocorrer num volume que
evidencia a presença do intuito comercial.

De outro lado, se determinada empresa que comercializa gêneros alimentícios, visando


a atualizar-se tecnologicamente, resolver adquirir novos computadores e alienar os
antigos, não haverá incidência do ICMS sobre essa venda esporádica, pois não se trata
da atividade-fim da entidade (não há habitualidade específica). A empresa se
equiparará, neste caso, a um alienante comum. Nessa linha é a jurisprudência do STF.

Por essa razão (ausência de habitualidade específica), foi editada a SV abaixo.

Súmula Vinculante 32 do STF


O ICMS não incide sobre alienação de salvados de sinistro pelas seguradoras.

13.8. Sujeito Passivo

A definição do sujeito passivo do ICMS encontra-se no art. 4º da LC nº 87/1996, que


estabelece que “contribuinte é qualquer pessoa, física ou jurídica, que realize, com
habitualidade ou em volume que caracterize intuito comercial, operações de
circulação de mercadoria ou prestações de serviços de transporte interestadual
e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se
iniciem no exterior”.

Já o parágrafo único do mesmo dispositivo, estabelece que é também contribuinte a


pessoa física ou jurídica que, mesmo sem habitualidade ou intuito comercial:

I. importe mercadorias ou bens do exterior, qualquer que seja a sua finalidade;


II. seja destinatária de serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha
iniciado no exterior;
III. adquira em licitação mercadorias ou bens apreendidos ou abandonados;
IV. adquira lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos derivados de petróleo e
energia elétrica oriundos de outro Estado, quando não destinados à
comercialização ou à industrialização.

13.9. Base de Cálculo

A base de cálculo do ICMS compreende o próprio montante do tributo. A regra é


válida para todos os casos, inclusive em se tratando de importações (CF, art. 155, § 2º,

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XII, alínea i). Dessa forma, a alíquota efetiva do ICMS acaba por ser maior que a nominal,
uma vez que o tributo incide sobre seu próprio valor.

A título de exemplo, se uma mercadoria foi vendida ao valor de RS 1.000,00, com uma
alíquota de ICMS de 20%, o valor do tributo é de R$ 200,00, já embutidos no preço
(imposto "por dentro”). Por conseguinte, é correto afirmar que o ICMS incidiu sobre a
soma do valor pertencente ao comerciante (R$ 800,00) com o montante do próprio
tributo (R$ 200,00).

Repare-se que, se o tributo fosse calculado exclusivamente sobre o custo, seria de


apenas R$ 160,00 (20% x R$ 800,00). Assim, a alíquota nominal de 20% corresponde a
um percentual efetivo de 25% (25% x R$ 800,00 = R$ 200,00).

13.10. Alíquotas

Regras específicas de alíquota estão previstas na CF, especificamente no Art. 155, §2º,
incisos IV a VII. Vejamos:

IV - Resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da


República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta
de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e
prestações, interestaduais e de exportação;

V - é facultado ao Senado Federal:


a) estabelecer alíquotas mínimas nas operações internas, mediante
resolução de iniciativa de um terço e aprovada pela maioria
absoluta de seus membros;
b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver
conflito específico que envolva interesse de Estados, mediante
resolução de iniciativa da maioria absoluta e aprovada por dois
terços de seus membros;

VI - salvo deliberação em contrário dos Estados e do Distrito Federal, nos


termos do disposto no inciso XII, "g", as alíquotas internas, nas operações
relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, não
poderão ser inferiores às previstas para as operações interestaduais;

VII - nas operações e prestações que destinem bens e serviços a


consumidor final, contribuinte ou não do imposto, localizado em outro
Estado, adotar-se-á a alíquota interestadual e caberá ao Estado de
localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a
alíquota interna do Estado destinatário e a alíquota interestadual.

13.11. Lançamento

O imposto é lançado por homologação, já que são atribuições do contribuinte realizar


o cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia apurada
antecipadamente. Posteriormente, caberá ao fisco estadual homologar o pagamento
realizado pelo contribuinte, ou, se for o caso, realizar lançamento complementar de

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ofício quando constatar, por exemplo, que o sujeito passivo não antecipou o valor
correto do tributo devido. Neste caso, deve-se respeitar sempre o prazo decadencial.

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14. Imposto sobre a propriedade de veículo automotor (IPVA)

14.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: Estados e Distrito Federal


➢ Previsão constitucional: Art. 155, inciso III, da CF/88

Constituição Federal
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos
sobre:
III - propriedade de veículos automotores.

➢ Previsão no CTN: Não tem (ele foi criado muito depois do CTN)
➢ Normas de regência: Lei de normas gerais (nacional) → não tem, já que este
imposto foi inserido na competência dos Estados e do
Distrito Federal com a edição da EC nº 27/85, quando ainda
não se exigia a edição de LC nacional para tratar de normas
gerais em matéria tributária. Atualmente, a edição, pelos
Estados, de legislação própria sobre o IPVA tem respaldo
legal no artigo 24, §3º da CF que diz que “inexistindo lei
federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender as suas
peculiaridades”. E ainda está amparada pelo art. 34, §3º dos
ADCT, do qual se extrai que “promulgada a Constituição, a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
editar as leis necessárias à aplicação do sistema tributário
nacional nela previsto”.
Lei paulista → Lei nº 13.296/2008
Regulamento do IPVA (RIPVA) → Decretos esparsos
➢ Classificação: fiscal (há, contudo, certo feitio extrafiscal no IPVA paulista,
consubstanciado no fato de haver alíquotas menores para veículos utilitários e de
transporte coletivo).
➢ Função principal: arrecadatória.

14.2. Princípios constitucionais

Com relação aos princípios constitucionais tributários, necessário atentar para o fato
de que o IPVA respeita os princípios da legalidade e da anterioridade do exercício, mas
é exceção ao princípio da anterioridade nonagesimal, apenas quando a
majoração se der pela base de cálculo do imposto.

