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AO DOUTO JUÍZO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE ALTO PARNAÍBA –

ESTADO DO MARANHÃO

Processo nº 0800282-82.2022.8.10.0065

ONESINA BRANDÃO DA SILVA, já qualificada nos autos do processo em epígrafe,


vem, por meio de sua advogada infra-assinada, apresentar CONTRARRAZÕES AO
RECURSO DE APELAÇÃO, requerendo seu processamento e remessa à Turma
Recursal, com as razões anexas, após observadas as formalidades de estilo.

Termos em que, pede deferimento.

Alto Parnaíba – MA, data e hora certificada pelo sistema eletrônico.

MICHELE BRANDÃO COELHO


OAB n° 10.648 – TO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO

CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO

Processo: 0800282-82.2022.8.10.0065/MA

Apelado: ONESINA BRANDÃO DA SILVA

Apelante: BANCO BRADESCO S.A.

Juízo “a quo”: Vara Única da Comarca de Alto Parnaíba - MA

BENEFICIÁRIA DE JUSTIÇA GRATUITA

COLENDA CÂMARA JULGADORA,

EMÉRITOS JULGADORES,

1. DO RESUMO DA DEMANDA

Trata-se de AÇÃO DE CONVERSÃO DE CONTA CORRENTE SUJEITA À


TARIFAÇÃO PARA CONTA CORRENTE COM PACOTE DE SERVIÇOS TARIFA
ZERO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS C/C
REPETIÇÃO DE INDÉBITO.

Em seguida foi prolatada a sentença julgando parcialmente procedente os


pedidos conforme adiante explanado.

Alega a parte apelante, em síntese, que a sentença merece reforma uma vez que
houve a efetiva contratação da tarifa por parte da recorrida.
Todavia, tais argumentos não merecem ser acolhidos, como se demostrará a
seguir.

2. DAS RAZÕES PARA IMPROVIMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO

2.1 DA AUSÊNCIA DO CONTRATO

O presente feito nasceu sob argumentação de que a parte jamais contratou


algum serviço que gerasse o encargo em sua conta.

Ora, tendo em vista que a parte autora alega fato negativo, isto é, de não ter
contratado o serviço “TARIFA BANCÁRIA e/ou CESTA DE SERVIÇOS”, cabe à
parte Requerida a comprovação de fato positivo contrário, ou seja, de que a parte
autora contratou o serviço, o que se demonstraria através de um contrato assinado pela
mesma.

Sabe-se que incube à parte ré trazer fato impeditivo, modificativo ou extintivo


do direito da autora (art. 373, II, do CPC), especialmente porque diante da relação
tipicamente consumerista como no caso dos autos, este é o entendimento já pacificado
pela súmula 479, senão vejamos:

As instituições financeiras respondem objetivamente


pelos danos gerados por fortuito interno relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações bancárias.

Desta feita, a apresentação de contrato que pudesse dar azo as cobranças na


CONTA BENEFÍCIO da parte autora é meio hábil para comprovar contrário ao
alegado na exordial, o que não ocorreu.

Assim, a parte requerida não se desincumbiu de seu ônus processual, pois não
demonstrou que a parte autora tenha realizado a contratação da Conversão da Conta
Corrente com Pacote de Serviços Tarifas Zero para Conta Corrente com Cobrança de
Tarifas Bancárias, sendo esta justamente a causa de pedir, não podendo mais alegar
fato controverso, na medida em que, diante da ausência de apresentação de
instrumento de concordância para justificar a referida cobrança.
Neste passo, sabe-se que o envio/cobrança de um produto não solicitado é
conduta é veementemente reprovada, a qual culminou no verbete sumular nº 532 do
STJ, senão vejamos:

Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão


de crédito sem prévia e expressa solicitação do
consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e
sujeito à aplicação de multa administrativa.

