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I – DOS FATOS
No dia da corrida, o demandante havia ingerido bebida alcoólica, além disso, estava
bastante cansado, o que é justificável pelo horário da corrida. Por esse motivo, não estava
assimilando corretamente algumas informações e, por isso, não prestou muita atenção no que o
motorista do aplicativo da empresa ré estava fazendo.
II – DO DIREITO
II.1 – DA EXISTÊNCIA DA RELAÇÃO DE CONSUMO
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final. Ver tópico (573293 documentos)
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Ver tópico (8240
documentos)
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Desta feita, fica comprovado através dos entendimentos dos nossos Tribunais que
tal relação entre as partes configura relação de consumo, veja-se a seguir:
Nesse sentido, sendo evidente a relação de consumo existente, que se proceda com
a análise do caso concreto à luz do código de defesa do consumidor, fazendo-se jus a
vulnerabilidade do consumidor e, como também, toda cadeia protetiva estatal.
Tendo em vista que o CDC, no artigo 6°,VIII, prevê como direito básico do consumidor
o direito à inversão do ônus da prova no processo quando a alegação for verossímil,
facilitando assim a defesa dos direitos dos consumidores, e que esta inversão ao nosso
juízo é ope judicis, não se justifica então a não-inversão do ônus da prova quando
comprovada a verossimilhança ou mesmo a hipossufiência.
Desse modo, fica cristalino, que houve uma cobrança indevida, pois, o valor devido
a ser cobrado, seria o montante de apenas R$ 24,00 (vinte e quatro reais), entretanto, lhe foi
cobrado R$ 824,00 (oitocentos e vinte e quatro reais), de forma injustificada e totalmente
errónea.
Desta feita, o valor deverá ser restituído em dobro, com base no artigo 42, em seu
parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor, veja-se:
Nessa ocasião, a empresa ré deverá restituir o autor a quantia de R$ 1.600 (uns mil
seiscentos reais), ademais, pode-se ver com clareza que se encontra na conduta do motorista a
má-fé, fica claro que já existem entendimentos firmados dos Tribunais nesse sentido, segue-se
tais entendimentos:
APELAÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER, CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. FORNECIMENTO DE
ÁGUA. COBRANÇA EXORBITANTE. INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO.
DANO MORAL CARACTERIZADO. Alegação da usuária de que são excessivos os
valores cobrados pelo fornecimento de água em sua residência no período
compreendido entre maio e julho de 2018. Embora se reconheça que é
responsabilidade do consumidor manter as adequações técnicas das instalações
internas de sua residência, com o fim de evitar desperdícios e elevações injustificadas
de consumo, no caso vertente, não se pode atribuir à desídia da demandante o
aumento de consumo discutido nos autos, visto que, realizada vistoria em seu imóvel,
nenhuma irregularidade foi constatada. A tese defendida pela concessionária
demandada de que a vistoria foi realizada após o período reclamado, de modo que
poderia a autora ter providenciado o conserto de eventuais vazamentos, não passa de
mera suposição, sem qualquer lastro probatório. Parte ré que não se desincumbiu de
demonstrar a regularidade das cobranças discutidas nos autos, como exige o art. 373,
II, do CPC. Interrupção indevida do serviço. Dano moral configurado. A prestação
defeituosa de serviço público essencial ofende direitos da personalidade, gerando
direito compensatório de dano moral (CDC, art. 22). Verba reparatória que não se
mostra suficiente e razoável para compensar o dano sofrido, devendo ser majorada.
Honorários advocatícios corretamente fixados. PARCIAL PROVIMENTO DO
RECURSO DA AUTORA E DESPROVIMENTO DO RECURSO DA RÉ.
Na presente ocasião, fica cristalino que o autor tem direito a restituição em dobro
pago, devido a má-fé configurada da parte ré e visto que o pagamento foi realizado.
Antes de mais nada, cabe destacar que o dever de indenizar por dano moral está
estampado no art. 5°, X, da Constituição Federal, in verbis:
Art. 5°-
Omissis...
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
É sabido, que a conduta realizada pelo motorista do aplicativo da empresa requerida
foi totalmente baseada na má-fé e na falta de respeito com o consumidor, gerando uma enorme
preocupação, perda de tempo para a resolução do problema e um enorme constrangimento
perante o seu primo que é o proprietário do cartão de crédito que foi utilizado.
Assim, verifica-se que o evidente tempo livre desperdiçado pelo autor, na tentativa
de solucionar o seu problema, diante do defeito na prestação do serviço, veio a ensejar inegáveis
danos morais.
Por outro lado, não deve ser insignificante, considerando-se a situação econômica do
ofensor, eis que não pode constituir estímulo à manutenção de práticas que agridam e violem
direitos do consumidor.
Ensina o Ministro Luis Felipe Salomão, um dos defensores dessa tese, que o método
evita a arbitrariedade judicial no tocante ao subjetivismo da fixação do dano moral e, ao mesmo
tempo, se evita o equívoco de um tarifamento dos valores (REsp 1.332.366/MS, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 10/11/2016).
No mesmo sentido:
Desta forma, o valor fixado para a indenização por danos morais na presente
hipótese deverá ser de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) ao autor, incidindo juros de mora de 1% ao
mês a partir da citação e correção monetária a partir da data do presente julgado
Além disso, a referida decisão deve ter caráter pedagógico, de forma, que possa
servir de exemplo para ensinamentos futuros, para que situações como a presente em questão
não tornem a se repetir, dessa forma já existem entendimentos nesse sentido:
É notório que a conduta realizada pela parte contrária atenta o autor, haja vista, que
este passou por um constrangimento perante o primo, e que seu objetivo era apenas chegar ao seu local
de destino, e desse fato resultou em uma enorme dor de cabeça, sendo importante salientar, que mesmo
que o motorista não tenha sido encontrado, a responsabilidade é da empresa ré perante o consumidor..
Nesse sentindo, deve-se ter em mente, que o dano causado pela empresa ré foi
suficiente para gerar um constrangimento em face de seu primo, pois este estava com o cartão de
um terceiro, tendo que dar satisfações explicando tudo que ocorreu, ademais, teve que ressarcir o
terceiro, já que este não tem culpa e precisa do seu cartão.
Com base no que foi exposto acima, podem ser citadas decisões dos Tribunais que
entenderam da mesma maneira:
Como se depreende Vossa Excelência, a fixação do dano moral deve atender aos
requisitos da razoabilidade e proporcionalidade, bem como o caráter pedagógico da indenização.
Assim, verifica-se que no caso em tela, faz se adequado o quantum indenizatório correspondente
a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), levando em consideração a gravidade do ato ilícito praticado
contra o autor, o potencial econômico do réu, o caráter punitivo-compensatório da indenização,
assim como a jurisprudência aplicada a casos semelhantes.
Nestes termos,
Pede deferimento.