Assim, a majoração do IPVA pela base de cálculo ocorrida no mês de dezembro, por
exemplo, já opera efeitos no exercício financeiro seguinte, mesmo sem observar o
interregno mínimo de 90 dias.

➢ Atenção! Se a majoração, contudo, se der pela alíquota (e não pela base de cálculo),
então deverão ser observados todos os princípios constitucionais, inclusive o da
anterioridade nonagesimal.

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14.3. Fato gerador

Critério material

O fato gerador não poderia ser diferente: é a propriedade de veículo automotor.

➢ Fique atento! Embarcações e aeronaves, embora sejam veículos automotores


(movidos por força de seu próprio motor) não estão sujeitos ao IPVA. Isto porque,
segundo a interpretação do STF, este imposto, na qualidade de sucessor da TRU
(Taxa Rodoviária Única), incorporou a alma do antigo tributo, de modo que só atinge
veículos que trafegam por rodovias.

Critério temporal

No caso específico da lei paulista, o art. 3º da Lei nº 13.296/2008, estabelece que:

Artigo 3º - Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto:


I - no dia 1º de janeiro de cada ano, em se tratando de veículo usado;
II - na data de sua primeira aquisição pelo consumidor, em se tratando de
veículo novo;
III - na data de seu desembaraço aduaneiro, em se tratando de veículo
importado diretamente do exterior pelo consumidor;
IV - na data da incorporação do veículo novo ao ativo permanente do
fabricante, do revendedor ou do importador;
V - na data em que deixar de ser preenchido requisito que tiver dado
causa à imunidade, isenção ou dispensa de pagamento;
VI - na data da arrematação, em se tratando de veículo novo adquirido em
leilão;
VII - na data em que estiver autorizada sua utilização, em se tratando de
veículo não fabricado em série;
VIII - na data de saída constante da Nota Fiscal de venda da carroceria,
quando já acoplada ao chassi do veículo objeto de encarroçamento;
IX - na data em que o proprietário ou o responsável pelo pagamento do
imposto deveria ter fornecido os dados necessários à inscrição no
Cadastro de Contribuintes do IPVA deste Estado, em se tratando de
veículo procedente de outro Estado ou do Distrito Federal;
X - relativamente a veículo de propriedade de empresa locadora:
a) no dia 1º de janeiro de cada ano, em se tratando de veículo usado já
inscrito no Cadastro de Contribuintes do IPVA deste Estado;
b) na data em que vier a ser locado ou colocado à disposição para locação
no território deste Estado, em se tratando de veículo usado registrado
anteriormente em outro Estado;
c) na data de sua aquisição para integrar a frota destinada à locação neste
Estado, em se tratando de veículo novo.
Parágrafo único - O disposto no inciso X deste artigo aplica-se às
empresas locadoras de veículos qualquer que seja o seu domicílio, sem
prejuízo da aplicação das disposições dos incisos II a IX, no que couber.

14.4. Sujeito passivo

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O sujeito passivo deve ser o proprietário do veículo automotor, única pessoa que
possui relação pessoal e direta com a situação que constitui o fato gerador
(propriedade do veículo).

No caso do nosso Estado de SP, isso está previsto no art. 5º da Lei nº 13.296/2008.

➢ Atenção! No caso de pessoa jurídica considera-se contribuinte cada um dos seus


estabelecimentos. Assim, matriz e filiais, por exemplo, são pessoas jurídicas
distintas para fins tributários, de modo que cada qual será considerada contribuinte
autônoma em relação aos veículos que estiverem registrado em seu CNPJ.

Apesar disso, quando o assunto for o fornecimento de garantia para


cumprimento de obrigações, todos os estabelecimentos (matriz e filiais) são
considerados como contribuinte único.

14.5. Base de cálculo

A base de cálculo do imposto necessariamente deve quantificar o fato gerador, podendo


ser definida como o valor venal do veículo. Não custa repetir que suas alterações não
estão sujeitas ao princípio da noventena, consoante dispõe o art. 150, §1º, da CF/1988.

No caso do nosso Estado de SP, a base de cálculo está prevista no art. 7º da Lei nº
13.296/2008.

14.6. Alíquotas

A partir da EC nº 24/2003, a CF passou a prever, no art. 155, §6º, que o IPVA terá
alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal e poderá ter alíquotas
diferenciadas em função do tipo e utilização do veículo.

Quanto às alíquotas mínimas fixadas pelo Senado, o objetivo do texto constitucional é


evitar a guerra fiscal (ou minorar-lhe os efeitos).

O problema se verificava quando alguns Estados diminuíam exageradamente as


alíquotas do imposto, para atrair proprietários de veículos domiciliados em outros
Estados. A diminuição da alíquota era compensada pelo aumento do número de
veículos licenciados, em detrimento dos demais Estados, para os quais a única
alternativa viável era entrar na guerra e diminuir suas próprias alíquotas.

Quanto às alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização do veículo, o fato


é que, concedendo certo feitio extrafiscal ao imposto, o legislador constituinte derivado
permitiu a variação de alíquotas quanto ao tipo (para veículos utilitários, ou de
passeio, por exemplo) e quanto à utilização do bem, possibilitando a incidência de
alíquotas menores para veículos de aluguel (táxi) e de transporte escolar, por exemplo,
e maiores para veículos particulares.

➢ Fique atento! Apesar das autorizações constitucionais para fixação de


alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização do veículo, é

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inconstitucional falar-se em diferenciação de alíquotas para veículos


nacionais e importados, o que agrediria o princípio da não discriminação
com base na procedência ou destino, previsto no art. 152 da CF/1988, bem
como a cláusula do tratamento nacional do GATT, que prevê a equivalência
de tratamento entre o produto importado e o produto similar nacional.

14.7. Lançamento

O imposto é lançado de ofício, já que todo o procedimento é praticado pelo fisco, que
detém previamente as informações de que precisa ou as adquire por meio de
fiscalização. Logo, por não contar com a participação do sujeito passivo no iter
procedimental do lançamento, inequívoco tratar-se de imposto sujeito a lançamento de
ofício.

