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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário

SEMINÁRIO V – IPI E IOF

Questões
1. Construir a(s) regra(s)-matriz(es) de incidência tributária do IPI.

Conforme Paulo de Barros Carvalho1 a regra matriz de incidência tributária do


Imposto Sobre Produtos Industrializados, tem em sua hipótese: critério material:
Industrializar produtos, (industrializar é o verbo e o complemento é produtos); b) critério
espacial: - em princípio, qualquer lugar do território nacional e por último ainda na sua
hipótese, o critério temporal: - o momento da saída do produto do estabelecimento
industrial. Agora, no consequente, seus 3 critérios abarcam: critério pessoal: Sujeito
ativo é a união e o sujeito passivo é o titular do estabelecimento industrial, ou o qual ele
seja equiparado; b) critério quantitativo: a base de cálculo é o preço da operação na
saída do produto, e a alíquota, a percentagem constante da tabela.

2. Sobre o direito ao crédito do IPI, pergunta-se:


a) É possível o aproveitamento de créditos de IPI decorrentes da aquisição de
insumos com alíquota zero ou imunes? E de operações decorrentes da Zona Franca
de Manaus adquiridos sobre o regime de isenção? Se possíveis estes créditos, como
quantificá-los? (Vide anexos I, II e III).

Sendo o IPI um tributo sujeito ao regime não-cumulativo, o crédito depende que na etapa
anterior da cadeia ele seja tributado. Caso contrário, a concessão de direito de crédito
transferiria para a união ônus financeiro, uma vez que na prática estaria concedendo
um crédito presumido.
Já existem decisões solidificadas na jurisprudência de que não se deve reconhecer o
creditamento do IPI referente à aquisição de insumo não tributado, isento ou sujeito
à alíquota zero.
Nesse sentido é a súmula vinculante 58 do STF - Inexiste direito a crédito presumido de
IPI relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não
tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade.
Quanto aos insumos decorrentes da Zona Franca de Manaus há uma diferença. Como
a isenção dada a esta região busca o desenvolvimento de toda a região, não apenas
beneficiar um ente dentro da cadeia, a negativa do direito de crédito sobre tal região
poderia reduzir significativamente a efetividade do benefício, desse modo
reconhecesse o direito de crédito. Nesse sentido também se posicionou o STF no
RE 592891.

1 BARROS, Paulo de Carvalho. Direito Tributário, Linguagem e método. pp.708-709.


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b) Os materiais consumidos no processo de produção, mas que não são agregados


diretamente ao produto final, geram créditos do IPI? E os bens adquiridos para ativo
permanente? E os materiais de teste ou protótipos? (Vide anexo IV)
Quanto aos materiais de uso e consumo, o art. 226 do RIPI é expresso em permitir o
crédito sobre bem que embora não integrem o produto final, são consumidos no
processo de indstrialização. Dessa forma, entendo que os testes e protótipos podem
ser enquadrados dentro desse panorama de material de uso e consumo que não são
agregados diretamente ao produto final, mas que são fundamentais para sua efetiva
produção e geração de receita.
Sobre os bens para o ativo permanente, o mesmo art. 226 veda expressamente o crédito.
Contudo, acho importante mencionar que o art. 153 da CF, em seu art. 153, §3, IV,
refere que os bens de capital devem ter seu impacto reduzido para os contribuintes d
e IPI. Entendo que se não houver uma desoneração da alíquota de IPI sobre esses
bens, a constituição obriga que na por outro lado a União desonere as industrias com
um crédito presumido ou mesmo com creditamento parcial sobre os bens de capital
adquiridos e incorporados ao ativo fixo.

3. Qual a relevância das classificações fiscais para a determinação da incidência do IPI?


Discorrer sobre os seus critérios de solução para efeitos de problemas de classificação
fiscal. Com base nessa resposta, comente:
A classificação fiscal é o que permite a identificação da alíquota de IPI para o recolhimento
do imposto.
Quanto aos critérios de classificação. A tabela dos produto, TIPI, é derivada da abela do
Sistema Harmonizado (SH), uma classificação internacional, e elas compartilham
regras de classificação que, originalmente, são 6. Tais regras determinam quais são
os elementos da tabela que importam e não importam para a classificação e como
solucionar eventuais controvérsias sobre as classificações.
a) qual a classificação correta para Tablets (se 8471.30.12 ou 8471.3019), justificando
com base nos critérios de solução identificados. (Vide anexo VI).
Via de regra, conforme a norma 1 do SH, a classificação se dá pelos textos das posições.
Como a posição 8471.30.12 estabelece requisitos fisicos objetivos para classificação
(peso, tamanho da tela e número de “teclas”), a classificação depende dessa
especificação. Entendo que a referência a teclas possa ser satisfeita por teclado virtual,
sem necessariamente haver a necessidade de teclas físicas. Se os requisitos da
posição mencionada não forem satisfeitos, nesse caso a classificação residual será a
aplicada, 8471.30.19 - outros, coforme regra 6 do SH.
b) Contribuinte sediado no Estado de São Paulo, realiza importação de sabonetes
“antiacne”. Sucedendo empasse segundo o qual a ANVISA define a mercadoria como
cosmético, e a legislação tributária, à classe dos medicamentos e tratando-se de termo
não definido pela Constituição Federal, qual definição deve prevalecer: a fixada pela
agência reguladora ou aquela prescrita pela legislação tributária? (Vide Anexo XIV)

