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AO JUÍZO DO I JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE CAMPOS DOS

GOYTACAZES/RJ

Proc. n.º: 0811714-08.2022.8.19.0014

WAGNER THIAGO VIEIRA DOS SANTOS, já


devidamente qualificado nos autos supracitados, inconformado com a r. sentença de
ID 63916199 vem, por intermédio da Defensora Pública in fine subscrita, perante V.
Ex.ª, interpor

RECURSO INOMINADO
Pelo que, após as formalidades de estilo, pugna por seu devido processamento e
consequente remessa à E. Turma Recursal, mediante os fundamentos jurídicos que
constam das razões que, adiante, seguem em apenso.
Declara, desde já, não possuir condições financeiras de
efetuar o pagamento do preparo, razão pela qual requer a concessão do benefício
da Gratuidade de Justiça, isentando a parte recorrente do preparo conforme
predispõe a inteligência do Art. 98 do Código de Processo Civil.
Termos em que,
P. deferimento.

Campos dos Goytacazes, 03 de julho de 2023.

RITA JAMILE ASSAD BICUDO MANHÃES


Defensora Pública
Mat.860.689-9

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


DP junto ao I e II Juizados Especiais Cíveis da Comarca de Campos dos Goytacazes
Av. XV de Novembro, n.º 289
Centro – Campos dos Goytacazes – RJ
Assinado por RITA JAMILE ASSAD BICUDO MANHAES CEP: 28.035-100
Data: 10/07/23 16:46:33 -03:00
RAZÕES DO RECURSO INOMINADO
Proc. n.º: 0811714-08.2022.8.19.0014
Juízo de Origem: Juízo do I Juizado Especial Cível da Comarca de Campos dos
Goytacazes.
Recorrente: WAGNER THIAGO VIEIRA DOS SANTOS
Recorrida: SAMSUNG ELETRÔNICA DA AMAZÔNIA LTDA

EGRÉGIO COLÉGIO RECURSAL,


COLENDA TURMA,

I. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Ab initio, AFIRMA, de acordo com o Art. 98 do Código de


Processo Civil, que não possui condições financeiras de arcar com o pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do sustento próprio ou da
família, razão pela qual faz jus ao benefício da GRATUIDADE DE JUSTIÇA, indicando
o Defensor público em exercício para o patrocínio dos seus interesses.

II. DA SÍNTESE DOS FATOS

O Recorrente, no dia 23 de outubro de 2022, realizou a


compra de um notebook (Samsung book – Windows 11 - home, core I5, 8GB,
256 GB – SSD +1TB HD) no sítio eletrônico da empresa Recorrida, no valor de R$:
2.829,73 (dois mil, oitocentos e vinte e nove reais e setenta e três centavos).
Ressalte-se que, quando o consumidor recebeu o
mencionado produto, constatou que a placa de vídeo MX450 (2GB), estava
faltando no notebook, um componente essencial para o funcionamento do notebook.
Dada a situação, o Recorrente contactou imediatamente a
recorrida, visando resolver o litigio, em relação a ausência da placa de vídeo no
notebook, contudo, não obteve resposta.

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Ao adquirir um produto ou serviço, o consumidor tem a
expectativa de receber adequado ao uso de acordo com as expectativas geradas na
compra, ou seja, sem a necessidade de qualquer adaptação ou algum vicio que lhe
diminua o valor ou que o impossibilite de utilizá-lo normalmente.

É sabido que a responsabilidade se refere a qualquer vício,


seja ele de quantidade ou qualidade, nos termos do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de


qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

Assim, constatado o vício não solucionado no prazo legal,


tem-se o direito à substituição do produto ou devolução
do valor pago.

