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Direito do Consumidor

VÍCIO DE QUALIDADE POR INADEQUAÇÃO X INSEGURANÇA

Em caso de incidentes de consumo, que ataquem a incolumidade econômica, em relação ao


produto ou serviço falamos de vício de qualidade por inadequação, enquanto nas situações de
acidentes de consumo, que afetem a incolumidade física ou psíquica, temos o vício de
qualidade por insegurança.

Incidentes de consumo = Vício de qualidade por inadequação

Acidentes de consumo = Vício de qualidade por insegurança

CASO FORTUITO EXTERNO X INTERNO

O caso fortuito interno é o fato imprevisível, inevitável, ocorrido no momento da fabricação


do produto ou da prestação do serviço, e não exclui a responsabilidade do fornecedor, pois
está ligado aos riscos de seu empreendimento.

O caso fortuito externo é aquele que não guarda nenhuma relação com a atividade do
fornecedor, sendo absolutamente estranho ao produto ou serviço, tendo ocorrido em
momento posterior ao de sua fabricação ou formulação e que, portanto, exime o fornecedor
de responsabilidade.

O caso fortuito interno, segundo a doutrina, incide durante o processo de elaboração do


produto ou execução do serviço, não eximindo a responsabilidade civil do fornecedor. Já o
caso fortuito externo é alheio ou estranho ao processo de elaboração do produto ou execução
do serviço, excluindo a responsabilidade civil.

Assim, o fortuito interno não exclui a responsabilidade do agente, mas o externo sim.

EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR

O art. 12 do CDC traz em seu § 3º as hipóteses de exclusão da responsabilidade pelo fato do


produto:
§ 3° O FABRICANTE, O CONSTRUTOR, O PRODUTOR
OU IMPORTADOR SÓ NÃO SERÁ RESPONSABILIZADO
QUANDO PROVAR:

I - QUE NÃO COLOCOU O PRODUTO NO MERCADO;

II - QUE, EMBORA HAJA COLOCADO O PRODUTO NO


MERCADO, O DEFEITO INEXISTE;

III - A CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR OU DE


TERCEIRO.

As excludentes da responsabilidade pelo fato do serviço estão elencadas no § 3º, art. 14 do


CDC:

§ 3° O FORNECEDOR DE SERVIÇOS SÓ NÃO SERÁ


RESPONSABILIZADO QUANDO PROVAR :

I - QUE, TENDO PRESTADO O SERVIÇO, O DEFEITO


INEXISTE;

II - A CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR OU DE


TERCEIRO.

RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL LIBERAL

A responsabilidade civil dos profissionais liberais é apurada mediante verificação de culpa,


ou seja, sujeita-se à comprovação de que os danos causados decorreram da negligência, da
imprudência ou da imperícia do agente, nos termos do disposto no artigo 14, § 4º, do Código
de Defesa do Consumidor.

DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

A decadência diz respeito ao direito de reclamar, ante o fornecedor, em relação ao defeito


do produto ou serviço; em contrapartida, a prescrição atinge a pretensão de deduzir em
juízo a prerrogativa de recompensar-se dos prejuízos decorrentes do fato do produto ou do
serviço.

Quando falamos em Vício do produto/serviço, falamos em um direito potestativo. Portanto,


o que corre aqui é prazo decadencial. Portanto, o consumidor terá um prazo decadencial
para reclamar do vício.

O prazo para reclamar pelos vício do produto está inscrito no artigo 26 do CDC. Vejamos:

ART. 26. O DIREITO DE RECLAMAR PELOS VÍCIOS


APARENTES OU DE FÁCIL CONSTATAÇÃO CADUCA EM :

I - TRINTA DIAS, TRATANDO-SE DE FORNECIMENTO DE


SERVIÇO E DE PRODUTOS NÃO DURÁVEIS;

II - NOVENTA DIAS, TRATANDO-SE DE FORNECIMENTO DE


SERVIÇO E DE PRODUTOS DURÁVEIS.

§ 1° INICIA-SE A CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL A


PARTIR DA ENTREGA EFETIVA DO PRODUTO OU DO
TÉRMINO DA EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS.

(…)

§ 3° TRATANDO-SE DE VÍCIO OCULTO, O PRAZO


DECADENCIAL INICIA-SE NO MOMENTO EM QUE FICAR
EVIDENCIADO O DEFEITO.

