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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO

MÓDULO II – SEMINÁRIO I
ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS E REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
Nayrê Silva Barbosa

BAURU
2023
1. Defina o que é isenção, considerando ao menos duas das teorias
existentes sobre o tema e justificando o motivo pelo qual você adota uma
delas. A partir disso, explique as diferenças e as semelhanças que existem
em relação: (i) à imunidade; (ii) à não incidência; (iii) à anistia; (iv) à remissão;
(v) à alíquota 0% e (vi) à redução da base de cálculo.
Resposta:
Existem alguns conceitos apontados para o instituto da isenção. O STF
considera que a isenção é a dispensa legal do tributo devido, significa dizer
que a norma tributante incide sobre o fato gerador, fazendo nascer a
obrigação tributária, a qual é posteriormente extinta pela atuação secundária
da norma isencional (André Mendes Moreira, a não – cumulatividade dos
tributos).
Para Paulo de Barros Carvalho a regra isencional seria uma regra de
estrutura e não de comportamento, regulando o relacionamento que as
normas de conduta devem ter entre si. As regras de isenção modificam a
regra matriz de incidência tributária tanto nos elementos antecedentes, quanto
nos consequentes, fazendo subtrair parcela do campo de abrangência dos
critérios antecedentes e consequentes.
Para Alfredo Augusto Becker, a isenção tem a finalidade de negar a existência
da relação jurídica tributária, assim, a regra de isenção incide para que a
tributação não incida.
A meu ver o conceito clássico se torna interessante na medida em que a
isenção realmente se caracteriza como dispensa legal do pagamento de
tributo devido.
(i) Imunidade: hipótese de não incidência qualificada ao nível
constitucional, impedindo que o ente competente defina determinadas
situações ou sujeitos como hipóteses de incidência de tributos ou
sujeitos passivos destes. Trata de Tributo, fato ou direito. Possui efeitos
prospectivos. Atinge a delimitação da competência. Concedida pela CF.
(ii) Não incidência: Hipótese que não se enquadra no antecedente da
regra-matriz de incidência. Trata de tributo e fato. Efeitos prospectivos.
Atinge exercício da competência. Sem previsão na lei.

(iii) Anistia: perdão da penalidade imposta ao infrator tributário. Incide


sobre o fato. Efeitos retroativos. Atinge exercício da competência.
Concedido por lei.

(iv) Remissão: dispensa gratuita da dívida feita pelo credor em benefício do


devedor. Incide sobre o débito. Efeitos retroativos. Atinge competência.
Concedida por despacho com autorização em lei.

(v) Alíquota zero: atribuição de valor nominal igual a zero à alíquota.


Elemento do critério quantitativo do consequente da RMIT. Incidência
da norma na tributação. Inexistência de dever tributário.

(vi) Redução da base de cálculo: Espécie de exoneração interna da regra -


matriz de incidência, benesse encontrada dentro do contorno do critério
quantitativo (Sacha Calmon). Cumprimento da prestação pecuniária
permanece intacto. Critérios da regra-matriz todos existentes. Norma
de comportamento que provoca mudanças na apuração a ser
adimplida pelo contribuinte.

2. A que se refere a expressão “crédito tributário” utilizada no art. 175


do CTN no contexto da isenção tributária (inciso I)? E no contexto da
anistia (inciso II)?
Resposta:
No art. 175 do CTN, quando se trata da isenção a expressão remete ao
crédito tributário constituído pela ocorrência da obrigação tributária
principal. No caso da anistia a expressão remete ao crédito tributário
constituído pela inobservância de dever instrumental.
3. É possível afirmar que uma isenção por prazo certo sempre será
uma isenção condicionada e que uma isenção por prazo indeterminado
sempre será uma isenção incondicionada? Quais critérios são
utilizados nessas classificações? A revogação de uma isenção
incondicionada reinstitui a norma jurídica de incidência tributária no
sistema ou é necessária a publicação de nova norma de incidência no
ordenamento jurídico? E no caso da revogação de uma isenção
condicionada? Há que se falar em direito adquirido? É necessário que
se observe o princípio da anterioridade de exercício e da anterioridade
nonagesimal? (vide anexos I, II, III e IV)?
Resposta:
Pela análise da jurisprudência e do art. 178, as isenções por prazo
certo sempre serão isenções condicionadas. Por outro lado, as
isenções incondicionadas poderão ser revogadas ou modificadas por
lei a qualquer tempo.
A revogação de uma isenção reinstitui a norma de incidência tributária
no sistema.
Não há que se falar em direito adquirido, todavia, na revogação de
isenção concedida de forma incondicionada, deve-se decorrer o lapso
necessário para que as situações antes tidas como isentas possam ser
objeto, novamente, de incidência tributária. Na revogação de isenção
concedida por meio de condição e prazo determinado, enquanto
perdurar o prazo definido na norma individual que reconhece o
adimplemento da condição, não é possível que a situação ali
reconhecida como isenta seja objeto de tributação, ainda que revogada
a norma que fundamenta a isenção em momento anterior ao prazo.
Existe a necessidade de observância da anterioridade de exercício e
anterioridade nonagesimal.