Na contestação a empresa recorrida, alegou que o


Recorrente não buscou atendimento com a parte Recorrida, contudo há conforme
documentos anexos à exordial, todas as provas que o Recorrente tentou a solução da
situação de forma amigável.
Insta salientar que a alegação da parte recorrida NÃO
PROCEDE, e sequer anexou provas quanto a tentativa de solução do litigio com o
recorrente. Tendo em vista, que o Recorrente efetuou a compra do notebook, no intuito
de receber o produto em perfeito funcionamento, para conseguir estudar (conforme
e-mails da universidade anexos), causando um enorme prejuízo a vida acadêmica do
Recorrente.
Informa-se ainda, que em momento algum a Recorrida
prestou atendimento ao consumidor, na finalidade de verificar o produto e solucionar
o caso. Inclusive o Recorrente, informou que desejaria a entrega do notebook em

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perfeitas condições conforme anunciado pela Recorrida, ou caso a impossibilidade que
fosse feito o ressarcimento do valor pago.
Ademais, em momento algum a Recorrida provou
que entregou o notebook estava em perfeitas condições de funcionamento,
se escusando de todo dano perpetrado ao Recorrente que é parte vulnerável
e hipossuficiente da demanda.
Desse modo, percebe-se que a Recorrida frustrou as
expectativas do Recorrente, tendo ela agido de forma abusiva e não transparente,
falhando tanto na prestação do serviço em si, como também na prestação de
informações claras e precisas aos consumidores.

III. DO PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE

Destarte, observar que o Código de Defesa do Consumidor


contempla o princípio da vulnerabilidade do consumidor, bem como defende a
harmonização dos interesses, fundados no equilíbrio e na boa-fé, além de elencar
outros direitos básicos, entre os quais se insere o direito a informações adequadas,
objetivas e claras sobre os serviços, com especificação correta da quantidade e preço.

Evidencia-se, que na maioria das relações de consumo há


uma desigualdade de fato entre os contratantes e no caso em tela não é diferente.

O CDC Consagrou no art. 40, 1, tal princípio,


reconhecendo assim o consumidor como parte mais fraca na relação de consumo,
parte frágil, razão da tutela pela norma do consumidor, chegando a elencar como
prática abusiva o fato de prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor (art.
39, IV, do CDC).

IV. DO DANO MORAL

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Fica claro que, data máxima vênia, a sentença proferida
fora equivocada, ao julgar os pedidos improcedentes, pois deixa de observar todo o
transtorno que o produto entregue com vicio da Recorrida ocasionou ao Recorrente.

Portanto, ressalta-se que faz jus o Recorrente a reforma


da r. Sentença em relação ao pedido de indenização e ressarcimento do valor pago
referente ao produto.

A configuração da má prestação dos serviços já se


encontra nos autos, tendo em vista que todos os elementos comprobatórios se fazem
acostados a este. Ressalta-se ainda que a Recorrida em momento algum anexa aos
autos qualquer conteúdo capaz de comprovar minimamente que o fato alegado pelo
Recorrente é inverídico.

O douto magistrado a quo não vislumbrou a intensidade


dos reflexos que a conduta da Recorrida causou e, o fato de não imputar a esta
responsabilidade de indenizar incidirá em sensação de impunidade a ser saboreada.

Fato em que, não foi levado em consideração é a relação


de extrema INCOMPATIBILIDADE de forças entre a Recorrida e o Recorrente.

Quanto ao pedido de danos morais a serem providos em


face do Recorrente com o intuito de não eximir a Recorrida da responsabilidade
proveniente de sua culpa e má-fé não foram considerados, fazendo com que a grande
Nacional, continue se mascarando acarretando em uma impunidade que, certamente
servirá como combustível para prosseguir realizando feitos deste cunho descomunal.

Sabe-se que o direito a indenização por danos morais


encontra-se consagrado em nossa Carta Magna, como pode-se evidenciar, através do
disposto no artigo 5°; incisos V e X, os quais transcrevo:

“É assegurado o direito de resposta, proporcional

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ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem;”

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a


honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;”

É correto que, antes mesmo do direito à indenização pelo


dano material e moral, ter sido erigido à categoria de garantia constitucional, já era
previsto em nossa legislação infraconstitucional, bem como, reconhecido pela Justiça.
O comando constitucional previsto no art. 5°, V e X, também é claro quanto ao direito
da parte Recorrente à indenização dos danos morais sofridos.

Com arrimo em tais fatos mostra-se evidente que a


Recorrida possui culpa e litigância de má-fé e DEVE arcar com suas responsabilidades
pois não reconhecer isto é fechar os olhos para as injustiças que aqui nos cercam.