O início da contagem do prazo ocorre a partir da tradição (entrega da coisa), no caso dos
vícios de fácil constatação, ou, no caso de vício oculto, a partir do aparecimento do vício.

o CDC prevê a possibilidade de interrupção do prazo decadencial. Vejamos:

ART. 26. [...]

§ 2° OBSTAM A DECADÊNCIA:

I - A RECLAMAÇÃO COMPROVADAMENTE FORMULADA PELO


CONSUMIDOR PERANTE O FORNECEDOR DE PRODUTOS E
SERVIÇOS ATÉ A RESPOSTA NEGATIVA CORRESPONDENTE ,
QUE DEVE SER TRANSMITIDA DE FORMA INEQUÍVOCA ;

II - (VETADO).

III - A INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO CIVIL, ATÉ SEU


ENCERRAMENTO.
Por outro lado, quando falamos em Fato do Produto ou Serviço, estamos diante de um prazo
prescricional, uma vez que o dano é exterior ao produto ou serviço, conflagrando um direito
de reparação por parte do fornecedor.

Vejamos:

ART. 27. PRESCREVE EM CINCO ANOS A PRETENSÃO À


REPARAÇÃO PELOS DANOS CAUSADOS POR FATO DO
PRODUTO OU DO SERVIÇO PREVISTA NA SEÇÃO II DESTE
CAPÍTULO, INICIANDO-SE A CONTAGEM DO PRAZO A
PARTIR DO CONHECIMENTO DO DANO E DE SUA AUTORIA .

Ou seja, ocorrendo um Fato do Produto (defeito), o consumidor terá 5 anos para pleitear a
sua reparação, a partir do conhecimento do dano e de sua autoria (adoção, pelo CDC, da
teoria da actio nata subjetiva). O consumidor tem direito à reparação integral dos danos
sofridos (teoria da reparação integral).

O Código do Consumidor segue o critério da durabilidade ou não dos produtos ou serviços.


Para os bens não duráveis, o prazo para reclamação é fixado em trinta dias. Já para aqueles
de vida útil não efêmera (duráveis), o prazo decadencial é de 90 dias.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Nos termos do CDC, a desconsideração da personalidade jurídica de uma empresa poderá se


dar quando “em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social”.

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi disposta no Código de Defesa do


Consumidor dentro do Título 1, "Dos Direitos do Consumidor", em seu Capítulo IV que versa
"Da Qualidade de Produtos e Serviços, da prevenção e da Reparação dos Danos", Seção V, art.
28, que assim dispõe:

"ART. 28. O JUIZ PODERÁ DESCONSIDERAR A


PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE QUANDO, EM
DETRIMENTO DO CONSUMIDOR, HOUVER ABUSO DE
DIREITO, EXCESSO DE PODER, INFRAÇÃO DA LEI FATO OU
ATO ILÍCITO OU VIOLAÇÃO DOS ESTATUTOS OU CONTRATO
SOCIAL.
A DESCONSIDERAÇÃO TAMBÉM SERÁ EFETIVADA
QUANDO HOUVER FALÊNCIA, ESTADO DE INSOLÊNCIA,
ENCERRAMENTO OU INATIVIDADE DA PESSOA JURÍDICA
PROVOCADOS POR MÁ ADMINISTRAÇÃO .

§1°. (VETADO)

§2°. AS SOCIEDADES INTEGRANTES DOS GRUPOS DE


SOCIEDADES CONTROLADAS SÃO SUBSIDIARIAMENTE
RESPONSÁVEIS PELAS OBRIGAÇÕES DECORRENTES DESTE
CÓDIGO.

§3°. AS SOCIEDADES CONSORCIADAS SÃO


SOLIDARIAMENTE RESPONSÁVEIS PELAS OBRIGAÇÕES
DECORRENTES DESTE CÓDIGO.

§4°. AS SOCIEDADES COLIGADAS SÓ RESPONDERÃO POR


CULPA.

§5°. TAMBÉM PODERÁ SER DESCONSIDERADA A PESSOA


JURÍDICA SEMPRE QUE SUA PERSONALIDADE FOR , DE
ALGUMA FORMA, OBSTÁCULO AO RESSARCIMENTO DE
PREJUÍZOS CAUSADOS AOS CONSUMIDORES."

RESPONSABILIDADE PELA PERDA DE TEMPO ÚTIL DO CONSUMIDOR: TEORIA DO DESVIO DO PRODUTO DO


CONSUMIDOR

Segundo a teoria do desvio produtivo, a desnecessária perda de tempo útil imposta pelo
fornecedor para o reconhecimento do direito do consumidor configura abusividade e enseja
indenização por danos morais.