4. A aquisição de insumos isentos a serem utilizados no processo de


industrialização confere direito a crédito tributário de IPI? Por que? Em
caso afirmativo, qual critério deve ser utilizado para determinar o valor
desse crédito presumido de IPI? Suas respostas seriam as mesmas se
o insumo adquirido estivesse previsto como “não tributado” (NT) na
TIPI? E se estivesse previsto com alíquota 0%? E se for um insumo
adquirido na Zona Franca de Manaus? (Vide anexos V, VI, VII, VIII e
IX)
Resposta:
Sim, via de regra, é vedado ao contribuinte a manutenção dos créditos
decorrentes de suas entrada ou dos insumos utilizados para sua
fabricação. Todavia, especificamente no caso do IPI, há uma regra
específica prevista no art. 11 da lei 9.779/99 que possibilita a
manutenção de créditos de insumos utilizados na fabricação de
produtos cujas saídas sejam isentas ou sujeitas à alíquota zero.
Recentemente, no julgamento do EREsp 1.213.143/RS, a 1ª Seção do
Superior Tribunal de Justiça entendeu que, além da possibilidade da
manutenção dos créditos nas saídas isentas e sujeitas à alíquota zero,
também seria possível a manutenção nos casos em que estas não são
tributadas. Assim, o STJ confirmou o entendimento que, mesmo em
saídas isentas, não tributadas ou sujeitas à alíquota zero, é possível a
manutenção de créditos de IPI.
Também é possível o aproveitamento de créditos de IPI na entrada de
insumos isentos, não tributados, ou sujeitos à alíquota zero
provenientes da Zona Franca de Manaus, por força de exceção
constitucional à técnica da não – cumulatividade (RE 596614 / SP).

5. Um Estado federado é obrigado a conceder isenção de IPVA para


proprietários de veículos automotores que tenham alguma deficiência
física e precisem de veículos adaptados? Há uma garantia
constitucional a esse “benefício” ou a sua concessão depende da
liberalidade de cada Estado?
Considerando que o IPVA é um tributo que, em regra, incide
anualmente, se determinado Estado editou lei concedendo isenção
condicionada desse imposto a esse tipo de contribuinte, esse mesmo
Estado pode alterar essas condições para evitar fraudes? Em caso
positivo, a partir de quando essas novas condições podem ser
aplicadas? O contribuinte que era isento até então e não conseguir
cumprir as novas condições poderá sofrer a cobrança do IPVA ou terá
direito adquirido a essa isenção? (Vide anexo X)
Resposta:
Não existe essa obrigatoriedade, a isenção tributária decorre de lei e o
próprio poder público competente para exigir o tributo é quem tem o
poder de isentar. A sua concessão depende da liberalidade de cada
Estado.
Sim, o Estado pode alterar as isenções, por lei. As novas condições
podem ser elaboradas a qualquer tempo, mas existe a necessidade de
observância da anterioridade anual e nonagesimal.
O contribuinte poderá sofrer a cobrança do Tributo, uma vez que o fato
gerador do tributp renova-se ano a ano e deve-se observar a legislação
tributária vigente ante o princípio do “tempus regit actum”. Assim, para
que o contribuinte possa fazer jus à isenção que usufruia há
necessidade de preenchimento das novas condições.

6. Há relação entre isenção tributária e o princípio da legalidade estrita


tributária? O contribuinte pode optar por pagar um tributo que é isento?
Esse valor pago por quem renuncia à isenção é tributo?
Considere o exemplo de determinado Estado que institui isenção de
ICMS, com fundamento em convênio CONFAZ, exclusivamente para
operações realizadas pelo contribuinte atacadista de determinado
produto. A legislação (i) expressamente veda que essa isenção seja
utilizada por estabelecimentos industriais e varejistas e (ii) nada fala
sobre a possibilidade de manutenção de crédito pelo atacadista. Qual o
efeito prático desta isenção para a cadeia do ICMS? Essa isenção é
constitucional? Poderia o estabelecimento atacadista renunciar à
isenção tributária e decidir tributar regularmente sua operação?
Resposta:
O princípio da legalidade estrita é aplicaso ao podere público que ficam
sujeitos especificamente ao que está previsto e disposto em lei, sendo
assim, a partir do momento que para a isenção fiscal esta deverá
nascer sob texto legal, há para o poder legislativo uma ampla gama
para o estabelecimento de toda a regulação de condições a ser
aplicada para certo território, atividade ou categorias de contribuintes.
Tendo em vista que no caso da isenção a obrigação tributária existe,
entendo pela possibilidade do contribuinte efetuar o pagamento
pretendido.
Entendo que o valor pago por quem renuncia à isenção não pode ser
caracterizado como tributo, uma vez que a dispensa legal ao
recolhimento retira o caráter compulsório que caracteriza o tributo.
O efeito prático para essa isenção é a cumulatividade do imposto
incidente sobre o varejista que pagará o ICMS sem poder se creditar
do ICMS das operações anteriores. Essa isenção passa a ser
inconstitucional por ferir o princípio da não-cumulatividade.
caso fosse possível essa renúncia à isenção, parte do valor pago seria
tributo e parte seria compensada com a manutenção do crédito
adquirido na operação anterior.
Ao meu ver, seria possível o estabelecimento tributar regularmente sua
operação.

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