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Impostos Municipais

15. Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU)

15.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: Municípios (e DF por competência cumulativa)


➢ Previsão constitucional: Art. 156, inciso I, da CF/88

Constituição Federal
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
I - propriedade predial e territorial urbana;

➢ Previsão no CTN: Arts. 32 a 34


➢ Classificação: fiscal (com certo feitio extrafiscal, consubstanciado no fato de ser
possível ao Município criar alíquota progressiva no tempo como forma de
implementar a função social da propriedade).
➢ Função principal: arrecadatória.

15.2. Princípios constitucionais

Com relação aos princípios constitucionais tributários, necessário atentar para o fato
de que o IPTU respeita os princípios da legalidade e da anterioridade do exercício, mas
é exceção ao princípio da anterioridade nonagesimal, apenas quando a
majoração se der pela base de cálculo do imposto.

Assim, a majoração do IPTU pela base de cálculo ocorrida no mês de dezembro, por
exemplo, já opera efeitos no exercício financeiro seguinte, mesmo sem observar o
interregno mínimo de 90 dias.

➢ Atenção! Se a majoração, contudo, se der pela alíquota (e não pela base de cálculo),
então deverão ser observados todos os princípios constitucionais, inclusive o da
anterioridade nonagesimal.

➢ Fique atento! A base de cálculo do IPTU pode ser atualizada monetariamente por
decreto do prefeito. Isso porque correção monetária não implica em majoração
efetiva da base de cálculo, mas tão somente em recomposição do poder de compra
do dinheiro, que foi enfraquecido em razão das perdas inflacionárias.

Súmula 160 do STJ


É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual
superior ao índice oficial de correção monetária.

15.3. Fato gerador

Estatui o art. 32 do CTN que o IPTU tem como fato gerador a propriedade, o domínio
útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física localizado na zona
urbana do Município. Vamos desmembrar o estudo:

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Propriedade, domínio útil ou posse

Proprietário: é quem possui título de domínio devidamente registrado no Cartório de


Registro de Imóveis.

Titular do domínio útil: é quem recebeu do proprietário o direito de usar, gozar e


dispor da propriedade, conservando o domínio direto.

Ex.: aquele que comprou, por meio de instrumento particular, a


propriedade de outrem, mas que, por ainda não ter terminado de pagar
pela compra, não obteve, junto ao vendedor, a outorga da escritura
pública definitiva de venda e compra. Neste caso, o comprador já tem o
domínio útil do bem, mas ainda não é seu proprietário tabular.

Vale destacar que, nesse caso do exemplo, mesmo que o promitente-


comprador tenha adquirido o imóvel de uma autarquia (que obviamente
não pagava IPTU por força da imunidade recíproca), estará ele sujeito
ao pagamento do imposto a partir da celebração do negócio, seja por
força da súmula 583 do STF, seja pelo que consta do §3º do art. 150 da
CF:

Súmula 583 do STF


Promitente-comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é
contribuinte do imposto predial territorial urbano.

CF – Art. 150, §3º


As vedações do inciso VI, “a” [imunidade recíproca], e do parágrafo anterior não se
aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de
atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos
privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo
usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto
relativamente ao bem imóvel.

Possuidor: quem obteve a posse plena do imóvel urbano por meio de ocupação,
autorizada ou não pelo Poder Público ou pelo proprietário do bem, e desde que sem
subordinação (posse com animus domini).

Ex.: o usucapiente, já que ele exerce a posse com animus domini.

É irrelevante apurar se a posse é justa (legítima) ou injusta (ilegítima).


Sobre ambas haverá incidência de IPTU, desde que a posse seja exercida
com animus domini. A posse será justa se não for violenta, clandestina ou
precária. E será injusta se for:

a) Violenta: adquirida pela força física ou coação moral;


b) Clandestina: estabelecida às ocultas daquele que tem interesse em
tomar conhecimento;

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c) Precária: aquela que decorre do abuso de confiança por parte de


quem recebe a coisa, a título provisório, com o dever de restituí-la.

➢ Fique atento! Aquele que tem a posse do imóvel por força de contrato de locação
ou de comodato não a tem com ares de definitividade, razão pela qual o STJ entende
que, nesses casos, ele não poderá ser considerado contribuinte do imposto.

Imóvel por natureza ou por acessão física

➢ Atenção! São bens imóveis por natureza (acessão natural) o solo com a sua
superfície, os seus acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e
frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo.

De outro lado, são bens imóveis por acessão física tudo quanto o homem
incorporar permanentemente ao solo de modo que não se possa retirar sem
destruição, modificação, fratura ou dano (Ex.: semente lançada à terra, os edifícios e
construções).

O IPTU incide sobre os dois grupos de imóveis (por natureza e por acessão física), de
forma que, se o particular construir benfeitorias, ampliando a área construída do
imóvel, haverá agravamento do imposto incidente (diferente do que ocorre com o ITR).

Zona urbana do município

O §1º do art. 32 do CTN estabelece que zona urbana é aquela que observa o requisito
mínimo da existência de melhoramentos (construídos ou mantidos pelo Poder
Público) indicados em pelo menos dois dos seus cinco incisos:

I. meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;


II. abastecimento de água;
III. sistema de esgotos sanitários;
IV. rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição
domiciliar;
V. escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três)
quilômetros do imóvel considerado.

➢ Fique atento! Apesar da definição de zona urbana constante do CTN, que levaria a
crer que qualquer imóvel não contemplado com ao menos 2 dos melhoramentos
descritos acima estaria sujeito ao ITR, a questão não é assim tão simples.

Ocorre que os tribunais superiores (STJ e STF) entendem que, apesar da definição
de zona urbana existente no CTN, o critério da destinação do imóvel acaba
preponderando para fins de incidência de ITR.