A administração tributária só pode atribuir definição diferente para um conceito civil quando
ele não for definido pela CF, for empregado na legislação tributária e tenha uma finalidade
específica a ser tutelada/perseguida pelo aplicador da norma. Quando se trata de mera
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classificação, a RFB deve empregar as definições civis e ser apenas um usuário das
classificações tecnicas feitas pelos institutos especializados/competentes.
No caso do sabonete antiacne, não havia uma norma concedendo benefício fiscal ou outro
tratamento favorecido que estava sendo burlado pelo sabonete, cabia à RFB apenas
aplicar as classificações tecnicas já estabelecidas.

4. Que é produto industrializado? O processo de salga do bacalhau constitui


aperfeiçoamento do produto para consumo ou é mero modo de conservação para fins
de transporte? Em outros termos, o bacalhau (seco e salgado) é tido produto
industrializado para fins de incidência do IPI? Caso o bacalhau seja de espécie não
contemplada na tabela do IPI (TIPI), mesmo que seja seco, salgado ou em salmoura
ou, ainda, defumado, pode-se falar em incidência do IPI? (Vide anexo VII)

Conforme o art. 4 do RIPI, industrialização é “qualquer operação que modifique a natureza,


o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o
aperfeiçoe para consumo”. Aplicando tal conceito ao caso do bacalhau, compreendo
que a salga do bacalhau se trata de aperfeiçoamento para o consumo, caracterizando-
se como industrialização.
Quanto à hipótese do bacalhau ser de espécie distinta da expressamente prevista na TIPI,
deverá ser analisado se não caberá a classificação em subposição mais abrangente e
residual, que na tipi normalmente se denomina de “OUTROS”. Abaixo por exemplo,
caso o bacalhau a ser classificado não se enquadre em nenhuma das hipóteses da
posição 0305.49.10, deverá ser classificado na posição 0305.49.90 (aplicação das
regras 1 e 6 do SH):

5. Qual a base de cálculo do IPI? Você entende que os seguintes valores podem ser
incluídos em sua BC: (i) valores relativos juros das vendas financiadas? (ii) os
descontos incondicionais ou de produtos bonificados? (iii) o valor do frete? (iii. a) O
frete integra o ciclo de produção? (iii. b) Há diferença se houver sido estipulada cláusula
FOB (free on board) ou CIF (cost, insurance and freight)? Fundamente suas respostas.
(i) – Vendas financiadas por instituições financeiras o valor correspondente ao juros deve
ser tributado pelo IOF e não pelo IPI, este aplica-se exclusivamente sobre o valor dos
produtos. Nesse sentido foi definido pelo STJ nos REsps 1.586.158 e 1.586.210.
(ii) – Conforme definido pelo STF no RE 567935, os deconstos incondicionais não devem
sofrer a tributação do IPI. Quanto às bonificações, nada mais são que modalidades de
descontos incondicionais em que ao invés de redução do valor dos produtos, o
contribuinte transfere a título gratuito produtos. Dessa forma, também não devem
sofrer a tributação do IPI.
(iii) – Conforme o art. 118, II e §1, do RIPI, o frete integrará o valor do IPI caso ele seja
arcado pelo contribuinte e cobrado do destinatário. Dessa forma, estará incluso na
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base de cálculo do IPI o frete CIF, o FOB não. Entendo que o frete não integra o ciclo
de produção, é posteior a ele e da mesma forma que insumos afastados do processo
produtivo não geram crédito, o frete não deveria compor a base do imposto. Além
disso, a incidência do IPI sobre o frete CIF e não sobre o FOB é uma distorção
econômica.

6. A empresa Tudex Ltda é uma indústria que produz máquinas e equipamentos. No


meio de seu processo de produção, envia seus produtos a outra empresa,
Galvanomix Ltda, para que esta efetue a galvanização desses produtos. Feita a
galvanização, os produtos voltam à linha de produção da Tudex, onde esta
concluirá seu processo de produção e, posteriormente os venderá aos
consumidores finais. Pergunta-se: a atividade realizada pela Galvanomix é uma
industrialização por encomenda ou prestação de serviço? Incidirá ISS, IPI ou ISS e
IPI? Justifique (vide anexos VIII, IX e X).

