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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DE

DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E DAS RELAÇÕES DE


CONSUMO DE CHAPADINHA/MA

TALITA AGUIAR DE SOUZA AGUIAR, brasileira, solteira,


dentista, portadora do CPF nº 607.949.723-90, com endereço correspondente na
BR 22, Nº 11, Residencial Torre do Sol II, Boa Vista, CEP: 65500-000, na Cidade
de Chapadinha, Estado do Maranhão, por sua procuradora signatária, nos termos
do incluso instrumento de mandato, os quais recebem intimações no endereço
profissional à Avenida Colares Moreira, 3 A, Quadra 32, Ed. Business Center,
Sala 313, Renascença II, na Cidade de São Luís, Estado do Maranhão, CEP
65075-441, vem, mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência, propor a
presente

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face da AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S.A., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 09.296.295/0001-60, a ser citada na Av.
Marcos Penteado de Ulhoa Rodrigues, nº 939 – Edif. Castelo Branco Office Park,
Torre Jatobá, 11º andar, Alphaville Industrial – Barueri/SP – CEP 06460-040, na
pessoa de seu representante legal, pelas razões de fato e de direito que passa a
expor adiante.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente, pugna a Requerente sejam-lhe concedidos os benefícios


da justiça gratuita, uma vez que encontra-se atualmente impossibilitado de arcar
com as eventuais despesas processuais, tudo nos termos do art. 98 e ss. do Código
de Processo Civil c/c art. 54 da Lei nº 9.099/95.

DOS FATOS

A Requerente adquiriu passagem aérea da companhia AZUL LINHAS


AEREAS S.A (Requerida) referente aos trechos São Luís (SLZ) – São Paulo
(CGH) – São Luís (SLZ) para passar suas férias em Campos do Jordão - SP.

A viagem de ida no dia 03/08/22 aconteceria da seguinte forma:

Saída de São Luís (SLZ) às 05:30h


Chegada em Recife (REC) às 07:30h, saída de Recife (REC) às 08:30h
Chegada em São Paulo (CGH) às 11:50h, conforme DOC. 04.

Por motivos que não foram informados, o voo de SLZ – REC precisou
fazer um pouso sem descida de passageiros em Fortaleza (FOR), o que fez com
que atrassasse 20 (vinte) minutos e ao chegar em Recife (REC) para fazer a
conexão, a Requerente foi informada que o vôo para seu destino final já teria
saído, sendo o vôo mais próximo somente na manhã seguinte.

Ressalta-se que mesmo com esse pouso em Fortaleza (FOR), foi


informado aos passageiros com conexão que os voos estariam aguardando e que
teriam funcionários da Requerida no local para orientar.

Ocorre que ao pousar em Recife (REC), não havia nenhum


funcionário da Requerida dando orientação de onde seria o embarque para
conexão e tampouco os voos estavam aguardando.
Inconformada com a situação, uma vez que estava com reserva de hotel
(DOC. 07) e aluguel de veículo para ir a Campos do Jordão – SP, a Requerente
dirigiu-se ao balcão da empresa e, ciente de seus direitos, informou a Requerida
que tinha um voo para São Paulo (CGH) que saia às 14:05h da companhia GOL,
ocasião em que após muito constrangimento, conseguiu que fosse realocada nesse
voo, conforme DOC. 05.

Por outro lado, a Requerente teve que esperar mais de 06 horas para
seu novo embarque, sem que fosse prestado nenhum tipo de assistência
(alimentação, acomodação, transporte) pela Requerida, tendo a Requerente arcado
com esse custo (DOC. 06).

Totalmente inconformada com a má prestação dos serviços da empresa


aérea, a qual fez a mesma passar por esta situação que abalou seu psíquico e trouxe
transtornos na sua viagem de férias (atraso no voo, nenhuma assistência de
alimentação/acomodação/transporte, perda de uma diária do hotel em Campos do
Jordão – SP e do aluguel de veículo), não restou outra alternativa a Requerente
senão recorrer ao Poder Judiciário para ver assegurado o seu direito.

DO DIREITO

Da relação de Consumo

É incontestável que a empresa Requerida é fornecedora de serviços e o


requerente é consumidor desse serviço, caracterizando-se assim a relação de
consumo, e a consequente aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
Este é categórico ao classificar como fornecedor aquele que presta
serviço de qualquer natureza, ressalvando expressamente no § 2º do art. 3º, que
serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza da presente, um serviço público de
transporte realizado mediante permissão concedido pelo Estado.

O CDC, reforçando, impõe aos permissionários públicos o dever de


fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e contínuos. Destarte, as empresas
de transportes, constituídos como verdadeiros prestadores de serviços públicos, de
acordo com o Código de Defesa do Consumidor, devem responder objetivamente,
segundo os critérios da responsabilidade independente de culpa, pelos prejuízos
causados a seus clientes e meros usuários.

