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CARUARU
Após um longo período de tempo e desgaste emocional, seus pertences foram finalmente
localizados. Entretanto, apesar de estar em posse de suas malas a autora percebeu que
vários itens pessoais haviam sido furtados de seu interior, quais sejam:
Nesse sentido, é importante destacar, desde já, que o contrato de transporte consiste em
obrigação de resultado, pelo qual a companhia aérea é obrigada a executar o serviço de forma
satisfatória, ressaltando-se que a sua responsabilidade é objetiva, na forma do artigo 14 do
Código de Defesa do Consumidor, sendo desnecessária a comprovação da culpa, bastando a
demonstração do nexo causal entre o dano e a conduta do fornecedor do serviço para que haja
a obrigação de reparar os danos causados.
Na situação ora relatada, a autora desconhece a razão pela qual ocorreu o extravio de
sua bagagem e, até o presente momento, não tem conhecimento da localização de seus
pertences. Em contrapartida, a companhia aérea demandada, apesar de contatada por diversas
formas, inclusive pelo PROCON do município de Caruaru/PE (Comprovante anexo), sequer se
posicionou acerca do ocorrido, deixando a autora sem resposta ou qualquer tipo de solução.
Inicialmente verificamos que se trata o presente caso de uma relação de consumo, sendo
amparada pela Lei 8.078/90, que trata especificamente das questões em que fornecedores e
consumidores integram a relação jurídica, principalmente no que concerne a matéria probatória.
Da simples leitura deste dispositivo legal, verifica-se, sem maior esforço, ter o legislador
conferido ao arbítrio do juiz, de forma subjetiva, a incumbência de, presentes o requisito da
verossimilhança das alegações ou quando o consumidor for hipossuficiente, poder inverter o
ônus da prova.
Além do mais, para que não restem dúvidas acerca da aplicação da legislação
consumerista ao presente caso, segue abaixo um julgado onde há o reconhecimento expresso
da incidência do CDC em casos semelhantes a este, envolvendo extravio de bagagem em ações
indenizatórias. Vejamos.
EXTRAVIO DE BAGAGEM – aplicação do CDC – inversão do ônus da
prova - comprovação do despacho da bagagem – má prestação do serviço
– demora para a devolução – gastos extras – dano moral configurado –
sentença mantida – recorrente condenada em honorários advocatícios que
fixo em 10% sobre o valor da condenação.
(TJ-SP - RI: 10004484620208260004 SP 1000448-46.2020.8.26.0004,
Relator: Virgínia Maria Sampaio Truffi, Data de Julgamento: 05/04/2021,
1ª Turma Recursal Cível, Data de Publicação: 05/04/2021).
Portanto, em virtude de todo o exposto, requer que seja determinada a inversão do ônus
probatório como medida de inteira justiça!
A Lei 8.078/90, em seu artigo 14, indica de forma clara a aplicação do instituto da
responsabilidade objetiva aos fornecedores de serviços por danos causados aos consumidores,
como o caso dos autos. Vejamos:
Sendo assim, diante a todo o exposto, torna-se evidente a falha na prestação dos serviços
por parte da empresa aérea demandada, devendo ser a mesma compelida a responder
objetivamente pelos danos causados à autora.
III- DOS DANOS MORAIS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
Com o advento da Carta Magna de 1988, que inseriu em seu texto a admissibilidade
da reparação do dano moral, inúmeras legislações vêm sendo editadas no país, ampliando o
leque de opções para a propositura de ações nessa área.
O Código Civil agasalha, da mesma forma, a reparabilidade dos danos morais. O art.
186 trata da reparação do dano causado por ação ou omissão do agente:
Dessa forma, o art. 186 do novo Código define o que é ato ilícito, entretanto, observa-
se que não disciplina o dever de indenizar, ou seja, a responsabilidade civil, matéria tratada
no art. 927 do mesmo Código. Sendo assim, é previsto como ato ilícito aquele que cause dano
exclusivamente moral. Faça-se constar o referido art. 927, caput:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Por fim, vale ressaltar ainda que a Legislação Consumerista estabelece ser direito básico
do consumidor a efetiva “prevenção e reparação dos danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos” (art. 6º, VI, Lei 8.078/90)
É inegável que os fatos ocorridos causaram uma série de transtornos a autora. No caso
em tela, não restam dúvidas que a mesma sofreu muito mais que um mero aborrecimento, sendo
necessária sua reparação pelos danos morais sofridos!
Ora, nobre julgador, imagine a situação pela qual passou a autora, tendo ficado
diversos dias sem qualquer notícia do paradeiro de seus pertences. E pior, ao reencontrá-
los, perceber que boa parte de seus bens haviam sido perdidos em razão da conduta ilícita,
ou no mínimo negligente, da empresa demandada.
Somado a isto, ainda está o fato de que os estes pertences extraviados serviriam para
presentear amigos e familiares, o que demonstra que a falha na prestação do serviço por parte
da empresa demandada feriu não somente o aspecto financeiro e patrimonial da autora, mas
principalmente o afetivo e emocional.
Além do mais, ainda é válido ressaltar que a autora teve um grande desgaste para tentar
solucionar o problema da perda de suas bagagens e os imprevistos decorrentes desta situação.
É o que podemos denominar de dano pela perda do tempo útil. Afinal, teve que desperdiçar seu
tempo para solucionar problemas que foram causados por terceiros, devendo, por isto, ser
indenizada em razão da Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor.
Em outra ocasião:
Portanto, não restam dúvidas de que resta caracterizado o Dano Moral “in re ipsa”,
uma vez que além de todos os constrangimentos pelos quais passou a autora, o
entendimento majoritário dos tribunais se apresenta neste sentido.
1- Que seja concedido à autora os benefícios da gratuidade da justiça, inclusive para efeito
de possível recurso, nos termos do artigo 98 e seguintes do CPC;
Dá-se à causa o valor de R$ 19.040,30 (dezenove mil e quarenta reais e trinta centavos).
Termos em que,
Pedem deferimento.