RESPONSABILIDADE CRIMINAL

No Código de Defesa do Consumidor as infrações penais estão previstas nos artigos 63 a 74,
protegendo a regularidade das relações de consumo e os interesses do consumidor. As penas
máximas não excedem a dois anos, sendo infrações de menor potencial ofensivo, às quais se
aplicam o art. 61 da lei 9.099/1995, que prevê a transação penal.

A responsabilidade penal difere da civil e administrativa, nas quais estão presentes as


garantias ao consumidor da inversão do ônus da prova, presunção de veracidade das
alegações e da responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor em toda a cadeia
produtiva, ressalvadas apenas as hipóteses de culpa exclusiva da vítima, de terceiro,
inexistência do defeito ou negativa de autoria (CDC, art. 12, § 3º).

ANÁLISE DA VISÃO DO STJ E DO STF

A jurisprudência atual do STJ reconhece a existência de relação de consumo apenas quando


ocorre destinação final do produto ou serviço, e não na hipótese em que estes são alocados
na prática de outra atividade produtiva.

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que a figura do consumidor
por equiparação (bystander) não se aplica às hipóteses de vício do produto ou do serviço
(artigos 18 a 25 do Código de Defesa do Consumidor – CDC).

O entendimento do STF é que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) deve prevalecer sobre
as normas de direito internacional.

OFERTA
Nos termos do artigo 30 do Código de Defesa do Consumidor, a oferta é toda informação ou
publicidade veiculada pelo fornecedor sobre produtos ou serviços que o obriga a cumpri-la e
integra o contrato que vier a ser celebrado.

PUBLICIDADE

É importante destacar o sentido de publicidade tratado pelo Código de Defesa do Consumidor


(CDC), a fim de que não seja confundida com "propaganda". A publicidade tem o condão de
tornar alguma coisa pública, isto é, publicizar o produto ou o serviço a ser consumido.

Assim, a exposição do bem por meio publicitário se torna eficaz ao fornecedor e, de certa
forma, pode gerar riscos ao consumidor, pois a veiculação que não atende os preceitos
estabelecidos na norma de consumo pode ser considerada abusiva ou enganosa.

Entende-se como publicidade abusiva aquela que é tida como discriminatória, que incite à
violência, explore o medo ou a superstição, aproveite a deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeite valores ambientais, ou, ainda, permita a indução do
indivíduo em comportamento prejudicial ou perigoso à saúde ou segurança. - Art. 37, § 2° do
CDC.

Já a publicidade enganosa é conceituada como qualquer modalidade de informação ou


comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros
dados sobre produtos e serviços. - Art. 37, § 1° do CDC.

Ressalta-se que o uso da publicidade como um meio de divulgação de produtos e serviços não
é uma imposição legal, ao contrário, é uma faculdade do fornecedor. Porém, se este opta por
fazê-la, deve atender todos os dispositivos que a regulam.

Desta forma, para que sejam evitados excessos dos fornecedores, é preciso observar os
princípios que norteiam a prática publicitária de consumo. Vale destacar que os princípios
gerais de consumo são aplicáveis as questões publicitárias, pois orientam a interpretação da
lei.

No que diz respeito, aos princípios específicos, há o da veracidade que prima pela verdade do
produto ou do serviço apresentado pelo fornecedor. Não devem constar falsas impressões que
sugestionem interpretação diversa ou criem falsas expectativas pelo consumidor. A
publicidade deve ser realizada sem ampliar ou omitir informações sobre o que está
anunciando.

O princípio da identidade publicitária se presta para garantir que a publicidade não seja
veiculada com recursos indevidos, tais como, mensagens subliminares, clandestinas,
ofensivas.

No que diz respeito ao princípio da informação, esta preserva o consumidor da ausência de


informações sobre produtos ou serviços, ou seja, ao fazê-la esta deve ser clara e precisa.

O princípio da veracidade trata da representação da verdade nos anúncios dos produtos e


serviços pelos fornecedores, a fim de que os consumidores não sejam induzidos ao erro. Ao
tratar da verdade, a legislação de consumo indica que não pode ser por comissão ou omissão,
ou seja, não deve ter ampliação para valorizar ou omitir características do bem.

Quando se trata do princípio da não - abusividade há relação com o conceito da publicidade


abusiva previsto no §2º, do art. 37, do CDC. Este se conjuga com o princípio da veracidade,
pois reprime os desvios publicitários, especialmente no tocante ao desrespeito às normas
constitucionais.