Veja Excelência, a empresa Requerida não cumpriu com os termos do


contrato firmado, que seria transportar a Requerente ao seu destino dentro da data
e horário programados e tao pouco prestou assistência, desta forma deverá
indenizar dos prejuízos sofridos.

O dever de indenizar do transportador em serviços aéreos decorre de Lei


e está previsto nos artigos 256, 257 e 287 da Lei 7565/86, cumprindo trazer à baila
a transcrição de tais disposições:

Art. 256. O transportador responde pelo dano


decorrente:

I- de morte ou lesão de passageiro, causada por acidente


ocorrido durante a execução do contrato de transporte aéreo,
a bordo de aeronave ou no curso das operações de embarque
e desembarque;

II - de atraso do transporte aéreo contratado.

Portanto, o passageiro que tem grandes problemas com o


atraso/cancelamento injustificado de voo é considerado consumidor, pois se
encaixa na definição do Código de Defesa do Consumidor, configurando-se entre
o passageiro e a companhia aérea a relação "CONSUMIDOR-FORNECEDOR-
PRODUTO OU SERVIÇO".

Da responsabilidade objetiva.

Na linha do CDC, como se sabe, a responsabilidade é a denominada


OBJETIVA, ou seja:

“(...) aquela fundada no risco, sendo irrelevante a conduta


culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que
bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido
pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de
indenizar.” (Maria Helena Diniz, Dicionário Jurídico, São
Paulo, Saraiva, 1998, vol. IV, pág. 181).

O sujeito da relação, portanto, perde importância para efeito de


responsabilidade, cabendo ao consumidor, como é o caso da Requerente, a
descrição e prova da ocorrência do dano, até para fundamentar seu interesse de
agir, mas no que toca à existência dos demais elementos, deverá ser aplicada, se
necessário, a regra da inversão do ônus da prova.
No caso em apreço, observa-se que a relação contratual objeto desta
contenda encontra-se sob o pálio do Código de Defesa do Consumidor (Lei
8.078/90), que em seu artigo 6º, VI, elenca como direito básico do consumidor “a
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos”.

Ficou evidente que a Requerida não prestou o serviço nos moldes do


contrato que ela mesma firmou, configurando-se VÍCIO DE QUALIDADE
SERVIÇO, sendo totalmente responsável pelos danos morais e materiais advindos
da má prestação do serviço, nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do
Consumidor, in literis:.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Trata-se, portanto, de responsabilidade objetiva do fornecedor pelos


danos causados ao consumidor pelo serviço defeituoso, sejam estes de ordem
material ou moral.

Desta feita, estando patente a configuração do ilícito contratual


cometido pela Requerida no tocante ao serviço que deveria ter sido prestado a
contento, não restam dúvidas quanto à sua responsabilidade pela reparação dos
danos causados, pois nesse ponto o Código de Defesa do Consumidor foi
taxativo, sem dar margem a qualquer outro tipo de interpretação.
Da necessidade de inversão do ônus da prova.

Após a configuração da relação de consumo no presente caso, e em face


da hipossuficiência e vulnerabilidade técnica da Requerente, urge que seja
concedido, na defesa dos seus direitos, a inversão do ônus da prova, conforme
dispõe o art. 6º VIII da Lei 8.078/90, in literis:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive


com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências;

Da falha na prestação do serviço.

Como já aludido, as permissionárias de serviços públicos, quando da


prestação de serviços aéreos, devem pautar suas ações por um respeito irrestrito
aos interesses do cliente, devendo exercer vigilância contínua sobre as unidades de
seus complexos, devendo, outrossim, executar seus serviços com esmero e lisura,
sob pena de prestar um serviço defeituoso ou com vicio, o que infelizmente
ocorreu no caso em comento.

Além do atraso no voo, não foi fornecida nenhuma assistência à


Requerente, que estava desde às 03:30h no aeroporto de origem.

Ressalta-se que em caso de atrasos superiores a 04 (quatro) horas deve


ser fornecida alimentação, acomodação e transporte. No entanto, a Requerida não
prestou nenhum tipo de assistência.

DO DANO MORAL

Os problemas causados em razão da negligência da Requerida,


decorrente do atraso do seu vôo e não embarque da Requerente no horário previsto
contratualmente, geraram o sentimento de impotência, desrespeito, insegurança e
angústia, além de prejuízos na diária do hotel e aluguel do carro, conforme narrado
alhures.

