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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4a VARA CÍVEL DA COMARCA DE

BETIM/MG.

PROCESSO Nº: 0000000-00.0000.0.00.0000

Nome, já qualificada no processo em epígrafe, vem respeitosamente a presença de V.Exa., em


que contende com TAM LINHAS AÉREAS S.A, igualmente qualificados, vem respeitosamente a
presença de V.Exa., por intermédio de seus advogados, apresentar a presente RÉPLICA À
CONTESTAÇÃO, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

I - RESUMO DO PROCESSO

Trata-se de ação indenizatória por danos morais e matérias, onde a Requerente após viajar
com a companhia aérea Requerida, com destino Cuiabá/MT à Belo Horizonte/MG, teve sua
bagagem extraviada, conforme se provou pelos documentos anexos no Id. (00)00000-
0000(Relatório Extravio de Bagagem).

Após diversos contatos com a Requerida na tentativa de solucionar o problema e ter seus
pertences devolvidos, em 09/01/2020 a mala fora encontrada e devolvida a Requerente,
entretanto, danificada, conforme se vê pelas fotos anexas no Id.111146790.

Apesar de formalizar a insatisfação pelo ocorrido por contato telefônico e e-mail encaminhado
a Requerida, não houve qualquer ressarcimento, o que ensejou a presente ação.

Diante disto, pugnou pela condenação da Requerida a indenização por danos materiais em
virtude das avarias na mala extraviada, bem como indenizar a Requerente pelos danos morais
sofridos.

Deferido os benefícios da assistência judiciária gratuita à Requerente, foi determinada a


citação da Requerida. Devidamente citada, apresentou defesa rechaçando os argumentos
elencados na inicial.

II - DAS PRELIMINARES ARGUIDAS

II. 1 - DA ALEGADA FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL


Na tentativa de se esquivar de sua responsabilidade, alega a Requerida que a demanda carece
de interesse processual, pois a Requerente não poderia ter provocado o Poder Judiciário, sem
a prévia submissão do conflito a plataforma consumidor.gov.

Entretanto, apesar das meras alegações, não é o que se extrai da presente ação, ao contrário
do alegado, a Requerente tentou solucionar o conflito amistosamente, o que só não foi
possível pela intransigência da Requerida. Demais disto, destaca-se que o contato com a
Requerida para solução do conflito se deu por telefone e e-mail, conforme narrativa da
exordial, e, sequer fora impugnada pela Requerida, sendo portanto, matéria confessada e
incontroversa.

Diante disto, não há que se falar em ausência de pretensão resistida, tampouco em


obrigatoriedade de se valer da referida plataforma, eis que tal afirmativa viola o princípio
constitucional da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, inciso XXXV da CRFB) e onera
excessivamente o consumidor. Como é de conhecimento cursivo, a fornecedora de serviços
não pode, privar o consumidor da tutela jurisdicional ou lhe impor um ônus demasiado (como
o de se submeter à mediação extrajudicial por uma plataforma até então desconhecida).

Por todo o exposto, não existem razões para uma nova tentativa de acordo pela plataforma
indicada, sendo imperativa a atuação da autoridade jurisdicional. Demais disto, totalmente
descabida a preliminar invocada pela Requerida.

II.2 - DO PEDIDO DE SUSPENSÃO DO FEITO POR 90 (NOVENTA) DIAS

Quanto a tal ponto, não merece maiores considerações, haja vista, que o pedido já fora
apreciado por esse Juízo, que na oportunidade, acertadamente não o acatou.

II. 3 - DEFESA À IMPUGNAÇÃO À GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A Requerida contesta indevidamente a concessão da gratuidade de justiça. Isto porque, para


comprovar sua hipossuficiência a Requerente que até então era aposentada por invalidez, em
função de uma nova perícia teve que voltar a exercer a função de cobradora, por assim ser,
anexou aos autos o histórico de rendimentos do INSS - Doc. Id.00000-00 declaração de
hipossuficiência econômica, à ID, ((00)00000-0000).

Logo, conclui-se que tais documentos são suficientes para apreciação do pedido de gratuidade
de justiça, benefício que inclusive já fora deferido e deve ser mantido, com fundamento nos
art. 5º, LXXIV da CRFB/88 consorciado com os artigos 98 e 99, § 3º do CPC/2015.
III- RÉPLICA À CONTESTAÇÃO

DO MÉRITO

III. 1 - DAS RAZÕES DA IMPROCEDÊNCIA DAS ALEGAÇÕES DO REQUERIDO

Da análise da contestação oferecida pela Requerida, nota-se, primeiramente, a infundada


tentativa de aplicação das disposições do Código Brasileiro da Aeronáutica em detrimento das
normas do CDC.