O chamado critério da destinação do imóvel está previsto no art. 15 do Decreto-lei


57/66 (ainda em vigor), segundo o qual o imóvel destinado a exploração
extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial se sujeita ao ITR,
mesmo que situado na área urbana do Município.

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Mister atentar, contudo, para o fato de que a recíproca não é verdadeira. Ou seja:
caso o imóvel se encontre em área rural, o Município não pode cobrar IPTU, mesmo
que a destinação do bem seja meramente residencial.

Critério temporal da hipótese de incidência

O nascimento da obrigação jurídica de pagar o IPTU ocorre no dia 1º de janeiro de


cada ano. O sujeito passivo, contribuinte do referido imposto, é o detentor da
propriedade neste exato dia.

15.4. Sujeito passivo

Segundo o art. 34 do CTN, contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o


titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título.

15.5. Base de Cálculo

Conforme dispõe o art. 33 do CTN, a base do cálculo do imposto é o valor venal do


imóvel.

Já o parágrafo único do mesmo dispositivo estabelece que, na determinação da base de


cálculo, não se considera o valor dos bens móveis mantidos, em caráter permanente ou
temporário, no imóvel, para efeito de sua utilização, exploração, aformoseamento ou
comodidade.

Nem poderia ser diferente, já que o fato gerador incide apenas sobre os imóveis por
acessão física ou natural. Logo, bens móveis estão excluídos da base de cálculo.

15.6. Alíquota

Progressividade fiscal da alíquota (em razão do valor)

A progressividade fiscal de alíquotas do IPTU está prevista no art. 156, §1º, inciso I, da
CF, dispositivo este que autoriza a progressão de alíquota em razão do valor do
imóvel.
Trata-se de aumento gradativo das alíquotas incidentes sobre os imóveis mais valiosos
(presumivelmente pertencentes a pessoas de maior capacidade contributiva), com o
claro intuito de incrementar a arrecadação, retirando mais de quem mais pode pagar.

Tal modalidade de progressão somente é legítima a partir do advento da EC nº


29/2000. Sobre o assunto:

Súmula 668 do STF


É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda
Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a
assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.
.

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Evidentemente, a progressividade fiscal de alíquotas de IPTU deve se ater aos limites


do razoável, sob pena de incidir em efeito confiscatório, vedado pelo art. 150, IV, da
CF/1988 (princípio da vedação ao confisco).

➢ Fique atento! Apesar de a doutrina já antever a possível revogação da súmula 589


do STF, esta ainda é considerada válida, de modo que, pelo menos por enquanto, não
se pode instituir alíquota progressiva de IPTU em razão da quantidade de imóveis
que um mesmo contribuinte possui. Confira-se:

Súmula 589 do STF


É inconstitucional a fixação de adicional progressivo do Imposto Predial e
Territorial Urbano em função do número de imóveis do contribuinte.

Progressividade extrafiscal da alíquota (em razão do tempo)

O art. 182, §4º, da CF faculta ao Poder Público municipal, mediante lei, exigir do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova
seu adequado aproveitamento.

Assim, no caso de o particular não atender à exigência do Poder Público, o próprio


dispositivo prevê um conjunto de providências sucessivas. A segunda delas, logo após
o parcelamento ou edificação compulsórios, é a adoção de IPTU progressivo no
tempo.

➢ Fique atento! Regulamentado pelo art. 7º do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01),


o IPTU progressivo no tempo pode se estender pelo prazo de cinco anos
consecutivos, mas, a cada ano, a alíquota não poderá exceder ao dobro do valor
referente ao ano anterior, respeitada, no fim, a alíquota máxima de 15%.

Tem objetivo extrafiscal, pois o escopo da regra é estimular o cumprimento da


função social da propriedade por meio de um agravamento da carga tributária
suportada pelo proprietário do solo urbano que não promove seu adequado
aproveitamento.

➢ Atenção! A arrecadação advinda de tal situação é mero efeito colateral do tributo.


Logo, o respeito ao princípio da vedação ao confisco (art. 150, IV, da CF/88)
comporta, aqui, certo tempero. Não se pode considerar confiscatório, portanto,
esse aumento de alíquota.

➢ Fique atento! O parâmetro para a progressividade extrafiscal não é o valor do


imóvel, mas, sim, o passar do tempo sem o adequado aproveitamento do solo
urbano. Logo, enquanto na progressividade fiscal, as alíquotas são majoradas com
base no aumento de valor do imóvel, na progressividade extrafiscal, quanto mais
tempo mantida a situação agressiva à finalidade social da propriedade, maior será
a alíquota aplicável no lançamento do IPTU.

➢ Importante! Para garantir que o objetivo constitucional não seja prejudicado pela
concessão de benefícios fiscais, o art. 7º, §3º, do Estatuto da Cidade (Lei nº

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10.257/01), veda a concessão de isenções e anistias relativas à tributação


progressiva extrafiscal.

Alíquotas diferentes em razão da localização e do uso do imóvel

O art. 156, §1º, inciso II, da CF, ainda prevê a possibilidade de haver diferenciação de
alíquota de IPTU de acordo com a localização e o uso do imóvel.

➢ Atenção! Trata-se de diferenciação (e não de progressão) de alíquota. A norma


autoriza a criação de alíquotas diferentes de IPTU conforme variar a localização ou
o uso do imóvel.

Logo, o Município pode fixar diferentes alíquotas para imóveis localizados em


bairros considerados de classe alta, média e baixa (variação de acordo com a
localização do bem), ou ainda para imóveis utilizados com fins comerciais,
industriais ou residenciais (variação de acordo com o uso do imóvel).

15.7. Lançamento

O imposto é lançado de ofício, já que todo o procedimento é praticado pelo fisco, que
detém previamente as informações de que precisa ou as adquire por meio de
fiscalização. Logo, por não haver participação do sujeito passivo no iter procedimental
do lançamento, inequívoco tratar-se de imposto sujeito a lançamento de ofício.