V . DIREITO CONSTITUCIONAL

Se não bastasse o direito constitucional previsto no art.


5°, é a própria Lex Mater que em seu preâmbulo alicerça solidamente como um dos
princípios fundamentais de nossa nação e, via de consequência, da vida em sociedade,
e da defesa da dignidade da pessoa humana. Dignidade esta, que foi ultrajada e
desprezada pela Recorrida, ao entregar um produto com vicio, e se escusar de não
reparar o dano.

Eméritos julgadores, a indenização por danos morais a


que se pleiteia é direito constitucional assegurado a todos. E no ordenamento jurídico
infraconstitucional, encontra-se previsto no Código de Leis Substantivas Civis de 2002,
que defende o mesmo direito dos Recorrentes. Com efeito, o artigo 927 do Código Civil
apressa-se em vaticinar a obrigação de reparar que recai sobre aquele que causar
dano a outrem por ato ilícito.

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O dano, nesse caso, deverá ser analisado sobre a égide
da situação e do abalo experimentado pelo Recorrente.

VI. DA OCORRÊNCIA DO DANO MORAL

O magistrado a quo entendeu pela inexistência de danos


morais a serem indenizados, não considerando as inúmeras situações incômodas
sofrida pelo Recorrente.

Não obstante, o entendimento do magistrado com relação


à inexistência do dano moral, esse merece ser revisto, levando em consideração os
reais transtornos trazidos à vida do Recorrente, com a finalidade de condenar a
Recorrida ao pagamento dos danos morais em valor condizente com o dano sofrido.

Deve ser salientado não só o caráter reparatório da


aplicabilidade do mesmo, mas também o caráter punitivo do dano moral em face da
irregular conduta da Recorrida.

Desconsiderar a magnitude prejudicial de atitudes como


esta, é descartar, por completo, as normas principiológicas do Instituto da Indenização
por Dano Moral que visa, antes mesmo de ressarcir o prejudicado por danos sofridos,
imprimir nos fornecedores de serviço penalidade de natureza punitiva e pedagógica.

Não penalizar de maneira equilibrada a recorrida por conta


das atitudes negligentes amplamente demonstradas nos autos é deixar claro que o
Poder Judiciário concorda e apoia as arbitrariedades cometidas por alguns profissionais
desta área, que incorrem a erros desta natureza.

Preceitua o artigo abaixo transcrito do:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

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Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano
independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo recorrido do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem.

Definem, ainda, os Arts. 186 e 187 do mesmo diploma


legal:

Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 187 - Também comete ato ilícito o titular de um


direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.

Por conseguinte, ato ilícito é aquele praticado por terceiro


que venha refletir danosamente sobre o patrimônio da vítima ou sobre o aspecto
peculiar do homem como ser moral.

Para a configuração da responsabilidade civil, necessário


se faz a demonstração da presença dos seguintes elementos: a conduta comissiva ou
OMISSIVA, o evento danoso, a culpa e nexo de causalidade. Deve ainda inexistir
qualquer causa excludente da responsabilidade civil.

A responsabilidade civil, tanto objetiva como subjetiva,


deverá sempre conter como elemento essencial uma conduta.

Neste toar, nos leciona Maria Helena Diniz :

Ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito,


voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente

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ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada,
que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer
os direitos do lesado.

Portanto, pode ser entendido que a conduta é um


comportamento humano comissivo ou omissivo, voluntário ou não, é imputável.

Por ser uma atitude humana, exclui os eventos da


natureza; voluntário no sentido de ser controlável pela vontade do agente, quando de
sua conduta, excluindo-se aí os atos inconscientes ou sob coação absoluta; imputável
por poder ser-lhe atribuída a prática do ato, possuindo o agente discernimento e
vontade de ser livre para determiná-lo.

Assim, resta claro no caso em tela, que existe a conduta


culposa comissiva e omissiva da recorrida, devendo ser condenado a indenizar os
recorrentes por todos os danos e sofrimentos. Deve ser frisado, que somente haverá
a exclusão da responsabilidade de indenizar alguém por um fato que não deu causa
ou que não concorreu para sua produção, o que não é o caso dos autos.