Já princípio da vinculação obriga o fornecedor as ofertas realizadas nos anúncios


publicitários. Caso ocorra uma mensagem equivocada, tem-se o vínculo das partes. Portanto,
para que se caracterize o engano, é preciso o seu recebimento como verdadeiro pelo
consumidor. Quanto a este aspecto, o Superior Tribunal de Justiça apresentou a seguinte
posição:

Consumidor. Recurso Especial. Publicidade. Oferta. Princípio da vinculação. Obrigação do


fornecedor.

- O CDC dispõe que toda informação ou publicidade, veiculada por qualquer forma ou meio
de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, desde que
suficientemente precisa e efetivamente conhecida pelos consumidores a que é destinada,
obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar, bem como integra o contrato que
vier a ser celebrado.

- Se o fornecedor, através de publicidade amplamente divulgada, garantiu que os imóveis


comercializados seriam financiados pela Caixa Econômica Federal, submete-se a assinatura
do contrato de compra e venda nos exatos termos da oferta apresentada. (REsp 341.405/DF,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/09/2002, DJ 28/04/2003, p.
198)

Vale destacar ainda que, o princípio da vinculação da publicidade foi aplicado em situação
decorrente de falência da empresa, imputando a responsabilidade à fornecedora do bem,
como pode ser vista da decisão do STJ que segue:

Consumidor. Recurso especial. Publicidade. Oferta. Princípio da vinculação. Obrigação do


fornecedor. - O CDC dispõe que toda informação ou publicidade, veiculada por qualquer
forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou
apresentados, desde que suficientemente precisa e efetivamente conhecida pelos
consumidores a que é destinada, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar,
bem como íntegra o contrato que vier a ser celebrado. - Constatado pelo Eg. Tribunal a quo
que o fornecedor, através de publicidade amplamente divulgada, garantiu a entrega de
veículo objeto de contrato de compra e venda firmado entre o consumidor e uma de suas
concessionárias, submete-se ao cumprimento da obrigação nos exatos termos da oferta
apresentada. - Diante da declaração de falência da concessionária, a responsabilidade pela
informação ou publicidade divulgada recai integralmente sobre a empresa fornecedora.

Em havendo a infração dos princípios da publicidade, cabível a responsabilidade do


fornecedor de forma objetiva, isto é, há a obrigatoriedade da reparação do dano
independentemente da comprovação da culpa. Seguindo esta linha, se posicionou o Superior
Tribunal de Justiça, como se verifica na forma que segue:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PROPAGANDA


ENGANOSA. COGUMELO DO SOL. CURA DO CÂNCER. ABUSO DE DIREITO. ART. 39, INCISO IV,
DO CDC. HIPERVULNERABILIDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MORAIS.
INDENIZAÇÃO DEVIDA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL COMPROVADO. 1. Cuida-se de ação por
danos morais proposta por consumidor ludibriado por propaganda enganosa, em ofensa a
direito subjetivo do consumidor de obter informações claras e precisas acerca de produto
medicinal vendido pela recorrida e destinado à cura de doenças malignas, dentre outras
funções. 2. O Código de Defesa do Consumidor assegura que a oferta e apresentação de
produtos ou serviços propiciem informações corretas, claras, precisas e ostensivas a respeito
de características, qualidades, garantia, composição, preço, garantia, prazos de validade e
origem, além de vedar a publicidade enganosa e abusiva, que dispensa a demonstração do
elemento subjetivo (dolo ou culpa) para sua configuração. 3. A propaganda enganosa, como
atestado pelas instâncias ordinárias, tinha aptidão a induzir em erro o consumidor
fragilizado, cuja conduta subsume-se à hipótese de estado de perigo (art. 156 do Código
Civil). 4. A vulnerabilidade informacional agravada ou potencializada, denominada
hipervulnerabilidade do consumidor, prevista no art. 39, IV, do CDC, deriva do manifesto
desequilíbrio entre as partes. 5. O dano moral prescinde de prova e a responsabilidade de
seu causador opera-se in re ipsa em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos
suportados pelo consumidor. 6. Em virtude das especificidades fáticas da demanda, afigura-
se razoável a fixação da verba indenizatória por danos morais no valor de R$ 30.000,00
(trinta mil reais). 7. Recurso especial provido. (REsp 1329556/SP, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 09/12/2014)

Ao analisar a responsabilização do fornecedor, avalia-se a posição das agências publicitárias


e dos veículos de comunicações. Há entendimento majoritário que se inclina para a
responsabilização das agências. Mas, há quem defenda o contrário, que a sua atividade é
apenas de supervisão e, ainda, há a aprovação do anúncio pelo fornecedor, logo, não há que
se falar em responsabilidade da agência.