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16. Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI)

16.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: Municípios (e DF por competência cumulativa)


➢ Previsão constitucional: Art. 156, inciso II, da CF/88

Constituição Federal
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
II - transmissão intervivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens
imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;

➢ Previsão no CTN: Arts. 35 a 42 (com ressalva)


O CTN trata de um único imposto de transmissão. Todavia, esse
imposto foi desmembrado na CF/88, surgindo o ITCMD e o ITBI.
Se a transmissão é causa mortis, incide o ITCMD; se é intervivos,
deve-se verificar se ocorreu por ato oneroso ou a título gratuito
(doação). No primeiro caso, incide o ITBI; no segundo, o ITCMD.
➢ Classificação: fiscal.
➢ Função principal: arrecadatória.

16.2. Princípios Constitucionais

O ITBI respeita todos os princípios constitucionais, não havendo nenhuma hipótese de


exceção.

16.3. Imunidades

A Constituição Federal previu imunidade de ITBI. Vejam:

Constituição Federal
Art. 156, §2º, inciso I - O ITBI não incide sobre a transmissão de bens ou direitos
incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre
a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou
extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do
adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis
ou arrendamento mercantil;

➢ Fique atento! A imunidade de ITBI também é aplicável nos casos em que, extinta a
sociedade, ocorrer a entrega de imóvel a um sócio, como parcela que lhe cabe
do capital social. Em resumo: a imunidade vale para quando o imóvel “entra” ou
“sai” da sociedade.

➢ Atenção! A imunidade em relação ITBI, prevista no inciso I do § 2º do art. 156 da


Constituição Federal, não alcança o valor dos bens que exceder o limite do
capital social a ser integralizado (Matéria julgada pelo STF com Repercussão
Geral em agosto de 2020).

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➢ Importante! O §1º do art. 37 do CTN define o que se considera “atividade


preponderante” para fins de aplicação ou não da imunidade. E, segundo esse
dispositivo, considera-se caracterizada a atividade preponderante quando mais de
50% (cinquenta por cento) da receita operacional da pessoa jurídica
adquirente, nos 2 (dois) anos anteriores e nos 2 (dois) anos subsequentes à
aquisição, decorrer de transações de venda ou locação de propriedade
imobiliária ou de cessão de direitos relativos à sua aquisição.

Mas, se a pessoa jurídica adquirente iniciar suas atividades após a aquisição, ou


menos de 2 (dois) anos antes dela, apura-se a referida preponderância levando em
conta os 3 (três) primeiros anos seguintes à data da aquisição.

O §3º do art. 37 do CTN estatui que “verificada a preponderância referida neste


artigo, tornar-se-á devido o imposto, nos termos da lei vigente à data da aquisição,
sobre o valor do bem ou direito nessa data”.

Por fim, o §4º do art. 37 do CTN determina que “o disposto neste artigo não se aplica
à transmissão de bens ou direitos, quando realizada em conjunto com a da totalidade
do patrimônio da pessoa jurídica alienante”.

16.4. Fato Gerador

Critério material

Podendo ser extraído do próprio art. 156, inciso II, da CF, o critério material do fato
gerador do ITBI é a transmissão intervivos, a qualquer título, por ato oneroso, de
bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição.

Estudemos cada parte deste conceito:

Transmissão intervivos → somente está sujeita à incidência do ITBI a


transmissão entre pessoas vivas (transmissão causa mortis está sujeita ao ITCMD).
Contudo, por ficção jurídica, considera-se a pessoa jurídica uma pessoa viva para
fins de incidência do ITBI, isso, é claro, quando a transmissão não for imune.

Ato oneroso → é alienação não gratuita, podendo ser, por exemplo, uma operação
de venda e compra, com pagamento em dinheiro, ou mesmo uma permuta, com
pagamento do imóvel adquirido sendo feito com outro imóvel, por exemplo. Nesta
hipótese, aliás, há dupla incidência do ITBI, já que cada um dos envolvidos na
operação está adquirindo um imóvel.

Bem imóvel por natureza (acessão natural) → é o solo com a sua superfície, os
seus acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e frutos
pendentes, o espaço aéreo e o subsolo.

Bem imóvel por acessão física → é tudo quanto o homem incorporar


permanentemente ao solo de modo que não se possa retirar sem destruição,

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modificação, fratura ou dano (Ex.: semente lançada à terra, os edifícios e


construções).

Direitos reais sobre imóveis → são aqueles elencados no art. 1.225 do Código
Civil. São eles:

a) a propriedade;
b) a superfície;
c) as servidões;
d) o usufruto;
e) o uso;
f) a habitação;
g) o direito do promitente comprador do imóvel;
h) o penhor;
i) a hipoteca;
j) a anticrese;
k) a concessão de uso especial para fins de moradia;
l) a concessão de direito real de uso; e
m) a laje.

➢ Atenção! Como o próprio art. 156, inciso II, da CF deixa claro, o ITBI não incide
sobre as transmissões de direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e
anticrese). Assim, dos 13 direitos reais elencados acima, a transmissão de apenas 10
deles está sujeita à incidência de ITBI.

Critério temporal

No direito brasileiro, a transmissão da propriedade imobiliária ocorre mediante o


registro do título translativo no Registro de Imóveis, de forma que, antes do registro, o
alienante continua na condição de dono do imóvel (CC, art. 1.245 e seu parágrafo
único).

Apesar de a legislação da maioria dos municípios brasileiros exigir o pagamento do


tributo no momento da lavratura da escritura no cartório de notas - antes, portanto,
do seu registro no Cartório de Registro de Imóveis -, é firme a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça no sentido da impossibilidade da cobrança do tributo
antes da efetiva transmissão da propriedade, que, como visto, só ocorre com o
registro do título translativo no CRI.

Usucapião e Desapropriação: Hipóteses de não incidência

➢ Fique atento! O ITBI não incide sobre transmissões originárias de propriedade,


como a usucapião e a desapropriação, por exemplo.

