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MODELO – INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS E MATERIAIS POR

ATRASO DE VOO E PERDA DE BAGAGEM

O CASO

Adriano e Vanessa se casaram no dia 06/11/2021, em São Paulo, capital. No


dia seguinte, se dirigiram ao Aeroporto Internacional de Guarulhos para a
viagem de lua de mel. Duas horas após o horário do embarque, foram
avisados pela companhia aérea Veloz S/A que o voo atrasaria, ainda sem
previsão de embarque. Quatro horas depois receberam um voucher para
alimentação. Sete horas depois foi anunciado que o voo embarcaria na
sequência. O embarque transcorreu sem maiores dificuldades. Durante o
voo foram avisados de que haveria uma escala extra no aeroporto de Natal/
RN, oportunidade na qual ficaram oito horas no aeroporto. Dali o avião
partiu para a escala programada em Lisboa/POR e, então, chegou a
Paris/FRA, destino final. O voo original previa doze horas de duração,
contando com a escala em Portugal. Ao final, somado aos sucessivos
atrasos, foram trinta horas extras de percurso.
No destino, a bagagem do casal não chegou e, depois de mais de quatro
horas de espera, foram informados de que as malas foram enviadas
incorretamente de volta ao Brasil. Quatro dias depois, as bagagens foram
enviadas pela companhia ao hotel do casal, com sérias avarias. Nesse
ínterim, tiveram de reservar novo hotel, pois o primeiro cancelou a reserva
por no show, vinte e quatro horas após o início da estadia, conforme
constava em contrato.
O casal procura você em 22/11/2021, após o retorno ao Brasil, em 15/11/2021.
AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE SÃO PAULO

ADRIANO, casado, engenheiro civil, portador do CPF sob o nº. XXX,


com endereço eletrônico XXX, e VANESSA, brasileira, casada, psicóloga,
portadora do CPF sob o nº. XXX, com endereço eletrônico XXX, ambos
residentes e domiciliados XXX, CEP XXX, por seus procuradores infra-
assinados, devidamente constituídos nos termos da procuração em anexo,
vêm, respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar pretensão

INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face de VELOZ LINHAS AEREAS BRASILEIRAS S.A., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº. XXX, com endereço eletrônico
XXX, domiciliada XXX, CEP XXX, pelos motivos de fato a seguir expostos.

DOS FATOS

Os autores se casaram no dia 06/11/2021, em São Paulo, capital. No


dia seguinte, se dirigiram ao Aeroporto Internacional de Guarulhos para a
viagem de lua de mel. Duas horas após o horário do embarque, porém,
foram avisados pela companhia aérea VELOZ S/A que o voo atrasaria,
ainda sem previsão de embarque.

Quatro horas depois receberam um voucher para alimentação, mas


permaneceram sem informações a respeito do voo, se seria cancelado ou
se ainda havia chance de ser mantido. Mesmo o pessoal de solo da
companhia relutava em trazer informações, limitando-se a dizer que os
passageiros deveriam permanecer prontos ao embarque, que
oficialmente ainda estava apenas atrasado.

Sete horas depois foi anunciado que o voo embarcaria na sequência


e que passageiros que quisessem cancelar a viagem deveriam se manter
no salão de embarque para providências. Apenas durante o voo foram
avisados de que haveria uma conexão extra no aeroporto de Natal/RN,
oportunidade na qual ficaram oito horas no aeroporto. Em Natal, não
receberam suporte da companhia aérea, que se limitou a distribuir a água
disponível na aeronave.

Dali o avião partiu para a escala programada em Lisboa/POR e,


então, chegou a Paris/FRA, destino da viagem de lua de mel dos autores.
O voo original previa doze horas de duração, desde o embarque em São
Paulo, contando com a escala em Portugal, até a chegada na França. Ao
final, somado aos sucessivos atrasos, foram trinta horas extras de percurso,
totalizando quarenta e duas horas de transporte aéreo, praticamente dois
dias.