É possível perceber que, o consumidor está constantemente assediado pelo mercado


publicitário. Para que se estabeleça um equilíbrio das relações se faz necessário avaliar a
conduta dos agentes envolvidos.

Analisando, tem-se que de um lado há o consumidor que está submetido ao estímulo da


aquisição de bens e serviços e do outro o fornecedor cujo objetivo é a obtenção de lucro.

Embora pareçam complementares, há que se considerar que ao consumidor é tido pelo CDC
como vulnerável nesta relação, o que significa dizer mais frágil frente ao fornecedor.

Tomando isso, a norma consumerista visa o equilíbrio das relações entre as partes, não em
detrimento econômico, mas visando minimizar as incongruências que desestabilizam os
contratos que as partes firmam.

A publicidade é tida como influenciadora na aquisição de bens e serviços. Como a cada dia há
a intensificação do seu uso, é preciso que os envolvidos estejam atentos para que não sejam
cometidos abusos ou excessos para que não ocorram desequilíbrios. Assim, a atuação dos
órgãos de controle é relevante, bem como o questionamento daqueles que porventura foram
lesados.

PRÁTICAS ABUSIVAS

Na aquisição de produtos ou serviços, os consumidores podem se deparar com práticas


abusivas de empresas que infringem diretamente o Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Existe uma série de ações que o CDC proíbe, afinal as pessoas estão em posição mais
vulnerável na relação de consumo em comparação com as empresas.

Situações relacionadas ao atendimento, comercialização de produtos e serviços, publicidade


e precificação são apenas alguns exemplos de casos abusivos que podem acontecer. O CDC é
claro quando define essas práticas, por isso, é importante entender seus direitos para evitar
que empresas tentem tirar vantagem indevidamente dos consumidores.

O que são práticas abusivas?

As práticas abusivas são aquelas ações feitas por empresas que violam os direitos e colocam

os clientes em situação de desvantagem. Fica caracterizado o abuso em práticas que

podem induzir o consumidor ao erro ou engano, quando ele adquire produtos e serviços por

pressão ou trapaça.

Práticas abusivas em geral

A lei 8.078 tratou especificamente de regular as práticas abusivas em três artigos: 39, 40 e

41. Mas apenas no art. 39 as práticas que se pretendem coibir, e que lá são elencadas

exemplificativamente, são mesmo abusivas. O art. 40 regula o orçamento e o art. 41 trata de

preços tabelados.

É claro que a não entrega do orçamento e a violação do sistema de preços controlados são

também consideradas práticas abusivas. Porém, a organização do texto não foi muito boa. A

rigor, as chamadas práticas abusivas previstas no art. 39 têm apenas um elenco mínimo ali

estampado. Há outras espalhadas pelo CDC. Por exemplo, a desconsideração da personalidade

jurídica em caso de abuso do direito (art. 28), a cobrança constrangedora (que é regulada no

art. 42, c/c o art. 71), a "negativação" nos serviços de proteção ao crédito de maneira

indevida (que o art. 43 regulamenta), o anúncio abusivo e enganoso, previsto nos parágrafos

do art. 37 etc.

Práticas abusivas objetivamente consideradas

As chamadas "práticas abusivas" são ações e/ou condutas que, uma vez existentes,

caracterizam-se como ilícitas, independentemente de se encontrar ou não algum consumidor


lesado ou que se sinta lesado. São ilícitas em si, apenas por existirem de fato no mundo

fenomênico.

Assim, para utilizarmos um exemplo bastante conhecido, se um consumidor qualquer ficar

satisfeito por ter recebido em casa um cartão de crédito sem ter pedido, essa concreta

aceitação sua não elide a abusividade da prática (que está expressamente prevista no inciso

III do art. 39). A lei tacha a prática de abusiva, portanto, sem que, necessariamente, seja

preciso constatar-se algum dano real.

Práticas abusivas pré, pós e contratuais

As chamadas práticas abusivas podem ser classificadas em "pré-contratuais", que, como o

próprio nome diz, surgem antes de firmar-se o contrato de consumo, como aquelas que

compõem a oferta ou a ação do fornecedor que pretende vincular o consumidor. No primeiro

caso estão, por exemplo, a prática ilícita de condicionar o fornecimento de algum produto ou

serviço à aquisição de outro produto ou serviço, conhecida como operação casada4. Na

segunda hipótese está, por exemplo, o envio do cartão de crédito sem que o consumidor

tenha pedido, acima comentado.