16.5. Sujeito Ativo

O imposto compete sempre ao município da situação do bem. Em outras palavras,


independentemente de onde for o domicílio do alienante ou o do adquirente do bem

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imóvel ou do direito real a ele relativo, o ITBI será devido invariavelmente ao


município onde estiver localizado o imóvel (art. 156, §2º, inciso II, da CF).

16.6. Sujeito Passivo

Concedendo autonomia legislativa aos municípios, o art. 42 do CTN estabelece que o


contribuinte do ITBI é qualquer das partes na operação tributada, como dispuser
a lei.

Não obstante a autonomia, a regra, na prática, tem sido que as leis municipais definam
como contribuinte o adquirente do bem ou direito.

16.7. Base de Cálculo

O art. 38 do CTN dispõe que a base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou
direitos transmitidos. Valor venal é o valor de mercado do bem imóvel por natureza
ou acessão física.

Apesar de a definição legal estabelecer a mesma base de cálculo para o IPTU e para o
ITBI - o valor venal do imóvel -, a jurisprudência admite que na prática os valores sejam
distintos. Isso porque, enquanto o cálculo do IPTU considera uma planta genérica de
valores, o ITBI é calculado a partir da transação efetivamente realizada (valor venal
real do bem), que, por óbvio, apresenta uma avaliação de mercado mais precisa.

Na prática, adota-se como base de cálculo do ITBI sempre o maior valor entre o valor
venal e o valor venal real.

16.8. Alíquotas

Nem a Constituição nem o CTN dispõem sobre a alíquota do ITBI. Compete, por
conseguinte, ao Município ou ao Distrito Federal estabelecer a alíquota do imposto
através de lei.

As alíquotas de ITBI costumam variar entre 2 e 3% do valor da transmissão. Porém,


necessário lembrar que cada município tem autonomia para estabelecer sua alíquota
por meio de lei própria. Santos, por exemplo, cobra 2%; São Vicente e São Paulo, 3%.

Alíquota progressiva

Apesar de súmula 656 do STF estabelecer que é inconstitucional a lei que estabelece
alíquotas progressivas para o ITBI com base no valor venal do imóvel, há sólido
entendimento doutrinário de que esta súmula será revogada no futuro.

Isto porque no julgamento do Recurso Extraordinário 562.045/RS, o STF promoveu


uma importante evolução no seu entendimento, passando a considerar constitucional
a progressividade das alíquotas do ITCMD do Estado do Rio Grande do Sul. No
julgado, a Suprema Corte asseverou que "essa progressividade não é incompatível com
a Constituição Federal nem fere o princípio da capacidade contributiva”.

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➢ Entendendo melhor! O posicionamento do STF sempre foi o de que a técnica da


progressividade de alíquotas somente seria aplicável aos impostos pessoais
(aqueles que levam em conta as qualidades individuais dos contribuintes para a
graduação do tributo, como o IR, por exemplo), admitindo-se, excepcionalmente, sua
aplicação aos impostos reais (aqueles que levam em consideração apenas a coisa
sobre a qual recai o tributo, sem levar em conta as condições particulares dos
contribuintes), quando a medida fosse voltada ao cumprimento de uma função
extrafiscal, como a extrafiscalidade do IPTU e do ITR, por exemplo.

O que ocorreu no julgamento do Recurso Extraordinário 562.045/RS, mencionado


acima, foi uma guinada de jurisprudência, por meio da qual o STF passou a
considerar a técnica da progressividade de alíquotas aplicável, sem reservas, a um
imposto real (ITCMD). Por isso, a doutrina entende que a mesma coisa acontecerá
com o ITBI.

Assim, a súmula 656 do STF ainda vale por enquanto. Mas é necessário saber que,
em breve, a interpretação deve mudar.

16.9. Lançamento

O imposto é lançado por declaração. Isto porque o cálculo do imposto compete à


autoridade administrativa, que constitui o crédito tributário com base em informação
prestada pelo contribuinte (valor da transmissão).

Na prática, o cálculo do imposto é feito, na maioria dos municípios, dentro do site da


Prefeitura, mediante o preenchimento das informações atinentes à transmissão. A guia
de pagamento é gerada no próprio site. Todavia, nos municípios menores e que ainda
não contam com essa tecnologia, é necessário se dirigir pessoalmente até a prefeitura
para gerar a guia de pagamento do imposto.

Nada impede, evidentemente, o lançamento de ofício quando, ocorrido o fato gerador,


este for total ou parcialmente omitido da autoridade administrativa, mas desde que
respeitado, é claro, o respectivo prazo decadencial.

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17. Imposto sobre Serviços (ISS)

17.1. Caraterísticas gerais

➢ Titular da competência: Municípios (e DF por competência cumulativa)


➢ Previsão constitucional: Art. 156, inciso III, da CF/88

Constituição Federal
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
III – serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II,
definidos em lei complementar;

➢ Previsão no CTN: Não tem (artigos revogados)


➢ Norma de regência: Lei Complementar nº 116/2003
Decreto-Lei nº 406/1968
➢ Classificação: fiscal
➢ Função principal: arrecadatória

17.2. Princípios constitucionais

O ISS respeita todos os princípios constitucionais, exceto o que proíbe a União de


conceder isenção de tributo que não seja de sua competência (isenção heterônoma).

17.3. Isenção heterônoma nas exportações e concessão de incentivos fiscais

Estabelece o art. 156, §3º, inciso II, da CF, que compete à lei complementar excluir a
incidência do ISS sobre as exportações de serviços para o exterior, o que foi
disciplinado pelo art. 2º, inciso I, da LC nº 116/03.

Além disso, o inciso III do mesmo §3º, estabelece ser incumbência da lei complementar
(nacional) regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios
fiscais serão concedidos e revogados (o que foi feito no art. 8º-A da LC nº 116/03).
A regra tem o objetivo de restringir a autonomia municipal no exercício da competência
relativa ao tributo, dificultando a deflagração de guerra fiscal.

