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AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA ......... - ........

FULANO DE TAL, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profissão), endereço eletrônico ... ,


portador da Carteira de Identidade no ..., inscrito no CPF sob o no ..., residente e domiciliado
na Rua ..., no ..., Bairro ..., Cidade ..., Cep. ..., no Estado de ..., , através de seu advogado
comum que a esta subscreve, constituído nos termos da procuração anexa (doc. 01), vem, à
presença de Vossa Excelência,

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS

em face de ........ S.A., sociedade empresária inscrita no CNPJ sob o nº ......, com sede
na ......., CEP: ......, onde deverá ser citada e intimada para os atos do presente processo
consoante os fundamentos de fato e de direito a seguir expostos:

I - DOS FATOS

O requerente viajou com sua família para Portugal, para aproveitarem férias em
família. Na viagem ocorreu tudo bem, os problemas começaram no despacho das bagagens na
volta, já que por estar em família viajaram com uma quantidade alta de malas, no total de 07.
Acontece que, no Aeroporto de Lisboa, no dia ..... do corrente ano já quando estavam voltando
de viagem com destino a Recife/PE, a atendente etiquetou apenas seis das sete malas,
deixando justamente a mala do Autor sem ticket, não gerando assim protocolo de liberação da
mala, embora mesmo assim esta foi colocada na esteira do check-in pela atendente, sem o
autor reparar na falta da etiqueta.

Ao chegarem ao Aeroporto de Recife/PE a bagagem do autor desapareceu e a


companhia aérea se negou a prestar qualquer serviço sem o número da etiqueta referente a
bagagem (conforme e-mails que seguem anexados), etiqueta esta que não foi entregue ao
Autor por erro da própria empresa que falhou na contagem das bagagens.
Acontece que, dia ....., três dias depois do embarque, a empresa entrou em contato
com o Autor para informar que sua mala teria sido encontrada, de acordo com as
características que ele enviou à empresa (e-mail anexado), provando assim tanto que a mala
existia como que o erro foi completamente da empresa aérea, responsável pelo transporte de
bagagens.

Desta forma, considerando todos os transtornos sofridos pelo requerente pelo


extravio de bagagem, deve a empresa aérea indenizar o requerente pelos danos morais
sofridos pelo mesmo.

II - DA RELAÇÃO DE CONSUMO, APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

Consoante as definições de consumidor e fornecedor trazidas pelos artigos 2º e 3º do


Código de defesa do Consumidor, o caso em tela versa sobre relação de consumo, devendo-se
aplicar todas as normas a ela inerentes. Assim, o Juizado Especial Cível da Comarca de ___ é
competente para processar e julgar a presente ação, por ser o domicílio do requerente.

Adiantando-se a futura alegação da empresa ré, visando aplicar a Convenção de


Varsóvia à relação de consumo objeto da presente demanda, destacamos que tal diploma
legal restou revogado tacitamente pelo Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90.

Assim, resta cristalino o entendimento de que o passageiro que tem inadimplemento


contratual por ter sua bagagem extraviada é considerado consumidor, pois se encaixa na
definição do Código de Defesa do Consumidor.

Considerando que o caso em comento se trata de relação de consumo,


consubstanciada pelos ensinamentos do CDC, é certo que os requerentes/consumidores não
podem ser imputados o ônus de provar certos fatos e danos. Evidente que o requerente
encontra-se na posição de hipossuficiente e parte vulnerável em razão de sua condição
econômica em relação à requerida.
Ainda o CDC estabelece serem direitos básicos do consumidor a efetiva prevenção e
reparação de danos vistas à reparação de danos patrimoniais e morais; a facilitação da defesa
de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova a seu favor.

Desta forma, aplicar à espécie as normas que asseguram ao consumidor a inversão do


ônus da prova (nos termos do art. 6º, inciso VIII do CDC), ante a hipossuficiência do
requerente perante a empresa, posto que os demais documentos não juntados à inicial se
encontram em poder da requerida, fato este que se protesta desde já para que sejam
determinadas as juntadas aos autos.

III – DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELO EXTRAVIO DAS MALAS

O Professor Fernando Noronha conceitua responsabilidade objetiva como:

[...] a obrigação de reparar determinados danos causados a outrem, independentemente de


qualquer atuação dolosa ou culposa do responsável, mas que tenham acontecido durante
atividades realizadas no interesse ou sob o controle da pessoa responsável.

Do conceito apresentado inferem-se três requisitos básicos para que se configure a


responsabilidade objetiva: 1) o fato: ação/omissão; 2) ocorrência do dano; 3) o nexo de
causalidade entre a conduta comissiva ou omissiva e o dano.