Cumpre salientar inicialmente, que se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos
de prestação de serviços de transporte aéreo. Isto porque a responsabilidade civil das
companhias aéreas em decorrência da má prestação de serviços, após a entrada em vigor da
Lei nº 8.078/90, não é regulada pela Convenção de Varsóvia e suas posteriores modificações
(Convenção de Haia e Convenção de Montreal), ou pelo Código Brasileiro de Aeronáutica,
subordinando-se, portanto, ao Código Consumerista.

Impugnado, portanto, a alegação de que o caso em comento aplicam- se o Código Brasileiro de


Aeronáutica, e não o Código de Defesa do Consumidor. Isto, porque, a tese sustentada pela
Requerida, encontra-se completamente superada e não merece maiores considerações, diante
do caráter impositivo das disposições consumeristas.

Asseverou ainda a Requerida, que a Requerente teve sua bagagem restituída dentro do prazo
legal, segundo sua interpretação a resolução 400 da ANAC. E mais, alega que a Requerente
recebeu sua bagagem e deu plena quitação para mais nada reclamar, não havendo que falar
em a responsabilidade civil.

Ora data Maxíma vênia , não há razão para tal despautério, registre-se que a relação havida
entre as partes é, sem dúvida de natureza consumerista, enquadrando- se as mesmas nos
conceitos de consumidor, (Requerente) e, fornecedor, (Requerida) respectivamente. Ademais,
receber a mala após extraviada e danificada não isenta a Requerida ou atenua sua
responsabilidade de ter que reparar os danos sofridos pela Requerente, face a má prestação
de serviços da Requerida, resultando em prejuízos materiais e morais. Assim, Impugna-se com
veemência.

Desta feita, aplica-se ao caso, as normas consumeristas além das normas de direito civil, sobre
a matéria, inclusive ratificadas pelo STF, vislumbrado no Recurso Especial (RE- nº 636331).
Ademais, sobre a responsabilidade do transportador, as normas gerais de transporte de
pessoas, são explicitadas e estabelecidas também no Código Civil, que dispõe o seguinte:

"Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas
bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da
responsabilidade." Grifei.

Isto, porque, quando é celebrado o contrato de concessão ou permissão do serviço público, a


pessoa jurídica contratante é sabedora dos entraves burocráticos ou dos limites em que
poderá operar a atividade empresária objeto do contrato. Se ainda assim, assume os riscos,
porque se compensam com os ganhos auferidos, responderá pelos danos causados aos seus
consumidores.

Ademais, cabe à Requerida assumir os riscos inerentes à atividade econômica que explora, não
sendo aceitável que repasse obstáculos no desempenho da sua atividade aos consumidores
hipossuficientes.

Prossegue alegando a suposta inexistência de comprovação do alegado dano moral e material.


Não obstante, às alegações apresentadas, carece-lhe a razão, conforme será adiante
comprovado.

No caso, é inconteste o transtorno e o abalo emocional da passageira, que ao chegar ao


destino, fica dias sem ter sua bagagem e, após recebê-la, depara-se com sua mala violada e
danificada, tendo, ainda, que se preocupar com as medidas e procedimentos de reembolso.

Vejamos que a falha na prestação dos serviços da Requerida foi consumada, sendo confirmada
pelos documentos anexos no Id. (00)00000-0000(Relatório de extravio de bagagem) e pelas
fotos anexas no Id.((00)00000-0000), assim, fica cristalino a ocorrência do dano moral e dano
material, restando por tanto, totalmente impugnada.

Basta, pois, a comprovação do liame de causalidade entre o defeito do serviço e o evento


danoso experimentado pelo consumidor, cuja responsabilidade somente poderá ser afastada
nas hipóteses de força maior, eventos imprevisíveis, inexistência do defeito e culpa exclusiva
do ofendido e de terceiros, o que não ocorreu provado no caso.