Por fim, diante de todo exposto, crê o Recorrente que


restou sobejamente comprovada a responsabilidade da Recorrida, de modo a ensejar
a reforma da decisão para que este seja condenado ao pagamento por dano moral e
devolução integral do valor pago, de modo a tornar equitativamente razoável e
proporcional o valor a ser pago em face de todo prejuízo emocional sofrido.

Em resumo, pela análise do conjunto probatório dos


autos, a culpa da recorrida é inquestionável e deve ser punida. O nexo de causalidade
consiste na relação de causa e efeito entre a conduta praticada pelo agente e o dano
suportado pela vítima.

VII. DA CONDUTA CONTRÁRIA À BOA-FÉ OBJETIVA DA RECORRIDA EM FACE


DO RECORRENTE

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Destaca-se o enunciado 362 da IV Jornada de Direito Civil
da CJF: Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum
proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422
do Código Civil.

O princípio do venire contra factum proprium ou proibição


do comportamento contraditório, se insere na “teoria dos atos próprios”, segundo a
qual ninguém é dado retornar sobre os próprios passos, depois de criar com sua
conduta inequívoca anterior, expectativa segura quanto ao futuro, quebrando
princípios da lealdade e confiança.

Assim é abusivo contradizer seu próprio comportamento,


após ter produzido, em outra pessoa, uma legítima expectativa.

Cuida-se de dois comportamentos, lícitos e sucessivos,


porém o primeiro (factum proprium) é contrariado pelo segundo (venire).

O interessante é que no venire, cada um dos


comportamentos, individualmente considerados, mostra-se válido, mesmo porque,
não sendo assim, não estaríamos no campo do venire contra factum proprium, mas
no puro e simples campo da ilegalidade (ato ilícito subjetivo).

O ilícito, portanto, não é a atitude isolada de qualquer dos


dois comportamentos, mas a conduta considerada de modo global, ou seja, a conduta
considerada no conjunto dos dois comportamentos.

Quando a conduta, a teor do art. 187 do Código Civil,


excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa
fé ou pelos bons costumes, comete o que se chama de ato ilícito objetivo.

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No caso em tela, verifica-se que houve a quebra de
expectativa do Recorrente, por parte da Recorrida, uma vez que este acreditava que
o produto iria vir com todos os componentes necessários para o seu funcionamento de
acordo com as especificações da propaganda.

Dessa forma, a Recorrida violou a boa-fé objetiva por


ofensa ao princípio do venire contra factum proprium.

Além disso, violou o princípio do tu quoque no que tange


a não fazer aos outros o que você não gostaria que fizessem a outra pessoa.

A parte contratante da obrigação deve tomar as medidas


necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado.

A Recorrida além disso não observou o princípio da boa-


fé objetiva no que tange aos deveres satelitários, acessórios, anexos, laterais sejam
cumpridos como o dever de cooperação, informação e proteção.

Dessa forma, a boa-fé objetiva foi afetada em todos esses


deveres citados e anexos na relação contratual de consumo nessa questão.

VIII. DO DIREITO

Corroborando com a situação exposta nos autos, dispõe


o artigo 5°, LV, da Constituição Federal sobre o Princípio do Contraditório e da Ampla
Defesa.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

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LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes.

Importante, outrossim, ressaltar que o princípio da


dignidade da pessoa humana, como regra máxima e dirigente do ordenamento jurídico
constitucional, deve ser protegido e respeitado, e, com fulcro nesse princípio, observar
sua finalidade social, como já anteriormente mencionado, adequando-se o instituto
jurídico em evidência à moderna concepção de direito e de justiça.

Como se pode compreender, a nossa Carta Magna possui


inúmeros tópicos que visam embasar o direito de acesso à prestação jurisdicional. A
partir do art. 1.º, III, vê-se o fundamento constitucional da dignidade da pessoa
humana, este trata da garantia que o cidadão tem em garantir os seus direitos
respeitados e ter sua dignidade reconhecida.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela


união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;


Nesse entendimento, comenta o doutrinador constitucionalista e
sociólogo Dalmo de Abreu Dallari,

“Preocupados não somente com a afirmação dos Direitos, como


também com sua aplicação prática, os autores da Declaração não
se limitaram a fazer a enumeração desses Direitos. Indicaram,
com pormenores, algumas exigências que devem ser atendidas
para que a dignidade humana seja respeitada, para que as
pessoas convivam em harmonia, para que uns homens não
sejam explorados e humilhados por outros, para que nas
relações entre as pessoas exista justiça, sem a qual não poderá
haver paz”. (DALLARI, p.72).