➢ Atenção! Apenas a título de exemplo, a norma impede, na prática, que o município


estabeleça a alíquota do ISS em 2% (cumprindo formalmente a alíquota mínima),
mas conceda, de outro lado, uma redução de base de cálculo de 50%, caso em que
alíquota efetiva das operações seria de 1%.

➢ Fique atento! Se, a despeito da proibição legal, o Município ou Distrito Federal não
respeitar a alíquota mínima, a lei ou ato normativo que autorizou a benesse será
considerada nula, surgindo, para o prestador, o direito de restituição do valor
efetivamente pago a título de ISS (§§2º e 3º do art. 8º-A da LC nº 116/03).

17.4. Fato gerador

A redação do art. 156, inciso III, da CF, é clara ao estabelecer que compete aos
municípios instituir o imposto sobre serviços de qualquer natureza, desde que estes

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serviços não estejam no campo de incidência do ICMS, o que revela que, como regra, o
ISS é residual em relação ao ICMS.

Assim, ressalvados os serviços sobre os quais incide ICMS (comunicação, transporte


interestadual e intermunicipal), qualquer outro serviço pode ser tributado pelos
Municípios, desde que haja previsão em lei complementar nacional (Lei
Complementar nº 116/2003).

A lista anexa à Lei Complementar nº 116/03

Ao definir o fato gerador do ISS, o art. 1º da LC nº 116/03 estabeleceu que o ISS tem
como fato gerador a prestação de serviços constantes da lista anexa, ainda que
esses não se constituam como atividade preponderante do prestador.

Assim, para ser tributável por ISS, o serviço precisa estar previsto na lista anexa à LC
nº 116/03.

➢ Fique atento! A referida lista anexa é composta de 40 itens, cada qual com um ou
mais subitens.

Em junho de 2020, no julgamento do RE 784439, com Repercussão Geral


reconhecida, sob a relatoria da Min. Rosa Weber, restou fixada a tese de que “é
taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da
Constituição Federal, admitindo-se, contudo, a incidência do tributo sobre as
atividades inerentes aos serviços elencados em lei em razão da interpretação
extensiva”.

Prestação de serviço

O Supremo Tribunal Federal sempre entendeu, historicamente, que só havia


prestação de serviço quando a obrigação do contratado (tomador) fosse de fazer
(como a do barbeiro ou do advogado, por exemplo). Com base nesse raciocínio,
inclusive, foi editada a súmula vinculante nº 31.

Súmula Vinculante 31 do STF


É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza –
ISS sobre operações de locação de bens móveis.

Afinal, já que na locação de bens o locador não tem obrigação de fazer (mas sim de dar
ao locatário determinado bem para seu uso por certo período), não poderia haver
incidência de ISS nessas hipóteses.

Contudo, no RE 651.703/PR, julgado em setembro de 2016, com Repercussão Geral


reconhecida, o STF passou a considerar a prestação de serviço como “oferecimento de
uma utilidade para outrem, a partir de um conjunto de atividades imateriais,
prestado com habitualidade e intuito de lucro, podendo estar conjugado ou não
à entrega de bens ao tomador".

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O novo conceito permitiu a incidência do ISS sobre o serviço de administração de


planos privados de saúde, tendo sido fixada a tese de que “as operadoras de planos
de saúde realizam prestação de serviço sujeita ao Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza - ISSQN, previsto no art. 156, III, da CRFB/88” (Segundos Emb.
Decl. no RE 651.703/PR, julgado em 07/05/2019).

ISS sobre streaming (Netflix, Spotify, Deezer, etc.)

O serviço de streaming se encontra expressamente previsto na lista anexa à LC nº


116/2003. Foi incluído pela LC nº 157/2016. É o item 1.09 da lista, descrito como
serviço de “disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo,
imagem e texto por meio da internet, respeitada a imunidade de livros, jornais e
periódicos”.

➢ Atenção! Pelo conceito histórico do STF, que classificava prestação de serviço como
vinculada a uma obrigação de fazer, a atividade de streaming não poderia ensejar a
tributação por ISS, já que ela não pressupõe um fazer.

Contudo, diante do novo conceito de prestação de serviço adotado pelo STF, a


existência de uma obrigação de fazer é irrelevante para incidência do ISS,
inexistindo, portanto, óbices à incidência do tributo municipal sobre a atividade de
streaming.

ISS sobre delivery (IFood, Rappi, James Delivery, etc.)

Apesar de ainda discutida no âmbito da doutrina e da jurisprudência, parece correta a


incidência do ISS sobre serviços de delivery realizados no âmbito de um mesmo
município, ao menos nos casos em que a entrega se dá por um intermediário, como
o IFood, Rappi e James Delivery, por exemplo.

A hipótese parece se ajustar aos itens 16.02 (outros serviços de transporte de natureza
municipal) e 26.01 (serviços de coleta, remessa ou entrega de correspondências,
documentos, objetos, bens ou valores, inclusive pelos correios e suas agências
franqueadas; courrier e congêneres) da lista anexa.

➢ Atenção! Todavia, quando a entrega é efetuada pelo próprio restaurante (por


motoboy próprio, registrado) ou por sua conta e ordem (motoboy terceirizado a seu
pedido), sem a participação de um intermediário responsável pelo transporte, então
a taxa de entrega constitui elemento integrante da base de cálculo do ICMS,
nos termos da alínea “b” do inciso II, do § 1º do artigo 13 da Lei complementar
87/96, não havendo que se falar em incidência do ISS nesse caso.

17.5. Sujeito ativo

Regra geral: município do estabelecimento ou domicílio do prestador

Como regra geral, o serviço considera-se prestado, e o imposto, devido, no local do


estabelecimento ou do domicílio do prestador. Este é o comando do art. 3º da LC nº
116/03.