O fato no caso em comento é extravio da bagagem, cuja mala estava sob a guarda da
empresa requerida. A ocorrência do dano é que na mala se encontrava todas as suas roupas
e seus objetos pessoais. Quanto ao nexo de causalidade, diz a teoria da causalidade
adequada que, um fato é causa de um dano quando este seja consequência normalmente
previsível daquele.

Conclui-se, portanto que, presentes os requisitos configuradores da CULPA OBJETIVA,


quais sejam o fato, o dano e o nexo de causalidade, estamos diante de um dano indenizável.

Não existe, então no caso em quadro, dano não indenizável. A agressão ilegítima ao
direito patrimonial ou extrapatrimonial de outrem deverá ser ressarcida pelo ofensor. A nossa
lei maior envolve o direito a indenização por ofensa moral ou material com o seu manto,
consagrando-os como garantia constitucional, e, como tal devem ser respeitadas e
obedecidas, sobrepondo-se a qualquer outra norma, seja ela nacional ou internacional.

Para frisar a situação aflitiva em que o requerente viveu, além de ter sua bagagem
extraviada, sendo devolvida apenas depois de 3 dias, estando sem roupas e objetos pessoais,
deste modo gastando ainda mais, para poder ter o mínimo para se manter com dignidade, já
que embarcou em Recife/PE mas reside em Brejo Santo/CE.

Ainda, apesar das reclamações feitas no momento e posteriormente, a requerida


quedou-se inerte, não dando a menor satisfação ao requerente, seu passageiro, onde nem o
rastreamento da bagagem foi feito.

O posicionamento jurisdicional é no sentido de que:

INDENIZAÇÃO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. COMPANHIA AÉREA. EXTRAVIO DE


BAGAGEM. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MATERIAL. AUSÊNCIA DE DECLARAÇÃO
DE BENS. EXIGÊNCIA DA TRANSPORTADORA. DANO MORAL. VALORAÇÃO. JUROS DE MORA.
CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. I. No contrato de
transporte aéreo, incidem as normas do CDC, e não as do Código Brasileiro da Aeronáutica, da
Convenção de Varsóvia e Montreal, e das Portarias da ANAC. Precedentes do c. STJ. II.
Incontroverso o extravio da mala despachada em voo operado pela ré, está comprovada a
falha na prestação do serviço que enseja o dever de indenizar. Art. 14 do CDC. III. A exigência
de declaração prévia dos bens que os passageiros estão transportando é ônus da empresa-
ré, a fim de se estabelecer limitação ao valor da indenização a ser paga em hipótese de
extravio da bagagem. Art. 734do CC. IV. O extravio de bagagem nas condições demonstradas
nos autos impõe indenização por danos morais. V. A valoração da compensação moral deve
observar o princípio da razoabilidade, a gravidade e a repercussão dos fatos, a intensidade e
os efeitos da lesão. A sanção, por sua vez, deve observar a finalidade didático-pedagógica,
evitar valor excessivo ou ínfimo, e objetivar sempre o desestímulo à conduta lesiva. VI. O
valor do dano moral decorrente de responsabilidade contratual deve ser corrigido
monetariamente a partir do seu arbitramento e os juros moratórios incidem desde a citação.
Súmula nº 362 do e. STJ e art. 405 do CC. VII. O valor do dano material decorrente de
responsabilidade contratual deve ser corrigido monetariamente desde a data do efetivo
prejuízo e os juros moratórios incidem desde a citação. Súmula nº 43 do e. STJ e art. 405 do
CC. VIII. Apelação da ré desprovida. Recurso adesivo dos autores parcialmente provido. (TJDF;
Rec 2011.01.1.039195-9; Ac. 841.739; Sexta Turma Cível; Relª Desª Vera Andrighi; DJDFTE
28/01/2015; Pág. 476).

Ressalte-se, por oportuno, que a requerida não exigiu dos requerentes a declaração do
valor de bagagem, conforme facultado pelo parágrafo único, do artigo 734 do CCB, nem antes
do embarque com destino a Recife/PE, tampouco de nos outros destinos contratados pelos
requerentes, não havendo, assim, que se falar em indenização tarifada, conforme pacífico
entendimento jurisprudencial.

IV – DOS DANOS MORAIS

A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso V, consagrou a reparação do dano moral
de forma irrestrita e abrangente, sendo este direito alçado a categoria de garantia
fundamental, e, considerado como cláusula pétrea, bem com a Constituição Federal tutela
ainda direito dos consumidores consoante se verifica no inciso XXXII do art. 5º.

