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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRAND DO NORTE

CAMPUS AVANÇADO DE NATAL


CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO DO CONSUMIDOR
PROFESSORES: CARLOS SÉRGIO GURGEL DA SILVA E BRUNO JOSÉ AZEVEDO

Componente(s):
Bruno Felipe Gonçalves

ESTUDO DIRIGIDO

Data de entrega do estudo: Dia 10 de fevereiro de 2020, em sala e aula. Esta atividade pode
ser feita de forma individual ou em dupla.

Fontes de Consulta: Livros, físicos ou virtuais.

OBS: Esta é uma atividade avaliativa para a 3ª unidade e se somará a avaliação do seminário.
Portanto, fundamentem bem suas respostas.

Responda, fundamentadamente, às seguintes perguntas:

1) Cite e comente 4 cláusulas consideradas abusivas em contratos de fornecimento de


produto ou serviço, com exemplos de aplicação;
R= Cláusulas abusivas são aquelas que colocam o consumidor em desvantagem nos contratos de
consumo. O consumidor que se deparar com uma cláusula abusiva poderá recorrer à Justiça para
pleitear sua nulidade, e, consequentemente, livrar-se da obrigação nela prevista. São abusivas
não só as cláusulas contratuais a que se refere o Código do Consumidor, como também aquelas
previstas nas Portarias do Ministério da Justiça.
De acordo com o Código do Consumido são consideras cláusulas abusivas em contratos de
fornecimento de produto ou serviços aquelas contidas no art. 51.

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do
fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou
impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de
consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga,
nos casos previstos neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;”

Cita-se como exemplo:


APELAÇÃO. ESTABELECIMENTO DE ENSINO. AÇÃO MONITÓRIA.
INDEFERIMENTO DO REQUERIMENTO DE TRANCAMENTO DA
MATRÍCULA POR EXTEMPORANEIDADE. CLÁUSULA
CONTRATUAL ABUSIVA. NULIDADE RECONHECIDA.
INTELIGÊNCIA DO ART. 51, IV E § 1º, DO CDC. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO1.

2) O que significa cobrança vexatória? Quais princípios constitucionais são violados com
esta prática? Comente e cite exemplos de aplicação;

R= É possível afirmar que a cobrança vexatória é o ato de cobrar o devedor de


maneira explicita e humilhante em determinados recintos não propícios ao contexto de
cobrança. Cita-se como exemplo, a manifestação do requerimento de dado pagamento em
lugares públicos, tais como: praças, supermercados e locais de grande fluxo de pessoas, locais
estes que irão expor e constranger diretamente o indivíduo (devedor).
Visto isso, é válido destacar o art. 42 do CDC: “" Art. 42. Na cobrança de débitos, o
consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça”. Além disso, salienta-se o art. 71, do CDC 2: “Art. 71. Utilizar, na
cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas
incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor,
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer [...]”.
Cita-se como exemplo o caso de Francinete Soares dos Santos 3:
Trata-se de Apelação Cível interposta pelo Instituto Brasil de
Pesquisa e Ensino Superior Ltda. – IBRAPES em face da sentença
proferida pelo Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de
Mossoró/RN (fls. 145/154), nos autos da Ação Indenizatória nº 0000166-
1
Fonte: https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/614613309/apelacao-apl-10844011320178260100-
sp-1084401-1320178260100?ref=serp
2
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 10 de fevereiro de 2020.
3
Fonte: https://www.migalhas.com.br/arquivos/2014/10/art20141010-06.pdf. Acesso em 10 de fevereiro
de 2020.
61.2009.8.20.0106, ajuizada em seu desfavor por Francinete Soares dos
Santos, que julgou procedente o pedido para condenar a instituição de
ensino ao pagamento de indenização por danos morais na importância de
R$ 8.000,00 (oito mil reais), revogou a medida liminar concedida e
reduziu em 50% (cinquenta por cento) o valor da multa cominatória.