Nesse prisma, ao impedir que o consumidor que contratou regularmente o serviço de


transporte aéreo pudesse chegar ao destino com toda a sua bagagem em mãos, em respeito
ao disposto no artigo 4º, inciso III, do Código do Consumidor, a conduta da Requerida
consubstancia-se, a toda evidência, em prática manifestamente abusiva, em afronta ao artigo
39 do Código de Defesa do Consumidor, violando o princípio da boa-fé objetiva que deve
nortear as relações de consumo.

Com efeito, mostram-se críveis as alegações da Requerente, já que comprovou por meio dos
documentos acostados, o defeito na prestação dos serviços, os danos gerados e o nexo de
causalidade. Assim, resta patente o dever de indenizar por parte da empresa Requerida, pelos
danos materiais e morais suportados pela Requerente, diante da incontroversa retenção de
sua bagagem. Configurou-se, desta forma, o ato ilícito (falha na prestação do serviço), que
enseja a reparação dos danos.

O que se infere é que as partes firmaram um contrato com obrigação de resultado. Entretanto,
este contrato não foi cumprido a contento, na medida em que ocorreu o extravio de sua
bagagem, de modo que o resultado esperado pelos passageiros não foi alcançado, tal como
contratado.

A conduta do fornecedor que extravia bagagem, deixando o consumidor sem seus pertences
durante o período da viagem é ilícita, trazendo transtornos e angústia que ultrapassam o mero
dissabor, razão pela qual gera o dever de indenizar a vítima pelo prejuízo moral sofrido.

Além disso, é indiscutível que em função desse extravio de mala, sem seus pertences, o
consumidor vê-se compelido a gastar valores imprevistos para suprir necessidades mínimas de
vestimenta e higiene, além de desperdiçar tempo de lazer para adquirir tais produtos.

Nesse sentido, os precedentes desta Corte:

DIREITO CIVIL. PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO
MATERIAL E MORAL. CARACTERIZADOS. EXTRAVIO TEMPORÁRIO DE BAGAGEM. VIAGEM
INTERNACIONAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. SENTENÇA MANTIDA.

1. Embora os fundamentos da sentença sejam com base no Código de Defesa do Consumidor,


não contraria o julgado RE 00.000 OAB/UF

do Supremo Tribunal de Justiça, em sede de repercussão geral, porque o montante fixado na


primeira instância, a título de danos materiais, é inferior ao teto do julgado.

2. Os danos morais devem ser indenizados com a aplicação do Código de


Defesa do Consumidor, uma vez que restaram configurados os elementos da responsabilidade
civil como o extravio temporário da bagagem, o nexo de causalidade entre a conduta e o abalo
na esfera moral, que não se pode dizer ser apenas um aborrecimento corriqueiro.

3. O montante da condenação pelos danos morais é razoável e

proporcional ao sofrimento da consumidora que se encontrava longe do seu país e percorreu


toda a viagem, inclusive por outros países, sem os seus pertences pessoais. 4. Recurso
conhecido e desprovido.

(Acórdão nº (00)00000-0000, 00000-00, Data de Julgamento: 18/10/2017, 5a Turma Cível,


Relator: SEBASTIÃO COELHO, Publicado no DJE: 10/11/2017, Pág.: 666/668,).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - TRANSPORTE AÉREO - DANOS MORAIS - DANIFICAÇÃO DE


BAGAGEM - POSTERIOR EXTRAVIO - QUANTUM.

1. O dano moral é aquele caracterizado na esfera subjetiva da pessoa,

cujo evento apontado como violador fere direitos personalíssimos, independente de prejuízo
material.

2. Hipótese em que restou comprovada que a mala despachada foi danificada e,


posteriormente, extraviada definitivamente no trecho

de volta.

3. O arbitramento da quantia devida para compensação do dano moral

deve considerar os precedentes em relação ao mesmo tema e as características do caso


concreto (a gravidade do fato em si, a responsabilidade do agente, a culpa concorrente da
vítima e a condição econômica do ofensor), devendo ser reduzido quando se mostrar
excessivo. (TJMG - Apelação Cível 1.0433.00000-00/001, Relator (a): Des.(a) José Américo
Martins da Costa, 15a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 14/05/2020, publicação da sumula em
20/05/2020)
Nessa toada, não comprovada qualquer causa excludente de responsabilidade, tem-se por
configurada a falha na prestação do serviço, suficiente para ensejar o dever da Requerida de
compensar os danos causados a Requerente, nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do
Consumidor.

