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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário

SEMINÁRIO II - SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO


TRIBUTÁRIO, MANDADO DE SEGURANÇA E TUTELAS PROVISÓRIAS

Matheus Pezzini Backes


27/08/2021

Questões
1. No art. 151 do CTN, que significa o termo “exigibilidade”? Quando surge essa
“exigibilidade”? E qual o efeito da suspensão da exigibilidade? Impede-se (i) o
lançamento, (ii) a inscrição na dívida ativa, (iii) a execução fiscal; (iv) todos estes
atos? (vide anexo I a IV).

Segundo Paulo de Barros Carvalho, exigibilidade é “o direito que o credor tem de postular,
efetivamente, o objeto da obrigação”1. Isto é, a possibilidade de o sujeito ativo cobrar o cumprimento do
crédito tributário.
Assim, a suspensão da exigibilidade impede a inscrição em dívida ativa e o ajuizamento da
execução fiscal, mas em nada afeta o ato de lançamento, porque é o ato do lançamento que confere
existência ao crédito tributário. Antes do lançamento, não há exigibilidade a ser suspensa. Nesse sentido,
inclusive, a suspensão da exigibilidade não altera o curso do prazo decadencial para o lançamento.

2. Em que sentido a expressão “crédito tributário” foi utilizada no art. 151 do CTN?
Essa expressão congrega também liames decorrentes da prática de atos ilícitos
(e.g. multa por desrespeito aos deveres instrumentais)?

“Crédito tributário” significa que houve um ato de formalização da obrigação tributária,


aplicando-se a regra matriz de incidência, por meio do lançamento ou do cumprimento das normas pelo
próprio contribuinte.
O crédito tributário pode decorrer tanto de uma obrigação tributária como de uma obrigação
principal, e engloba tanto o valor principal como juros e multas de mora ou de lançamento.

3. As hipóteses de “suspensão da exigibilidade do crédito tributário” previstas no art.


151 do CTN são taxativas? (vide anexo V)

Da interpretação do art. 151 do CTN, entendo que se trata de rol taxativo, não podendo
serem incluídos dentre suas hipóteses o seguro fiança e o caução. Tais garantias, contudo, apesar
de não suspenderem a exigibilidade do crédito tributário, permitem que o contribuinte emita a

1
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 7ª ed. São
Paulo: Noeses, 2018, Item 2.8 (Suspensão da exigibilidade do crédito tributário) do
Capítulo 2 da segunda parte, p. 522.
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certidão positiva com efeitos de negativa, nos termos do art. 206 do CTN. Nesse sentido foram
fixados o repetitivo do STJ no REsp 1.156.668 e a súmula 112 do STJ.

3.1. Considerando que não houve alteração nos art. 151 do CTN, pergunta-se:
a) A equiparação, prescrita pelo §2º do art. 835 do CPC/15, a dinheiro da fiança
bancária e do seguro garantia, tem o condão de consagrar a hipótese de suspensão
da exigibilidade do crédito tributário prevista no art. 151, II, do CTN?
Segundo o entendimento do STJ decidiu, em julgamento sob a sistemática de recursos
repetitivos (REsp nº 1.156.668-DF), que a fiança bancária, mesmo após o advento do CPC/15, que
prevê a equiparação se a fiança ou o seguro corresponderem a 130% do valor do débito, são
recorrentes as decisões judiciais impossibilitando a equiparação em âmbito tributário.
No meu entendimento, contudo, entendo que não há fundamentos suficientes para
afastar a aplicação da norma do CPC em âmbito tributários, devendo subsistir a possibilidade de
equiparação.

b) As espécies de tutela provisória, identificadas segundo o fundamento do pedido,


se de urgência ou de evidência, previstas no CPC/15 se aplicam ao Processo
Tributário? Tais medidas têm o condão de suspender a exigibilidade do crédito
tributário?
Sim. A concessão de medida liminar ou de tutela antecipada decorrem de tutela de urgência ou
de evidência reconhecidas pelo juízo, aplicando-se os incisos IV e V do art. 151 do CTN.

4. Sobre o depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória proposta
antes da constituição do crédito tributário, pergunta-se:

(a) Trata-se de faculdade do contribuinte?


Sim. Entendo que a suspensão decorrente do depósito judicial é uma consequência que
independe da permissão do juiz, sendo uma faculdade do contribuinte.
(b) Há distinção entre depósito judicial para fins do art. 151, II do CTN e prestação
de caução?
Sim. A prestação de caução compreende diversas modalidades de garantia que não suspendem
a exigibilidade do crédito tributário como o depósito judicial.

