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ALUNO: Luís Fernando Nadalin Sivers

TURMA: ICT-CWB-SM1-QUARTA

Questões:

1. Defina e diferencie, fundamentadamente, o que são isenções e imunidades. Comente


sobre a possibilidade de revogação das isenções (art. 178 do CTN) considerando os
conceitos de norma geral e abstrata e norma individual e concreta.

Isenção, segundo Paulo de Barros Carvalho1, é norma necessariamente veiculada por


lei, que atua sobre a regra-matriz de incidência tributária com o objetivo de mutilar um ou
mais critérios de sua estrutura, parcialmente, resultando na inibição da incidência da hipótese
tributária sobre os eventos abstratamente qualificados pelo preceito isentivo, ou tolhendo sua
consequência, comprometendo-lhe os efeitos prescritivos de sua conduta.
De sua vez, imunidades tributárias, ainda conforme lição do referido autor 2, são
normas jurídicas contidas no bojo da Constituição Federal que, de modo expresso,
estabelecem a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para
expedir regras instituidoras de tributos que alcancem situações específicas e suficientemente
caracterizadas.
Carvalho3 esclarece ainda que as normas imunizantes se incluem no subdomínio das
sobrenormas, isto é, metaproposições prescritivas que colaboram, positiva ou negativamente,
para delimitar a área de competência das pessoas políticas, estabelecendo limites materiais e
formais à atividade legiferante.
Distinguindo ambos os institutos, Paulo de Barros Carvalho4 afirma que os preceitos
imunizantes exercem função de colaborar no desenho das competências impositivas. São
normas constitucionais que não cuidam da problemática da incidência, porquanto atuam em
momento antecedente à percussão tributária.
Por seu turno, as isenções operam no âmbito da legislação ordinária, sendo que a sua
1
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.
521.
2
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 21. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 202.
3
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 21. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 202.
4
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 21. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 205.

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pessoas estranhas e desvinculadas de suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
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dinâmica pressupõe “um encontro normativo” entre o preceito isentivo, que opera como
redutor do campo de abrangência dos critérios da hipótese ou da consequência da regra-matriz
do tributo5.
Antes de respondermos a segunda parte do questionamento, importante tecermos
alguns comentários acerca da distinção entre normas gerais e abstratas e individuais e
concretas.
Para Aurora Tomazini6, normas gerais são aquelas cujos sujeitos se mantêm
indeterminados quanto ao número, enquanto que as individuais se voltam a certo indivíduo ou
grupo determinado de indivíduos. Desse modo são qualificativos do consequente normativo,
pois é nele que se encontram os sujeitos da relação.
Normas abstratas, de sua vez, descrevem um fato futuro e incerto, enquanto que as
concretas relatam um fato passado, propulsor de efeitos no mundo jurídico. São, portanto,
qualificativos do antecedente normativo, uma vez que é nele que se encontra a descrição do
fato propulsor de efeitos no mundo jurídico7.
Feitas essas considerações, ao tratar do tema “revogação de isenções”, Lucas Galvão
de Britto8 observa, primeiramente, a existência de dois critérios de classificação dos preceitos
isentivos, quais sejam: i) se há, ou ii) não, condições que o sujeito deve cumprir para que seja
beneficiado pela isenção, e; (iii) se há, ou (iv) não, um limite demarcado no tempo para que o
benefício da isenção tenha seu término (artigos 176 a 179, do CTN).
Nesse sentido, afirma, o referido autor9, que, sendo o preceito isentivo um dos vários
enunciados que compõe a norma que institui o tributo, a sua retirada do sistema implica no
atingimento de situações antes não abarcadas pela hipótese de incidência tributária, de modo
que, para tanto, devem ser observados os limites que disciplinam a competência tributária
para a instituição/modificação de tributos estabelecidos pela Constituição Federal e pelo
Código Tributário Nacional. Dentre esses limites, prossegue Britto, inclui-se a regra da
anterioridade, que, no caso, haverá de ser aquela prescrita para aquele determinado tributo

5
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 21. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 205.
6
TOMAZINI, Aurora. Teoria geral do direito (o construtivismo lógico-semântico) [online]. Disponível em<
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf> Acesso em: 18.07.2020. p. 268.
7
TOMAZINI, Aurora. Teoria geral do direito (o construtivismo lógico-semântico) [online]. Disponível em<
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf> Acesso em: 18.07.2020. p. 268.
8
BRITTO, Lucas Galvão de. Revogação de isenção, anterioridade e direito adquirido. In: Revista de Direito
Tributário [online – texto disponibilizado aos alunos]. p. 5.
9
BRITTO, Lucas Galvão de. Revogação de isenção, anterioridade e direito adquirido. In: Revista de Direito
Tributário [online – texto disponibilizado aos alunos]. p. 6.