Já em relação aos danos materiais - Avarias na mala recuperada, a defesa da companhia aérea
baseia-se em assertivas que em nada se assemelham ao caso dos autos, destacando que a
Requerente ao retirar a mala da esteira deveria ter procurado um colaborador da empresa a
fim de gerar um Relatório de Irregularidade de Bagagem (RIB).

Entretanto, excelência, o caso dos autos trata-se de extravio provisório de bagagem, sendo
que a Requerente quando do desembarque constatou que sua bagagem não se encontrava na
esteira para retirada, tendo a mala lhe sido devolvida dias depois em sua casa, e somente
nesse momento constatou as avarias nesta.

Tão logo percebera, fez contato com a Requerida comunicando os fatos, porém, sem solução.
Demais disto, as fotos anexas demonstram claramente a existência do dano material, que deve
ser indenizado.

Como é cediço, o dever de reparação da Requerida decorre da própria lei. Pela pertinência,
vale reiterar a transcrição do artigo 734 do Código Civil : "o transportador responde pelos
danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, sendo nula qualquer cláusula
excludente da responsabilidade".

Cabe esclarecer que a falha na prestação de serviços cometida pela Requerida ocorreu em um
voo doméstico, motivo pelo qual não há que se cogitar a aplicação da Convenção de Varsóvia e
seus limites reparatórios.

Assim, a reparação deve ser integral, indenizando exatamente os prejuízos patrimoniais


causados (os quais, in casu, encontram-se cabalmente demonstrados, tendo juntado aos autos
orçamento contendo valores da mala danificada).

Portanto, ao contrário das alegações em sede de contestação, mostra- se imperativa a


condenação da Requerida ao pagamento de R$ 00.000,00a título de danos materiais.

Assim, mostra-se patente a condenação da Requerida ao pagamento de danos morais e danos


materiais nos exatos termos da petição inicial.
Protesta a Requerida pela impossibilidade de inversão do ônus da prova, sob meras alegações.

Pois bem, a lei processual prescreve que o ônus da prova incumbe ao Autor quanto ao fato
constitutivo de seu direito, sob pena de não satisfação de sua pretensão.

Em se tratando de relação de consumo, demonstrada a verossimilhança das alegações da


parte, aliado à sua hipossuficiência técnica e econômica, permite-se a inversão do ônus da
prova, conforme assegurado no art. 6º, VIII, CDC.

Neste sentido:

"(...) - A inversão do ônus da prova é concedida quando restarem evidenciadas as alegações do


consumidor, ou quando clara sua dificuldade em conseguir determinado meio probatório. - O
ônus da prova quanto à demonstração que o sistema de água e esgoto foi construído de forma
perfeita e adequada cabe à Construtora agravante e não ao autor/agravado." (TJMG. Proc.
1.0024.00000-00/001. Des. Rel. Rogerio Medeiros. Dje 19/03/2013).

Feitas tais considerações, e reportando-se à análise dos autos, denota- se que o vínculo
jurídico estabelecido entre os litigantes revela relação de consumo. A Requerente, por sua vez,
preenche os requisitos legais suficientes para autorizar a inversão do ônus da prova, diante de
sua hipossuficiência técnica e financeira em relação à empresa aérea.

Demais disto, há verossimilhança da alegação da Requerente quanto à bagagem e


comprovação dos prejuízos, concernentes aos documentos acostados e, tendo ocorrido o
extravio de tal bagagem, cujo fato é incontroverso nos autos, já que a própria Requerida não
nega, a relação de consumo existente autoriza nos termos do artigo 6º, inciso VIII, do CDC, a
inversão do ônus da prova.

Por estes fundamentos, encontram-se presentes os requisitos legais suficientes ao


deferimento da inversão do onus probandi, especialmente diante da verossimilhança das
alegações apresentadas pela Requerente, aliado à sua hipossuficiência técnica e financeira em
relação à produção das provas indispensáveis ao deslinde do feito. Dessa forma, resta
igualmente impugnada.

IV- CONCLUSÃO

Isto posto, tem-se por impugnada a Contestação apresentada em todos os seus termos,
requerendo, desde já, seja afastada a questão preliminar suscitada e, no mérito, ratificando os
argumentos explanados na inicial, pugnando pela total procedência da ação nos termos dos
pedidos da exordial.

Nestes termos, pede deferimento.

Betim, 23 de julho de 2020.

Nome Nome

00.000 OAB/UF. 502 00.000 OAB/UF

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