Desta feita, o ressarcimento buscado pela parte autora, no caso dos autos, é
medida que se impõe, para que a tutela jurisdicional se dê a título reparatório e
repressivo, uma vez que práticas abusivas como a em comento têm aumentado
significativamente em face de idosos – consumidores extremamente vulneráveis.

Já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Maranhão e a Egrégia Turma


Recursal do Estado que a juntada do Contrato pelo Banco é imprescindível ao
reconhecimento da regularidade na contratação. Vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. DESCONTOS DE TARIFA BANCÁRIA
NÃO CONTRATADA. DANO MORAL
CARACTERIZADO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO
EM DOBRO. RECURSO PROVIDO. I - O apelado
não se desincumbiu do ônus de comprovar que a
recorrente solicitou ou autorizou a cobrança da tarifa
denominada Cesta Expresso 2, não sendo possível
atribuir a autora a produção de prova
negativa/diabólica acerca de um serviço que alegou
não ter contratado. II - A cobrança de tarifas não
solicitadas constitui prática ilícita que viola o dever de
informação e a boa-fé objetiva, exsurgindo para o
apelado o dever de indenizar os danos decorrentes da
má prestação dos serviços. III - O dano moral é in re
ipsa e o valor arbitrado deve observar, além do caráter
reparatório da lesão sofrida, o escopo educativo e
punitivo da indenização, de modo que a condenação
sirva de desestímulo ao causador do ilícito a reiterar a
prática lesiva, sem que haja, por outro lado,
enriquecimento sem causa por parte da vítima. IV - Os
danos materiais são evidentes, posto que a apelante
sofreu diminuição patrimonial com os descontos
indevidos em sua conta, sendo a repetição do valor
efetivamente descontado devida nos termos do art.
42, Parágrafo único, do Código de Defesa do
Consumidor. V - Recurso provido. (TJMA; AP
049464/2015; Primeira Câmara Cível; Relª Desª
Ângela Maria Moraes Salazar; Julg. 03/11/2016;
DJEMA 08/11/2016). (grifo nosso)

2.2 DA ALEGAÇÃO DE UTILIZAÇÃO DA CONTA CORRENTE – USO QUE


NÃO SE ENQUADRA NA CONTA ISENTA DE TARIFAÇÃO

Excelência, a beneficiária do INSS precisa ter uma conta para receber seus
proventos, não sendo oportuno, todavia, a cobrança pela utilização da referida conta.

No presente caso é possível verificar o ato ilícito da parte Requerida, frente a


parte Requerente, que é pessoas idosa, vulnerável, de pouco e sem nenhum estudo,
tendo em vista que a mesma passou a sofrer descontos em seu Benefício nominados
de Tarifa Bancária CESTA DE SERVIÇOS, assim como a cobrança de serviços
essenciais, o que é vedado pela Resolução nº 3.919 do BACEM, prejudicando
diretamente seu orçamento, porque além da cobrança destas tarifas, a parte
Requerente passou a sofrer vários outros descontos desnecessários como consequência
da mudança de conta, ou seja, seu Benefício de apenas 1 (um) salário mínimo, utilizado
para todas as suas necessidades básicas.

2.3 DA ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL

Em relação ao caso em comento, dúvida não há, de que a Requerente tem


direito a uma indenização por dano moral justa e adequada, uma vez que lhe foi
cobrado e debitado um serviço, não contratado, imposto de maneira abusiva e
unilateral, de sua conta benefício, que além de pouca, é utilizada para custeio dos seus
medicamentos e despesas familiares.

Diante disso, na forma do art. 14, do Código de Defesa do Consumidor,


determina:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.

Além do mais, a responsabilidade é a obrigação de reparar um dano, seja por


decorrer de uma culpa ou de uma circunstância legal que a justifique, como a culpa
presumida, ou por uma circunstância meramente objetiva, nos termos dos arts. 186,
927 e 932, III, do Código Civil Brasileiro.