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Vale registrar ainda, um dos princípios constitucionais
inseridos no artigo 5º, incisos XXXV e LXXIV da Magna Carta, o acesso à justiça, o
qual garante ao cidadão a defesa de seus direitos, independente da sua condição
social, assegurando a todos a possibilidade de resolver suas demandas e, não diz
respeito apenas a dar oportunidade àqueles que precisam, é fundamental que o
processo chegue ao seu desfecho de forma justa, satisfatória e tempestiva.

Neste toar, nos leciona o professor Alexandre Câmara:

O acesso à justiça é, pois, a idéia central a que converge


toda a oferta constitucional e legal desses princípios e
garantias. Assim, (a) oferece-se a mais ampla admissão
de pessoas e causas ao processo (universalidade da
jurisdição), depois (b) garante-se a todas elas (no cível
e no criminal) a observância das regras que
consubstanciam o devido processo legal, para que (c)
possam participar intensamente da formação do
convencimento do juiz que irá julgar a causa (princípio
do contraditório), podendo exigir dele a (d) efetividade
de uma participação em diálogo -, tudo com vistas a
preparar uma solução que seja justa, seja capaz de
eliminar todo resíduo de insatisfação. Eis a dinâmica dos
princípios e garantias do processo, na sua interação
teleológica apontada para a pacificação com justiça.
(CÂMARA, 2013, p.01-09).

O princípio da economia processual orienta os atos


processuais na tentativa de que a atividade jurisdicional deva ser prestada sempre
com vistas a produzir o máximo de resultados com o mínimo de esforços, evitando-
se, assim, gasto de tempo e dinheiro inutilmente.

Assim conceitua Gonçalves (2009, p. 26): “deve-se buscar


os melhores resultados possíveis com o menor dispêndio de recursos e esforços”.

Theodoro Jr. (2010, p. 39) afirma: “o processo civil deve-se


inspirar no ideal de propiciar às partes uma Justiça barata e

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rápida”. Decorrente da economia é o princípio do aproveitamento
dos atos processuais, assim como dispõe o artigo 250 do Código
de Processo Civil, in verbis: O erro de forma do processo
acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam
ser aproveitados, devendo praticar-se os que forem
necessários, a fim de se observarem, quanto possível, as
prescrições legais. (apud Theodoro JR., 2010, p. 39).
Theodoro Jr. (2010, p. 39) ainda preconiza que uma típica
aplicação encontra-se em "institutos como litisconsórcio,
reconvenção, a reunião de processos em casos de conexão
e continência, o indeferimento, desde logo da inicial
quando a demanda não reúne os requisitos legais, etc".
Vincula-se diretamente a este princípio também, a
garantia do devido processo legal:[...]porquanto o desvio
da atividade processual para os atos onerosos, inúteis e
desnecessários gera embaraço à rápida solução do litígio,
tornando demorada a prestação jurisdicional. Justiça
tardia é, segundo consciência geral, justiça denegada. Não
é justo, portanto, uma causa que se arrasta penosamente
pelo foro, desanimando a parte e desacreditando o
aparelho judiciário perante a sociedade. (Theodoro JR.,
2010, p. 40)

Ou como afirmam Cintra et al. (2006, p. 93): “A garantia


da prestação jurisdicional sem dilações indevidas integra
o conjunto de garantias conhecidas como devido processo
legal”.

VIII- DA CONCLUSÃO

Por fim, Eméritos Julgadores, face ao exposto, e


considerando o que dispõe o ordenamento jurídico vigente, serve o presente para
requerer a esta respeitável turma, que SEJA REFORMADA A SENTENÇA
RECORRIDA julgando procedente os pedidos a obrigação de fazer c/c pedido
de danos morais.

JUSTIÇA!!!

Termos em que,
Pede deferimento.

Campos dos Goytacazes, 03 de julho de 2023.

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