Na industrialização por encomenda deve ser aplicado o IPI visto que se trata de uma
operação industrial dentro de uma cadeia produtiva/industrial. A justificativa, ao
meu ver, não deve ser calcada mera análise de conceito de industrialização e de
serviço pois aqui eles podem muitas vezes se confundirem. Tas circunstâncias
devem ser analisadas tendo em conta os princípios norteadores dos tributos. O ISS
é um tributo incidente em operações majoritaiamente destinadas ao consumidor
final ou em cadeias muito curtas, enquanto o IPI é o tributo das cadeias industriais,
“desenhado” para incidir em longas cadeias produtivas. Além disso, caso o
intermediário da industrialização por encomenda fosse, na verdade, adquirente do
produto que industrializa e vendesse tal produto, pagaria IPI, e não ISS. Ao meu
ver, isso evidencia que a natureza da operação é de industrialização, não sendo
cabível falar em ISS.

7. Construir as regra(s)-matriz(es) de incidência tributária do IOF. Por que a utilização


da nomenclatura “IOF’” pode ser considerada como equivocada? De forma ampla,
qual a previsão constitucional para a incidência dessa exação?

Critério Material: o IOF é um imposto de competência federal detentor de quatro


hipóteses de incidência: operações de crédito, câmbio, seguros, títulos ou valores
mobiliários.
Critério Espacial: a) Crédito: são passíveis de tributação todas as operações realizadas
no território nacional, exceto nas operações de crédito externo; b) Câmbio: a
incidência pode se dar tanto em território nacional como na liquidação de contrato de
câmbio que fora contratado no exterior, conforme entendimento jurisprudencial; c)
Seguros: território nacional; d) Títulos de Valores Mobiliários: apenas nas operações
ocorridas dentro do território nacional.
Critério Temporal: No momento da operação financeira, ocorrência do fato gerador.
Critério Pessoal: Sujeito ativo: União. A administração, arrecadação e fiscalização são
a cargo da Secretaria da Receita Federal do Brasil.
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Sujeito passivo: Em conformidade ao art. 4 do decreto 6306, os contribuintes são “as


pessoas físicas ou jurídicas tomadoras de crédito”.
Critério Quantitativo: A identificação das bases econômicas é distinta para cada situação
definida em lei. Em regra, a base de cálculo é o valor da operação e a alíquota de,
no máximo, 1,5% para créditos e títulos imobiliários e até 25% para câmbios e
seguros.
A rigor, a nomenclatura IOF está equivocada pois este imposto é cobrado não somente
sobre “ Operações Financeiras”, ele abrange também, cambio, seguros e títulos de
valores mobiliários.

8. A alteração de alíquotas do “IOF” prescinde de motivação do Governo Federal? A


justificativa para aumento do tributo pode se dar sem relação comprovada com a
necessidade de manipulação na política regulatória do mercado de crédito, cambial,
securitário ou de títulos e valores mobiliários? Há algum tipo de inconstitucionalidade
no caso de alteração imotivada?

O IOF possui função extrafiscal predominante, por isso o Executivo possui a prerrogativa
para aumentar a alíquota do imposto sem lei e sem precisar respeitar as regras da
anterioridade. Caso o imposto possa ser utilizado para agregar a arrecadação da
União, haveria uma contradição latente entre as normas constitucionais que em todo
o texto buscam blindar os direitos dos contribuintes frente arbitrariedades do Estado.
Além disso, o CTN, quando edita normas complementares sobre o IOF, no art. 65,
determina expressamente que o poder público pode alterar a alíquota do IOF “a fim
de ajustá-lo aos objetivos da política monetária”. Se utilizado para qualquer outra
finalidade, o ato incorrerá em ilegalidade (violação ao CTN) e inconstitucionalidade.

9. Determinada pessoa jurídica “X”, pertencente a um grupo de empresas “Y”, celebra


contrato de mútuo com outras empresas desse mesmo grupo, com a finalidade de
obter dinheiro sem recorrer ao mercado financeiro. Pergunta-se: o empréstimo
decorrente desse contrato de mútuo configura fato jurídico tributário que enseja a
exigência do IOF? É legítima a cobrança de IOF sobre a venda de direitos creditórios
realizada por empresas de factoring? E sobre o direito de crédito entre empresa
controlada e sua controladora? Se sim, em que momento haverá a incidência? (Vide
anexos XI, XII, XIII e XIV).
Me alinho ao entendido pelo STF na ADI 1763, quando os ministros entenderam que a
noção de operação de crédito envolve vários elementos (tempo, intermediário,
instituição financeira, confiança, interesse, risco.....), mas a ausência de um desses
elementos não descaracteriza por inteiro a qualidade creditícia de tais operações
quando a presença dos demais elementos for suficiente. Dessa forma, entendo que
tanto as operações de factoring como operações de mútuo, devem estão abrangidas
pela competência tributária da União para exigir IOF.
Importante pontuar, que a mera disponibilização de valores em conta corrente, como no
anexo XIII, não se caracteriza mutuo e, portanto, não pode ser compreendido como fato
gerador do IOF.

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