Dessa forma, a conduta do Requerido representa prática abusiva vedada pelo


CDC, que avilta o consumidor frustrando-lhe as expectativas. Hipótese que não trata
de simples aborrecimento, mas de transtornos que deveriam e poderiam ser evitados
pelo Requerido, caso a ênfase na sua prestação fosse o respeito ao consumidor, o que
não se vislumbra no caso em espécie.

Portanto, não constituem mero inadimplemento contratual, mas conduta


abusiva que deve ser coibida, sobretudo quando realizada sem que o prestador se
predispusesse a solucionar o problema.

Dessa forma, a indenização pecuniária em razão de dano moral, apresenta-se


como um lenitivo que atenua, em parte, as consequências do prejuízo sofrido,
superando o déficit acarretado pelo dano.

2.4 ALEGAÇÃO DE QUE O VALOR DO DANO MORAL DEVE SER


MÍNIMO
No caso em apreço os descontos realizados na conta da parte Autora, que recebe
apenas recebe (01) um salário mínimo lhe causou transtorno e consequentemente suas
necessidades básicas foram desassistidas. A partir do momento que se procede a um
desconto não autorizado na conta da parte Requerente é inescapável reconhecer que
diminui o seu poder aquisitivo, comprometendo a atender os recursos materiais
mínimos para sua existência.

Tal desconto viola o direito do autor ao patrimônio e a dignidade, causando-lhe


transtornos que superam a normalidade. Por isso a indenização deve ser fixada,
proporcional à intensidade da dor, que, por sua vez, é relativa à importância da lesão
para quem a sofreu. Além do mais, não se pode perder de vista, que a satisfação
compensatória soma-se também o sentido punitivo da indenização, de modo que
assume especial importância na fixação do quantum indenizatório a situação
econômica do causador do dano.

2.5 DOS JUROS DE MORA

Conforme prevê a súmula 54 do STJ, os juros de mora devem contar a partir do


evento danoso, vejamos: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso
de responsabilidade extracontratual. Dessa forma, não merece prosperar a alegação da
parte requerida, que os juros de mora devem ser contados a partir do momento em
que se tornou líquida a obrigação da requerente em indenizar, ou seja, no momento
em que foi proferida a sentença.

2.6 DA ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Trata-se de cobrança irregular, indevidamente paga pela parte autora, devendo


o banco requerido ser responsabilizado a restituir em dobro os valores indevidamente
cobrados, nos termos do parágrafo único do artigo 42 da Lei 8078/90, verbis:

Art. 42. (...) Parágrafo único. O consumidor


cobrado em quantia indevida tem direito à
repetição do indébito, por valor igual ao dobro
do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável. (grifo nosso)

Nesse passo, caracterizada a relação de consumo, e ante a negligência e


imprudência da instituição bancária que efetua descontos em benefício previdenciário
sem as cautelas necessárias na formalização de seus contratos, bem como diante da
ausência de engano justificável por parte do fornecedor do serviço bancário, cumpre a
este a restituição em dobro do quantum descontado indevidamente.

Portanto, Excelência, pela inexistência de engano justificável que exima a


responsabilidade do banco Recorrido, nada mais justo que seja mantida a fixação da
verba dobrada, como reconhecida acertadamente pelo juízo de origem.

3. DA MANUTENÇÃO DA SENTENÇA PELOS SEUS PRÓPRIOS


FUNDAMENTOS

Trata-se de recurso no mínimo protelatório, desprovido de fundamentação. A


r. sentença recorrida espanca, com brilhantismo, os argumentos preliminares do
recorrente, e está de acordo com o entendimento de vários Tribunais do Brasil,
inclusive o STJ.

4. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer aos Nobres Julgadores que sejam apreciadas as


contrarrazões do recurso de Apelação, a fim de que não seja dado provimento ao
recurso.

Ademais, requer a condenação da parte recorrente ao pagamento de honorários


de sucumbência.

Termos em que, pede deferimento.


Alto Parnaíba – MA, data e hora certificada pelo sistema eletrônico.

MICHELE BRANDÃO COELHO


OAB n° 10.648 – TO

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