Para piorar, no destino, a bagagem dos requerentes não chegou e,


depois de mais de quatro horas de espera, foram informados de que as
malas foram enviadas incorretamente de volta ao Brasil. As malas só
chegaram a Paris quatro dias depois, e com sérias avarias, como se vê
pelas imagens anexadas aos autos.

Nesse ínterim, os autores tiveram de reservar novo hotel, pois o


primeiro cancelou a reserva por no show, vinte e quatro horas após o
início da estadia, conforme constava em contrato. Foram forçados a
procurar um hotel, sozinhos, em Paris, pagando tarifa mais elevada,
conforme demonstram os documentos em anexo.

Além disso, dada a perda da bagagem, tiveram de adquirir novas


vestimentas e itens de higiene pessoal, tudo conforme consta dos
comprovantes anexados aos autos.
Ao final, da viagem de uma semana, perderam dois dias de lua de
mel, bem como ficaram, dos cinco dias restantes, quatro sem suas
bagagens, o que demonstra a existência de dano material e moral
indenizáveis.

DO DIREITO

1. Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor

O art. 2º do CDC estabelece que “consumidor é toda pessoa física ou


jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.
Já o art. 3º estabelece que “Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição
ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Evidencia-se,
assim, a aplicação das normas consumeristas ao caso concreto, haja vista
que os autores são consumidores e a ré é fornecedora, indubitavelmente.

Além disso, consequência da aplicação do CDC é, no caso, a inversão


do ônus da prova. Estabelece o art. 6º, inc. VIII, do CDC a inversão do ônus
da prova em favor do consumidor: “São direitos básicos do consumidor a
facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências”.

Na presente situação, como se depreende da narrativa fática, há


verossimilhança nas alegações da parte autora. Ademais, verifica-se a
hipossuficiência técnica, jurídica, econômica e informacional dos autores,
dado, respectivamente, o conhecimento técnico, o assessoramento
jurídico portentoso, o patrimônio elevadíssimo e a detenção exclusiva de
informações a respeito das razões do atraso do voo pela companhia aérea.

Por isso, requer-se a aplicação do Código de Defesa do Consumidor


ao caso concreto, bem como a consequente inversão do ônus da prova,
relativamente às alegações da parte autora.

2. Da competência

Em se tratando de relação de consumo, como visto no tópico


anterior, é de se reconhecer a competência do Juízo para o julgamento
desta lide, com fulcro no art. 101, inc. I, do CDC. Opta a parta autora, assim,
pela propositura da demanda em seu domicílio, para evitar ser mais
onerada por domicílio diverso, previsto ou não em contrato de consumo
por adesão.

3. Da responsabilidade civil da ré

A requerida responde objetivamente pelos danos causados aos


autores, haja vista que, pela atividade exercida, lhe compete arcar com os
danos causados aos consumidores, independentemente de dolo ou culpa.
O atraso de voo e a perda de bagagem constituem situações inerentes ao
seu serviço – transporte e depósito, respectivamente.

Determina o art. 734 do CC/20002 que “O transportador responde


pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo
motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da
responsabilidade”. Veja-se que a regra do Código Civil, geral, aplicável
inclusive a relações não abrangidas pelo CDC, permite exclusão de
responsabilidade apenas em caso de força maior.

Nesse sentido, jurisprudência e doutrina aduzem que só se pode


verificar a força maior quando a situação não se enquadra no risco da
atividade, que caracteriza fortuito externo. Nos demais casos, como o
presente, o fortuito interno não permite exclusão do dever de indenizar.

Ainda, dispõe o art. 14 do CDC: “O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos”. Em síntese, a responsabilidade civil da ré é objetiva,
impendendo o afastamento do dever de indenizar.