O mérito da irresignação recursal consiste em ver julgado improcedente


o pedido de indenização por danos morais ou que seja minorado o valor
fixado na primeira instância. 8. De fato, compulsando os autos, entendo
estar configurado o dano moral narrado na exordial pois a apelada sofreu
aborrecimento, frustração e constrangimento em virtude da cobrança
vexatória, impedindo-a de permanecer em sala de aula, em razão do
inadimplemento da mensalidade escolar.
[...]
EMENTA: "AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE
INADIMPLENTES. CONTA-CORRENTE. DESCONTOS
INDEVIDOS SOBRE PROVENTOS. DANO MORAL. REQUISITOS
CONFIGURADORES. PRETENSÃO DE AFASTAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS.
SÚMULA 7/STJ. INDENIZAÇÃO DEVIDA PELA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. IN RE IPSA. PRECEDENTES. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. VALOR RAZOÁVEL. SÚMULA 7/STJ

3) Gerlúvio está com a parcela de seu automóvel atrasada há 60 dias. Ele ainda não tem
como pagar tais prestações, mas ainda não quer desistir do contrato, pois tem uma
perspectiva de recebimento de um dinheiro que vai lhe permitir quitar todo o
financiamento. Neste caso, enquanto ainda não pagou as parcelas atrasadas, que já
somam duas, ele recebe mais de 20 (vinte) ligações por dia em seu celular, do setor de
cobrança de um escritório de advocacia responsável pela cobrança de parcelas em
atraso. A financeira pode ser responsabilizada pelo excesso de cobrança? A empresa
está agindo errado? Responda, fundamentadamente, à luz do código de defesa do
consumidor;

R= Primeiramente, é de suma importância destacar determinados aspectos que o CDC 4 assegura


ao cidadão consumidor.
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será
exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável
.
Além disso, o art. 71, do CDC, assegura ao consumidor:

4
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação,
constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou
enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o
consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu
trabalho, descanso ou lazer:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Diante disso, o CDC assegura ao consumidor-devedor limites nas cobranças de suas dívidas.
Logo, a empresa responsável por realizar as cobranças encontras em utilização abusiva do seu
direito de cobra o inadimplente.

Toma-se como exemplo5:


AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL.
COBRANÇA EFETIVADA POR MEIO DE EXCESSIVAS LIGAÇÕES
TELEFÔNICAS. SUSPENSÃO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
DEFERIMENTO. EXISTÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA. Para o
deferimento da antecipação de tutela é indispensável a existência de prova
inequívoca e verossimilhança da alegação, somadas ao fundado receio de
dano irreparável ou de difícil reparação (art. 273, I, CPC), requisitos
verificados no caso concreto. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.
(Agravo de Instrumento Nº 70057603060, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em 02/12/2013)
(TJ-RS - AI: 70057603060 RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Data de
Julgamento: 02/12/2013, Décima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário
da Justiça do dia 18/12/2013)
COBRANÇA DE DÍVIDA EM TERMINAL TELEFÔNICO DO
TRABALHO. NÚMERO EXCESSIVO DE LIGAÇÕES. CONTATO COM
O DEVEDOR E DIVERSOS COLEGAS. ABUSIVIDADE. DANO
MORAL. OCORRÊNCIA. - Configura cobrança vexatória ensejadora de
dano moral o número excessivo de chamadas para o terminal telefônico do
local de trabalho do devedor, bem como a participação a seus colegas acerca
da finalidade do contato. (TJ-RO - RI: 10068701320148220601 RO
1006870-13.2014.822.0601, Relator: Juiz José Jorge R. Da Luz, Data de
Julgamento: 30/03/2016, Turma Recursal, Data de Publicação: Processo
publicado no Diário Oficial em 04/04/2016.)

4) Lívia aparenta ser uma mulher saudável. Apesar de ter 40 anos de idade, nunca tinha
comido cuscuz na vida. Em um hotel em Natal/RN, durante suas férias do trabalho
Lívia comeu cuscuz no café da manhã e logo depois, começou a passar mal, com
vômitos e diarréia. Ela informou que não tinha alergia a milho e não entendia porque
estava tão mal. Quando foi ao médico, este suspeitou que ela pudesse ter alergia a
algum componente do milho transgênico. Feitos os testes, confirmou-se a suspeita do
médico. Neste caso, o fabricante do cuscuz responde pelo dano causado à consumidora?
Justifique.