No mesmo sentido, o direito dos requerentes também tem previsão no art. 927 do
Código Civil – aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Neste diapasão, cumpre trazer à baila a definição de danos morais de Carlos Alberto
Bittar em sua obra Reparação Civil por Danos Morais, Ed. RT: “(...) o dano moral dispensa prova
em concreto, tratando-se de presunção absoluta, não sendo, outrossim, necessária a prova do
dano patrimonial.”

Não há como negar os danos morais sofridos, derivados do desconforto, da


insegurança, do mal-estar, do desassossego, que sofre aquele que viaja e, chegando ao seu
destino, depara-se com o extravio de sua bagagem, que somente lhe é devolvido após 3 dias
de embarque.

Em razão da conduta obtusa e irresponsável da ré, o autor foi deixado com a roupa do
corpo, tendo seus pertences pessoais, que havia selecionado com zelo e carinho como
presentes para amigos e familiares, extraviados e, deixado em cidade diferente da qual reside,
outro Estado, sem amparo algum da causadora de seus tormentos, enfim, vivenciou situações
penosas e constrangedoras, razão pela qual resta inegável a presença do dano moral no caso
em comento.

Frisa-se que o dano moral em caso de extravio de bagagem é presumido, vejamos:

TRANSPORTE AÉREO - Ação de indenização por danos materiais e morais por extravio de
bagagem- Quebra de contrato Prestação de serviço defeituoso mesmo com a ulterior
restituição da bagagem Responsabilidade civil objetiva do prestador de serviços - Incidência do
CDC em detrimento da legislação aérea nacional e internacional – Dano material -
Ressarcimento incabível, uma vez que os bens adquiridos integraram o patrimônio dos
apelantes, sendo o evento de consideração como consequências na aferição do reflexo
subjetivo negativo - Dano moral configurado pelo extravio de bagagem ser evento que
extrapola a seara do mero dissabor Fato que decorre da aplicação de regra de experiência
comum - Inteligência do art. 335 do CPC Indenização devida Arbitramento no valor único de R$
10.000,00 - Correção monetária da data da sentença (Súmula 362 do STJ), e juros de mora
legais, contados a partir da citação (natureza contratual do evento), na forma do artigo 405 do
Código Civil - Ação procedente em parte Decaimento em maior extensão da requerida -
Sentença modificada, com inversão dos consectários sucumbenciais e verba honorária,
carreados à requerida - Recurso parcialmente provido." (AC 1025148-71.2014.8.26.0562, Data
do julgamento: 26/10/2016).

Conquanto certo o dever de indenizar, inequívoca a necessidade de se fixar a


indenização em parâmetros que não impliquem o enriquecimento sem causa, mas sirvam à
justa reparação do dano.

Por esta razão, o quantum indenizatório deve ser fixado em atendimento aos critérios
que informam os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, observando-se a
natureza punitiva e disciplinadora da indenização, face os danos sofridos pelo Requerente e a
evidente conduta lesiva da empresa ré.

Destarte, mostrou-se inadequado o proceder da companhia prestadora de serviços


no tratamento dispensado aos usuários, restando configurado o dever de indenizar, pois,
quanto à configuração de danos morais, trata-se de situação que escapa, em muito, do que
se concebe por mero desgosto e aborrecimento do cotidiano, ao extraviarem
temporariamente a bagagem do mesmo e não aplicarem nenhuma assistência para ele.
Essa indiferença, esse desrespeito pelo consumidor é que configura a sensação de mal-
estar, descaso, de constrangimento e, até de humilhação e de indignidade, e não um simples
aborrecimento, sendo dano moral indiscutível.

Assim, diante do exposto, requer a condenação da requerida ao pagamento de


indenização por danos morais no montante de R$ ...... (por extenso), montante este que não
viola o princípio da razoabilidade e proporcionalidade conforme exposto supra.

VI – DOS PEDIDOS

Com base no exposto, requer:

1) A citação do réu para responder a presente demanda;

2) A inversão do ônus da prova, face à hipossuficiência da requerente frente à


requerida, nos termos do art. 6º, VIII do CDC;

3) Requer ao final seja julgada TOTALMENTE PROCEDENTE esta presente ação para
condenar a Ré a indenizar o Autor em danos morais no valor de R$ ..... (por extenso)
aplicando-se ao caso concreto as Súmulas 54 e 362 do STJ fazendo incidir os juros de mora de
1% a. m. Desde o evento danoso e a correção monetária desde o arbitramento.

A Requerente pretende provar o alegado por todos os meios em direito permitidos,


sem exclusão de nenhum, e em especial pelos documentos juntados com a inicial e
depoimento das partes e de testemunhas, caso necessário;

Atribui-se à causa o valor de R$ ...... (por extenso).

Termos em que,

Pede deferimento.
ADVOGADO
OAB/UF nº.......

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