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pela norma de competência tributária.


Conforme inteligência do art. 178, do Código Tributário Nacional, em se tratando de
isenção incondicionada ou condicionada e concedida por tempo indeterminado: “A isenção,
salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada
ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III, do art. 104”.
De sua vez, determina o art. 104, inciso II, do CTN, que os dispositivos de lei que
extinguem ou reduzem isenções, nos termos do art. 178, do CTN, entram em vigor no
primeiro dia do exercício seguinte em que ocorra a sua publicação.
Outro é o caso das isenções condicionadas concedidas por prazo certo. Conforme
ensina Lucas Galvão de Britto10, a sua outorga se dá nos moldes do art. 179, do CTN, isto é, é
efetivada com a emissão do despacho administrativo, que é veículo introdutor de norma
individual. Segundo afirma, nesta espécie de isenção a norma que produz o efeito isentivo não
é a geral e abstrata, mas, sim, a individual, consubstanciada em um ato jurídico perfeito.
Desse modo, a revogação da norma geral e abstrata não afeta de imediato a isenção concedida
ante o disposto no art. 5º, XXXVI, da CRFB/88: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o
ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.
Solucionando a questão, o mencionado autor11 propõe que, revogada a norma geral e
abstrata que fundamenta a isenção condicionada por prazo determinado, passaria, a situação
anteriormente reconhecida como isenta, a ser tributada, contudo, não restariam atingidas as
normas individuais, que se mantém no sistema enquanto perdurar o prazo nelas definido para
sua produção de efeitos, ante a proteção dada pela Constituição Federal ao ato jurídico
perfeito.
Finalmente, cumpre asseverar que, ante o comando constitucional que prescreve as
competências dos Entes Federados para instituir tributos (e, consequentemente, criar
isenções), sendo a competência tributária irrenunciável, não há que se falar em direito
adquirido à isenção, justamente por se tratar de uma benesse concedida por mera liberalidade
do ente tributante, podendo esta ser revogada a qualquer momento. Inclusive, esse é o teor do
já aludido art. 178, do CTN e também do §2º, do art. 179, do CTN: “o despacho referido neste
artigo não gera direito adquirido (...)”.

10
BRITTO, Lucas Galvão de. Revogação de isenção, anterioridade e direito adquirido. In: Revista de Direito
Tributário [online – texto disponibilizado aos alunos]. p. 7.
11
BRITTO, Lucas Galvão de. Revogação de isenção, anterioridade e direito adquirido. In: Revista de Direito
Tributário [online – texto disponibilizado aos alunos]. p. 7.

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2. Considerando o processo de constituição do crédito tributário do IRPF,


originariamente sujeito ao “lançamento por homologação”, como se dá sua extinção
pela decadência e pela prescrição? Considerar para sua resposta as seguintes situações:
(i) declaração integral do contribuinte, sem pagamento; (ii) declaração parcial do
contribuinte, com pagamento do valor declarado; e (iii) ausência de
declaração/pagamento.