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Exceções

Ocorre que o próprio art. 3º da LC nº 116/03 tratou de estabelecer 26 exceções a esta


regra, determinando que o imposto será devido no local:

a) do estabelecimento do tomador ou intermediário do serviço ou, na falta de


estabelecimento, onde ele estiver domiciliado, na hipótese do § 1º do art. 1º
desta Lei Complementar;
b) da instalação dos andaimes, palcos, coberturas e outras estruturas, no caso dos
serviços descritos no subitem 3.05 da lista anexa;
c) da execução da obra, no caso dos serviços descritos no subitem 7.02 e 7.19 da
lista anexa;
d) da demolição, no caso dos serviços descritos no subitem 7.04 da lista anexa;
e) das edificações em geral, estradas, pontes, portos e congêneres, no caso dos
serviços descritos no subitem 7.05 da lista anexa;
f) da execução da varrição, coleta, remoção, incineração, tratamento, reciclagem,
separação e destinação final de lixo, rejeitos e outros resíduos quaisquer, no
caso dos serviços descritos no subitem 7.09 da lista anexa;
g) da execução da limpeza, manutenção e conservação de vias e logradouros
públicos, imóveis, chaminés, piscinas, parques, jardins e congêneres, no caso
dos serviços descritos no subitem 7.10 da lista anexa;
h) da execução da decoração e jardinagem, do corte e poda de árvores, no caso dos
serviços descritos no subitem 7.11 da lista anexa;
i) do controle e tratamento do efluente de qualquer natureza e de agentes físicos,
químicos e biológicos, no caso dos serviços descritos no subitem 7.12 da lista
anexa;
j) do florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação e congêneres, no caso
dos serviços descritos no subitem 7.16 da lista anexa;
k) do florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação, reparação de solo,
plantio, silagem, colheita, corte, descascamento de árvores, silvicultura,
exploração florestal e serviços congêneres indissociáveis da formação,
manutenção e colheita de florestas para quaisquer fins e por quaisquer meios;

l) da execução dos serviços de escoramento, contenção de encostas e congêneres,


no caso dos serviços descritos no subitem 7.17 da lista anexa;
m) da limpeza e dragagem, no caso dos serviços descritos no subitem 7.18 da lista
anexa;
n) onde o bem estiver guardado ou estacionado, no caso dos serviços descritos no
subitem 11.01 da lista anexa;
o) dos bens ou do domicílio das pessoas vigiados, segurados ou monitorados, no
caso dos serviços descritos no subitem 11.02 da lista anexa;
p) dos bens, dos semoventes ou do domicílio das pessoas vigiados, segurados ou
monitorados, no caso dos serviços descritos no subitem 11.02 da lista anexa;
q) do armazenamento, depósito, carga, descarga, arrumação e guarda do bem, no
caso dos serviços descritos no subitem 11.04 da lista anexa;
r) da execução dos serviços de diversão, lazer, entretenimento e congêneres, no
caso dos serviços descritos nos subitens do item 12, exceto o 12.13, da lista
anexa;

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s) do Município onde está sendo executado o transporte, no caso dos serviços


descritos pelo subitem 16.01 da lista anexa;
t) do Município onde está sendo executado o transporte, no caso dos serviços
descritos pelo item 16 da lista anexa; (Redação dada pela Lei Complementar nº
157, de 2016)
u) do estabelecimento do tomador da mão-de-obra ou, na falta de
estabelecimento, onde ele estiver domiciliado, no caso dos serviços descritos
pelo subitem 17.05 da lista anexa;
v) da feira, exposição, congresso ou congênere a que se referir o planejamento,
organização e administração, no caso dos serviços descritos pelo subitem 17.10
da lista anexa;
w) do porto, aeroporto, ferroporto, terminal rodoviário, ferroviário ou
metroviário, no caso dos serviços descritos pelo item 20 da lista anexa.
x) do domicílio do tomador dos serviços dos subitens 4.22, 4.23 e 5.09;
y) do domicílio do tomador do serviço no caso dos serviços prestados pelas
administradoras de cartão de crédito ou débito e demais descritos no subitem
15.01;
z) do domicílio do tomador dos serviços dos subitens 10.04 e 15.09.

17.6. Sujeito passivo e responsável

Estabelece o art. 5º da LC nº 116/03 que contribuinte é o prestador do serviço.

O art. 6º da LC nº 116/03 prevê, todavia, que os Municípios e o Distrito Federal,


mediante lei, poderão atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito
tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação,
excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter
supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação, inclusive no que se
refere à multa e aos acréscimos legais.

➢ Fique atento! Os responsáveis estão obrigados ao recolhimento integral do


imposto devido, multa e acréscimos legais, tenham ou não efetuado a retenção na
fonte. É o que prevê o art. 6º, §1º, da LC nº 116/03. Há uma lista de responsáveis no
§2º do mesmo artigo.

17.7. Base de cálculo

A base de cálculo do ISS é o preço do serviço, conforme definido pelo art. 7º da LC nº


116/2003. Não poderia ser diferente, pois a base de cálculo deve ser sempre uma
grandeza que quantifique a riqueza tributada pelo imposto.

17.8. Alíquota

O art. 156, §3º, inciso I, da CF, estabelece que cabe à lei complementar fixar alíquotas
mínima e máxima de ISS.

A mínima é de 2% (art. 8º-A, caput, da LC nº 116/03) e a máxima é de 5% (art. 8º,


inciso II, da LC nº 116/03).

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As alíquotas podem variar, dentro do mesmo município, a depender do tipo de serviço.

17.9. Lançamento

O imposto é lançado por homologação, já que são atribuições do contribuinte realizar


o cálculo do montante do imposto devido e recolher a quantia apurada
antecipadamente. Posteriormente, caberá ao fisco municipal homologar o pagamento
realizado pelo contribuinte, ou, se for o caso, realizar lançamento complementar de
ofício quando constatar, por exemplo, que o sujeito passivo não antecipou o valor
correto do tributo devido. Neste caso, deve-se respeitar sempre o prazo decadencial.

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