Verifica-se, assim, a concorrência dos pressupostos do dever de


indenizar, extraídos dos arts. 186 e 927 do CC/2002. Há, nos autos, devida
comprovação da emissão dos bilhetes eletrônicos do voo original, bem
como imagens fotográficas dos horários dos novos voos, da escala extra
havida em Natal/RN, do horário do desembarque em Paris/FRA, do
protocolo de atendimento telefônico e do e- mail a respeito das bagagens,
da informação do cancelamento do hotel, da reserva do novo hotel e da
informação de recebimento tardio das bagagens, bem como os
comprovantes de cartão de crédito e recibos das aquisições de
vestimentas e itens pessoais.

A partir do momento que a empresa aérea ocasionou atraso


significativo, e não mero atraso de poucas horas, comum, fazendo com
que os autores perdessem parte substancial de sua lua de mel, falhou na
execução do contrato de transporte. Quando extraviou a bagagem do
casal, apenas a encontrando e devolvendo no dia anterior ao fim da
viagem, falhou na execução do contrato de transporte, novamente.

Ou seja, a ré deve se responsabilizar pelos danos experimentados


pelos autores, integralmente, por aplicação da Teoria do risco, estampada
no art. 927, parágrafo único, do CC/2002, bem como no art. 14 do CDC.
Vale dizer, o contratante responde, independentemente de culpa, por
todos os danos causados à contraparte. Nas palavras de Cavalieri:

Destaca-se, ainda, o REsp 1.796.716/MG, no qual se fixam as balizas


para a indenizabilidade pelos danos causados ao consumidor no caso de
atraso de voo:

CONSUMIDOR E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. CANCELAMENTO DE
VOO DOMÉSTICO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. O
propósito
recursal é definir se a companhia aérea recorrida deve ser
condenada a compensar os danos morais supostamente
sofridos pelo recorrente, em razão de cancelamento de voo
doméstico. Na específica hipótese de atraso ou cancelamento
de voo operado por companhia aérea, não se vislumbra que o
dano moral possa ser presumido em decorrência da mera
demora e eventual desconforto, aflição e transtornos
suportados pelo passageiro. Isso porque vários outros fatores
devem ser considerados a fim de que se possa investigar
acerca da real ocorrência do dano moral, exigindo-se, por
conseguinte, a prova, por parte do passageiro, da lesão
extrapatrimonial sofrida. Sem dúvida, as circunstâncias que
envolvem o caso concreto servirá de baliza para a possível
comprovação e a consequente constatação da ocorrência do
dano moral. A exemplo, pode-se citar particularidades a
serem observadas:
i) a averiguação acerca do tempo que se levou para a solução
do problema, isto é, a real duração do atraso; ii) se a
companhia aérea ofertou alternativas para melhor atender
aos passageiros; iii) se foram prestadas a tempo e modo
informações claras e precisas por parte da companhia aérea a
fim de amenizar os desconfortos inerentes à ocasião; iv) se foi
oferecido suporte material (alimentação, hospedagem, etc.)
quando o atraso for considerável; v) se o passageiro, devido ao
atraso da aeronave, acabou por perder compromisso
inadiável no destino, dentre outros.

Desse modo, há responsabilidade civil da parte ré, que de arcar com


os danos materiais e morais causados.

Quanto aos danos materiais, são os seguintes, cujos comprovantes


seguem em anexo:

Diferença da tarifa hoteleira R$2.000,00

Compra de itens de higiene pessoal R$300,00

Compra de roupas R$8.000,00

Bagagens novas R$1.000,00


Total R$11.300,00

Para além dos danos materiais sofridos, os autores experimentaram


abalo psíquico apto a ensejar a propositura de demanda cumulando
aqueles com danos morais, de índole extrapatrimonial.

Isso porque, conforme já exposto, o atraso aéreo foi o fato que


desencadeou uma sequência lógica de eventos que terminou por fazer
com que o casal tivesse intenso prejuízo em sua lua de mel.

É inegável que o fato de ter perdido parte substancial da estadia em


Paris/FRA e, ainda, ter ficado dias sem bagagem ou assistência da
companhia aérea, por si só, já demonstra a dor e o sofrimento que tiveram
com a situação. Veja-se que os autores nada puderam fazer,
permanecendo horas no aeroporto à espera de informações, que nunca
chegavam; aguardaram horas no aeroporto francês em busca de suas
bagagens. Tudo em vão, não obstante.