A prática "pós-contratual" surge como ato do fornecedor por conta de um contrato de

consumo preexistente. Como exemplo, tome-se a "negativação" indevida nos serviços de

proteção ao crédito.

E a "contratual" é aquela ligada ao conteúdo expresso ou implícito das cláusulas estabelecidas

no contrato de consumo. Tomem-se como exemplo todas as hipóteses de nulidade previstas

no art. 51 e a do inciso IX do art. 39, que dispõe como abusiva a não estipulação de prazo

para o cumprimento da obrigação pelo fornecedor.

ORÇAMENTO

Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio

discriminando o valor da mão- de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados,

as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.


BANCO DE DADOS DE CONSUMIDORES E FORNECEDORES

Bancos de dados são um conjunto de informações e registros sobre pessoas, lugares ou coisas,

na maioria das vezes, armazenados eletronicamente. Ao trazer esse assunto à seara

consumerista é necessário abordar sobre a origem e a finalidade desses bancos de dados.

A previsão de existência de banco de dados está a partir do art. 43 do Código de Direito do

Consumidor (CDC) e contribui para o equilíbrio nas relações entre o consumidor e o

fornecedor e, conforme visto, esse equilíbrio é um dos pilares da política nacional de

consumo previsto no art. 4º, III, do CDC.

Isso porque eles buscam dar publicidade à inadimplência de determinado consumidor,

fazendo com que o fornecedor tenha maior garantia na realização de seus negócios.

Os arquivos de consumo (bancos de dados e cadastros de consumidores) podem ser públicos,

quando instituídos e mantidos por entidades oficiais (PROCONS, Bacen, Cadin), ou privados,

quando instituídos e mantidos por entidades particulares (SPCs e Serasa), mas TODOS são

considerados de caráter público, conforme o §4o do art. 43.

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações

existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre

ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.

§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em

linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a

período superior a cinco anos.

§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser

comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.


§ 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá

exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a

alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

§ 4° Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao

crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público.

§ 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão

fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que

possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.

§ 6o Todas as informações de que trata o caput deste artigo devem ser disponibilizadas em

formatos acessíveis, inclusive para a pessoa com deficiência, mediante solicitação do

consumidor.

CADASTRO POSITIVO, SISTEMA DE ESCORES. LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS

→ Lei do Cadastro Positivo (Lei 12.414/2011)

Disciplina a formação e consulta a bancos de dados com informações de adimplemento, de

pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito.

→ Sistema de escore de crédito

Súmula 550 STJ: A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação de risco

que não constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o

direito de solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos

dados considerados no respectivo cálculo.

→ Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018)

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por

pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de
proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da

personalidade da pessoa natural.

Fundamentos (art. 2o):

I - o respeito à privacidade;

II - a autodeterminação informativa;

III - a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião;

IV - a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;

V - o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;

VI - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e

VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício

da cidadania pelas pessoas naturais.

→ Art. 44 CDC: obrigação para os órgãos públicos de defesa do consumidor de manterem

cadastros atualizados de reclamações fundamentadas feitas contra fornecedores, com

publicação anual, inclusive com informações sobre as que foram atendidas.

VISÃO DO STJ E DO STF

Jurisprudência STJ sobre arquivos de consumo:

Súmula 323 STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção

ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução.

Súmula 359 STJ: Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação

do devedor antes de proceder a inscrição. [Segundo o STJ, a ausência de comunicação prévia

ao consumidor caracteriza dano moral]


Súmula 404: É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao

consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.

No caso de inscrição irregular, a responsabilidade é do fornecedor e não do arquivista.

Súmula 385 STJ: Da anotação irregular em Cadastro de Proteção ao Crédito, não cabe

indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao

cancelamento.

A simples inscrição irregular já é por si só suficiente para configurar o dano moral, não

havendo necessidade da prova do prejuízo sofrido (dano in re ipsa). Por outro lado, o dano

material, em decorrência da inscrição indevida, não pode ser apenas alegado, devendo estar

provado nos autos.

A responsabilidade pela retirada do nome do consumidor do cadastro, quando quitada a

dívida, é do fornecedor.

Súmula 404 do STJ "é dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao

consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros ".

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