(c) O levantamento do depósito judicial vincula-se ao êxito (com trânsito em


julgado) da ação proposta pelo contribuinte ou o juiz pode a qualquer tempo
autorizar o levantamento? (vide anexo VI)
O levantamento do depósito judicial só pode ocorrer mediante êxito do contribuinte na ação ou
caso haja outra causa para a suspensão do crédito tributário: tutela provisória ou moratória.
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5. A partir da vigência do CPC/15 foi instituído um novo fundamento para a


concessão de tutela provisória, a evidência do direito, tal como preveem os arts.
294 e 311. Pergunta-se:

a) Identifique a diferença entre tutela antecipada e tutela cautelar. É possível a


concessão de tutela provisória antecipada em mandado de segurança? Ou em
mandado de segurança tão somente é admissível medidas provisórias de natureza
cautelar?
Tutela antecipada consiste em antecipar total ou parcialmente dos efeitos da tutela definitiva, a
fim de evitar danos irreparáveis a uma das partes, sendo uma medida satisfativa do direito
provisoriamente. A tutela cautelar, por outro lado, tem como finalidade assegurar eficácia prática a
eventual sentença de procedência. Não são antecipados os efeitos da tutela definitiva, mas apenas
assegura-se que a tutela definitiva poderá ser prestada. Por essa razão, a tutela antecipada é passível de
estabilização quando não haja impugnação pela parte contrária. A tutela cautelar, por outro lado,
justamente por não ter caráter satisfativo, não estabiliza.
É possível a concessão de tutela provisória antecipada em mandado de segurança, pois, em
conformidade com a Lei do Mandado de Segurança, a concessão de liminar se dá quando constatado a "a
plausibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida", podendo nesses casos haver, por
exemplo, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, a qual, ao meu ver, trata-se de medida
satisfativa/antecipatória. No entanto, a técnica da estabilização da decisão quando não agravada não é
aplicável ao mandado de segurança pois é incompatível com seu rito e com a sua finalidade.

b) É cabível o requerimento de liminar em mandado de segurança fundada na


evidência do direito a partir da vigência do CPC/15? Ou diante das disposições da
Lei Federal n. 12.016/09, apenas é cabível o requerimento de liminares fundadas
em urgência, a outra espécie de tutela provisória prevista no CPC/15?

Entendo que é cabível o requerimento de liminar em mandado de segurança fundada na


evidência do direito a partir da vigência do CPC/15.
Chego a essa conclusão visto que a previsão do art. 311, § único, do CPC, dispõe que o juiz poderá
decidir liminarmente nas hipóteses dos incisos II (prova documental e repetitivo ou sumula) e III, os quais
são compatíveis com o rito do mandado de segurança e o adequam ao novo sistema de precedentes
incluído pelo CPC de 2015.

6. Dado o seguinte caso concreto: Gênesis Waves Ltda. obteve liminar em Mandado
de Segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário que
posteriormente foi “cassada” pela sentença de denegação da segurança. Pergunta-
se:
a) na hipótese de a empresa apelar da sentença que “cassou” a liminar, o
recebimento de sua apelação nos efeitos suspensivo e devolutivo tem o condão de
afastar os efeitos da sentença e reconstituir os efeitos da liminar? Responder a
pergunta considerando as disposições do CPC/15 a respeito dos efeitos da apelação
(vide anexo VII)
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O art. 1.012 do CPC/15 prevê efeito suspensivo e devolutivo como regra geral da apelação. O
§1º, contudo, elenca a confirmação, concessão e revogação de tutela provisória (inciso V) como hipótese
de a sentença começar a produzir efeitos imediatamente após a publicação.
Dessa forma, a sentença que revogou os efeitos da liminar, goza de efeitos imediatos e,
portanto, eventual apresentação de recurso não tem o condão de reestabelecer, de forma automática, os
efeitos da tutela provisória cassada. Fica resguardado, contudo, a possibilidade de o tribunal conceder
tutela recursar analisando o recurso.

b) Há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o


crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de liminar
concedida em Mandado de Segurança posteriormente cassada por ocasião da
sentença? E se a liminar foi concedida depois de vencido o prazo para pagamento
do tributo? (vide anexos VIII e IX)

Conforme art. 63, §2, da lei 9430/96, ação judicial com liminar interrompe os efeitos da mora
até 30 dias depois de sua cassação. Entende-se liminar como tutela provisória, aplicando-se tanto a
mandado de segurança como a ações judiciais. No caso de um tributo já vencido ao tempo da concessão
da tutela, os juros e a multa já incidentes permanecerão devidos, suspendendo-se a incidência dos juros e
da multa de mora apenas após a concessão da tutela.

7. Antes de responder a esta pergunta aponte a distinção entre tutela antecipada e


tutela cautelar tal como colocada na resposta à questão “5. a)”. Fixados esses
conceitos, responda à seguinte pergunta: diante do novo cenário das tutelas
provisórias do código de processo civil de 2015, a ordem judicial suspensiva da
exigibilidade da obrigação tributária, tenha fundamento na urgência ou na
evidência, assume natureza antecipada ou cautelar?

Tutela antecipada consiste em antecipar total ou parcialmente dos efeitos da tutela definitiva, a
fim de evitar danos irreparáveis a uma das partes, sendo uma medida satisfativa do direito
provisoriamente. Tutela cautelar, por outro lado, tem como finalidade assegurar eficácia prática a eventual
sentença de procedência. Não são antecipados os efeitos da tutela definitiva, mas apenas assegura-se que
a tutela definitiva poderá ser prestada. A suspensão da exigibilidade do crédito tributário possui natureza
de tutela antecipada, visto que antecipa, mesmo que parcialmente, os efeitos da sentença que extingue o
débito.

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