R= Segundo o art.6, do CDC:


5
Fonte: https://fabiofettuccia.jusbrasil.com.br/noticias/394189990/cobranca-por-telefone-tem-limite
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem”.
“Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não
acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os
considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição,
obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações
necessárias e adequadas a seu respeito [...]”.
“Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou
perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e
adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da
adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto”.
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e
riscos [...]”.
“Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar
informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa
sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço,
garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os
riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos
refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével”.

Diante do exposto e do caso em tela, o fato de Lívia passar mal por conta do consumo do alimento cucuz,
com base de milho transgênico não se pode imputar responsabilização por parte do fornecedor, uma vez
que no caso narrado não há informações se havia ou não a descrição na embalagem da produção do
produto.

Todavia, na hipótese de não haver a informação na embalagem sobre a procedência e os componentes


utilizados na fabricação do produto, o produtor deverá arcar com os danos morais sofridos por Lívia.

5) Cite e explique 3 casos de publicidades vedadas, de acordo com o código de defesa do


consumidor, com exemplos de aplicação.
R= A publicidade é tida como uma ferramenta capaz de auxiliar na circulação de bens e
serviços, contribuindo com a economia e a geração de riquezas. Ocorre que, se faz necessária
avaliar em que medida deve ser adotada esta prática pelo empresariado, sob pena do
cometimento de abusos frente aos consumidores e, até mesmo, diante dos concorrentes. Desta
forma, a informação, transparência e harmonia das relações devem ser preservadas.
Exemplos 16:
6
Fonte: https://www.migalhas.com.br/depeso/284819/a-publicidade-no-codigo-de-defesa-do-
consumidor
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. PROPAGANDA ENGANOSA. COGUMELO DO SOL.
CURA DO CÂNCER. ABUSO DE DIREITO. ART. 39, INCISO IV, DO
CDC. HIPERVULNERABILIDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO DEVIDA. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL COMPROVADO.

Exemplo 27:
Segunda Turma mantém condenação de empresa por publicidade infantil
indevida
A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve nesta
quinta-feira (10) a condenação proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo (TJSP) de uma empresa do ramo alimentício por publicidade
voltada ao público infantil, caracterizada como venda casada.

A ação civil pública foi proposta pelo Ministério Público Estadual de São
Paulo contra campanha publicitária promovida pela empresa, que oferecia
relógios inspirados em personagens infantis, caso o consumidor adquirisse
cinco pacotes de bolachas e pagasse mais cinco reais.

A empresa alegou que a campanha publicitária era dirigida aos pais. Negou,
assim, a acusação de se tratar de prática enganosa, abusiva e ilegal, segundo o
Código de Defesa do Consumidor (CDC) e o Código Brasileiro de
Autoregulamentação Publicitária.

Exemplo 38:

Ação Civil Pública Publicidade voltada ao público infantil Venda casada


caracterizada Aquisição dos relógios condicionada à compra de 05 produtos
da linha “Gulosos” Campanha publicitária que infringe o artigo 37 do Código
Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária Utilização de verbos no
imperativo inadequada Proibição pelo Conar do uso dessa linguagem em
publicidade voltada às crianças Prática comum, que deve ser repudiada
Publicidade considerada abusiva, que se aproveita da ingenuidade das
crianças Sentença reformada Apelo provido Verbas sucumbenciais impostas
à ré.

7
Fonte: http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2016/2016-03-
10_18-11_Segunda-Turma-mantem-condenacao-de-empresa-por-publicidade-infantil-indevida.aspx
8
Fonte: https://www.migalhas.com.br/quentes/178487/bauducco-e-condenada-por-promocao-voltada-
a-criancas

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