A previsibilidade de problemas técnicos ou operacionais que


culminam em cancelamento e atrasos de voos traduzem em riscos da sua
própria atividade empresarial. O cancelamento de vôo se traduz em ato ilícito
passível de indenização. Assim, a falta de justificativa pela Requerida para o
ocorrido cancelamento/atraso deve ser identificada como dano causado a outrem,
na forma preconizada no artigo 927, do Código Civil, in verbis:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo
único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

De igual feita, o Código de Defesa do Consumidor estabelece a


responsabilidade objetiva do prestador de serviços no seu artigo 14 já supracitado.
A jurisprudência pátria há muito vem reconhecendo de forma pacífica o dano
moral em circunstância análoga a relatada nos autos.

Isto posto, torna-se imperativa a apuração dos danos morais em favor da


Requerente, devidamente arbitrados por esse Juízo e mensurados conforme
exporemos no tópico seguinte.

Do "quantun" indenizatório.

Inexistindo critérios objetivos traçados em lei para chegar-se


diretamente ao valor da indenização, e porque é mesmo da essência do dano moral
não possuir medida material ou física correspondente, o nosso ordenamento pátrio
adotou o arbitramento como melhor forma de liquidação do valor indenizatório. A
regra está contida no artigo 944 do Código Civil: "A indenização mede-se pela
extensão do dano."

A moderna noção de indenização por danos morais, quanto aos seus


objetivos imediatos e reflexos, respectivamente, funda-se no binômio “valor de
desestímulo" e "valor compensatório".

O valor de desestímulo deve se atrelar sobremaneira a intimidar o


Requerido a evitar a prática de novos atos neste mesmo sentido, ou ainda, a prestar
os esclarecimentos e atendimentos primordiais aos seus clientes caso ocorra fatos
análogos.

Por seu turno, o valor compensatório deve pautar-se pelo fato de


compensar os danos sofridos no âmago íntimo por parte da Reclamante.
Isto posto, para evitar maiores erros por parte da Requerida, inclusive na
sua má prestação de serviços e falta de assistência, e evitar novamente que cometa
abusos, imperioso se faz em fixar o montante referente à indenização por danos
morais no valor equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais), o qual deverá ser
corrigido monetariamente pelo INPC, mais juros moratórios de um por cento
desde a data do evento danoso (CC, art. 398), a fim de desestimular a reiteração de
tais condutas e respeitar os ditames consumeristas.

DO DANO MATERIAL

No caso, ora em tela, a Requerida, além da má prestação do serviço, não


cumpriu com a devida assistência à Requerente. Da mesma forma, causou
prejuízos de ordem material, pois a Requerente perdeu uma diária no hotel de
Campos do Jordão / SP devido o atraso no voo.

O nosso Código Civil no seu artigo 389 rege que quem não cumpre com
sua obrigação responde por perdas e danos, mais juros e atualização monetária, in
verbis:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por


perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.

Portanto, a Requerente, suportando tais prejuízos, deve ser ressarcida


pela Requerida o valor de R$ 47,90 (quarenta e sete reais e noventa centavos)
referente ao pagamento de alimentação (DOC 06) e R$ 205,74 (duzentos e cinco
reais e setenta e quatro centavos) referente à 01 (um) diária no hotel (DOC 07).
DOS PEDIDOS

Em razão de todo o exposto, requer-se:

a) a concessão da justiça gratuita, nos termos do art. 54 da Lei nº 9.099/95;

b) a concessão da inversão do ônus da prova, conforme preceitua o art. 6º, VIII do


CDC;

c) a citação da Requerida, na pessoa do seu representante legal, no endereço


supramencionado, para que compareça à audiência de conciliação, em dia e hora
designada, sob pena de confissão e revelia, nos termos do art. 20 da Lei nº
9.099/95;

d) a condenação da Requerida em danos morais in re ipsa no valor de R$ 10.000,00


(dez mil reais), corrigido monetariamente a partir da data do ilícito, capaz de
atender também ao caráter pedagógico, e, principalmente, punitivo da medida, a fim
de evitar a reiteração de condutas abusivas como a verificada nesta demanda;

e) a condenação da Requerida em danos materias no valor de R$ 253,64 (duzentos e


cinquenta e três reais e sessenta e quatro centavos), corrigido monetariamente a
partir da data do ilícito e juros a contar da citação.

Protesta-se provar o alegado por todos os meios de provas admitidas em


direito que venham a ser necessários ao deslinde da lide, especialmente juntada de
documentos e depoimentos pessoais, tudo desde já requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ 48.480,00 (quarenta e oito mil quatrocentos


e oitenta reais).

Termos em que pede e aguarda deferimento.

São Luís/MA, 30 de agosto de 2022.

ANA CAROLINA DE PAIVA SÁ

OAB/MA 11.905

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