Se não bastasse isso, a empresa demandada respondeu-lhes com


pouco caso, sequer se apresentando para fazer um pedido de desculpas
ou para prestar esclarecimentos pelo ocorrido. Nada fez.

Desta feita, notório é o abalo psíquico por eles sofrido, pelo que se
enseja a reparação por danos morais, conforme sufraga a jurisprudência
consolidada deste Tribunal de Justiça paulista:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


JULGADA
PROCEDENTE – ATRASO DE VOO – fato incontroverso –
hipótese de dano in re ipsa – indenização fixada em R$
3.000,00 – montante inadequado às circunstâncias do fato –
atraso de vinte e quatro horas
– apelante que não teve qualquer assistência em terra e
aguardou o reembarque no aeroporto – indenização que deve
ser aumentada não para o valor pleiteado (R$ 20.000,00), mas
para R$ 10.000,00 (dez mil reais) – valor proporcional ao dano
e que guarda observância ao caráter educativo-punitivo que
compõe a indenização na hipótese – recurso parcialmente
provido. (ApCiv 1065820-76.2019.8.26.0100, Rel. Des. Castro
Figliolia, 12ª Câmara de Direito Privado, julgado em
29/08/2021).

Assim, requer-se ao Juízo que arbitre montante razoável a título de


danos morais, em patamar condizente com o atualmente estabelecido
pelo TJ/SP, no valor de R$20.000,00, para cada requerente, para situações
análogas.

4. Da justiça gratuita

Os autores não possuem condições de pagar as custas e despesas


do processo sem prejuízo próprio ou de sua família, conforme consta da
declaração de hipossuficiência em anexo. Isso porque, temporariamente,
estão com as finanças abaladas pelos gastos do matrimônio, que se
avolumaram proximamente à celebração e inabilitarão a renda dos
autores pelos próximos meses.

Ademais, há previsão no art. 5°, incs. XXXIV, LXXIV e LXXVII, da


CF/1988 e arts. 98 e 99, ambos do CPC/2015, estabelecendo normas para a
concessão da justiça gratuita aos legalmente necessitados e/ou àqueles
que não podem, temporariamente, pagar as despesas processuais sem
prejuízo de seu sustento ou de sua família. As normas autorizam a
concessão do benefício diante da mera alegação de necessidade,
alegação essa que goza de presunção de veracidade.

Por isso, requer a parte autora a concessão do benefício da justiça


gratuita, de modo que sejam isentos de quaisquer ônus decorrentes do
presente feito.
DOS PEDIDOS

Em razão de todo exposto, pede, respeitosamente:


a) A procedência da presente demanda, condenando-se a parte ré ao
pagamento dos danos materiais comprovadamente feitos, no
montante de R$11.300,00 (onze mil e trezentos reais);
b) A procedência da presente demanda, condenando-se a parte ré ao
pagamento dos danos morais, no montante de R$40.000,00
(quarenta mil reais), sendo R$20.000,00 (vinte mil reais) a cada um
dos autores;
c) A condenação do réu ao pagamento das custas judiciais integrais e
dos honorários advocatícios, no importe de 20% (vinte por cento),
na forma da lei processual;
d) A parte autora opta pela realização da audiência de conciliação ou
de mediação, como lhe faculta o art. 319, inc. VII, do CPC/2015.

Por fim, requer-se a produção de todas as provas processuais


admitidas, em especial a prova testemunhal, documental e pericial.
Seguem, em anexo, os comprovantes mencionados ao longo da lide, para
prova material dos danos.

Dá-se a causa o valor de R$51.300,00 (cinquenta e um mil e


trezentos reais).

Termos em que pede deferimento.

São Paulo, 23 de novembro de 2021.

ADVOGADO
OAB/UF nº

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