O Código Tributário Nacional propõe a distinção do lançamento em três tipos, a


depender do índice de colaboração da administração com vistas à celebração do ato. São eles
o a) lançamento de ofício; b) lançamento por declaração e c) lançamento por homologação.
O lançamento por homologação, previsto no art. 150, do CTN, ocorre quanto a
tributos cuja legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem
prévio exame da autoridade administrativa, extinguindo o crédito tributário sob condição
resolutória da ulterior homologação ao lançamento, conforme inteligência do §1º, do referido
dispositivo.
Paulo de Barros Carvalho12 propõe que a expressão “homologação” a que se refere o
§1º, do art. 150, do CTN, encerra “ato de fiscalização, em que o Estado, zelando pela
integridade de seus interesses, verifica o procedimento do particular, manifestando-se
expressa ou tacitamente sobre ele”, e, sendo atestada a existência de prestações não recolhidas
ou irregularidade que implique falta de pagamento de tributos, desde que não escoado o prazo
decadencial, constitui o crédito tributário e celebra o ato de aplicação da penalidade cabível
em face do ilícito cometido.
Existem duas regras gerais previstas pelo Código Tributário Nacional para a contagem
do prazo decadencial: o prazo de 5 (cinco) anos contados a partir da ocorrência do fato
gerador (art. 150, §4º); e o prazo de 5 (cinco) anos contados do primeiro dia do exercício
seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado (art. 173, I).
Feitas essas considerações, o preceito decadencial, nos casos de lançamento por
homologação, é aquele previsto no §4º, do aludido art. 150, do CTN: é de cinco anos a contar
da ocorrência do “fato gerador” o prazo para que se faça a homologação. Transcorrido esse
prazo a contar do acontecimento tributário cuja formalização incumbia à iniciativa do

12
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.471-472;
467.

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contribuinte, sem que a Administração tenha se pronunciado, considera-se homologado o


lançamento e definitivamente extinto o crédito.
Não obstante, o STJ possui entendimento consolidado na forma da Súmula 555,
segundo o qual “quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal
para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do
CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o
pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa”.
Segundo Carvalho13, escoado esse prazo, fica extinta a possibilidade de a Fazenda
Pública expedir norma individual e concreta, tanto constituindo por meio dela novo crédito
não alcançado pela norma produzida pelo particular ou não constituído pelo contribuinte por
norma alguma, quanto modificando o crédito já constituído pelo contribuinte em decorrência
da sobreposição de normas individuais e concretas, salvo se comprovada a ocorrência de dolo,
fraude ou simulação.
Tendo em vista isso, passa-se à análise das seguintes situações:
(i) declaração integral do contribuinte, sem pagamento: nesse caso o valor declarado
representa confissão de dívida apto a constituir o crédito tributário, de modo que não há que
se falar em prazo decadencial, posto que já se encontra em curso o prazo prescricional do art.
174, do CTN.
(ii) declaração parcial do contribuinte, com o pagamento do valor declarado: aplica-se
a literalidade do art. 150, §4º, do CTN, de modo que será de 5 (cinco) anos a partir da
ocorrência do fato gerador, o prazo para a constituição da diferença não declarada e não paga.
(iii) ausência de declaração e pagamento: nos termos da Súmula 555, do STJ, aplica-se
o art. 173, I, do CTN, de modo que será de 5 (cinco) anos, contados do primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, o prazo para o Fisco
constituir o crédito tributário.
De outro lado, o CTN, em seu art. 156, V, também elenca como causa extintiva do
crédito tributário a ocorrência da prescrição, caracterizada pelo perecimento do direito à ação
de cobrança pelo Fisco em decorrência do transcurso do tempo. Determina o art. 174, do
CTN, que “a ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da
data da sua constituição definitiva”.

13
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.
491.

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Desse modo, tem-se as seguintes situações:


(i) declaração integral do contribuinte, sem pagamento: nesse caso, conforme
anteriormente visto, na linha do entendimento do STJ, a declaração por parte do contribuinte
já constitui o crédito tributário, de modo que a partir dessa data começará a fluir o prazo
prescricional do art. 174, do CTN, para o ajuizamento da ação de cobraça.
(ii) declaração parcial do contribuinte, com o pagamento do valor declarado: em
relação ao valor declarado parcialmente e pago, não há que se falar em prazo prescricional,
porquanto já houve, aqui, a extinção do crédito tributário. Todavia, em relação ao valor não
abrangido pela declaração, terá, o Fisco, o prazo de cinco anos a partir da constituição
definitiva do crédito não declarado, para o ajuizamento da ação de cobrança.
(iii) ausência de declaração e pagamento: finalmente, não havendo declaração, não há
que se falar em constituição definitva do crédito tributário, de modo que terá, o Fisco, o prazo
de cinco anos, a partir do ato de lançamento de ofício do tributo não declarado (efetuável no
lugar do lançamento por homologação), para o ajuizamento da ação de cobrança.

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